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A alegria que nasce na humilhação

(imagem aqui)

"O homem que realmente chora por causa de seu estado e condição pecaminosos é o
homem que haverá de arrepender-se; e, na verdade, ele já começou a arrepender-se. E o
homem que verdadeiramente se arrepende, em resultado da obra do Espírito Santo, é o
homem que certamente será conduzido aos pés do Senhor Jesus. Tendo-se conscientizado
de sua extrema pecaminosidade e desamparo, passa a buscar um Salvador, e encontra esse
Salvador em Jesus Cristo".

Martyn Lloyd-Jones

***

Quero inaugurar esta coluna alertando sobre uma necessidade cada vez mais urgente para
nossa comunidade. Precisamos resgatar um conhecimento precioso sobre a verdadeira
jornada cristã. Nela, a alegria é precedida do choro e isso é especialmente verdadeiro
quando essa marcha se inicia.

A verdadeira conversão não se dá mediante pulos de alegria, mas sim mediante a


humilhação de mim mesmo, ao me reconhecer pecador, imperfeito, incapaz de salvar-me.

Essa é a chamada que o profeta Joel faz ao povo que, insistentemente, mantinha-se de olhos
fechados para seus próprios pecados, enquanto Deus constantemente os alertava com juízos
terríveis (Joel 1:4-7), até que o juízo definitivo viesse (Joel 2:1). Diz assim o profeta:

“Todavia ainda agora diz o Senhor: Convertei-vos a mim de todo o vosso coração; e isso
com jejuns, e com choro, e com pranto. E rasgai o vosso coração, e não as vossas vestes; e
convertei-vos ao Senhor vosso Deus; porque ele é misericordioso e compassivo, tardio em
irar-se e grande em benignidade, e se arrepende do mal (...) congregai o povo, santificai a
congregação, ajuntai os anciãos, congregai os meninos, e as crianças de peito; saia o
noivo da sua recâmara, e a noiva do seu tálamo”. (Joel 2:12-13, 16)

É como se Joel provocasse ao povo, dizendo: Vocês estão se alegrando e festejando o quê?
A calamidade está em nossa porta, cessem os sorrisos, até os noivos ignorem sua alegria,
pois a tragédia já nos espera e a culpa é nossa!

Algo parecido ocorre com o profeta Isaías, desta vez não mediante profecia, mas em sua
própria experiência. Ao vislumbrar a santidade e perfeição de Deus numa visão, Isaías se
escandaliza de si mesmo e brada: ai de mim, estou perdido! (Isaías 6:5). Ele viu a si mesmo
confrontado com a perfeição divina.

Vejam também o que ocorre com o povo do exílio que retorna para reconstruir Jerusalém e
seu templo. Ao serem confrontados com as verdades recém-compreendidas da Lei,
percebendo o quão distantes estavam da vontade de seu Deus, põem-se a chorar (Neemias
8:9). O choro que antecede a verdadeira conversão, ou o que muitos chamam de
“quebrantamento do coração”.
É após esse descortinamento de quem eu sou, do reconhecimento de meu valor ínfimo, que
poderei ser alguém pobre de espírito (cf. Mateus 5:3), e por causa dessa pobreza, eu choro,
eu me angustio, eu me desespero.

Entenda que, a pobreza de espírito, ou humildade de espírito ao qual Jesus tão solenemente
nos ensina, não se trata de uma simples qualidade de quem não é arrogante nem se sente
superior às outras pessoas, o que por sinal é uma boa qualidade a ser cultivada.

Mas não, Jesus se referia a outro sentido, muito mais profundo e espiritual. Pobreza ou
humildade de espírito, neste trecho do sermão do monte, se refere ao mesmo sentimento de
Isaias ao perceber o quanto era imperfeito diante de perfeição divina, é o sentimento de
quem finalmente percebe que ele não era tudo aquilo que pensava ser, não era tão valoroso,
antes não passava de um pobre pecador, cego e nu.

Porém esse choro causado pela recém descoberta de que não somos, de fato, como o “puro
ouro de Ofir” é apenas a passagem para algo grandioso. Logo seremos consolados. Esse
reconhecimento, essa dor, esse choro precede o descobrimento do Salvador (Mateus 5:4).
Ele virá e me consolará com seu próprio sacrifício. Ele me resgatou e agora eu sou um bem
aventurado! Mas não antes da pobreza de meu espírito, não antes de meu choro. O choro
por descobrir quem eu sou.

“Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus. Bem-


aventurados os que choram, porque eles serão consolados”.

Todo esse processo é gerado pelo próprio Deus, tendo como ferramenta para tal o seu
Evangelho. Sem evangelho não há arrependimento, não há quebrantamento, não há
salvação.

E isso nos confunde bastante, pois a falta de Evangelho tem gerado risos, festas e
comemorações, sendo difícil se convencer de que tanta alegria não seja uma manifestação
genuinamente cristã. Essa é a nossa urgência. Precisamos desesperadamente entender que a
verdadeira conversão é precedida de choro, de tristeza, de percepção de nossa própria
sujeira e somente após isso virá a consolação e a alegria da salvação. O Evangelho grita
essa verdade, mas estamos ocupados demais festejando para que possamos ouvir.

Mensagens diversas desta (do Evangelho) podem até nos animar por algum tempo, mas
logo nossa desgraça se escancara, cessando apenas com a água da vida, mediante a qual
nunca mais teremos sede.

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