MÚSICA DISCO Música e Cultura POP

PONTOS RELEVANTES
• A escolha de lugares fechados para separação entre aqueles que “fazem parte” e
os outros. Muitas vezes guardando a relação entre “resguardo” de minorias.
• O consumo da música como afirmação/ confrontação política e social.
• A valorização da posição e autonomização do DJ em relação ao “músico” e à
“música ao vivo”.
A música Disco e sua influência ainda é sentida na música pop do século XXI.
OS ANOS ANTES DA DISCO MUSIC
1900 – 1933: Nos Estados Unidos, pessoas dançavam em clubes ao som de piano ou
jukebox. Boa parte da cena de clubes é underground devido à lei seca que vigorou
de 1920 até o ano de 1933. A partir da legalização do comércio de bebidas a
popularidade das casas noturnas se expandiu com o uso progressivo de Big Bands
de jazz.
NA ALEMANHA
1939: The Swing Kids são um pequeno grupo de jovens de classe média alemã
dedicado a ouvir jazz e usar roupas extravagantes. Eles se juntavam para dançar ao
som de jazz e exibir as suas roupas. The Swing Kids são uma reação ao crescente
movimento nazista. Apesar de ser uma recusa não violenta à cultura dominante, o
grupo é fechado pela SS.
JITTERBUG DANCE
https://www.youtube.com/watch?v=Sz57fKCw5Hs
NA FRANÇA
Na França ocupada pelo nazismo, jazz e bebop, bem como “jitterbug dance” são
banidos pelos nazistas. A música e a dança são consideradas música degenerada.
Grupos de resistência francesa se encontram em clubes de dança secretos chamados
de “discotheques”. Eles dançam a tal “música degenerada” e se vestem ao estilo
norte-americano.
“MÚSICA DEGENERADA”
ALEMANHA NAZISTA, 1938
1942 – La Discotheque: Uma casa noturna em um porão - com apenas uma turntable
- abre em Paris. O termo discoteca, neste período, refere-se na Europa a clubes
onde não se toca música ao vivo, apenas música gravada.
Em 1953, no Whisky A-Go-Go (também em Paris), DJ Regine usará duas turntables
provendo música sem intervalo na execução. Há um pista de dança, luzes coloridas e
deixam de ser usados os juke-box.
NA INGLATERRA
Final dos anos 1950: Em Londres, cafeterias do Soho se tornam o lugar da moda
para serem frequentados (como o Les Enfants Terribles). Estes cafés são,
frequentemente, ilegais e frequentados por imigrantes franceses e italianos. Estes
espaços reúnem jovens que procuram um lugar para dançar durante a tarde. Em
Londres os hipsters que ouvem Rock and Roll preferem estes lugares às casas
noturnas (que só vão se popularizar nos anos 1970 por aqui).
No começo dos anos 1960, Mark Birley abre uma discoteca para “associados”
apenas chamado Annabel’s em Londres.
1961: A moda nos EUA é o Twist. Em 1962, em Nova Iorque, o lugar “para se estar”
é o Peppermint Lounge. Diferente do ocorria até então, frequentemente vemos
pessoas dançando sem par. É aqui que temos o nascimento dos “Go-Go Dancers”.
No Reino Unido, por sua vez, é neste período que Roger Earle toca no The Twisted
Whell, em Machester. Ele irá criar a base de fundação da cena de Northern Soul.
NORTHERN SOUL
Northern soul é um movimento de música e dança que emergiu da
cena mod britânica, inicialmente no norte da Inglaterra na década de 1960. O
northern soul consiste principalmente de um estilo particular de música soul negra
americana baseada na batida pesada e no ritmo rápido tocado em meados dos
anos 1960 por músicos da Motown Tamla.
O movimento northern soul, no entanto, geralmente evita a música da Motown ou
influenciada pelo som da Motown, que teve sucesso mainstream significativo.
Como o ritmo favorito era mais uptempo e frenético, pelo início dos anos 1970, a
dança northern soul se tornou mais atlética, um pouco parecida com os estilo de
dança posteriores como o disco e o break.
NORTHERN SOUL:
GENE CHANDLER – NOTHING CAN STOP ME
https://www.youtube.com/watch?v=qUYJjTykHiw
O NASCIMENTO DA DISCO
Em 1965 abre a casa noturna Arthur em NYC. Lá discoteca o DJ Terry Noel (o
primeiro DJ a mixar discos). Outros clubes como Regine’s, Le Club, Shepard’s,
Cheetah e Ondine também abrirão em meados dos anos 1960.

No mundo todo a música “de pista” e os lugares propícios para se escutar este tipo
de música começam a se multiplicar.
Em 1969 é lançado o disco Only the Strong Survive de Jerry Buttler, um dos
pioneiros do “Philly Sound” que será um dos principais elementos para a música
disco.
PHILLY SOUND – O SOUL DA FILADÉLFIA
Soul da Filadélfia (ou Philly Soul) é uma vertente da soul music surgida
na Filadélfia e que exerceu bastante influência na disco music.
Seus arranjos de metais podem ser reconhecidos em gravações de bandas
como MFSB, Harold Melvin & The Blue Notes, The O' Jays, The Stylistics.
PHILADELFIA INTERNATIONAL RECORDS E O
SIGMA STUDIO
Assim como Motown e Stax-Volt, o estilo conhecido como "Philly Soul“ foi criado
largamente por uma única gravadora, neste caso, chamada Philadelphia
International Records, capitaneada pelo time de compositores/ produtores Kenneth
Gamble e Leon Huff.
Os dois alcançaram seus primeiros discos de ouro nos anos 1960 ainda quando
trabalhavam na Atlantic, criando sucessos como “Express "Expressway To Your Heart“
dos The Soul Survivors, "Cowboys To Girls” dos The Intruders e "Only The Strong
Survive” de Jerry Butler.
A sua assinatura eram canções leves de soul e pop com uma batida simples apoiada
no bumbo marcado e caixa no “backbeat”. Tudo ornamentado por acompanhamento
de cordas e metais. O seu sucesso permitiu a fundação de sua própria gravadora
em 1971.
O’JAYS – LOVE TRAIN [1972]
https://www.youtube.com/watch?v=2vTKmVvyNRc
JERRY BUTLER – ONLY THE STRONG SURVIVE
https://www.youtube.com/watch?v=XPkd9ZQOtbI
MFSB – LOVE IS THE MESSAGE
https://www.youtube.com/watch?v=xe3Q7uajzYM
DAVID BOWIE – ZIGGY STARDUST [1972]
https://www.youtube.com/watch?v=XXq5VvYAI1Q
DAVID BOWIE – YOUNG AMERICANS [1975]
https://www.youtube.com/watch?v=KSHY1_ux8rs
A CONTRIBUIÇÃO DE GIORGIO MORODER
Antes de “I fell love” de Donna Summer a maioria das canções de disco music eram
apoiadas por orquestras e bandas, apesar da crescente popularização da música
eletrônica. A partir daí, uma nova abordagem do estilo nasceu, que seria
extremamente importante para o desenvolvimento da música eletrônica de pista.
DONNA SUMMER – I FEEL LOVE
https://www.youtube.com/watch?v=Nm-ISatLDG0
GIORGIO MORODER – BLA BLA DIDDLEY (1966)
https://www.youtube.com/watch?v=O8_yylMLh5w
GIORGIO MORODER – FROM HERE TO ETERNITY
(1977)
https://www.youtube.com/watch?v=30hr7DyAuAY
A PROEMINÊNCIA DO DJ
Alguns dizem que foi o californiano Ray Newby o primeiro DJ. Quando estava na
faculdade, em 1909, ele costumava tocar discos por um transmissor amador. Um ano
depois, as transmissões de rádio se tornariam costumeiras em escala global.
SURGIMENTO DO TERMO
Foi apenas na década de 1930 que o termo “disc jockey” foi cunhado. Walter
Winchell, ao descrever o trabalho de Martin Block, um dos pioneiros da locução
radiofônico. No período, o grande assunto dos noticiários era o rapto do filho de
Charles Lindbergh, um famoso aviador. Enquanto ele esperava novidades sobre a
matéria, Block tocava discos para dar a impressão de que estava em um salão de
festas.
Até então, a maior parte da música escutada no rádio era tocada ao vivo.
Em 1943, Jimmy Savile – personalidade da mídia inglesa - organizou o que é
conhecido (mas não acurado) como a primeira festa de discotecagem, executando
discos de jazz aos convidados. Em alguns anos ele expandiria o conceito fazendo
festas inteiramente sustentadas pelo som de toca-discos.
SOCK HOPS
Sock hops (record hop, sox hop) – eventos patrocinados para adolescentes dançarem faziam
muito sucesso na década de1950. Costumeiramente os DJs da rádio trabalhavam nestas
festas.

Sock hops tem sua origem atribuída ao ano de 1944. Era uma forma da Cruz Vermelha
Americana Júnior para captar recursos para a Segunda Guerra Mundial. Em 1948 o evento
se tornou mania entre os adolescentes. Sock hops ocorriam, habitualmente, em escolas e outras
instituições educacionais – em ginásios e cafeterias. Por isso a origem do termo, que poderia
ser traduzido como “pular de meia”, visto que os participantes precisavam tirar os sapatos
para não riscar o chão dos ginásios.
Como dito, a música dos “Sock Hops” costumava ser tocada por toca-discos, usando, algumas
vezes apresentadas por um “disc jockey”. Ocasionalmente poderiam haver bandas tocando.
Nas décadas seguintes, os “sock hops" passaram a ser fortemente associados ao
rock’n’roll. Com a substituição dos sapatos por tênis de sola macia, a prática de
“danças de meias” foi deixando de ser praticada, e o termo passou a ser associado
com festas informais de adolescentes.
SOUND SYSTEM JAMAICANO
Como já estudamos, neste período, já teríamos praticamente uma tradição
estruturada das festas abertas de sound system para as comunidades periféricas da
Jamaica.
DJ FRANCIS GRASSO
Iniciou sua carreira em 1968, na cidade de Nova Iorque. É creditado como o
primeiro DJ a desenvolver a técnica de sincronização de batidas, permitindo que as
músicas fossem dançadas continuamente, sem a sensação de descontinuidade.
A ERA DA(O) DISCO
Nova Iorque foi o centro da cena dos DJs ao vivo e da disco music. DJ Kool Herc,
considerado o pai do Hip Hop, fazia suas festas de sound system em festas de rua
gigantescas, costumeiramente a partir do Bronx. Kool Herc deenvolveu a técnica de
misturar dois discos iguais, chamada de “breaking” ou “breakbeat”. Discotecar foi se
tornando algo cada vez mais popular.
Com o passar do tempo a palavra “DJ” passou a carregar diferentes significados
para diferentes grupos sociais. Um fato justificável na medida em que, a partir das
especificidades dos gêneros e cenas foram sendo desenvolvidas diferentes técnicas e
práticas.
ANOS 1980 E 1990
Os 1980s viram Chicago e Detroit criarem dois novos tipos de gêneros house music e
techno, respectivamente. House music teve uma influência pesada da disco e da
música electronica “popular”, fundamentada no uso de samplers, drum machines, e
linhas de baixo proeminentes. Techno, por sua vez, foi influenciada pelo house, mas
abriu mão das referências da disco music, criando sons de vocação mais eletrônica.
DA MÚSICA DIGITAL PARA FRENTE
1990 viu a popularização efetiva dos processos digitais. O CD, que havia substituído
o vinil, passou a dar progressivo espaço a formatos digitais compactos
compartilhados pela internet.
Da bipartição do DJ vs banda, vimos o intercâmio de gêneros tipicamente associados
a um tipo de execução assumirem formações híbridas. Bandas de rock com DJ e rap
executado por banda (e DJ), hoje, passaram a ser lugar comum.
Por outro lado, a “volta do vinil” devolveu interesse às técnicas pioneiras
desenvolvidas nos anos 1970.
DISCO MUSIC E MINORIAS
O crescimento das casas noturnas oferecem um lugar de convivência e fortalecimento
de minorias marginalizadas. Assim, estes lugares passam a ser uma mistura de afro-
americanos, gays e lésbicas, Latinos e “hipsters” heterossexuais.
Em uma década marcada pela crescente fragmentação social e, consequentemente,
de estilos de vida, a cultura da discoteca acaba sendo uma resposta à cultura (que
havia se tornado dominante) branca do rock and roll.
Assim, a discoteca acabou sendo um apelo também às mulheres que buscavam
autonomia após os avanços dos movimentos feministas e à liberação da pílula
anticoncepcional.
ATIVISMO GAY
É considerado um dos marcos fundadores do movimento disco em Nova Iorque a
Rebelião de Stonewall, em 1969. Tratou-se de uma série de manifestações violentas
e espontâneas de membros da comunidade LGBT contra a brutalidade policial.
Visto de maneira mais ampla, é considerado o marco inicial da luta pelos direitos
LGBT.
INÍCIO DA CENA NOVA-IORQUINA
O nascimento da moda disco é proveniente das festas gays underground que
ocorriam em clubes nova-iorquinos como The Loft, Tenth Floor e 12 West no começo
dos anos 1970. Outros clubes como Infinity, Flamingo, The Paradise Garage, Le
Jardin e The Saint lançaram a cultura do “vale-qualquer-coisa” e as festas que
duravam a noite inteira.
STUDIO 54
Era o bar em que ser extravagante era regra. Studio 54 cumpriu o papel de criar a
cena da “balada” noturna que nos acompanha até hoje. Um lugar onde as pessoas
vão para ser vistas e estão vestidas nas últimas tendências da moda.
A “FEBRE” DA DISCO (1974 – 1977)
De 1974 até 1977, a música disco cresce de forma significativa em popularidade,
com muitas das suas músicas entrando nas paradas das “dez mais”.
Em 1977 a “febre” da cultura disco chega ao topo com o lançamento do filme
“Embalos de Sábado à Noite”. O filme é visto como uma ferramenta de marketing
para expandir os horizontes do gênero para além dos meios de contracultura. Torna-
se um grande sucesso e a trilha dos BeeGees torna-se um dos discos mais bem
vendidos de todos os tempos.
EMBALOS DE SÁBADO À NOITE
O filme foi baseado em um artigo escrito por Nik Cohn chamado “Rituais do Novo
Sábado à Noite”. Era um texto ficcional passado como se fosse verdadeiro e girava
em torno da vida de um jovem italiano frequentador de discotecas no Brooklyn.
BEEGEES – SATURDAY NIGHT FEVER
https://www.youtube.com/watch?v=u1qN6gLbUMw
No final dos anos 1970 a música disco se torna parte da cultura pop mainstream.
Músicas pré-existentes ganham arranjos disco. A orquestração rica, em certa medida,
é uma volta aos princípios das big bands de jazz. Por sua vez, artistas reconhecidos
em outros gêneros (e sem vínculo com a cultura) migraram para o gênero.
Um fato curioso é que até mesmo a música de concerto acabou influenciada por esta
música de pista.
WALTER MURPHY – A FIFTH OF BEETHOVEN
https://www.youtube.com/watch?v=4MFbn8EbB4k
DISCO E A MODA
Uma parte importante da música disco é a moda e, de maneira mais profunda, todo
o estilo de vida no seu entorno. É curioso que as proposições musicais tenham se
mantido e a moda relegada ao campo do “vintage” ou “retrô”.

Contudo, a popularidade da música deve muito ao entorno do qual era proveniente.

Assim, ao falarmos da música é inevitável falarmos da moda e de toda a cultura.
A “MORTE” DA DISCO
A morte da música disco ocorre no momento em que seu estilo é, gradualmente,
substituído pela “anti-moda” do punk rock. O estilo era considerado muito escapista
e ostensivo – além das críticas de ser politicamente alienado. Entre os fãs de rock
começou a crescer um ressentimento ao gênero, tornando-se comum o uso de
camisetas com slogans “anti-disco”, por exemplo.
DAVID BOWIE - DJ
https://www.youtube.com/watch?v=QgPUxjQOk-w
SMITHS - PANIC
https://www.youtube.com/watch?v=wMykYSQaG_c