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Gaveta

Desordem.
Nas paredes
Nos armários,
Na minha cama
E no meu quarto.

Talvez eu realmente devesse


Esvaziar as gavetas, limpar os baús.
Mas se assim fizesse, o que eu teria de mim,
Se não só a mim mesmo.

E como?
Como me desfazer
De todas as minhas versões.
Deixadas e esquecidas,
Nas fotos, cartas e canções.

A gaveta,
Tão pequena e estreita,
Guarda consigo um acumulado
De histórias e memorias
Que as vezes nem me vêm à mente.

Essa gaveta, esse quarto, esse meu desarrumado,


São a representação mais nítida do meu eu.

E como me desfazer de mim?

O violão que eu nunca toco


O vestido vermelho que nunca usei
O perfume que eu não gosto
A coleção de All Star no canto da porta
O punhado de brincos que raramente uso
As garrafas vazias de vinho
E até o box do Harry Potter na escrivaninha sozinho,
Já ouviram mais sobre mim do que qualquer ouvido.

Eu preciso de uma Âncora,


De coisas que me façam lembrar
De quem e eu fui um dia,
Que preencham essa minha mente vazia
E que ocupe essa lacuna que lateja no meu peito.

Talvez por isso seja tão difícil


Me desfazer do que julgas desnecessário.
No fim, é somente aqui nesse quarto,
Que desdobro os meus sonhos
E me cubro do inevitável.

Por, Vanessa Roque De Araujo.

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