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D eve-se iniciar com a invocação ao Espírito Santo.

Vinde, Espírito Santo...


O intuito no primeiro encontro é “ruminar” com os
noivos sobre o Sacramento do Matrimônio na Sagrada
Escritura, e por isso, são utilizados três textos significativos
que tratam do tema no início do Itinerário. Esses textos
vão retratar a família querida por Deus desde as origens.
Preparar um ambiente simples, mas agradável e
aconchegante, numa sala, no quintal..., pode colocar uma
imagem, uma Bíblia aberta etc., não precisa fazer um altar
cheio de Santos, lembre-se de que você está tratando com
jovens, o ambiente precisa ser jovial também. Evitar a
impressão de devocionismo.
Falar um pouco de como a Bíblia traz histórias e fatos
muito próximos da vida cotidiana das pessoas em geral,
inclusive hoje, como pode ajudar a encontrar respostas
para problemas que surgirão na vida matrimonial, porque
problemas aparecerão!
Três textos bíblicos muito significativos serão usados
nesse encontro. Eles devem ser lidos com atenção,
refletidos, rezados.
Como o tema do matrimônio, aparecerá também
a questão do divórcio. Caberá o cuidado pastoral e a
misericórdia do casal formador para, em sua postura,
não discriminar os que se divorciaram. Pode ser que os
pais de um deles, e/ou de ambos sejam divorciados e uma
abordagem errada pode causar muito mal-estar.
Quando, por exemplo, o casal formador for

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meditar sobre 1Cor 7, 1-11, cito um exemplo
concreto nos nossos dias de tentação para quem
se casou. Um casal de amigos que deixou por um
ano de ter relações sexuais, porque nasceu um
filho já quando eles tinham 20 anos de casados e
os demais filhos já estavam grandes. Eles ficaram
tão fissurados na criança, que sexo não parecia
importante. Um dia, visitando-os, eles me falaram
deste fato. Imediatamente peguei este texto e meditei
com eles. Disse-lhes, começando pelo homem: você
é um empresário, têm muitas mulheres que lhes
são subordinadas, uma delas pode se interessar
por você, se manifestar e seus desejos aflorarem.
Afinal você é uma pessoa que tem libido. Como é
que Satanás vai lhe tentar? De batom, neste caso,
cheirosa, não com cheiro de enxofre etc. A ela,
que trabalha viajando, e tem contato com muitos
homens, disse a mesma coisa. Ora, se estão sadios,
não têm motivos para serem celibatários, por que
não se relacionam sexualmente?
A Bíblia não nega a nossa humanidade e
inclusive pormenorizando certas situações. E isto
abre os olhos dos noivos para o porquê das coisas
nos devidos tempos (cf. Ecle. 3). Proponha com
jeito e humildade, mas sem medo.
Vejamos também algumas observações importantes
sobre a tarefa de casa da semana:
1. Como a Doutrina da Igreja não foi abolida, o casal
formador pode dizer que, hoje grande parte da
sociedade acha natural as relações sexuais antes do
Matrimônio, mas que propõem, caso tenham esta
prática, que durante o período de acompanhamento,

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até o casamento, que se faça o esforço de se absterem.
Não se impõe, mas se propõe e se deve explicar bem
a proposta.
2. O sexo é importante, vimos em 1Coríntios 7,
1-11, é tão importante que, mesmo tendo a prática
antes, se não se consumar no ato sexual depois do
Casamento, o Matrimônio não está validado.
3. Muitas pessoas casam com o corpo da outra e não
com as demais dimensões. É possível que as relações
camuflem aspectos negativos da personalidade.
Este período é para conhecer mais profundamente
a pessoa com a qual se quer constituir uma vida até
que a morte os separe.
4. O Ritual da Celebração diz “na saúde e na doença, na
alegria e na tristeza”. Alguém já pensou que um dos
cônjuges pode ficar impotente ainda jovem. Pode ter
um acidente e não ter mais condições de ter relações
sexuais? Qual a capacidade de renúncia depois do
Casamento para quem não teve antes? Vai liberar
para que a parte sã faça isso fora do Casamento?
Eu já assisti uma celebração matrimonial, mas antes
insisti para que ela não acontecesse, porque percebi que o
sexo era preponderante naquele relacionamento. Foi em
vão, e, infelizmente, estava certo. A mulher se acidentou
pouco tempo depois, ficando prejudicada fisicamente.
Passado um tempo não muito longo, o marido a deixou
porque exatamente ela não tinha mais a disposição anterior.
Ele não lembrou das palavras proferidas no Ritual.
O Papa Bento XVI, em sua primeira Encíclica (2005),
quando fala das três dimensões do amor, começa pelo amor
Eros, como uma possibilidade, se bem compreendido, de
chegar a Deus, pois diz o Papa, “ao amor entre homem e

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mulher, que não nasce da inteligência e da vontade, mas de
certa forma impõe-se ao ser humano, a Grécia antiga deu
o nome de Eros”. E ele pergunta: “O cristianismo destruiu
verdadeiramente o Eros?” Não! Só fez observar que havia
uma falsa divinização do Eros, que provocava subversão.
Hoje não é diferente.
Pode-se também, a cada duas semanas, discretamente,
mandar uma mensagem no WhatsApp para saber como
estão, e subliminarmente perguntar sobre as vivências das
dinâmicas do itinerário.

Hoje começaremos um itinerário bíblico, no qual o


próprio Deus, Fonte do Amor, quer falar bem no fundo dos
vossos corações que estão prestes a se tornarem, um só. A
Bíblia não deve ser na nossa casa um arranjo, mas uma fonte
de vida.
Comecemos meditando Gênesis 2, 15-25.
Deus criou o homem e a mulher, um está intimamente
ligado ao outro, têm igual dignidade, embora sejam
diferentes, por isso se complementam. Ao retirar da costela
de Adão e formar Eva, percebe-se que não foi tirada da
frente, portanto não é maior e melhor, não tirando das
costas, não a fez pior e inferior, mas a tira do lado, desta
forma, é companheira, assim, andam juntos. O casamento
requer tal companheirismo nas diferenças.
Tomemos, agora, lendo atentamente, Mateus 19, 1-11.
Alguns aspectos importantes a serem salientados
depois de ouvi-los sobre a compreensão que tiveram, se é

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que tiveram. O texto fala do aspecto vocacional: quem pode
casar ou ficar solteiro em vista da consagração? Jesus salienta
no embate com os fariseus, o que diz Gênesis 2, 24, “serão
uma só carne”, não se separa a carne. Ele volta ao passado
sem medo. Hoje, quando se ouve este texto, muitos dizem:
“Ah! Isso faz dois mil anos, não vale mais”. Jesus, depois de
muitos séculos de Gênesis até Mateus 19, não desfaz a união
indissolúvel, mas a preserva. O Evangelista ressalta que
Jesus diz: “no princípio não era assim”, por isso, à Igreja só
cabe dizer: “no princípio e na época de Jesus não era assim”,
hoje também Ele continua a afirmar que o Casamento é
uma Instituição para sempre.
Não assumir isso é não assumir a proposta de Jesus.
A Igreja pode mudar aquilo que Jesus propõe? Não! Ela
obedece e ajuda a conscientizar sobre os seus benefícios.
Importante lembrar a semelhança daquilo que falam os
discípulos: “Se a condição do homem em relação a mulher é
assim, é melhor não casar (v. 10)”, assim dizem muitos hoje:
“Se casar é viver toda a vida, é melhor morar juntos”. Será
que a dignidade e o valor inestimável da pessoa humana
condizem com simplesmente “morar juntos” ou o amor
humano merece um compromisso sacramental, que espelhe
o amor de Deus pelo seu povo? O divórcio aparece naquela
época como parte da dureza de coração, e hoje pela má
formação moral e religiosa de muitos.
O terceiro e último texto é 1Coríntios 7, 1-11, quando
São Paulo fala de alguns pormenores do Casamento,
assim como fala da sua vocação celibatária. Ele tem muita
convicção da sua vocação, por isso, diz: “gostaria que todos
fossem como EU”, mas ele sabe que muitos têm a vocação
para se unir com outra pessoa, o que deve ser trabalhado
para proporcionar que isso ocorra segundo o plano de Deus,

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isto é, seja um homem para uma mulher e vice-versa.
Depois ele fala das tentações bem humanas que podem
acontecer no Matrimônio, inclusive das cotidianas. Portanto,
quem casa deve saber que existe, dentre outros, um aspecto
também importante, a vida afetiva-sexual, que não pode ser
fruto do imediatismo dos desejos do homem ou da mulher,
mas do namorar, cortejar sempre, para que não se neguem
um ao outro, a não ser em casos muito sérios. Ele chega
a afirmar que o corpo de um pertence ao outro e não a si
mesmo, mas isso não é de modo brusco, não é o ato sexual
por si só.
O Papa São João Paulo II nos traz uma forma diferente
de enxergar o outro. Ele nos faz ver que precisamos ver a
pessoa do cônjuge na sua unidade de corpo e alma. Se só
o corpo do outro nos atrai, estaremos interessados apenas
no aspecto material. Essa é a mesma atração que temos
pelos objetos, e uma pessoa não é um objeto, mas uma
unidade. Se só a beleza corporal do outro despertar nosso
interesse, o que veremos quando o envelhecimento chegar?
Há exemplos lindos de matrimônios que duram dezenas e
dezenas de anos justamente porque um enxergou no outro
uma criatura especial criada por Deus, na sua unidade
física e espiritual que não perde sua beleza com o passar
do tempo.

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