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Sobre o autor 2

Agradecimentos 4
Prefácio 5
Avisos breves 7
Introdução ao rock progressivo 8
Elementos musicais do RP e do RPI 11
A origem do RPI 14
A era de ouro do RPI 17
Italiano x Inglês no RPI 22
A estética teatral do RPI 26
A definição do gênero musical 30
RPI e a indústria musical Italiana 35
O panorama atual do RPI 41
Bandas e álbuns 44
AREA 46
História da banda 47
Discografia 49
Álbum de destaque 50
Ouça a banda 52
Banco Del Mutuo Sccorso 53
História da banda 54
Discografia 56
Álbum de destaque 58
Ouça a banda 61
Bigletto Per L’inferno 62
História da banda 63
Discografia 65
Álbum de destaque 66
Ouça a banda 70
Le Orme 71
História da banda 72
Discografia 74
Álbum de destaque 76
Ouça a banda 78
Premiata Forneria Marconi 79
História da banda 80
Discografia 82
Álbum de destaque 83
Ouça a banda 85

1
Il Balletto di Bronzo 86
História da banda 87
Discografia 89
Álbum de destaque 91
Ouça a banda 93
Quella Vecchia Locanda 94
História da banda 95
Discografia 96
Álbum de destaque 97
Ouça a banda 99
Semiramis 100
História da banda 101
Discografia 103
Álbum de destaque 104
Ouça a banda 106
Considerações finais 107
Referências 109

2
Sobre o autor
Júlio César Mauro é aquele típico nerd e pai dedicado de duas meninas, com um jeito
único – um pouco rabugento e com TDA. Embora não tenha encontrado seu caminho
na música, ele se estabeleceu na área de TI, onde trabalha desde 1997.

Júlio César, reconhecido por sua honestidade direta e um humor ácido, também se
aventurou no mundo dos videogames, co-apresentando o programa Gazeta Games na
Rádio Gazeta de São Paulo. Apesar disso, é a música que mais profundamente cativa
seu interesse, consolidando-se como uma de suas paixões mais fervorosas e
contínuas.

Descendente de uma forte linhagem italiana, sendo neto e filho de imigrantes, Júlio
César passou a infância e a adolescência imerso nos mais diversos gêneros da música
italiana, o que despertou nele um amor profundo pela língua e pela cultura italiana. Ele
é um torcedor fervoroso da Ferrari, defende as tradições culinárias italianas com
veemência, criticando quem corta o spaghetti e, principalmente, quem usa ketchup na
pizza.

Hoje, além de ser um profissional respeitado na área de TI e um pai e marido dedicado,


Júlio César também escreve colunas sobre música para os sites Disconecta
(disconecta.com.br) e Vira o Disco (viraodisco.com.br). Foi essa experiência como
colunista que o inspirou a escrever sobre o “Rock Progressivo Italiano”, unindo suas
paixões por música, escrita e a cultura italiana.

Você pode encontrar o Julio no instagram e no Twitter: @juliomauro além de ler seus
textos no site da Disconecta e do Vira o Disco

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Agradecimentos
Neste livro, minhas palavras e reconhecimento são dedicados àqueles que formaram a
base da minha história, influenciando-me com seu amor, coragem e sabedoria.

Aos meus avós e em particular ao meu avô, cuja valentia na Segunda Guerra Mundial
permanece como um legado de força e resiliência. Sua história é um farol de coragem
e resistência que ecoa em minha vida, trazendo-me inspiração, coragem e
ensinamentos valiosos.

Aos meus pais, agradeço imensamente por terem me proporcionado não só amor e
uma educação de qualidade, mas também por terem incentivado em mim o amor pela
música. Mesmo quando referiam-se às minhas escolhas musicais como "barulho" ou
"rock pauleira", vocês sempre incentivaram minha paixão.

À minha amada esposa, companheira de quase um quarto de século, minha gratidão é


infinita. Sua paciência, amor e apoio têm sido fundamentais em cada passo que dei.
Sem você ao meu lado, minha vida não seria a mesma.

Às minhas amadas filhas, Laura e Cecília, vocês são a luz da minha vida. Ver vocês
crescendo e se tornando mulheres incríveis é um dos meus maiores orgulhos. Espero
que encontrem inspiração nestas páginas, assim como vocês me inspiram todos os
dias.

Um agradecimento especial a Marcelo Scherer, Filipe Silva e Cristian Fetter (que me


emocionou com as palavras do prefácio desse livro) por reacenderem a chama da
escrita em mim. Obrigado por me darem a oportunidade de voltar a escrever, vocês
foram essenciais neste processo criativo e na realização deste projeto.

É claro que também devo um agradecimento especial ao meu grande amigo Luís
Fernando Brod. Ele não só aceitou o papel de revisor, mas também abraçou a ideia
deste livro desde o começo.

A todos vocês, meu mais sincero obrigado. Cada palavra deste livro carrega um pouco
do amor, sabedoria e inspiração que vocês me proporcionaram.

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Prefácio
Sendo breve e sem complicar muito: Um belo dia em meados dos anos 50, em um
entroncamento de ritmos e tendências musicais, nasceu o rock and roll.

No começo era tímido, mal tinha guitarras e as músicas, quase todas muito simples,
com três ou quatro acordes, eram conduzidas, em boa parte, por instrumentos ainda
afetos ao jazz, como piano e saxofone.

Mais para frente, firmou-se uma estrutura de quarteto ou quinteto, com uma ou duas
guitarras, baixo, bateria e vocalista. Os pioneiros dos anos 50 (pelos mais incríveis
motivos: mortes, prisões, conversão religiosa e outros) foram dando lugar aos jovens
dos anos 60. As músicas ficaram mais pesadas, mais longas e a temática das letras foi
se diversificando, para tratar de temas sociais e políticos.

Ainda nos anos 60 o rock, musicalmente falando, foi sendo fragmentado, abrindo
espaço para fusões e experimentações de toda sorte. Além disso, houve um
movimento de internacionalização, com variações desta nova música (folk, soul,
psicodélico, rock de garagem, protopunk e muitos outros) aparecendo em países fora
do eixo UK/US, na mesma época.

E aí, em outro belo dia mais para o fim dos anos 60, em um movimento jamais
imaginado pelos pais fundadores da década anterior, apareceu o chamado
“Progressive Rock”, traduzido aqui no Brasil (não sem polêmica) como “Rock
Progressivo”.

Talvez o(a) leitor(a) tenha uma boa ideia do que isto signifique, ou talvez nunca tenha
ouvido falar dessa vertente e esteja aqui de curioso(a).

Não se preocupe. Este livro atende a ambos - Iniciados e neófitos. É sério! E isso
porque o autor resolveu dar uma aula.

Poderia o autor, o Júlio, listar bandas e mais bandas, sair atrás de listas e mais listas
de grupos ingleses, italianos, suecos, russos, brasileiros e etc..

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Mas o Júlio – que se autodefine como um nerd, pai de duas meninas, chato e com
TDA. Músico frustrado, 26 anos e trabalhando na área de TI – é, antes de tudo, um
cara inteligente.

Inteligente e corajoso o suficiente para, em primeiríssimo lugar, fazer um apanhado


conceitual e teórico do que seja de fato o Rock Progressivo, frisando suas
características principais, elementos musicais, instrumentação, timbres, ritmos,
melodias, harmonias e texturas. Só isso já valeria a leitura deste livro.

Mas ele vai além. E ao fazer isso, propõe um recorte geográfico para tratar do Rock
Progressivo Italiano (RPI), suas origens e evolução, o que faz de modo admirável.

Quem já é fã do RPI, fará um leve meneio de cabeça, como quem diz... “claaaro, que
bom que o Júlio não deixou de mencionar a Terra da Bota e os maravilhosos sons que
saíram de lá nos anos 70...”

Os(as) marinheiros(as) de primeira viagem, pensarão: “por que raios este autor vai
dedicar tantas páginas para falar da Itália?” para mais adiante, provavelmente,
concluírem: “por que raios eu ainda não havia ouvido RPI?”. E aí é capaz de começar
aquela famosa viagem sem volta por este novo mundo que o autor descortinou.

No fim, o Júlio deixa algumas indicações. Mas não são indicações quaisquer. Temos
um apanhado de bandas de origem italiana, absolutamente consagradas mundo afora,
cada qual com sua história, discografia, disco de destaque e até um QR Code para
acessar as músicas (afinal, lembrem-se... ele é um nerd).

Aliás, com o pedido de desculpas pelo falso encerramento acima e variação do tema
(coisas de quem gosta de prog)... No fim, o Júlio deixa mesmo é a gente com a
vontade de ler o próximo volume de seus escritos.

Cristian Fetter Mold (1972-) é advogado, professor e pesquisador musical amador.


Cocriador do Podcast “Prisioneiros do Rock” e do site viraodisco.com.br

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Avisos breves
Neste livro, faremos referência a várias bandas proeminentes, incluindo Premiata
Forneria Marconi, Banco del Mutuo Soccorso, Il Balletto di Bronzo, entre outras.
Com o objetivo de tornar o texto mais acessível e a leitura mais fluída, adotaremos
abreviações para os nomes das bandas após sua primeira citação completa. Por
exemplo:

● Premiata Forneria Marconi será referida como PFM.


● Banco del Mutuo Soccorso será mencionado como BMS.
● Il Balletto di Bronzo será abreviado para IBB.
● Rock Progressivo Italiano será abreviado como RPI.

As histórias e análises apresentadas neste livro são fruto de minhas pesquisas ao


longo que quase 1 ano, que incluem a leitura de fóruns, Reddit, sites especializados,
canais de YouTube, e, em especial, as narrativas do excelente livro “Rock Progressivo
Italiano: An introduction to Italian Progressive Rock” do Andrea Parentin e o livro
“ItalianProg: The comprehensive guide to the Italian progressive music of the
70's” do Augusto Croce, ambos ainda não publicados no Brasil.

As ilustrações que decoram o início de cada capítulo e a capa deste livro foram criadas
utilizando a inteligência artificial, mais especificamente através do DALL-E.

As imagens das bandas e as capas dos álbuns foram obtidas dos sites oficiais das
bandas ou do site "Progressive Rock Music".

Para ter acesso e desfrutar das playlists das bandas no Spotify, é necessário possuir
uma conta na plataforma, disponível tanto na versão gratuita quanto na premium.

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Introdução ao rock progressivo

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No coração da evolução musical do século XX repousa um gênero que desafiou as
convenções, explorou territórios inexplorados e criou um legado atemporal: o Rock
Progressivo.

No vasto e diversificado espectro da música moderna, o rock progressivo ocupa um


lugar de honra, destacando-se como uma expressão de inovação e experimentação.

Surgido nas correntes culturais vibrantes do final dos anos 1960, o rock progressivo, ou
"prog rock", como é frequentemente referido por seus entusiastas, transcende a
definição de um gênero musical. Ele representa uma filosofia artística, uma odisséia
sonora que desafia as convenções estabelecidas.

Originário da efervescência cultural dos anos 60, o rock progressivo manifestou-se


como um ato de rebelião artística, uma audaciosa resposta aos formatos tradicionais
de rock e pop. Este gênero, com suas raízes profundamente fincadas na psicodelia, no
jazz e na música clássica, transcendeu as fronteiras do convencional.

Caracterizou-se por composições complexas, arranjos elaborados e um desejo


insaciável de inovação, marcando um distinto contraste com a simplicidade
predominante no rock and roll e no pop da época.

Artistas e bandas do rock progressivo empenharam-se em expandir as barreiras da


música popular. Eles fizeram isso mesclando influências variadas, desde o jazz até a
música clássica, passando por elementos das músicas folclóricas de diversas culturas.

Esta fusão gerou estruturas musicais complexas e composições extensas, muitas


vezes conceituais, que desafiaram tanto a forma quanto o conteúdo. Esta abordagem
não apenas rompeu com as normas estabelecidas, mas também conduziu os ouvintes
por uma jornada auditiva sem precedentes, caracterizada por uma rica tapeçaria de
sons e estilos.

O rock progressivo, portanto, não é apenas um gênero musical, mas uma filosofia
artística que representa uma odisséia sonora. Ele oferece uma experiência de escuta
que é tanto um desafio intelectual quanto um deleite auditivo, refletindo uma época de
intensa criatividade e experimentação. Com essa narrativa musical audaciosa, o rock
progressivo continua a influenciar gerações, mantendo-se como um símbolo de
inovação e expressão artística sem limites.

Instrumentalmente, o rock progressivo é reconhecido pela sua virtuosidade. Músicos do


gênero frequentemente dominam vários instrumentos, e não é raro encontrar teclados
elaborados, sintetizadores, guitarras elétricas e acústicas, baixo, bateria e uma

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variedade de instrumentos de sopro e percussão em suas composições. Além disso, a
experimentação com novas tecnologias de gravação e produção sonora tornou-se um
distintivo do estilo.

Em termos líricos, o rock progressivo tende a se afastar dos temas convencionais de


amor e relações pessoais, preferindo explorar tópicos mais abstratos e intelectuais.
Temas como ficção científica, fantasia, política, história e filosofia são comuns, muitas
vezes apresentados em formatos de óperas-rock ou álbuns conceituais,
proporcionando uma experiência de escuta que é tanto um desafio intelectual quanto
um deleite auditivo.

As origens do rock progressivo podem ser rastreadas até o final dos anos 1960, com
bandas como Pink Floyd, King Crimson, Yes, Genesis e Emerson, Lake & Palmer à
frente do movimento no Reino Unido. Esses pioneiros abriram caminho para uma nova
forma de expressão musical, influenciando incontáveis artistas e gerando um
movimento global que continua a se desenvolver até hoje.

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Elementos musicais do RP e do RPI

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No coração de uma canção popular estão três pilares: a melodia, a letra e a
interpretação que trazem vida a esses elementos. Para entender as peculiaridades do
rock progressivo, observamos suas qualidades sonoras distintas.

Diferentemente das estruturas convencionais de músicas populares, que geralmente


seguem um formato de verso-refrão-ponte, as canções de rock progressivo
frequentemente desviam ou diluem essas estruturas. Elas fazem isso ao estender
seções, incluir interlúdios musicais e empregar dinâmicas marcantes para acentuar os
contrastes.

Elementos da música clássica são comumente incorporados ou até substituem as


formas tradicionais, resultando em vezes em suítes completas, que lembram os
medleys das bandas de rock mais antigas. Outra característica marcante é a presença
de longas passagens instrumentais que fundem a tradição do solo clássico com as
práticas de improvisação do jazz e do rock psicodélico. Essa abordagem resulta em
músicas de rock progressivo com durações prolongadas, podendo ultrapassar os vinte
minutos.

● Influências e Diversidade no RPI: Uma das características do RPI é a forte


influência da música clássica e do folk italiano e mediterrâneo. “O programa
sinfônico italiano é notável pela proeminência das influências clássicas, muitas
vezes fornecendo a força motriz por trás da música. Os grupos RPI “de livro
didático” geralmente podem ser identificados por um perme- sentimento
extensivo de melancolia romântica e talento terroso, às vezes realçado por
elementos barrocos, às vezes por elementos mais étnicos. Outras
características distintivas incluem influências evidentes de ópera e opereta,
narrativa selvagem e descontrolada e, como regra geral, vocais ousados e
altamente emocionais.

● Instrumentação e Timbre no Rock Progressivo: Os primeiros grupos de rock


progressivo expandiram a paleta tímbrica da então tradicional instrumentação de
rock de guitarra, órgão, baixo e bateria, acrescentando instrumentos mais típicos
do jazz ou da música folclórica, como flauta, saxofone e violino, e na maioria das
vezes utilizava teclados eletrônicos, sintetizadores e efeitos eletrônicos. Alguns
instrumentos - principalmente o sintetizador Moog e o Mellotron - tornaram-se
intimamente associados ao gênero.

● Ritmo no Rock Progressivo: Baseando-se em suas influências clássicas, jazz,


folk e experimentais, os artistas de rock progressivo são mais propensos a
explorar compassos diferentes de 4/4 e mudanças de andamento. Um padrão
rítmico que você pode encontrar frequentemente em álbuns de RPI é o

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“Tarantella”, em homenagem à cidade de Taranto na Apúlia e derivado de uma
animada dança folclórica italiana em 6/8 também conhecida como “Tammuriata”
ou “Pizzica”.

● Melodia e Harmonia no Rock Progressivo: No rock progressivo, as inflexões


do blues do rock mainstream são frequentemente suplantadas pelo jazz e pelas
influências clássicas. Uma das características do RPI é a forte influência da
clássica “melodia italiana”, derivada do “melodramma” e purificada das
influências do swing e do jazz.

● Textura e Imagem no Rock Progressivo: Paisagens sonoras ambientais e


elementos teatrais podem ser usados para descrever cenas, eventos ou outros
aspectos do conceito. Por exemplo, Leitmotif, uma ideia musical que é
característica de uma pessoa, lugar ou princípio numa ópera e que também,
sendo geralmente curta, pode ser transformada, é usada para representar o
vários personagens de “Harold the Barrel” e “Robbery, Assault and Battery” do
Genesis.

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A origem do RPI

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Durante o final da década de 1960, na Itália, houve um movimento musical distinto
além das tradicionais canções melódicas italianas. Este estilo era conhecido como
"Beat Italiano", marcado por ser uma adaptação do "Mersey Beat" britânico, diferindo
significativamente do movimento americano da Beat Generation. "Beat" na Itália
simbolizava canções alegres e descomplicadas com vocais limpos e harmonias
atraentes, frequentemente embaladas em ritmos dançantes. Estas músicas eram, de
certa forma, revolucionárias, influenciadas por bandas como os Beatles, Rolling
Stones, Yardbirds, Animals e Hollies. O conceito de inspiração aqui significava criar
versões cover, adaptando sucessos internacionais em novas criações musicais
italianas.

Essa prática de fazer covers, recriando músicas com letras traduzidas para o italiano,
remonta aos anos 1930, quando a Itália proibiu línguas estrangeiras. Para contornar
essa restrição e apresentar sucessos americanos ao público, as letras começaram a
ser reescritas em italiano, introduzindo muitos clássicos do jazz e swing ao público
italiano. Esta prática se consolidou ao longo do tempo, continuando nas décadas de 40
e 50, mesmo após o fim da proibição das línguas estrangeiras.

Os covers apresentavam várias vantagens, como permitir que os músicos tocassem


obras comprovadas comercialmente e que as orquestras ampliassem seu repertório.

Com a chegada do rock'n'roll, o fenômeno se intensificou, e na década de 60, com a


popularização do beat, essa tendência explodiu na Itália. A dificuldade de obter
lançamentos recentes de bandas britânicas fez com que a Itália se voltasse para a
produção interna.

Segundo Franz Di Cioccio, baterista da PFM, o "Beat Italiano" era mais uma questão
de emulação, tanto na aparência quanto na música. Muitos músicos locais acreditavam
na continuidade de suas carreiras por meio da adaptação de sucessos estrangeiros,
enquanto outros viam a mudança de visual e a menor exigência de esforço como
caminhos para a persistência no mercado musical.

No final dos anos 60, diversas bandas italianas que mais tarde se destacariam no rock
progressivo iniciaram suas carreiras no gênero "Beat", frequentemente sob nomes
distintos. Exemplos notáveis incluem Le Orme, PFM (anteriormente conhecidos como I
Quelli), BMS, New Trolls, Delirium (anteriormente I Sagittari), entre outros.

Naquela época, a música pop italiana era vista como um universo completamente
diferente da música erudita. Não havia instituições dedicadas ao ensino de música
moderna, e muitos músicos tinham formação clássica.

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Ivano Fossati, do Delirium, descreveu essa época como uma divisão entre os
"rebeldes" com guitarras elétricas e os estudiosos de conservatório.

O rock progressivo, influenciado principalmente por bandas britânicas como King


Crimson e Yes, trouxe a ideia de mesclar rock com música clássica. Londres tornou-se
um destino cobiçado para jovens músicos italianos.

Luciano Regoli, de bandas como Raccomandata con Ricevuta di Ritorno, lembra


que era difícil acessar a música britânica em Roma naquela época, sendo o rádio a
principal fonte de novidades.

Franz Di Cioccio destaca que não há uma data exata para o início do RPI, mas muitos
consideram o lançamento do álbum "Collage" de Le Orme, em 1971, como um ponto
de partida significativo.

Esse sucesso comercial abriu caminho para outras bandas do gênero. Toni Pagliuca,
da Le Orme, relembra a decisão de inovar no estilo após visitar o festival da Ilha de
Wight1.

Vittorio Nocenzi, do BMS, fala sobre a busca por uma nova síntese musical, unindo a
geração Beat e a música erudita. Já Gianni Leone, do IBB, recorda um festival em
Novate como um marco para o rock progressivo na Itália.

Naquela época, a rádio era o principal meio de difusão musical, com programas como
“Per voi giovani” sendo essenciais para a popularização do gênero, que se distanciava
das canções pop melódicas predominantes.

A música progressiva representava uma alternativa não comercial, frequentemente


descoberta através de rádios estrangeiras ou programas específicos de rádio.

1
O Festival da Ilha de Wight (The Isle of Wight Festival) é um festival musical que acontece anualmente
na Inglaterra. Foi realizado originalmente entre 1968 e 1970, respectivamente em Ford Farm A edição de
1970 foi, de longe, a maior e mais famosa das primeiras edições do festival.

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A era de ouro do RPI

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O período entre 1972 e 1975 na Itália marcou a ascensão de um fenômeno musical
único, conhecido como a "Era de Ouro do Rock Progressivo Italiano". Este movimento
foi caracterizado por uma rica fusão de gêneros, influenciado fortemente pela política e
cultura locais, e marcado pela busca incansável de inovação e originalidade pelas
bandas envolvidas.

Mas quais são as características do RPI em comparação com o rock progressivo de


outros países?

A singularidade do RPI, em comparação com suas contrapartes internacionais, é um


tópico de grande interesse. Neste contexto, o livro “RPI: An introduction to Italian
Progressive Rock” de Andrea Parentin, publicado em 2011, oferece uma perspectiva
valiosa. Através de uma série de entrevistas com artistas da época, o livro explora as
características distintivas, os desafios culturais, as contribuições, inovações e a
influência da política e da cultura locais neste gênero musical.

O RPI distingue-se pelo seu blend único de elementos clássicos, jazz e canção popular,
como descrito por Franco Mussida da PFM. Esta fusão era uma resposta direta ao
legado clássico italiano, incluindo influências de compositores como Respighi, Puccini e
Mascagni. Ao contrário do rock progressivo de países como a Inglaterra, que
incorporava elementos celtas e de blues, o prog italiano estava profundamente
enraizado na rica tradição clássica do país.

Gianni Leone do IBB enfatiza a luta contra a melodia italiana tradicional, especialmente
em Nápoles, onde a cultura e música locais eram predominantes. Essa batalha contra
as convenções estabelecidas foi um desafio significativo, mas também uma força
motriz para a criatividade.

Cada banda trouxe sua abordagem única para o cenário musical, empurrando os
limites da expressão artística. Aldo Tagliapietra, do Le Orme, fala sobre a combinação
de formação clássica com elementos de rock moderno. Bambi Fossati, do Garybaldi,
via o progressivo como um território para exploração contínua, evitando a fossilização
na técnica pura.

Donella Del Monaco do Opus Avantra destacou a busca por uma direção musical que
equilibrasse tradição clássica e experimentação vanguardista. Este esforço para
encontrar uma voz musical original era compartilhado por muitas bandas da época, que
evitavam imitar bandas britânicas, preferindo explorar ideias próprias.

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Enzo Capuano reflete sobre como as influências musicais da época contribuíram para
um estilo único, mesclando rock, clássico, jazz e folclore italiano. Ivano Fossati ressalta
a complexidade e riqueza das composições da época, influenciadas pelo clima político
e social.

A música progressiva italiana não estava isolada dos acontecimentos políticos e


sociais. Bernardo Lanzetti, do Acqua Fragile, fala sobre o impacto das expectativas
culturais no idioma das letras e na expressão musical. Franco Fabbri do Stormy Six
destaca a integração de música com literatura, poesia, política e comentários sociais
nos álbuns.

E com base nesses depoimentos, é possível afirmar que a "Era de Ouro do RPI"
representou uma época marcada por uma ousadia experimental e inovadora sem
precedentes. Durante este período, as bandas de rock progressivo não apenas
enfrentaram, mas também souberam navegar e se expressar diante de desafios
culturais e políticos complexos.

Ao fazer isso, elas não só enriqueceram o cenário musical com suas abordagens
únicas e originais, mas também refletiram e moldaram a voz de uma geração em busca
de sua própria identidade.

Em uma jornada musical através da história do Rock Progressivo, é essencial explorar


a riqueza e singularidade do RPI, um subgênero que merece ser reconhecido e
apreciado em sua individualidade. Este estilo, emergindo no cenário musical dos anos
setenta, carrega uma identidade própria, distinta do rock progressivo mais amplamente
conhecido. Com raízes profundas na cultura e na história italiana, o RPI não é apenas
uma expressão artística, mas também um reflexo da sociedade e dos movimentos
culturais da época. Ao investigar esse gênero fascinante, surge uma pergunta crucial:
Por que o RPI deve ser considerado um subgênero separado e distinto do rock
progressivo em geral?

Para tentar responder a essa pergunta, mergulhando nos aspectos únicos do RPI,
vamos exemplificar vamos contar rapidamente uma história.

Na noite memorável de 24 de julho de 2007, a banda PFM realizou um concerto


próximo às majestosas ruínas romanas e à basílica. Um momento marcante do show
foi quando Patrick Djivas, o baixista, começou um solo, tocando as notas iniciais de
"Luglio, Agosto, Settembre (nero)" do AREA. Este solo não só cativou a plateia com um
arrepio coletivo, mas também serviu como prelúdio para "Maestro della voce", uma

19
música do PFM, dedicada à memória de Demetrio Stratos, o saudoso vocalista do
AREA.

Embora AREA e PFM exibam estilos musicais divergentes, ambos são profundamente
admirados pelo público italiano, unidos sob a bandeira do RPI. Em minhas incursões
por fóruns dedicados a este subgênero, noto constantemente indagações sobre suas
características distintas e a justificativa para sua classificação separada. A essência
para reconhecer o RPI como um subgênero autônomo reside na capacidade de
compreender suas nuances mais profundamente, além da mera apreciação musical.
Esta abordagem é essencial, principalmente considerando que nos anos setenta,
algumas pessoas no Reino Unido depreciativamente apelidaram bandas italianas de
prog, incluindo PFM, de “Spaghetti Rock”.

Grupos como PFM, BMS e Le Orme são apenas exemplos proeminentes de um


movimento mais amplo, repleto de singularidades. O estudo do RPI requer uma análise
holística, documentando não apenas as características musicais, mas também o
impacto e legado cultural das bandas de rock progressivo da Itália dos anos setenta. A
concepção de gêneros e subgêneros musicais, afinal, surge do esforço para descrever
e categorizar distintas qualidades sonoras, representando mais uma perspectiva dos
ouvintes do que dos próprios artistas.

O Rock Progressivo, um gênero que vai além de uma mera apreciação superficial,
deve ser compreendido e valorizado em sua plenitude, considerando suas raízes
profundamente enraizadas em contextos sociais e históricos.

Como Edward Macan pontua, a música serve como um meio de comunicação,


transmitindo emoções e experiências e conectando pessoas através de diferentes
épocas e locais. Tradicionalmente, o Rock Progressivo é associado ao cenário inglês,
destacado pelas bandas que definiram e popularizaram o estilo.

Essa associação é similar à evolução da ópera na Itália, onde o Rock Progressivo,


embora tenha suas origens na Inglaterra, não se limita a essas fronteiras, estendendo
sua influência e diversificação globalmente. Frequentemente, o gênero é analisado sob
uma lente sociológica, sendo visto como uma expressão cultural, especialmente
vinculada às classes média alta britânicas.

Contudo, é importante reconhecer que as características e influências do Rock


Progressivo inglês não são diretamente transferíveis para o contexto italiano dos anos
setenta, que foi moldado por um ambiente social distinto e único.

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Esta era transcende os limites da música, tornando-se um poderoso canal para
expressar as aspirações, inquietações e o espírito de uma época marcada por intensas
transformações sociais e políticas.

21
Italiano x Inglês no RPI

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As letras constituem a dimensão verbal da composição musical. Da mesma forma que
os sons são cuidadosamente escolhidos para criar uma melodia, as palavras
necessitam de seleção cuidadosa em termos de vocabulário e estilo para a escrita das
letras. Este componente textual muitas vezes não recebe o devido valor.

Tradicionalmente, as letras não têm sido um forte chamariz no universo do rock.


Frequentemente passam despercebidas, são mal interpretadas ou escutadas de forma
equivocada. Quando as palavras são efetivamente compreendidas, é geralmente de
maneira parcial, por meio de versos isolados ou refrãos, e não como uma obra lírica
integral. Os fãs e críticos, por vezes indulgentes, podem tentar interpretá-las, mas
essas tentativas costumam ser superficiais e ingênuas.

O rock progressivo frequentemente almeja uma profundidade lírica que reflete suas
complexidades musicais, desviando-se dos temas convencionais do rock/pop como
amor e dança e inclinando-se mais para os domínios da literatura clássica, fantasia,
folclore e crítica social. Artistas como Peter Gabriel (ex-Genesis) são conhecidos por
tecer narrativas surreais em suas letras, muitas vezes incorporando elementos
dramáticos e múltiplos personagens, enquanto Roger Waters (ex-Pink Floyd) entrelaça
crítica social com temas de luta pessoal, ganância, insanidade e mortalidade.

As letras vão além de simplesmente transmitir ideias, elas desempenham um papel


crucial ao moldar a imagem do cantor na mente dos ouvintes. Assim, a interpretação
das letras transcende a intenção original do cantor, tornando-se um campo de
negociação onde o ouvinte desempenha um papel ativo na interpretação, baseando-se
não apenas nos sons, mas também na sua própria familiaridade com o estilo e contexto
da música.

Bandas de RPI se destacaram por suas letras que abordavam temas de religião,
filosofia, literatura e questões sociais. Contudo, o que realmente caracterizava a cena
italiana era o uso proeminente da língua italiana e, particularmente nos anos setenta,
uma forte veia de compromisso social e político. Essas bandas geralmente
apresentavam suas canções em italiano, mirando diretamente no coração do público
local. Esse compromisso, porém, nem sempre surgia de uma escolha livre - era
frequentemente moldado ou restrito pelo contexto social da época.

A interpretação das letras, tanto por parte do público quanto dos críticos, muitas vezes
era influenciada por tendências políticas, tornando o papel dos ouvintes muito ativo e
participativo. Eles atribuíam significados políticos até onde talvez não existissem, e
artistas que não se alinhavam explicitamente a esses ideais, ou que não se mostravam

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ativamente comprometidos, eram vistos como desviantes, insanos ou até mesmo como
adversários.

É comum que falantes nativos de quaisquer idiomas se questionem sobre os


significados das letras em idiomas estrangeiros. Mas, será que isso realmente importa?
A falta de compreensão linguística não parece diminuir o prazer musical, podendo até
adicionar um certo mistério que enriquece a experiência. De fato, o uso do italiano é
considerado parte integrante da essência do rock progressivo italiano, essencial para
uma verdadeira apreciação do estilo. Apesar dos esforços para traduzir alguns dos
mais renomados álbuns do gênero para o inglês, visando alcançar uma audiência
global, muitos acabam perdendo seu impacto original. Parece que, nesse processo de
tradução, um ingrediente vital, que dá ao Italianprog sua singularidade, é deixado para
trás.

Ao longo da história, o inglês consolidou-se como o idioma predominante no universo


do rock, uma tendência refletida pelo domínio dos países de língua inglesa na indústria
musical. Durante a era de Mozart, o italiano era a língua preeminente nas composições
operísticas, e Mozart teve a vantagem de colaborar com um escritor de óperas italiano.

De maneira similar, bandas como Le Orme e PFM tiveram a chance de contar com a
colaboração de Peter Hammill e Pete Sinfield, posicionando-se de maneira mais
favorável para alcançar reconhecimento internacional nos anos setenta, em
comparação com seus contemporâneos. No entanto, mesmo com a contribuição de
letristas tão talentosos, quando Le Orme e PFM apresentam suas músicas em inglês,
parece que algo se perde na tradução, e até mesmo Pete Sinfield expressou sua
frustração ao ver algumas de suas melhores letras comprometidas pela pronúncia
imprecisa.

Por isso, há quem argumente que as bandas italianas que optaram por compor letras
em inglês podem estar fazendo um desserviço a si mesmas e aos seus fãs. Ainda que
possam dominar o idioma e articular as palavras com clareza, persiste o desafio
cultural: embora todos tenham a liberdade de escolher o idioma que preferirem e a
pronúncia possa ser aperfeiçoada com o tempo, a criação de letras impactantes em
qualquer língua é uma tarefa complexa, especialmente quando envolve a tradução
direta.

As dificuldades se intensificam ao tentar adaptar conteúdos a um contexto cultural


distinto. Para que as letras ressoem como pretendido, elas precisam evocar
sentimentos universais. Além disso, para que uma expressão em inglês seja autêntica

24
e eficaz, é essencial que ela se baseie em textos ou temas que ressoem genuinamente
com a cultura de língua inglesa.

De todo modo, é inegável que para compreender plenamente as origens das emoções
e inspirações que deram vida a essas obras cativantes, é crucial ter um entendimento
mais profundo da cultura e contexto social italianos. Tradicionalmente, as letras das
músicas clássicas italianas glorificavam valores convencionais e confortantes (Deus,
Pátria, Família e melodias românticas ingênuas), adotando uma linguagem influenciada
pelo melodrama do século XIX.

Em 25 de Abril de 19452, embora o cenário político tivesse se transformado, o cenário


musical e radiodifuso permaneceram praticamente inalterados. Contudo, esses foram
tempos de reconstrução, marcados por intensas lutas políticas e sociais, pela Guerra
Fria, pela inundação de Polesina, pela migração interna rumo ao Norte e por inúmeras
outras mudanças que redefiniram a Itália pós-guerra. Surpreendentemente, nenhum
desses eventos significativos se reflete nessas canções. Parece um país distinto, um
país de sorrisos e melodias, que opta por fechar os olhos e tapar os ouvidos diante da
realidade.

No que diz respeito ao "beat" italiano, com algumas exceções, não houve grande
inovação "do ponto de vista lírico". Por outro lado, as bandas de rock progressivo
buscavam uma fusão entre poesia e música, aventurando-se em uma nova forma de
expressão que entrelaça notas e palavras, na busca por um caminho que levasse a
uma verdadeira "revolução" tanto na música quanto no contexto social.

Em certos momentos, as letras podem transparecer certa simplicidade, enquanto em


outros alcançam elevados patamares de expressão poética. Contudo, a fusão
inextricável entre o engajamento social e a poesia, marcada ainda por uma intensa
politização, foi "solidamente estabelecida" no início da década de setenta. Essa
combinação proporcionou a chance de transformação e evolução, permanecendo, no
entanto, um elemento constante e distintivo da cena do rock progressivo italiano.
Mesmo que as bandas atuais sejam menos marcadas pela influência política direta,
frequentemente elas preservam uma "assinatura" distinta de letras de qualidade
superior, enraizadas na literatura, na história, na filosofia e na poesia.

2
Em 25 de abril de 1945, a Itália celebra o Dia da Libertação, um evento que simboliza o término da
ocupação nazista no país, especialmente nas cidades de Milão, Turim e Gênova. A data também serve
para homenagear a resistência italiana contra o fascismo.

25
A estética teatral do RPI

26
A atuação junta melodia e letra, criando um tipo único de diálogo entre os artistas e sua
audiência. Uma canção é, essencialmente, uma forma de compartilhar sentimentos. A
maneira como um artista se apresenta e o seu olhar podem intensificar a força dessa
comunicação. No começo dos anos 70, alguns grupos de rock progressivo começaram
a integrar encenações teatrais, muitas vezes elaboradas e até extravagantes, em suas
apresentações.

Peter Gabriel, do Genesis, ficou conhecido por usar diferentes fantasias coloridas e
exóticas em cada show, interpretando as histórias contadas pelas letras das músicas,
enquanto a banda utilizava efeitos visuais como lasers e espelhos grandes que se
moviam de acordo com a música.

A banda Yes adicionou ao palco elementos de design futurista feitos por Roger Dean,
incluindo grandes adereços que pareciam naves espaciais e um sistema de iluminação
sofisticado e inovou ao se apresentar em um palco circular, posicionado no centro da
arena, permitindo uma visão 360 graus para o público.

Jethro Tull causou surpresa ao soltar coelhos durante suas apresentações. O Pink
Floyd ficou famoso pelo uso de efeitos especiais em suas apresentações, incluindo a
queda de aviões cenográficos, um imenso porco inflável flutuante, telões de grandes
dimensões e, em 1980, uma gigantesca estrutura de tijolos para o espetáculo de "The
Wall".

A banda Rush adicionou elementos como lasers e projeções de filmes em seus shows.
Frank Zappa e The Mothers of Invention se destacaram por utilizar um adereço de
girafa em tamanho real e por realizar esquetes humorísticos improvisados durante suas
apresentações.

O antigo vocalista do Marillion, Fish, era conhecido por suas performances vestido
como um bobo da corte, uma escolha inspirada no primeiro álbum da banda, “Script for
a Jester's Tear".

No entanto, esse tipo de exibição teatral era praticamente inacessível para as bandas
de RPI nos anos setenta, devido a limitações financeiras, à falta de equipe técnica
qualificada, à ausência de uma gestão profissional e, principalmente, devido às
expectativas do seu público. As bandas italianas eram conhecidas por sua
autenticidade e engajamento social, mantendo uma aparência cotidiana mesmo no
palco.

27
Patrizio Fariselli, tecladista do AREA, em suas memórias, destaca o quão incomum
lhes parecia a transformação de uma banda como Gentle Giant, que chegava aos
teatros com uma aparência comum, mas se transformava nos bastidores, assumindo o
palco com calças justas extravagantes na cor violeta e similares.

Efeitos de iluminação sombrios, encenações dramáticas, pirotecnias e pianos


suspensos eram recursos totalmente fora do alcance, tanto financeiramente quanto
conceitualmente, para os artistas do rock progressivo italiano. Assim, não é
surpreendente que a cena progressiva da Itália não tenha dado origem ao chamado
"rock de arena".

Apenas um punhado de bandas, como Osanna, Le Orme e BMS, se aventuraram a


incorporar elementos teatrais em suas apresentações. Osanna, por exemplo, pintava o
rosto e usava figurinos elaborados no palco, não para atrair público com um espetáculo
extravagante, mas para intensificar a expressão de suas emoções e reforçar a
mensagem de suas letras, uma abordagem artística que quase os levou à falência.

Le Orme também adotou uma forte presença teatral em suas apresentações,


particularmente notável durante a "Rock Spray Tour" de 1975, quando a banda montou
um espetáculo satírico com cenários evocativos, figurinos e paródias de outros artistas
famosos, como Rick Wakeman e Keith Emerson, entre outros. No entanto, essa
abordagem teatral não foi unanimidade na banda, o guitarrista Tolo Marton deixou o
grupo, insatisfeito com a direção artística e resistente à ideia de se apresentar
fantasiado.

Nas turnês que se seguiram, Le Orme persistiu na utilização de cenários teatrais


marcantes, com o objetivo de complementar suas músicas com efeitos visuais que
enfatizassem as letras. Em 1979, na turnê de “Florian”, a banda optou por uma
abordagem quase “unplugged”, recorrendo a instrumentos clássicos e adotando um
estilo visual mais tradicional.

Por outro lado, o BMS, em 1976, inovou ao integrar um conjunto de dançarinos e


atores em suas apresentações, buscando enriquecer visualmente o significado de suas
letras. A iniciativa foi tão bem recebida que foi reeditada em 1980 e 1996. No entanto,
apesar do sucesso artístico, essa fusão pioneira de teatro, dança e rock progressivo
não se traduziu em lucro e permaneceu como um feito isolado.

Destacam-se também, pela sua abordagem teatral e energia no palco, bandas como
Metamorfosi, Alusa Fallax e Biglietto per l'Inferno, cada uma contribuindo à sua
maneira para o rico mosaico do rock progressivo com suas performances envolventes.

28
Metamorfosi, buscando ressaltar o peso das letras que abordavam temas como
racismo, tráfico, políticos corruptos e bombas nucleares, encerrava suas apresentações
com uma cena dramática: com a colaboração de três amigos vestindo trajes distintos e
assumindo diferentes papéis - um soldado, um padre e um político - encenavam a
execução do vocalista, "eletrocutando-o" no palco, simbolizando a repressão do poder
estabelecido contra ideias inovadoras.

Alusa Fallax também era conhecida por sua intensa presença teatral durante os
shows, utilizando elementos cênicos para enfatizar as mensagens de suas letras.
Claudio Canali, vocalista do Biglietto per l'Inferno, marcava sua presença no palco
vestindo um traje antigo que pertencia ao seu avô e um capacete de aviador de couro,
herança do pai do tecladista.

Esse comprometimento, essa energia, esse fervor artístico e essa criatividade eram
palpáveis, embora os recursos fossem limitados!

29
A definição do gênero musical

30
A criação musical é frequentemente norteada pelo "patrimônio estético". Ao refletir
sobre esse patrimônio, destacam-se três aspectos essenciais:

● Autoconsciência dos músicos em relação à sua inclusão em um determinado


movimento artístico,
● As classificações adotadas pelos críticos para distinguir diferentes gêneros e
subgêneros musicais,
● O empenho em formular uma “linguagem interpretativa” que facilite a descrição
das nuances musicais.

Assim, é viável que um artista esteja consciente de que suas composições e


performances se inserem em um estilo musical bem definido, sentindo-se integrante de
uma corrente artística particular (a exemplo do RPI). Simultaneamente, existem críticos
que enquadram a música desse artista dentro de um estilo ou gênero musical
específico. Além disso, há a criação de uma terminologia específica que auxilia na
descrição minuciosa dessa modalidade musical, ilustrado por termos como “prog
cantautorale”, “prog melódico”, “prog romântico”, “pop sinfônico”, entre outros.

Pode-se argumentar que o nascimento do Rock Progressivo Inglês como um gênero


autônomo no panorama do rock tem suas raízes nas interações e colaborações entre
os músicos. É plausível considerar que a distinta sonoridade do rock progressivo inglês
tenha emergido, em parte, de uma rede colaborativa entre os músicos.

Muitos desses artistas não se restringiam a uma única banda, mas se envolviam em
várias formações significativas do gênero. Bill Bruford é um exemplo notável dessa
dinâmica, participando de cinco grupos influentes (Yes, King Crimson, National
Health, Genesis e U.K.), além de seu próprio projeto de jazz fusion nos anos 70.
Também era habitual e benéfico para os membros dessas bandas enriquecerem o
panorama musical do estilo, colaborando como convidados em projetos uns dos outros.

A mesma análise aplica-se à esfera do RPI, onde a maioria dos músicos era parte
integrante de um autêntico movimento cultural, beneficiando-se da troca de
experiências e da colaboração em múltiplos projetos musicais. Essa realidade,
prevalente nos anos setenta, mantém-se até hoje, permitindo observar numerosos
artistas progressivos envolvidos em empreendimentos paralelos ou participando como
convidados especiais em obras de outros músicos do mesmo segmento na Itália. No
entanto, esses artistas costumam viver sob o ideal da autenticidade e proclamam uma
liberdade total na expressão de sua criatividade, rejeitando quaisquer classificações
rígidas de sua arte em gêneros e subgêneros, que às vezes veem como limitantes.

31
Embora muitos artistas italianos recorram a categorizações convencionais como “rock
progressivo” ou “rock sinfônico” para descrever suas obras, outros optam por cunhar
termos completamente novos e altamente pessoais, como “rock pictórico”, “pop
futurista”, “música composta” ou “rock não ortodoxo” para estimular a imaginação do
ouvinte.

Cada grupo ou artista possui uma trajetória única, uma vivência distintiva e uma visão
artística singular. Alguns utilizam essas definições para retratar sua música, outros para
afirmar sua afinidade com um movimento artístico. A maioria recorre a essas categorias
simplesmente porque reconhecem que elas facilitam a comunicação e auxiliam na
conexão com um público-alvo. Independentemente do motivo, o rock progressivo é um
gênero que nasceu para desafiar convenções musicais, e é um fato que muitos artistas
resistem a ser categorizados.

Diferentemente dos artistas, os críticos desempenham o papel de catalogar e definir a


música, pois sua missão é esclarecer e orientar o público, guiando os ouvintes e
possíveis compradores através da vastidão de álbuns e alternativas disponíveis. Na
prática, para contextualizar a obra de um músico, os críticos frequentemente recorrem
a comparações com obras já conhecidas pelo público.

Esse processo é fundamental para estabelecer os limites entre diferentes gêneros e


estilos musicais e para forjar uma linguagem descritiva nova e refinada. No alvorecer
dos anos setenta na Itália, os críticos adotaram o termo "pop" para caracterizar a onda
emergente de bandas jovens, que estavam sendo moldadas pelos sons inovadores
vindos da Inglaterra.

O uso do termo “Pop” serviu para distinguir esse novo movimento do gênero tradicional
de música popular até então prevalente, conhecido como “musica leggera”, que poderia
ser interpretado como “música suave”. Posteriormente, o rótulo “pop italiano” começou
a ser associado também ao RPI da época. Entretanto, é importante notar que as
fronteiras entre o RPI e as canções tradicionais italianas nem sempre são bem
definidas.

Naquele período, algumas bandas e artistas optaram por embelezar canções de amor
melódicas e românticas com arranjos sinfônicos sutis, conquistando assim um sucesso
comercial notável. Essa tendência musical foi descrita por alguns críticos como “soft
pop” ou “pop romântico”.

Grupos como I Pooh, Gli Alunni del Sole, Il Giardino dei Semplici, I Nuovi Angeli,
La Bottega dell'Arte, I Matia Bazar, I Camaleonti, e artistas como Claudio Baglioni

32
são exemplos dessa corrente. Embora muitos fãs internacionais possam identificá-los
como expoentes do prog italiano, os aficionados italianos do prog não compartilham da
mesma perspectiva, devido à orientação mais comercial desses artistas e à sua menor
conexão com os princípios do movimento prog.

Na década de setenta, outro fenômeno significativo no panorama musical italiano foi a


ascensão dos “cantautori”. O termo “cantautore”, introduzido nos anos sessenta,
adquiriu um novo significado e uma proeminência cultural na década seguinte. O
“cantautore” transcende a figura do simples cantor e compositor, representando alguém
que não apenas cria e canta suas próprias músicas, mas que expressa um tipo peculiar
de música, imbuído de uma expressão artística e cultural singular.

O "cantautore" distingue-se por sua aura intelectualmente carregada e não pode ser
considerado superficial. Ele é um poeta, engajado politicamente, e assume o papel de
um filósofo, um autêntico “maître à penser” 3 da música italiana. A primeira geração de
"cantautori" italianos encontrou inspiração em artistas franceses como Georges
Brassens, Leo Ferré e Jacques Brel, assim como no jazz e na bossa nova.

Posteriormente, figuras como Bob Dylan e Leonard Cohen também exerceram grande
influência. Seu estilo vocal se afasta da tradicional canção de amor italiana,
aproximando-se mais de uma forma de declamação do que do melodrama
convencional. Frequentemente, o "cantautore" se apresenta sozinho no palco,
acompanhado apenas por seu violão ou piano, enfatizando que as letras são o cerne
de sua arte.

O termo "cantautore" também é associado à genuinidade e autenticidade, em contraste


com o que é comercial e artificial. As letras dos cantautori não são produto de
colaboração com letristas, pois refletem experiências vividas pelo artista. No entanto,
as linhas divisórias entre o rock progressivo e a “canzone d'autore” nem sempre são
bem definidas.

Alguns cantautori, como Fabrizio De Andrè, Francesco Guccini e Edoardo Bennato,


lançaram álbuns conceituais com a participação de músicos do cenário progressivo. No
álbum mais famoso de Edoardo Bennato, "Burattino senza fili", inspirado na história de
Pinóquio, participaram músicos das bandas Saint Just e Maxophone, enquanto Fabrizio
De Andrè colaborou com a PFM em alguns de seus trabalhos.

3
"Maître à penser" significa "mestre do pensamento", referindo-se a uma pessoa de grande influência
intelectual ou ideológica, cujas ideias moldam o pensamento de outros em campos como filosofia, arte
ou literatura.

33
Nos álbuns dos anos setenta de Eugenio Finardi, é possível sentir a vibração da seção
rítmica do AREA, enquanto Rino Gaetano colaborou com Perigeo e Pierrot Lunaire. Os
exemplos são numerosos e seria impossível listá-los todos. Nos trabalhos dos
cantautori, as letras são consideradas mais significativas que a música.

Contudo, críticos muitas vezes empregam o termo "prog cantautorale" para descrever
obras onde as letras e o rock progressivo alcançam um equilíbrio harmonioso,
situando-se em um ponto intermediário entre o rock progressivo e a "canzone d'autore".

34
RPI e a indústria musical Italiana

35
Até o começo da década de 1970, a indústria musical italiana era predominantemente
conservadora e, de certo modo, resistente às novas tendências. Por essa razão, na
Itália, movimentos impactantes como o rock'n'roll dos anos 50 e o rock-blues dos anos
60 não conseguiram dominar o mercado musical local.

Contudo, o emergente gênero do "rock progressivo" surpreendeu a indústria. Bandas


progressivas como Le Orme ou PFM. escalaram as paradas principalmente através do
boca a boca, contando com mínimo apoio das gravadoras. Como foi observado, o rock
progressivo na Itália surgiu de forma marcante, sendo a primeira vertente do rock a
ganhar verdadeira popularidade no país.

Conforme a indústria musical, especialmente as grandes gravadoras, começou a


perceber essa nova onda, tentou capitalizar sobre ela, embora não a compreendesse
completamente. As gravadoras, para o bem ou para o mal, deixaram sua marca no
rock progressivo italiano. Em alguns casos, forneceram a promoção merecida aos seus
grupos, mas, de forma geral, critica-se a postura das gravadoras italianas por seu
desinteresse nos grupos e artistas progressivos, mesmo que muitas lutassem para
incluir pelo menos um desses artistas em seu catálogo.

No início dos anos setenta, algumas gravadoras independentes foram criadas na Itália
com o intuito de atender a demandas artísticas, e não necessariamente visando o
sucesso comercial, como as gravadoras Cramps e L'Orchestra. No entanto, é
importante notar que, na Itália, nenhuma gravadora se dedicou integralmente aos
novos ritmos do rock dos anos 70, com exceção de algumas menores como Grog e
Magma.

Mesmo as mais comprometidas, como Bla Bla, Cramps e L'Orchestra, tinham em seu
portfólio discos que dificilmente poderiam ser categorizados como progressivos, ou que
claramente pertenciam a outros gêneros, como o jazz.

Na década de noventa, houve uma reviravolta significativa com o ressurgimento do


interesse pelos álbuns de rock progressivo clássicos. Nesse período, emergiram novas
gravadoras independentes focadas em relançar obras de rock progressivo italiano,
entre elas Vinyl Magic, Mellow Records e Kaliphonia. Algumas dessas editoras até
redescobriram e publicaram gravações esquecidas dos anos setenta.

Movidas por uma genuína paixão pela música, essas gravadoras não tinham o lucro
como objetivo principal. É imprescindível reconhecer o papel dessas gravadoras
independentes na promoção de novas bandas e artistas emergentes inspirados pelos
ritmos progressivos antigos.

36
“Operavam com recursos limitados, mas uma imensa paixão!”

Naturalmente, as gravadoras têm o papel de classificar e comercializar a música para


vender seus produtos. De certo modo, atuam como intermediárias entre os artistas e o
público, auxiliando no lançamento de álbuns ao financiar sessões de gravação,
engenharia de som e produção. Além disso, providenciam campanhas de marketing,
incluindo aparições em rádio e TV, anúncios em revistas especializadas, entre outros.
Por vezes, exercem influência sobre o produto final, sugerindo um estilo mais comercial
ou aconselhando os artistas sobre aspectos visuais.

Embora os músicos de rock busquem se expressar e se conectar diretamente com seu


público, essa "auto expressão" ainda é mediada por diversos fatores que podem criar
uma tensão entre as intenções dos artistas e o que as circunstâncias lhes permitem
realizar. Esses "fatores mediadores" englobam aspectos práticos da produção musical
(seja em estúdio ou ao vivo) e o papel das gravadoras, especialmente em termos de
gestão e atividades promocionais, além do processo de distribuição da música ao
público, majoritariamente por meio das indústrias de mídia.

As decisões sobre o conteúdo gravado, sua produção, tempo de estúdio, marketing e


distribuição podem receber sugestões dos músicos, mas, a menos que já tenham
consolidado sua reputação, raramente terão poder de veto. Muitas dessas decisões
estão nas mãos do produtor, um representante da gravadora cujo papel vai além de
questões administrativas de estúdio, englobando a conformação das ideias iniciais da
banda ao mercado.

O papel do produtor na indústria musical é crucial, abrangendo uma gama ampla de


responsabilidades que vão além do simples treinamento de músicos e supervisão de
sessões de gravação. O produtor é o arquiteto sonoro do álbum, encarregado de
harmonizar ideias, gerenciar o processo criativo e assegurar a excelência do produto
final por meio de técnicas refinadas de mixagem e masterização. Durante a evolução
do cenário musical na segunda metade do século XX, os produtores expandiram seu
escopo de atuação, assumindo um papel estratégico e empresarial.

Na década de setenta, o produtor era fundamental, especialmente diante da falta de


conhecimento técnico entre os músicos de rock. Muitos produtores se dedicavam a
orientar artistas emergentes, ajudando-os a cristalizar suas visões musicais em
gravações de impacto. Atualmente, a indústria diferencia claramente entre o produtor
executivo, focado nos aspectos financeiros e gerenciais do projeto, e o produtor
musical, responsável pela essência e qualidade da música no álbum.

37
O último é frequentemente equiparado a um diretor de cinema, devido à sua
capacidade de conceber, esculpir e aperfeiçoar uma obra musical para atender às
expectativas dos artistas e da gravadora.

No cenário do rock progressivo italiano dos anos setenta, algumas figuras de


produtores se destacaram por suas contribuições inestimáveis:

● Claudio Fabi: diretor artístico da gravadora “Numero Uno”, foi uma força motriz
por trás dos primeiros álbuns da PFM, como "Storia di un minuto", "Per un
Amico", "L'isola di niente" e "Chocolate Kings". Seu talento também brilhou na
produção de obras de Acqua Fragile, Libra, Ivan Graziani e Alberto Fortis.
● Alessandro Colombini: notável por seu trabalho com a Ricordi e co-fundador
da Spaghetti Records, produziu álbuns emblemáticos do B.M.S, além de
colaborar com Maxophone, PFM e artistas renomados como Edoardo Bennato,
Lucio Dalla e Antonello Venditti.
● Gian Piero Reverberi: produtor dos aclamados álbuns de Le Orme como
"Collage", "Uomo di pezza", "Felona e Sorona" e "Contrappunti", também deixou
sua marca com artistas como I New Trolls, Lucio Battisti e Fabrizio De André, e
lançou o inovador projeto pop-barroco Rondò Veneziano na década de 1980.
● Gianni Sassi: uma figura multifacetada na cultura italiana dos anos setenta, não
se limitou ao papel de produtor e discógrafo4. Sassi fundou a gravadora
independente Cramps, um lar para bandas progressivas como AREA, Arti e
Mestieri e Venegoni & Co, além de artistas solo como Eugenio Finardi, Alberto
Camerini e Claudio Rocchi.

Esses produtores não apenas moldaram o som do rock progressivo italiano, mas
também enriqueceram o panorama cultural da época com sua visão e dedicação.

A indústria do rock progressivo também se distingue pelo design artístico de suas


capas de álbuns. A arte visual e a apresentação são elementos fundamentais do
conceito artístico global do álbum. Essa tendência, que ganhou ímpeto com o lendário
álbum “Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band” dos Beatles, teve um papel crucial no
marketing do rock progressivo.

Muitas bandas ganharam reconhecimento não apenas por sua música, mas também
pela direção artística de suas capas de álbuns, integrando o visual à identidade musical
da banda. Isso levou ao reconhecimento de artistas e estúdios de design, como Roger

4
Um discógrafo é uma pessoa envolvida na indústria musical, cujas principais responsabilidades podem
incluir a produção, gravação, distribuição e promoção de gravações de música (discos)

38
Dean, famoso por seu trabalho com o Yes, e Hipgnosis, conhecido por suas
colaborações com o Pink Floyd e outros ícones do rock progressivo. Na Itália, Mario
Convertino emergiu como um dos designers de capas mais proeminentes da era,
especialmente reconhecido por seu trabalho com Le Orme.

Mario Convertino foi o visionário por trás da icônica capa de "Collage" do Le Orme.
Desejando uma imagem impactante para o álbum revolucionário, Mario conduziu a
banda a um cemitério desativado, uma aventura que envolveu escalar um muro para
acessar o local. Lá, ele pintou os integrantes da banda de branco, capturando a
imagem inusitada que se tornaria a capa do álbum.

A banda recorda que o episódio mais divertido foi o retorno, escalando novamente o
muro e caminhando pelas ruas até a residência de Mario para remover a tinta. O visual
inesperado certamente surpreendeu os transeuntes, mas, como dizem, a arte
frequentemente causa impacto!

Outros notáveis designers de capas de álbuns incluem Cesare Monti Montalbetti e sua
esposa Wanda Spinello, responsáveis por obras de arte memoráveis para bandas
como PFM, BSM, e outros. Giancarlo Impiglia e Armando Mancini também deixaram
sua marca em álbuns de Quella Vecchia Locanda e Il Rovescio della Medaglia,
enquanto Gianni Sassi destacou-se com trabalhos controversos e brilhantes para I
Giganti, Franco Battiato, entre outros.

Além disso, a arte das capas de álbuns de rock progressivo italiano também foi
enriquecida pela colaboração de famosos artistas de quadrinhos como Guido Crepax,
criador de Valentina, e Andrea Pazienza, também conhecido como Paz, assim como de
pintores notáveis como Walter Mac Mazzieri, Lanfranco, Adriano Marangoni, Mirella
Brugnerotto, Riccardo Di Stasi e muitos outros, cada um trazendo sua visão única e
enriquecendo a identidade visual dos álbuns.

A indústria musical, contudo, não se limita à produção e promoção de discos. Ela


também engloba a organização de concertos e festivais, aspectos fundamentais para a
difusão e a vivência da música.

Na Itália, a promoção do rock progressivo foi impulsionada significativamente por


revistas de música como "Ciao 2001" e "Re Nudo", esta última com laços com
movimentos contraculturais de esquerda. Além de resenhar discos e entrevistar
artistas, essas publicações tiveram papel ativo na organização de concertos e festivais.

39
Nos primeiros anos da década de setenta, a Itália era palco de inúmeros “festivais pop
caseiros”, proporcionando às bandas locais a oportunidade de se apresentar e
competir, cativando um público empático e entusiasta. Inicialmente, alguns festivais
eram geridos por promotores profissionais, como o Palermo Pop e o Festival
d'Avanguardia e Nuove Tendenze. No entanto, esses eventos não eram sempre
lucrativos, e o alto risco financeiro levou muitos promotores profissionais a se
afastarem, deixando o mercado de shows de rock praticamente nas mãos de apenas
dois empresários: Franco Mamone e David Zard.

Franco Mamone, considerado o precursor da moderna geração de promotores e


empresários de rock italiano, é famoso por ter iniciado suas operações a partir de um
telefone público em um bar em Milão, de onde organizava apresentações para bandas
italianas de beat em clubes locais. Durante a década de setenta, ele não só trouxe
grandes nomes internacionais como Deep Purple, Pink Floyd e Yes para turnês na
Itália, mas também gerenciou várias bandas italianas de rock progressivo, incluindo
PFM, e colaborou estreitamente com a gravadora Cramps.

David Zard foi o promotor responsável por trazer o Led Zeppelin para um concerto
memorável em Milão, um evento que ficou mais conhecido pelos distúrbios do que pela
performance musical em si. Ao longo dos anos setenta, Zard organizou turnês para
uma série de artistas internacionais de renome, como Genesis, e gerenciou talentos
italianos destacados, incluindo BMS e Angelo Branduardi. Entretanto, outros concertos
e festivais, como o Festival Pop de Roma, Caracalla, Villa Pamphilii e o Be-In em
Nápoles, eram frequentemente organizados por promotores amadores e sem fins
lucrativos. No entanto, a gestão desses eventos por equipes não profissionais
revelou-se desafiadora tanto em termos financeiros quanto de segurança.

Com o passar do tempo, o panorama dos concertos passou a ser dominado quase
exclusivamente por entidades políticas, principalmente de orientação esquerdista,
como o PCI5, com seu circuito Festival dell'Unità e alguns grupos extra-parlamentares,
como o Lotta Continua. A música, nesse contexto, transformou-se em uma ferramenta
poderosa de propaganda e comunicação, além de se tornar uma fonte significativa de
financiamento para esses movimentos políticos.

Em meio a essa realidade, os artistas muitas vezes eram relegados a um segundo


plano. Não era raro que, após um concerto, a "acomodação" oferecida aos músicos
fosse apenas um saco de dormir estendido no chão de uma residência particular ou na
sede dos grupos políticos responsáveis pela organização do evento, refletindo as
condições precárias e os desafios enfrentados pelos artistas da época.

5
Partido Comunista Italiano

40
O panorama atual do RPI

41
Atualmente, o RPI enfrenta uma realidade desafiadora no cenário musical. As
principais gravadoras, também conhecidas como majors, demonstram pouco ou
nenhum interesse pelas novas vertentes desse gênero. Bandas icônicas como Le
Orme, PFM e I New Trolls, apesar de ainda ativas, estão vinculadas a selos
independentes, e uma onda considerável de grupos opta pela autoprodução. Figuras
proeminentes do cenário, como Franz Di Cioccio e Beppe Crovella, estão na vanguarda
de selos independentes como Imaginifica e Electromantic, desempenhando também o
papel de produtores executivos.

No que diz respeito ao reconhecimento internacional, algumas bandas italianas


contemporâneas conseguiram contratos com gravadoras independentes estrangeiras,
como a Cuneiform Records e Moonjune Records dos EUA que representa bandas
como Deus Ex Machina, D.F.A. e Slivovitz, bem como a francesa Musea Records,
com bandas como Baroque e Cage. No entanto, esses contratos geralmente se
limitam a distribuição e promoção.

Paralelamente, a evolução das tecnologias de gravação encoraja muitas bandas a


embarcarem na autoprodução, gerando álbuns de alta qualidade, como demonstrado
por grupos como Filoritmia, Ianva, Absenthia e Akt. Exemplificando essa tendência, a
banda Ar-chitrave Indipendente, oriunda da Puglia, optou por gravar seu primeiro
álbum em estúdio caseiro, empregando exclusivamente técnicas analógicas e lançando
o trabalho somente em vinil.

No contexto dos espetáculos ao vivo, a cena do rock progressivo é rica em festivais.


Contudo, para as novas bandas, sobreviver nesse ambiente é um desafio significativo.
A gestão independente e a autoprodução, embora essenciais, não garantem uma
renda sustentável proveniente de shows e vendas de discos. Apesar dessas
adversidades, o espírito do RPI permanece vibrante, sustentado por uma paixão
fervorosa.

É crucial, contudo, abordar a tendência da indústria musical em categorizar rigidamente


os artistas, um sistema que, embora facilite a identificação dos produtos pelos
consumidores, pode cercear a liberdade artística e a autenticidade dos músicos. Essa
prática se manifesta na comparação dos trabalhos atuais com obras conhecidas do
passado, um fenômeno observado desde a década de noventa, quando selos
independentes relançaram álbuns dos anos setenta, rotulando-os como "jóias
progressivas perdidas", mesmo que fossem meramente obras pop com ligeiras
influências sinfônicas.

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Hoje, há uma percepção equivocada de que o RPI contemporâneo visa apenas emular
o som vintage e capitalizar o legado das bandas dos anos setenta. É uma visão
limitante, pois muitas bandas atuais oferecem propostas inovadoras e merecem ser
ouvidas por seus méritos próprios, independentemente das comparações com gigantes
do passado como Le Orme ou PFM. Portanto, ao explorar o Rock Progressivo
Italiano, é essencial deixar de lado as etiquetas pré-concebidas e se abrir a novas
experiências musicais.

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Bandas e álbuns

44
No universo RPI, cada banda representa uma história única, um mosaico de sons e
estilos que definiram uma era. Ao embarcar nesta jornada, vamos explorar não apenas
as origens e evoluções desses grupos icônicos, mas também nos aprofundar em suas
obras-primas, descobrindo como cada uma moldou e influenciou o gênero.

Cada banda do RPI trouxe sua própria essência e identidade. Desde a abordagem
lírica e melódica do Banco del Mutuo Soccorso, passando pela complexidade
harmônica e estilística do Premiata Forneria Marconi, até os experimentos ousados e
a inovação instrumental de outras bandas importantes, como Le Orme e Area. Vamos
explorar como esses artistas combinaram elementos tradicionais italianos com a
vanguarda do rock, criando um som que era tanto atemporal quanto revolucionário.

Além disso, analisaremos álbuns icônicos que não apenas definiram a carreira dessas
bandas, mas também deixaram uma marca indelével na história do rock progressivo.
Álbuns como "Felona e Sorona" de Le Orme, "Per un Amico" da PFM e outros serão
examinados para compreendermos a riqueza do RPI.

Esta jornada não é apenas uma retrospectiva histórica, mas também uma celebração
do espírito criativo e da paixão que impulsionaram estes músicos a redefinir os limites
da música.

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AREA

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História da banda
Formada em 1972 em Milão, na Itália, AREA emergiu como uma força formidável e
inovadora no panorama do RPI dos anos setenta, cativando o público com sua
abordagem aventureira e politicamente engajada. A banda, um verdadeiro "grupo
popular internacional" como destacado na capa do seu álbum de estreia, foi composta
por um conjunto de músicos excepcionais,

O carismático vocalista grego Demetrio Stratos, anteriormente do I Ribelli, o guitarrista


habilidoso Paolo Tofani, com passagens por I Califfi, o baixista francês Patrick Djivas,
que mais tarde se juntaria a PFM, o baterista versátil Giulio Capiozzo o tecladista
inovador Patrizio Fariselli e Victor Busnello, trazendo a riqueza de saxofone, flauta e
clarinete.

O álbum de estreia, "Arbeit Macht Frei" de 1973, foi uma obra-prima lançada pela
Cramps Records, que imediatamente solidificou a reputação da banda. Com uma fusão
magnética de jazz, rock e prog, enriquecida por influências orientais e gregas, o álbum
exibiu uma complexidade musical e uma profundidade lírica que refletiam a postura
politicamente esquerdista da banda. A voz de Stratos era um instrumento em si, uma
força da natureza que transmutava emoção e técnica em algo inigualável, prometendo
mais inovações em futuros trabalhos.

Seguindo o sucesso estrondoso, "Caution Radiation Area" de 1974 marcou uma


evolução, adotando uma abordagem mais experimental e avant-garde, e mergulhando
profundamente no universo do free jazz. Esse álbum foi um mosaico sonoro ousado,
apresentando camadas de complexidade e espontaneidade. O terceiro álbum, "Crac!"
de 1975, trouxe de volta a banda a uma sonoridade mais progressiva e acessível,
combinando perfeitamente as longas partes instrumentais características da banda
com elementos mais rock, exemplificados em faixas notáveis como "Gioia e
rivoluzione" e "L'elefante bianco".

A esfera política da música do AREA se cristalizou na audaciosa reinterpretação do


hino socialista "L'internazionale", uma faixa que se tornou um clássico atemporal nos
concertos do grupo e que também foi destaque no álbum ao vivo de 1975,
"Are(A)zione". "Maledetti" de 1976 representou um ponto de inflexão audacioso para a
banda, integrando a maestria de músicos de jazz externos como Steve Lacy e Paul
Lytton, impulsionando as fronteiras do jazz e da experimentação musical.

Em 1979, aos 34 anos, Demetrio Stratos enfrentou um severo diagnóstico de anemia


aplástica. Buscando tratamento, o talentoso cantor foi para o Memorial Hospital em

47
Nova York. Enquanto a notícia se espalhava rapidamente pelos círculos musicais
italianos, um concerto especial foi organizado em Milão com o objetivo de arrecadar
fundos para as despesas médicas de Stratos, durante sua aguardada operação de
transplante de medula óssea. Músicos renomados, incluindo os membros da PFM,
uniram-se ao evento solidário. Infelizmente, a condição de Stratos deteriorou-se
rapidamente, levando-o a falecer em 13 de junho daquele ano, devido a uma falência
cardiorrespiratória.

A morte de Stratos tocou profundamente o mundo artístico, transcendendo os limites


da música experimental, onde ele era visto como uma figura emblemática. O evento
chamou a atenção de uma ampla gama de meios de comunicação, inclusive daqueles
que normalmente não cobriam o cenário do rock alternativo. O evento transformou-se
no precursor de uma série de homenagens que, ao longo dos anos, têm sido realizadas
para preservar o legado desse artista incomparável, essas homenagens culminaram no
lançamento do álbum duplo "1979 Il concerto - Omaggio a Demetrio Stratos", produzido
pela gravadora Cramps.

Anualmente, desde 2000, a cidade de Salsomaggiore, local da sepultura de Stratos,


realiza um fim de semana dedicado a concertos em tributo à sua memória. Em Milão, o
legado de Stratos é eternizado no auditório da Rádio Popular, que leva o seu nome,
uma homenagem que ressalta a contínua reverberação de sua influência e impacto na
musica.

Embora a jornada do AREA tenha sido marcada por desafios e mudanças, incluindo a
formação do AREA II nos anos 80 e o retorno triunfal com "Chernobyl 7991" em 1997,
a banda nunca perdeu sua essência. A reunião de Fariselli, Tavolazzi, Tofani e Paoli em
2010, e os projetos subsequentes, incluindo o poderoso "Live in Japan" em 2020 do
Area Open Project, provaram que o legado do AREA continua a evoluir, a inspirar e a
capturar a imaginação de gerações.

AREA, uma banda cuja trajetória é definida pela inovação, pelo coração e pela
resistência, permanece um farol de excelência musical e um testemunho do poder
transformador da arte.

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Discografia
A banda AREA, com sua abordagem inovadora e complexa, deixou uma marca
indelével no cenário do RPI. Desde sua formação em 1972, a banda conquistou crítica
e público com uma sonoridade única que mescla elementos do jazz, rock e música
avant-garde. Ao longo de sua carreira, a AREA lançou uma série de álbuns que não
apenas definiram o gênero do RPI, mas também expandiram os horizontes da música
experimental.

● “Arbeit Macht Frei“ (1973): O álbum de estreia, notável por sua fusão de rock,
jazz, e música étnica, estabeleceu a banda como um ícone do prog-rock italiano.
● “Caution Radiation Area“ (1974): Este álbum é conhecido por sua abordagem
mais experimental, incorporando elementos de free jazz e uma complexidade
sonora que desafiou os padrões da época.
● “Crac!“ (1975): Voltando-se para um estilo mais acessível sem perder a essência
progressiva, este álbum apresenta uma mistura de rock e experimentação
musical, com faixas marcantes que capturam a essência criativa da banda.
● “Maledetti“ (1976): Este trabalho é uma jornada audaciosa pelo jazz e outras
formas de expressão musical, evidenciando a versatilidade e a capacidade da
banda de explorar novos territórios sonoros.
● “Gli Dei Se Ne Vanno, Gli Arrabbiati Restano!“ (1978): Caracterizado por uma
mescla de progressivo e jazz, este álbum reflete uma fase madura da banda,
explorando texturas sonoras e temáticas profundas.
● “Tic&Tac“ (1980): Este álbum marca um período de transição e experimentação,
onde a banda continua a evoluir seu som e abordagem musical.
● “Chernobyl 7991” (1997): Lançado após um hiato significativo, este álbum
representa um retorno triunfal, mantendo a essência do AREA enquanto
incorpora novas influências e ideias.

Além desses álbuns de estúdio, a AREA também tem álbuns ao vivo notáveis e
compilações que capturam a energia e a dinâmica de suas performances, contribuindo
para o legado duradouro da banda.

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Álbum de destaque

O álbum "Arbeit Macht Frei" é o primeiro álbum da banda , lançado em 1973. Este
trabalho é um marco no cenário do rock progressivo e da música experimental italiana,
marcando o início de uma carreira influente para a banda. O título, que em alemão
significa "O trabalho liberta", é uma referência irônica à inscrição encontrada na entrada
de Auschwitz e outros campos de concentração nazistas, indicando desde o início o
caráter político e contestador da música do AREA.

Musicalmente, "Arbeit Macht Frei" é uma fusão de jazz, rock progressivo, música
eletrônica e elementos de música étnica, com uma forte ênfase na improvisação e na
experimentação sonora. A banda se destaca pela habilidade técnica de seus membros,
especialmente o vocalista Demetrio Stratos, cuja capacidade vocal extraordinária e uso
de técnicas vocais extensas, incluindo o canto difônico, são elementos centrais do som
do AREA.

As letras do álbum são profundamente engajadas politicamente, refletindo as


preocupações sociais e políticas da época, especialmente em relação à luta contra o
fascismo, a opressão e a busca pela liberdade. Esse engajamento político se alinha
com a escolha do nome do álbum, usando a música como uma forma de resistência e
crítica social.

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Faixas como "Luglio, Agosto, Settembre (Nero)" e "L'Internazionale" demonstram a
mistura de influências e a diversidade de estilos que caracterizam o álbum. A
instrumentalização é complexa e variada, incorporando instrumentos tradicionais de
rock, como guitarra, baixo e bateria, com instrumentos menos convencionais para o
gênero, incluindo teclados eletrônicos, saxofone e uma variedade de instrumentos de
percussão.

"Arbeit Macht Frei" foi recebido com aclamação crítica na época de seu lançamento e
continua a ser altamente respeitado tanto por fãs de rock progressivo quanto por
críticos. O álbum não apenas estabeleceu o AREA como uma força inovadora na
música italiana, mas também como uma voz importante no panorama musical
internacional, influenciando gerações subsequentes de músicos interessados em
explorar as fronteiras da música rock, jazz e experimental.

A contribuição do AREA com este álbum vai além da música. Ele representa um
manifesto artístico que combina inovação musical, virtuosismo técnico e compromisso
político, ressoando com questões sociais que permanecem relevantes. "Arbeit Macht
Frei" é um testemunho do poder da música como forma de expressão cultural e
política, marcando seu lugar na história da música do século XX.

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Ouça a banda
Descubra as faixas mais tocadas da banda no Spotify. Basta direcionar a câmera do
seu celular para o QR Code a seguir e mergulhe no universo musical da AREA.

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Banco Del Mutuo Sccorso

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História da banda
Originária de Roma, Itália, e fundada em 1969, a banda teve um período ativo de
apresentações ao vivo que durou de 1997 até 2018. Em 2016, a banda passou por um
processo de reformulação, marcando um novo capítulo em sua trajetória

Uma das bandas de rock progressivo mais importantes da Itália, o BMS, junto com Le
Orme e PFM, são considerados os três grandes do gênero Rock Progressivo Italiano
(RPI). Essa reputação se deve não apenas à sua longevidade e sucesso em seu país
natal, mas também por terem conseguido reconhecimento internacional, algo raro para
muitos de seus contemporâneos.

Apesar de seu primeiro álbum ter sido lançado apenas em 1972, o Banco del Mutuo
Soccorso foi formado em 1969. Sua música é caracterizada pela impressionante
habilidade dos irmãos Nocenzi, Gianni e Vittorio, nos teclados. A formação inicial da
banda sofreu várias mudanças antes do lançamento de qualquer gravação, incluindo
os bateristas Franco Pontecorvi e Mario Achilli, o baixista Fabrizio Falco e os
guitarristas Gianfranco Coletta e Claudio Falco. Esta formação inicial gravou material
que só seria lançado em 1989, no álbum "Donna Plautilla".

Para a gravação de seu primeiro álbum, juntaram-se aos irmãos Nocenzi o guitarrista
Marcello Todaro (ex-Fiore di Campo) e três membros da banda Le Esperienze: o
vocalista Francesco Di Giacomo, o baterista Pier Luigi Calderoni e o baixista Renato
D'Angelo. Seu primeiro álbum homônimo foi um trabalho surpreendentemente maduro
de rock progressivo sinfônico e inventivo com influências clássicas, apresentando uma
execução musical excepcional e a entrega vocal emocional de Di Giacomo. Esse álbum
foi rapidamente seguido pelos igualmente aclamados "Darwin" e "Io Sono Nato Libero",
formando um trio de álbuns essenciais para qualquer pessoa interessada no gênero
RPI.

Após a gravação de "Io Sono Nato Libero", houve uma mudança de guitarrista, com a
saída de Todaro, que se juntou à banda Crystals, e a entrada de Rodolfo Maltese,
ex-Homo Sapiens. Nesse período, a banda tentou expandir sua popularidade fora da
Itália e lançou o álbum "Banco", cantado em inglês, pela gravadora Manticore de ELP.
Este álbum era na verdade uma compilação, consistindo principalmente de
regravações das músicas de seus três primeiros álbuns, com exceção de uma faixa.

Para promovê-lo, eles fizeram turnês pelos EUA e Reino Unido, mas com sucesso
limitado. "Banco" foi seguido em 1976 pela trilha sonora do filme "Garofano Rosso" e
no mesmo ano foram lançadas duas versões do mesmo álbum, uma em italiano e outra

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em inglês, "Come In Un'Ultima Cena" e "As In A Last Supper". Em 1978, lançaram
outro álbum instrumental, "...Di Terra", desta vez incorporando uma orquestra.

Em "Canto Di Primavera", o baixista D'Angelo foi substituído por Gianni Colaiacomo, e


após isso a banda entrou em um período de menor interesse para os fãs de prog,
adotando uma direção mais comercial e pop. Em 1983, Gianni Nocenzi deixou a banda,
e os anos seguintes viram a entrada e saída de vários músicos e uma série de álbuns
criticamente mal recebidos, pelo menos na comunidade prog.

Indícios de um retorno às raízes prog surgiram em 1991, quando a banda regravou seu
aclamado primeiro álbum e "Darwin". No entanto, o pop/rock mais leve de "Banco 13",
lançado em 1994, mostrou que ainda era cedo para comemorar. Nenhum álbum de
estúdio foi lançado desde 1996, mas a banda continuou com atividades ao vivo
esporádicas e lançou vários álbuns ao vivo. Um dos mais interessantes é "Seguendo
Le Tracce", que captura um impressionante concerto de 1975, lembrando-nos do
grande talento desta banda.

O mais recente desses álbuns ao vivo é ''Quaranta'', uma gravação de 2010


anteriormente lançada como parte do box set Prog Exhibition. A formação da época
incluía o vocalista Francesco Di Giacomo, Vittorio Nocenzi nos teclados, os guitarristas
Rodolfo Maltese e Filippo Marcheggiani, o baterista Maurizio Masi, o baixista Tiziano
Ricci e Alessandro Papotto no sax, flauta e clarinete. Infelizmente, Francesco Di
Giacomo faleceu em um acidente de trânsito em 21 de fevereiro de 2014.

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Discografia
A discografia da banda destaca-se por uma série de álbuns influentes e populares,
especialmente nos anos 70 e início dos 80. Aqui está uma lista dos seus álbuns de
estúdio, destacando alguns dos mais famosos:

● “Banco del Mutuo Soccorso” (1972): Este foi o álbum de estreia da banda, e
marcou sua entrada no cenário do rock progressivo italiano.
● “Darwin!” (1972): Outro lançamento do mesmo ano, este álbum é
frequentemente citado como um dos melhores no gênero do rock progressivo.
● “Io Sono Nato Libero” (1973): Este álbum continuou a estabelecer a banda
como uma força importante no rock progressivo.
● “Banco” (1975): Inclui versões em inglês de músicas de álbuns anteriores, parte
do esforço da banda para alcançar o mercado internacional.
● “Garofano Rosso” (1976): Uma trilha sonora de filme, mostrando a versatilidade
da banda.
● “Come in un'ultima cena” (1976): Conhecido em inglês como "As in a Last
Supper", este álbum também foi parte do esforço da banda para alcançar
audiências internacionais.
● “...di terra” (1978): Um álbum instrumental que incorpora o uso de uma
orquestra.
● “Canto di Primavera” (1979): Este álbum combina rock progressivo com
influências clássicas, mantendo o estilo único da banda.
● “Urgentissimo” (1980): Caracterizado por uma abordagem experimental e
ousada, representa uma evolução no som da banda.
● “Buone Notizie” (1981): Marca uma mudança em direção a um estilo mais pop,
refletindo as tendências musicais da época.
● “Banco” (1983): Retorno às raízes progressivas, mesclando diferentes estilos e
sonoridades.
● “...e via” (1985): Continua a explorar a mistura de rock progressivo com
elementos pop.
● “Il 13” (1994): Após um hiato, a banda retorna com um som renovado, mas ainda
fiel à sua essência.
● “Nudo” (1997): Um retorno ao rock progressivo clássico, com composições
complexas e letras profundas.
● “Transiberiana” (2019): Esse é o primeiro lançamento da banda com músicas
inéditas desde "Nudo" em 1997. Este álbum marca uma nova fase para a banda
após a morte de seu carismático vocalista original, Francesco Di Giacomo, em
2014. Tony D'Alessio, conhecido por sua participação na edição italiana do
"X-Factor", assumiu como o vocalista principal do álbum.

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● “Orlando: Le Forme dell'Amore” (2022): Este álbum, lançado no 50º aniversário
da banda, é um trabalho conceitual baseado no poema épico do século 16,
"Orlando Furioso".

Além dos álbuns de estúdio, a banda também lançou vários álbuns ao vivo, como
"Capolinea" (1979) e "No Palco" (2003), e uma série de compilações e regravações.
Cada um desses álbuns reflete a capacidade da banda de se adaptar e explorar novos
estilos musicais ao longo de sua carreira, mantendo sempre sua identidade musical.

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Álbum de destaque

O álbum "Darwin!" da BMS é uma obra-prima do rock progressivo italiano, lançado em


1972. Este álbum é o segundo trabalho da banda e é notável por sua composição
complexa, técnica instrumental elevada e uma abordagem lírica ambiciosa que explora
temas filosóficos e históricos.

Musicalmente, "Darwin!" é uma fusão impressionante de rock progressivo, elementos


clássicos e toques de jazz, refletindo a rica tapeçaria musical que caracteriza o melhor
do prog italiano dos anos 70. A habilidade dos músicos é evidente em cada faixa, com
performances virtuosas que destacam o teclado intricado, guitarra expressiva e ritmos
dinâmicos.

Liricamente, o álbum é uma reflexão sobre a teoria da evolução de Charles Darwin,


explorando não apenas as implicações científicas, mas também filosóficas e sociais. A
banda faz uso de metáforas e narrações para mergulhar nos temas de progresso,
transformação e a luta pela existência. Essa abordagem conceitual não apenas fornece
profundidade ao álbum, mas também demonstra a capacidade do BANCO de
entrelaçar complexidade musical com narrativas significativas.

A produção de "Darwin!" é outra característica notável, capturando a riqueza dos


arranjos e a intensidade emocional das performances. Apesar de ser um produto de
seu tempo, o álbum soa fresco e relevante, graças à sua abordagem inovadora e à
atemporalidade dos temas explorados.

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Faixas como "L'Evoluzione" e "La Conquista Della Posizione Eretta" são destaques,
oferecendo uma viagem musical que vai do sereno ao épico, refletindo a jornada
evolutiva humana em si. A habilidade dos músicos de equilibrar técnica e emoção é
evidente, criando uma experiência auditiva que é tão cativante quanto intelectualmente
estimulante.

Vale aqui analias algumas dessas faixas:

"La Conquista Della Posizione Eretta" é a segunda faixa do álbum, e revela a


complexidade de “Darwin!”. O baixo persistente cria um efeito sonoro contínuo,
permitindo que piano e flauta se entrelacem livremente. A música evolui para uma
melodia e um ritmo que lembram uma cena de filme de James Bond inesperadamente
invadida pela máfia. Em seguida, "Danza Dei Grandi Rettili" nos leva para uma nova
virada, levando o ouvinte a um ambiente de clube de jazz secreto, com um groove
envolvente e sedutor, destacado pelo timbre único das escalas do órgão Hammond que
se fazem presentes de forma surpreendente.

"Cento Mani E Cento Occhi" começa como uma celebração triunfante de um festival
medieval, mas subitamente transforma-se em uma poderosa força de hard rock,
posicionando a BMS em uma intensidade roqueira sem precedentes no álbum,
mantendo a elegância dos solos de piano ao estilo Chopin junto à grandiosidade do
órgão ao estilo ELP.

"Ed Ora Io Chiedo Tempo Al Tempo Ed Egli Mi Risponde... Non Ne Ho!" é um pequeno
final bizarro para um álbum muito ambicioso, inspirado na música de carrossel. Embora
pareça completamente fora do lugar, isso se torna claro se você entender como a
música corresponde aos títulos das faixas, pois parece insinuar a roda cósmica da vida
girando sem parar, mas sempre contra o tempo.

De fato, o álbum faz muito mais sentido ao menos entendendo o significado dos títulos,
pois eles fornecem uma espécie de referência à musicalidade em ação. Embora o
álbum possa parecer totalmente desequilibrado em todo o seu esplendor de arranjo, a
lógica ocorre no contexto dos temas evolutivos da vida no planeta.

Embora “Darwin!” se destaque como um marco dentro do RPI, sua complexidade não o
torna imediatamente acessível aos novatos no gênero. As melodias encantadoras e os
instantes de pura beleza sinfônica são capazes de tocar a alma, mas a natureza
experimental do álbum também pode surpreender e confundir, com seus ritmos
inesperados e surtos intensos que desafiam os sentidos. A riqueza e a delicadeza da
sua composição exigem várias audições para serem plenamente apreciadas.

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Ao final, é inegável que este álbum representa um dos expoentes máximos do RPI,
justamente colocando-se ao lado de lendas como PFM, Le Orme e AREA por sua
entrega única e audaciosa de uma mistura eclética e inovadora de conceitos.

Apesar do BANCO ter lançado outros álbuns notáveis, nenhum oferece o impacto
inicial tão marcante quanto a primeira experiência com “Darwin!”.

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Ouça a banda
Descubra as faixas mais tocadas da banda no Spotify. Basta direcionar a câmera do
seu celular para o QR Code a seguir e mergulhe no universo musical da B.M.S.

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Bigletto Per L’inferno

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História da banda
Fundada em Lecco, Itália, em 1972, a banda teve uma jornada marcante, caracterizada
por sua inovação e sofisticação musical. A banda emergiu no cenário do rock
progressivo italiano com um estilo distintivo, combinando elementos sinfônicos e de
hard rock, deixando sua marca indelével na história da música.

Após se destacar no Festival Be-In de Nápoles em junho de 1973, a banda gravou um


único álbum homônimo, lançado pela Trident. Este álbum, conhecido por suas
passagens musicais ricas e o uso inovador de sintetizadores, consolidou a reputação
do grupo. A performance ao vivo do grupo, especialmente a presença marcante do
vocalista Claudio Canali, que se movia pelo palco com uma abordagem cênica
impressionante, contribuiu significativamente para a popularidade da banda.

Infelizmente, a banda se dissolveu em 1975, no entanto, o legado da banda


permaneceu forte, e em 1992, um segundo álbum, "Il Tempo Della Semina", foi
lançado, apresentando material gravado em 1974. Este álbum é considerado uma joia
do gênero, mesclando elementos de progressivo sinfônico com hard rock, influenciado
por bandas como Gentle Giant, Jethro Tull e Banco del Mutuo Soccorso. "Il Tempo
Della Semina" oferece uma experiência musical que atrai os fãs de PFM, Focus e
Barclay James Harvest, adotando um caminho mais comercial e se afastando do
elemento hard rock.

O álbum "Il Tempo Della Semina" é um mosaico sonoro cativante, apresentando uma
série de mudanças cênicas, solos cativantes, e uma demonstração da excelente
preparação musical do grupo. A banda surpreende os ouvintes com suas incursões
energéticas e solos inesperados, mergulhando-os em um mundo de sons hipnotizantes
e contemplativos, misturando a voz forte e expressiva de Canali com a rica mosaico
instrumental. A faixa-título de dez minutos, "Il Tempo Della Semina", é particularmente
notável por sua longa introdução instrumental e um vocal impactante, quase obsessivo,
que se torna ainda mais inquietante graças às repetições das linhas de teclado de
Giuseppe “Baffo” Banfi e Giuseppe Cossa.

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Em 2015, um novo projeto da banda introduziu uma releitura do repertório histórico do
grupo, incorporando elementos de folk e utilizando instrumentos tradicionais ao lado
das sonoridades do rock. A formação atual da banda inclui músicos como Enrico
Fagnoni, Renata Tomasella, Ranieri Fumagalli, Mariolina Sala, Carlo Redi e Franco
Giaffreda, ao lado dos membros originais que continuam a contribuir para o rico
mosaico musical do grupo.

A jornada da banda foi marcada por um grande impacto cultural e musical, compondo
uma discografia que reflete a profundidade e a complexidade de sua expressão
artística. A banda se tornou sinônimo de inovação e qualidade no cenário do rock
progressivo italiano, e sua música continua a ser celebrada e adorada por fãs de RPI
em todo o mundo.

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Discografia
Biglietto Per L'inferno, uma banda notável na cena do rock progressivo italiano,
deixou um legado musical distinto, embora com uma discografia relativamente
compacta. Eles são conhecidos por sua habilidade em mesclar elementos sinfônicos
com o hard rock, criando um som distintivo que ressoou com os fãs do gênero. Aqui
está um breve detalhamento da discografia da banda:

● "Biglietto per l'Inferno" (1974): O álbum de estreia da banda, lançado pela Trident
Records, é uma obra crucial que captura a essência do rock progressivo italiano
dos anos 70. É altamente apreciado por sua composição inovadora e a
habilidade técnica dos músicos.
● "Il Tempo Della Semina" (1992): Este álbum foi lançado postumamente,
contendo gravações de 1974. Apesar de ser o segundo álbum da banda, ele
mantém a energia e a criatividade do primeiro, oferecendo aos ouvintes uma
viagem mais profunda ao estilo único da banda
● "Tra l'Assurdo e la Ragione" (2009): Lançado muitos anos após os dois
primeiros, este álbum mostra uma maturidade na sonoridade da banda,
mantendo ainda o espírito original que cativou os fãs inicialmente.
● "Vivi, Lotta, Pensa" (2015): O mais recente álbum da banda continua a explorar
o rock progressivo com uma abordagem mais moderna, integrando influências
contemporâneas enquanto permanece fiel às raízes progressivas da banda.

A banda também tem em seu repertório um álbum ao vivo e uma coletânea,


oferecendo uma experiência abrangente do seu talento e evolução musical ao longo
dos anos. Embora a discografia da Biglietto Per L'inferno não seja extensa, sua
influência e contribuição para o rock progressivo italiano são indiscutivelmente
significativas.

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Álbum de destaque

O primeiro álbum de Un Biglietto Per L'Inferno emerge como uma vibrante fusão de
poesia e dinamismos sonoros autênticos. Nele, ecoam influências de Deep Purple,
Jethro Tull e PFM, porém, sem parecer uma cópia, visto que os artistas conseguiram
forjar uma identidade própria ao tentar replicar a intensidade de suas performances ao
vivo.

O talento de Claudio Canali, atuando como vocalista e flautista, é marcante, com as


faixas trazendo severas críticas à duplicidade da sociedade. Uma variedade de ritmos e
atmosferas permeia o disco, entrelaçando todas as faixas numa espécie de narrativa
extensa que nos conduz por uma viagem metafórica rumo a uma "escadaria para o
inferno".

A música que abre o álbum, "Ansia", inicia-se com suaves melodias de órgão e
guitarra, evoluindo para um ritmo mais complexo e carregado de tensão; a voz de
Claudio Canali se faz presente ao final da canção, estabelecendo o "motivo" do álbum.

As letras pintam um quadro de desconforto e temor, nascidos de uma "existência


sombria e vergonhosa, consumida em atos de assassinato e roubo", e a procura
frenética por um libertador, alguém capaz de mitigar o sofrimento e acender uma luz de

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esperança. Não importa se são charlatões, comerciantes, profetas ou sacerdotes.
Serve como uma introdução envolvente para o que está por vir.

"Confessione" apresenta um diálogo intenso entre um assassino e um frade, embalado


por uma música vibrante e furiosa, salpicada com elementos reminiscentes de Deep
Purple, entrelaçados com a agilidade da tarantela e interlúdios de flauta que lembram
muito Jethro Tull. A interpretação de Claudio Canali é absolutamente incrível, sua voz
carrega a busca por compreensão frente à onda de violência que marcava a Itália no
começo dos anos setenta.

"Ouça-me, frade, Não sei se pequei, Assassinei um canalha que tentava lavar seu
passado sórdido com dinheiro, Assim, procurando burlar seu destino. Ouça-me, frade,
E me diga se é pecado ou uma ação honrosa, Subtrai dinheiro de um homem
abastado, Só para alimentar um moribundo".

Entretanto, o disco pouco espaço oferece à esperança, e a resposta do frade serve de


sombria introdução ao trágico desenlace de outra faixa: "Não consigo te livrar do fogo
eterno, Seu destino é apenas um bilhete para o Inferno!". Simplesmente arrebatadora a
história até aqui.

Uma introdução magistral de órgão dá o tom para "Una strana regina", uma
composição que tece elementos de música sacra, toques à la Jethro Tull, hard rock e
tradições musicais italianas. A voz de Claudio Canali, carregada de pessimismo, narra
a continuação do diálogo entre o assassino e o frade.

"Reina sobre a Terra uma rainha bizarra, Seus castelos são as ruas por onde passeia,
Trocando de vestes ao cair da noite, Seu reinado é o da hipocrisia. Aguardemos que o
olhar de nosso Deus, do alto, possa alcançar-nos e perdoar nossa falta de fé".

Segue-se "Il nevare", destacando-se por sua qualidade excepcional, com momentos
que remetem ao blues e uma guitarra elétrica que se destaca. Claudio Canali descreve
esta canção como uma "prece secular", cujas letras convidam à reflexão e
introspecção, sugerindo que, apesar da prevalência da hipocrisia e maldade, é possível

67
extrair felicidade da mera observação da natureza e da queda de neve. Este momento
é um dos mais sublimes do álbum.

"Naquele dia, pesados flocos de neve caíram, umedecendo meus olhos, Perdidos na
claridade, Perdidos na tentativa de conhecer, de perceber, Quanto prazer simples pode
vir de uma nevada. De longe, o som de um campanário evocava uma prece, Enquanto,
sobre os telhados, sombras antigas festejavam a noite".

"L'amico suicida" se destaca por sua duração e complexidade, carregando um peso


dramático profundo. A composição reflete experiências pessoais, sendo influenciada
pelo suicídio de um amigo próximo de Canali durante o tempo em que serviam juntos
nas forças armadas. "Uma aura de morte circunda seu corpo": assim, a voz de Canali,
carregada de tristeza e emoção, acompanha a música que se desdobra, forte e
melancólica, ao longo de quatorze minutos repletos de intensidade.

"Um som estrondoso ecoou, como se estivesse despencando por uma escadaria vasta
e sem fim. E, no abismo, encontrou a escuridão. Ele sabia disso. Tinha mergulhado na
escuridão. E, no momento da realização, perdeu todo o conhecimento."

Esta passagem, extraída do romance "Martin Eden", de Jack London6, é citada aqui por
sua capacidade de resumir de forma poética o clímax desta obra "épica", alinhando-se
perfeitamente ao seu desfecho.

Antes de encerrar o álbum, somos agraciados com uma elegante reprise instrumental
de "Confessione", um momento breve, porém cativante. Embora esta banda ou o
álbum possam não ser os mais renomados dentro do panorama do RPI, se trata de
uma obra indispensável e absolutamente fundamental para qualquer coleção de prog
italiano, destacando-se como um item essencial e imperdível.

6
É a história de um jovem idealista, que abandona sua vida de marinheiro e vagabundo para conquistar
o amor e a fama. Acaba alcançando seus objetivos, mas sofre uma decepção amarga. Jack London foi
um homem que transportou a vida para sua arte. Quase tudo em Martin Eden é reflexo de sua biografia.

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69
Ouça a banda
Descubra as faixas mais tocadas da banda no Spotify. Basta direcionar a câmera do
seu celular para o QR Code a seguir e mergulhe no universo musical da Biglietto Per
L'inferno.

70
Le Orme

71
História da banda
O Le Orme, um excelente trio italiano de rock progressivo dos anos 70, ainda ativo até
os dias atuais, é conhecido por sua abordagem única, que incorpora elementos
clássicos e coloca os teclados em destaque. Juntamente com PFM e BMS, eles foram
um dos três principais grupos italianos da época.

Frequentemente comparados ao Emerson, Lake & Palmer italiano, bem como ao


Banco del Mutuo Soccorso em termos de influência no cenário musical italiano, o Le
Orme baseou sua música em desenvolvimentos de órgão e solos, seguindo a tradição
de bandas dos anos 70 que construíram suas composições em torno das partes de
teclado.

O período clássico da banda começou com seus lançamentos subsequentes. "Uomo Di


Pezza" (1972) é considerado um dos álbuns mais emblemáticos do rock progressivo
italiano do Le Orme. Embora haja uma clara influência do Emerson, Lake & Palmer,
com destaque para os trabalhos explosivos de Moog e Hammond intercalados com
baladas suaves, não é tão integrado como os álbuns seguintes, "Felona E Sonora" e
"Contrappunti". Mesmo assim, é um álbum fantástico e um dos três essenciais da
discografia do Le Orme. "Collage" e, especialmente, "Florian", oferecem uma música
com influências da música clássica.

"Felona E Sonora" (1973) é, sem dúvida, um dos meus álbuns favoritos do rock
progressivo italiano. "Contrappunti" (1974) é outro trabalho fantástico do Le Orme e
efetivamente encerrou a trilogia clássica da banda, marcando o fim de sua sequência
de sucessos.

"In Concerto" é um excelente álbum ao vivo de 1974 com muitas faixas inéditas,
enquanto "Piccola Rapsodia Dell' Ape" é uma obra mais recente que combina
habilmente elementos do rock progressivo com a música barroca italiana. "Collage" e,
especialmente, "Florian", continuam a explorar a fusão da música progressiva com
elementos clássicos. Em 1993, o selo japonês de rock progressivo Crime Records
lançou "Live Orme", um álbum duplo com material ao vivo de 1975 a 1977, considerado
um documento ainda mais cativante do que "In Concerto" de 1974.

A história da banda continuou com altos e baixos. Após "Piccola Rapsodia Dell' Ape"
(1980), o Le Orme se separou em 1982, mas se reuniu em 1986 apenas para shows
ao vivo. Em 1990, lançaram um novo álbum intitulado "Orme". Em 1992, Tony Pagliuca
deixou a banda, sendo substituído por Michele Bon. Nesse mesmo ano, receberam o
título de melhor banda ao vivo da Itália.

72
A banda nunca abandonou sua paixão pelo rock progressivo sinfônico, como fica
evidente em seus trabalhos posteriores. Em 1996, lançaram "Il fiume", uma suíte
musical. Após obterem sucesso em festivais de rock progressivo, como o Los Angeles
PROG FEST e o PROG EAST em Quebec, lançaram "Elementi" em 2001, que, junto
com "Il fiume", faz parte de uma trilogia concluída em 2004 com "L'infinito". Essa trilogia
conta a história da humanidade por meio dos quatro elementos do universo.

Em 2005, foram convidados para o concerto NEARFEST na Pensilvânia. O Le Orme é


uma das poucas bandas estrangeiras a terem sido produzidas por um selo britânico. A
renomada gravadora Charisma lançou uma versão em inglês de "Felona e Sorona",
com letras de Peter Hammill, após a turnê da banda na Inglaterra em 1973. O Le Orme
continua sua jornada no mundo do rock progressivo, mantendo sua paixão e dedicação
por mais de 40 anos, buscando sempre levar o gênero ao público, inclusive
participando de festivais e concursos de música na Itália.

73
Discografia
Le Orme é conhecida por sua habilidade em fundir música clássica, rock e elementos
folclóricos. A banda teve suas origens nos anos 60, mas foi na década de 70 que
encontraram seu estilo e alcançaram fama internacional. Vamos explorar a discografia
de Le Orme, destacando seus maiores sucessos.

● “Ad Gloriam” (1969): O álbum de estreia mostrou a banda experimentando


diferentes estilos, incluindo psicodelia e pop barroco. Embora não tão refinado
quanto os trabalhos posteriores, "Ad Gloriam" serviu como um ponto de partida
significativo para a banda.
● “Collage” (1971): Este álbum marcou a transição do Le Orme para o rock
progressivo. É uma obra coesa e bem-recebida, onde a banda começou a definir
seu som único.
● “Uomo di Pezza” (1972): "Uomo di Pezza" apresenta o hit "Gioco di Bimba", uma
das músicas mais famosas da banda. O álbum foi bem recebido e consolidou o
Le Orme como uma força no rock progressivo italiano.
● “Felona e Sorona” (1973): Considerado por muitos como a obra-prima do Le
Orme, este álbum conceitual recebeu aclamação internacional. A narrativa
complexa e a composição musical intrincada criam uma experiência auditiva
imersiva. Uma versão em inglês foi coescrita por Peter Hammill.
● “Contrappunti” (1974): Continuando o sucesso de seus trabalhos anteriores,
"Contrappunti" mostra a banda explorando ainda mais as possibilidades do rock
progressivo. A técnica e a precisão musical são notáveis.
● “Smogmagica” (1975): Um álbum que mostra a banda experimentando com
diferentes estilos e instrumentação, incluindo o uso de sintetizadores.
● “Verità Nascoste” (1976): Este trabalho continua a tendência experimental de
"Smogmagica", embora traga de volta alguns dos elementos progressivos
clássicos pelo qual a banda é conhecida.
● “Storia o Leggenda” (1977), “Florian” (1979), “Piccola Rapsodia dell'Ape” (1980):
Nestes álbuns, Le Orme explorou novas direções musicais, incorporando
elementos de música clássica e jazz, mantendo sua identidade progressiva.

● Nos anos 80 e 90, a banda lançou álbuns como “Venerdì” (1982), “Il Fiume”
(1996), destacando-se pela habilidade de se adaptar e continuar relevante em
um cenário musical em constante mudança.
● “Elementi” (2001): marcou um retorno à forma do rock progressivo clássico,
recebido calorosamente pelos fãs e críticos.

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Le Orme não apenas sobreviveu às mudanças da indústria musical, mas também
prosperou, mantendo uma base de fãs dedicada e um legado duradouro. Seus álbuns
mais aclamados, particularmente "Felona e Sorona", são frequentemente citados entre
os melhores do gênero progressivo, destacando-se não só na cena italiana, mas no
panorama global do rock progressivo.

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Álbum de destaque

O álbum “Felona e Sorona” é a quintessência do RPI, não seguindo estritamente o


formato clássico de quatro partes de uma sinfonia, mas evocando a sensação de uma.
A influência do Le Orme aqui se distancia de EL&P, aproximando-se mais do estilo
inicial do Genesis - lembrando, em certos aspectos, o álbum "Foxtrot", principalmente
no tom e humor da música.

Le Orme, neste álbum, apresenta-se em sua forma mais arrepiante e cativante.


"Felona e Sorona" é um álbum conceitual que explora a dualidade de dois planetas
gêmeos - a luminosa e alegre Felona e a sombria e desesperançosa Sorona -
posicionados nos extremos do Cosmos para manter o equilíbrio do Universo conforme
concebido pelo Deus Supremo.

O conceito metafísico se entrelaça perfeitamente com o ar etéreo dos sons de


sintetizador, como em 'Attesa Inerte', e com a energia mística em trechos explosivos do
álbum, exemplificado em 'Ritorno al Nulla'.

Como um trio com foco em teclados, as influências do ELP são evidentes, porém, o Le
Orme incorpora uma sensibilidade distinta em suas composições mais suaves e
bucólicas, e um espírito barroco em suas peças mais pomposas. Isso cria uma

76
identidade única, mantendo-se alinhado ao movimento progressivo sinfônico da cena
britânica, com toques de Genesis como uma influência inglesa notável.

A habilidade musical excepcional e a interação fluida do trio criam uma forte conexão
com o ouvinte, combinando inovação musical e arranjos inteligentes com uma riqueza
emocional tanto no canto de Tagliapietra quanto nas performances instrumentais.

A faixa de abertura, 'Sospesi nell'Incredibile', é particularmente impressionante,


mesclando energia roqueira, reflexão e um final exuberante onde o prog de power trio e
o jazz rock se fundem. A simplicidade folk de 'Felona' e a melancolia de 'Sorona' pintam
retratos vívidos dos mundos descritos. 'L'Equilibrio' e o encerramento bombástico
'Ritorno al Nulla' talvez sejam as faixas mais próximas do ELP que o Le Orme já
produziu.

O álbum começa com "Sospesi Nell'Incredibile", destacando-se como um dos melhores


trabalhos do Le Orme. Com longas passagens instrumentais e efeitos eletrônicos no
Moog de Pagliuca, complementados pela bateria de Michi dei Rossi, a música
transporta o ouvinte. "Felona" é uma peça acústica vibrante que retrata a alegria do
planeta homônimo. "La Solitudine di chi Protegge il Mondo" é uma peça focada no
piano, apresentando a voz marcante de Tagliapietra.

Já 'Ritratto di un Mattino' e 'All'Infuori del Tempo' são construídos dentro de um quadro


sinfônico tipicamente italiano, revelando uma beleza indescritível. "Felona e Sorona"
deve ser apreciado como um conjunto coeso, onde cada faixa contribui para a
integridade e unidade do álbum.

Esta coesão confere a "Felona e Sorona" um status de clássico definitivo no prog


italiano, um álbum que exemplifica de forma brilhante o gênero.

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Ouça a banda
Descubra as faixas mais tocadas da banda no Spotify. Basta direcionar a câmera do
seu celular para o QR Code a seguir e mergulhe no universo musical da Le Orme.

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Premiata Forneria Marconi

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História da banda
Premiata Forneria Marconi é uma das bandas mais renomadas e influentes do rock
progressivo italiano, conhecida por sua capacidade de combinar elementos do rock
progressivo clássico com influências da música italiana tradicional, jazz e música
clássica. Fundada em 1970, em Milão, Itália, a PFM rapidamente se destacou por sua
técnica instrumental excepcional, composições complexas e performances ao vivo
energéticas.

A formação original da banda incluía Franco Mussida (guitarra, vocais), Flavio Premoli
(teclados, vocais), Franz Di Cioccio (bateria, vocais), Giorgio Piazza (baixo até 1974,
depois substituído por Patrick Djivas), e Mauro Pagani (flauta, violino, vocais até 1976).
Esta formação inicial foi responsável por alguns dos álbuns mais icônicos da banda.

PFM lançou seu primeiro álbum, "Storia di un Minuto", em 1972, que é frequentemente
citado como um dos primeiros álbuns completos de rock progressivo italiano. O
sucesso deste álbum foi seguido por "Per un Amico" (1972) e "L'Isola di Niente" (1974),
ambos altamente aclamados e considerados clássicos do gênero.

O reconhecimento internacional veio quando a banda assinou com a Manticore


Records, propriedade de Greg Lake do Emerson, Lake & Palmer. Isso levou ao
lançamento de "Photos of Ghosts" (1973), uma versão em inglês de "Per un Amico",
com letras de Peter Sinfield. Este álbum introduziu a PFM ao público fora da Itália,
seguido por mais álbuns em inglês, incluindo "The World Became the World" (1974) e
"Chocolate Kings" (1975), com Bernardo Lanzetti nos vocais, adicionando um elemento
de rock mais duro ao som da banda.

Ao longo dos anos, PFM continuou a explorar e expandir seu som, incorporando
elementos eletrônicos e sintetizadores em álbuns subsequentes, como "Passpartù"
(1978) e "Suonare Suonare" (1980). A capacidade da banda de se adaptar e evoluir
musicalmente ajudou a manter sua relevância na cena do rock progressivo.

PFM é conhecida por sua excelência instrumental, com cada membro contribuindo para
o som rico e complexo da banda. A habilidade de Flavio Premoli nos teclados, o

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trabalho de guitarra de Franco Mussida, a inovadora seção rítmica de Franz Di Cioccio
e Patrick Djivas, e os contributos multi-instrumentais de Mauro Pagani nos primeiros
álbuns, todos desempenharam um papel crucial no desenvolvimento do som distintivo
da banda.

A influência da PFM no rock progressivo e além é inegável, eles foram pioneiros no


cenário do RPI e continuam a ser uma das suas exportações mais bem-sucedidas. Ao
longo das décadas, a banda realizou turnês internacionais, gravou novos álbuns e
manteve uma base de fãs dedicada.

A banda também colaborou com músicos e compositores clássicos, demonstrando seu


alcance musical e versatilidade. A PFM foi reconhecida por sua contribuição à música,
tanto na Itália quanto internacionalmente, e continua a ser uma força ativa na música,
com membros originais e novos, contribuindo para o legado duradouro da banda.

Em resumo, Premiata Forneria Marconi não apenas ajudou a definir o rock


progressivo italiano, mas também contribuiu significativamente para o gênero
globalmente, com sua abordagem única à música, habilidade técnica e inovação
constante.

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Discografia
A discografia da banda PFM é rica e variada, com vários álbuns que marcaram época
no rock progressivo. Aqui está uma lista dos seus álbuns de estúdio, destacando
alguns dos mais famosos:

● “Storia di un Minuto” (1972): Este foi o primeiro álbum da banda e um grande


sucesso nas paradas italianas.
● “Per un Amico” (1972): Também um grande sucesso, ajudou a estabelecer a
banda no cenário do rock progressivo europeu.
● “Photos of Ghosts” (1973): O primeiro álbum da banda lançado
internacionalmente, com versões em inglês de músicas de "Per un Amico".
● “L'Isola di Niente” (1974): Continua a tradição progressiva da banda, com faixas
notáveis como "Dolcissima Maria".
● “The World Became the World” (1974): Versão em inglês de "L'Isola di Niente",
incluindo a regravação de "Impressioni di settembre".
● “Chocolate Kings” (1975): Com um estilo mais voltado para o rock, este álbum
foi um sucesso moderado na Itália.
● “Jet Lag” (1977): Mostra uma inclinação para o jazz fusion, um desvio do rock
progressivo clássico.
● “Passpartù” (1978): Representa uma transição para músicas mais curtas e um
estilo mais pop.
● “Suonare Suonare” (1980): Marca o início da fase pop da banda.

Nos anos mais recentes, a banda lançou álbuns como "Emotional Tattoos" (2017) e "I
Dreamed of Electric Sheep – Ho sognato pecore elettriche" (2021), que se afastam do
rock progressivo clássico em favor de um estilo mais comercial e pop.

Além dos álbuns de estúdio, a PFM também lançou diversos álbuns ao vivo e
compilações, que incluem gravações de seus clássicos.

82
Álbum de destaque

Storia Di Un Minuto, é indiscutivelmente uma das obras mais notáveis no cenário


musical, principalmente o italiano junto com os debuts de Quella vecchia locanda e
Picchio da Pozzo, e ao contrário de muitos outros primeiros trabalhos, recebeu amplo
reconhecimento do público. Apesar de ser uma estreia, os cinco músicos envolvidos
eram tudo, menos novatos, possuindo uma experiência considerável, o que os
diferenciava da concorrência média. Gravado entre o final de 1971 e o início de 1972,
Storia Di Un Minuto foi lançado nos primeiros meses de 72.

É clara a influência no processo de criação desse álbum das bandas de prog britânicos
como King Crimson, Emerson Lake & Palmer, Gentle Giant e até mesmo o
Genesis, que havia feito sua primeira turnê no país fazia pouco tempo. A capa do
álbum, com um design contrastante e impressionante, sugere uma narrativa entre a
escuridão, representada na parte posterior, simbolizando a noite e a luminosidade,
destacada na frente, simbolizando o dia. Essa narrativa, apesar de sugerir um breve
período, é uma metáfora para a longa história humana que se desenrola desde a
pré-história, representada na parte interna do álbum, mas que, no contexto galáctico, é
apenas um minuto.

83
Após a breve e autoexplicativa Introduzione, que condensa habilmente a essência do
PFM, a faixa mais conhecida do grupo, Festa, entra triunfalmente. Inspirada na estreia
do KC (a bateria evoca a de Giles) e em Lucky Man do ELP, a música incorpora um
toque distintamente pomposo italiano. Iniciando com um cativante riff de guitarra. Festa
poderia facilmente ser confundida com uma música de heavy prog britânico dos anos
70, como do Atomic Rooster, caso tivesse um órgão em vez de um moog respondendo
aos riffs, mas a intervenção de um pífano e vocais peculiares, semelhantes ao estilo do
Focus, quebram a atmosfera, dando início a uma sequência de loucura controlada, com
o mellotron ocupando o centro do palco.

Uma das poucas críticas que se pode fazer a este álbum é a escolha de dividir a peça
central em dois lados do vinil, mas essa questão é menos problemática na versão em
CD. O primeiro movimento de Dove Quando segue a típica abordagem do PFM,
apresentando vocais suaves sobre uma base musical predominantemente acústica,
que em certos momentos se aproxima da música clássica. A segunda parte é uma
expansão instrumental dos temas musicais desenvolvidos no primeiro movimento,
ousando incorporar elementos de jazz nos arranjos. Mais adiante, a música atinge um
clímax durante os diálogos de chamada e resposta. Tanto Han’s Car quanto Thanks
são faixas excelentes que se encaixam perfeitamente no estilo desenvolvido ao longo
do lado A do álbum.

Há especulações de que esses músicos experientes optaram por tocar este álbum ao
vivo no estúdio, o que parece plausível, dada a sensação emocionante que transmite,
algo que não é tão evidente nos álbuns subsequentes do PFM. Se essa abordagem
realmente foi adotada (uma performance ao vivo em estúdio), é intrigante por que não
seguiram o mesmo caminho nos álbuns subsequentes, como o irregular Per Un Amico
e o sonolento L’Isola Di Niente.

Storia Di Un Minuto fez um grande sucesso em seu lançamento, atingindo o topo da


principal parada italiana por uma semana.

84
Ouça a banda
Descubra as faixas mais tocadas da banda no Spotify. Basta direcionar a câmera do
seu celular para o QR Code a seguir e mergulhe no universo musical da PFM.

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Il Balletto di Bronzo

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História da banda
Il Balletto di Bronzo é uma jóia da cena do rock progressivo italiano, surgindo de
Nápoles no final dos anos 60 como Battitori Selvaggi e tocava nas bases italianas da
OTAN. A banda se reinventou e ganhou reconhecimento sob o nome Il Balletto di
Bronzo, uma formação que se solidificou e brilhou com lançamentos significativos. Os
primeiros singles em 1969 e 1970 delinearam sua trajetória ascendente, enquanto sua
aventura linguística gravando canções em espanhol mostrou sua versatilidade e apelo
internacional.

O álbum "Sirio 2222" é um marco na história da banda e no rock progressivo italiano,


representando um elo entre o pop psicodélico dos anos 60 e o rock progressivo. Este
trabalho é hoje uma raridade cobiçada, admirada tanto por sua sonoridade quanto por
sua escassez. A faixa "Missione Sirio 2222" é uma das jóias deste álbum,
exemplificando a complexidade e a inovação que a banda estava explorando.

A incorporação de Gianni Leone ao grupo foi um divisor de águas, trazendo uma nova
dimensão sinfônica e dominada por teclados. Com ele, "Ys" emergiu em 1972, não
apenas como um álbum, mas como uma obra-prima que elevou o grupo ao estrelato no
cenário do rock progressivo. A complexidade e a riqueza sinfônica de "Ys" capturaram
a essência do que o rock progressivo poderia ser, tornando-o um clássico venerado.

Apesar dos desafios e da dissolução em 1973, a chama da IBB nunca se extinguiu


completamente. Gianni Leone, sob o nome de Leo Nero, tentou carregar a tocha com
uma carreira solo, enquanto a banda passava por várias reencarnações. A resiliência e
o impacto duradouro da banda foram evidenciados quando Leone reformou IBB no
final dos anos 90 e novamente em 2008.

A evolução contínua da banda é notável, com projetos como "Cuma 2016 D.C." e "The
official bootleg" mostrando sua capacidade de se reinventar e permanecer relevante. O
lançamento de "Lemures" em 2023 é mais um capítulo dessa saga de inovação e
criatividade.

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A trajetória da IBB é uma narrativa de transformação, resiliência e reinvenção. Desde
suas humildes origens até se tornar um pilar do rock progressivo italiano, a banda não
apenas criou uma música atemporal, mas também inspirou gerações de músicos e fãs.
IBB mantém seu lugar de direito como uma das bandas mais influentes e
reverenciadas do gênero, um verdadeiro testamento ao poder e à persistência da
música progressiva.

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Discografia
A discografia da IBB é um reflexo de sua jornada inovadora e transformadora na cena
do rock progressivo italiano. Embora não extensa, cada lançamento carrega uma
profundidade e um significado que transcendem o convencional.

● “Sirio 2222” (1970): O álbum de estreia da banda é uma mistura intrigante de


pop psicodélico dos anos 60 e rock progressivo emergente. Com faixas como a
marcante "Missione Sirio 2222", o álbum estabeleceu a banda como uma força
criativa, explorando novos territórios musicais com audácia e finesse.
● “Ys” (1972): Este é, indiscutivelmente, o pináculo da carreira da IBB e uma
obra-prima do rock progressivo italiano. Com uma complexidade sinfônica e uma
mistura rica de influências, "Ys" é um testamento à habilidade e à visão artística
da banda. A integração de elementos clássicos e jazzísticos com rock
progressivo criou uma tapeçaria sonora que continua a ressoar com fãs e
críticos.

Após um hiato e várias mudanças na formação, a banda se reuniu e continuou a


produzir música que respeitava seu legado ao mesmo tempo em que olhava para o
futuro:

● “Trys” (1999): Este álbum ao vivo captura a energia e a essência da IBB em um


novo milênio. Com uma mistura de faixas antigas e novas, "Trys" serve como
uma ponte entre o passado da banda e seu futuro, mostrando sua habilidade de
evoluir e se adaptar.
● “Cuma 2016 D.C.” (2016): Este álbum representa outra evolução na sonoridade
da banda, incorporando elementos de rock mais pesado e moderno. Embora
marque uma nova direção, o álbum mantém a complexidade e a profundidade
que são a assinatura da IBB.
● “The official bootleg” (2020): Gravado ao vivo em Roma, este álbum encapsula a
energia crua e a paixão que a banda traz para suas performances. É um
testemunho da longevidade e da relevância contínua da banda na cena musical.

89
● “Balletto di Bronzo plays Beatles” (2021): Neste lançamento, a banda presta
homenagem aos Beatles, reinterpretando suas canções com um toque único do
Balletto di Bronzo.
● “Lemures” (2023): O mais recente álbum de estúdio da banda continua a
explorar novos territórios musicais, provando que a jornada criativa da IBB está
longe de terminar.

A discografia da IBB, embora concisa, é uma cápsula do tempo da inovação musical,


marcando não apenas a história da banda, mas também a evolução do rock
progressivo como um todo. Cada álbum é uma peça do mosaico que compõe o rico
legado desta banda icônica.

90
Álbum de destaque

"Ys" do IBB é uma obra-prima indiscutível do rock progressivo italiano, lançada em


1972. Este álbum se destaca não apenas dentro da cena do rock progressivo da Itália,
mas também como uma joia do gênero em escala mundial, devido à sua rica textura
sonora, complexidade composicional e inovação.

"Ys" é um álbum conceitual, o que significa que há um tema ou narrativa unificando as


músicas. A lenda em torno de "Ys" fala sobre uma cidade mítica submersa, o que serve
como metáfora para temas mais profundos de decadência, perda e redenção. A
produção do álbum é notável por sua época, empregando técnicas avançadas de
gravação e camadas sonoras que contribuem para a atmosfera densa e envolvente das
faixas.

O álbum é notório por seu uso intenso e inovador de teclados, com Gianni Leone
oferecendo uma performance memorável no órgão Hammond, sintetizadores Moog e
pianos elétricos. A complexidade das composições é acentuada por mudanças de
tempo, passagens instrumentais elaboradas e uma fusão de estilos que vão do clássico
ao jazz, do rock ao folclórico, evidenciando a destreza técnica e a versatilidade dos
músicos.

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Embora "Ys" contenha várias faixas, ele é frequentemente experimentado como uma
única peça contínua devido à forma como as músicas se entrelaçam. Cada faixa
contribui para a progressão da narrativa, com letras que exploram a condição humana,
filosofia e crítica social, mergulhadas em uma linguagem poética e simbólica.

O impacto de "Ys" foi sentido muito além das fronteiras da Itália, com o álbum
ganhando reconhecimento internacional entre os aficionados por música progressiva.
Sua influência estende-se por décadas, inspirando músicos e bandas a explorar os
limites do rock progressivo. O álbum é frequentemente listado em rankings e pesquisas
sobre os melhores álbuns de rock progressivo de todos os tempos, destacando-se por
sua originalidade e profundidade artística.

Apesar de sua genialidade, "Ys" não foi um sucesso comercial imediato, em grande
parte devido ao seu som desafiador e à relativa obscuridade da banda naquele
momento. No entanto, com o passar dos anos, o álbum conquistou um status de cult,
com críticos e fãs redescobrindo e celebrando sua riqueza musical e complexidade
lírica.

O estilo de "Ys" é frequentemente comparado e contrastado com o de outras bandas


proeminentes do rock progressivo, como King Crimson e Emerson, Lake & Palmer,
devido ao seu uso inovador de teclados e estruturas musicais complexas. No entanto,
IBB consegue manter uma identidade única, integrando elementos da música italiana
que conferem ao álbum um sabor distinto e uma paixão que é profundamente emotiva.

Em resumo, "Ys" é um marco notável na história do RPI, uma obra que transcende o
tempo e as tendências musicais. Seu legado como um dos álbuns mais inovadores e
emocionantes do gênero é inquestionável, um testamento à criatividade e ao espírito
exploratório da IBB.

92
Ouça a banda
Descubra as faixas mais tocadas da banda no Spotify. Basta direcionar a câmera do
seu celular para o QR Code a seguir e mergulhe no universo musical da IBB.

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Quella Vecchia Locanda

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História da banda
Fundada em Roma em 1970 e dissolvida em 1974, Quella Vecchia Locanda se
destaca como uma emblemática banda de RPI, parte da vibrante cena musical de
Roma dos anos setenta. Com um estilo musical intrincado, a banda se notabilizou por
suas composições ricas em combinações instrumentais, melodias envolventes e uma
sofisticação notável, assemelhando-se em certos aspectos à King Crimson.

QVL deixou um legado inestimável com o lançamento de dois álbuns, ambos


considerados obras-primas indispensáveis daquele período dourado da música
progressiva italiana. O primeiro álbum, em particular, é celebrado até hoje como um
clássico, marcante pela fusão original de influências clássicas, destacando-se o uso
inovador de flauta e violino elétrico. O estilo da banda, especialmente evidente em seu
segundo álbum, "Il Tempo Della Goia", é frequentemente comparado com o de outras
bandas proeminentes do mesmo período, como PFM, Celeste, Alusa Fallax e
Locanda delle fate, com suas composições sinfônicas, pastorais e tipicamente
italianas.

Infelizmente, o grupo se dissolveu logo após o lançamento de seu segundo álbum, mas
não sem antes contribuir com dois verdadeiros tesouros para o progressivo italiano.
Estes álbuns, além de sua música excepcional, são também conhecidos por suas
capas artísticas e bem elaboradas, tornando-se dois dos registros mais procurados e
valorizados da Itália.

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Discografia
QVL, possui uma discografia que, embora concisa, é rica em conteúdo artístico e
musical. A banda lançou dois álbuns fundamentais, que se tornaram itens de
colecionador devido à sua raridade e qualidade musical excepcional.

● “Quella Vecchia Locanda” (1972): Este álbum homônimo de estreia colocou a


banda no mapa do rock progressivo com seu som distintivo e estruturas
musicais complexas. Combinando influências clássicas com instrumentos como
flauta e violino elétrico, o álbum se destaca por sua originalidade e profundidade
musical.
● “Il Tempo Della Gioia” (1974): O segundo álbum da banda é frequentemente
celebrado como um dos exemplos mais refinados do rock sinfônico italiano,
alinhando-se com grandes nomes como PFM e Celeste. A obra é caracterizada
por suas texturas sinfônicas e pastorais, exibindo uma composição musical rica
e uma execução impecável que captura a essência do rock progressivo da
época.

Ambos os álbuns da QVL são extremamente raros em suas edições originais, mas
foram relançados no final dos anos 80 pela RCA, com distribuição da Contempo,
preservando as capas originais. É importante notar que não há registros de cópias
falsificadas no mercado.

O primeiro álbum da QVL apresenta uma capa gatefold única, onde o disco é inserido
pelo topo, diferenciando-se das reedições que possuem uma capa gatefold
convencional com inserção lateral. A BMG relançou o álbum em CD em março de
2003, com uma capa no estilo mini-LP gatefold e uma faixa obi, como parte da coleção
"Dei di un perduto rock".

Uma segunda edição dessa série, que incluía o álbum "Il tempo della gioia", foi lançada
em outubro do mesmo ano. A BMG chegou a anunciar que o CD estaria disponível
também com uma capa de plástico padrão, mas essa versão parece nunca ter sido
comercializada.

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Álbum de destaque

“Quella Vecchia Locanda” é o álbum de estreia da banda é, sem dúvida, uma das joias
do rock progressivo italiano, caracterizada por uma mistura vinda tanto do rock quanto
do blues. Seu estilo não se encaixa estritamente no hard prog (esse é mais associado
ao Metamorfosi, Biglietto, Museo Rosenbach), mas certamente, os integrantes da
banda demonstram habilidade no rock, destacando-se os riffs de guitarra, uma bateria
furiosa e linhas de baixo intensas ao longo do percurso, exibindo uma marcante
influência à maneira da PFM, com uma profusão de elementos de violino e temas
clássicos.

As canções são refinadas e executadas com uma precisão calorosa, proporcionando


uma experiência auditiva envolvente, apresentando um magnífico trabalho de teclado,
característico dos anos 70, harmonizado com a doce melodia da flauta, o vibrante som
do violino e a habilidade excepcional na guitarra, definindo assim a identidade única do
QVL. Ao se entregar a esse álbum, é inevitável que seus pés se movam em resposta
às batidas contagiantes, enquanto suas mãos são conduzidas pela cativante
musicalidade, estimulando reflexos motores.

A QVL integra interlúdios clássicos de peso em sua composição musical, oferecendo


uma experiência repleta de transições temáticas envolventes e variações de ritmo.

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Adicionalmente, o álbum apresenta várias faixas de destaque, unindo o distintivo som
subterrâneo italiano da década de 70 a uma fusão robusta de serenidade e beleza.
Vale ressaltar que as expressivas vocalizações enriquecem ainda mais a experiência
auditiva, proporcionando camadas texturizadas de harmonia.

O álbum tem um toque especial ao combinar elementos barrocos e romantismo,


especialmente nas faixas “Realta” e “Sogno, Risveglio E…”, que encerram o disco de
maneira encantadora. Esses detalhes ajudam a equilibrar o som, criando uma
atmosfera de rock progressivo sinfônico que segue padrões conhecidos.

Quando se fala em influências, é justo mencionar o PFM, embora o QVL não deva ser
visto como uma cópia. As vozes são importantes no repertório, mesmo com letras não
tão abundantes. Os dois vocalistas, Giorgio Giorgi também flautista e Raimondo Cocco
o guitarrista, se alternam bem, e o coral dá um toque entusiasmado. Donald Lax, no
violino, se destaca, não apenas nas introduções clássicas, mas também
complementando a guitarra em partes mais intensas, especialmente nas faixas
“Immagini Sfuocate” e “Verso La Locanda”.

QVL é uma verdadeira joia do rock progressivo italiano, embora com uma produção
mais refinada pudesse ter destacado ainda mais suas qualidades. Apesar de que
alguns arranjos poderiam ter mais consistência, no geral, é uma peça impressionante
de música progressiva.

Este álbum não apenas consolida a posição do Quella Vecchia Locanda como um
expoente do rock progressivo italiano, mas também serve como uma cápsula do
tempo, capturando a essência musical única da época.

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Ouça a banda
Descubra as faixas mais tocadas da banda no Spotify. Basta direcionar a câmera do
seu celular para o QR Code a seguir e mergulhe no universo musical da Quella
Vecchia Locanda.

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Semiramis

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História da banda
Apesar de sua breve existência, a banda Semiramis tem uma história interessante e
um lugar especial na música progressiva italiana e se assim como eu, você não
conhecia a história dessa banda italiana, nas linhas a seguir tentarei passar o máximo
de informação sobre esse tesouro cult da rica cena progressiva italiana.

Em 1970, em Roma, quatro amigos de infância do bairro de Centocelle, Maurizio


Zarrillo, os primos Memmo Pulvano e Marcello Reddavide, e o cantor Maurizio “Macos”
Macioce, uniram-se para formar a Semiramis, cujo nome foi inspirado na famosa
rainha babilônica, rapidamente se tornou uma parte significativa da história da música
progressiva italiana, apesar de sua breve existência.

Em 1972, o grupo passou por uma transformação quando Macos deixou a banda e foi
substituído por Michele Zarrillo, irmão mais novo de Maurizio e um talentoso guitarrista.
Sob a liderança de Michele, a banda começou a se apresentar ao vivo, oferecendo
tanto composições originais quanto covers de artistas como Rolling Stones,
Creedence, Sabbath, Led Zeppelin, incorporando influências do progressivo italiano.

Apesar da inexperiência dos membros, Semiramis rapidamente se estabeleceu como


uma das principais bandas alternativas da época. Sua performance no Festival Pop de
Villa Pamphili em maio chamou a atenção da Trident Records de Milão, que lhes
ofereceu um contrato discográfico. Infelizmente, antes de iniciar as gravações do
estúdio, Pulvano deixou o grupo por razões de trabalho, e foi substituído por Paolo
Faenza na bateria e Giampiero Artegiani no teclado, trazendo um novo elemento
sonoro com seu Synth Eminent.

A banda possui apenas um álbum de estúdio, intitulado “Dedicato a Frazz”, que é um


trabalho conceitual, com o título sendo um acrônimo dos sobrenomes dos membros da
banda. A narrativa central gira em torno do personagem Frazz, cuja história termina em
tragédia. Reconhecido por sua originalidade e complexidade musical, recebeu elogios
pela fusão de instrumentos e estilos, e pela habilidade técnica e expressiva dos
membros, especialmente Michele Zarrillo.

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Apesar de algumas críticas à voz ainda imatura de Michele, influenciada por Nico di
Palo e Pino Ballarini, o impacto geral do som é consistente e impressionante. “Dedicato
a Frazz”, embora complexo e não facilmente digerível, foi aclamado como uma
pequena joia e um dos melhores álbuns do RPI. Infelizmente, a banda se desfez em
1974, antes de completar um segundo álbum. Michele Zarrillo, posteriormente, seguiu
uma bem-sucedida carreira solo, conhecido especialmente por sua participação no
Festival de Sanremo desde os anos 80.

Em 2017 a banda se reuniu para uma performance ao vivo em Gênova, 44 anos do


lançamento do álbum, apresentando o álbum inteiro com a adição de partes faladas
narradas por Giampiero Artegiani, que introduziu cada faixa, criando uma atmosfera
emocional. A banda mostrou uma grande energia e vigor com uma performance
realmente emocionante, terminando o show com uma nova música “Morire per
Guarire”, com a parte da narração por Giampiero Artegiani “La Fine non Esiste”.

No CD/streaming, há outra nova música chamada “Mille Universi” que retorna ao


mundo progressivo uma banda grandiosa e inspirada. Infelizmente, este é o último
concerto com Maurizio Zarrillo, que faleceu 2 meses após o show, um pouco antes da
banda se apresentar no Japão para promover o trabalho ao vivo da banda.

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Discografia
Embora tenha uma discografia com apenas uma obra, a banda deixou uma marca
indelével no cenário musical com o seu único álbum:

● "Dedicato a Frazz" (1973): Este álbum é uma joia do rock progressivo,


representando a criatividade e o espírito inovador dos anos 70. "Dedicato a
Frazz" é uma fusão magnífica de elementos sinfônicos, harmônicos e rítmicos,
entrelaçando instrumentação complexa com narração lírica e poética. O álbum é
celebrado por sua estrutura musical intrincada, uso de sintetizadores e teclados,
além de uma abordagem narrativa que conta uma história envolvente ao longo
das faixas. A obra não só capturou a essência do rock progressivo italiano da
época mas também serviu como um padrão para futuras bandas do gênero,
permanecendo até hoje como um clássico cultuado por aficionados do prog rock
mundialmente.

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Álbum de destaque

A banda possui apenas um álbum de estúdio, intitulado “Dedicato a Frazz”, que é um


trabalho conceitual, com o título sendo um acrônimo dos sobrenomes dos membros da
banda. A narrativa central gira em torno do personagem Frazz, cuja história termina em
tragédia. Reconhecido por sua originalidade e complexidade musical, recebeu elogios
pela fusão de instrumentos e estilos, e pela habilidade técnica e expressiva dos
membros, especialmente Michele Zarrillo.

Musicalmente, o álbum é uma mistura de hard prog, rock clássico e momentos


intimistas. Michele Zarrillo, tanto na guitarra quanto nos vocais, mostrou sua habilidade
em interpretar as complexidades emocionais e técnicas das músicas. Faixas como “La
Bottega del Rigattiere”, “Uno Zoo di Vetro” e “Per Una Strada Affollata” destacam-se por
sua riqueza sonora e estruturas bem elaboradas, mostrando a influência de bandas
como Genesis

Apesar de algumas críticas à voz ainda imatura de Michele, influenciada por Nico di
Palo e Pino Ballarini, o impacto geral do som é consistente e impressionante. “Dedicato
a Frazz”, embora complexo e não facilmente digerível, foi aclamado como uma
pequena joia e um dos melhores álbuns do progressivo italiano.

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Infelizmente, a banda se desfez em 1974, antes de completar um segundo álbum.
Michele Zarrillo, posteriormente, seguiu uma bem-sucedida carreira solo, conhecido
especialmente por sua participação no Festival de Sanremo desde os anos 80.

Em 2017 a banda se reuniu para uma performance ao vivo em Gênova, 44 anos do


lançamento do álbum, apresentando o álbum inteiro com a adição de partes faladas
narradas por Giampiero Artegiani, que introduziu cada faixa, criando uma atmosfera
emocional. A banda mostrou uma grande energia e vigor com uma performance
realmente emocionante, terminando o show com uma nova música “Morire per
Guarire”, com a parte da narração por Giampiero Artegiani “La Fine non Esiste”. No
CD/streaming, há outra nova música chamada “Mille Universi” que retorna ao mundo
progressivo uma banda grandiosa e inspirada.

Infelizmente, este é o último concerto com Maurizio Zarrillo, que faleceu 2 meses após
o show, um pouco antes da banda se apresentar no Japão para promover o trabalho ao
vivo da banda.

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Ouça a banda
Descubra as faixas mais tocadas da banda no Spotify. Basta direcionar a câmera do
seu celular para o QR Code a seguir e mergulhe no universo musical da Semiramis.

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Considerações finais
No universo RPI, cada banda representa uma história única, um mosaico de sons e
estilos que definiram uma era. Ao embarcar nesta jornada, vamos explorar não apenas
as origens e evoluções desses grupos icônicos, mas também nos aprofundar em suas
obras-primas, descobrindo como cada uma moldou e influenciou o gênero.

Ao virar a última página desta viagem através do tempo e da música, não podemos
deixar de refletir sobre o intrincado mosaico que compõe a história do rock progressivo
italiano. Este livro buscou não apenas narrar a saga de uma era dourada, mas também
explorar as nuances e singularidades que diferenciam este movimento tão marcante na
história da música.

A era de ouro do rock progressivo italiano, como vimos, foi um período de inovação
sem precedentes, onde bandas como Premiata Forneria Marconi, Banco del Mutuo
Soccorso, Le Orme, e AREA não apenas estabeleceram um novo paradigma para a
música italiana, mas também deixaram uma marca profunda na cena musical global.
Através de suas composições complexas, letras poéticas e a experimentação com
elementos teatrais e estéticos, esses artistas criaram uma identidade única para o rock
progressivo italiano, distinguindo-o claramente de seus contemporâneos internacionais.

Este livro também se aprofundou nas diferenças líricas e musicais entre as bandas que
escolheram cantar em sua língua materna e aquelas que optaram pelo inglês,
revelando como a escolha do idioma influenciava a recepção de sua música tanto na
Itália quanto no exterior. A escolha de cantar em italiano não apenas reforçava a
identidade cultural das bandas, mas também enriquecia suas canções com uma
camada adicional de poesia e expressão, tornando-as verdadeiramente únicas.

Exploramos, ainda, a estética teatral que se tornou uma característica distintiva do rock
progressivo italiano, uma fusão de música, arte visual e performance que ampliou os
horizontes do que poderia ser alcançado em um palco de rock. Este aspecto,
combinado com a habilidade técnica extraordinária dos músicos envolvidos, solidificou

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a reputação do gênero como um dos mais inovadores e artisticamente ambiciosos do
seu tempo.

A indústria musical italiana dos anos 70, com suas particularidades e desafios, também
foi examinada para entender melhor o contexto em que essas bandas emergiram e
prosperaram. A dinâmica entre as gravadoras, os espaços de atuação ao vivo e o
público permitiu que o rock progressivo florescesse na Itália, criando um ecossistema
musical vibrante que alimentou a criatividade e a experimentação.

Ao olhar para o panorama atual do rock progressivo italiano, vemos um legado que
continua vivo e em evolução. Novas gerações de músicos se inspiram nas fundações
estabelecidas por suas contrapartes dos anos 70, reinterpretando e expandindo o
gênero de maneiras que mantém sua relevância e ressonância em um mundo musical
em constante mudança.

Este livro foi uma homenagem à paixão, ao talento e à inovação que definiram o rock
progressivo italiano. Ao encerrar esta jornada, esperamos ter iluminado não apenas as
conquistas do passado, mas também ter lançado luz sobre o caminho adiante,
mostrando que a música, em sua essência, é uma força viva, sempre se expandindo e
se transformando. Que as histórias de PFM, Banco del Mutuo Soccorso, Le Orme,
AREA e tantas outras bandas sirvam não apenas como um registro de um tempo
glorioso, mas também como inspiração para futuras gerações de artistas e fãs de
música em todo o mundo.

Até breve !

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Referências
Ao longo da elaboração deste livro, foi fundamental contar com uma variedade de
fontes confiáveis e ricas em conteúdo para construir um retrato detalhado e abrangente
do rock progressivo italiano. A pesquisa se apoiou em uma mistura equilibrada de
mídia impressa, digital e audiovisual, além de contribuições de comunidades online
dedicadas ao gênero. Abaixo, detalhamos as referências principais que foram pilares
neste processo:

● Acervo Digital da Revista Italiana "Ciao 2001": Essencial para entender o


contexto histórico e a recepção crítica das bandas e músicas da época. As
edições digitalizadas da revista ofereceram um olhar autêntico sobre o cenário
musical italiano dos anos 70, proporcionando entrevistas, resenhas e artigos da
época.

● Site "ProgMusic Paradise: Italy": Uma fonte inestimável de informações


detalhadas sobre bandas, álbuns e a história do rock progressivo italiano. Este
recurso online se mostrou um compêndio abrangente, com análises profundas e
uma vasta discografia que ajudou a mapear a evolução do gênero.

● "Rock Progressivo Italiano: An Introduction to Italian Progressive Rock" de


Andrea Parentin: Este livro foi uma referência chave, oferecendo insights
acadêmicos e uma narrativa envolvente sobre o desenvolvimento do rock
progressivo na Itália. O autor, Andrea Parentin, compartilha uma análise
aprofundada de bandas emblemáticas e suas contribuições para o gênero,
enriquecendo nosso entendimento da cena musical.

● ITALIANPROG La guida completa alla musica progressiva italiana degli


anni '70" de Augusto Croce: Uma obra imprescindível que serve como um guia
definitivo para o rock progressivo italiano dos anos 70. Augusto Croce, com seu
conhecimento extensivo, oferece um panorama detalhado das bandas, álbuns e
a cultura que moldou este movimento musical.

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● Documentário "Mellotron - Storie di Rock Progressivo Italiano" dirigido por
Angelo Rastelli: Este documentário forneceu uma visão visual e narrativa vívida
da era dourada do rock progressivo italiano. Através de entrevistas com
músicos, imagens de arquivo e análises musicais, Angelo Rastelli conseguiu
capturar a essência e o impacto deste período inovador.

● Comunidade "ProgressiveRock" no Reddit: A participação e os debates nesta


comunidade online forneceram perspectivas contemporâneas e diversificadas
sobre o rock progressivo italiano. A troca de informações, opiniões e
descobertas musicais com entusiastas do gênero de todo o mundo enriqueceu
significativamente nossa pesquisa e compreensão do assunto.

Essas fontes, juntas, formaram a base sobre a qual este livro foi construído,
permitindo-nos explorar a profundidade e a amplitude do rock progressivo italiano com
autenticidade e precisão. Agradecemos a todos os autores, criadores e comunidades
por seu trabalho e contribuições, que foram indispensáveis para a realização desta
obra.

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