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Inegável desejo cynthia rutledge

Inegável Desejo
Título original: Trish's not-so-little
secret
Autora: Cinthia Rutledge

Digitalização: Joyce
Revisão: Ana Paula

Um pequeno segredo...
A tímida, solitária e "gorducha" Trish nunca se esqueceu daquela noite de formatura,
quando entregou sua inocência ao atraente Jack Krieger para depois descobrir que ele
não a amava e, pior, descobrir em seguida que estava grávida.
Dez anos depois ela está de volta, transformada em outra mulher. Mais magra, elegante,
com outro apelido e com um filho. A cidade inteira ficou alvoroçada com aquela história
de Cinderela.
Mas Trish estava interessada apenas na reação de um homem...
Por quanto tempo Trish conseguirá esconder seu segredo? E Jack? Não perceberá a
marcante semelhança entre o menino e ele próprio? E o mais difícil, até quando ela
resistirá às investidas, românticas de Jack?

Projeto Revisoras
Inegável desejo cynthia rutledge

CAPÍTULO I

—Patty Bradley? É você?


Os dedos de Trish apertaram a haste do copo de cristal. Dez anos se haviam passado
desde a última vez em que ouvira aquela voz, mas reconheceu-a imediatamente.
Abafando o primeiro impulso de fugir, Trish tomou um gole de vinho e virou-se.
— Céus, Jack Krieger, que surpresa!
Cinco anos trabalhando em relações públicas foram bons para Trish. Sua voz, forte e
firme, não deu indicação do súbito aperto que sentira no peito ao vê-lo.
— Mal reconheci você. — Jack deu um passo atrás e fitou-a, abertamente admirado.
— Está linda!
— Você também não está nada mau — disse Trish, falando com voz calma.
Durante todos aqueles anos ela dissera a si mesma que ele não era tão atraente como se
lembrava. Mas estava absolutamente errada.
Os cabelos cor de café da juventude haviam mudado para um tom quente de castanho, e
os olhos azuis, um dia da cor do céu de verão, agora brilhavam como safiras escuras. Os
anos acrescentaram maturidade aos traços de menino. Se Jack havia sido atraente um
dia, estava fantástico em seus vinte e oito anos.
A vida, sem dúvida, fora boa para Jack. Seu sorriso era
autêntico e ele tinha a segurança de uma pessoa que conhecia seu lugar no mundo.
Ela devia odiá-lo. As mentiras de Jack, a trapaça, levaram o que restava de sua
inocência. Mas não era fácil a Trish odiar quem quer que fosse, muito menos Jack
Krieger. Contudo, não era tola. Nunca se esqueceria de como a usara.
Trish insistiu no olhar.
Jack tomou um gole de vinho e sorriu, pelo visto sem tomar conhecimento do olhar
dela.
— Não posso acreditar de como você mudou — afirmou, exibindo uma carreira de
dentes perfeitos. — Está muito linda!
— Obrigada. — Trish aceitou o elogio com naturalidade. Mesmo ela, que nunca tivera
tanta confiança em sua aparência, tinha de admitir que naquela noite estava bastante
bem. Muito atraente mesmo. Levara longo tempo aplicando a maquiagem, e vestira-se
com cuidado especial, tentando recuperar sua confiança seriamente sacudida pela
recente e inesperada perda do emprego.
Mas Trish sabia que o elogio de Jack tinha menos a ver com a maquiagem e a roupa que
ela usava, e mais com o corpo esbelto embaixo do vestido de seda. Mentalmente ele
enxergava a menina que fora na escola secundária, a menina bastante boa para com ela
dividir a cama, em segredo, mas não boa o suficiente para ser a namorada, em público.
Todos se lembravam da Gorda Patty.
Gorda Patty.
Trish suspirou. Como aquele apelido ainda a machucava! Mesmo os anos, a distância e
o sucesso na vida, não conseguiram apagar por completo a lembrança do cruel apelido
criado por seus colegas de classe.
Mas aquilo acontecera havia dez anos, e ela percorrera extenso caminho desde então.
Trish Bradley provara ser uma vencedora.
— Nunca pensei vê-la de novo — Jack disse enfim. — Depois da formatura tive a

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impressão de que você evaporara da face da terra.
— Mal posso pensar que Washington seja fora da face da terra.
— Para nós era como se fosse. Ninguém sabia por onde você andava. Nunca nem ao
menos escreveu.
Trish sorriu e sacudiu os ombros, não por achar que cortar os laços com Lynnwood
houvesse sido fato sem importância. Na realidade, fora a primeira das muitas decisões
difíceis que tivera de tomar.
— Querida, não vai me apresentar? — Pete Minchow, o amigo que saíra com Trish
naquela noite, aproveitou um minuto de silêncio para entrar na conversa.
— Pete, acho que você não conhece... — Trish começou a falar.
— Não me lembro de nos termos visto antes. — Jack estendeu a mão a Pete. — Meu
nome é Jack Krieger, sou um velho amigo de Patty, da escola secundária.
Trish teve vontade de gritar. Lá vinha ele outra vez trazendo o passado com aquele
apelido ridículo. Porém, não parecia tão ridículo quando ele o dizia. Enfim, nunca fora,
no caso dele.
— Pete Minchow. — Pete apertou a mão de Jack. Natural do Texas, o rapaz tinha o
aspecto de um bonachão homem do campo. Mas Trish sabia que, sob aquele exterior,
batia o coração de um esperto homem de negócios. — É um prazer conhecê-lo — Pete
acrescentou. — Qualquer amigo de Trish é meu amigo.
— Trish? — Jack franziu a testa. — Onde foi parar Patty?
— Patty? Gosto desse nome — Pete comentou.
— Bem, mas eu não gosto — Trish protestou. — E se você me chamar por esse nome,
será um homem morto.
Pete primeiro arregalou os olhos e depois disse, rindo muito:
— Tenho de me lembrar disso.
— Você trabalha para o governo, Pete? — Jack perguntou, como se estivesse de fato
interessado no que Pete iria responder. Tinha o mesmo olhar de quando se sentava no
balanço do terraço da casa de Trish, em Lynnwood, e ela lhe contava tudo o que
acontecera em seu dia.
Trish sentiu um aperto no coração ao se lembrar disso.
— Pete é dono do próprio negócio. — Trish fitou o alto texano, de súbito grata por ter
um homem tão atraente a seu lado. — Não está na política nem dedica a vida inteira a
esse jogo.
— Pensei que todos nesta cidade tivessem algo a ver com política.
— Céus, não! — Pete deu uma gargalhada. — Estou no negócio de carros. Carros
novos, usados, compro, vendo, alugo, faço qualquer coisa com carros. Somos os
maiores revendedores da GM da costa leste.
— Mesmo? — Jack comentou. — Impressionante.
As palavras soaram sinceras, e Trish concordou com o fato. Afinal de contas, estavam
em uma cidade onde se comia, se dormia, se respirava política. Poucos pensariam em
uma agência de carros como um bom negócio.
— Você e Patty namoram há muito tempo? — Jack perguntou.
— Você quer dizer Trish? — Pete olhou-a, piscou e bebeu um gole de vinho. — Quanto
tempo, querida? Cinco, seis meses?
— Mais ou menos isso — ela respondeu, grata a Pete por não dizer nada sobre a
natureza do relacionamento deles. Eram apenas amigos que se entendiam bem.
Acompanhava-o em algumas festas quando ele necessitava de sua companhia, e vice-
versa.
Fora a necessidade de entrar em contato com pessoas que poderiam lhe arranjar um
emprego o que fizera Trish cancelar a ida ao cinema com Tommy e aceitar o convite de

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Pete para comparecer a uma festa. A oportunidade era perfeita no sentido de fazer
contatos e encontrar uma nova posição.
Havia dois meses perdera seu trabalho e logo que suas economias sumissem os
cobradores bateriam à porta. Estava ansiosa, mas atravessara tempos mais difíceis e
sobrevivera.
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— Ela mudou de nome depois da separação. Isso foi há quanto tempo? Seis, sete anos?
— Pete lançou a Trish um olhar de expectativa.
— Muito tempo — Trish respondeu.
Pete com certeza repetia as mesmas mentiras que ela vinha contando a todos durante
anos: que se casara ao terminar a escola secundária e se divorciara logo depois. Era uma
invenção que explicava facilmente a presença de um filho de nove anos de idade agora,
e ela sem marido.
— Está divorciada? — Jack indagou, os olhos arregalados de surpresa. — Sua avó
nunca me contou que você tinha se casado.
— Então aposto que nunca lhe contou que Trish tinha um filho, também? — Pete
perguntou.
Quando iria Pete aprender a não falar demais? Trish teve vontade de dar-lhe um soco
nas costelas.
Trish ergueu a cabeça na direção de Jack e disse:
— De meu primeiro casamento.
— Primeiro casamento? — Jack indagou, atónito. — Casou-se mais de uma vez?
Ela nunca se casara, nunca planejara se casar. Mas não era da conta dele o que fizera da
própria vida.
— Às vezes a vida não funciona do jeito que desejamos — Trish baixou a voz para
responder, de propósito fazendo-se misteriosa. — Mas nada disso é de sua conta.
— Querida, sei que você está apenas se divertindo, mas seu amigo aí acha que fala
sério. — Pete pôs o braço em volta dela e deu-lhe um apertão. — Jack, conheço Trish há
muitos anos e, pelo que sei, ela só se casou uma vez.
— Quer dizer que tem um filho, um pequeno garoto? — Jack sussurrou.
— Tommy é um menino lindo — Pete explicou, uma vez que Trish não respondia. —
Mas ele não é mais um pequeno garoto.
— Que idade tem seu filho? — Jack olhou para Trish. Ela pensou um pouco antes de
responder. Por acaso disserá a Pete que Tommy completara nove anos recentemente? E
se dissera, ele se lembraria?
— Oito.
— Tanto assim? Mas então você deve ter ficado grávida...
— Um ano depois que saí de Lynnwood. Na primavera seguinte.
Graças ao bom Deus, Jack nunca veria o menino. Alto para sua idade, Tommy poderia
passar por dez anos.
— Você já morava em Washington?
A pergunta poderia ter sido inocente, considerando-se que não se viam havia muito
tempo. Mas, quanto mais ela falasse, mais arriscaria dizer alguma bobagem.
— Isso aconteceu há tanto tempo!
— Nunca teve saudade de Lynnwood? — Jack continuava fitando-a.
— Na verdade, não. Não há nada para mim lá.
— Há amigos, família... — Jack parou de falar de repente. Lembrou-se de que a avó de
Trish era a única pessoa restante em sua família, e morrera no começo do ano. — Bem,
e seus amigos? Não tem saudade deles?
— Ora, ora... — Trish sorriu. — Ambos sabemos que não fui uma das moças mais

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apreciadas da cidade. Na realidade, acho que não tenho nenhum amigo lá.
Trish ergueu a cabeça e os olhares dos dois se encontraram. Gostaria que Jack visse em
seus olhos o que não poderia dizer na presença de Pete. Que um amigo nunca teria feito
o que ele lhe fizera.
— Onde fica essa cidade de nome estranho, afinal? — Pete perguntou, ignorando a
eletricidade que pairava no ar entre eles.
— Na realidade é Lynnwood — Jack corrigiu-o. — Trata-se de uma pequena cidade no
Kansas, a vinte e cinco quilómetros mais ou menos ao noroeste de Kansas City. Patty,
quer dizer Trish, e eu crescemos juntos lá.
— Adoro essas pequenas cidades na estrada. — Pete tomou o resto do vinho. — As
vezes penso em me mudar para o Texas, para minha cidade natal. Mas aí lembro-me
de que há mais carros em meu pátio do que pessoas naquele lugar esquecido do mundo.
E ponho de lado minha idéia inicial. — Ele riu e pediuoutro drinque ao garçom. —
Diga-me, Jack, você ainda mora em Lindwood?
Dessa vez Jack não se deu ao trabalho de corrigi-lo.
— Lynnwood continua sendo minha cidade — disse Jack, lançando um olhar a Trish. —
Mas agora moro em Arlington.
Uma onda fria percorreu o corpo de Trish. Ela e Tommy moravam bem perto de
Arlington.
— Ótimo. Tem um cartão seu aí? — Pete sorriu. — Eu lhe telefonarei e talvez
possamos nos encontrar qualquer dia desses.
— Eu adoraria. — Jack pôs a mão no bolso e tirou de dentro um cartão de visita.
Escreveu alguns números antes de entregá-lo a Pete. — A hora do almoço é em geral a
melhor para mim.
— Muito bom. — Pete colocou-o no bolso. — Diga-me, você já esteve naquele
pequeno restaurante grego em Du-pont Circle?
Jack pensou por segundos, e respondeu negativamente.
— Deixe-me então dizer-lhe uma coisa — Pete continuou —, pode parecer um lixo,
mas a comida é a melhor que já experimentei. Você vai adorar.
— Estou certo que sim — disse Jack, olhando para Trish. Ela forçou um sorriso. Pelo
que Trish sabia, Pete iria verificar tudo sobre as atividades de Jack no instante em que
chegasse em casa.
Mas... de uma coisa Trish tinha certeza... Faria frio no inferno antes de ela querer ter
qualquer relacionamento com Jack Krieger outra vez.

CAPÍTULO II
—Bem, aqui estamos. — Trish fez um movimento com os braços, em um gesto que
abrangia o espaço todo. Cheia de caixas e malas, a aparência da sala não tinha nada a
ver com a ordem que sua avó insistia em manter naquele lugar reservado às visitas. Mas
a claridade que penetrava pela janela dava ao ambiente um ar alegre e, embora fora de
moda, o papel florido das paredes não tinha manchas. — O que você acha?
Trish virou-se para o filho e cruzou os dedos. A mudança para Kansas fora uma decisão
nascida da necessidade. Sua conta bancária reduzira-se a zero e a possibilidade de outro
emprego em Washington só surgiria em setembro. A única solução razoável seria voltar
para Lynnwood onde ela e Tommy tinham um lugar para morar sem ter de pagar um
único centavo.
Ao herdar a casa pela morte da avó, Trish planejara vendê-la, mas qualquer coisa o
impedira. Embora os anos passados em Lynnwood não tivessem sido anos felizes, aque-
la casa fora o único lar que conhecera. Agora, com seu mundo caindo aos pedaços, a

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casa era como um farol que prometia abrigo contra mares revoltos.
E ao menos em Linnwood não se preocuparia em poder encontrar Jack. O encontro em
Washington dois meses atrás tornara mais fácil sua decisão de voltar. Trish achava di-
vertido pensar que, agora que Jack estava em Washington, ela voltava para Lynnwood.
— Que lugar horrível! — exclamou Tommy, derrubando no chão uma caixa cheia de
panelas.
Trish sentiu um aperto no coração. Todos os amigos lhe disseram que ele se ressentiria
com a mudança, mas até o momento Tommy fora bastante compreensivo.
— Sei que é difícil mudar-se para um novo lugar. Porém, vai ficando mais fácil com o
tempo. Juro.
— Não é tão difícil assim. Gosto daqui.
— Mas você disse que o lugar era horrível.
— O cheiro é horrível. — Tommy respirou fundo e tampou o nariz. — Veja! Respire
fundo.
Trish seguiu o conselho do filho e inalou o ar. Espirrou em seguida.
— Eu não disse?
— O cheiro não é tão mau. — Trish riu e puxou os cabelos dele. — A casa está com
cheiro de mofo por ter ficado fechada durante tanto tempo. Logo que abrirmos todas as
janelas, a coisa vai melhorar. Vamos, ajude sua mãe a abrir algumas janelas e a porta.
Ao fazer isso Tommy olhou para fora e viu uma quadra preparada para o jogo de
basquete.
— Acho que posso tentar algumas cestas antes do jantar.
— Sinto muito, mas essa quadra de basquete pertence aos nossos vizinhos. — Trish
lembrava-se de quando o sr. Krieger arrumara aquilo tudo para Jack quando ele ingres-
sara no curso secundário.
— Mas nossos vizinhos não se importariam se eu usasse, garanto.
Trish ficou hesitante. Mudar-se para a casa ao lado da casa da mãe de Jack fora sua
única objeção em voltar a Lynnwood. Mas convenceu-se de que ela e Tommy estariam
tão ocupados que não teriam tempo de se socializar com vizinhos.
— Querido, acabamos de nos mudar. Nem ao menos conheço essa gente. — Tratava-se
de uma pequena mentira, mas de forma alguma Trish pediria qualquer coisa aos
vizinhos.
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— Posso pedir, mamãe? Por favor, deixe!
— Não! — Trish sofreu com a decepção do filho. — Que tal irmos ao parque tão logo
tirarmos tudo da van? Você encontrará lá alguns meninos jogando, talvez até basquete.
E jogará com eles. Se não, poderemos colocar uma cesta em nosso quintal para você
praticar.
— Obrigado, mamãe. — Ele abraçou-a. — Você é a melhor das mães.
Trish adorou ser abraçada pelo filho. Tommy não era mais um meninozinho. Estava
crescendo rápido e ficando a imagem escrita de seu atraente pai.
Ela passara noites em claro receando que a sra. Krieger percebesse a conexão de
Tommy com o pai. Mas depois de algum tempo convenceu-se de que estava sendo
ridícula. Para a família Krieger, ela e Jack mal se conheciam.
— Tommy, por que não pega suas malas no carro e as leva ao quarto? — ela sugeriu.
— Quanto mais cedo tudo for descarregado, mais cedo iremos ao parque.
Tommy fez o que a mãe mandou e Trish começou a recolher as panelas que ele
derrubara no chão da sala.
— Há alguém em casa? — Connie Krieger espiava pela porta dos fundos.
— Entre — disse Trish.

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Ela reconheceu a mãe de Jack imediatamente. Embora já com quase sessenta anos de
idade, ainda parecia bem jovem. Seus cabelos não eram nada grisalhos e apenas al-
gumas rugas de expressão rodeavam os olhos muito azuis. De short e camisa pólo,
poderia passar como irmã de Jack.
— Patty? — A mulher estava hesitante. — Não sei se se lembra de mim. Sou Connie
Krieger, moro ao lado.
— É claro que me lembro, sra. Krieger. — Trish estendeu a mão e apertou a da sra.
Krieger.
— Por favor, chame-me de Connie.
— Só se me chamar de Trish.
A porta da frente fechou-se com ruído. Ambas as mulheres viram Tommy entrar e seguir
para as escadas.
— Meu filho Tommy — Trish apresentou-o de longe. — ele tem nove anos.
— Meu neto Matt vai completar nove anos no próximo mês. Faz tanto tempo que meu
filho era pequeno que me esqueci de como são ativos naquela idade. — Connie riu e
acudiu a cabeça.
— Entendo — Trish riu. — Tommy me disse que quer jogar futebol, e basquete, e
beisebol. Tento explicar-lhe que a maioria dos meninos escolhe apenas um esporte. Mas
ele me disse que não sabe qual deles escolher, pois gosta de todos.
— Sei pelo que está passando — Connie comentou com um sorriso compreensivo. —
Meu filho Jack era assim tam-bem. Felizmente em cidade pequena eles podem fazer
tudo isso.
Um segundo mais tarde Tommy apareceu de novo.
— Mamãe, esvaziei a van e abri... — Ele parou de falar. - Desculpe-me.
— Tommy, esta é a sra. Krieger, nossa vizinha. — Trish sorriu. — Connie, este é meu
filho Tommy.
Tommy estendeu a mão à sra. Krieger, dizendo:
— Muito prazer em conhecê-la.
Trish encheu-se de orgulho com as maneiras do filho. Desde que ele era muito pequeno
ensinara-lhe como se comportar, e colhia agora os resultados.
— Prazer em conhecer você também, Tommy. Moro aqui ao lado. Se desejar alguma
coisa, é só pedir.
— Mora na casa onde há um cesto de basquete?
— Isso mesmo. Soube por sua mãe que você gosta de esportes.
— É verdade. A senhora se importaria se eu fosse acertar algumas cestas de vez em
quando, em sua propriedade? Serei muito cuidadoso, prometo não atingir seu carro.
— Querido! — Trish arregalou os olhos. — A sra. Krieger estava apenas sendo
amável...
— Naturalmente que você pode aparecer — disse Connie. — Claro, se sua mãe estiver
de acordo.
Trish olhava da face cheia de esperança de Tommy para a face da avó do menino. Seria
tão fácil dizer "sim".
Mas Trish aprendera havia muito que o caminho mais fácil não era sempre o mais certo.
Permitir que Tommy praticasse basquete na propriedade de Connie Krieger seria pura
loucura. Nada de bom resultaria daquela intimidade a não ser problemas.
E ela já tivera o suficiente, em problemas, que duraria até o fim de sua vida.
Jack entrou com o carro no jardim da casa de sua mãe e parou com um suspiro de alívio.
O vôo de Washington a Kansas City fora turbulento e ele sofrera uma tempestade no
trajeto pela estrada até Lynnwood.
Saiu do carro e espreguiçou-se. Era bom estar em casa. E ver o sol brilhar.

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Esperou que a mãe aparecesse correndo a seu encontro, mas notou que a porta da frente
estava fechada e que o carro dela não se encontrava em casa.
Aí lembrou-se de que era quarta-feira, o dia de Connie jogar golfe. Naquele caso ela
levaria horas para voltar. Optar por um vôo mais cedo parecera-lhe uma boa idéia, mas
agora sentia-se sem saber o que fazer.
Poderia ir ver sua irmã. Mas com três filhos, todos menores de dez anos, a casa dela era
muito barulhenta. E agora, relaxar em um ambiente calmo, lhe parecia muito mais
convidativo do que brincar com sobrinhos.
Levou alguns minutos descarregando o carro. Após colocar as malas no terraço, pegou
uma cerveja na geladeira e saiu.
A chuva passara deixando gotas de água pingando das árvores, e o ar tinha cheiro de
primavera.
Jack sentou-se no balanço do terraço. Observava os sobrados da vizinhança. Todos bem
cuidados, com gramados e abundância de flores. Crescera naquela área. Algumas de
suas melhores recordações se prendiam à vizinhança, aos terraços das casas. Ou melhor,
ao terraço de Patty, sua vizinha mais próxima.
Olhou um pouco para a esquerda e um movimento súbito chamou-lhe a atenção.
Colocou o copo de cerveja no chão e foi para a grade divisória.
Sim, alguém se movia na casa da "vovó".
A avó de Patty fora a "vovó" de todas as crianças do bairro. Quando ela morreu, pouco
depois da ida de Jack para Washington, não apenas Trish perdera a avó mas toda a
redondeza também.
Jack fixou o olhar um pouco além, mas por entre os arbustos e as árvores não pôde
enxergar muita coisa. Em um ato impulsivo foi ao encontro de sua nova vizinha
passando pelo espaço aberto da cerca, o mesmo que costumava usar no passado, anos
atrás, para chegar mais depressa.
E viu que a vizinha era uma mulher, uma mulher atraente com um short que mal lhe
cobria o traseiro, e um top reduzido. Tinha pernas longas e pele dourada. Subira em uma
escada e limpava em volta das janelas, com uma faca amolada.
— Precisa de ajuda?
Assustada, ela fez um movimento brusco e perdeu o equilíbrio. Deu um grito de alarme.
Jack atravessou o pátio correndo e alcançou-a um segundo antes de ela atingir o solo.
O último esforço de Jack o fez cair. Mas segurou o corpo de Patty junto ao seu a fim de
abrandar o choque. Esperou alguns minutos até recuperar o fôlego e até o ritmo das
batidas do coração voltar ao normal.
Porém as curvas suaves que o pressionavam tornavam sua tarefa quase impossível. A
mulher moveu-se em seus braços e os olhos de ambos se encontraram.
O coração de Jack parou.
Os familiares olhos verdes arregalaram.
Por segundos Jack sentiu-se com dezoito anos, e o ar tinha mais eletricidade do que
durante o temporal de Kansas. Automaticamente arrumou uma mecha dos cabelos lou-
ros de Patty, que escapara do rabo-de-cavalo. Ela pulou para o chão.
— Você está bem? — Jack lhe perguntou.
— O que faz aqui? — Patty indagou. Seus olhos expeliam faíscas.
— Eu poderia lhe fazer a mesma pergunta.
— Moro aqui. — Patty ergueu a cabeça para responder.— Mudei-me há duas semanas.
— Mas não disse nada sobre sua volta a Lynnwood na festa em Washington.
— Só decidi no mês passado.
A frieza no tom de voz de Patty surpreendeu Jark. Atribuíra a atitude fria dela na festa
porque estava com um namorado, mas por que agora?

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Jack sentou-se antes, para depois se levantar do chão. Sua camisa branca ficara cheia de
relva e alguns gravetos e folhas grudaram nas mangas. Limpou tudo com a palma da
mão e em seguida, com o melhor de seus sorrisos, disse:
— Seja bem-vinda, Patty.
— Obrigada. Mas ainda não me disse o que faz aqui.
— Acabei de chegar. Estou matando tempo enquanto aguardo a chegada de minha mãe.
— Quer dizer que está só de visita? — Trish sentiu um alívio imenso.
— Na verdade, estou me mudando para cá. — Jack sorriu, feliz. — Que coincidência!
Você e eu juntos mais uma vez.
Coincidência?
Trish ficou horrorizada. Jack na mesma cidade significava complicações que ela não
antecipara. Sentiu um aperto no estômago.
— Vai morar com sua mãe?
— Já passei dessa idade, não acha? — Jack gargalhou.— Tenho minha casa.
— Em Kansas City? — Trish só esperava que não fosse em Lynnwood.
— Por que compraria eu uma casa em Kansas City? — ele perguntou. — Trabalho em
Lynnwood.
Trish entrou em desespero. Não tinha dinheiro para uma nova mudança. Mas, se tivesse,
para onde iria?
— Comprei a velha mansão dos Armbruster — Jack continuou com a explicação.
— Comprou a mansão?
— Comprei. Lembra-se da casa, não?
— Vagamente — ela respondeu.
Como ela poderia ter se esquecido? A velha mansão vitoriana, conhecida pelos
residentes da cidade como "a mansão", tinha sido o orgulho do local durante anos.
Quando os Armbruster moravam lá, o lugar estava sempre feericamente iluminado e ao
som de risadas. Em muitas noites, com o céu estrelado e o ar quente, ela e Jack pas-
seavam pelas calçadas escuras até o fim da quadra, parando para apreciar a mansão.
Trish muitas vezes se perguntara o que havia naquele lugar, para torná-lo tão tentador.
Seria o fato de a casa estar sempre cheia de gente, enquanto ela se sentia sempre isolada
e só? Ou a atração pela casa residia na estabilidade da mesma? Afinal, a mansão
permanecera no mesmo lugar por cem anos. Era um castelo, uma fortaleza e parte im-
portante da cidade.
Certa vez, quando Jack forçara-a fazer um pedido a uma estrela, Trish desejara que a
mansão um dia fosse dela. Naturalmente, na ocasião, seu sonho de juventude incluíra
Jack a seu lado.
Que louca fora!
— Quer ver a casa por dentro? — Jack lhe perguntou, tirando um molho de chaves do
bolso. — Eu adoraria mostrá-la a você.
Por um segundo, Trish sentiu-se tentada. Embora tendo jurado manter Jack a distância,
sempre se perguntara se o lugar era tão lindo por dentro como por fora.
Jack sorriu, balançando as chaves na mão.
— Vamos, Patty?!
O nome "Patty" foi como uma ducha de água gelada, trazendo-a de volta à realidade.
Por que Jack fizera o convite? Por um momento louco sentira-se tentada a ir com ele.
Mas precisava lembrar-se de que Jack Krieger era um camaleão, um homem que podia
mudar de cor em segundos. Um homem que podia sussurrar palavras de amor em um
minuto e rir dela no minuto seguinte. Um homem que provara não ser confiável.
— Sinto muito, mas não quero ir, Jack. — Seguindo a etiqueta ela deveria ter
acrescentado: "outro dia, talvez", ou qualquer frase para abrandar a recusa. Em vez

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disso, Trish ergueu uma sobrancelha e repetiu: — Não quero.
Por um momento Trish sofreu ao ver o desaponto no olhar de Jack. Ela não podia
entender como Jack conseguia ser tão sincero e tão falso ao mesmo tempo. Felizmente,
não precisava entender. Apenas precisava se lembrar.
— Meu nome é Trish — ela disse. — Patty não existe mais há muito tempo. .
— Pode ter mudado de nome, mas ainda é a mesma pessoa.
— Aí é que você se engana, Jack.
A doce e inocente Patty morrera quando ele traíra sua confiança naqueles anos passados.
A mesma pessoa? A mesma idiota perdida de amor? Não mais. Nunca mais.

CAPÍTULO III

Estou tão contente por você estar em fim em casa! — Connie Krieger sorriu para o filho
e colocou massa de panqueca na chapa. — Achei que tinha ido embora para sempre.
— Como pode achar que um ano seja para sempre? — Jack retribuiu-lhe o sorriso.
Connie dissera ao filho antes de ele partir que receava que fosse gostar tanto de
Washington a ponto de nunca mais querer voltar a Lynnwood. Mas Jack garantira à mãe
que não precisava se preocupar. Apesar de o tempo que passara trabalhando em uma
Comunidade Bancária ter sido valioso, isso solidificara ainda mais sua convicção de que
o Meio Oeste era o lugar onde desejava viver.
— É tão bom estar em casa! — Jack acrescentou.
Ele pôde notar que suas palavras haviam alegrado a mãe.
Só naquele instante os dois tiveram chance de sentar e conversar sozinhos. Connie
voltara tarde do golfe, e Julie, a irmã mais velha de Jack, passara por lá com o marido e
os filhos. A maior parte da tarde se passara com a mãe alimentando os netos e Jack
brincando com os sobrinhos e a sobrinha.
— Falando sobre casa, aposto que está ansioso por se mudar para a nova casa.
— Mal posso esperar... Pensei em começar a levar algumas de minhas coisas hoje.
Há mais ou menos cem anos, a "nova" casa de Jack erguia-se tal qual sentinela nos
limites da cidade. Ele a comprara em um ato impulsivo, em leilão, pouco antes de sair
de Lynnwood. E, enquanto esteve fora, construtores restauraram a mansão devolvendo-
lhe seu original esplendor.
— Gostaria muito de ajudar você — a mãe dissera ao colocar diante dele um prato de
panquecas fumegantes com molho de morango, e uma xícara de café. — Sinto muito
por vovó Irene estar fazendo parte de um torneio de bridge que a ocupará o dia inteiro,
do contrário estaria em sua casa agora. Mas vovô chegará ao meio-dia. Os membros do
clube dele estão fazendo palestras para crianças esta semana.
Jack sorriu ao pensar em seu avô cercado de alunos da escola local. Embora tendo ele
sido bom para Jack quando em idade de crescimento, o antigo Presidente do Banco
sempre se sentira mais confortável conversando sobre assuntos bancários com homens
de certa idade do que com seus próprios netos.
O filho, o pai de Jack, fora idêntico. Supervisionar bancos fora sua prioridade número
um e, desde tenra idade, Jack havia sido orientado para seguir a carreira do pai.
Quando o pai morrera em acidente de carro, Jack ainda estudava, e apenas Patty
entendera a pressão que ele sentira, isto é, o medo de se ver lançado cedo demais em
uma carreira que não tinha certeza se realmente desejava seguir.
Jack comeu um pedaço de panqueca e pensou sobre a primeira vez em que realmente se
dera conta da existência de Patty Bradley.
Frequentavam a mesma escola desde os treze anos de idade. Mas entre esportes, sair

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com amigos, e trabalhar no banco, Jack nunca encontrara tempo de dar atenção à moça
que morava ao lado. Até um sábado à noite, ao voltar de uma festa. Lutava por abrir a
porta de sua casa, sem sucesso, quando ouviu uma voz feminina chamá-lo pelo nome.
Orientado pelo som, viu Patty sentada nos degraus do terraço da casa da avó com um
saco de batata frita em uma das mãos e um refrigerante na outra. Seus cabelos louros
estavam presos por um elástico em um rabo-de-cavalo. De corpo arredondado, usava
camiseta folgada e calça de ginástica.
Jack havia tido uma briga com a namorada, e pretendia logo fazer as pazes. Mas o saco
de batata o tentou, e o fez perguntar se podia sentar-se lá com ela.
Depois de curta hesitação Patty convidou-o. Conversaram até as três horas da
madrugada.
Patty não deixou de impressioná-lo. Jack viu logo que a garota sabia ouvir e era boa na
troca de confidências. Ficaram amigos... em vários aspectos.
Na escola, tudo continuara do mesmo jeito. Ele preferia viver rodeado de amigos,
enquanto Patty preferia ficar só. Ou ao menos ele imaginara que fosse assim. Jack nunca
se sentira culpado por isso. Até vê-la naquela festa dois meses atrás, nunca se
considerara seu único amigo.
Mas agora, quando pensava no caso, percebia que ela estava sempre disponível. Sempre
esperando por ele. Passavam quase todas as sextas feiras e sábados juntos. Bem tarde da
noite, depois que sua mãe e a avó de Patty iam para a cama, sentavam-se e
conversavam.
Fizeram disso um ritual... Ele voltava para casa, ela o aguardava no terraço. Havia
sempre uma lata de refrigerante esperando por ele.
Depois daquela primeira noite, Jack nunca se perguntara se Patty era bonita ou feia. Se
era magra ou gorda. Ela era apenas Patty, sua amiga e confidente.
— Jack? — A voz da mãe interrompeu seus pensamentos. — Você ouviu o que eu
acabei de dizer? — Ela sacudiu a cabeça e riu. — Eu perguntei se você não achava
maravilhoso o fato de a casa da "vovó" estar novamente ocupada.
— E eu lhe contei que a vi em Washington?
— Quem? — Connie indagou, confusa.
— Patty Bradley.
— Você a viu?
— Mal pude acreditar. Como já deve saber, ela atende pelo nome de Trish agora e não
se parece nada com a velha Patty.
De repente Jack percebeu por que se perturbara tanto ao vê-la.
Patty estava linda.
Patty estava sofisticada.
Patty não era a mulher da qual se lembrava.
— A velha Patty? Jack, você mal a conhecia. Durante todos os anos em que ela morou
ao lado não o ouvi dizer duas palavras sobre a moça.
Jack começou a discutir, quis contar que ele e Patty haviam sido amigos íntimos. Mas
parou ao perceber que a mãe nunca acreditaria nele.
— Na verdade, conversamos mais do que você imagina — ele apenas disse. — Patty é
uma grande mulher. Você teria gostado dela.
E Patty gostaria de sua mãe, também. Patty lhe dissera tantas vezes como sentia falta da
mãe! E o que fizera ele para ajudá-la?
Jack não precisava fazer a pergunta a si mesmo. Sabia a resposta.
Sua fome havia passado, colocou o garfo de lado e afastou a travessa de panquecas.
— Estou ansiosa em fazer amizade com ela — a mãe de Jack comentou. — E com o
filho.

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— Eu não lhe garanto que isso seja possível. — Jack pegou os pratos e colocou-os na
pia. — Quando falei com Patty ontem, ela mal me deu cinco minutos para uma conversa
mais longa. Penso que não esteja interessada em amizade com vizinhos.
— Oh, meu Deus, não seja absurdo! — Connie riu. — Só porque ela não caiu em cima
de você como muitas mulheres o fazem, isso não significa que não quer ser amiga. Trish
é uma pessoa maravilhosa, e tenho a impressão de que vamos ser boas amigas.
Jack olhou pela janela da cozinha. Talvez sua mãe tivesse razão. Talvez ele houvesse
esperado demais de Patty. Ou talvez estivesse certo e Patty guardasse alguma mágoa do
passado contra ele.
Voltou a olhar pela janela. Embora não conhecesse todas as crianças da vizinhança pelo
nome, Jack as conhecia de vista. Porém, o menino moreno que tentava acertar o cesto
do basquete no quintal não lhe era familiar.
— Quem é aquele garoto? — ele perguntou à mãe. Connie foi até a janela.
— É Tommy Bradley. Ele vem aqui todos os dias para praticar.
— É o filho de Patty? — Dessa vez Jack não pôde esconder sua surpresa. — Esse
menino é grande demais para ter apenas oito anos.
— Oito? Trish me disse que ele tinha nove — Connie declarou.
— Ele não pode ter nove! — Jack protestou.
— Talvez eu tenha escutado mal. Mas você me parece interessado demais em meu
novo vizinho. Mas isso não pode ter nada a ver com o fato de a mãe dele, antes um
patinho feio, ter agora se transformado em um cisne. Tem?
— Não tem nada a ver com aparências — Jack comentou. — E Patty nunca foi feia.
A mãe parou de sorrir, desapontada com o protesto veemente do filho.
— Desculpe, mãe. Não sei o que me deu para falar assim com você.
Jack não era o mesmo desde a noite da festa em Washington.
A noite em que vira Patty.
A noite em que velhos sentimentos e emoções voltaram à tona.
— Jack? Eu estava brincando. Gosto de Trish. Não quis dizer nada de desagradável
sobre ela.
— Tudo bem, mãe. Sabe, faz anos que não acerto uma bola sequer na cesta.
— Tommy adoraria sua companhia. O menino não se queixa, mas sei que se sente só.
Jack olhou mais uma vez para o vulto solitário. Sem pensar nas caixas esperando por ele
no jipe, para serem enchidas, saiu pela porta dos fundos.
Tommy fitou-o com certa preocupação em seus olhos azuis. E disse:
— A sra. Krieger falou que eu poderia praticar aqui.
O menino segurava a bola contra o peito, com medo de que Jack a tirasse dele.
— Relaxe. — Jack sorriu. — Não vim aqui para expulsá-lo. Sou Jack, filho da sra.
Krieger, e velho amigo de sua mãe. Achei que gostaria de um companheiro de jogo.
— Claro. — O olhar do menino se iluminou.
Após trinta minutos observando Tommy atirando a bola e encestando em jogadas
difíceis, Jack concluiu que o menino tinha talento. Possuía bom equilíbrio e mãos
grandes, além de natural atletismo.
— Chega — Jack sentou-se em um degrau. — Vamos descansar um pouco.
— Depois do descanso, podemos jogar mais? Minha mãe não terminará de fazer o
almoço tão cedo.
— Mas é que eu preciso ir — Jack declarou.
— Que tal amanhã?
— Não posso, estarei me mudando. Quem sabe seus amigos...
— Não tenho amigos. Não ainda, de qualquer forma. Mas tudo bem. Estou acostumado
a jogar sozinho.

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Embora o menino não fosse fisicamente semelhante à mãe, naquele particular Jack pôde
enxergar qualquer coisa de Patty em sua solidão.
— Eu posso chegar aqui às quatro horas. — Jack só pensava em Patty. Em tudo que ela
lhe oferecera e no nada que lhe dera de volta. — Você conhece meu sobrinho, Matt
Cullen? Acho que ele tem mais ou menos sua idade.
— Conheço. Ele está na minha turma de natação.
— Pensei em convidá-lo, e ao pai, para jogarem também. Embora seu cunhado viesse
depois do trabalho a fim de
ajudá-lo na mudança, Dan era um homem de família, e
Jack sabia que ele gostaria de mudar seus planos se isso significasse jogar basquete com
o filho.
— Eu adoraria — Tommy confessou. — Mas, e se eles disserem "não"?
— Se isso acontecer, então, seremos apenas nós dois. O que acha?
O sorriso aberto de Tommy foi a resposta de que Jack precisava.
Ele retribuiu o sorriso e uma sensação de prazer o invadiu. Nunca se sentira tão bem
outras vezes na vida quando fizera o que considerara certo.
Trish cobriu melhor o filho.
— Divertiu-se hoje? — perguntou.
Ela não sabia por que perguntara. Mas do momento em que o chamara para almoçar,
percebeu qualquer coisa no menino, no rosto, no andar, no modo como lhe pedira para
repetir a comida. Pela primeira vez desde que se mudaram Trish teve a distinta sensação
de que tudo iria ser melhor.
— Foi o melhor dia desde que cheguei aqui — ele respondeu, afundando a cabeça no
travesseiro.
— Encontrou um novo amigo? — Trish tentou se manter indiferente, como se não se
importasse. Acima de tudo, não queria que ele pensasse que saber se encontrara ou não
amigos era fato importante para ela.
Como acontecia com minha avó.
Sua avó era uma mulher maravilhosa, mas queria de-sesperadamente que a neta tivesse
amigos.
— Não, mas... — Tommy pensou um momento.
Trish esperou. Aprendera a não apressar o filho. Com o tempo, Tommy diria tudo, mas
tinha de ser na hora certa para ele.
— Matt Cullen poderá aparecer por aqui amanhã à tarde.
— Matt? — Uma vaga imagem de um menino louro surgiu na mente de Trish. — Para a
aula de natação?
— É.
— Parece ser um bom menino. — Era a primeira vez, desde que se mudaram para
Lynnwood há três semanas, que Tommy ia receber um amigo em casa. — Está ansioso?
— Acho que sim.
— Frequentei a escola com um Cullen. Ele era três ou quatro anos mais velho do que
eu. — Trish fez uma pausa.
— Será o pai desse menino?
— Não sei. — Tommy sacudiu os ombros.
— E também não importa. Farei alguns biscoitos para vocês e... — ela parou de falar,
de repente lembrando-se.
— Oh, não, não estarei aqui à tarde.
— Quer dizer que Matt não pode vir? — Tommy ficou terrivelmente aborrecido.
— Pode, sim. Claro que ele pode vir. — Patty só rezou para que a moça de dezesseis
anos, que contratara a fim de tomar conta de Tommy enquanto ela estivesse fora, não se

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importasse de tomar conta de dois. Afinal, isso até tornaria seu trabalho mais fácil. —
Só preciso falar com Samantha. Ela vai ficar com você enquanto eu for a minha
entrevista. Não é maravilhoso a mamãe ter um emprego?
Trish não lhe contou que o trabalho era em Kansas City. Ela precisava pagar suas contas
e essa posição tinha uma infinidade de vantagens: muitos benefícios extras, um salário
igual ao de Washington, e a descrição do emprego parecia boa demais para ser verdade.
— Você acha que Matt vai trazer a própria bola?
— Não sei, querido. — Trish decepcionou-se. Esperava que o filho ficasse mais
contente com a notícia do emprego.
— Se ele não trouxer a bola — Tommy disse —, nós dois podemos usar a minha.
Trish sentiu o coração apertado. Tommy sempre adorara sair com a mãe, e ela o
arrastava por toda a cidade. E pela primeira vez percebeu como ele necessitava um
amigo.
— Sabe como eu amo você, não sabe, meu filho? Tommy riu da pergunta familiar.
Tornara-se um ritual noturno.
— Montes e montes?

— Isso mesmo. — Trish abraçou-o com força. — E nunca se esqueça disso.


Ela sentou-se na beirada da cama até o filho adormecer. Ele era tão jovem, tão inocente!
Aquela longa noite com Jack anos atrás mudara o curso de sua vida. Mas lhe dera um
grande tesouro.
Tommy estava sendo um menino bom até o presente. E se achava falta em um pai,
nunca mencionara. Não revelar a Jack que ele iria ser pai fora a decisão certa.
Mas, se Jack a amava na mesma intensidade com que ela o amava, Tommy teria ambos,
uma mãe e um pai.
Trish suspirou. Por que ela se torturava com pensamentos do que poderia ter sido?
Viviam em um mundo real, não em um mundo de contos de fadas, com final feliz. Um
mundo onde, mesmo você amando alguém, esse alguém não necessariamente a amava.
Um mundo onde às vezes era preciso aprender a duras penas que o Príncipe Encantado
pode ser encontrado apenas nas páginas de um livro de histórias.

CAPÍTULO IV

Esse menino é um verdadeiro pugilista. — A voz de Dan Cullen soou cheia de


admiração.
— Ele tem muita energia. — Jack esticou-se em uma das cadeiras preguiçosas que
tirara da garagem de sua mãe. — Fico cansado só em olhá-lo jogar.
— Não me venha com essa — disse Dan. — Você ainda estaria lá competindo comigo,
se minha perna não me tivesse dado problemas.
Durante a última hora Jack e o cunhado jogaram futebol com os dois meninos. Depois
que Dan machucara o joelho no ano anterior, em um acidente de esqui, ele começara a
ter problemas com a perna.
— Acredite no que lhe digo — Jack falou, tomando um gole de chá gelado. Concentrou
sua atenção em Matt e Tom-my e comentou: — Esses meninos estão gastando energia
demais.
Jack pulou de sua cadeira no instante em que a bola de Matt atingiu Tommy.
Jack atravessou o pátio em três passadas, porém não foi suficientemente rápido para
impedir que Tommy caísse.
— Tommy! — Jack ajoelhou-se ao lado dele. — Você está bem?

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Lágrimas escorriam dos olhos de Tommy, mas ele as enxugava depressa com as mãos.
Jack podia ver que o menino fazia de tudo para não chorar.
— Ele está machucado? — Matt perguntou, preocupado.— Não quis derrubá-lo.
— Tommy está bem. Mas acho que chega de basquete por hoje.
— Você tem razão. Matt e eu temos de ir — disse Dan.
— Julie já deve ter posto o almoço na mesa.
— Sinto mesmo muito, Tommy — Matt se desculpou. — Talvez quando você se sentir
melhor poderemos jogar de novo...
— Claro — Tommy respondeu, mordendo o lábio. Jack esperou até que Dan e o filho
saíssem e virou-se
para Tommy, dizendo:
— Seu joelho parece bem machucado.
— E dói muito. — A voz de Tommy tremia.
Jack sentiu o coração apertado. Detestava ver uma pessoa chorar, em especial uma
criança. Mas expressar muita compaixão poderia apenas tornar a coisa pior.
— Sei que dói. — Jack viu o ferimento no joelho de Tommy. — Acho que precisamos
colocar um curativo aí.
— E vai doer mais ainda.
— Farei com muito cuidado.
Tommy fitou Jack durante algum tempo para só depois fazer um sinal afirmativo com a
cabeça e se levantar.
Samantha, a moça que fora lá para tomar conta de Tommy, arregalou os olhos quando o
viu entrar.
— Oh, meu Deus, o sangue está escorrendo pela perna dele! — ela gritou.
— Isso sempre acontece quando se machuca o joelho — disse Jack, lançando à moça
um olhar de censura.
— Não sou boa quando vejo sangue — comentou Samantha, enquanto acompanhava os
dois até o interior da casa.
— Desmaiei uma vez na aula de Biologia.
— Não precisa fazer nada, cuidarei de tudo. — Onde Patty estava com a cabeça ao
contratar aquela moça para tomar conta do filho? — Pode ir embora. Eu fico aqui até a
mãe dele chegar.
Samantha ficou em dúvida. Hesitava entre cumprir sua missão de governanta e o desejo
de ir embora.
— Ele é um velho amigo de minha mãe — disse Tommy, repetindo as palavras que
ouvira de Jack da véspera.
— Está bem, então. Diga à sra. Bradley que pode me pagar amanhã.
Jack tirou do bolso uma nota de vinte dólares e lhe deu.
— Isso é suficiente? — perguntou.
— É a quantia exata — a moça respondeu e pôs o dinheiro no bolso.
— Até logo, Samantha — Tommy sussurrou.
— Fique calmo — Samantha recomendou. — E não deixe esse senhor machucá-lo
muito.
Jack engoliu um protesto. Assim que Samantha saiu ele pegou uma toalha úmida e
sabão. Notou o olhar preocupado de Tommy e tentou acalmá-lo:
— Vai arder um pouco, mas precisamos limpar essa ferida.
— Eu sei. Posso aguentar.
Quinze minutos mais tarde o ferimento estava limpo, desinfetado, enrolado em uma
gaze que Jack encontrara no armário do banheiro.
Havia acabado de colocar Tommy em uma cadeira preguiçosa com um copo de

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laranjada na mão quando a porta da frente abriu.
— Samantha, cheguei.
— Estamos aqui, mamãe.
Trish foi até a entrada da sala e parou. Olhou de Tommy para Jack.
— O que você faz aqui? — ela perguntou a Jack. — E onde está Samantha?
— Ela teve de sair. — O sorriso acolhedor de Jack sumiu.
— O sr. Krieger disse que cuidaria de mim — Tommy respondeu depressa, pois o
menino percebera tensão no ar. — Tudo bem, não, mamãe?!
— Claro que sim, querido. Só que essa era responsabilidade de Samantha, não do sr.
Krieger.
— Aquela moça era jovem demais para ficar cuidando dele por tantas horas — Jack
explicou.
— Acho que sou melhor juiz para o caso do que você — Trish revidou, de mau modo.
— Não concordo. Ela pode servir para cuidar de Tommy enquanto você vai fazer
algumas compras ou coisa parecida...
O sangue de Trish ferveu. Quem era Jack para insinuar que ela não era boa mãe? Que
não sabia o que era bom para o próprio filho? Ele não estivera presente quando, ainda
bebé, Tommy chorava à noite, nem quando tivera catapora. Ela trabalhava e era mãe ao
mesmo tempo.
— ...mas não tem bastante idade para agir em uma emergência como esta — Jack
terminou a sentença interrompida.
Emergência.
— Que emergência? — Trish indagou. Olhou para o filho e pela primeira vez notou a
bolsa de gelo no joelho. — Querido, o que houve?
— Caí. Nada de tão grave assim, mamãe.
— Como aconteceu isso? — Ela olhou para Jack, aguardando uma resposta.
— Os meninos correram um de encontro ao outro. — Jack sacudiu os ombros.
— Os meninos?
— Matt Cullen — Tommy respondeu. — O da aula de natação.
— Lembro-me agora. — Trish fitou Jack. — Mas isso ainda não explica o que você faz
aqui.
— Jogávamos basquete — Tommy disse, o rosto tenso de preocupação. — Foi
divertido, mamãe.
— Tudo está bem, Tommy. Sua mãe só tenta saber como aconteceu..— Jack procurava
acalmar o menino. Mas antes que Trish dissesse que ela podia muito bem acalmar o pró-
prio filho, ele continuou: — O pai de Matt é meu cunhado Dan. Achamos que seria
interessante jogarmos os quatro.
— Raspei meu joelho — Tommy explicou. — E o sr. Krieger fez o curativo.
— Foi grave? — Trish perguntou a ele, dessa vez amavelmente, pois reconhecia que
Jack cuidara de seu filho.
— Não muito grave. Embora ache que a perna vá ficar dolorida por alguns dias.
— Nesse caso, não haverá mais jogo para você, Tommy. Ao menos por enquanto.
— Ah, mamãe. Não foi nada assim tão ruim. Matt não pode vir aqui e...
Trish franziu a testa e Tommy parou de falar.
— Patty... quer dizer, Trish — Jack sorriu. — Matt é um bom menino. Não machucou
Tommy de propósito. Foi uma dessas coisas de criança.
— Acontece que Tommy é meu filho, Jack, e eu decido com quem ele joga e quando.
— Mas, mamãe... — Tommy gemeu.
Trish fez o menino parar de falar com um olhar. Às vezes ela se considerava severa
demais com Tommy, mas vira tantas vezes mães solteiras perder o controle dos filhos, e

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não queria que isso sucedesse consigo.
— Não faço oposição a que Matt venha aqui — ela disse, dirigindo-se ao filho. —
Apenas não acho conveniente neste fim de semana. Quero arrumar tudo na casa antes de
começar a trabalhar, e vou precisar de você para me ajudar. Posso contar com isso?
Tommy concordou, embora com relutância.
— Conseguiu o trabalho? — Jack lhe perguntou. — Tommy me contou que você ia ter
uma entrevista.
Apesar da vontade de dizer a Jack que sua vida pessoal não era da conta dele, hesitou,
pois a pergunta lhe parecera mais cortês do que produto de curiosidade.
— Penso haver muita chance — Trish respondeu.
— Acho que mamãe vai trabalhar em um banco — Tommy comentou.
— Mesmo? Que banco? — Jack quis saber.
—Primeiro Banco Comercial de Kansas City. Estão expandindo alguns departamentos.
— Primeiro Banco Comercial? — Jack repetiu, sorrindo.
— Um amigo de meu avô é membro da diretoria. Terei muito prazer em pedir a meu
avô que a ajude a conseguir o emprego. Às vezes uma palavrinha é...
— Obrigada. — Trish forçou um sorriso. — Prefiro conseguir por mim mesma.
— Não haveria nenhum problema — Jack insistiu.
— Mesmo assim, quero obter o emprego por mim mesma— Trish repetiu, com olhar
firme e direto. Embora quisesse o emprego e precisasse muito dele, não queria Jack
envolvido em nenhuma parte de sua vida.
Cometera esse erro uma vez.

CAPÍTULO V

Trish desligou o telefone tentada a se beliscar para ter certeza de que não estava
sonhando. Na véspera, lhe telefonaram do banco informando-a de que não contratariam
novos funcionários por várias semanas. No dia seguinte, ou melhor, naquele momento,
o gerente do Departamento de Recursos Humanos telefonara, oferecendo-lhe a posição.
Por um instante ela se perguntara se Jack havia interferido, mas logo descartou a idéia,
pois tinham conversado sobre o assunto apenas na noite anterior. Não teria havido
tempo para isso.
O cargo era tudo o que Trish sempre desejara. E, mais importante ainda, queriam que
ela começasse imediatamente.
Segunda-feira pela manhã receberia orientação. Assim, teria apenas aquele fim de
semana para ter a casa em ordem e... para encontrar uma companhia para Tommy,
durante o dia.
E se não encontrasse? O que faria?
Logo pôs esse pensamento de lado lembrando-se de que havia dezenas de adolescentes
desejando algum dinheiro extra trabalhando como babás durante certas horas. Apenas
precisava encontrar uma boa. E seria interessante começar imediatamente essa procura.
Pegou o telefone e ligou para Samantha.
Meia hora mais tarde Trish deu um suspiro de desânimo. Todo o mundo em Lynnwood
estava no baile do parque?
Tommy lhe dissera que haveria uma competição entre veteranos e alunos da escola antes
do baile, e que se tratava de um grande evento. Ela não acreditara. Até o presente
instante.
Olhou o relógio. O jogo devia estar quase terminando. Se ela fosse até o local,
encontraria Samantha e conversaria com ela pessoalmente. No mínimo poderia apanhar

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Tommy, que fora ao jogo com Matt e a família.
Ainda na esperança de que encontraria antes do fim do dia uma pessoa para ficar com
Tommy, Trish saiu de casa.
As arquibancadas estavam cheias e os dois times ainda jogavam quando Trish chegou
ao campo de beisebol. Viu logo Samantha e as amigas interessadas na conversa com um
grupo de jogadores e achou não ser aquela a melhor hora para se aproximar das garotas.
Mesmo não sendo grande fã de esportes, Trish decidiu assistir ao jogo para passar o
tempo. Encontrou um lugar vazio quase na última fila da arquibancada.
Subiu os degraus, ignorando os olhares curiosos. Embora estando em Lynnwood há
quase um mês, não saíra muito. Não encontrara muita gente conhecida e, quando
encontrava, essas pessoas não a reconheciam. E, algumas vezes, quando a reconheciam,
preferia que isso não tivesse acontecido.
A sra. Russell, gerente de uma loja, e nada magra, anunciara a todos que "a moça gorda
agora não era mais gorda". A caixa de um banco jurava que Trish não podia ser a neta da
sra. Watson, porque essa tal neta era muito gorda e nada bonita.
Deveria ficar contente com os comentários, mas não ficava. Embaraçava-a saber que
todos haviam comentado sobre ela às suas costas.
Com a sensação de que estivesse acontecendo naquele momento, Trish ouvia as
palavras de Jack seguidas das risadas dos amigos: "Como se algum dia eu pudesse ter
um relacionamento amoroso com ela". Sofria só em se lembrar.
Uma boa jogada no beisebol tirou Trish de seu sonho. A multidão aplaudia de pé. Trish
virou-se a tempo de ver Jack no campo.
Fora a jogada dele que pusera seu time na frente. Jack era o homem do momento. Mais
uma vez.
Jack sempre fora popular. Orador da turma. Presidente dos veteranos. Zagueiro no
futebol.
Trish deu um suspiro e foi ocupar um espaço mais na ponta da arquibancada. Sorriu
para a menina a seu lado.
— Como vai? — perguntou.
— Agora tenho três. — A menina ergueu três dedos.
— Kaela, a senhora não perguntou quantos anos você tem — a mãe sorriu. — Não
pode dizer "vou bem"?
— Vou bem — a garota disse, e escondeu o rosto na saia da mãe.
— Não frequentamos a escola secundária juntas? — a mãe da menina de súbito
perguntou a Trish. — Sou Missy Campbell. Naquela época meu sobrenome era
Andrews. Missy Andrews. Lembra-se?
Se me lembro? Como poderia me esquecer?
Pareceu a Trish que uma faca lhe atravessava o coração. Famosa, com enorme
quantidade de amigos e admiradores, Missy Andrews era o tipo de mulher que Trish
sempre desejara ser, e que nunca fora.
— E você era...
— Patty Bradley — disse Trish, sentindo-se estranha e com dezessete anos de novo.
Trish amaldiçoou sua insegurança que a fizera hesitar ao dizer seu antigo nome.
— Vizinha de Jack Krieger, não é? — Missy sorriu. — Achei que era você, mas não
tinha muita certeza. Está tão diferente!
— Passaram-se dez anos já.
— E está linda — disse Missy. — Nada igual à Patty de que me lembro.
— Mudei meu nome para Trish agora.

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— Gosto desse nome — comentou Missy. — Combina com você. Venho pensando
também em mudar meu apelido. Mesmo que faltem ainda alguns anos para eu completar
trinta. Não consigo me imaginar atendendo pelo apelido de Missy com essa idade.
— Mudei meu nome depois que terminei o curso secundário. Logo depois — Trish
explicou. — Enquanto morei em Washington fui sempre Trish, mas aqui algumas
pessoas ainda me chamam de Patty.
— Dê-lhes tempo. Chegarão lá. Há quantos meses está em Lynnwood? Surpreendo-me
não a ter encontrado antes.
— Estamos aqui há pouco mais de um mês — disse Trish.
— Seu marido foi transferido para esta área? — Embora tendo contado para todos,
durante anos, que se casara ao terminar o curso secundário, ficado grávida logo depois e
se divorciado em seguida, por qualquer razão que não saberia explicar, não conseguiu
contar a velha mentira mais uma vez.
— Somos só eu e meu filho — Trish falou isso apenas.
— Como Kaela e eu, também. — Missy remexeu nos cabelos da menina. — Derek e eu
nos separamos no ano passado. Morávamos em Kansas City, mas depois do divórcio
decidi voltar para cá. Não tinha muita certeza se iria me acostumar, porém Jack e meus
outros amigos têm sido maravilhosos.
— Jack? — Trish sabia que tinham sido namorados na escola, portanto o fato de
continuarem amigos agora não a devia ter surpreendido. Mas surpreendeu-a.
— Jack Krieger — Missy disse. — Sei que vocês dois não eram muito ligados, mas não
me diga que não se lembra dele.
— Lembrar-se de quem? — Uma voz grave soou ao lado de Trish e ela virou-se. — Alô,
Trish — Jack disse, lançando o olhar para os ombros nus dela.
— Tio Jack! — Kaela abraçou Jack na altura dos joelhos.
— Alô, princesa. — Jack carregou Kaela no colo e sorriu. — Você parece uma abóbora
com esse vestido.
A menina gargalhou e Trish sorriu.
— Kaela foi formidável durante o jogo — Missy comentou.
— Nós duas gritamos quando você fez aquela jogada. Se eu ainda estivesse na escola,
teria organizado uma equipe para aplaudi-lo.
E pensar que tivera esperança de que Missy poderia ter mudado!, Trish disse a si
mesma.
— É melhor que eu me vá — ela falou. — Se for começar a trabalhar na segunda-feira,
não terei muito tempo para organizar minha vida, incluindo encontrar uma babá que
cuide de Tommy.
— O lugar é seu — Jack declarou.
— Eu sei. O gerente do Departamento de Recursos Humanos do Banco me telefonou
esta manhã.
— Parabéns. — Jack cumprimentou-a. — Isso é maravilhoso. Eu sabia que tudo iria
dar certo.
— Parabéns — disse Missy. Ela levantou-se, foi para o lado de Jack e deu-lhe o braço.
— Você está pronto para ir ao piquenique? Kaela e eu estamos morrendo de fome.
Trish percebeu que Missy queria afastá-la de Jack. Riu ao pensar que Missy Andrews
estava com ciúme. Se alguém devia ter ciúme, esse alguém teria de ser ela. Porém Trish
não tinha. Porque ter ciúme implicaria em desejar Jack Krieger. E não o desejava. Não
em sua vida. E certamente não em seu coração.
Jack esperou até que Missy e Kaela entrassem em casa, antes de partir. Embora
Lynnwood fosse uma comunidade segura, Missy jurara que o ex-marido a seguira
quando fora fazer compras em Kansas City, no último fim de semana. Vivia em

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espinhos desde então, assim dizia.
Quando Missy o convidara para entrar, ele quase aceitara. Mas isso até enxergar o brilho
nos olhos dela e se dar conta de que o convite tinha mais a ver com solidão do que com
medo do ex-marido.
Jack não estava interessado em novo relacionamento amoroso com Missy. Considerava-
se bom amigo e adorava Kaela... mas, qualquer fogo que no passado queimara entre os
dois, havia muito se extinguira.
Sua irmã lhe dissera que, se queria mesmo uma família grande, precisava encarar a vida
seriamente.
Mas era fácil para Julie falar. Ela e Dan Cullen se conheceram na escola e Dan era o
homem de sua vida. Casaram-se quando ainda estavam na escola, e nunca pensaram em
se separar. Jack desejava esse mesmo tipo de amor. Mas não se preocupava com isso
ainda. Havia coisas muito mais importantes em que pensar.
Seus pensamentos se voltaram para Trish e para como se sentia com o novo emprego.
Jack disse a si mesmo que não poderia se esquecer de agradecer ao amigo de seu avô
pela ajuda que dera.
Trish precisava de uma compensação. Apesar de não haver dito nada, Jack sabia que a
perda do emprego em Washington fora um tremendo golpe em sua autoconfiança. Obter
outro emprego era um bom passo para restabelecer a confiança em si.
O próximo passo seria encontrar uma babá para Tommy. Quando ele mencionara o fato
a Julie, ela lhe dissera que a maioria das alunas que faziam esse trabalho eram con-
tratadas com meses de antecedência.
Jack parou em um semáforo e decidiu que daria a Trish um prazo até o dia seguinte para
encontrar uma babá. Se ela não tivesse sucesso, veria o que poderia fazer no sentido de
ajudá-la. Trish querendo ou não.
— Temos de ir à igreja? — Tommy puxou com força sua corrente. — Não podemos em
vez disso ir só comer fora?
— Almoçaremos depois da igreja. — Trish olhou no espelho retrovisor do carro e
limpou uma mancha de batom do rosto. — Além disso, já estamos na igreja.
— Aposto que sua mãe não mandava você ir à igreja quando tinha minha idade.
— Na verdade, era eu quem queria ir à igreja. Ainda não tinha a idade de Tommy
quando ela e a mãe
se mudaram para a casa da avó. E o que dissera a Tommy era a pura verdade. Fora à
igreja todas as semanas. Cada semana cruzava as mãos, baixava a cabeça e rezava para
que o câncer de sua mãe fosse curável e para que seu pai voltasse.
Mesmo depois da morte da mãe, Trish continuara a rezar. Até o dia em que a avó lhe
contara que seu pai se casara de novo e se mudara para a Califórnia.
Com a nova esposa.
Sem ela, sua filha.
Trish não pôs mais os pés em uma igreja até se encontrar sozinha e grávida, sem ter para
onde ir. Mas com o tempo começara a achar que tudo o que acontecia tinha uma razão
de ser. Por ter se mudado para Lynnwood encontrara Jack. Por causa de Jack tivera
Tommy.
— Amo tanto você — ela disse abruptamente, sorrindo para o filho.
— Está bem, mamãe. — Tommy abrira a porta do carro mas logo fechou-a de novo. —
Tudo bem você dizer isso em casa, mas não fale s"e alguém estiver ouvindo.
— Está bem, prometo. — Trish deu um dramático suspiro. — Mas ao menos diga se me
ama também.
— Mamãe! — Tommy resmungou e revirou os olhos.
— Talvez seja melhor eu abrir a porta, assim todos podem ouvir...

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— Eu amo você. — As palavras de Tommy vieram como um turbilhão. — Está bem?
— Perfeito. — Trish sorriu. — Vamos entrar.
Pelo bem de Tommy, Trish procurou agir com confiança, mas preocupava-se em como
seria voltar àquela pequena igreja após ter estado afastada por tanto tempo.
Porém no instante em que viu o pastor Williams, todo o seu medo evaporou-se. Ele
sorriu ao vê-la e quando Trish aproximou-se para cumprimentá-lo, abraçou-a.
— Patty Bradley! É tão bom estar com você de novo — ele exclamou. — Seja bem-
vinda.
Lágrimas inesperadas correram de seus olhos ante a sincera recepção.
— Esse deve ser seu filho. — E virando-se para Tommy, ele continuou: — Sua avó me
contou tudo sobre você.
— Mesmo? O que foi que ela disse?
— Que você gostava muito de esportes. Temos uma liga de basquete que pratica no
Centro Recreativo da igreja nas noites de quinta-feira. Gostaríamos que se juntasse a
nós.
— Não sei... — Tommy respondeu.
— O time de Matt Cullen está precisando de outro jogador.
— Matt frequenta esta igreja?
— Sim, ele frequenta. — O pastor apontou para alguns bancos mais atrás. — Na
verdade, ele está sentado com a família lá no fundo, à direita.
— Vou lhe dizer "alô". — Tommy foi ao encontro do amigo, sem hesitar.
— Matt é um menino maravilhoso, Patty — disse o pastor. Trish não se importou em
corrigi-lo. Tinha a impressão
de que seria sempre Patty para ele.
— Sinto-me muito feliz agora — ela confessou ao pastor.
— Houve uma época em que não era.
— Eu sei. Mas amadureci desde então. Espero que o senhor entenda por que não voltei
para o funeral de minha avó. Quis, mas Tommy e eu estávamos doentes com...
— Não precisa me explicar. — O pastor colocou a mão sobre braço dela. — Sei que
estaria aqui se pudesse.
— A morte foi tão repentina. — Às vezes Trish tinha dificuldade em acreditar que a avó
se fora. — Quando a visitei no verão passado parecia ótima.
— Nenhum de nós sabia que ela estava tão doente — ele disse. — Até ser tarde demais.
— Eu a amava muito.
— E você era o sol da vida dela.
— É bom ouvi-lo dizer isso, mas... — Trish hesitou.
— Mas o quê?
— Sei que minha avó me amava. Mas também sei que fui um grande desapontamento
para ela. Não era bonita, nem magra, nem querida na cidade.
— Sua avó apenas queria que você fosse feliz. Às vezes era um pouco severa demais.
— Ela sempre fez o que achava o melhor para mim — Trish simplesmente disse.
— Agora que está de volta, se precisar de alguma coisa...
— Saberei a quem pedir. — Trish sorriu. — É melhor que eu procure um lugar e deixe
o senhor continuar com seu trabalho.
Embora Trish preferisse se sentar bem atrás, Tommy já havia se sentado ao lado de
Matt. Com relutância ela atravessou a nave sentindo que olhares curiosos a seguiam.
— Guardei um lugar para você, mamãe. Venha cá. Trish sentou-se e sorriu para os pais
de Matt. O organista apenas executara a primeira nota quando alguém tocou no ombro
dela.
— Há lugar para mais um?

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Ela virou-se e deparou com Jack, muito bem vestido de terno e gravata.
Tommy respondeu antes dela:
— Claro, há muito lugar aqui.
Infelizmente "muito lugar" fora um exagero. No espaço livre mal cabia uma criança.
Quando Jack se sentou Trish ficou espremida entre ele e Tommy. Não estivera tão perto
de Jack desde aquela noite no depósito.
Trish estremeceu só em se lembrar. Pegou o livro de orações com mãos trémulas.
— Seu perfume é delicioso — ele disse.
Trish lançou-lhe um olhar de censura. E Jack riu.
— Não vai cantar? — ele lhe perguntou.
O tom da voz de Jack era de caçoada, e Trish achou que devia responder no mesmo tom,
mas não conseguiu. Toda a situação era íntima demais. Sentava-se ao lado de Jack na
igreja. Usavam o mesmo hinário. O filho deles estava ao lado. A família de Jack bem
perto.
Trish sentiu o coração apertado. Aquela era a vida que desejara e rezara para ter.
Sonhara com isso durante tantos anos! Mas não se tratava da realidade agora, porque o
homem ao lado dela não era quem aparentava ser. Não era seu marido.
Se não tivesse ouvido a conversa entre ele e os amigos, poderia ter seguido na vida
beijando o chão que Jack Krieger pisava.
Mas seus olhos se abriram naquela distante noite da formatura. Aprendera sua lição
sobre o que acontecia quando o amor era cego.
Trish olhou para o homem a seu lado. Por mais charmoso, atraente, tentador que fosse,
não permitiria que ele a ferisse de novo.

CAPITULO VI

No minuto em que o pastor Williams terminou com as orações e deu a bênção, Trish
agarrou sua bolsa para sair. A última coisa que desejava
era ficar conversando com Jack Krieger.
Mas na fúria de fugir esquecera-se de que Jack estava entre ela e a saída. Quando se
moveu, ele imediatamente levantou-se e disse:
— Bom dia. — Pelo olhar de Jack, Trish percebeu que lhe vedara a saída de propósito.
— Fiquei surpreso ao vê-la aqui.
— Nesse caso a surpresa foi mútua — Trish respondeu.
— Eu poderia jurar que sua família frequentava a igreja metodista em Elm.
— A igreja fechou há cinco anos já.
— Fechou? Nunca ouvi falar em uma igreja fechar.
— O ministro partiu. Os paroquianos se dispersaram. — Jack sacudiu os ombros. — Foi
isso.
Trish ia começar a indagar por que ele escolhera frequentar a igreja do pastor Williams,
mas pensou melhor e não disse nada. Não queria conversar com Jack um minuto mais
do necessário.
— Sim, vai ser legal! — Ela ouviu Tommy dizer. — íamos comer fora mesmo.
— O que vai ser legal? — Trish perguntou ao filho.
— Matt convidou-nos para almoçar com ele e a família— explicou Tommy. — Não é
maravilhoso?
— Sinto muito — Trish retrucou depressa — mas vai ser impossível. Tenho várias
coisas a fazer e...
— Mas íamos comer antes, de qualquer maneira — protestou Tommy.

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— Aceite, sra. Bradley — insistiu Matt. — Vamos ter hambúrguer e salada de batata.
— Parece muito bom — Trish murmurou. — Mas...
— Minha mãe até assou um bolo — Matt acrescentou. — Com cobertura de chocolate.
— Minha cobertura preferida — comentou Tommy. — Vamos, mamãe.
Trish olhava do filho para Matt. Queria que Tommy tivesse amigos, e Matt era um
ótimo menino, mas também sobrinho de Jack.
— Nós gostaríamos muito que fossem. — Julie Cullen olhou para Trish com um sorriso
amigo. — Lamento você ter estado na cidade há tanto tempo já sem termos chance de
nos ver.
— Não quero incomodar — Trish apresentou como desculpa.
— Julie sempre faz comida para um exército — comentou o sr. Cullen. — Vocês vão
nos fazer um favor dizendo "sim". Do contrário, teremos de comer restos a semana
inteira.
Trish olhou para Julie e Dan, e pensou. Eles nunca entenderão o porquê de minha
resposta negativa.
— Nesse caso — disse Trish —, vamos.
— Ótimo! — A voz de Jack soou atrás dela. — Vamos já para acender o fogo da grelha.
— Acender a grelha? Você? — Trish perguntou, atônita.
— Não sabia? — Jack disse com expressão inocente. — O almoço de domingo é por
minha conta esta semana.
— Você sabe cozinhar? — Tommy não teria ficado mais espantado se Jack tivesse dito
que podia voar.
— Sei, claro.
— É difícil?
— Nada — disse Jack. — Se quiser, pode me ajudar e eu lhe mostrarei como é fácil.
— Eu quero — Tommy respondeu imediatamente.
— Posso ajudar também, tio Jack? — Matt perguntou.
— Claro que pode. Quanto mais ajuda eu tiver, melhor. — Jack lançou um olhar para
Trish.
Trish fitou-o com frieza. Não tinha intenção de ficar tão perto dele em uma grelha,
naquele dia ou em qualquer outro dia.
— Estacionei meu carro bem na porta. Por que não vão os dois comigo? — Jack
convidou-os.
— Não, obrigada. Meu carro está no estacionamento.
— Eu sei — disse Jack. — Mas se você for comigo teremos chance de pôr nossa
conversa em dia.
— Prefiro ir em meu carro.
— Trarei você e Tommy de volta quando quiserem.
Trish não se sentia nem ao menos tentada. Ela podia
imaginar Tommy querendo ficar mais tempo conversando com Matt antes de sair e ela
sendo obrigada a permanecer sozinha com Jack.
— Eu vou com você — Tommy declarou com um sorriso feliz nos lábios.
— Tudo bem comigo — falou Jack. — Se sua mãe consentir.
— Está bem, mamãe? — Tommy encarou a mãe, com olhar suplicante.
Trish quis dizer "não". Não queria de forma alguma Tommy perto de Jack. Mas calara a
boca. Aprendera havia muito a aceitar as batalhas. E aquela, afinal, constava só de um
trajeto de carro. Não se tratava de uma longa viagem de pai com filho.
— Está bem, Trish? — Era Jack falando.
— Apenas verifique se ele aperta o cinto — Trish recomendou com calma.
Ela só pensava no que mais viria naquele dia.

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Sentara-se ao lado de Jack na igreja.
Iria jantar na casa da irmã dele.
O que aconteceria depois?
Contudo, quanto mais longe de Jack Krieger ficasse, melhor.
Jack recolheu o restante dos hambúrgueres e baixou a chama. Entre o pedido dos
meninos para mais sanduíches e a insistência da avó para que ele preparasse o frango de
maneira especial, Jack passara tempo demais em frente ao fogo.
E o que de fato desejara fora conversar com Trish. E ela mantivera distância o tempo
todo. Jack tinha a impressão de. que Trish o evitava, o que não fazia sentido para ele,
considerando-se como haviam sido unidos no passado.
Na realidade, tinham sido os melhores amigos um do outro até o dia da formatura. Jack
sentia-se culpado. O que acontecera no armário do depósito fora culpa sua. Mas não
fizera nada de propósito. Deus sabia que ele não era o tipo de homem que se
aproveitava de quem quer que fosse. Jamais planejara roubar a inocência de Patty.
Ele jogou a faca de lado e ficou olhando para o espaço, lembrando-se...
— Olhe quem apareceu! — Ron Royer gritara.— E com um namorado, nada menos que
isso.
Chip Lindermann olhou para trás, porém Jack não ficou nem mesmo tentado a olhar.
— Nada de novo — Jack murmurou. — Vi Missy dez minutos atrás.
Jack se perguntava por que permitira que Chip e Ron se metessem em sua vida,
convencendo-o a ficar sozinho, sem a namorada. Sim, ele brigara com Missy, mas, de
qualquer forma, estavam constantemente brigando. Tudo o que ele tinha a fazer depois
das brigas era mandar-lhe flores e ela voltaria a seus braços em um segundo. Mas agora
queria mostrar que estava cansado desses joguinhos.
— Não estou falando de Missy — Ron explicou. — Dê uma olhada.
Jack ergueu a cabeça e olhou para a entrada do ginásio. Não por estar interessado em
quem aparecera mas por saber que Ron não o deixaria em paz até ele olhar. Arregalou
os olhos e exclamou:
— Meu Deus, é Patty!
— Sabia que você se surpreenderia — Ron comentou com um sorriso.
— Mal posso acreditar — Chip arregalou os olhos também, cheio de surpresa. — Até a
gorda Patty tem namorado.
— Não a chame de gorda — Jack censurou-o. E se perguntava: com quem estava Patty?
E por que não lhe dissera que viria ao baile naquela noite? — Não reconheço o rapaz.
— Com certeza algum caipira — disse Ron com desprezo. — Veja como está vestido.
— Patty parece bem hoje — Chip comentou.
Jack olhou de novo para Patty. Chip errara, ela estava... linda.
Durante todos os anos em que a conhecera, raramente a vira com outra roupa além de
jeans e camisetas muito largas. E naquela noite, em vez de ter puxado os cabelos para
trás em um rabo-de-cavalo, deixara-os soltos, caindo sobre os ombros. E, embora o
vestido não lhe caísse sobre o corpo como o da maioria das moças do baile de
formatura, o tecido verde fazia sobressair o tom esmeralda de seus olhos.
A única coisa que faltava era um sorriso nos lábios dela. De contrapartida, o rapaz que a
acompanhava sorria para todas as moças. Quando ele deixou-a sozinha para ir conversar
com Kammie Parker, uma garota bem inferior a Patty em simpatia, Jack franziu a testa.
— Esse rapaz é um canalha — ele sussurrou. — Patty não merece ser tratada assim.
— Nunca pensei que você se importasse com ela. — Ron sorriu.
Jack percebeu qualquer coisa estranha no comentário de Ron, e achou melhor medir
suas palavras. Fez um gesto de que falara por falar, e explicou:
— Ela é minha vizinha, por isso.

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— Não penso que seja só por isso — Ron murmurou, cutucando Chip com o cotovelo.
— Acho que Jack gosta da gorda.
Jack rangeu os dentes mas ficou quieto, sabendo que Ron bebera um pouco demais.
— Acho que faz muito tempo que Jack não tem uma namorada. Mas nem mesmo uma
beldade é boa para ele — Ron continuou.
— Vocês aí estão falando bobagem — disse Jack. — Vou dar uma volta pelo ginásio.
— Eu disse a você que o que ele tinha eram "chifres" — Ron disse a Chip e o som de
gargalhadas ecoou pelo ginásio.
Jack vagou através da multidão, conversando com amigos, e ocasionalmente dando uma
olhada em Patty e no amigo dela. Mais ou menos uma hora após o baile haver
começado, Jack viu o companheiro de Patty na porta da saída. Sozinho.
Portanto não ficou surpreendido quando Ron lhe disse mais tarde que tinha visto Patty
chorando no corredor. Ron não hesitou quando Jack insistiu que o acompanhasse até o
local e levou o amigo para uma área da escola tão longe do ginásio que o som da música
nem chegava até lá.
— Tem certeza de que ela estava aqui tão longe? — Jack indagou.
— Claro que Patty não queria que ninguém a visse — Ron declarou. Ele parou na
frente de um enorme depósito, onde eram guardados os equipamentos de esporte. — Ela
está aí. Entre. Fale com ela.
Jack hesitou. Havia algo de errado.
— Jack, é você? — Patty falou de dentro do depósito. Jack entrou. Patty estava ao lado
de uma pilha de caixotes, com expressão ansiosa no olhar.
— Você está bem? — Jack lhe perguntou.
— Eu ia lhe perguntar a mesma coisa — ela gaguejou.
— Ia? Por quê?
— Ron disse que você queria muito falar comigo — Patty explicou. — Ele estava
bastante insistente sobre isso.
De repente, tudo fez sentido. Jack virou-se, mas não foi suficientemente rápido. A porta
fechou-se em seu rosto. Ouviu-se uma gargalhada do lado de fora.
Jack tentou girar o trinco, mas descobriu que a porta fora trancada. Bateu com força na
porta.
— Ron! Isso não tem graça! — Jack gritou. — Deixe-nos sair daqui.
— Divirtam-se! — Jack reconheceu a voz de Chip. — Vejo-os amanhã de manhã.
— Amanhã? — Jack dava pontapés na porta. — Vá para os diabos com amanhã. Abra
essa porta agora!
O silêncio foi completo. E Jack percebeu que estavam sozinhos. Presos em um depósito.
Conhecendo os amigos como conhecia, tinha certeza de que ficariam lá até o dia
seguinte, quando os dois rapazes voltassem. Porém Jack não era homem de desistir
facilmente.
— Se fizermos bastante barulho alguém nos ouvirá — ele disse a Patty, que permanecia
de olhos arregalados, com as costas pressionadas contra uma pilha de caixotes.
— Não acredito. — Ela sacudiu a cabeça. — Este pavilhão fica bem longe de tudo.
Podemos gritar e gritar quanto quisermos, e não fará a mínima diferença.
— Como pode estar tão calma? — Jack lhe perguntou. — Já pensou que pode ficar
aqui a noite inteira?
— Pensei. Mas o que podemos fazer? — Sua voz era
resignada.
— Sua avó terá um enfarte se você não voltar esta noite.
— Ela foi passar o fim de semana em St. Louis. A irmã dela saiu do hospital hoje, e
precisa de ajuda. Minha avó só voltará amanhã à noite. E sua mãe?

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— Eu ia passar a noite na casa de Chip — Jack sorriu. —- Ela não me espera.
— Por que acha que seus amigos fizeram isso? — Patty perguntou.
Jack fez uma pausa. Embora não tivesse muita certeza, suspeitava qual seria a razão
para Ron e Chip terem trancado os dois juntos.
— Estão bêbados e são uns idiotas — disse Jack, como se isso explicasse tudo.
Trish aceitou a explicação sem comentários.
— Gostaria que tivessem escolhido um lugar mais limpo — disse Jack, franzindo a testa
à vista do vestido lindo de Trish, agora todo empoeirado.
— Sinto muito — Jack sussurrou. — Odeio o fato de eles terem estragado sua noite,
Patty.
— As coisas não ia muito bem, de qualquer jeito. — Patty baixou a cabeça. — Nem
mesmo tive chance de dançar.
— Aquele moço foi um tolo.
— Tem razão — declarou Patty, fitando-o com seus enormes olhos verdes. — Que tipo
de homem aceita um encontro com uma mulher sem a conhecer antes? Devia saber que
uma moça, mesmo com muita personalidade, podia ser gorda e feia.
— Não diga isso, Patty. Eu quis dizer que ele era um tolo por a ter abandonado. Você é
linda!
Patty corou.
— Você é — Jack repetiu. — E, antes que a noite acabe, vai dançar.
— É uma boa idéia, mas não funcionará. Temos aqui bolas e tacos e esteiras, mas não
uma banda à vista.
Jack sorriu. Pelo visto, Patty não sabia nem um pouco que nada o impediria de fazer o
que ele desejava.
— Faremos nossa música — Jack sugeriu.
Ele estendeu a mão a Patty. Ela fitou-o, duvidosa por segundos, mas depois tomou-a.
Mas Jack não a deixou se mover. Em vez de dançar, segurou-a mais perto de si, sur-
preendendo-se pela naturalidade com que Patty se sentia em seus braços.
Embora passassem todas as noites de sexta-feira e sábado juntos, nunca se haviam
tocado. Portanto, Jack não estava preparado para aquela onda de emoção que abatera
sobre ele quando Patty encostou a cabeça em seu ombro.
Um aroma de baunilha flutuou no ar, e sem pensar Jack encostou o nariz nos cabelos
dela, inalando o perfume.
— Você tem um cheiro delicioso. Patty estremeceu.
Jack deu um passo atrás.
— Está com frio? — perguntou.
Ele pensou em lhe oferecer o paletó. Mas, ao fitar bem os olhos cor de jade, enxergou
tudo, menos frio.
— Não estou com frio — ela respondeu.
Patty passou a língua pelos lábios e Jack sentiu o incon-trolável desejo de prová-los, de
descobrir por si mesmo se eram mesmo tão suaves como pareciam.
— Não estou com frio — Patty repetiu. — Nem um pouco. — Ela acariciou-lhe o rosto
com a mão, e sussurrou: — Posso beijá-lo?
— Eu adoraria se o fizesse.
Sem pensar uma segunda vez, foi Jack quem a beijou. Beijou-a vagarosa e
demoradamente, descobrindo no processo que os lábios dela eram tão suaves e doces
como
pareciam.
Quando terminou de beijar, beijou-a de novo. E de novo. Naquela última vez Patty abriu
os lábios, e o beijo foi mais profundo. Jack beijara uma infinidade de moças, mas aquele

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beijo fora diferente. Um fogo queimava-lhe as veias, e de repente beijar não foi
suficiente. Segurou-lhe um seio, contornando o mamilo com o polegar...
— Jack? — A voz de Trish soou em seu ouvido. Assustado, ele inclinou o corpo para
trás e a faca voou pelos ares. Seu coração bateu com mais força no peito.
— Você está bem? — Trish inclinou-se e apanhou a faca que caíra na grama espessa.
— Menino! Desça já dessa árvore. Vai cair e quebrar o pescoço! — A voz da avó Irene
ecoou no ar.
Trish olhou para a avó, no meio do pátio, sacudindo um dedo na direção do alto
carvalho.
Trish viu então o próprio filho no alto da árvore, mas ele ainda subia. O vento, que não
existira quando saíram da igreja, agora fazia as folhas se agitarem e os galhos
balançarem perigosamente. Como uma leoa, Trish deixou escapar um rugido. Foi para o
meio do pátio, o coração aos saltos, mal notando que Jack a seguia.
— Tommy! — ela gritou. — Pare com isso.
Tommy ignorou-a, e foi para um galho ainda mais alto. A fúria tomou o lugar da
apreensão.
— Tommy, pare com isso imediatamente. Tommy parou de subir, e olhou para baixo.
— Não posso descer, mamãe. Oreo precisa de mim. Pela primeira vez Trish notou uma
gata preta e branca
em um galho um pouco acima do de Tommy.
— Essa maldita gata! — Jack murmurou inconformado.
— Tenho certeza de que ela pode descer sozinha — declarou Trish, agora com bastante
calma.
Porém Tommy não se moveu.
— Tommy, Oreo não precisa de sua ajuda. Ela sobe naquela árvore o tempo todo —
Jack falou. — Obedeça sua mãe e desça.
Tommy olhava de Jack para a gata, esta lambendo uma pata sentada em um galho bem
perto mas ainda não ao alcance dele.
— Tem certeza? — perguntou.
— Absoluta — Jack respondeu.
A essas horas a família inteira estava sob a árvore, incluindo Matt, observando a
movimentação desusada.
— O que está acontecendo? — Matt indagou.
— Seu amigo decidiu subir em uma árvore. Que acha disso? — Jack falou.
— Ele está na árvore? — Matt olhou para cima. — É valente mesmo.
Trish estremeceu, e Jack bateu no ombro dela.
— Tudo vai sair bem — animou-a. — Eu costumava subir naquela árvore até o topo,
quando era menino.
Ele mal acabara de falar quando Tommy escorregou. Uma exclamação coletiva saiu do
grupo. Trish agarrou no braço de Jack, enterrando as unhas.
Durante segundos o menino balançou no ar. Mas em questão de minutos encontrou
apoio para o pé.
— Vou subir atrás dele — Trish disse.
— Não, você não vai — Jack protestou. — Eu vou.
— Acontece que a mãe dele sou eu. E posso tomar conta de meu filho.
— Sei que pode, Trish. Mas sou mais forte.
Embora Tommy tivesse apenas nove anos, era um menino grande. Se perdesse o pé, ela
não conseguiria segurá-lo.
— Está bem. — Trish conformou-se. — Vá, mas não o deixe cair.
— Não deixarei. Confie em mim.

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Trish sentiu um frio na espinha. Porém, que outra escolha tinha? Seus olhos estavam
grudados em Tommy, e ela mal podia respirar enquanto Jack ia ao encontro do menino.
Embora aquilo parecesse uma eternidade, em poucos minutos Tommy estava no chão.
Trish abraçou o filho até ele se contorcer, para afastá-la. Depois disso, Tommy correu e
foi jogar com Matt, com instruções para não chegar perto das árvores. Trish foi procurar
por Jack. Encontrou-o na cozinha, mexendo na geladeira.
— Quer alguma coisa? — ele lhe perguntou.
— Quero lhe dizer "obrigada". Não imagina quanto eu...
Jack sorriu e colocou um dedo nos lábios dela. Disse então:
— Não precisa me agradecer. Gostei de fazer o que fiz. O toque nos lábios espalhou
uma corrente elétrica pelo corpo de Trish que se aproximou mais, como se o alívio e a
gratidão tivessem provocado um curto circuito em sua. normal reserva. Colocou as
mãos nos ombros de Jack e impulsivamente roçou os lábios no rosto dele.
Trish pretendera que o beijo fosse impessoal, de agradecimento. Um beijo que daria a
um irmão, ou a um amigo de sua avó. Mas Jack moveu-se e ela atingiu-lhe os lábios. Aí,
ao invés de empurrá-lo, envolveu-lhe o pescoço com os braços.
Foi um beijo delicioso, uma carícia mais que um beijo. E quando a língua de Jack
forçou-lhe os lábios em uma persuasão tentadora, ela abriu a boca. No calor do
momento não fez uma pausa para considerar as consequências do ato. Na verdade,
parou de pensar. Colou seu corpo ao dele em um abandono completo.
Ouviu um gemido rouco e, atordoada pelo desejo, não sabia se viera dos lábios de Jack
ou dos dela.
Por uma fração de segundo entregou-se à fantasia de que ele realmente a desejava,
talvez até a amasse.
— Oh, Patty! Veja o que fez comigo! Patty?
Jack inclinou a cabeça para beijá-la de novo, mas Trish agora afastou-se, com o coração
acelerado.
— Jack, preciso de mais... — Julie parou à porta ao ver Jack e Trish, e seus olhos
brilharam de espanto. — Espero não ter interrompido nada.
— Nada, nada — Trish respondeu, resistindo à necessidade de arrumar suas roupas. —
Na verdade, eu estava de saída. Tommy e eu precisamos ir. Amanhã terei um longo dia.
— Trish...
— Obrigada pelos hambúrgueres... — ela interrompeu Jack e depois dirigiu-se a Julie
— e por tudo. Foi um dia maravilhoso.
Para evitar que alguém a interrompesse, ela saiu. A última coisa que desejava era falar
com Jack sobre o que acontecera.
Onde estivera com a cabeça? Como pudera tão facilmente se esquecer daquela valiosa
lição que ele lhe dera anos atrás? Embora querendo pensar de outra maneira, tinha de se
lembrar que a felicidade jamais seria encontrada nos braços de Jack Krieger.

CAPÍTULO VII

Jack sentou-se em uma cadeira da cozinha e tomou um gole de chá gelado. A segunda-
feira estava sendo um dia trabalhoso mas, inexplicavelmente, ele saíra do escritório
mais cedo. Em vez de ir direto à sua casa, passara pela casa da irmã.
— Como vai indo seu trabalho de babá? Arrependida de ter aceito?
— De forma alguma. — Julie sorriu. — Tommy é um bom menino. E cuidar de um
garoto de nove anos não significa tanto trabalho assim.
— Oito anos, não nove — Jack corrigiu-a.

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— Como?
— Tommy tem oito anos — Jack insistia.
— Está errado. O menino tem nove anos — Julie protestou com a autoridade de irmã
mais velha.
— Oito. — Jack sorriu. — Ele tem oito anos.
— Vamos resolver isso já — disse Julie. Ela abriu a porta da cozinha e gritou: —
Tommy, venha aqui um instante.
Um minuto mais tarde Tommy e Matt entraram na cozinha e riram ao ver Jack.
— O que houve? — Matt perguntou.
— Tommy, você disse que seu aniversário era em fevereiro? — Julie lhe perguntou.
— Não. É em janeiro.
Jack lançou à irmã um olhar de vitória. E depois fez a pergunta:
— E quantos anos você fez?
— Nove — Tommy respondeu. — Sou mais velho do que Matt.
— Só por alguns meses — Matt explicou.
— Mas continuo sendo mais velho.
— Meninos, agora chega. Por que não vão brincar de novo? A mãe de Tommy deve
chegar logo a fim de apanhá-lo.
Para surpresa de Jack, os garotos não discutiram. Pegaram alguns biscoitos que estavam
sobre a mesa e correram para fora.
— Então, eu estava certa ou não estava? — Julie disse.
— Ele não pode ter nove anos.
— Jack, ele tem nove. Admita que errou.
— Isso não faz sentido — Jack insistia. — Se nasceu em janeiro, Patty, quer dizer Trish,
ficou grávida enquanto estava na escola.
— E daí? — Julie franziu a testa. — Não seria a primeira garota em Lynnwood na
mesma situação. Embora, se pensar no caso, não me lembro de a ter visto com um
namorado.
— Eu vi uma vez — Jack declarou, pensando naquela longa noite. — Ela compareceu à
festa de formatura com um namorado.
— Então! — disse Julie. — Foi quando aconteceu. As datas coincidem.
— Coincidem, é verdade. — Jack sentiu um aperto no coração a ponto de quase não
poder respirar.
Santo Deus, e teria Patty ficado grávida naquela única noite em que dormiram juntos?
Porém ela afirmara que havia se casado. Até o amigo Pete, de Washington, confirmara
que Patty havia se divorciado. Devia haver uma explicação lógica. Patty nunca teria
guardado segredo se ele fosse o pai de Tommy.
Jack procurava loucamente por uma explicação. Não houve homens na vida de Patty
antes da longa noite. Contudo, o que acontecera depois que ela saíra de Lynnwood era
um mistério. Embora jovem e vulnerável, Jack duvidava que Patty tivesse pulado na
cama do primeiro homem que visse a sua frente.
— Preciso ir — Jack disse à irmã.
— Por que não fica para jantar? — Julie convidou-o.
— Obrigado, mas não estou com fome.
— Desde quando o fato de não estar com fome o impede de comer? Quando você era
jovem, mamãe e papai diziam, brincando, que seu estômago era um saco sem fundo.
Afirmava que estava satisfeito, depois de enorme refeição, mas comia uma torta inteira
de sobremesa.
— Está inventando isso, Julie.
— John Thomas Krieger — Julie disse o nome dele completo, para pôr mais ênfase —,

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Deus está ouvindo você mentir para sua irmã!
Julie continuava falando, porém Jack mal a ouvia.
John Thomas.
Formou-se um nó em sua garganta. Foi à janela e ficou olhando para o menino de
cabelos escuros. Não, Tommy não poderia ser seu filho. Não poderia.
Poderia?
Trish parou o carro em frente à casa de Julie e desligou o motor. Recostou-se por alguns
instantes e relaxou, pela primeira vez desde que saíra da cama às cinco horas da
madrugada.
Não dormira quase a noite toda. A lembrança dos beijos de Jack afastaram seu sono,
impossibilitando-a de dormir.
Estaria Tommy disposto a comer algo comprado fora? Embora gostasse de preparar
refeições nutritivas para o filho, naquele momento uma pizza resolveria seu problema.
Ao terminar de comer jogariam fora os pratos de papel. Nada de limpeza na cozinha.
Terminado seu planejamento para o jantar, Trish saiu do carro. Assim que chegou ao
portão viu Jack sentado no balanço do terraço.
Corou até o pescoço.
— Jack, que surpresa. — Ela forçou um tom amável. — Não esperava vê-lo de novo.
— Não esperava ver-me de novo?
— Eu quis dizer, esta noite.
— Precisamos conversar, Trish.
— Eu gostaria muito. Sinto, mas estou muito cansada. Outro dia, talvez.
Jack levantou-se do balanço e em um segundo se encontrava ao lado dela.
— Agora. Nem um minuto mais tarde — disse.
Trish ergueu a cabeça. Não tinha intenção de discutir, estava cansada e com fome.
Porém, acima de tudo, estava sem jeito.
— Já lhe disse, Jack, agora não posso. Tommy precisa jantar...
— Pode comer enquanto conversarmos. — Trish quis interrompê-lo, mas Jack ergueu a
mão. — Já disse a Julie para se ocupar de Tommy um pouco mais de tempo porque nós
dois precisamos conversar.
— Não temos nada a conversar. E você não tem direito de tomar decisões a respeito de
meu filho.
— Não tenho? Tem certeza disso?
— Absoluta.
— Tão absoluta que entraria e arriscaria permitir que todos, incluindo Tommy,
ouvissem o que tenho a dizer?
Qualquer coisa no tom de voz de Jack a fez ceder.
— Está bem, uma vez que se trata de assunto grave, suponho que posso lhe dar alguns
minutos. Mas diga de que se trata.
Jack sacudiu a cabeça.
— Não. Nossa conversa tem de ser em particular. A escolha é sua. Poderemos andar até
o parque ou ir a minha casa.
Sua escolha? Estaria sozinha com ele em ambos os casos, a menos que houvesse outras
pessoas no parque...
— Vamos ao parque — ela disse. — Mas não poderemos nos demorar muito. Sua irmã
já ficou com Tommy o dia inteiro hoje.
— Vamos. Quero terminar com isso logo.
De repente, tudo fez sentido para Trish. Ele queria pedir desculpas pelo seu
comportamento da véspera, e não desejava que ninguém o ouvisse. Pelo visto, ela não
era a única a estar sem jeito.

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A tensão de Trish diminuiu. Talvez fosse melhor esclarecer as coisas. Assim, não
haveria embaraços quando seus caminhos cruzassem futuro.
Ao chegarem ao parque, o coração de Trish já estava bastante leve.
— Este banco me parece limpo — disse Jack indicando um banco de pedra, dentro do
coreto.
— Parece limpo — Trish concordou, mas passou a mão pelo banco antes de se sentar.
O vestido que usava naquele dia era um de seus favoritos e não queria sujá-lo. — O que
há, afinal?
— Sinto-me como um idiota.
Bom começo, Trish pensou. Ao menos ambos concordavam que se comportaram como
idiotas. Embora soubesse que Jack gostara dos beijos tanto quanto ela, brincaram com
fogo. E não podiam permitir que a experiência se repetisse.
— Penso que ambos deixamos que os hormônios dominassem o bom senso — Trish
comentou.
— Do que está falando? — Jack perguntou, franzindo a testa.
— Da última noite, na cozinha. E você, do que está falando, Jack?
— Estou falando de Tommy — ele disse. — Sobre a possibilidade de ele ser meu filho.
Trish sentiu o sangue gelar nas veias. Teve dificuldade em respirar.
— Tommy? Seu filho? Onde foi buscar essa idéia louca?
— As datas coincidem — ele respondeu com voz tensa.
— O que quer dizer com isso?
— Fizemos amor em abril. Tommy nasceu em janeiro.
Inegável Desejo
Foi exatamente com isso que Trish se preocupou quando decidiu voltar para Lynnwood.
Felizmente se preparara para a contingência e veio.com uma história plausível.
— Tommy foi prematuro — ela falou. — Nasceu quase três meses antes do tempo. Os
médicos disseram que foi um milagre ele ter sobrevivido.
— Naquele caso você deve ter conhecido o pai de Tommy...
— Foi logo que eu cheguei em Washington. Eu era nova lá e ele também. Ambos nos
sentíamos muito solitários. Acho que por isso as coisas caminharam assim depressa.
Jack achou a explicação lógica. Mas, e o nome? Tommy dissera que seu nome era John
Thomas.
— Por que lhe deu o nome de John Thomas? É um nome que vem passando em minha
família de pai para filho há cinco gerações.
— O pai de Tommy sumiu antes de ele nascer. Sempre gostei do nome John Thomas, e
não pude pensar em outro de que gostasse mais... Espero que você não se importe.
— Não, e entendo bem. Confesso que fui um idiota.
— Mas aposto que está aliviado agora — Trish disse.
— Em termos — Jack admitiu. — Mas Tommy é um menino muito interessante. Se eu
tivesse um filho, gostaria que fosse exatamente como ele. — Olhou para Trish. Em
seguida levantou-se e apertou-lhe a mão. — Obrigado por ter sido honesta comigo.
Ele sabia que fora duro para Trish admitir que se casara com o primeiro homem que
propusera vida em comum, mas ficou contente por Trish lhe ter contado a verdade. Isso
porque a honestidade sempre fora importante para ele. E, se o relacionamento entre os
dois se transformasse em algo sério, com certeza não queria mentiras perturbando essa
amizade.
Trish colocou Tommy na cama, abraçou-o, e veio a costumeira pergunta:
— Sabe como amo você, não sabe?
— Montes e montes. — E a costumeira resposta.
— Certo. — Ela beijou-o na testa. — E nunca se esqueça disso. — Saiu do quarto.

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Se eu tivesse um filho, gostaria que fosse exatamente como Tommy.
As palavras de Jack seguiram-na até a cozinha. Lá, pegou um copo de leite e sentou-se à
mesa. . Errara em não ter contado a verdade a Jack? Depois de todos aqueles anos, a
negação fora automática. Jurara a si mesma, tempos atrás, jamais ter qualquer ligação
com o homem que destruíra sua vida com mentiras, fazendo-a aprender da maneira a
mais dura como a aparência podia enganar.
A lembrança do passado voltou-lhe à mente...
Patty colava o corpo contra o de Jack, a pele quente e suave dele junto a sua. Embora
um depósito não pudesse ser considerado um esconderijo romântico, Patty não podia se
lembrar de ter sido tão feliz antes.
— É melhor nos vestirmos. — Jack levantou-se da "cama" improvisada e pegou sua
calça.
Patty segurou-o pelo pulso e puxou-a para seu lado.
— Por que a pressa?
Ele beijou-lhe a mão e rindo, disse:
— São quase seis horas e não quero arriscar que alguém nos surpreenda.
Fazia sentido, mas a noite fora tão maravilhosa, tão cheia de magia, que Patty não
desejava vê-la terminada. Rolou o corpo roçando os seios no tórax de Jack.
— Oh, Patty! — Em um movimento rápido Jack colocou-a em cima dele. — O que vou
fazer com você?
Ela sorriu e respondeu:
— Tenho algumas idéias.
Fizeram amor de novo e, enquanto Jack a acariciava Patty teve de lançar mão de toda
sua força de vontade para não confessar seu amor. Queria que ele falasse primeiro. Mas
como as palavras não vieram, consolou-se admitindo que às vezes atos falavam mais
alto do que palavras. E durante a próxima hora ele demonstrou de várias maneiras como
a amava.
Vestiram-se em silêncio, alisando as roupas amassadas e trocando sorrisos embaraçosos.
Olhando para Jack, Patty imaginava que uma dúzia de mulheres daria qualquer coisa
para ser namorada dele. E ainda não podia acreditar que fora a escolhida.
— Não posso crer que já seja manhã — Patty sussurrou.
— Ontem à noite pareceu-me que o amanhã jamais chegaria, e agora está aqui.
— Nossa noite foi linda — disse Jack tomando-lhe a mão.
— Mas quero que você...
Soaram risadas do lado de fora e o trinco da porta moveu. Jack largou a mão de Patty
como se fosse uma batata quente e afastou-se dela.
Ron e Chip entraram. Usavam jeans, camiseta e riam a valer.
— Divertiram-se? — perguntaram.
Jack respondeu, com voz cheia de sarcasmo:
— Tentem dormir em uma cama de concreto, e depois digam-me se é bom.
Os três rapazes conversaram durante algum tempo ignorando por completo a presença
de Patty. Foi como se ela não existisse, como se a noite não tivesse significado nada
para Jack.
— Vou ao banheiro — ela disse, os olhos cheios de lágrimas.
Depois de se refrescar, voltou para o depósito. Ao chegar à porta, viu Jack, de costas
para ela, falar aos amigos:
— O que vocês pretendiam com essa brincadeira? Tenho uma namorada, e sabem disso,
não sabem?
Ron sussurrou qualquer coisa, em seguida ele e Chip riram.
— Estão loucos? — Jack retesou o corpo. — Como se eu pudesse ter qualquer coisa

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com ela.
Por um segundo, tolamente, Patty supôs que ele se referisse a Missy. Até ouvir seu
nome. Chip e Ron riram de novo.
Patty sentiu as pernas fraquejarem e por um momento achou que iria desmaiar. Mas
depois de respirar várias vezes, melhorou.
Disse a si mesma que devia ter sabido que Jack não podia gostar dela. Ele queria sexo
apenas. E a situação fora
conveniente.
Deus, como estivera "acesa". Corou lembrando-se do que fizera. Praticamente suplicara
que Jack fizesse amor com ela... e de todas as maneiras possíveis.
Patty controlou as lágrimas e endireitou os ombros. Ao se encontrar com os rapazes de
novo seus olhos estavam
secos.
— Vim buscar meus sapatos — disse.
— Levo-a para casa — Jack declarou.
— Não se incomode. Já me aguentou a noite toda.
— Mas quero... — Jack insistia.
— Jack, meu amigo, deixe-a andar. — Ron olhou para o corpo avantajado de Patty com
indisfarçável desdém. — Só Deus sabe como precisa de exercício.
— Chega! — Jack protestou.
Embora a falta de sensibilidade de Ron não fosse nada de novo, seus comentários ainda
machucavam. Porém ao menos ela sabia como Ron e Chip eram. Muito mais perigosas
eram pessoas como Jack. Pessoas que fingiam ser amigas. Pessoas que diziam uma
coisa em sua frente e que riam de você em suas costas.
— Ron tem razão. — Patty ergueu a cabeça. — Preciso de exercício.
— Deixe-me levá-la a casa — Jack repetiu. — É o mínimo que posso fazer.
— Obrigada, mas não. Já fez muito.
Patty segurou as lágrimas até estar de volta em seu quarto, em sua própria cama. Deu
socos e mais socos no travesseiro até os soluços dilacerarem seu corpo todo.
Como pôde ser tão idiota?
Seu próprio pai não a amara.
Como pôde pensar que um homem como Jack a amaria?
— Mamãe? Você está bem?
Havia uma ruga na testa de Tommy e seus olhos azuis demonstravam preocupação.
Trish esfregou os olhos com o dorso da mão.
— Estou bem, querido — disse.
— Mas esteve chorando.
— Quando mamãe fica muito cansada às vezes tem vontade de chorar. Depois fica
melhor.
— E está melhor agora?
— Sim, estou. — Trish se deu conta de que dissera a verdade. Achou que estivera certa
em não dizer a Jack que ele era o pai de Tommy.
Jack era charmoso. Um homem que podia fazer uma mulher perder a cabeça com um
sorriso seu. Mas Trish era uma adulta agora, não uma menina ingénua e sua tarefa com
Tommy consistia no número um de suas atividades. Queria que o filho se transformasse
em um bom homem. Um homem que nunca abandonaria sua família quando os tempos
ficassem difíceis ou que nunca fizesse amor com uma mulher para depois deixá-la de
lado.
Naqueles anos passados Jack demonstrara que não era confiável. Por isso seria uma tola
se confiasse o filho a ele.

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Ou se confiasse a ele seu coração.

CAPÍTULO VIII

Tommy parece ótimo — disse Jack. — Está jogando muito bem. Trish fitou-o, surpresa.
Ela estava assistindo ao jogo de Tommy por duas semanas já, sendo aquela a primeira
vez em que vira Jack. Na realidade, a primeira vez depois que ele lhe perguntara se
Tommy era seu filho.
— O que faz você aqui? — Trish lhe perguntou.
— Vim assistir ao jogo. Segure isto, por favor.
Ele deu a Trish uma lata de soda e colocou sua cadeira ao lado da dela, na beirada do
campo.
— Mas, por que assistir ao jogo? — Trish insistiu.
— Porque... há uma pessoa aqui que desejo ver.
Por um breve instante Trish teve a ilusão de que Jack fora vê-la, até ele concentrar o
olhar no sobrinho que esquentava o corpo um pouco mais adiante.
Naturalmente. Ele fora ver Matt jogar. Trish devolveu-lhe a lata de soda.
— Olhe — disse.
— Quer tomar alguma bebida? — Jack lhe perguntou ao pegar a lata.
— Não, obrigada. Não bebo soda.
— Minha irmã também não gosta de soda.
— O gosto da bebida não é mau. Evito por causa das calorias.
— Você não precisa se preocupar com calorias — ele disse.
— Sim, tem razão — Trish caçoou. — Sou uma verdadeira beleza.
Naquele dia, ela se vestira rapidamente. Puxara os cabelos para o alto da cabeça, pusera
um top e um short bege, e se achara bem.
Jack examinou-a da cabeça aos pés.
— Para mim, está linda — ele comentou. — Tive saudade de você. Teria telefonado,
mas...
— Não me deve explicações, Jack. — Trish riu.
— Mesmo que não tenha tido saudade de mim — disse ele —, eu tive. Na verdade,
estava pensando se você e Tommy gostariam de ir comigo a Kansas City esta noite. Po-
deríamos jantar? Talvez ir a um cinema?
— Sinto muito, mas Tommy tem de ir a uma festa de aniversário. Na verdade, vai
passar a noite na casa do aniversariante.
— Que tal você, então?
O fato de ter tido saudade dele impediu Trish de mentir dizendo, talvez, que já fizera
planos para a noite. Enfim, o que haveria de tão errado em passarem o fim do dia
juntos?
— Um cinema me soa bem — ela sugeriu. — Vamos escolher um filme?
Ela e Jack discutiram sobre que filme assistir, durante o resto do jogo e o trajeto até a
casa onde deixaram Tommy. Seguiram depois para Kansas City. Trish escolheu o filme
e Jack o resto do programa da noite.
Foram a um local onde se servia excelente sorvete, no Plaza.
— Achei que você gostava de sorvete — disse Jack. — Por isso quis vir aqui.
— Eu adoro sorvete. Porém tomo um pouco mais de cuidado do que antes. Quando
estava na escola, comia uma enorme porção todas as noites. Não mais agora.
— Você sempre teve o apetite de pessoa saudável — Jack comentou.
— No passado, comida era o que me ajudava a continuar vivendo.

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— Você deve ter passado por momentos bem difíceis — Jack comentou. — Perder a
mãe quando era tão jovem!
— Não pode imaginar como foi difícil.
— Lembro de você me contar como tinha saudade de sua mãe — disse Jack.
— Sendo filha única, ela não era apenas minha mãe, mas minha melhor amiga. Quando
meu pai nos deixou, foi horrível. Mas quando minha mãe morreu... — Trish sentiu um
nó na garganta e vontade de chorar — ...senti-me terrivelmente só.
— Mas tinha sua avó.
— Sim, tinha. E ela fez o melhor que pôde, apesar das circunstâncias.
— Circunstâncias?
— Era uma mulher idosa que devia estar jogando bridge em vez de se ocupar cuidando
de uma adolescente. Sei que vovó desejava que meu pai fosse mais atuante, mas ele não
estava interessado em mim. Quando minha mãe morreu, meu pai já tinha se casado pela
segunda vez e havia um bebé a caminho. Portanto minha avó não teve outro remédio
senão ficar comigo. Eu tentava não incomodá-la. Estudava muito, ajudava-a na casa e...
comia. Comida ficou sendo minha melhor amiga.
— Sabia que sua vida não era boa, mas não pensei que fosse tão má. — Jack segurou-
lhe a mão. — Sinto muito você ter passado por tudo isso.
Trish ficou com os olhos cheios de lágrimas.
— Como é o velho ditado? O que não mata, engorda. É isso?
— Eu gostaria de ter estado a seu lado, Trish.
— E estava. Todas aquelas noites em que nos sentávamos e conversávamos no terraço
da casa de minha avó significaram muito para mim.
— Você está sendo amável — Jack disse. — Olhando para trás, não penso que eu tenha
sido muito bom amigo para você.
— Por que diz isso?
— Primeiro, sabia que estava achando muita falta de sua mãe e nunca a convidei para ir
conhecer a minha.
— Sua mãe já tinha um filha. Não precisava de outra.
— Contudo...
— Jack, é verdade — Trish interrompeu-o. — Não pense mais no caso.
— Sinto muito. Realmente sinto.
— Como já disse, tudo bem, Jack.
— Nada de tudo bem. Quero compensar pelo que não fiz.
— Compensar? De que está falando?
— Quero que você me dê outra chance de lhe mostrar o que um bom amigo pode fazer
— ele disse. — Podemos começar tudo de novo. Dessa vez não a desapontarei.
Já me desapontei uma vez, por culpa dele. Se me desapontar uma segunda vez, será por
culpa minha.
Trish se perguntava se iria ser tão louca em levar em consideração o pedido dele.
Mas, todos não mereciam uma segunda chance? E, de qualquer maneira, estaria de
sobreaviso.
Não, ele não a faria de boba de novo, porque dessa vez não permitiria.
— Não sei por que Jack não vai conosco — Tommy disse pela centésima vez. — Ele
gosta de montanha-russa, também.
O estacionamento do Parque de Diversões estava repleto. O sol brilhava e o céu azul
prometia um lindo dia.
— Já lhe disse, Tommy, este é um dia especial para nós. Jack tem sua vida, nós temos a
nossa.
— Mas ele poderia...

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— Tommy, chega! Nem mais uma palavra.
Tommy arregalou os olhos e Trish respirou fundo. Não havia necessidade de ela ficar
tão irritada. O fato de Jack não lhe telefonar durante toda a semana não era razão para
responder mal ao filho. Julie lhe dissera que ele estava fora da cidade, mas Trish sabia
que voltara na véspera, pois vira o jipe dele estacionado em frente ao banco, na sexta-
feira.
Mas não ia pensar sobre aquilo agora. Tentaria se concentrar em se divertir com o filho.
Durante toda a semana cuidara da limpeza da casa, da lavagem de roupa, por isso no
sábado poderia se concentrar em Tommy. Levantaram-se cedo para passar oito horas no
Parque de Diversões em
Kansas City.
— Vamos ter um dia muito agradável. — Trish forçou um sorriso. — Posso até ir com
você na roda-gigante. O que acha disso?
— Mas você sempre vomita — Tommy falou. — Na última vez que fomos a um parque
vomitou em cima daquele
homem...
— Foi porque eu tinha acabado de comer — Trish se defendeu, já sentindo enjoo só em
se lembrar do que acontecera. — Algodão doce e roda-gigante nunca foram uma boa
combinação.
Trish não viu necessidade de confessar que em outras ocasiões andara de roda gigante
com estômago vazio e sentira-se mal também.
Uma hora mais tarde Trish ficou olhando para um terrível inimigo: o Expresso Oriente.
O aspecto era ainda mais assustador do que a roda gigante. Os gritos das pessoas dentro
dos carros provocaram calafrios em sua espinha. Seu coração acelerou e gotas de suor
surgiram-lhe na testa.
— Céus! — Tommy exclamou. — Vai ser uma delícia. Vamos entrar na fila depressa.
— Tem certeza de que quer esperar? A fila está longa
demais, Tommy.
— Mas anda rápido. — Uma voz masculina, familiar,
soou atrás de Trish.
— Jack! — Tommy gritou e sorriu.
— Que surpresa — disse Trish.
— Surpresa mesmo — Jack concordou. — Quem diria que nos encontraríamos aqui?
Certamente não Trish. Vestira-se sem se preocupar muito com seu aspecto. Usava short
e camiseta, enquanto Jack lhe pareceu impecável.
— Você está linda como sempre — ele disse, com um sorriso de apreciação.
Trish, naturalmente, não acreditou. Na pressa de sair usara o mínimo de maquiagem e
puxara os cabelos para cima. Linda? Impossível.
— Jack, tem certeza de que deseja viajar naquela coisa?
— Missy surgiu do meio da multidão, com um sorvete. Parou. — É você, Trish? Que
surpresa.
Trish teve vontade de desaparecer em um buraco. Apesar do calor, Missy estava
elegante com seu short verde limão e sandálias. Seus cabelos bem penteados tocavam-
lhe os ombros.
— Missy. Que prazer em vê-la — Trish sorriu. — Kaela está com você?
— Devia estar, mas ficou doente ontem à noite — Missy respondeu. — Minha irmã
ficou cuidando dela hoje.
Você deixou sua filha doente em casa? Trish engoliu as palavras. Embora nunca tivera
deixado Tommy em casa doente, sabia que muitas mães faziam isso.
— Minha mãe sempre fica comigo em casa quando estou doente — Tommy se

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manifestou. — Não é verdade, mamãe?
— Bem, eu...
— Uma vez até perdeu um compromisso importante. Eu tinha febre muito alta. Quase
quarenta, acho. Não foi, mamãe?
— Trinta e oito — Trish corrigiu-o. — Mas estava bastante doente, Tommy.
— Kaela não tinha febre — Missy explicou. — Bem, talvez muito pouca. Mas isso é
comum em infecções.
— E sua irmã cuidará bem dela, claro — Trish disse.
— Sei que cuidará. — A tensão do rosto de Missy sumiu.
— Sabia que você entenderia, sendo também uma mãe sozinha. Jack e eu tínhamos
planejado este passeio havia muito. Não quis cancelar.
— Porém foi mais para Kaela do que para nós — Jack comentou logo. — E eu lhe
disse que entenderia se você preferisse ficar em casa com ela.
— Mas eu não quis cancelar. Estou cansada de passar todos os fins de semana em casa,
sem fazer nada. Embora não adore viajar naquele monstro.
— Eu adoro montanha-russa — Tommy opinou. — Mamãe prometeu que dessa vez iria
comigo.
Jack olhou para Trish e, sorrindo, perguntou:
— Eu não sabia que você gostava de montanha-russa.
— Ela detesta — Tommy respondeu antes que Trish tivesse chance de abrir a boca. —
Na última vez vomitou na careca de um homem. Ele ficou tão furioso. Você...
— Tommy! — Trish sacudiu o filho pelos ombros. — Chega!
— Se ele quiser, pode ir comigo, a meu lado — Jack se ofereceu. — A menos que você
queira mesmo ir — ele perguntou a Missy.
— Não faço a mínima questão — Missy riu. — Vão vocês dois. Trish e eu nos
sentaremos à sombra daquela árvore e relaxaremos. Venham nos buscar quando
terminarem.
— Divirtam-se — disse Trish... mas Tommy já conversava alegremente com Jack e
talvez nem tivesse ouvido nada.
Trish e Missy sorriram e sentaram-se no banco mais próximo.
— Quer tomar um gole de meu suco de frutas? — Missy
perguntou.
— Não, obrigada.
Durante a próxima meia hora as duas mulheres conversaram sobre tudo e sobre todos...
exceto sobre Jack.
Enfim, Trish não pôde aguentar mais. Mesmo não sendo de sua conta, queria saber o
que havia entre Missy e Jack. Por isso, quando Missy mencionou o nome dele,
aproveitou a oportunidade, e perguntou:
— O relacionamento entre vocês dois é sério?
Missy demorou para responder. Tomou mais um gole do suco e olhou a distância.
Finalmente, quando Trish já não esperava mais uma resposta, ela disse:
— Acabo de sair de um casamento infeliz, muito infeliz.
Reconheço que é cedo demais para pensar em outro. Mas se de fato me decidir dar esse
passo, tem de ser com um homem como Jack. É o melhor que já conheci até hoje. Tenho
certeza de que já sabe disso.
Trish limitou-se a sorrir. Tinha certeza de que muita gente concordaria com Missy. Jack
tinha reputação de ser trabalhador, um dedicado voluntário para o bem da comunidade,
enfim, um grande homem, como Missy dera a entender.
Talvez, tendo chance, seria até um bom pai.
— Você acredita que uma pessoa possa mudar? — Trish perguntou, abruptamente.

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— Em que sentido? — Missy perguntou, com uma ruga na testa.
— Digamos, uma pessoa que é egoísta e egocêntrica quando jovem. Acha que uma
pessoa assim pode mudar? Ou acredita que essas características sejam parte da persona-
lidade básica do indivíduo?
— Acredito que as pessoas não apenas podem mudar como mudam. Algumas para
melhor, outras para pior. Com o passar dos tempos, mostram suas verdadeiras cores. É
só dar-lhes corda para se redimir ou se enforcar. Veja meu ex-marido, por exemplo. Ele
tinha um temperamento quando nos conhecemos, mas com o decorrer dos anos ficou
simplesmente mesquinho, maldoso.
A mente de Trish voou longe enquanto Missy continuava a falar.
Missy lhe dera muito em que pensar. Talvez Jack não fosse o mesmo homem
egocêntrico que destruíra seu coração. Tommy o adorava. Mas antes de deixar que Jack
fizesse parte da vida de seu filho, ela faria o que Missy sugerira e passaria mais tempo
com Jack. Procuraria conhecê-lo melhor, verificar se realmente mudara.
Afinal, o que teria a perder?
O quê?

CAPÍTULO IX

—Que bom que você telefonou. — Trish limpou a boca com um guardanapo de
papel. — A idéia da pizza vem a calhar.
— Com Tommy jogando neste fim de semana, achei que você estaria sem companhia —
Jack sorriu. — Afinal, o que faria com todo esse tempo livre?
— Acho que .poderia encontrar alguma coisa para fazer — Trish respondeu.
Jack não pôde evitar de pensar em como Trish estava linda naquela noite. Embora seu
vestido não fosse exage-radamente curto, dava para se ver boa parte do colo e muito da
pele cor de mel.
Desde o instante em que a apanhara, tudo o que desejara era tocá-la. Quando abriu a
porta do carro e ela entrou, quis carregá-la nos braços ali mesmo. Mas aquele encontro
tinha por finalidade renovar a amizade, não beijar.
E Trish gostava de conversar. Havia muito não rira tanto. Mas entre o convidativo
aroma do perfume dela e a maneira sensual com que passava a língua nos lábios
tentadores, Jack estava tendo dificuldade em se concentrar.
— É muito bom termos a chance de renovarmos nosso conhecimento — ela disse. —
Naturalmente nos conhecemos na escola secundária, mas as pessoas mudam.
— Não acho que mudamos muito. Ainda gostamos de passar tempo juntos, como
quando tínhamos dezoito anos
— Jack disse.
— Se gostava tanto de passar tempo comigo naquela época, por que nunca me convidou
para sair? — Trish inclinou-se sobre a mesa, os olhos brilhando com intensidade.
A pergunta apanhou Jack de surpresa. Dizer que nunca pensara em convidá-la para sair
soava ridículo. Infelizmente, era a verdade.
Ele demorou para responder, e Trish acrescentou:
— Tinha vergonha de ser meu amigo? Foi isso?
— Não, claro que não.
— Naquele caso, por que nunca me apresentou a ninguém como sua amiga? Por que
nunca saímos como namorados?
Depois de todos aqueles anos, Jack não entendia por que isso era tão importante para
ela. Mas pelo visto, era. Acomodou-se melhor na cadeira e disse:

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— Na verdade, para ser honesto, nunca pensei no caso.
— Nunca pensou? — Trish arqueou uma sobrancelha.
— É verdade. — Jack duvidava ser possível fazê-la entender algo que ele também não
entendia. — Eu tinha meus amigos, pensei que você tivesse os seus.
— Ah, sei. — Ela sacudiu os ombros.
Jack encheu-se de vergonha ao pensar que falhara.
— Eu faria qualquer coisa que pudesse para voltar ao passado.
Ficaram sentados em silêncio durante muito tempo. Jack pensava como sua vida teria
sido diferente se Trish houvesse feito parte dela no passado. Seria sua esposa agora? E
Tommy, seu filho?
— Não podemos rodar os ponteiros do relógio para trás, mas podemos começar de novo
— Trish observou.
Jack refletiu por uns segundos. Havia infinitas possibilidades.
— Gosto da idéia de começar de novo — ele disse enfim.
— Esta noite poderia ser um novo começo para nós. Um tipo de primeiro encontro.
— E o que aconteceria com a última semana, quando jantamos e fomos ao cinema em
Kansas City?
— Está bem. Então este seria nosso segundo encontro — Jack disse, continuando com
a idéia.
Trish concordou e, assim que terminou de comer a pizza, foram a um campo de esportes
em Lynnwood a fim de "jogar boliche ao luar".
Bem depressa Jack viu que Trish não era uma profissional. Quando quase saiu da
cancha com a bola, ele insistiu em segurá-la pela cintura para ajudá-la.
Infelizmente não conseguiu muito sucesso. Trish não conseguia manter a bola na
cancha. Mas parecia não se importar com isso. Tampouco Jack. Ele divertia-se
provocando-a e principalmente gostava de tê-la nos braços. Tiveram a impressão de que
haviam apenas começado quando o jogo acabou.
— Talvez eu deva me sentir feliz por não termos ficado mais vezes juntos no passado —
Trish falou sorrindo, enquanto desamarrava os sapatos de boliche. — Você é o tipo do
homem exigente.
.— Não viu nada ainda — Jack replicou. Foram para o carro.
— Adorei as horas que passamos juntos, Jack. Se os encontros de namorados no tempo
da escola eram assim, sinto muito ter perdido todos eles.
— A noite está só começando. — Jack abriu a porta do jipe para ela e sorriu. — Ainda
teremos outra parada.
— Mesmo? É quase meia-noite. O que mais está aberto nesta cidade?
— Não é na cidade. Vamos ao Grogan's Point.
— Fala sério? Todos sabem que só se vai a Grogan's Point para concluir alguma coisa
começada.
— Tem razão. É lá que vamos.
— Foi onde você levou Missy? Jack fitou-a, intrigado.
— Algumas vezes — ele disse. — Mas geralmente eu estava sempre com tanta pressa
para ver você, que Missy teve de se contentar com um ou dois beijos na porta da casa
dela.
— Teve de se contentar? — Os lábios de Trish tremeram. Jack concentrou sua atenção
na rodovia. Na próxima esquina virou e entrou em uma estrada de pedregulho.
— Falou sério? Está mesmo me levando lá? — Trish perguntou.
— A menos que você não queira...
— Podemos ir. — As faces dela pegavam fogo. — Nunca estive naquele lugar à noite.
Jack sorriu e acelerou o jipe.

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Com os dedos entrelaçados atrás da cabeça, Trish olhava preguiçosamente para o céu.
Pensava no que Jack tinha em mente quando abrira a porta e tirara um cobertor do
banco traseiro. Porém, quando explicara que conhecia uma área gramada mais adiante
que fornecia melhor vista das estrelas, Trish relaxou e soltou o ar dos pulmões. Não
sabia que estava segurando a respiração.
Sentaram-se por alguns minutos e conversaram, mas no instante em que Jack sugeriu
que se deitassem, seu coração começou de novo a bater com toda a velocidade.
Contudo até aquele momento tudo o que haviam feito fora relaxar. E, naturalmente,
olhar as estrelas.
— Em que está pensando? — Jack lhe perguntou, quebrando o silêncio.
— Pensava no que consistia o grande programa de vir aqui.
— Não está gostando? — Jack ergueu o corpo, apoiando-se em um cotovelo.
— É bom. Mas um tanto cansativo.
— Ah, agora entendo. Madame quer ação.
Sem outra palavra, Jack estendeu o braço e puxou-a para mais perto.
Trish riu, sentindo-se como uma colegial de novo. Aconchegou-se bem, respirando o
aroma dele.
— Assim está melhor? — Jack sussurrou-lhe ao ouvido.
— Abraçar é bom. — Havia certa impaciência na voz de Trish.
Bom? Só bom? Trata-se de nosso primeiro encontro amoroso. Eu estava tentando ser
cortês — Jack se explicou.
— É nosso segundo encontro amoroso. E não precisa ser tão cortês. Pode me beijar, se
quiser. Não me importo.
— Não precisa me pedir duas vezes.
— Eu não ia pedir...
Os lábios de Jack abafaram-lhe as palavras, e Trish decidiu não se importar sobre quem
pedira, porque conseguira o que desejava.
Os lábios de Jack estavam quentes e suaves contra sua boca, e Trish relaxou nos braços
dele, saboreando a proximidade. Jack beijou-a como se tivessem todo o tempo do
mundo.
Ela se tornara muito experiente com homens através dos anos, mas o fato de passar
algumas horas com Jack naquela noite a fizera se dar conta do quanto perdera estando
longe. Como achara falta dele.
Virou a cabeça e sentiu os lábios de Jack em seu pescoço.
— Ainda está achando cansativo? — ele indagou.
— Só um pouco. — Trish mentia. — Trata-se de jogo muito lento. .
,Jack fitou-a por alguns minutos e com sua enorme mão segurou-lhe o rosto. Os olhos
de ambos se encontraram.
— Quero fazer tudo certo desta vez. Não quero me apressar. O que Jack falara fazia
sentido. Porém passara os últimos
dez anos longe daquele homem e agora ele estava de volta, sacudindo suas emoções
com um beijo e suaves carícias. Talvez aquilo não fizesse sentido... porém, no calor dos
braços dele, acharia que tudo estava certo.
— Quem falou em se apressar? — Trish sussurrou.— Temos uma noite inteira.
— Tem razão. Temos todo o tempo do mundo. Enterrando os dedos na cabeleira de
Jack, Trish abriu
a boca em uma atitude convidativa. Beijaram-se até o hálito
— Assim está melhor? — Jack sussurrou-lhe ao ouvido.
— Abraçar é bom. — Havia certa impaciência na voz de
Trish.

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— Bom? Só bom? Trata-se de nosso primeiro encontro amoroso. Eu estava tentando
ser cortês — Jack se explicou.
— É nosso segundo encontro amoroso. E não precisa ser tão cortês. Pode me beijar, se
quiser. Não me importo.
— Não precisa me pedir duas vezes.
— Eu não ia pedir...
Os lábios de Jack abafaram-lhe as palavras, e Trish decidiu não se importar sobre quem
pedira, porque conseguira o que desejava.
Os lábios de Jack estavam quentes e suaves contra sua boca, e Trish relaxou nos braços
dele, saboreando a proximidade. Jack beijou-a como se tivessem todo o tempo do
mundo.
Ela se tornara muito experiente com homens através dos anos, mas o fato de passar
algumas horas com Jack naquela noite a fizera se dar conta do quanto perdera estando
longe. Como achara falta dele.
Virou a cabeça e sentiu os lábios de Jack em seu pescoço.
— Ainda está achando cansativo? — ele indagou.
— Só um pouco. — Trish mentia. — Trata-se de jogo muito lento.
Jack fitou-a por alguns minutos e com sua enorme mão segurou-lhe o rosto. Os olhos de
ambos se encontraram.
— Quero fazer tudo certo desta vez. Não quero me apressar. O que Jack falara fazia
sentido. Porém passara os últimos
dez anos longe daquele homem e agora ele estava de volta, sacudindo suas emoções
com um beijo e suaves carícias. Talvez aquilo não fizesse sentido... porém, no calor dos
braços dele, acharia que tudo estava certo.
— Quem falou em se apressar? — Trish sussurrou. — Temos uma noite inteira.
— Tem razão. Temos todo o tempo do mundo. Enterrando os dedos na cabeleira de
Jack, Trish abriu a boca em uma atitude convidativa. Beijaram-se até o hálito quente de
Jack aquecer-lhe o rosto. Até os seios dela ficarem intumescidos. Até tudo o que
desejava ser apenas ele.
Como se pudesse ler-lhe os pensamentos, Jack pôs a mão sob o vestido de Trish e
segurou-lhe os seios. E quando ela pensou que iria morrer de paixão, Jack contornou os
mamilos com o polegar. Trish arqueou o corpo, a dor interior traduzia agora uma
necessidade ardente.
Jack sorriu. Ergueu-lhe o vestido e com a boca seguiu o movimento dos dedos.
Foi descendo a mão...
— Eles devem estar em algum lugar por aí. — Uma voz de homem se fez ouvir.
A mão de Jack pareceu congelar. Trish enrijeceu o corpo.
— Criaturas tolas. — A voz vinha da direção do carro.
— Você tem uma lanterna? Em pânico, Trish encarou Jack.
Santo Deus, não havia apenas um homem, mas dois.
Bem lentamente, Jack e Trish sentaram-se. Ela arrumou o vestido e os cabelos. Jack
alisou o cobertor e apertou-lhe a mão no instante em que dois policiais apareceram.
A luz da lanterna incidiu sobre Trish e depois mudou para Jack.
— Ora, ora, Jack Krieger. Vi o jipe mas não pensei que fosse o seu. Não esperava vê-lo
aqui.
— Eu também não esperava vê-lo aqui, Fred — Jack disse, rindo. — Trish e eu viemos
a este lugar para apreciar as estrelas. Espero que não haja nenhuma lei contra isso.
— Claro que não — Fred respondeu. — Mas em geral são adolescentes que aparecem
por aqui. E a maioria deles tem na cabeça algo mais do que apreciar as estrelas.
— É verdade — o policial mais jovem confirmou. — Por sinal, na semana passada

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deparamos com um casal nu e...
— Howie! — Fred reprèendeu-o. — O assunto é confidencial.
— Incrível! — Jack exclamou. — Difícil de acreditar! Fazer isso em uma área
pública?!
Trish corou ao se lembrar de como estivera exposta minutos atrás.
Fred riu muito.
— Quando os hormônios entram em ação as pessoas fazem isso em qualquer lugar.
Juro.
— Difícil de acreditar — Trish fez eco às palavras de Jack. Ela se perguntava até onde
teriam ido se os policiais não houvessem aparecido.
— Bem. Desculpem-nos por termos perturbado vocês. —Fred tocou a aba do boné. —
Aproveitem o resto da noite.
Trish esperou até os policiais sumirem de cena para dizer:
— É melhor irmos também.
— Tem certeza de que não quer apreciar as estrelas um pouco mais? — ele perguntou.
— Querer ou não querer não é o problema.
Trish lembrou-se do juramento que fizera sentada sozinha em um minúsculo
apartamento, com um bebé recém-nascido. Jurou não ter nunca mais sexo antes do
casamento. Durante todos aqueles anos não lhe fora difícil conservar o juramento... até
agora.
— Não, não é o problema — Jack confirmou, beijando-a e ajudando-a a se levantar.
— Para onde iremos daqui? — Trish quis saber, acabando de alisar o vestido.
— Vou levá-la para casa. Mas, como já disse, não há pressa. Gosto de você, Trish
Bradley. Dessa vez vamos fazer as coisas da maneira certa.
Dessa vez vamos fazer as coisas da maneira certa.
Trish pôs na pia a louça do café da manhã, incapaz de acreditar como tudo mudara
desde a noite em que ouvira essas palavras.
Continuaram se encontrando, tentando um novo relacionamento. Quando Tommy tinha
de praticar algum esporte, Jack se encontrava com ela no campo de esportes e assistiam
ao jogo juntos. Nos fins de semana, ela e Jack iam a concertos ou a um cinema.
Embora não conservassem seus encontros em segredo, Trish duvidava que alguma
pessoa em Lynnwood soubesse que namoravam. Apesar de Jack ser carinhoso com ela,
depois daquela noite das estrelas nunca mais nem mesmo segurara-lhe a mão em
público.
Suas dúvidas foram confirmadas quando Trish encontrou Missy em um supermercado, e
Missy mencionou que precisava telefonar para Jack a fim de combinarem um encontro.
Trish não dissera nada. Como poderia dizer que ela e Jack estavam comprometidos
quando não houvera real comprometimento? Enfim, não falara em se casarem e o dedo
da aliança continuava nu.
Trish olhou para sua mão esquerda. O que diria se Jack a pedisse em casamento?
Durante as semanas seguintes o comportamento de Jack mudara muito. Embora Trish
não conseguisse entender como um dia ele pudera ser tão cruel, agora acreditava que o
homem mudara mesmo.
Tommy apareceu na cozinha.
— O que houve? — a mãe lhe perguntou, notando a expressão excitada do menino.
— Recebi uma carta — ele disse. — De Washington.
— De quem? — Trish indagou.
— De Peter.
Peter Wessel havia sido o melhor amigo de Tommy desde o curso primário. Logo depois
que se mudara para Lynnwood, Tommy falava constantemente sobre seu velho amigo.

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Mas ao conhecer Matt, pouco mencionara Peter.
— Há uma carta para você também, mãe. De Washington. — Tommy entregou-lhe um
envelope.
Trish esperara se tratar de algum pagamento a fazer.
Consultora Carlyle.
A muito respeitada firma de consultoria em Washington havia sido sua escolha número
um na procura de emprego. Na ocasião em que saíra da cidade, não havia vaga para a
posição que pleiteava.
Trish abriu o envelope e leu a carta. Arregalou os olhos. Leu tudo mais uma vez e riu.
— O que diz a carta, mamãe? — Tommy ficou apreensivo. — Algo errado?
— Não, ao contrário. — Trish sacudiu a cabeça, incapaz de acreditar na ironia da vida.
Três meses atrás teria dado pulos de alegria a essa oferta: ganhar duas vezes seu antigo
salário com o direito ao uso de um carro? — É uma oferta de emprego em Washington.
— Não vamos voltar para lá, vamos, mamãe? — Tommy perguntou, preocupado. —
Gosto daqui.
— Eu também. — Sorrindo, Trish dobrou o papel e o recolocou no envelope. Mais
tarde, quando tivesse tempo, escreveria uma nota rápida declinando a oferta. A posição
oferecida só estaria à disposição dela em algumas semanas. Haveria, portanto, bastante
tempo para contratar outra pessoa.
— Não vamos a parte alguma, Tommy. — Lynnwood era seu lar, e todas as pessoas que
ela amava estavam ali mesmo.

CAPÍTULO X

A chei que você tinha dito que estaria livre no sábado. — Trish fazia esforço para se
manter calma, sabendo que a irritação não a levaria a nada.
— Sei que eu disse. — Jack deu uma mordida no sanduíche que Trish lhe preparara, e
mastigou por alguns segundos. — Mas isso foi antes de Larry Ketterer desistir de ser o
mestre-de-cerimônias do jantar anual da Câmara de Comércio.
— Mas por que tem de ser você o indicado? — Trish detestava pressioná-lo, mas havia
planejado semanas atrás se reunirem com alguns de seus companheiros de trabalho, e
ela aguardava o evento com ansiedade.
— Vai de acordo com as posições ocupadas anteriormente. E o último presidente da
câmara fui eu.
O olhar dele suavizou-se e Trish viu que Jack percebera sua tentativa de esconder o
desapontamento.
— Estou muito aborrecido com isso, Trish. Queria muito conhecer seus companheiros
de trabalho. Espero que eles entendam — Jack disse enfim, quando Trish não protestou.
— Tenho certeza de que entenderão. Mas queria que se conhecessem antes da grande
competição de golfe.
— Quando será?
— De sábado a uma semana. Ainda está planejando ir, não é mesmo? — ela perguntou,
um tanto alarmada.
— Não perderia essa oportunidade por nada no mundo. — Jack sorriu. — Quero muito
conhecer seus amigos.
Trish relaxou. Por um breve momento suas velhas inseguranças ressurgiram, e ela teve a
impressão de que Jack procurava evitar ser visto com sua "namorada".
— Você não pode adivinhar quem eu vi no banco?! Ron Royer.
— Verdade? — Jack fez uma pausa. — Como vai ele? Trish surpreendeu-se por Jack ter

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se mostrado tão
indiferente.
— Acho que bem. Quer dizer, ao menos me pareceu. Conversamos por alguns minutos.
Ele e a mulher moram em Overland Park. Têm dois meninos.
— Isso quer dizer que ele e Jane ainda estão juntos — Jack murmurou.
— Se você quiser, poderemos todos nós...
— Não penso que seja boa idéia — Jack interrompeu-a. — Ron e eu fomos amigos na
escola secundária. Mas isso foi há muito tempo atrás.
Embora o fato não fizesse sentido para Trish, ela deixou o assunto morrer. Afinal, Ron
nunca fora muito seu amigo. E por que dar importância à resolução de Jack de não
querer se encontrar com ele? Tudo o que desejava era que Jack ainda fosse ao golfe.
Seria o primeiro grande acontecimento dos dois juntos como amigos especiais. A menos
que ele a convidasse para o jantar da Câmara de Comércio.
Trish hesitou. Mesmo depois de todo aquele tempo ainda se sentia insegura.
— Naquele evento da câmara o participante pode levar sua parceira? — Trish tentou
falar com naturalidade, como se para ela não fizesse nenhuma diferença ser de uma ma-
neira ou de outra. — Se puder, não seria nada complicado para mim cancelar meus
planos. Claro, se você quiser que eu vá.
— Eu adoraria que fosse comigo, mas uma vez que serei
o mestre-de-cerimônias, não teremos muito tempo de ficar juntos. Portanto, vá adiante
com seus planos.
— Tudo bem. Você irá gostar e se divertirá como mestre-de-cerimônias, garanto.
— Você me parece bem conhecedora desses eventos — Jack disse, em tom de caçoada.
— Mas falando sério, se quiser que eu vá, eu irei.
— Você é muito compreensiva. — Jack tomou-lhe a mão. — Mas não lhe pediria para
desistir de uma noite com seus amigos. Já é bastante ruim eu ter de cancelar meus
planos com você.
Trish ficou terrivelmente desapontada. Jack não queria mesmo que ela fosse junto?
— A única inconveniência de ir com meus amigos — ela explicou a Jack, é que todos
devem levar um par.
Assim que falou Trish esperou uns minutos para que Jack a convidasse. Porém ele se
manteve silencioso.
— Acho que posso convidar um dos rapazes do escritório para ir comigo — Trish disse
enfim. — Alguém me falou que Joe, da contabilidade, poderia estar interessado em... ir.
Ela esperou que Jack protestasse, mas ele tomou outro gole de chá e declarou:
— É sempre bom conhecer pessoas de outras áreas da companhia. Por que não pede a
ele?
Trish fitou-o por longo tempo e respondeu:
— Por que não?
Em vez de ir ao banco depois de ter saído da casa de Trish, Jack foi para casa e tirou da
garagem o cortador de grama. Apenas após duas voltas pelo jardim convenceu-se de que
estava definitivamente louco. Que outra explicação para seu ato?
Como pudera convencer a mulher que amava a ter encontro com outro homem?
E por que ter se apaixonado por Trish Bradley fora para ele um choque tão tremendo?
Trish era tudo o que sempre desejara encontrar em uma mulher.
Por quê, então, dera sua aprovação quando ela mencionara convidar Joe da
contabilidade para ser sua companhia?
Porque não se tratava de um encontro de namorados, ele explicou a si mesmo. Nada
mais do que um grupo de funcionários da mesma firma indo tomar uns drinques em
uma sexta-feira à tarde. Além disso, embora tendo Trish sido amável, Jack podia ver

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como a moça gostava de sair com seus companheiros de trabalho.
Bem, acertara ao encorajá-la a estar com seus amigos. De qualquer maneira, seria a
última vez em que o relacionamento dos dois com amigos giraria em torno dele apenas.
Não aconteceria de novo.
Quando tivesse certeza de que Trish estava pronta a ouvir o que tinha a lhe dizer, falaria
o que sentia por ela. E por Tommy. Pois sabia que os dois pertenciam ao mesmo pacote.
E isso estava muito bem para ele.
Tommy era um bom menino, um menino que qualquer homem desejaria ter como filho.
— Jack.
O som de seu nome acordou-o do sonho. Virou-se e deparou-com Missy em pé na
calçada, linda com seu vestido de pequenas flores azuis e amarelas. Ela acenou com a
mão.
— Pode vir até aqui um minuto?
Jack desligou o aparador de grama e atravessou o pátio.
— O que há?
— Novidades. Vou ao jantar da Câmara de Comércio esta noite. Vou representar meu
pai.
— Mesmo? — O pai de Missy havia sido um dos membros fundadores da câmara de
comércio de Lynnwood, e Jack não se lembrava da vez em que o homem perdera uma
reunião, muito menos o jantar anual. — Onde estará seu pai?
— Ele e minha mãe foram a Denver esta tarde — Missy explicou. — Minha irmã deu à
luz.
— Dê-lhe parabéns em meu nome. — Jack nem sabia que a irmã de Missy estava
grávida. — O marido de Jenny é militar, não é?
— É. Está na Croácia agora... ou em algum lugar parecido. Meus pais foram ajudá-la e
acho que ficarão lá por algumas semanas. Derek não me ajudou muito quando Kae-la
nasceu, mas foi melhor com ele do que sozinha. Não poderia me imaginar cuidando de
tudo.
Uma imagem de Trish passou pela mente de Jack. Devia ter sido difícil para ela, uma
adolescente, sozinha em uma cidade grande, com um bebé recém-nascido.
— Gostaria de saber se você pode me ajudar dando-me condução. — Missy aguardava
a resposta com ansiedade.
— Talvez — ele respondeu.
— Talvez? Que tipo de resposta é essa? Você ou pode me levar ao jantar ou não pode.
— Naturalmente que posso apanhá-la — Jack disse amavelmente. — Mas diga-me por
que precisa de condução?
— Porque... Meu carro está na oficina para regulagem dos freios, e não quero andar
dois quilómetros com salto alto.
— Não se preocupe — Jack riu. — Eu a levarei.
— E Trish?
— O que tem Trish? — Jack franziu o sobrolho.
— Fala-se que você e ela vivem um romance. Tem certeza de que Trish não se
importará de você me levar?
— Trish não vai — Jack explicou.
— Verdade? Não me diga que já brigaram.
— Eu por acaso disse isso? — Jack ficou irritado e sua voz soou mais áspera do que
tencionara.
— Não disse com muitas palavras, mas se estão juntos por que ela não vai ao jantar
com você?
— Porque... ela tem planos em Kansas City com amigos.

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— Kansas City. — Missy fingiu tremer. — É bom ser ela e não eu.
— O que há de errado com Kansas City? — perguntou Jack. — Quando você estava na
escola praticamente morava no Plaza.
— O Plaza perdeu seu charme. Mas cada vez que vou lá agora fico apavorada, com
medo de encontrar Derek em cada esquina.
— Mas ele portou-se muito bem na última vez em que estivemos em Kansas City.
— Isso porque eu estava com você.
— Ele continua ameaçando-a?
— Quer saber se ele continua me telefonando usando telefones públicos? Aqueles que a
polícia diz que não pode fazer nada para impedir? Continua, todas as semanas.
— Você o tem visto?
— Não. Não o vejo há meses. Não desde o dia em que ele me seguiu por toda Kansas
City. Detesto quando meus pais não estão aqui. Não confio nele. Nem um pouco.
— Chame a polícia, se for necessário.
— Acredite-me, Jack, se Derek quer se encontrar comigo, ele se encontrará com ameaça
da polícia ou não.
— Se ele aparecer, chame o delegado.
— Fred? — Missy deu uma gargalhada. — Ele é bom para resgatar gatos das árvores e
terminar com as festas, mas não conte com ele em situações críticas. Howie não é muito
melhor.
Missy aparentava calma, mas Jack podia ver que ela tentava se controlar. Tremia apesar
de procurar ser valente, e Jack sabia como Missy sofrera depois do último encontro que
tivera com o marido. Fora parar em um hospital.
Que tipo de homem era o que batia em uma mulher? Jack jamais toleraria tal
comportamento, e por isso terminara sua amizade com Ron Royer. A razão pela qual a
esposa continuava a morar na casa ia além de sua compreensão. Por isso não queria
amizade com Ron.
— Eu lutarei e vencerei — Missy disse. — Saberei como agir.
Jack se perguntava se ela tentava convencê-lo ou convencer a si própria.
— Se precisar de ajuda — ele insistiu —, telefone-me.
— Você tem sua vida, não posso esperar que deixe tudo para...
— Telefone-me a qualquer hora — Jack disse com firmeza, cortando os protestos dela.
— Tem o número de meu celular. Se precisar de ajuda, telefone-me. Entendido?
— Está certo de que não se importa? Será só enquanto meu pai estiver fora da cidade.
— Missy. — Com dois dedos sob o queixo dela Jack a fez erguer a face. — Nós dois
somos amigos. Se precisar de mim, telefone-me. É algo assim simples.
— Está bem. — Missy disse finalmente. — Mas pode me fazer um favor?
— Depende — Jack respondeu com um sorriso de caçoada.
— Pode não dizer nada sobre nossa conversa a sua irmã? Ou a qualquer outra pessoa?
— Por quê? Não há nada de que se envergonhar.
— Eu sei. Mas mesmo assim é embaraçoso.
— Se é o que você quer... — Ele não entendia a razão, porém respeitava a vontade dela.
— Muito obrigada por tudo. — Missy inclinou-se para a frente, os lábios à espera do
beijo.
Jack contava com um beijo no rosto, um beijo de amigo para amiga.
Em vez disso, ela pressionou os lábios contra os dele e envolveu-lhe o pescoço com os
braços.
Atónito, Jack esperou que Missy terminasse com o beijo e depois deu um passo atrás.
— Por que isso, Missy? — perguntou.
— Por você ser um amigo assim tão bom. — Ela sorriu, um pouco sem jeito. — Nunca

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fez oposição a que eu o beijasse.
— Isso foi há muitos anos atrás.
— Sim, antes de Trish. É interessante pensar sobre o caso. Nos tempos de escola, eu
tinha tudo, Trish não tinha nada. Agora ela tem a pessoa que possui tudo.
— Você tem Kaela, Missy. Tem seus amigos, tem sua família. Chama isso de nada?
— Tem razão, eu sei — Missy concordou depois de longa pausa.
__ Qualquer dia encontrará um homem que a mereça.
Alguém que a ame tanto quanto eu amo Trish.
__Eu desisti de esperar pelo meu Príncipe Encantado
há muito. — Missy deu um longo suspiro. — Mas você está tão perto de meu coração
como sempre esteve, e quero lhe dizer que tenho esperança de que esteja ainda
disponível quando eu começar a namorar seriamente de novo.
Jack limitou-se a sorrir e a sacudir os ombros. Ele e Missy haviam sido amigos durante
tantos anos que, se alguma coisa tivesse de surgir desse relacionamento, já teria surgido.
E Missy devia saber disso tanto quanto ele.
Não, ele e Trish pareciam ser destinados um ao outro. O que tinha a fazer agora era ter
paciência, até Trish descobrir tudo por si mesma.

CAPÍTULO XI

O balanço do terraço rangeu quando Trish se inclinou para pôr a última camada de
esmalte nas unhas dos pés. A brisa da tarde acariciava-lhe as faces e com uma das mãos
ela empurrou para trás os cabelos que caíam nos olhos.
Em vez de sair conforme fora decidido, passara a tarde com o filho fazendo pizza e
jogando xadrez. Apesar de ter ficado um pouco triste ao cancelar os planos com seus
companheiros de trabalho, a alegria de Tommy ao saber que ela não sairia apagou
qualquer tristeza.
Ela observava-o durante o tempo todo. Em geral considerava-o um homenzinho, mas às
vezes comparava-o a um menino, como naquele instante, na hora de ir para a cama,
suplicando-lhe que o deixasse ficar acordado durante mais uma hora, embora estivesse
caindo de sono.
Enfim, quando se deitou, dormia antes mesmo de pôr a cabeça no travesseiro. Trish
sorriu. Embora algumas vezes Tommy lhe causasse problemas, não trocaria sua vida por
qualquer outra que pudesse ter.
Aos dezoito anos tudo o que ela obtivera da vida fora mau: um pai que saíra de casa e
nunca mais voltara, uma mãe que não conseguira cumprir a promessa de não morrer, e
uma avó a qual jamais pudera satisfazer. Ao entrar naquele avião após sua formatura,
grávida e só, convencera-se de que sua vida se acabara antes mesmo de ter iniciado.
Agora, ela começava a acreditar que seus sonhos poderiam se transformar em realidade.
Um dia, talvez, os três seriam uma verdadeira família. Antes de isso acontecer, Jack e
Tommy precisavam saber a verdade. Mas quando e como lhes contar?
O caso a perturbava havia dias. Parte de sua hesitação residia no fato de que ficariam
zangados por ela ter mentido.
Trish suspirou. Poderia lidar com a ira, mas, e se pai e filho recusassem perdoá-la? E se
perdesse ambos...?
O desespero ameaçou tomar conta dela, mas Trish afastou a idéia. Não havia nada que
pudesse fazer no momento. Quando chegasse a hora, a única maneira de agir era ser
honesta e esperar que eles entendessem.
Por enquanto, procuraria usufruir todo o prazer a que tinha direito. Continuou tomando

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sua soda balançando-se bem devagar, ouvindo o canto dos pássaros e o cricrilar dos
grilos.
Olhou para o céu cheio de estrelas. Embora reconhecendo ser um ato infantil, não pôde
deixar de fazer um pedido à primeira estrela que lhe chamara a atenção.
— Tem algumas batatinhas para acompanhar a soda?
— Jack! — Trish exclamou. Pelo modo como ele estava vestido concluiu que viera
direto do jantar da câmara de comércio a seu terraço. — O que faz aqui?
— Alguém me disse que este era o lugar certo para tomar uma soda e comer batatinhas.
— Pensei que o horrível frango que servem naqueles jantares tivesse deixado você
satisfeito — Trish comentou, sabendo que daria qualquer coisa para comer o tal frango
com ele.
— Afinal não foi frango mas um delicioso filé — declarou Jack. — Contudo, não tive
prazer em comer sozinho.
— Porém não comeu sozinho. Devia haver cinquenta pessoas naquele jantar.
— Mas você não estava lá. — Os olhos de ambos se encontraram.
Trish se desmanchou em um sorriso que, de acordo com sua impressão, foi do rosto até
a ponta dos dedos dos pés de unhas pintadas.
E continuou rindo para si mesma quando saiu a fim de buscar uma soda para Jack e um
saco de batatas fritas.
Jack sentou-se no balanço ao lado dela. Conversaram e uma sensação agradável e
conhecida sua envolveu-a. Aquela noite a fazia lembrar-se do passado, quando ela e
Jack viviam separados. Quando tudo o que sabia de Jack viera através das histórias
contadas sobre ele. Quando fora amiga de um homem que imaginara ser íntegro...
Afastou esse pensamento idiota. O que acontecera no passado não tinha nada a ver com
o relacionamento dos dois no presente.
Nada.
Jack colocou os braços em torno dos ombros de Trish e ela aconchegou-se melhor,
inalando o aroma da colónia masculina.
— Como foi seu dia em Kansas City? — ele perguntou, roçando os lábios nos cabelos
de Trish que logo sentiu um tremor percorrendo-lhe o corpo todo.
— Eu não fui — ela respondeu.
— Não foi? Por que não?
— Quando cheguei em casa, estava exausta. — Ela não viu necessidade de contar a
Jack que parte de seu cansaço fora por ter discutido com Joe sobre contabilidade a
semana inteira. A última coisa que desejava, portanto, seria ir ao jantar como namorada
de Joe. — Decidi que a melhor coisa que tinha a fazer era ficar em casa com meu
companheiro favorito.
Jack deu mostras de ciúme. Trish teve intenção de deixá-lo sofrer um pouco, mas
desistiu.
— Falei algum dia a você que meu companheiro favorito estava no quarto ano
primário? Que tinha um metro e vinte de altura, cabelos castanhos...
— Entendi. — Jack deu uma gargalhada de alívio.
— Fale-me mais sobre como foi sua noite. Divertiu-se?
— Foi bem. Meu trabalho como mestre-de-cerimônias pa receu-me ter sido muito bom.
— Os dois riram. Porém, quando Jack esfregou a palma da mão dela com o polegar, a
risada morreu nos lábios de Trish. — Falando sério, senti sua falta esta noite.
Em tal caso, por que não me pediu para ir com você?
— Sabe, quando vim sentar aqui mais cedo, lembrei-me das noites em que me sentava
neste mesmo balanço e esperava por você.
— Quando entrei, pensei a mesma coisa — Jack confessou.

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— Conversávamos durante horas. — Trish deu um profundo suspiro. — Eu achava que
o conhecia melhor do que conhecia a mim mesma.
— Imaginava-me melhor do que eu na realidade era. Naquela época, eu não tinha
certeza de como eu era e do que queria.
— E agora? — A voz de Trish soou sufocada, até para ela. — Sabe o que quer?
Na quase escuridão do terraço a expressão dele suavizou-se. Segurou o rosto de Trish
com ambas as mãos.
— Sei exatamente o que quero — ele respondeu em um sussurro.
E cobriu-lhe os lábios com os seus. Trish passou os braços em torno do pescoço dele e
retribuiu o beijo.
Jack era quase um menino naqueles dias. Agora era um homem. E a queria. Ela errara
ao duvidar do amor dele. Entreabriu os lábios e Jack aprofundou o beijo. A noite ficou
silenciosa.
— Vamos entrar — ele pediu.
— Não gosta de ficar aqui fora?
— Há mais privacidade no interior.
Havia muito que ela não estivera tão perto de Jack daquela maneira, como agora. Um
surpreendente desejo surgiu, e Trish não desejava nada mais do que tomá-lo pela mão e
levá-lo escada acima, em seu próprio quarto.
E fazer amor a noite toda.
Essas palavras soavam eu sua mente como o estribilho de uma canção.
— Oh, Trish. Tudo poderia ser tão bom! — Jack balbuciou no ouvido dela.
Somos ambos adultos, Trish refletia. O que há de errado em lhe mostrar como o amo?
A mente dela estava completamente confusa com pensamentos e emoções. Era difícil
resolver qualquer coisa com Jack tão perto. Tão perto que Trish podia sentir o calor do
corpo, o aroma da colónia, a doçura do beijo dele.
Trish umedeceu os lábios com a língua. Os olhos de Jack brilharam.
— Deixe-me te amar — ele pediu, segurando-lhe as mãos. Essas palavras estavam
muito perto do que Trish queria
ouvir. Mas a questão era, suficientemente perto?
— Algo errado? — Jack perguntou.
— Não, não há nada de errado — Trish mentiu. — É que eu tive uma semana longa
demais. Estou exausta.
Como poderia ela dizer-lhe que não era muito o que ele dissera comparado com o que
não dissera? O que ele nunca dissera?
— Quer ir para a cama? Sozinha? — Em qualquer outra ocasião o olhar confuso de Jack
teria sido quase trágico.
Trish sentiu o coração apertado. Se ao menos sua resposta pudesse ser diferente. Mas
quando deixara seu coração conduzi-la, ele terminara partido.
Agora estava bem mais velha.
Mais prudente.
Não podia fazer o mesmo erro de novo.
Não podia.

CAPÍTULO XII

Jack tinha acabado de colocar a bolsa de tacos de golfe na traseira do jipe quando seu
celular tocou. Ele sorriu.

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Trish já lhe havia telefonado duas vezes, e não eram ainda nove horas. Embora ainda
faltassem cinco minutos para chegar à casa dela, não tinha dúvida de que seria dela o
telefonema, querendo saber se ele estava a caminho. Pegou o telefone e disse:
— Estou saindo.
— Jack. Aqui é Missy. Derek acabou de telefonar. Encontra-se na cidade e disse que
está vindo para cá.
— Você ligou para o delegado?
— Sim, mas ele não deu muita esperança de vir já. — O tom da voz de Missy não
escondia seu pavor. — Fred e Howie estão ocupados com um grave acidente na estrada.
Fred me perguntou se Derek havia me ameaçado e eu disse que não. Ao menos não
dessa vez. Ele disse então que viria para cá assim que pudesse, mas...
— Missy?
— Fred parece não entender que Derek não me ameaçou antes, e viu o que aconteceu?
— A voz de Missy tremia. — Sinto-me apavorada, Jack. Kaela e eu estamos sozinhas.
— Irei para aí já.
— Tem certeza de que vem já?
— Tenho.
Ele entrou no jipe e partiu. Jack pensou logo no campeonato de golfe. Sabia que Trish
queria ir. Porém haveria outras ocasiões, e agora tratava-se de uma emergência. Com
certeza Trish entenderia que ele não poderia deixar uma amiga em necessidade.
Na sede do clube, bem aquecida, Trish se perguntava que interesse podiam ter os
golfistas em dar tacadas em uma pequena bola em campo gelado.
— Por onde anda seu namorado? — Joe chegou bem perto dela na fila do bufe e
perguntou.
— Ele não pôde vir.
Depois de três horas ouvindo a mesma pergunta, Trish já respondia automaticamente.
Por que mencionara que Jack estaria com ela?
— Alguns de nós já pensávamos que você inventara esse negócio de ter um namorado
— Joe insistia.
Trish forçou um sorriso, embora não achasse a situação nada engraçada.
— Não, ele é real — respondeu com naturalidade, como se a ausência de Jack fosse
apenas uma pequena inconveniência, nada mais. Quando ele lhe telefonara naquela
manhã com o absurdo de uma emergência envolvendo uma amiga, Trish respondera da
mesma maneira, com naturalidade. Apesar de desapontada, bem no fundo não se
surpreendera.
— Trish. Venha cá.
Ela virou-se e viu Ron Royer perto de uma mesa cheia de gente. Ele sorriu e apontou
para uma cadeira vazia.
Trish deu um suspiro. A última coisa que desejava agora era sentar-se com o velho
amigo de Jack. Mas que outra escolha tinha? Sentar-se com Joe?
Fazendo sua decisão, disse adeus ao desapontado Joe e atravessou o salão repleto.
Ron apresentou-a rapidamente a todos. O nome de Jack não foi mencionado até quase o
fim da refeição. Então Jane Royer, que até aquele momento deixara o marido dirigir
toda a conversa, trouxe o nome de Jack em cena.
— Alguém me disse que você iria trazer Jack Krieger como seu par hoje. Ele decidiu
não vir?
— Jack planejara vir. — Trish se perguntava quantas vezes mais iria ter de usar a
palavra emergência antes que o dia terminasse. — Mas então...
— Não precisa explicar — disse Ron. — Contei a Jane na semana passada que Jack e
Missy haviam voltado a se entender. Pelo visto, ela não registrou o fato. Sinto muito

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Jane ter trazido o assunto.
Trish mal podia respirar.
Jack e Missy? Juntos de novo? Ela sacudiu a cabeça. Impossível.
Jane encarou o marido.
— Você nunca me contou que Jack e Missy estavam
namorando.
— Sem dúvida contei. Ontem à noite fui ao jantar da Câmara de Comércio em
Lynnwood, e vi Jack lá com Missy.
— Você disse que Missy estava presente e que Jack era o mestre-de-cerimônias — Jane
explicou. — Mas não falou nada sobre o namoro dos dois.
— Disse que chegaram juntos, não disse? E que saíram juntos, não disse?
— Bem, disse — Jane declarou com relutância.
— Como poderia ter feito as coisas mais claras? Diga-me como.
Jane não respondeu.
Um estranho silêncio caiu sobre a mesa. Embora Trish não devesse se surpreender por
ser traída uma segunda vez, se surpreendera. E se esperara que se machucaria menos na
segunda vez, se enganara.
Enganara-se redondamente.
—Jack! — Sua mãe chamou-o da mesa da sala de jantar, surpreendida. — Pensei que
você e Trish estivessem em Kansas City agora, no clube de golfe.
— Ela está lá. — Jack puxou uma cadeira e sentou-se. — Mas surgiu um imprevisto e
precisei cancelar minha ida.
— Espero que tenha sido importante — disse a mãe. — Trish esperava muito que você
fosse com ela.
— Sei disso — Jack falou com um suspiro. — Mas não tive outro jeito.
Derek comportara-se muito bem, mas Jack não lamentara a escolha que fizera. Missy
tinha boas razões para ter medo de seu ex-marido. E embora nada houvesse acontecido
dessa vez, quem poderia saber o que Derek poderia fazer se Missy estivesse sozinha?
Mesmo que a visita de Derek tivesse sido breve, na hora em que Jack saíra da casa de
Missy era tarde demais para se encontrar com Trish. Sentindo-se meio perdido, fora ver
a mãe para persuadi-la a tomar uma xícara de café com ele.
— O que está fazendo? — Jack olhou para a mesa sempre em ordem, agora cheia de
álbuns de fotos e de caixas abertas.
— Tommy está me ajudando a organizar minhas fotografias. Ele se encontra aqui
agora. — Jack se esquecera completamente de que sua mãe tomava conta de Tommy
naquele dia. — Teve dificuldade em encontrar as fotos? — ela perguntou ao menino que
acabava de entrar na sala.
— Não. Estavam no sótão, perto da máquina de costura, conforme você disse.
Tommy olhou para Jack, intrigado, e perguntou:
— Você não devia estar no clube de golfe com minha mãe?
— Aconteceu um imprevisto — Jack disse, encolhendo os ombros.
— Você tem tempo para acertar algumas cestas de basquete comigo?
Jack apontou para a pilha de fotografias que Tommy trouxera do sótão.
— Tenho tempo — disse —, mas parece que vocês dois têm muito trabalho pela frente.
— É que prefiro jogar basquete com você — declarou Tommy.
— Não prometeu ajudar minha mãe?
Tommy lançou um olhar de súplica a Connie Krieger, porém ela pareceu nem notar. Sua
atenção estava concentrada na foto que tinha na mão.
— Jack foi um bebê tão lindo! — ela exclamou, sorrindo.
— Deixe-me ver — Tommy pediu, inclinando-se para ver melhor.

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— Lindo? — Jack olhou para a foto e riu. — Com toda essa gordura, como se pode
saber?
— Você não era gordo — a mãe protestou. — Era um menino grande. O que esperava?
Pesava cinco quilos quando
nasceu.
— Eu pesava quatro quilos e meio quando nasci. — Tommy sorriu para Jack.
— Pensei que você tivesse sido prematuro. — Jack franziu a testa.
— O que quer dizer prematuro? — Tommy perguntou.
— Nascido antes do tempo — Connie explicou.
— Não nasci antes do tempo — Tommy protestou. — Ao contrário, custei para nascer.
Minha mãe disse que tiveram de lhe dar remédio para que eu viesse ao mundo.
— Tem certeza? — Jack perguntou.
. — Bem... foi o que ela disse — Tommy falou, após certa hesitação.
— Jack, deixe o menino — sua mãe disse com firmeza. — Cedo? Tarde? O que
importa, afinal?
Jack teve vontade de dizer a sua mãe que importava, sim, e muito. Se Tommy tivesse
nascido na época certa, podia ser seu filho. E neto dela. Mas Jack não disse nada.
Tommy podia estar enganado, e ele não diria nada até ter certeza dos fatos.
— Olhe para esta foto, Jack — Connie pegou outra fotografia em uma tentativa de
mudar de assunto. — Você devia estar com a idade de Tommy nesta foto. Sempre gostei
de vê-lo com farda de escoteiro.
Jack sabia exatamente quando aquela foto fora tirada. Ele estava cheio de medalhas que
recebera no dia seguinte ao de seu aniversário, ao completar dez anos de idade.
Tinha os cabelos bem curtos, como os de Tommy agora.
Jack olhava da foto para o menino ali diante dele. Sua semelhança com Tommy era
inacreditável.
Naquele instante, quaisquer dúvidas que ainda tivesse sobre sua paternidade, sumira.
— Deixe-me ver. — Tommy pegou a foto. — Puxa, quantas medalhas!
— Sim, recebi muitas. — Jack não parava de olhar para Tommy e admirava-se de sua
mãe não ter notado a semelhança.
— Eu fui lobinho um dia — Tommy comentou. — Mas nunca cheguei a ser escoteiro.
E gostava do escotismo.
— Se gostava tanto, porque desistiu? — Jack teve curiosidade em saber.
— Não sei. — Tommy deu de ombros.
— Mas você deve ter tido uma razão. — De repente, qualquer detalhe da vida passada
de Tommy ficou sendo importante para Jack. Ele queria saber tudo.
— Acho que foi porque os pais começaram a acompanhar os filhos nos acampamentos.
E eu não tinha pai.
Mas você tem pai, Jack teve vontade de gritar. Um pai que daria tudo para ir a esses
acampamentos com você.
Remorso misturava-se com raiva na mente de Jack. Perdera tanto! Foram anos que não
voltariam mais. Tempo precioso perdido para ambos, para ele e para Tommy. Por que
teria Trish escondido isso? Nada fazia sentido.
Quando ela voltasse de Kansas City, teria explicações a lhe dar. Até então, conservaria a
boca fechada.
Jack desejava dizer já a Tommy que era seu pai e garantir-lhe que nunca mais ele iria se
preocupar por não ter pai. Porque estaria presente na vida do filho sempre, pois era
exatamente onde gostaria de estar.
Nada nem ninguém os separaria nunca mais.

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CAPÍTULO XIII

Trish mal acabava de abrir a porta da frente quando Jack apareceu, vindo de um lugar
qualquer, e com suas passadas longas foi diretamente à sala.
Atônita com tanta audácia, Trish seguiu-o. Como ousava ele pensar que podia entrar em
sua casa na hora que bem
entendesse?
— Não concordo com sua atitude — Trish falou, em pé na porta da sala, os braços
cruzados sobre o peito, mas sentindo-se vulnerável ante o olhar insistente de Jack. — O
que está acontecendo aqui? Por onde anda Tommy?
Jack recostou-se no sofá, porém estava tudo menos
relaxado.
— Tommy está na casa da avó — ele informou.
— Da avó? Minha mãe morreu.
— A minha não. — Embora a voz de Jack fosse suave e baixa, uma onda gelada
percorreu o corpo de Trish.
— Sinto muito, mas não entendi.
— Sim, entendeu muito bem — Jack insistia.
— Ah, agora entendo. — Trish deu uma risada nervosa. — Naturalmente sua mãe tem
sido uma verdadeira avó
para Tommy...
— Ela é avó de Tommy porque sou o pai de Tommy. — A voz de Jack era como aço. —
Eu nunca pude imaginar por que você teve tanta pressa em sair de Lynnwood depois da
festa de formatura. Agora sei. Estava grávida.
Trish sentiu a garganta fechada, quase não podia se expressar. Jack não falava mais
como antes com referência a Tommy, fazendo perguntas. Agora afirmava.
Apesar de ela ter intenção de contar tudo a ele, não queria que fosse daquele jeito.
— Vamos, vamos, Jack. Já conversamos sobre isso antes. O pai de Tommy e eu nos
conhecemos em Washington...
— Outra mentira. Você também me afirmou que Tommy era prematuro.
— Ele foi prematuro. — Trish só esperava que o desespero que tomava conta de si não
aparecesse na face. — Nasceu dois meses mais cedo.
— E pesava quase cinco quilos, Trish. Tommy me contou que o parto foi difícil porque
passou do tempo.
— Foi isso que você ficou fazendo enquanto eu estava fora? Interrogando meu filho?
— Trish perguntou, quase gritando.
— Por Deus, Trish. Eu sei a verdade. Ao menos seja honesta agora.
Resignada ao inevitável, ela fez com a cabeça um gesto afirmativo. Mas Jack continuou:
— Diga-me uma coisa. Depois de tudo o que compartilhamos, como pôde fazer isso?
Como pôde ter meu filho e nem me contar?
— Depois de tudo o que compartilhamos? — Trish repetiu, lembrando-se de que não
tinha razão para se sentir culpada. — Eu não signifiquei nada para você.
— Como pode dizer isso, Trish? Éramos amigos, bons amigos. E...
— Eu não era sua amiga. Fui apenas uma pessoa conveniente. Era uma gorda solitária,
bastante tola para passar meu último ano de escola rastejando para conseguir as mi-
galhas de sua atenção. Naturalmente apenas o conheci de verdade depois de você se ter
divertido com seus amigos à minha custa. Tinha vergonha de ser visto comigo.
Os olhos dela encheram-se de lágrimas. Com raiva, Trish enxugou-as.

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— Nunca tive vergonha de você... — Os olhos de Jack faiscaram — ...ou de nossa
amizade.
— Não sou tola, Jack. — Trish deu um passo para trás. A negativa veemente de Jack a
tomou de surpresa. — Ouvi-o da porta, dizendo a seus amigos... — A voz dela falhou,
jamais imaginando que tivesse coragem de revelar aquilo—... que nunca se rebaixaria
para se relacionar com mulher como eu.
Jack fez uma pausa, tentando se recordar do que dissera.
Trish pôde quase ver o momento em que Jack se lembrou.
Lutando contra as lágrimas, ela disse:
— Talvez eu não fosse a mais linda das mulheres. Porém
era uma boa pessoa, uma boa amiga para você. E não merecia ser usada daquele jeito.
— Você entendeu tudo errado — disse Jack. — Eu apenas tentava protegê-la.
— E o que me diz sobre Missy? — A voz de Trish soou cheia de sarcasmo. — Entendi
aquilo errado, também?
— Do que está falando?
— Nega que a levou ao jantar da câmara?
— Ela, precisava de uma carona.
— Precisava de um beijo também?
— Missy e eu somos apenas amigos.
__ E hoje? — Trish perguntou, surpreendida por falar com tanta calma quando seu
coração estava em pedaços. — Vai negar que estava com ela?
— Deixe-me explicar-lhe...
— Não se dê ao trabalho. — Trish foi até a porta e abriu-a com força. — Saia e não
volte nunca mais.
Jack continuou sentado.
— Trish, você precisa me ouvir.
— Eu não preciso fazer nada.
— Tudo bem, então. — Com um suspiro de raiva, Jack levantou-se. Atravessou a sala e
foi até a porta. — Quando você se acalmar, falaremos.
— Fique fora de minha vida, Jack. — Ela começou a fechar a porta. — E fora da vida
de meu filho.
Jack segurou a porta com o pé e disse:
— Deixe-me tornar uma coisa bem clara. Você pode ter mantido Tommy longe de mim
até agora, mas não mais. Goste ou não, eu serei uma parte da vida dele. Passarei por
aqui em outra ocasião e conversaremos.
Trish bateu a porta. Inclinando o corpo contra a pesada madeira, escorregou até o chão
enterrando o rosto nas mãos.
Durante todos aqueles meses se convencera de que Jack havia mudado. Mas não.
Continuava sendo o mesmo homem arrogante, egocêntrico. E agora ele sabia que
Tommy era seu filho.
Lágrimas quentes escorreram-lhe pelas faces. Por que saíra de Washington? Tivera
amigos lá. Pessoas que gostavam dela. E se houvesse demorado um pouco mais, teria
tido até um emprego fantástico.
Trish suspirou e levantou-se do chão. Foi para perto da escrivaninha.
Remexeu em uma das gavetas. Encontrou lá o cartão com o nome e o telefone do
gerente de Recursos Humanos. Embora não esperasse encontrar alguém em um sábado
à noite, ligou para o número do cartão e deixou recado. Satisfeita por ter feito tudo o
que fora possível no momento, sentou-se.
Até o fim do mês ela e Tommy estariam de volta a Washington, e Jack Krieger para ela
não seria mais do que uma má recordação.

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Segunda-feira pela manhã Trish recebeu um telefonema confirmando que o lugar era
dela. Fez planos para se mudar imediatamente. Embora seu trabalho não começasse por
alguns meses ainda, com as economias que conseguira fazer desde que fora morar em
Lynnwood, poderia viver até o início do novo emprego.
Apagou todos os recados encontrados na secretária ele-trônica. Na véspera Jack
telefonara duas vezes. Achava que ainda precisavam conversar. O que mais havia para
se dizerem?, ela se perguntou.
Se ao menos pudesse fazer suas malas e.sair no mesmo instante em vez de esperar até o
fim da semana... Mas consolava-se sabendo que uma vez longe dali, nunca mais veria
Jack Krieger ou a cidade de Lynnwood.
Tommy sem dúvida não iria ficar contente com isso. Viera a amar Lynnwood. Quando
ela o apanhou na casa de Julie, tudo o que ele falou foi sobre um campo de basquete que
ele e Matt pretendiam frequentar. E Trish não teve coragem de lhe dizer que teriam
partido de Lynnwood antes de ele começar a frequentar o campo.
— Vou encestar algumas bolas enquanto espero o jantar— ele disse ao entrar em casa.
Trish hesitou. Seria aquela uma boa hora para falar com o filho?
— Espere. — Trish enxugou as mãos suadas na blusa.
— Preciso falar com você.
— Já lhe pedi desculpas, mamãe, não pedi?
Trish fitou-o, intrigada. Depois lembrou-se de que o repreendera por ele ter deixado o ar
condicionado ligado o tempo todo, enquanto estiveram fora de casa.
— Não é do ar condicionado que quero falar.
— Do que é, então? — Tommy encarou-a com impaciência.
— Tenho boas notícias. Decidi aceitar o emprego com a tal firma em Washington.
Tommy franziu a testa e naquele momento ficou tão parecido com o pai que Trish
estremeceu.
— Vão deixar você trabalhar daqui?
— Não! — Trish forçou um sorriso. — O melhor de tudo é que você e eu vamos nos
mudar para Washington.
— Gosto daqui. ,
— Sei que você gosta. Mas gostava de lá também.
Lembra-se?
— Matt e eu temos planos. Já descobrimos um campo de basquete e vamos pertencer
ao mesmo time de futebol. Não quero me mudar.
— Sinto muito, mas não tem escolha. Nós dois temos de estar juntos. Onde eu for, você
irá. Portanto, comece a arrumar suas coisas. Voaremos para lá depois de amanhã.
— Mas você gosta daqui, mamãe. Disse isso muitas vezes.
— Disse. Mas as coisas mudaram.
— Bem, é que eu ainda gosto. E não vou me mudar. E você não pode me forçar.
— Sou sua mãe. E fará o que eu mandar.
— Não vou embora daqui. — Ele deu-lhe as costas e entrou em casa. Em alguns
minutos o som da porta do quarto dele que batia com força ecoou pela casa toda.
Trish ergueu os ombros, apertou os dentes e subiu as escadas. Mas ao chegar em cima,
já havia se acalmado. Parou à porta do quarto de Tommy e se perguntou se não seria
interessante dar-lhe algum tempo para pensar. Com um suspiro resignado, voltou para a
sala.
Tommy não atendeu ao chamado dela para jantar, mesmo depois que Trish lhe dissera
que havia feito o prato preferido dele, espaguete com almôndegas. Embora não estando
com fome, Trish fez esforço para comer. Tentou ler mas não conseguia se concentrar,
lembrando-se da conversa que tivera com Jack.

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Olhou para o telefone. Deveria lhe telefonar? Dar-lhe uma chance de se explicar?
E depois o quê? Apesar da evidência do contrário, iria ainda acreditar nele?
Seria ela a mulher mais idiota do mundo? Não aprendera sua lição no referente a Jack
Krieger? Não aprendera que, apesar do sorriso incrível e do rosto honesto ela não
poderia acreditar em nenhuma palavra que ele dissesse?
Com um suspiro resignado, Trish foi para o quarto. No caminho, parou na porta do
quarto de Tommy. Ela e Tommy nunca haviam ido para a cama brigados, e não queria
iniciar um novo costume.
— Tommy. — Trish bateu suavemente na porta. — Posso entrar?
Não obtendo resposta, bateu de novo.
— Querido? Apenas queria lhe dar boa-noite.
Dessa vez não esperou pela resposta. Entrou no quarto e foi à cabeceira da cama. Abriu
a colcha mas encontrou apenas travesseiros muito bem arrumados na forma de um
corpo. De propósito Tommy tentara fazer com que a mãe pensasse que ele estava na
cama, dormindo.
Trish lançou um olhar por todo o quarto. E viu logo uma folha de papel sobre a cómoda.
Apavorada, agarrou o papel. Imediatamente reconheceu os garranchos de Tommy.
Mamãe,
Sinto muito mas não vou sair daqui. Não se preocupe. Posso cuidar de mim mesmo.
Com amor,
Tommy.
Trish sentiu um aperto no peito, quase não podendo respirar. Leu a nota de novo e
amassou-a. Onde poderia ele ter ido? Notou que a janela estava aberta.
Aí o pânico tomou conta dela. Seu menino estava fora, na escuridão da noite, sozinho.
Santo Deus, o que poderia ela fazer agora?

CAPITULO XIV

Trish desceu as escadas correndo e olhou para a rua. A casa de Connie Krieger estava às
escuras, mas tocou a campainha assim mesmo e bateu na porta.
Quando ninguém deu sinal de vida, voltou correndo a sua casa e telefonou para a
polícia. Alguém atendeu ao primeiro toque.
— Escritório do delegado, seção de emergência.
— Quero informar o caso de uma criança desaparecida. — Um soluço abafou-lhe a voz.
Santo Deus, o que faria ela se não encontrassem Tommy?
Enquanto procurava auxílio com os outros vizinhos, Fred chegava acompanhado de seu
assistente. A pergunta dele foi direta.
— Existe a possibilidade de o pai de Tommy estar envolvido?
Assustada, Trish disse não, sem pensar. Mas depois que o delegado se foi, começou a
admitir que talvez Tommy tivesse ido para a casa de Jack.
Ligou para Jack, porém a linha estava ocupada. Pôs o celular no bolso e pegou as
chaves do carro. Em cinco minutos estava na casa de Jack, grata por ver as luzes acesas.
Ao menos ele se encontrava em casa.
A campainha ainda não tinha acabado de tocar quando a porta se abriu.
— Trish, que bom que você veio! — Jack exclamou, encantado.
— Quer dizer que ele está aqui?
— Ele, quem? — Jack perguntou.
— Tommy. — Ela esticou o pescoço para ver atrás de Jack.
— O que a faz pensar que ele esteja comigo?

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— Vamos, Jack. — A voz de Trish tremia. — Apenas diga-me. Ele está aqui ou não?
Jack começou a se preocupar.
— Não o vejo desde sábado.
Trish se desesperou. Embora não tivesse achado provável que Tommy estivesse lá,
ainda tinha esperança. Pensava onde ir agora. O delegado dissera que telefonaria se
conseguisse notícias.
Ela tirou o celular do bolso para ter certeza de que estava
ligado.
— Obrigada de qualquer forma — disse a Jack. Virou-se para sair, mas ele agarrou-a
pelo braço.
— Não tão depressa assim. O que está acontecendo? Que fim levou Tommy?
— Não sei. — Os olhos dela encheram-se de lágrimas.
— Ele... ele fugiu.
— Fugiu? — Jack empalideceu. — Tem certeza?
— Sim. Deixou um recado.
— Mas, por quê?
— Estava aborrecido. — Trish mal podia encarar Jack. Mesmo sabendo que não fizera
nada errado, a sensação de culpa a perseguia. — Mas nunca pensei que ele fizesse algo
assim.
— Ligou para o delegado?
— Sim. E verifiquei com todos os vizinhos e amigos de Tommy. Mas... nada. Não pode
imaginar como tive esperança de que ele estivesse aqui.
— Quer dizer que lhe contou que eu era seu pai. E ele não recebeu bem a notícia. Foi
isso?
— Não foi isso — Trish disse. — Ele ainda não sabe nada sobre você.
— Nesse caso, por que estava aborrecido?
— Comuniquei-lhe que íamos voltar para Washington.
Jack arregalou os olhos.
— Não pode estar falando sério. Quer levar meu filho para assim tão longe? — Jack
parou de falar de repente. — Mas isso não é importante agora, precisamos encontrá-lo:
Trish não protestou quando Jack passou um braço por seus ombros e conduziu-a à
cozinha. Sentando-se à mesa diante dela, ouviu-a atentamente enquanto narrava os
acontecimentos do dia.
— Minha primeira idéia foi que ele tivesse ido à procura de sua mãe. Porém ela não
estava em casa.
— Minha mãe foi passar uns dias em Topeka, com a irmã. Admiro-me ela não ter lhe
contado isso.
— Talvez tenha tentado — Trish respondeu, lembrando-se dos telefonemas que não
retornara.
— Não importa. A única coisa importante agora é encontrar nosso filho.
Jack tinha razão, ela pensou. Nada era importante, exceto Tommy.
— Vamos encontrá-lo, não é mesmo? — Trish perguntou.
— Naturalmente que vamos. Ele estará em sua cama antes da meia-noite.
Mas a meia-noite veio e foi. Quando o sol nasceu, a preocupação tomou o lugar da
confiança no olhar de Jack.
Trish retornou para casa decidida a seguir a recomendação do delegado, "para o caso de
o menino decidir voltar.
Mas Jack continuou procurando o filho pela redondeza. Ficaria louco se apenas se
sentasse, esperando.
Às oito horas a porta de tela dos fundos fez um ruído ao se abrir. Trish virou-se. Um raio

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de esperança sumiu no instante em que ela viu Missy.
— Posso entrar? — Missy perguntou.
— Claro. Mas se está procurando por Jack, ele não está aqui.
— Por que estaria eu procurando por ele? Estou apreensiva por você e por Tommy.
— Vou buscar um café. — Trish levantou-se e colocou sobre a mesa uma xícara de café
para Missy. Não podia ser rude. Não era culpa de Missy o fato de Jack gostar mais dela.
E Missy estava sendo uma das voluntárias que passara a noite procurando por Tommy
pela cidade. Soubera de tudo por Jack.
— Já descobriu alguma coisa? — Missy perguntou a Trish.
Com o coração apertado, Trish respondeu:
— Nem uma palavra.
— Ele deve estar bem. Lynnwood é uma cidade segura.
— Eu sei, mas Tommy não passa de uma criança. E eu o amo tanto!
— Sei que você o ama — Missy sussurrou, com suavidade.
— Desculpe. — Lágrimas corriam agora pelas faces de Trish. Ela enxugou-as com um
guardanapo de papel. — Não quero ficar aqui sentada me lamentando em vez de
conversar naturalmente com você.
— Olhe, também sou mãe. Entendo tudo. A gente faz qualquer coisa para proteger os
filhos. Por isso me apavorei quando Derek apareceu de repente no sábado.
Trish não entendia por que Missy falara aquilo e estava cansada demais para perguntar.
— Não foi só por minha causa que me preocupei — Missy prosseguiu: — Havia Kaela.
Quando Derek fica furioso é capaz de tudo. Com meu pai fora da cidade, eu não saberia
o que fazer. Graças a Deus consegui falar com Jack. Espero que ele tenha lhe contado
como fiquei aborrecida por estragar seus planos.
— O jogo de golfe? Foi isso? — De repente, tudo fez sentido.
— Ele queria muito ir, mas disse que você entenderia. Não sei se eu seria tão
compreensiva. — Missy sorriu. — Mas acho que é por isso que ele ama você e não a
mim.
— Jack me ama? — Trish fitou-a, atônita. — Onde encontrou essa idéia?
— Jack me disse.
— Quando?
— Ele me disse que te amava no dia do jantar da câmara. Foi no dia em que ele me deu
uma carona porque meu carro estava na oficina. Depois, levou-me para casa.
— Isso foi antes ou depois do beijo? — Trish desejou saber.
— Que ele me disse que te amava? — Missy ficou rubra de embaraço. — Jack é um
bom rapaz, e não é segredo que sempre gostei dele. Porém o beijo foi minha idéia, não
dele. E nunca mais farei isso. Jack deixou bem claro que não está interessado em mim.
Ele tentou me contar isso, mas eu fui uma idiota em não querer ouvi-lo, Trish pensou.
Ela enterrou o rosto nas mãos. Como pude ser tão teimosa?
Missy levantou-se da mesa e abraçou-a.
— Tudo vai ficar bem — disse.
Como por milagre, a porta de tela da cozinha abriu naquele instante.
— Veja quem eu encontrei! — Jack exclamou.
— Tommy! — Trish levantou-se da cadeira e abraçou o filho com força. — Oh, Tommy,
tive tanto medo!
— Desculpe, mamãe. — O menino tinha os olhos cheios de lágrimas. — Não quis
preocupar você.
— Preciso ir para casa — Missy disse, pegando a bolsa e tomando o caminho da porta.
— Missy! Obrigada por tudo — disse Trish.
— De nada. Afinal, para que servem os amigos?

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Inegável desejo cynthia rutledge
— Talvez possamos nos encontrar logo. Poderemos almoçar juntas.
— Eu adoraria. — Missy sorriu.
— Gosto tanto de você, meu filho — Trish repetia sem parar, abraçando-o de novo. —
Nunca mais faça isso. Juntos, poderemos resolver todos os problemas. Entendeu?
— Eu adoro você, mamãe.
— Agora, meu querido, acho que precisa de um banho quente e comer alguma coisa. O
que acha?
— Vamos ainda nos mudar? — ele perguntou.
— Conversaremos sobre o caso mais tarde — Trish respondeu.
— Mas...
— Tommy — Jack disse firmemente, soando como um pai —, sua mãe disse mais
tarde.
Jack riu para Tommy enquanto ele subia as escadas. Depois virou-se para Trish.
— Falei com o delegado dando-lhe a boa notícia. Ele ficou de comunicar o fato à turma
que o ajudou.
— Você pode ficar aqui por mais algum tempo? — Trish lhe perguntou. — Quero saber
todos os detalhes.
— Não sei como não pensei nisso antes. — Jack puxou uma cadeira e sentou-se.
Parecia exausto. — Algumas semanas atrás eu mostrei a Tommy e a Matt uma velha ca-
bana que eu e alguns amigos construímos perto de um lago. Os meninos ficaram
fascinados. Quando fui lá esta manhã vi Tommy dormindo no local.
— Não sei como posso lhe agradecer — Trish confessou.
— Eu sei. Não volte para Washington.
Trish procurou as palavras com cuidado, e respondeu:
— Surpreendo-me por você ainda querer que eu fique. Depois do modo como o tratei...
— Eu devia ter lhe contado que Missy estava no jantar, em lugar do pai. E que depois
fui protegê-la contra Derek.
— Eu é que fui teimosa e voluntariosa. Quando você se dispôs a explicar, recusei ouvi-
lo. Fiz a mesma coisa quando tinha dezoito anos.
— Trish, sobre o dia do depósito...
— Jack, não precisa me explicar nada.
— Não quero que haja mais segredos e mal-entendidos entre nós dois.
— Também não quero — Trish concordou.
— Então desejo que ouça, sem me interromper. Está bem?
Trish não tinha muita certeza se queria ouvi-lo, mas devia-lhe um favor.
E Jack prosseguiu:
— Ron e Chip nos trancaram naquele depósito esperando que fizéssemos amor.
— Então, foi planejado?
— Você disse que me ouviria, Trish. Não se esqueça de que eles me induziram, me
enganaram, como induziram você.
— Mas, por que eu?
— Você estava disponível.
— Naturalmente. Mesmo meu parceiro não quis ser visto com a gorda Patty.
— Não fale assim. Você estava linda. Você era linda. Aquele seu amigo é que era um
idiota.
— Se me achou linda, por que falou tudo aquilo com seus dois amigos?
— Tentava proteger você — Jack explicou. — Se eu tivesse dado a eles uma idéia de
que algo acontecera naquele depósito, Chip e Ron destruiriam sua reputação.
— Quer dizer que não tinha vergonha de mim? — Trish perguntou, mal ousando ter
esperança de uma resposta agradável.

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— De forma alguma. Dei-me conta, naquela noite, de como você era importante para
mim.
— Mas não me procurou depois daquilo. Nunca mais apareceu.
— Porque você me disse que estava muito ocupada para continuar me vendo nas noites
de sexta e sábado. Pude notar que ficara brava, e resolvi dar-lhe um tempo. Logo depois
soube que partira da cidade.
Trish reconheceu, com dor no peito, que Jack tinha razão. Ela estivera de fato brava e
magoada dez anos atrás, e evitara-o totalmente.
— Bem, mas agora acho que são águas passadas — disse Trish com um suspiro. — Ao
menos agora está tudo claro.
— Não tudo. Por que não me contou que estava grávida?
— Por causa daquilo tudo que ouvi da conversa com seus amigos.
— Deve ter havido algo mais além disso. — Jack sacudiu a cabeça. — Você me
conhecia e sabia que eu estaria a seu lado em tal caso.
— Eu não sabia nada disso. E mesmo que você ficasse a meu lado, porque desejaria em
minha vida alguém que tivesse vergonha de mim?
— Tem razão. — Jack suspirou. — Não lhe dei razão para confiar em mim. Foi como
no caso de Missy...
— Não precisa me explicar nada. Ela me contou tudo.
— Contou?
— E eu acreditei — disse Trish. — Exceto na parte em que você me amava.
— Mas é verdade — Jack confessou. — Eu te amo, Trish.
— Se é verdade, por que nunca me falou?
— Esperava pela hora certa. E acho que essa hora deve ser agora.
Jack a fez se levantar.
— Percebi esta noite como a vida é preciosa, como você e Tommy são preciosos para
mim. Não posso refazer o passado mas quero construir o futuro com você. Nós três se-
remos uma família. Quer se casar comigo, Trish?
— Se ficou preocupado com receio de que eu separe Tommy de você, não fique. — Seu
coração disparava, mas Trish procurou medir bem suas palavras. — É o pai dele e
Tommy precisa de você. Vejo isso agora. Não vou me mudar de volta para Washington...
Portanto, se foi por isso que me pediu...
— A razão pela qual quero me casar com você é o amor. Eu te amo, querida. — Jack
fitou-a bem nos olhos.
Enfim vieram aquelas palavras há muito esperadas? Seria mesmo verdade?, Trish se
perguntava.
— Trish?
Ela enxergou nos olhos de Jack tanto amor que se surpreendeu por não ter notado isso
antes. Ergueu então a mão e acariciou-lhe o rosto. — Eu também te amo, querido.
— Então, vai se casar comigo?
— Naturalmente que vou me casar com você.
— Eu a farei feliz, Trish, prometo. Ele tocou-lhe os lábios com os seus. Ouviram-se
sons de passos.
Trish e Jack olharam para a porta.
— Será verdade? — Tommy estava no corredor, os olhos azuis parecendo maiores em
seu rosto pálido. E perguntou: — Você é mesmo meu papai?
— O que acha disso? — Jack lhe perguntou.
— Quer dizer que não vamos mais nos mudar? — O menino quis saber.
— Vamos nos mudar para um pouco mais adiante da esquina. O que acha?
A expressão tensa de Tommy relaxou em um sorriso, e Trish só então percebeu que

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estivera segurando a respiração.
— Posso contar tudo a Matt? — Tommy pediu.
— Naturalmente que pode. Conte a quem quiser.
— Legal! — Tommy subiu as escadas correndo, sem olhar para trás.
— Ele pareceu concordar — disse Trish. Embora não fosse aquele o modo que ela teria
escolhido para contar a Tommy, apavorara-se havia tanto tempo por aquele momento,
que sentiu um alívio imenso pelo fato de tudo ter terminado. — O motivo de Tommy
querer contar a outras pessoas é um bom sinal.
— Sei como ele se sente. Eu também mal posso esperar para contar a todos. Se fosse
possível, anunciaria a novidade gritando de cima do telhado. — Jack comentou.
Trish riu ao imaginar Jack em cima do telhado. Mas moderou o riso ao visualizá-lo
escorregando...
— Nada de telhado. É perigoso — ela protestou, segurando-o por um botão da camisa.
— Não quero que algo mau aconteça a meu futuro marido.
— Promete que se casará comigo logo? — ele perguntou, beijando-lhe a mão.
A resposta de Trish foi um sorriso. E beijaram-se de novo. Trish decidiu que um
casamento rápido viria a calhar. Afinal, esperara tanto pelo seu Príncipe Encantado! E
agora que estava nos braços dele, não iria perder nem mais um minuto de seu precioso
tempo, separada dele.

EPÍLOGO

Flores decoravam cada recanto do salão, e o som da música misturava-se às risadas e à


conversa.
— Não tenho palavras para lhe dizer como apreciei sua enorme ajuda no arranjo desta
festa, com tão pouco tempo de antecedência. — Trish sorria para a nova sogra. — Foi
um verdadeiro milagre.
Apenas duas semanas se haviam passado desde o dia em que Jack a pedira em
casamento. Trish olhava para a aliança agora, mal acreditando que seus sonhos se trans-
formaram em realidade.
— Eu me diverti muito — Connie Krieger respondeu, tirando um fiapo do vestido de
noiva que Trish vestia. Embora Trish tivesse sido igualmente feliz casando-se com um
vestido simples e apenas na companhia da família, Connie insistira que ela merecia um
casamento adequado. — E sinto-me alegre por você ter permitido que eu fizesse parte
disso.
Graças a Connie, o casamento adequado fora também tal qual um conto de fadas: desde
a igreja e o salão cheios de flores, ao vestido de noiva de cetim e rendas, à obra de arte
em três camadas que o confeiteiro local chamara de bolo.
Trish e Jack .fizeram os votos em uma igreja cheia de familiares e amigos. Respirava-se
amor por toda parte. Depois do beijo tradicional, ambos abraçaram o filho.
Trish sorriu, lembrando-se de como Tommy aceitara bem a notícia de que Jack era seu
pai. Quando o chamara de "papai" pela primeira vez no jantar pré-nupcial, considerara
esse o melhor presente que poderia ter recebido.
— Em que está pensando? — Jack perguntou a Trish ao vê-la tão calada, passando o
braço pela cintura dela.
— Estava pensando em como sou feliz. Consegui tudo que sempre desejei na vida.
— Posso pensar em mais uma coisa.
— No quê?
— Sra. Krieger, quer me dar o prazer dessa dança? — Jack conduziu-a à pista. A

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orquestra começou a tocar e os dois se moveram no assoalho de madeira brilhante, ao
ritmo da música.
— Já se deu conta de que nunca havíamos dançado antes?— Trish sussurrou, não ainda
familiarizada com a intimidade do momento. — Ao menos não dançamos a música
propriamente dita.
— Há muitas outras coisas que nunca fizemos antes. — Jack disse suavemente, com a
boca colada ao ouvido dela.
— Muitas coisas que eu gostaria de fazer.
— Esqueceu-se, Jack? Já fizemos amor. Lembra-se? Trish sentiu a mão dele em suas
costas nuas, fazendo movimentos sensuais de baixo para cima.
— É claro que me lembro. Mas há um limite do que se pode fazer em um depósito.
— E fora de um depósito? — Trish fitou-o maliciosamente, com um tremor de
antecipação.
— Vai descobrir esta noite. — Ele afastou alguns fios de cabelo do rosto de Trish. — E
não se esqueça. Temos uma vida pela frente.
Jack beijou-a, e Trish teve a distinta impressão de que "uma vida" nos braços daquele
homem nunca seria suficientemente longa.

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