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Como se arrepender

Por: James MacDonald

O texto a seguir foi adaptado de uma mensagem ministrada na


Conferência “Heart-Cry for Revival” (Clamor do Coração por
Avivamento) em abril de 2008, na Carolina do Norte, EUA.

Em determinada época da minha vida, tive um sonho que Deus


usou para falar comigo. Eu estava passando por um período muito
seco, espiritualmente. Começava a orar por algo e logo mais
parecia estar mendigando do que orando. Tome muito cuidado
com essa atitude de mendigar a Deus por coisas, porque passa a
ideia de que precisa mais daquela coisa do que dele. É como se
estivesse dizendo: “Tu não és suficiente para mim, Senhor;
preciso daquilo”.

Eu conhecia bem as promessas das Escrituras, como, por


exemplo: “…tudo quanto em oração pedirdes, crede que
recebestes, e será assim convosco” (Mc 11.24). Eu reivindicava o
cumprimento de tais promessas – e quando isso não acontecia,
ficava desapontado. Comecei a pregar uma série de mensagens na
igreja, intitulada Deus está operando mesmo quando não posso
vê-lo, porque nenhum outro tema fazia sentido para mim. Orava e
jejuava e dizia: “Senhor, não posso continuar assim. Não posso
mais ministrar se não sair desse lugar seco”.

Foi então que tive o sonho. No sonho, vi Deus operando de forma


muito poderosa, como só acontece em sonhos. Vi Deus passando
pelo país inteiro, como um rio inundando e lavando a terra. Fiquei
ali, observando, e uma imensa alegria enchia meu interior, alegria
verdadeira, alegria de alma. Superava e ofuscava tudo que antes
eu conhecesse por alegria.

Quando me levantei de manhã, havia um esboço na minha mente.


Tinha estes cinco pontos:
1. Deus no trono: um quadro de santidade. 
Precisamos voltar a vê-lo assim. Perdemos a visão de um Deus
elevado e exaltado. Deus é glória inefável. Ele habita em luz
inacessível. Ninguém pode ver Deus e viver. Nosso Deus é um
fogo consumidor (Hb 12.29). Horrível coisa é cair nas mãos do
Deus vivo (Hb 10.31). Precisamos voltar a ver Deus no trono: um
quadro de santidade.

2. Pecado no espelho: um quadro de quebrantamento.


Na igreja, hoje, vemos pecado nos jornais e na vizinhança;
conseguimos enxergar pecado por toda parte, menos no espelho,
quando estamos olhando para nós mesmos. A maioria dos cristãos
é muito deficiente quando se trata de enxergar seu próprio pecado.
Se você perguntar a um cristão típico: “Em que aspecto de sua
vida Deus está tratando agora, no sentido de santificá-la? O que
ele está fazendo?”, ele responderá: “Não sei”.

3. O ego na lama: um quadro de arrependimento.


Queremos subir a níveis mais elevados, mas não queremos descer
antes. Toda nossa celebração superficial nunca toca o âmago da
questão. Isaías dizia que eram “ofertas vãs” (Is 1.13). O ego na
lama significa descer aos lugares mais humilhantes. Até onde seu
ego já foi rebaixado?

4. Cristo na cruz: um quadro de graça.


A graça só é impressionante quando é vista como o remédio para
um problema visto e reconhecido. Graça sem pecado é inútil. É
um remédio para uma doença que não admito possuir. Por outro
lado, quando você vê pecado no espelho e o ego na lama, a graça
é incrivelmente maravilhosa.

5. O Espírito no controle: um quadro de poder.


O Senhor me deu Oséias 6.1-3 como tema desse esboço: “Vinde,
e tornemos para o Senhor, porque ele nos despedaçou, e nos
sarará; fez a ferida, e a ligará…” Eu amo especialmente esta
promessa: “Como a alva a sua vinda é certa”. O sol nasceu hoje
de manhã? Então, da mesma forma, Deus saiu para realizar sua
obra no mundo, assim como faz todos os dias.
Primeiro passo no avivamento

Meu tema é o ponto central na lista acima: o ego na lama: um


quadro de arrependimento. Arrependimento é o funil pelo qual
passa todo avivamento. Você quer que seu coração seja tocado?
Quer alcançar um lugar mais alto em Deus? Comece com
arrependimento.

A palavra avivamento não está na Bíblia como substantivo. O


verbo avivar (vivificar), porém, está. “Vivifica-nos, e
invocaremos o teu nome” (Sl 80.18). “Desvia os meus olhos para
que não vejam a vaidade, e vivifica-me no teu caminho” (Sl
119.37). “Estou aflitíssimo; vivifica-me, Senhor, segundo a tua
palavra” (Sl 119.107, uma oração durante tempo de provação).

Arrependimento é o primeiro passo para o avivamento. Uma


passagem clássica no Novo Testamento encontra-se em 2
Coríntios 7, que mostra uma verdade importante: arrependimento
é uma boa coisa.

A igreja em Corinto era uma igreja problemática. Era composta


de pessoas mundanas, sectárias, carnais. Paulo escreveu algumas
cartas aos coríntios, duas das quais foram preservadas no Novo
Testamento. Além disso, ele passou pela cidade de Corinto várias
vezes.

As coisas que estavam acontecendo lá estavam entristecendo o


coração de Paulo. Na segunda carta aos Coríntios, ele faz
referência a uma carta anterior: “Porquanto, ainda que vos tenha
contristado com a carta, não me arrependo; embora já me tenha
arrependido (vejo que aquela carta vos contristou por breve
tempo)…” (2 Co 7.8).

Nessa carta anterior, ele havia escrito, com termos bem fortes,
mais ou menos o seguinte: “Vocês estão fazendo isso e aquilo.
Parem de agir assim!” Paulo os amava e sabia que era difícil para
eles ouvir palavras como essas. Dá a impressão de que ele teve
alguns momentos de dúvida. “Será que falei demais? Fui duro
demais com eles? Eu os amo. Não quero afastá-los.” Se você já
passou por algo assim, sabe que esse tipo de situação parte o
coração. Você não quer falar muito. Se não dá para apanhar o
fruto, pelo menos não o machuque!

Entretanto, a igreja em Corinto precisava ouvir essas palavras, e


alguém precisava dizê-las. Paulo disse que foram contristados ou
feridos pela verdade apenas “por breve tempo”. Por quê? O
Espírito Santo penetrou seus corações, sentiram-se contristados
(com convicção de pecados) e se arrependeram.

Paulo escreveu: “Agora me alegro, não porque fostes


contristados, mas porque fostes contristados para
arrependimento” (v. 9). Em outras palavras, Paulo disse: “Agora
estou tão feliz que disse aquelas palavras. Foi duro por um tempo.
Eu não os queria perder, mas agora vejo que o Espírito Santo usou
minhas palavras para trazer convicção, e isso quebrantou seu
coração. Agora vocês se arrependeram, e estou muito contente
que Deus tenha feito isso”.

Eis a chave: arrependimento.

Arrependimento em toda a Bíblia

Era essa a mensagem que se ouviu da boca de cada mensageiro


bíblico. É impossível não percebê-la no Velho Testamento. Todos
os profetas pregavam a mesma mensagem: “Arrependa-
se!”. Ezequiel, Isaías e Oséias a pregavam: “Arrependa-se!”. A
mesma mensagem foi pregada vez após vez após vez. Por quê?
Porque é o funil pelo qual passa toda graça! Se Deus conseguir
nos levar a um lugar de arrependimento, a partir daí tudo será
abençoado. Contudo, enquanto não chegarmos a essa posição,
nosso serviço para o Senhor será ineficaz.

Alguns argumentam que os entusiastas por avivamento só pregam


do Velho Testamento. Vá ao Novo Testamento, então. Veja João
Batista; sobre o quê ele pregava? “Arrependei-vos, porque está
próximo o reino dos céus” (Mt 3.2). E os discípulos? Em Marcos
6.12, lemos que “saindo eles, pregavam ao povo que se
arrependesse”. E, em Lucas 15.7, que “haverá maior júbilo no
céu por um pecador que se arrepende do que por noventa e nove
justos que não necessitam de arrependimento”.

E na igreja primitiva? No dia de Pentecoste, mais de 3 mil pessoas


se converteram. Qual foi o assunto naquela
ocasião? “Arrependei-vos!” Era esse o assunto em Atos 2. E,
novamente, em Atos 3.19,20: “Arrependei-vos, pois, e convertei-
vos para serem cancelados os vossos pecados, a fim de que da
presença do Senhor venham tempos de refrigério…”

Vocês querem tempos de refrigério, querem mesmo?


Arrependam-se, para que venham tempos de refrigério. E a
exortação em Atos 17.30: “Ora, não levou Deus em conta os
tempos da ignorância; agora, porém, notifica aos homens que
todos em toda parte se arrependam”.

Talvez você pense que era essa a mensagem dos apóstolos, mas
não o coração de Jesus para nós. Leia Apocalipse
2.16: “Portanto, arrepende-te…”. Foi a mensagem de Jesus para
a igreja em Pérgamo. “…e se não, venho a ti sem demora, e
contra eles pelejarei com a espada da minha boca.” Em
Apocalipse 3.19, Jesus diz: “A quantos amo…” Hoje, que tipo de
mensagem daríamos à Igreja? “A quantos amo, eu abençoo?
Paparico? A quantos amo, favoreço com toda sorte de
maravilha?” Não é assim que Jesus age. “Eu repreendo e
disciplino a quantos amo. Sê, pois, zeloso e arrepende-te.” Esse é
o coração do Senhor para nós hoje, desejando que alcancemos um
lugar de genuíno arrependimento.

O que é arrependimento?

Eu acho que a maioria das pessoas não sabem o que é


arrependimento. Elas vivem a vida cristã e o processo de
santificação de acordo com 1 João 1.9: “Se confessarmos os
nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e
nos purificar de toda injustiça”. “Se confessarmos os nossos
pecados…” – você sabe o que isso significa? Eu ouvi um
estudioso da Bíblia dizer uma vez que confessar significa dizer o
que Deus diz. O que Deus diz sobre pecado? Ele diz que é
pecado. Então, o que eu digo? “É pecado, Deus. Perdoa-me,
Deus, eu pequei novamente.” 1 João 1.9 diz: “…fiel e justo para
nos perdoar”. “Sinto muito, Deus. Perdoa-me, Deus.” Que
conceito medíocre de confissão!

Antes que você possa dizer o que Deus diz sobre pecado, você
precisa ver o que ele vê. Arrependimento é o processo de ver o
que Deus vê. Você nunca confessará de verdade enquanto não se
arrepender antes. Confissão é fácil se vier depois do processo
extremamente difícil de arrependimento. Se arrependimento fosse
fácil, todos estariam se arrependendo. A maioria dos cristãos está
presa em um ciclo de pecado, confissão, pecado, confissão,
pecado, tomando posse da graça, citando 1 João 1.9 – mas sem
qualquer mudança. Arrependimento é o processo de ver o pecado
como Deus o vê. Não é uma coisa fácil de se fazer.

Arrependimento é mudança em todas as maneiras e em todos os


níveis. Arrependimento não é mudar de cônjuge, de emprego, de
endereço ou de amigos. Arrependimento é mudar no lugar em que
é mais necessário. Arrependimento é mudar o interior da pessoa –
a maneira como penso, como vejo, como sinto. Arrependimento
não leva à mudança; arrependimento é mudança. Arrependimento
é reconhecer o pecado pelo que é seguido por uma tristeza do
coração e culminando em uma mudança de comportamento. Você
não se arrepende, e arrepende, e arrepende, e arrepende sobre as
mesmas coisas, vez após vez. Não é que não possamos ter
recaídas, mas arrependimento é mudança. Não penso mais sobre o
pecado da mesma forma.

Arrependimento é minha mente, minhas emoções, minha vontade;


é a totalidade de quem eu sou. Pense sobre a história do filho
pródigo (Lc 15.11-32). Ele roubou a herança e acabou indo morar
com porcos. Então, de repente, a Bíblia diz que ele caiu em si.
Teve uma mudança de mente.

A Bíblia diz que arrependimento é um ato realizado em Deus (Jo


3.21). Você não o consegue fazer por si mesmo. Em Atos 5.31,
diz: “Deus, porém, com a sua destra, o exaltou a Príncipe e
Salvador, a fim de conceder a Israel o arrependimento e a
remissão dos pecados.” Deus oferece isso a você. E veja em Atos
11.18: “E ouvindo eles estas coisas, apaziguaram-se e
glorificaram a Deus, dizendo: Logo, também aos gentios foi por
Deus concedido o arrependimento para a vida”.

Em 2 Timóteo 2.25, encontramos uma passagem clássica sobre o


arrependimento ser uma obra de Deus. Paulo diz que os servos de
Deus devem disciplinar “com mansidão os que se opõem, na
expectativa de que Deus lhes conceda não só o arrependimento
para conhecerem a verdade…”.

Você não consegue ver a verdade por si mesmo. Se você ou


alguém que você ama é prisioneiro do pecado, fica impossível
para vocês enxergá-lo. Quando o filho pródigo estava naquele
chiqueiro e voltou à razão, foi porque Deus o havia tocado. De
repente, ele olhou em volta de si e pensou: “O que estou fazendo
aqui?”.

Portanto, em primeiro lugar, ele teve uma mudança de mente.


Depois teve uma mudança de coração. Ele teve este sentimento:
“Não sou mais digno de ser chamado filho. Mereço ser escravo”.
Passou a pensar de modo diferente sobre si mesmo. Antes ele
estava inchado, mas depois voltou à razão e caiu em si.

Ele teve uma mudança de mente e uma mudança de coração, mas


ainda faltava uma outra parte do arrependimento. Quando alguém
realmente está se arrependendo, a vontade começa a unir-se à
mente e a formar um plano. “Levantar-me-ei e irei ter com meu
pai e lhe direi…” Quando a pessoa está verdadeiramente
arrependida, não precisa dizer-lhe o que fazer. Ela descobre por si
mesma quando Deus faz a obra em seu coração. Arrependimento
é mente, é emoção, é vontade.

Arrependimento antes de avivamento

Todas as bênçãos que Deus quer derramar para nós vêm através
deste funil de arrependimento; arrependimento em mim antes de
avivamento em mim. Quando foi a última vez que Deus tratou
com você por algum pecado? Quando foi a última vez que seus
olhos se encheram de lágrimas por causa da obra incompleta de
santificação em sua vida? Quando foi a última vez que Deus
quebrantou seu coração por causa da lacuna entre Jesus e você?
Quer avivamento? Arrependimento é o ponto de partida.

Algumas categorias de pecado

O Espírito de Deus não traz convicção sobre generalidades. O


Espírito de Deus é como um cirurgião: “Isto precisa ser cortado”.
Vamos começar a sondar:

A primeira categoria é orgulho, a segunda é prazer e a terceira


é prioridade. Sob a categoria de orgulho: orgulho sobre
sua posição. Se você quer ser apresentado, se quer ser conhecido,
se quer ser reconhecido, se tem uma posição e está ansioso que os
outros saibam quem você é ou o que conquistou, você tem um
problema de orgulho. Orgulho é anti-Deus; onde há orgulho, Deus
não está.

Logo depois vem o orgulho de prestígio – meu status. Eu preciso


de aplauso, preciso de reconhecimento. Depois vem orgulho
de poder. “Não preciso de posição e prestígio; tenho poder. Eu
governo minha casa.” Dominar os outros, usar minha influência é
orgulho. Deus é capaz de humilhar aqueles que andam em
orgulho (Daniel 4).

Uma segunda categoria de pecado é prazer. Prazeres não são


errados, mas desejá-los com a intensidade errada, na hora errada
ou com a pessoa errada torna o prazer pecado. O primeiro na
categoria de prazer é sexo: minhas necessidades, quando quero, da
maneira que quero, aquilo que quero. É pecado. E, em segundo
lugar, uma substância, legal ou ilegal. “Eu tenho que possuir ou
conseguir isto.” A compulsão de ter algo além de Deus é pecado.
Não esteja sob o domínio de nada além de Deus, seja uma pessoa,
uma situação ou uma substância legal ou ilegal. Pela graça de
Deus, como seguidor de Jesus, não aceito estar sob o domínio de
coisa alguma. Se eu estiver, é pecado.
Em seguida vêm “coisas”. Dizemos a nós mesmos: sei que vou
ser feliz quando eu tiver aquele carro, aquela casa, aquela viagem,
etc. Por um lado, há pessoas que pensam que as coisas são más
em si mesmas e querem fazer votos monásticos. Isso não leva à
santidade. Por outro lado, há pessoas que pensam que bênção e
riqueza são a mesma coisa. Precisamos de equilíbrio. Salmo 62.10
diz, “…se as vossas riquezas prosperam não ponhais nelas o
coração”. Não é errado ter coisas; é errado que elas me possuam!
Deus não divide o trono com ninguém. Quando penso que coisas
materiais podem me dar felicidade, me satisfazer e me dar algo
que só Deus pode dar, isso é idolatria. Se é idolatria, é pecado.

Em terceiro lugar, tem uma categoria geral de prioridades, o bem


que não foi feito. Tiago diz que se você sabe fazer o bem e não o
faz, é pecado (Tg 4.17). A primeira prioridade é com relação de
não cuidar de mim mesmo. O meu corpo é templo do Espírito
Santo, e não cuidar de mim – comer excessivamente, não se
exercitar, trabalhar demais, não ter lazer, não ser uma pessoa
equilibrada ou não viver de maneira saudável – é pecado. Preciso
cuidar de mim mesmo. Quero servir a Deus por quantos dias ele
me der, mas servir demais ou ter lazer demais não é honrar a
Deus. Precisamos de equilíbrio.

A segunda prioridade é os outros. Deus dá valor aos


relacionamentos e às pessoas. Seja amável, bondoso, perdoador.
Abrigar no coração ressentimento e falta de perdão como
resultado de alguém que me feriu é um câncer para a alma, e é
pecado. Precisamos arrepender-nos disso. “Estou errado, Deus,
não posso guardar isso contra ela. Preciso liberá-la disso”.

Guardei o melhor para o final – o maior prioridade é Deus em


primeiro lugar. Deus primeiro em meu dia, Deus primeiro em
minha semana, primeiro e com a maior prioridade em minha
vida. “Não terás outros deuses diante de mim” (Êx 20.3).

Avivamento é apenas um sonho até que sejamos específicos e nos


arrependamos de pecados específicos. Não apenas dizer: “Ó
Deus, quero ser um cristão melhor”. Precisamos nos arrepender.
Marcas de arrependimento

Em 2 Coríntios 7, vemos cinco marcas de genuíno


arrependimento. Uma base bíblica para identificar marcas de
arrependimento é Lucas 3.8: “Produzi, pois, frutos dignos de
arrependimento”. Em outras palavras, embora não possa ver
dentro do seu coração, quando o arrependimento existe no
coração, este é o fruto que estará na árvore. Jesus disse: “Pelos
seus frutos os conhecereis” (Mt 7.20). Então, podemos saber se
alguém está arrependido, mas talvez não de imediato. A pessoa
pode fazer a oração, dizer as palavras e derramar as lágrimas, e,
com o tempo, você verá os frutos. É por isso que lemos em Atos
26.20: “…que se arrependessem e se convertessem a Deus,
praticando obras dignas de arrependimento”.

A primeira marca de verdadeiro arrependimento é tristeza pelo


pecado. Paulo diz em 2 Coríntios 7.9-10: “…fostes contristados
segundo Deus… Porque a tristeza segundo Deus produz
arrependimento para a salvação”.

A expressão mais clara sobre os sentimentos que acompanham o


arrependimento em toda a Palavra de Deus é tristeza. Mas nem
toda a tristeza é arrependimento. O apóstolo Paulo diz que tristeza
segundo o mundo é algo como: “Estou triste por sentir-me tão
mal”, “Sinto muito que fui descoberto”, “Sinto muito por ter
prejudicado tanto minha imagem”, “Sinto muito porque não
gostas disso, Deus”. É um “Sinto muito por mim…”, “Sinto
muito por mim…” em contraste a uma verdadeira tristeza de
coração pelo que fiz contra Deus.

O pecado é antes de tudo uma rejeição a Deus. O pecado diz: “Tu


não tens razão sobre isso, Deus. Não vou sofrer por isso, Deus. Tu
não podes satisfazer esta necessidade em mim, Deus. Eu preciso
possuir isso, Deus”. Pecado é uma rejeição a Deus. Genuíno
arrependimento é uma rejeição desse pensamento errado. Começa
com uma tristeza santa, angústia da alma. A primeira marca de
verdadeiro arrependimento é tristeza pelo pecado. Só Deus pode
concedê-la.

A segunda marca é repulsa pelo pecado. Veja o versículo


11: “Porque quanto cuidado não produziu isto mesmo em vós
que, segundo Deus, fostes contristados!” O verdadeiro
arrependimento de coração é óbvio, é zeloso, tem pressa,
diligência. “Estou farto de minha boca fofoqueira.” “Não aguento
mais meu olho lascivo.” “Estou cheio desse vício debilitante.”

Note no versículo 11: “que indignação”, um sentimento de forte


desconforto e oposição em que o objeto antes desejado se torna
repulsivo. “Não desejo aquilo mais. Não o suporto.” Então um
dos frutos do arrependimento é repulsa. É quando “nada
disponhais para a carne no tocante às suas
concupiscências” torna-se realidade (Rm 13.14). Só Deus pode
conduzi-lo para um lugar onde você cai em si e vê o pecado pelo
que realmente é.

Eu acredito, porém, que você pode cultivar um coração


arrependido. Você pode buscar ao Senhor. “…arai o campo de
pousio; porque é tempo de buscar ao Senhor, até que ele venha, e
chova a justiça sobre vós” (Os 10.12), e: “Buscar-me-eis e me
achareis quando me buscardes de todo o vosso coração” (Jr
29.13). Você pode buscar a Deus por arrependimento. Se pedir
pão, ele lhe dará uma pedra? Deus não é relutante em conceder
arrependimento, mas não creio que seja algo fácil de se conseguir:
tristeza pelo pecado e repulsa pelo pecado. “Que cuidado… que
indignação…”

A terceira característica do arrependimento é restituição a


outros. Note também que em 2 Coríntios 7.11 Paulo diz: “que
defesa”. É a ideia de empenhar-se para consertar as consequências
do pecado. Quando você está realmente arrependido, você não vê
a hora de acertar tudo com as pessoas que seu pecado feriu.
Muitas pessoas na igreja dizem estar bem com Deus, mas não
estão bem com aqueles que foram feridos pelo seu pecado. “Se
possível, quanto depender de vós, tende paz com todos os
homens” (Rm 12.18).

Que Deus nos perdoe por afirmarmos que estamos bem com ele,
levantando mãos “santas” para ele, ao mesmo tempo em que
ignoramos totalmente como nosso pecado afetou outros.
Versículo 11 diz: “Em tudo destes prova de estardes inocentes
neste assunto”. Você já fez tudo o que poderia ser exigido.
Empenhou-se para ver o relacionamento restaurado.

Quando arrependimento é muito difícil

Há duas categorias de pecado em que arrependimento e


restituição são muito difíceis. A primeira é oportunidade
desperdiçada. Você joga fora uma oportunidade; como se
arrepende disso? Uma garota teve um aborto. Como pode
consertar isso? Um homem divorciou-se de modo não-bíblico.
Agora sua primeira esposa já está casada com outro. Como se
arrepende disso?

Um casal tinha três filhos; o marido e a mulher trabalhavam fora.


Eram ricos e muito ocupados. Seus filhos tinham tudo, menos os
pais. Agora, depois de adultos, os filhos não querem nada com
Deus. Como se arrepende disso? É muito difícil arrepender-se de
oportunidades desperdiçadas.

A segunda categoria é de prazeres consumidos. É extremamente


difícil arrepender-se de um prazer consumido: uma explosão de
raiva, uma bebedeira, um envolvimento homossexual,
contemplação particular de pornografia, hábitos de glutonaria,
uma forte compulsão, uma procura consciente, uma escolha
deliberada, um prazer consumido.

“Estou dizendo que sinto muito, Deus. Acho que estou


arrependido. Quero estar arrependido, mas sempre faço
novamente.” Veja Esaú (Hb 12.16-17). Ele não encontrou o
arrependimento, apesar de tê-lo buscado diligentemente com
lágrimas. Por quê? Ele era uma pessoa profana. Vendeu seu
direito de primogênito por um prato de comida. Pecou contra a
verdade, e isso ao ponto de não se importar mais.

Você pergunta: “Pode ser tarde demais para uma pessoa?” Sim. O
Espírito de Deus não contenderá para sempre com todos os
homens (Gn 6.3). “É tarde demais para mim?” Se você ainda se
importa, então não é. Esaú não conseguia mais se importar. Só se
importava consigo mesmo. Às vezes a restituição é muito difícil.
Como se faz restituição por uma oportunidade perdida? Como se
faz restituição por um prazer consumido? É por isso que o pecado
é tão sério.

Graças a Deus, há boas novas também. Um quarto sinal de


verdadeiro arrependimento é renovação para com Deus. Paulo
diz em 2 Coríntios 7.11, “…que temor”. Temor é a atitude do
coração que busca um relacionamento correto com aquele a quem
se teme. “O temor do Senhor é o princípio da sabedoria” (Sl
111.10). Quando você vive em um estado de não arrependimento,
você não teme a Deus. Você faz o que quer. Mas quando se
arrepende, você tem esse temor em sua vida, temor de estar em
um relacionamento errado com Deus, de perder seu favor, de
fazer algo para descrédito de seu nome, ou de perder sua bênção.
É doloroso lidar com desapontamento e injustiça, mas eu
preferiria sofrer a injustiça do que exercer a vingança por mim
mesmo, porque temo a Deus.

Paulo diz “que temor, que saudades, que zelo”. Isso é


avivamento, renovação! E veio do arrependimento. Zelo é uma
paixão central pelas coisas do Senhor, um renovado interesse após
um período de indiferença ou declínio, é experimentar e desfrutar
mais de Deus em minha vida. É ser renovado para com Deus!

A característica final de arrependimento genuíno é prosseguir


adiante, não olhar para trás. Note o que diz em 2 Coríntios
7.9: “…de nossa parte, nenhum dano sofrêsseis”. Paulo está
dizendo que não estava desperdiçando o tempo deles. Não estava
falando de algum ponto trivial que não tem a ver com o melhor de
Deus para suas vidas. Pelo contrário, se você levar a sério esse
processo de arrependimento, sua vida alcançará níveis mais altos.
E depois note no versículo 10: “Porque a tristeza segundo Deus
produz arrependimento para a salvação, que a ninguém traz
pesar”. Se a tristeza segundo Deus produz arrependimento sem
pesar, o que a tristeza segundo o mundo produz? Pesar. Você sabe
que seu arrependimento não é genuíno se está se perguntando:
“Por que sou assim?”. Arrependimento é não pensar mais sobre o
passado. Arrependimento é uma experiência que muda a vida.
Arrependimento é “que Deus me ajude pelo resto de minha vida.
Vai ser diferente agora e nada irá me impedir”.

Até que ponto você está levando a santidade a sério? Não faça
provisão para a carne. Nenhuma! O fato mais impressionante
sobre o arrependimento é que ele produz tristeza genuína. Tristeza
do mundo produz lamento e pesar. Tristeza genuína, segundo
Deus é olhar para frente para aquilo que a partir de agora serei.
“Eu posso ser diferente, posso ser mudado, posso ser renovado –
se eu me arrepender…”

Tratando com pecados específicos

Senhor, sonda-me. Será que sou culpado de ira… ansiedade…


contenda… vícios… intolerância… amargura… pretensão…
dissensão… vaidade… desejo de dominar… excesso de
emotividade… temor da opinião de outros… cobiça… língua
crítica… engano… depressão… insensibilidade aos outros…
dependência de drogas… alcoolismo… inveja… falsa modéstia…
medo… sentimento de rejeição… sentimento de incapacidade…
sentimento de inferioridade… glutonaria… ganância… falsa
culpa… ódio… hostilidade… luxúria homossexual… idolatria…
impaciência… impulsividade… pensamentos impuros…
indiferença com outros… insegurança… intemperança… ciúme…
preguiça… isolamento dos outros… desejos carnais por prazer…
materialismo… negativismo… envolvimento em ocultismo…
teimosia… hipersensibilidade a outros… passividade…
preconceito… profanidade… transferência de culpa… disposição
a fofoca… rebeldia a autoridade… ressentimento… inquietação…
tristeza prolongada (inconsolável)… egocentrismo…
autoindulgência… autojustificação… autopiedade…
autoconfiança… justiça própria… autossuficiência…
sensualidade… luxúria… falta de perdão… inflexibilidade…
pavio curto… falta de amor… soberba… omissão… excesso de
trabalho?

Convido você a pensar sobre esses pecados específicos. Senhor,


queime o nosso coração sobre essas coisas. Sou culpado? Sou
assim? Deus, tu podes quebrantar meu coração com relação a
isso? Podes dar-me fé para acreditar que honras o arrependimento
genuíno a ponto de transformar-me? Posso quebrar o ciclo de
pecar, confessar, pecar, confessar – que me prendeu por tanto
tempo? Podes por teu Espírito remover por completo as
racionalizações que me mantiveram amarrado neste lugar?
Perdoa-me, Senhor, por ter me comparado com outros quando só
tu és o padrão. Santo, santo, santo é o Senhor dos Exércitos! Toda
a terra está cheia da tua glória!

James MacDonald é pastor da Harvest Bible Chapel, Rolling


Meadows, Illinois, EUA

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