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10 álbuns que todo brasileiro deveria ouvir

Publicado em 28 de janeiro de 201530 de novembro de 2016 por Ali Prando


Antes dos anos 80 e dos processos de globalização, tais como a criação da MTV, o show-
business e as gravadoras como bolsa de valores, havia uma aura de pureza em torno da
música brasileira. Se agora a música apresentada nos canais de televisão e nas rádios tem
baixa qualidade em termos de experimentação, política e estética, essa realidade um dia foi
bem diferente.

A Ditadura Militar teve como um de seus aspectos um forte período de repressão artística, e
então os músicos brasileiros punham-se a criar verdadeiras obras-primas, a fim de mudar seu
contexto cultural: quem era jovem no Brasil queria acompanhar a possibilidade de sonhar
com uma nova era, voltada a valores espirituais e pouco materialistas, e também esquecer a
repressão política e o estado sem direito instaurado pelo regime militar.

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Inspirados pela geração hippie, sonhar com novos rumos fazia parte do pensamento libertário
e da estética contracultural da época: os cabelos cresciam, as barbas ficavam compridas, as
ideias cada vez mais radicais, as artes plásticas se misturavam a performances ou instalações,
o sexo virava amor livre e a humanidade até pensava que podia ser feliz.

Essa pequena lista busca categorizar e apresentar os clássicos da música de seu país a uma
geração conduzida por ícones POP que tem diferentes valores de outros tempos.
(https://discopunisher.files.wordpress.com/2015/01/309e7-album_acabou_chorare_cover.jpg)

“Acabou Chorare“
Novos Baianos
Som Livre
1972

Assim como “Tropicália”, o álbum “Acabou Chorare” é fruto de um ‘coletivo cultural’, porém
bem menos pretensioso que o seu antecessor. Lançado em 1972, o grupo composto por vários
músicos viviam como hippies em um sítio em Jacarepaguá. O lugar, segundo reza a lenda,
tranquilo e cercado de natureza, hospedava festas regadas à LSD, maconha e álcool, além de
rock’n ‘roll, é claro. No espírito mais comunitário possível e sem dinheiro, a banda dividia
comida, e ensaiava as novas composições que iam surgindo em meio a comportamentos
exóticos e portas de quarto escancarados – a intimidade, com certeza, pode ser notada nas
letras e na sonoridade final do álbum, orientada pelo mestre João Gilberto. Alegre e
sofisticado, misturando instrumentos acústicos e elétricos, Jimi Hendrix e João Gilberto,
samba e rock e letras sobre drogas, sexo e carnaval, os Novos Baianos demoraram dois anos
para compor “Acabou Chorare” e influenciaram mais que uma geração da música brasileira.

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(https://play.spotify.com/album/5pIlMNPZh4D9iJSoCfMzGi)
(https://discopunisher.files.wordpress.com/2015/01/ae8dd-osmutantes.jpg)

“Os Mutantes“
Os Mutantes
Polydor Records
1968

Psicodelicália: esse deveria ser o gênero de classificação do álbum de 1968, mesmo ano de
criação do lendário ‘White Album’ dos Beatles. Os Mutantes, inicialmente, eram formados por
Arnaldo e Sergio Baptista, que mais tarde adicionaram Rita Lee, e seu irmão Cláudio. A banda
não durou muito, mas foi o suficiente para marcar para sempre a história da música brasileira
e através de melodias harmoniosas, guitarras ácidas e cortes rápidos, provocar os ouvidos do
mundo todo – de certa forma, foram Os Mutantes que inauguravam a mistura do rock inglês
com a música brasileira. A banda chegou a gravar um álbum todo sob efeito de LSD, porém o
mesmo não foi lançado por não ser considerado comercial pela gravadora.

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(https://play.spotify.com/album/0gUoiZk9aWpg3HXaygDNp6)

(https://discopunisher.files.wordpress.com/2015/01/3bd63-1973-secos-molhados-front-
cover.jpg)
“Secos e Molhados“
Secos & Molhados
Warner Music Brasil
1973

É uma pena, e é difícil acreditar que Ney Matogrosso, lead-vocalist do grupo Secos e Molhados,
tenha se tornado tão conservador. No passado, Ney comandou Secos e Molhados, uma das
bandas mais originais e criativas que já existiram em Terras Tupiniquins. Em 1973, quatro
músicos, João Ricardo, Ney Matogrosso, Gérson Conrad e Daniel Lasbeck lançam um disco
assinado com poesias de Fernando Pessoa, Vinicius de Moraes e Oswald de Andrade,
acrescidas de uma sonoridade inovadora e psicodélica. Para completar, a performance do
grupo exibia danças folclóricas, figurino e maquiagem pesada, e críticas políticas ao regime
militar instalado no país na época – músicas como “Primavera nos Dentes” e “Assim Assado”
fazem críticas diretas às ideias de Capitalismo e Socialismo. O sucesso do grupo foi tão
estrondoso que em poucas semanas o primeiro disco vendeu um milhão de cópias. Em uma
apresentação no Maracanãzinho, a banda se apresentou para trinta mil pessoas dentro do
estádio e mais noventa mil que ficaram de fora. Além de tudo isso, Secos e Molhados tem uma
das capas mais icônicas de toda a história da indústria fonográfica.

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(https://play.spotify.com/album/0hIgIeXzJlQEEDQcrKJ6Wv)

(https://discopunisher.files.wordpress.com/2015/01/efb7d-transa.jpg)
“Transa“
Caetano Veloso
Polygram
1972

“Transa” é verdadeiramente uma das obras-primas da música brasileira. Produzido em


Londres, onde à época, devido a Ditadura Militar e ao controle artístico do país, Caetano
Veloso havia sido exilado, o álbum é um tratado melancólico de um filho abandonado pela sua
pátria e afastado de seus entes mais queridos. Com sotaque pesado, Veloso demonstra sua
angústia, em inglês, ao som de acordes graciosos de guitarras, bossa nova, fortes percussões e
cuícas. Filho da cultura hippie, o álbum, lançado em 1973, tem musicalidade complexa, e foi o
primeiro brasileiro a apresentar nuances de reggae, samba e rock. “Transa” é feito aos moldes
non-stop, muitas vezes atinge viagens lisérgicas, apresentando as ideias de um brasileiro que
em sua terra natal era uma estrela popular, mas que em terras estrangeiras era apenas mais
uma voz dentre as muitas outras.

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(https://play.spotify.com/album/2BfAXL2quBgSAnTYDm5QrD)

(https://discopunisher.files.wordpress.com/2015/01/70010-atriosambalanc3a7osamblues.jpg)

“Fa-tal – Gal a todo vapor“


Gal Costa
Phillips Records
1971

Musa do desbunde, Gal Costa aqui se encontrava bruta, pura, veloz e fatal – literalmente a
todo vapor. Aos vinte e seis anos, ela estrava uma série de shows dirigida por Waly Salomão
com repertório que ia de composições de Caetano Veloso e Jorge Ben, até Ismael Silva e
Erasmo Carlos. A voz de Gal se encontra em seu melhor estado: forte, estridente, cheia de
vigor. O registro, gravado ao vivo, é charmoso: contém ruídos, falhas e improvisos. Nesse
disco, lançado em 1971, existe uma versão lendária e emblemática de “Vapor Barato”, bem
como repetições de “Fruta Gogóia” e “Como dois e dois”, feita em notas altas e em notas
baixas. A banda é afiada, por vezes apresenta ritmos que possivelmente dariam origem ao
axé music e frevo, e em outras, desafia o ouvinte com guitarras eletrizantes e extravagantes.

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(https://play.spotify.com/album/4CveT1EpBeeiuoXdQKUG2r)

(https://discopunisher.files.wordpress.com/2015/01/4d027-os-mulheres-negras-musica-e-
ciencia.jpg)

“Música e Ciência“
Os Mulheres Negras
Independente
1988

Intitulados como ‘a terceira menor big band do mundo’, Os Mulheres Negras foi um grupo dos
anos 80 formado por dois homens brancos, André Abujamra, responsável pelas guitarras e
teclados, e Maurício Pereira, saxofone e equipamentos eletrônicos – ambos dividiam os vocais.
Tidos como representantes da vanguarda paulista, a dupla se apresentava para plateias
fanáticas que sabiam de cor seu repertório, recheado de humor, paródias e expressões
populares. Tecnológicos e irônicos, Os Mulheres Negras fazia mistura de funk, punk, bossa
nova, sintetizadores, baião, Beatles, Villa-Lobos e Peppino di Capri. Como o conteúdo do duo
era pouco radiofônico e muito alternativo, não fizeram sucesso comercialmente, porém
marcaram para sempre a cena de música independente do país. Em 1991, depois de dois
álbuns lançados se separaram, apesar de casualmente produzirem juntos, como fizeram para
a trilha sonora do programa infantil Castelo Rá-Tim-Bum da TV Cultura.

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(https://play.spotify.com/album/7eHLDSg0L63KThZCEKssh1)
(https://discopunisher.files.wordpress.com/2015/01/91951-tropicalia-ou-panis-et-circencis-
1968-capa.jpg)

“Tropicália“
Caetano Veloso, Gal Costa, Gilberto Gil, Nara Leão, Os Mutantes e
Tom Zé
Phillips
1968

Essencial e básico para qualquer (bom) ouvinte de música brasileira, Tropicália, também
conhecido como Panis Et Circencis, foi um projeto musical, derivado de um forte contexto
político, encabeçado pelos gênios Gilberto Gil e Caetano Veloso. Feito a partir de inovações
estéticas radicais, a Tropicália deu a juventude do país novos valores de comportamento e
música. Com o objetivo de ser uma síntese cultural brasileira da época, o álbum, lançado em
1968, reúne o experimentalismo d’Os Mutantes, a irreverência lírica e anarquista de Tom Zé,
os cantos de sereias de Gal Costa e Nara Leão, e para completar, os poetas Capinam e Torquato
Neto e o maestro Rogério Duprat responsável pelos arranjos.

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(https://play.spotify.com/album/6tw7OJocIA4PAvqmVt0hdj)
(https://discopunisher.files.wordpress.com/2015/01/85a9e-baden2be2bvinicius2b-
2bos2bafro2bsambas2b-2bfrente.jpg)

“Afro-Sambas”
Baden Powell e Vinicius de Moraes
Forma
1966

Um dos registros musicais mais importantes da história da música brasileira, o álbum é fruto
da reunião do violinista Baden Powell e de Vinicius de Moraes, o principal compositor da
Bossa Nova (“Garota de Ipanema”, “Chega de Saudade” e “Insensatez”). Encantados pelas
religiões de ascendência africana, como Candomblé e Umbanda, e os sambas-de-roda da
Bahia, os músicos uniram o samba, já característico da música brasileira, com berimbau,
saxofone, pandeiros e agogôs. Lançado em 1966, “Afro-Sambas” é tido como um divisor de
águas na música brasileira. Peculiar, o disco conta com uma masterização de sua época, cheia
de ruídos. Nas oito canções, existem solos de guitarra, vocais femininos assombrosos e
gregorianos, e homenagens a deuses e orixás. Pura poesia musical – “Afro-Sambas” é daqueles
álbuns que uma vez ouvido, nunca mais sairá de sua cabeça.

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(https://play.spotify.com/album/7ArWgeKnsNsaOyvFl2yNYd)
(https://discopunisher.files.wordpress.com/2015/01/bfd89-expresso-2222-cover.jpg)

“Expresso 2222“
Gilberto Gil
Phillips Records
1972

Orientado por rock, blues, reggae e samba, “Expresso 2222” é uma viagem apresentada por
Gilberto Gil depois de seus três anos exilado em Londres. Sendo esse o quinto álbum do
cantor, suas habilidades de composição e manejos com a guitarra elétrica são exibidas com
maestria em músicas de vocais melódicos e graciosos. O título é uma referência a um trem
pego por Gil para sair de sua cidade natal em direção a Salvador. Lançado no Brasil, em 1972,
o álbum conta com a participação de Gal Costa e marca o retorno do músico ao Brasil, depois
de sofrer em terras estrangeiras. O nome do álbum rendeu o trio elétrico “Expresso 2222”, de
sucesso na Bahia até a atualidade.

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(https://play.spotify.com/album/7dggLXqVrhWKg7b7Xcvo4Y)

(https://discopunisher.files.wordpress.com/2015/01/4d257-jorge-ben-1969-jorge-ben-
capa.jpg)
“Jorge Ben“
Jorge Ben
Phillips Records
1969

Orientado por Caetano Veloso e Gilberto Gil, e arranjado por Rogerio Duarte, “Jorge Ben” foi
lançado em 1969 e marca o retorno de Jorge a sua gravadora de origem. Sendo seu sexto
álbum de estúdio, as canções aqui deixam de lado a forte postura política da tropicália e
focam em um sentimento de orgulho nacionalista (“País Tropical”). Com todo o poder que um
músico negro podia ter, Jorge domina um canto esotérico e guitarras de Rhythm and blues e
jazz, em meio a letras cheias de mensagens subliminares. Cheio de energia, exuberante e
maravilhoso, continua sendo um dos maiores clássicos da música brasileira.

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(https://play.spotify.com/album/6xxqVo2Gxqab79hVBFi2UW)

Por: Alisson Prando (http://instagram.com/alissonprando)


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