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Axé-music

Silvio Essinger

TEXTO RETIRADO DO SITE: http://cliquemusic.uol.com.br/generos/ver/axemusic,


pesquisado no dia 02 de outubro de 2016, às 14h

Não se trata exatamente um gênero ou movimento musical, mas uma rotulação mercadológica muito
útil para que uma série de artistas da cidade de Salvador, que faziam uma fusão de ritmos nordestinos,
caribenhos e africanos com embalagem pop-rock, tomassem as paradas de sucessos do Brasil inteiro
a partir de 1992. Axé é uma saudação religiosa usada no candomblé e na umbanda, que significa
energia positiva. Expressão corrente no circuito musical soteropolitano, ela foi anexada à
partícula music pelo jornalista Hagamenon Brito para formar um termo que designaria pejorativamente
aquela música dançante com aspirações internacionais.
 

Depois que Daniela Mercury chegou ao Sudeste com o show que a estouraria nacionalmente, O Canto
da Cidade, tudo o mais que veio de Salvador começou a ser chamado de axé music. Em pouco tempo,
os artistas deixaram de se importar com a origem debochada do termo e passaram a dele se
aproveitar. Por exemplo, a Banda Beijo, do vocalista Netinho, simplesmente intitulou de Axé Music o
seu disco de 1992. Com o impulso da mídia, essa trilha sonora da folia de Salvador rapidamente se
espalhou pelo país (com os carnavais fora de época, as micaretas) e fortaleceu-se como indústria,
produzindo sucessos o ano inteiro ao longo dos anos 90. Testadas no calor da multidão na Praça
Castro Alves e na Ladeira do Pelô, as músicas dos blocos e bandas responderam por alguns dos
grandes êxitos comerciais da música brasileira na década. O ano de1998 foi, particularmente, o mais
feliz para os baianos: Daniela Mercury, Banda Eva, Chiclete com Banana, Araketu, Cheiro de Amor e É
o Tchan venderam juntos nada menos que 3,4 milhões de discos. 

Guitarras elétricas 

As origens do axé estão nos anos 50, quando Dodô e Osmar começam a tocar o frevo pernambucano
em rudimentares guitarras elétricas (batizadas de guitarras baianas) em cima de uma Fobica (um Ford
1929). Nascia o Trio Elétrico, atração dos carnavais para a qual Caetano Veloso chamou a atenção em
1968 na música Atrás do Trio Elétrico. Mais tarde, Moraes Moreira, dos Novos Baianos, teria a idéia de
subir num trio (que era apenas instrumental) para cantar – foi o marco zero da axé music.
Paralelamente ao movimento dos trios, aconteceu o da proliferação dos blocos afro: Filhos de Gandhi
(do qual Gilberto Gil faz parte), Badauê, Ilê Ayê, Muzenza, Araketu e Olodum. Eles tocavam ritmos
africanos como o ijexá, brasileiros como o maracatu e o samba (os instrumentos eram os das escolas
de samba do Rio) e caribenhos como o merengue. 

Com a cadência e as letras das músicas de Bob Marley nos ouvidos, o Olodum criou o samba-reggae,
música com forte caráter de afirmação da negritude, que fez sucesso na Salvador dos anos 80 com
artistas como Lazzo, Tonho Matéria, Gerônimo e a banda Reflexus – as músicas chegavam ao Sudeste
em discos na bagagem dos que lá passavam férias. Logo, Luís Caldas (do trio Tapajós) e Paulinho
Camafeu tiveram a idéia de juntar o frevo elétrico dos trios e o ijexá. Surgiu assim o deboche, que
rendeu em 1986 o primeiro sucesso nacional daquela cena musical de Salvador: Fricote, gravado por
Caldas. A modernidade das guitarras se encontrava com a tradição dos tambores em mistura de alta
octanagem. 

Uma nova geração de estrelas aparecia para o Brasil: Lazzo, Banda Reflexus (do sucesso Madagascar
Olodum), Sarajane, Cid Guerreiro (do Ilariê, gravado por Xuxa), Chiclete com Banana (que vinha de
uma tradição de bandas de baile, blocos afro e trios elétricos) e Margareth Menezes, a primeira a
engatilhar carreira internacional, com a benção do líder da banda americana de rock Talking Heads,
David Byrne. Pouco tempo depois, o Olodum estaria sendo convidado pelo cantor e compositor
americano Paul Simon para gravar participação no disco The Rhythm of The Saints. 

Guinada para o pop 

Aquela nova música baiana avançaria mais ainda na direção do pop em 1992, quando o Araketu
resolveu injetar eletrônica nos tambores, e o resultado foi o disco Araketu, gravado pelo selo inglês
independente Seven Gates, e lançado apenas na Europa. No mesmo ano, Daniela Mercury lançaria O
Canto da Cidade e o Brasil se renderia de vez ao axé. Aberta a porta, vieram Asa de Águia, Banda Eva
(que nasceu do Bloco Eva e revelou Ivete Sangalo), Banda Mel (que depois assinaria como
Bamdamel), Banda Cheiro de Amor, Ricardo Chaves e tantos outros nomes. A explosão comercial do
axé passou longe da unanimidade. Dorival Caymmi reprovou suas qualidades artísticas, Caetano
Veloso as endossou. Das tentativas de incorporar o repertório das bandas de pop rock, nasceu a
marcha-frevo, que transformou sucessos como Eva (Rádio Táxi) e Me Chama (Lobão) em mais
combustível para a folia. 

Enquanto o axé se fortalecia comercialmente, alguns nomes buscavam alternativas criativas para a
música baiana. O mais significativo deles foi a Timbalada, grupo de percussionistas e vocalistas
liderado por Carlinhos Brown (cuja Meia Lua Inteira tinha estourado na voz de Caetano), que veio com
a proposta de resgatar o som dos timbaus, que há muito tempo estavam restritos à percussão dos
terreiros de Candomblé. Paralelamente à Timbalada, Brown lançou dois discos solos
– Alfagamabetizado (1996) e Omelete Man (1998), que com sua autoral incorporação de várias
tendências do pop e da MPB à música baiana, obteve grande reconhecimento no exterior. Além disso,
ele desenvolveu um trabalho social e cultural de alta relevância entre a população da comunidade
carente do Candeal, com a criação do espaço cultural Candyall Guetho Square, o grupo de percussão
Lactomia (para formar uma nova geração de instrumentistas) e a escola de música Paracatum. 

Enquanto isso, os nomes de sucesso da música baiana se multiplicavam: aos então conhecidos Banda
Eva, Bamdamel, Araketu (que em 1994 vendeu 200 mil cópias do disco Araketu Bom Demais), Chiclete
com Banana e Cheiro de Amor, juntaram-se o ex-Beijo Netinho e os grupos Jammil e Uma Noites,
Pimenta N´Ativa e Bragadá. 

Bunda music 

Foi em 1995, porém, que deu as caras o maior fenômeno comercial de Salvador. Em seu terceiro
disco, o grupo Gera Samba estourou o sucesso É o Tchan, com a ajuda dos sacolejos das calipígias
dançarinas Carla Perez (loura) e Débora Brasil (morena). Entre um "segura o tchan" e outro, a banda
teve que mudar de nome, processado por um outro grupo, de um irmão do integrante Compadre
Washington. Rebatizado de É o Tchan, o antigo Gera Samba inaugurou a face do axé que seria
conhecida como bunda music, de ênfase nas coreografias libidinosas em detrimento à musica (que
ainda assim trazia uma sólida base de samba de roda) e as letras. Com toda a face showbiz a que tem
direito (realizaram-se concursos na TV para a escolha da morena e depois da loura que iriam substituir
Débora e Carla), e uma fileira de sucessos produzidos em série (Dança do Bumbum, Dança da
Cordinha, Ralando o Tchan, É o Tchan! no Havaí, A Nova Loira do Tchan...), o grupo bateu a barreira
do milhão de discos vendidos. 

Com o Tchan, disputaram público na segunda metade dos anos 90 nomes como Netinho (Milla, Fim de
Semana), Araketu (Mal Acostumado) e Terrasamba (Liberar Geral, Carrinho de Mão), Banda Eva
(Beleza Rara, Carro Velho), entre outros. A superexposição nos meios de comunicação e as pressões
da indústria inevitavelmente levaram o axé ao esgotamento artístico e comercial. Em 1999, ano em que
o pop ressurgiu como uma força, o gênero experimentou um significativo declínio nas vendagens de
discos. 

Músicas 

Ilê Ayê – Gilberto Gil 


Fricote – Luís Caldas 
Eu Sou Negão – Gerônimo 
Salvador Não Inerte – Olodum 
Madagascar Olodum – Banda Reflexu’s 
Meia Lua Inteira – Caetano Veloso 
O Canto da Cidade – Daniela Mercury 
É o Bicho – Ricardo Chaves 
Cara Caramba – Chiclete com Banana 
Milla – Netinho 
A Namorada – Carlinhos Brown 
Água Mineral – Timbalada 
É o Tchan – Gera Samba 
Dança do Bumbum – É o Tchan 
Liberar Geral – Terrasamba 
Mal Acostumado – Araketu 
Dança da Sensual – Banda Cheiro de Amor

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