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mas a
vida ia lhe dar um duro golpe... Pouco menos de um ano depois, estava sozinha, e desejava ter um
bebê desesperadamente, embora tampouco precisava ter a um homem a seu lado para isso. John
Mitchell, o solteiro de ouro da vizinhança, aproveitaria a oportunidade para levar-se a mulher que
sempre tinha desejado. Mas sua proposição tinha um preço muito alto… Para conseguir esse
bebê, teria que fazê-lo a sua maneira, à velho uso. John lhe recordou todos esses prazeres que se
perdeu durante tanto tempo. Ensinou-lhe um mundo até então desconhecido para ela.
Capítulo 1
Capítulo 2
A VIAGEM em trem desde o Sídney ao Gosford foi muito agradável. Nada mais sair da
cidade, o trem se esvaziou e tinha conseguido um assento na parte superior, do lado direito. depois
de passar pelo rio Hawkesbury, as vias seguiam o traçado da água, ziguezagueando a capricho e
oferecendo ao viajante as vistas mais turísticas e relaxantes. Mas John tampouco estava cansado.
Essa era a vantagem de viajar em primeira classe. Podia subir a um avião e chegar a seu destino
totalmente renovado e preparado para algo.
Algo…
Isso devia ser o que esperava esse dia. As festas não eram precisamente seu passatempo
favorito. Não gostava de beber álcool e essas conversações vazias lhe punham de mau humor.
Entretanto, essa vez não tinha podido negar-se a assistir aos quarenta aniversário de bodas de
seus pais. Queria muito a sua mãe e não queria lhe fazer danifico por nada do mundo. Seu pai, em
troca, era feito de outra massa. Era difícil querer a um pai que lhe tinha rechaçado quando solo era
um menino… Mas John havia o tentando com todas suas forças e recentemente se deu conta de
que o tinha obtido. Umas semanas antes sua mãe lhe tinha chamado para lhe dizer que seu pai
tinha tido uma ameaça de enfarte e nesse momento tinha compreendido por fim o muito que lhe
queria. Pela primeira vez tinha entendido que seu pai podia morrer… E se levou um grande alívio
ao saber que não tinha sido nada sério.
Não obstante, não era capaz de superar o que seu pai tinha feito tantos anos antes.
Felizmente, naquela época tinha a seu avô. Se não tivesse sido por ele, as coisas poderiam lhe
haver saído muito mal. Provavelmente se tivesse ido de casa e teria terminado vivendo na rua.
Talvez tivesse acabado no cárcere… Se havia sentido tão mal depois da morte de seu irmão. Mau,
confuso, furioso…
Sim. havia-se posto furioso. Às vezes, quando recordava os anos de instituto, sentia-se
culpado… Se comportou tão mal, com muita gente, com o Scarlet… Com ela tinha sido
desprezível… Mas isso era pelo muito que gostava. Tinha sido cruel com ela, mas naquela época,
sentir algo por alguém lhe dava muito medo. Não queria sentir nada por ninguém, não queria
querê-la, nem necessitá-la. E a tinha afastado de sua vida, do primeiro momento, desde aquele dia
em que tinha batido na porta de sua casa e lhe tinha convidado a jogar com ela…
Mas a garota não estava acostumada aceitar um «não» por resposta. Sempre tinha sido
teimosa, com uma vontade de ferro. Ao final, não obstante, tinha captado a mensagem por fim e
tinha deixado de lhe convidar a sair a jogar. E que raiva lhe tinha dado então… Se comportou
como um menino malcriado. Se ela fazia algo, ele tinha que fazê-lo melhor. Por desgraça, sempre
lhes punham na mesma classe, a classe dos preparados, assim ignorá-la de tudo tinha sido um
pouco difícil. Mas ele o tentava com todas suas forças. E mais tarde, no instituto, haviam tornado a
terminar na mesma sala-de-aula.
O pior ainda estava por chegar, não obstante. Durante esse primeiro ano de instituto,
ambos tinham maturado muito. Scarlet se tinha convertido em uma garota preciosa, enquanto que
ele tinha passado a ser um jovenzinho fracote carregado de hormônios incontroláveis. E assim
tinha começado a pensar nela como um louco, o qual lhe tinha feito comportar-se ainda pior.
John esboçou um sorriso. Como tivesse reagido de ter sabido o muito que fantasiava com
ela no instituto? Tampouco era que queria dizer-lhe Que sentido tinha? Lhe tinha deixado muito
claro ao longo dos anos que não lhe suportava. E tampouco podia culpá-la. Ele tinha sido quem
tinha começado com as hostilidades.
Essa era uma das muitas coisas das que se arrependia. Scarlet sempre tinha sido uma
garota encantadora, embora um pouco mimada, mas nunca tinha merecido que a tratassem tão
mal. E tampouco se merecia que Jason Heath a enganasse. lhe dizer a verdade sobre aquele
bastardo era algo do que não se arrependia. Ela o tinha passado mau, mas pelo menos lhe tinha
evitado um sofrimento maior. O tipo nunca a tinha querido; somente a usava como álibi.
Perguntava-se se ela estaria na festa esse dia… Queria vê-la e conversar um momento
possivelmente… Sua mãe lhe havia dito por telefone que tinha demorado muito em recuperar-se
da infidelidade do Jason… Ao parecer, essa era a história que tinha contado para explicar a ruptura
do compromisso.
Os professores do instituto não tinham sido os únicos que se levaram uma grande
surpresa ao inteirar-se de que não ia à universidade. Ele também se ficou de pedra e recordava
haver-lhe dito… depois de tudo, sempre tinha sido tão preparada como ele.
John se Rio para si, reconhecendo a arrogância em si mesmo. Pelo menos ele não era dos
que foram por aí fazendo alarde de seus lucros. Bianca estava acostumada lhe dizer que era mas
bem dos silenciosos, os fortes…
O coração do John se encolheu. Sempre lhe ocorria ao pensar na Bianca. Algum dia,
possivelmente, conseguiria superar sua morte. A lembrança estava muito afresco… Ainda lhe doía.
Mas havia algo do que sim estava seguro, não obstante… Nunca voltaria para o Brasil. Essa parte
de sua vida tinha terminado. Seguiria vivendo e trabalhando na Austrália durante um par de anos,
mas não em Central Coast. Ali não havia indústria mineira e, além disso, nunca se sentia cômodo
passando tempo em casa.
O melhor era estabelecer-se no Darwin, onde já tinha um apartamento no que passava
umas quantas semanas todos os anos. Sua família, não obstante, não sabia nada disso. Se lhes
dizia que veraneava na Austrália todos os invernos, sem dúvida se zangariam com ele porque não
ia visitar lhes, nem lhes tinha convidado a sua casa… Sua mãe se zangou mais que ninguém…
Mas logo teria que lhes dizer algo, embora tampouco podia lhes contar toda a verdade.
Durante as duas semanas anteriores, tinha terminado de atar todos os cabos soltos em
Rio. Tinha-lhe deixado sua casa à família da Bianca. Não queria ter nenhuma lembrança… O único
que se levou consigo tinha sido a carteira, o passaporte, os telefones e a roupa. Enquanto
esperava no aeroporto, comprou-se um pouco de roupa de inverno em uma das boutiques e
também se cortou o cabelo quase ao zero. acostumou-se ao ter assim desde seu passo pelo
hospital no ano anterior. Uma das enfermeiras lhe tinha obrigado a cortar-se essa juba rebelde.
De repente o trem se parou na estação do Point Clare, lhe devolvendo à presente.
Estariam no Gosford em uns minutos. Quem iria recolher lhe? Não seria seu pai. Ao melhor
Melissa… Ou Leão, o marido da Melissa. Sim, provavelmente seria Leão.
Leão lhe caía muito bem. Era um dos bons. Para casar-se com sua irmã terei que ser um
pedaço de pão. Melissa era, sem nenhum gênero de dúvidas, a irmã mais consentida do mundo,
inclusive mais que Scarlet.
Scarlet…
Tinha vontades de vê-la na festa. Queria saber se lhe tinha perdoado por fim por lhe haver
dito o do Jason. Quando as notícias eram más, a gente sempre culpava ao mensageiro. Scarlet se
havia posto furiosa com ele essa noite. Tinha-lhe chamado mentiroso, mas ao final não tinha tido
mais remedeio que acalmar-se um pouco e escutar o que lhe dizia.
Certamente ainda devia seguir lhe odiando. Nunca tinha sido santo de sua devoção e o do
Jason só tinha piorado as coisas.
De repente uma voz anunciou que estavam chegando à estação do Gosford. Muitos dos
viajantes se levantaram e foram para as portas. John sabia que não havia necessidade de dar-se
pressa, assim que ficou onde estava, contemplando o rio pelo guichê; a superfície da água estava
como um prato. Havia muitos botes amarrados, balançando-se brandamente. ao redor desse
enorme meandro se estendia Gosford, a saída para as praias de Central Coast. Mas Gosford não
era uma cidade de praia. O mar estava a uns quantos quilômetros. O trem estralou um pouco
sobre uma ponte e passou por diante do BlueTongue Stadium. Antes havia um enorme parque ali.
Em questão de segundos chegaram à estação. John se tomou seu tempo para baixar.
Pouco a pouco tinha adquirido esse costume cada vez que voltava para casa. Não tinha
nenhuma pressa por descer do trem e sempre fazia tudo o que podia por cortar a visita. Seguia
sem estar de humor para essa festa, mas já não sentia essa tensão que lhe provocava saber que
ia estar com seu pai. E isso era bom… Não obstante, tampouco tinha pensado ficar muito. Não era
masoquista.
Não havia ninguém, assim deixou a bagagem no chão e esperou. Uns trinta segundos
mais tarde, um carro subiu pela rampa a toda velocidade e se deteve justo diante dele. Não
reconhecia o carro, mas sim reconheceu à preciosa loira que ia ao volante.
Era Scarlet.
Capítulo 3
SCARLET ficou de pedra. Esse homem muito bonito, parado diante da estação, com
camiseta, jaqueta e jeans negros, era John Mitchell. Não se deu conta imediatamente, não
obstante; nem sequer quando ele deu um passo adiante e lhe deu um golpecito no guichê. Ao
princípio pensou que era um estranho que queria lhe perguntar por alguma rua.
Mas assim que baixou o cristal e lhe viu tirá-las óculos, soube que era ele.
–Deus, John! –exclamou, olhando aqueles olhos azuis.
–Sim. Sou eu.
Scarlet apenas lhe reconhecia sem o cabelo comprido. Não era que estivesse mais
bonito… Sempre tinha sido muito bonito, mas sim parecia mais masculino. Além disso, nunca lhe
tinha visto vestido assim. Estava acostumada a lhe ver com calças curtas e camisetas, preparado
para fazer surfe.
De repente se deu conta de que lhe estava olhando muito, assim apartou a vista.
–Não te reconheci –lhe disse com brutalidade–. E o cabelo?
Ele se encolheu de ombros e se passou uma mão pela cabeça, quase rapada.
–É mais fácil de cuidar assim. Onde quer que ponha a bolsa? No assento de atrás ou no
porta-malas?
–Onde queira –lhe disse ela em um tom um tanto áspero e defensivo que tentava esconder
a surpresa. Não estava acostumada a encontrar atrativo ao John Mitchell.
–Minha mãe não deveria te haver pedido que viesse –lhe disse ele, subindo ao carro–.
Poderia ter tomado um táxi –lhe disse ele, assinalando a fila de táxis mais adiante.
–Agora já dá igual –disse Scarlet, passando por diante dos táxis.
–Suponho que sim. Mas prefiro isto antes que tomar um táxi. Obrigado, Scarlet.
Scarlet ficou aniquilada. Jamais tivesse esperado semelhante gesto de um homem como
John Mitchell. Estava distinto… Esteve a ponto de lhe perguntar o que lhe tinha passado nesse
último ano e meio, o tempo que tinha passado desde sua última visita, mas o pensou melhor e
decidiu guardar silêncio. Ao melhor ele também começava a lhe fazer perguntas…
–Seus pais tiveram muita sorte com o tempo –lhe disse ela, atravessando a rua principal
do Gosford, deserta a essa hora.
Ele não disse nada, mas o silêncio não durou muito.
–Minha mãe me há dito que não conheceste a ninguém mais –disse ele quando se
detiveram diante de um semáforo perto do East Gosford.
–Não –disse ela, ficando tensa.
–Sinto muito, Scarlet. Sei o muito que queria te casar e ter uma família.
Lhe olhou de repente, repentinamente furiosa.
–Bom, se o deixa tão claro, então não deveria me haver dito nada do Jason. Se não o
tivesse feito, eu não me teria informado de nada, e agora já estaria casada. Mas em vez disso…
Deteve-se o sentir o picor das lágrimas nos olhos. Apertava o volante com tanta força que
os nódulos lhe haviam posto brancos.
John se surpreendeu ao vê-la tão afetada, mas não se arrependeu de lhe haver dito a
verdade.
–Sinto-o muito, Scarlet. Mas não tive eleição. Não podia deixar que te casasse com um
homem que te estava utilizando.
–Bom, há coisas piores –lhe espetou ela, ressentidamente.
–Não te queria, Scarlet.
–Mas você o que sabe dessas coisas?
–Disse-me isso.
–Você!
–Sim. Deu-me pena. Dava-lhe muito medo admitir quem era publicamente. Nem sequer eu
me vi tão perdido como ele.
Scarlet se comoveu para ouvir a força de suas palavras. Acabava de lhe revelar algo…
–A luz está em verde, Scarlet.
–O que? OH, sinto muito.
Seguiu adiante, confusa. De repente sentia uma estranha simpatia pelo homem que estava
sentado a seu lado. Quem o houvesse dito uns anos antes? Tinha começado lhe encontrando
incrivelmente sexy e de repente sentia pena por ele… A vida podia dar uns giros do mais
perversos…
–por que não procuraste a outra pessoa? –ele seguia insistindo.
Scarlet suspirou. Sempre tinha sido um homem parco em palavras, e seus silêncios eram o
único que se agradecia nele, mas de repente parecia haver-se convertido em todo um
conversador.
–deixei que procurar, de acordo? –respondeu-lhe de uma forma quase agressiva–. Poderia
te fazer a mesma pergunta –lhe disse, contra-atacando–. Como é que você alguma vez
encontraste a ninguém? Ninguém que te atrevesse a trazer para casa…
Ele se Rio. John Mitchell acabava de rir. As coisas cada vez eram mais estranhas…
–Vamos, Scarlet, já conhece minha mãe. Se trouxer uma garota a casa, em seguida me
pergunta quando é as bodas.
–Eu poderia dizer-lhe sem nenhum problema. Nunca!
–Conhece-me muito bem, Scarlet.
–Conheço-te o bastante bem para saber que isso não vai. Se estivesse interessado, já te
teria casado. Não acredito que tivesse problema em encontrar a uma mulher.
–Obrigado pelo completo. Mas tem razão. O matrimônio não é para mim.
–Mas isso não é razão para que não leve a casa a alguma garota de vez em quando.
–Nisso sim que te dou a razão. Já há bastante tensão em casa cada vez que venho.
Isso era certo. Scarlet não podia negá-lo. John e seu pai não se levavam muito bem
precisamente. Sempre lhe tinha jogado a culpa ao John; sempre tinha sido um menino tão difícil…
Entretanto, nesse momento não podia evitar perguntar-se se haveria algum motivo oculto que
explicasse esse comportamento tão anti-social, algo que tivesse ocorrido antes de que ela e sua
mãe chegassem ao bairro… A curiosidade acabava de picá-la.
–Tem a alguém no Brasil agora? –perguntou-lhe, lhe olhando.
De repente, seu rosto trocou. O gesto sorridente lhe apagou de repente.
–Tinha-a. Até recentemente.
–Sinto muito.
–E eu. Bom, acredito que já havemos talher a quota de informação pessoal por hoje.
Scarlet apertou os dentes. Deveria haver-se imaginado que o de ser afável não duraria
muito.
–por que não seguiste pela rua principal? –perguntou-lhe ele ao ver que girava à direita
para tomar Terrigal Drive–. É mais rápido.
–Já não. Há umas obras horríveis. Se viesse a casa mais freqüentemente, saberia. Além
disso, eu sou quem conduz. Você é o passageiro. O passageiro não lhe diz ao condutor aonde vai
e como tem que ir.
Ele voltou a rir.
–Alegra-me ver que não trocaste, Scarlet.
–Eu estava pensando o mesmo de ti. Parece distinto por fora, John Mitchell… Não me
cabe dúvida de que agora te veste melhor… Mas por dentro segue sendo o mesmo listillo que se
acreditava superior que outros.
Essa vez ele não replicou e Scarlet não demorou para envergonhar-se. excedeu-se, para
não variar. John sempre lhe tirava o pior do caráter.
–Sinto-o –disse rapidamente, tentando encher esse Isso silêncio foi uma grosseria por
minha parte.
–OH, não sei –disse ele, surpreendendo-a com um sorriso seca–. Tampouco andava tão
mal encaminhada. Posso chegar a ser muito arrogante.
Essa vez Scarlet não pôde evitá-lo. Devolveu-lhe o sorriso. Seus olhares se encontraram
durante uns segundos. Scarlet foi a primeira que apartou a vista.
–Deixa de me olhar –lhe disse com aspereza, mantendo a vista à frente.
–Não te estava olhando. Solo estava pensando.
–No que? –perguntou-lhe ela.
–Não esqueça que há um radar com câmara por aqui.
Scarlet pôs os olhos em branco.
–Por Deus, John. Vivo aqui os trezentos e sessenta e cinco dias do ano. Sei que há uma
câmara.
–Bom, e então por que vai a mais de oitenta quilômetros hora?
–Posso ir a esta velocidade. Não é dia letivo.
–O sinal dizia sessenta. Há obras mais adiante.
Scarlet pisou no freio, bem a tempo.
–Se ficarem a fazer obras em outra rua mais, acredito que vou pôr me a gritar como uma
louca.
–Nada de gritos. Não agüento às gritonas.
Lhe fulminou com um olhar. Mas ele seguiu sonriendo.
–John Mitchell… Não me posso acreditar que tenha adquirido certo senso de humor.
–Bom, hoje parece que sim o adquiri. E me alegro. Já quase cheguei a casa.
Era certo.
A rua em que vivia Scarlet era igual a todas as demais cale de Central Coast, composta
por duas fileiras de casas variopintas. Era uma rua familiar em que sempre se encontrava à mesma
gente.
–Parece que veio muita gente –lhe disse ele quando dobraram a esquina.
–A culpa é de sua mãe. Se não desse tão boas festas, ninguém aceitaria seu convite.
Sempre passa o mesmo quando toca a seus pais dar a festa de Natal. Olhe, sua mãe e sua irmã
estão no alpendre, te esperando –Scarlet se deu conta de que faltava seu pai–. vou parar diante de
minha casa e lhe baixas. Quero colocar o carro na garagem.
–Muito bem –disse ele, saindo. Tomou a bolsa do assento traseiro e lhe deu as obrigado.
Ela apertou o botão do controle remoto da garagem e ficou lhe olhando pelo espelho
retrovisor enquanto a porta se abria. Realmente estava impressionante… Tinha um bom traseiro
com esses jeans. Um corpo de enfarte… De haver-se tratado de qualquer outra pessoa,
possivelmente se houvesse sentido tentada de flertar um pouco.
O pensamento a fez tornar-se a rir. Flertar com o John Mitchell… Que sentido podia ter
fazer algo assim? Voltou a rir…
E ainda seguia renda-se quando retornou à festa.
Capítulo 4
SCARLET procurou o John com a vista rapidamente, mas, ao não lhe encontrar entre a
multidão de convidados que se reuniram no jardim, voltou a entrar na casa. Dentro solo estava sua
mãe, tirando um par de garrafas de vinho da geladeira. O amplo salão estava vazio. Não havia
nem rastro do John.
–Ah, Scarlet –disse sua mãe–. Muito obrigado por ter ido procurar ao John.
–De nada, senhora Mitchell. Onde está, por certo?
–Acima, em seu dormitório –lhe disse Carolyn.
Parecia um pouco molesta.
–Disse-me que ia procurar meu presente de aniversário, mas eu acredito que solo está
evitando às pessoas. Importaria-te ir ver se baixa? A comida está preparada. Por certo, está muito
bonito hoje, carinho –acrescentou, sem lhe dar tempo a responder algo.
Em realidade tampouco lhe importava subir. Assim poderia ver se ainda tinha todos esses
pósters de garotas nas paredes.
Não os tinha. Na habitação não ficava nem rastro de tudas essas lembranças
adolescentes. John estava junto à janela, olhando para a rua. Seu dormitório dava à frente da
casa. Sua bolsa estava em cima da cama, sem abrir. Scarlet olhou a seu redor, mas não viu
nenhum presente.
–Pediram-me que venha a lhe buscar –lhe disse da porta.
Ele se voltou e sorriu com tristeza.
–Pobre Scarlet –disse com ironia–. Hoje te há meio doido o pior.
Scarlet não o negou, embora em realidade ir lhe buscar à estação não tinha incomodado
tanto como tinha pensado em um primeiro momento. E subir à habitação tampouco tinha sido para
tanto… Mas isso não o ia dizer.
–Encontrou o presente de sua mãe?
–Sim –disse ele e se tocou o bolso direito da jaqueta de couro.
–Algo pequeno e escandalosamente caro?
–Poderia ser.
–Me deixe adivinhar… Um rubi autêntico.
–O que outra coisa poderia lhe dar de presente um filho geólogo a sua mãe em seus bodas
de rubi? Sempre foi uma garota lista.
–E você sempre foste um imbecil sarcástico.
Ele franziu o cenho e então sorriu.
–Direi-te uma coisa. Prometo-te que baixo e entretenho a meus convidados se ficar a meu
lado todo o tempo.
–Bom, e eu que saco de todo isso.
John sorriu de brinca a orelha.
–Desfrutar de minha agradável companhia?
–Temo-me que não é suficiente. Não acredito que sua companhia vá se voltar agradável
de repente. Terá que me dar algo mais.
–E que tal um diamante autêntico?
Scarlet não sabia se falava a sério ou se solo lhe estava tirando o sarro. Mas tinha
vontades de seguir brincando.
–Para que quero eu um diamante? –respondeu em um tom altivo–. Bom, a não ser que
venha em uma aliança de ouro, junto com uma proposta de matrimônio.
A cara que pôs John não tinha preço.
–Não? –perguntou-lhe ela e seguiu adiante–. Que pena. Tampouco está tão mal depois de
tudo. E está podre em dinheiro. Por não mencionar que não é gay. Que mais poderia querer uma
garota?
–Bom intento, Scarlet. Acreditei-me isso durante uma fração de segundo.
Ela sorriu.
–Sim, verdade? A vingança é doce.
–Vingança por que?
–Por todas essas vezes em que desejei te matar.
–Culpa-ma –disse ele.
–Aí tem razão. Mas hoje tem que ser um bom dia, assim vou deixar a um lado as velhas
rixas e farei o que me pede. Não tem que me pagar com nada.
Bom, tampouco pensava que fosse me dar um diamante de verdade.
–Se tinha intenção de lhe dar isso agora já perdeste sua oportunidade. Não obstante, se
for agradável e simpática durante o resto do dia, ao melhor sim que lhe dou isso.
–Em seus sonhos, céu.
Ele se Rio a gargalhadas.
–Aí sim que tem razão, Scarlet… Vamos –esboçou um sorriso cálida e lhe ofereceu o
braço–. Será melhor que baixemos antes de que nos mandem à equipe de busca.
Capítulo 5
SCARLET logo que podia acreditar-se o muito que tinha desfrutado da festa, e da
companhia do John, embora tampouco tinha sido agradável precisamente. depois de lhe dar a sua
mãe o rubi, em bruto, mas enorme, dignou-se a dar um pequeno discurso. Tinha gabado a seus
pais por levar tanto tempo juntos, e lhes tinha desejado o melhor para o futuro. Mas isso não tinha
sido tudo. Surpreendentemente, depois de comer, fazia o esforço de falar com seu pai. A
conversação tinha sido um pouco tensa, não obstante. Scarlet estava muito perto, escutando-o
tudo. Mas era Martin Mitchell quem soava mais nervoso… Detrás falar com o John, passou o resto
da tarde jogando com seu neto, o pequeno da Melissa. Oliver era um menino encantador, com uma
personalidade muito definida e doce, mas Scarlet não podia evitar pensar que deveria haver ficado
um momento mais com seu filho, que tinha pirado do Brasil para assistir à festa em um dia tão
especial.
Essa atitude a tinha incomodado um pouco, e por isso se aproximou mais ao John. Além
disso, tomou-se uns quantos copos de vinho e já estava mais contente e coquete que de costume.
Ele, por sua parte, não fazia mais que procurá-la quando lhe deixava sozinho durante muito tempo,
e quando a encontrava lhe sussurrava ao ouvido… Lhe dizia que não conseguiria esse diamante
se seguia abandonando seu posto.
Perto das cinco e meia, a festa tocava a seu fim e os convidados começavam a ir-se. Às
seis, a casa dos Mitchell estava quase vazia. Scarlet e sua mãe ficaram para ajudar ao Carolyn e a
Melissa. Oliver dormia a sesta e Martin, John e Leão estavam no salão, vendo as notícias.
–na sexta-feira me fizeram a ecografia dos quatro meses –disse Melissa de repente
enquanto enchia a lava-louça junto com o Scarlet.
Suas mães tinham saído nesse momento, para procurar mais pratos sujos.
Scarlet ficou tensa. Sempre que alguma garota começava a falar desses temas lhe
acontecia o mesmo.
–OH –disse, tentando soar natural–. Espero que tudo vá bem.
–Muito bem. Leão me acompanhou. Claro. Quase chorou quando lhe disseram que era
uma menina. E eu também. Oliver é um pirralho maravilhoso, mas sempre quisemos ter uma
menina também.
Scarlet quase sentiu vontades de chorar. lhe dava igual a fora menino ou menina. Solo
queria ter um bebê.
–Você gostaria de ver as imagens da ecografia? –perguntou-lhe Melissa–. As trouxe para
acostumar-lhe a minha mãe. Tenho-as acima. Vou por elas –acrescentou, sem lhe dar tempo a
responder.
Nada mais entrar na cozinha, John reparou na cara do Scarlet.
–O que acontece? –perguntou-lhe diretamente–. O que te passa?
–Tenho que sair daqui.
Muito tarde. Melissa retornou em seguida com as temidas fotos. Scarlet não teve mais
remedeio que olhar as imagens e passar por todo o repertório de exclamações apropriadas para a
ocasião. Como ia fazer outra coisa, sem fazer o ridículo? Melissa insistiu em acostumar-lhe a seu
irmão também e este não teve mais remedeio que lhes jogar uma olhada.
Por sorte, não fez comentário algum, não obstante. Em algum momento suas mães
voltaram a entrar na cozinha. Scarlet se preparou para suportar o discurso entusiasta do Carolyn
Mitchell…
–Me alegro tanto de que vás ter uma menina, carinho –disse a sua filha, radiante de
felicidade–. E os avós estão encantados de te ter vivendo tão perto…
Depois acrescentou que era mais que evidente que John não ia lhes dar netos e que, se
por algum estranho milagre os fazia avós, provavelmente nunca chegariam a conhecê-los, posto
que ele preferia viver no Brasil.
John não sabia o que tinha posto tão nervosa ao Scarlet, mas, a julgar pela cara que tinha,
estava desejando sair dali; ao igual a ele. E quanto antes, melhor.
–Sinto ter que lhes deixar… –disse John quando sua mãe deixou de falar um momento–.
Mas perguntei ao Scarlet se saíamos esta noite e me disse que sim. Assim… se não lhes importa,
vamos.
Agarrou-a pela mão sem mais demora e se dirigiu para a porta de entrada.
–Não nos esperem –lhes disse, falando por cima do ombro–. Nos levamos seu carro, mas
não se preocupe, eu posso conduzir –disse ao Scarlet ao ouvido–. Solo me tomei duas cervejas
sem álcool em toda a tarde.
Scarlet tivesse acessado a algo nesse momento. Sentia um alívio tão grande ao poder
escapar da Melissa e suas fotos de bebês…
Cinco minutos mais tarde, John estava tirando o carro da garagem.
–Bom carro, Scarlet –lhe disse, quando já estavam em caminho–. A última vez que estive
por aqui, conduzia um montão de sucata.
–Bom, decidi me dar algum capricho que outro este ano.
Um carro novo, um bebê…
De repente essas lágrimas que levavam tanto tempo ameaçando saindo rodaram por suas
bochechas. Scarlet não teve mais remedeio que jogar a cabeça adiante e escondê-la entre as
mãos.
John não soube o que fazer durante uma fração de segundo. Sabia que lhe acontecia algo,
mas tampouco tinha esperado algo assim. Não era próprio dela absolutamente.
Seguir conduzindo parecia um pouco cruel, assim que se tornou para o borda e parou o
motor.
ficou quieto, em silêncio. De repente lhe pareceu a melhor opção.
Quando deixou de chorar por fim, ela mesma abriu o porta-luvas e tirou uma cajita de
lenços. soou-se o nariz e então lhe dedicou um olhar sofrido.
–Obrigado.
–por que?
–Por me tirar dali.
–Posso-te perguntar por que está assim?
–Não –ela enrugou o lenço e apartou o olhar dele.
–Não? Scarlet King, não nos vamos mover daqui até que me diga o que te passa.
De repente lhe acendeu a lâmpada. Melissa tinha baixado com as fotos da ecografia, e
depois tinha chegado sua mãe, queixando de que nunca lhe daria netos, o qual era mais que
provável.
–Talvez é pelo embaraço da Melissa –lhe disse com essa arrogância masculina tão típica
que vinha depois de ter adivinhado algo.
Scarlet o olhou de repente. Seus olhos jogavam faíscas.
–Sim. Claro. É obvio. Foi o embaraço de sua preciosa hermanita. E a forma em que me
esfregou todas essas fotos na cara. Como crie que me senti quando me disse que vai ter a uma
menina preciosa para acompanhar ao nenê encantador que já tem, quando eu daria o que fora por
ter um bebê, fora do sexo que fora?
–Mas o terá, Scarlet. Algum dia.
–OH, de verdade? Me pode garantir isso você, John? Tenho trinta e quatro anos e sigo
sem ter êxito nos temas do amor. Bom, provavelmente dentro de pouco já comece a ter problemas
para ficar grávida. Se não o tiver logo, tudo vai se pôr muito difícil.
–Não diga tolices, Scarlet. Hoje em dia há um montão de mulheres que têm filhos com
quarenta anos e mais.
–Não é nenhuma tolice, e as mulheres de quarenta anos não têm filhos todo o tempo. A
maioria das mães maiores das que se ouça falar são celebridades e atrizes que têm acesso às
melhores clínicas de fertilidade do mundo. Fixaste-te em quantas têm gêmeos? Não acreditará de
verdade que esses meninos são concebidos de forma natural, não?
John nunca tinha reparado nisso.
–Bom, seguro que sabe mais que eu do tema, mas ainda não tem quarenta anos, Scarlet.
Falta-te muito. Não há motivo para sucumbir ao pânico.
–Tenho todos os motivos para me deixar levar pelo pânico.
–Olhe, se estiver tão se desesperada por ter um bebê, por que não sai por aí e fica
grávida? É muito bonito. Seguro que lhe farão muitas ofertas.
Scarlet lhe olhou com olhos perplexos.
–Mas crie que me vou ficar grávida do primeiro que me encontre? E já não falemos do
risco de contrair enfermidades. Não, obrigado. Não tenho intenção de fazer algo assim.
–Então vais seguir esperando ao Príncipe Azul?
–Em realidade, John, tampouco tenho intenção de fazer isso.
–OH… Bom, então me diga… O que quer fazer?
–Bom, já que perguntas, já o estou fazendo.
–O que está fazendo?
Scarlet se deu conta de que se colocou na armadilha ela sozinha. por que tinha que ser
incapaz de manter a boca fechada?
–O caso é que… –lhe disse, duvidando ainda–. Eu… Um… decidi ter um bebê por
inseminação artificial.
Ao ver que ele não respondia nada, Scarlet se voltou para ele. Tinha o cenho franzido,
como se não entendesse nada.
–Procurei-o tudo perfeitamente em Internet. Pensei-o e o investiguei tudo perfeitamente.
encontrei uma clínica perto onde têm um bom catálogo de doadores de esperma. Tem acesso a
toda a informação; rasgos pessoais, histórico de saúde, quociente intelectual… Escolhi ao que
melhor me pareceu. É americano, alto, bonito, com cabelo escuro, olhos azuis, e um quociente de
cento e trinta. Alguns os têm mais altos… Quase todos os doadores são estudantes universitários,
mas eu não quero um bebê que seja um gênio. Solo quero que seja o bastante preparado para
desembrulhar-se bem na vida sem passá-lo mau.
–Se já o decidiste, Scarlet, por que te pôs assim com o do embaraço da Melissa?
Scarlet suspirou.
–Bom, suponho que é melhor que te diga todo o resto. O caso é que até agora não
funcionou. Já o tentei duas vezes, mas não me fiquei grávida e… Eu… Eu… Bom, quando Melissa
me ensinou as fotos da ecografia, comecei a me preocupar e a pensar que me acontece algo, que
nunca poderei ser mãe… Eu… –sua voz se quebrou.
–A verdade é que… –disse John, preenchendo o silêncio repentino–. Admiro que tenha
decidido dar um passo para conseguir o que quer na vida. É valente. Mas ao mesmo tempo não
posso evitar pensar que está sendo egoísta ao querer ter um filho ao que lhe nega a possibilidade
de ter uma figura paterna em sua vida.
Scarlet se surpreendeu. Enfureceu.
–Eu não diria que ter uma figura paterna na vida resolve tudo. Eu pensava que você seria
a primeira pessoa que o entenderia.
–Vá. Aí me deste. Mas sim que tive avô. Seu bebê nem sequer terá isso.
–Ao melhor não, mas sim vai ter a uma avó que o quererá muito.
–Certo. Mas o que passa quando ela não esteja? O que passará então?
–Não quero pensar nisto agora. Já o pensarei… amanhã.
–Igual a sua xará na ficção.
Lhe fulminou com o olhar.
–Eu pensava que você o entenderia.
John se encolheu de ombros. Não sabia muito bem por que lhe inquietava tanto que
Scarlet tivesse um bebê desse doador com um quociente de cento e trinta, mas o certo era que
todo seu corpo parecia resistir à idéia.
–Querer um bebê não é muito complicado. É um instinto natural na maioria das mulheres.
E em muitos homens também, conforme ouvi –acrescentou em um tom incisivo.
–Suponho que deve ter razão. Olhe, é evidente que está empenhada em fazer isto, mas
tenho uma sugestão que te fazer que possivelmente seja muito melhor que ficar grávida por um
completo estranho que não lhe contribuirá nada a seu filho, exceto um pack de gens que ao melhor
não são tão desejáveis como diz nos papéis. Ao fim e ao cabo, o que sabe desse doador de
esperma? Tudo é muito superficial. Não sabe nada de sua família, nem de seu estado mental.
Talvez deveria te alegrar de não ter concebido a esse filho ainda.
Scarlet não podia acreditar-se que John pudesse ser tão negativo. A vida sempre tinha um
risco. Os planos perfeitos não existiam, nem tampouco os casais perfeitos…
–Bom, Scarlet, em altares da felicidade futura de seus descendentes, proponho-te que
deixe a esse doador de esperma e escolha a outro… a mim.
Scarlet ficou boquiaberta. Não poderia haver-se surpreso mais embora lhe tivesse sugerido
que ficasse grávida pelo Espírito Santo. Tinha que haver gato encerrado. Tinha que ser uma
brincadeira…
–Tem que estar de brincadeira!
–Em realidade, não. Não estou brincando.
–Mas… mas… por que?
–E por que não? Cumpro os requisitos, não? Sou alto, razoavelmente bonito, tenho o
cabelo escuro, os olhos azuis… Por desgraça, meu quociente intelectual é um pouco mais alto de
cento e trinta, mas isso tampouco importa tanto, não? Prometo-te que te deixarei criar a seu filho
como quer e que não me colocarei onde não me chamam. Não será tão distinto ao que tinha
pensado, embora sim que eu gostaria de ver o menino de vez em quando. Além disso, os outros
avós viverão em frente. E embora meu pai não fora um grande pai, hoje vi que sim tem madeira de
avô. Isso passa às vezes. Seu pai, meu avô, dizia que tinha sido um pai patético, mas que quando
se converteu em avô melhorou muito.
Scarlet sacudiu a cabeça.
–Está-me custando muito assimilar tudo isto.
–Tome seu tempo.
Scarlet piscou e então franziu o cenho.
–Ainda não vejo por que me faz esta oferta.
–Às vezes sim que posso ser amável e empático, sabe?
Pelo menos isso acreditava Bianca.
–Isto é algo mais que ser amável e empático –sacudiu a cabeça de novo–. Devo dizer que
me sinto tentada. Minha mãe se sentiria mais tranqüila sabendo que você é o pai.
–Suponho que sim. Caio-lhe muito bem. Já sabe. Sempre lhe tenho cansado muito bem,
desde aquele dia em que lhe prometi que cuidaria de ti no ônibus do colégio.
Scarlet pôs os olhos em branco.
–Acredito recordar que não te fez muita graça então.
–Não me importou absolutamente.
–Mentira! Vamos, John, nunca tiveste madeira de bom samaritano precisamente. E é por
isso que essa oferta que me faz sonha tão estranha. Deus, não sei o que pensar nem o que dizer.
–Dava que sim e já está.
–Mas é uma decisão muito difícil. Quero dizer que… É uma grande responsabilidade ter
um filho contigo… É distinto a estar apaixonado por alguém e…
John soprou.
–Os dois sabemos muito bem que estar apaixonado não é garantia de felicidade para o
futuro. A gente se desenamora todo o tempo hoje em dia.
–Mas é importante que os pais se goste e se respeitem.
–E crie que eu não gosto e que não te respeito?
–Não fomos precisamente bons amigos durante estes anos.
–Mas todo isso forma parte do passado. Solo fomos pirralhos estúpidos. Hoje nos levamos
muito bem, não?
–Sim –disse ela, não sem reticência–. Sim que nos levamos bem. Ai, Deus, ainda não sei o
que dizer. Se fizermos isto, que demônios vamos dizer a todos?
–Já nos ocuparemos disso quando chegar o momento. A prioridade neste momento é que
fique grávida, não? É evidente que seu corpo não responde bem a esse doador que escolheste –
acrescentou, fazendo uso dessa lógica fria que lhe caracterizava–. Tem que provar com alguém
distinto.
Scarlet sabia que se falhava outra vez com o doador, terminaria arrependendo-se de não
ter aceito a proposta do John.
«Agora ou nunca…», disse uma voz em seu interior.
–Muito bem. Muito bem. Ao diabo contudo. Digo que sim.
–Estupendo –disse John–. Qual é o plano?
–Contatarei com a clínica a primeira hora e te pedirei uma entrevista para que vás deixar a
amostra de esperma. Então…
–Espera um momento! –John a interrompeu imediatamente–. Não o vamos fazer assim!
Nem pensar!
–O que quer dizer?
–Quero dizer que não penso me converter em pai deixando uma amostra em um tubito. Se
formos fazê-lo, façamo-lo bem.
–Quer dizer que… Quer te deitar comigo?
Capítulo 6
Capítulo 7
A MÃE do Scarlet seguia acordada, vendo a televisão, quando sua filha chegou a casa. E
talvez foi melhor assim. Pelo menos pôde agüentar as vontades de tornar-se a chorar de novo.
Sua mãe levantou a cabeça do sofá.
–chegaste antes do que esperava.
Scarlet olhou o relógio que estava na parede. Não eram mais das nove.
–Sim, bom, não há muito que fazer por aqui um domingo de noite –lhe disse, rodeando a
encimera da cozinha e agarrando o hervidor–. Não gostava de comer nem beber nada, assim que
fomos ao cinema.
–Foi boa?
–Mais ou menos –disse ela, enquanto jogava água ao hervidor–. Que filme está vendo?
Sua mãe sempre via um filme às oito e meia os domingos pela tarde.
–Uma muito aborrecida apoiada em feitos reais. Estou a ponto de apagar a televisão –o fez
em seguida–. Se está fazendo chá, me faça uma taça , por favor.
–Muito bem –disse Scarlet, pensando que tinha que ir-se à cama antes de que começasse
o interrogatório.
Janet se voltou para sua filha do sofá para poder lhe ver a cara.
–Surpreendeu-me ver que te levava tão bem com o John.
–E eu –disse Scarlet.
–Não se separou que ti em toda a tarde… Não acreditará que…
–Não, mamãe. Isso nunca vai passar, assim não vá por aí.
Mas Janet não estava disposta a render-se tão facilmente.
–Se você o disser, carinho. Mas o que diz John? Quer verte de novo enquanto fique em
casa?
–Mmm, solo me convidou a sair hoje porque não suporta estar perto seu pai durante muito
tempo. Seguro que retorna em seguida aonde quer que tenha que voltar. Atrevo-me a dizer que se
irá amanhã mesmo.
–Seguro que fica um pouco mais depois de ter vindo desde tão longe.
Scarlet se encolheu de ombros.
–Duvido-o muito. Aqui tem o chá, mamãe. Eu me levo o minha a minha habitação. Estou
cansada.
Janet franziu o cenho ao ver que sua filha se ia diretamente à habitação ao sair da
cozinha. Conhecia o Scarlet melhor que qualquer outra pessoa e sabia que lhe acontecia algo.
Algo tinha ocorrido entre o John e ela essa noite, algo do que não queria falar, algo que a
tinha posto muito tensa. Acaso ele se ultrapassou com ela?
De ter sido assim, não lhe tivesse sentido saudades nada. Scarlet era muito bonita, mas
tinha o fita de seda muito alto no que a homens se referia. Se cometiam um só engano, já podiam
sair pela porta e não voltar. Desde não ter procurado a perfeição em um casal com tanto afinco,
certamente já tivesse estado casada a essas alturas.
Mas nada disso importava já. Janet apertou os lábios, resignada. Era evidente que Scarlet
tinha abandonado a idéia de casar-se. Se John estava interessado nela, então acabaria liberando
uma batalha perdida. Quão único ela queria era um bebê.
Janet se levantou do sofá e foi recolher sua taça. Solo podia esperar que sua filha ficasse
grávida ao mês seguinte.
Esse mesmo pensamento manteve ao Scarlet em vela durante toda a noite. Deu mil voltas.
A mente a torturava com idéias nocivas… E se não ficava grávida? O que faria então? Seguiria
tentando-o ou recorreria a métodos mais complicados e caros como a fecundação in vitro? Quanto
tempo agüentaria antes de voltar-se louca?
Já começava a sentir que algo não funcionava bem em sua cabeça.
Talvez deveria ter aceito o oferecimento do John. por que não o tinha feito? Era sozinho
porque a idéia de deitar-se com ele a aterrorizava? Acaso lhe dava tanto medo não estar à altura
de suas expectativas? por que tinha tanto medo quando se tratava do John Mitchell?
Sua mente atormentada finalmente voltou para esse filme que tinham visto, com essa
conclusão tão absurda e brega. Sem dúvida não tinha por que ter medo de que lhe ocorresse algo
similar. Era ridículo pensar que pudesse chegar a apaixonar-se solo por ir-se à cama com ele.
Por enésima vez, incorporou-se e lhe deu um murro ao travesseiro antes de voltar a atirar-
se sobre ela.
–Estou cansada de tudo isto –murmurou, olhando ao teto–. Tenho que ir trabalhar pela
manhã. Tudo é tua culpa, John Mitchell. Deveria te haver metido em seus assuntos. Em realidade
não quer ser o pai de meu filho. Não quer ser o pai de nenhum filho. por que demônios fez uma
proposta tão absurda? Não tem sentido!
John, parado junto à janela de sua habitação, estava pensando um pouco parecido.
Olhava para a casa do Scarlet, tal e como tinha feito tantas e tantas vezes quando era um pirralho,
desejando ir jogar com ela, como faziam os outros meninos.
Um sorriso seca lhe atirou das comissuras. Ali estava de novo, anos depois, desejando-a
ainda, mas de uma forma muito distinta…
Seu oferecimento tinha começado sendo um gesto de generosidade, mas logo se
converteu em um sentimento guiado pelos hormônios masculinos. Desejava-a, nua, disposta, em
seus braços… Uma fantasia… Só tinha que recordar como tinha respondido quando a tinha
agarrado do braço essa noite… Era evidente que não despertava paixões nela. Talvez era por isso
que tinha rechaçado a oferta. Além disso, que o pai de seu filho fora um egoísta egocêntrico, com
uma fobia ao compromisso, não devia ser uma idéia muito apetecível. Era muito melhor decantar-
se por um completo estranho.
«Muito boa, John…»
De repente se acendeu uma luz na casa dos King. John não sabia se era a habitação do
Scarlet ou não, mas suspeitava que sim. Estava em vela, igual a ele.
Viu-se assaltado por outra lembrança; o momento em que a tinha agarrado do braço,
quando se tinham partido da festa. Então ela não tinha fugido dele… E esse olhar que lhe tinha
arrojado ao lhe ver na estação… Talvez estava tirando uma conclusão errônea. Talvez havia outra
coisa que lhe preocupava. Talvez estava dando voltas na cama nesse preciso momento,
desejando não lhe haver rechaçado.
Possivelmente queria pensar-lhe de novo mais adiante, mas não era de esperar que
chegasse a tomar uma decisão ao respeito rapidamente. Ficar em casa, esperando a que ela
trocasse de idéia, não era um bom plano. Embora acabasse de dar-se conta de que ainda queria a
seu pai, tampouco tinha vontades de ficar em casa tanto tempo. Ainda o encontrava difícil de
suportar. E nem sequer se podia escapar a fazer surfe. Os médicos lhe haviam dito que não podia
praticar seu esporte favorito até que tivesse melhor a perna. Já lhe havia dito a sua mãe que tinha
um vôo reservado para o dia seguinte pela tarde… A tinha deixado que pensasse que voltava para
o Brasil, mas em realidade se ia ao Darwin.
Levaria-se Scarlet uma decepção ao ver que partia tão repentinamente?
Ao melhor solo se levava um grande alívio. Mas tampouco podia perguntar-lhe já.
E se terminava trocando de ideia em relação à oferta? Teria que saber como contatar com
ele, sem ter que perguntar-lhe a sua mãe.
Scarlet não faria algo assim… A conhecia muito bem. Em realidade se pareciam em umas
quantas coisas. Os dois eram muito orgulhosos, e muito independentes para seu próprio bem.
Lhe dando as costas à janela, dirigiu-se para a porta e baixou as escadas. A casa estava
silenciosa. Seus pais se foram a dormir um momento antes. Acendeu a luz da cozinha e foi olhar
na gaveta onde sua mãe guardava muitas canetas, cadernetas de notas e envelopes de distintos
tamanhos. Tomou papel e caneta e retornou a sua habitação. Acendeu o abajur da mesita de noite
e se sentou a escrever. Teve que fazer várias provas antes de encontrar as palavras adequadas,
mas finalmente ficou satisfeito.
Querida Scarlet, quando as isto me terei ido já. Não a Austrália, como cria minha família.
Tenho um apartamento no Darwin, onde sempre passado umas semanas no inverno. Esta vez,
não obstante, tenho pensado ficar mais tempo, mas, por favor, não o diga a ninguém. Suponho que
tem intenção de voltar a provar com seu doador anônimo. E tem todo o direito. Mas se não sair
bem, quero que saiba que minha oferta segue em pé. Não posso te prometer um romance, mas
sim te prometo que terá o que acredito que necessita desesperadamente. Aqui tem meu telefone
móvel para que possa contatar comigo esteja onde esteja. Um abraço de seu amigo, John.
Acrescentou o número, colocou a nota em um sobre e escreveu o nome do Scarlet no
dorso. ia jogar lhe a carta na rolha ao dia seguinte, quando já se foi ao trabalho.
Para quando chegasse a casa, ele já se teria partido.
E então tudo dependeria dela.
Capítulo 8
Capítulo 9
John estava jogando uns quantos lenhos mais ao fogo quando ouviu o timbre de seu
telefone via satélite. Franzindo o cenho, entrou na loja de campanha de uma praça, procurou o
telefone e voltou a sair. Havia lua enche. John a olhou um segundo antes de responder.
–Olá, Scarlet –disse, tentando soar tranqüilo; nada mais longe da realidade.
Ao princípio havia sentido um grande alívio ao ver que ela não o chamava. Assim que tinha
esclarecido um pouco suas idéias, deu-se conta de que tinha sido uma loucura lhe fazer essa
proposta. Mas, à medida que passavam os dias, não podia evitar pensar em que voltaria para casa
por Natal, e voltaria a ver o Scarlet, essa vez grávida de um estranho. depois de várias noites em
vela, havia-se sentido tentado de chamá-la. Mas o que podia lhe dizer que não lhe houvesse dito
já? Era evidente que não lhe queria como pai de seu filho. Insistir tivesse sido uma estupidez.
E assim, finalmente, não tinha feito nada. Literalmente. Não tinha tentado procurar trabalho
nas empresas mineiras. Tampouco se tinha ido pescar, tal e como estava acostumado a fazer
quando estava de férias no Darwin. Não tinha feito nada. dedicou-se a perambular e a ver filmes
intermináveis na televisão; dedicou-se a pensar muito, e a beber mais da conta. Bianca lhe
houvesse dito que estava fugindo da vida real. Outra vez.
Ao final, tinha-lhe pedido a seu companheiro de pesca em helicóptero que o deixasse
naquele lugar isolado durante uns dias, e tinha acampado sozinho. Nada esclarecia tanto a cabeça
como estar em comunhão com a Natureza. E tinha funcionado, até certo ponto. Ao final a decisão
dela tinha começado a cobrar sentido. Ao final tinha conseguido encontrar um pouco de paz
mental. Ou isso acreditava… Mas tinha bastado com uma chamada de telefone para fazer
pedacinhos essa ilusão.
–Como soube que era eu? –perguntou-lhe ela, surpreendida.
–O identificador de chamadas dizia que chamava desde New South Wales. É a única
pessoa nesse Estado que tem meu número.
–OH. Já vejo.
De repente, John teve um pensamento puxador. E se lhe estava chamando para lhe dizer
que por fim estava grávida? Era possível. Talvez tinha pensado que lhe gostaria de sabê-lo.
–por que chamas, Scarlet? –perguntou-lhe bruscamente.
Scarlet sentiu que o coração lhe afundava para ouvir essa pergunta tão direta.
–trocaste que ideia sobre a proposta, não? –disse-lhe ela.
A tensão que agarrotaba o estômago do John se dissolveu de repente.
–Absolutamente.
–Sério? –disse ela.
Uma esperança renovada lhe invadia o coração.
–Sim, a sério. E o que passou, Scarlet? Tendo em conta o tempo que passou da última vez
que falamos, suponho que terá voltado para a clínica para tentá-lo de novo e que não funcionou.
–Hoje me veio o período –lhe confessou com um suspiro.
–Como te disse na carta, minha oferta segue em pé.
–Sei que a cavalo agradável não se o olhe o dente, John, mas ainda não fica claro por que
faz isto por mim. Além do tema do sexo, claro. Mas isso tampouco o entendo muito bem. Quero
dizer que… se sempre te gostei, por que não fez nada ao respeito antes?
Todas eram perguntas muito lógicas, mas John não sabia o que lhe dizer. Tinha que lhe
dizer algo, não obstante. Ela não era nenhuma parva.
–Posso te ser franco?
–Por favor.
–Não tenho feito nada até agora porque pensei que me rechaçaria –lhe disse com
sinceridade–. Até que nos vimos de novo o mês passado. Entretanto, contrariamente ao que crie,
também me cai bem, Scarlet, e só queria te ajudar a conseguir o que mais deseja, que é ter um
bebê. E, por muito estranho que pareça, também eu gosto da idéia de ter um filho. Mas, se quiser
que te seja de tudo sincero, tenho que dizer que o que mais me move é te ter em minha cama,
durante muito mais tempo de que passou nessa maldita clínica cada mês.
O silêncio do Scarlet ao outro lado da linha lhe deu uma idéia de qual era o grau de sua
surpresa.
–Vamos, Scarlet, tem que saber o preciosa e irresistível que é.
Scarlet se ruborizou até a medula.
–Bem –a voz do John se relaxou de novo–. Quando pode vir até aqui?
Scarlet tragou com dificuldade e então se incorporou. Sempre se havia sentido mais
cômoda tendo um plano.
–o antes possível, pensei.
–O que te parece com começos da semana que vem?
–Bom, terei que organizar umas quantas coisas no trabalho…
–Seguro que pode resolvê-lo. Uma vez tenha reservado o vôo para a semana que vem, me
diga a que hora chega e estarei no aeroporto, te esperando. Não me mande a mensagem a este
número. manda-me isso ao móvel. Para então já teria voltado para o Darwin.
Scarlet pôs os olhos em branco, exasperada.
–Onde está?
–Estou de acampada em um parque nacional.
Scarlet tinha estado fazendo alguns cálculos mentais.
–Espera… A semana que vem é muito logo. Não posso ficar grávida até uma semana
depois. Nunca ovulo antes do dia quatorze. Sei muito bem porque me estive tomando a
temperatura todos os dias durante o último ano e…
–Scarlet… Se quer ficar grávida, tentemo-lo a minha maneira.
–E sua maneira é…?
–Que não tome a temperatura todos os dias, para começar. Deixar de pensar no período
de ovulação… Porque é evidente que esse método não te funcionou muito bem até o momento,
não?
–Suponho que não.
–Sugiro-te que me deixe isso tudo . Ponha em minhas mãos. Nada de discussões, nem
peros.
–Sim –disse ela. Não tinha mais remedeio que aceitar.
–Bem –disse ele, sonriendo.
Ela não tinha costume de dizer a palavra «sim», mas teria que acostumar-se a dizê-la
muito durante o tempo que passassem juntos. Não ficaria mais remédio…
Capítulo 10
COMO tinha um assento junto à janela e estava muito aturdida para ler, Scarlet passou a
maior parte da viagem ao Darwin contemplando a paisagem. Não havia nuvens no céu, e não
havia nada que empanasse a maravilhosa vista. Austrália era um país enorme, deserto e
desconhecido… A última fronteira, como diziam muitos.
Nunca tinha sobrevoado a zona central do país, nunca tinha estado naquela vasta
expansão cheia de mistério. Suas férias, antes da morte de seu pai, consistiam basicamente em
viagens ao Sídney e ao Gold Coast. Uma vez tinham ido ao Blue Mountains e tinham visitado
Three Sisters e Jenolan Cave. depois da morte de seu pai, não obstante, sua mãe e ela tinham
acontecido muitos anos sem ir de férias, e ao final tinham começado a ir a Fiji todos os anos,
porque estava muito perto e as viagens eram baratas.
Não tinha estado nunca no Darwin, mas sim conhecia um pouco o lugar. passou-se na
semana anterior lendo coisas sobre o lugar em Internet. Não gostava de ficar em evidência e, até
esse momento, seu conhecimento sobre a capital dos territórios do norte era bastante superficial e
limitado. Sabia, entretanto, que Darwin tinha sido assolado por um ciclone nos setenta, o dia de
Natal. Tinham demorado muito tempo em reconstruir a cidade, mas com o tempo tinha chegado a
ser uma cidade mineira próspera, balance do turismo, a entrada ao parque nacional do Kakadu e a
muitos outros lugares importantes da cultura aborígine. Ao ser uma cidade costeira, no extremo
norte do país, tinha um clima muito quente e úmido no verão e temperado no inverno.
De repente anunciaram que o avião começava a descender e a preparar-se para a
aterrissagem. Scarlet sentiu que lhe encolhia o estômago. Se não tivesse estado tão nervosa,
possivelmente teria podido deixar de pensar no que ia fazer no Darwin.
John, John, John…. Todos seus pensamentos foram em uma única direção. Procurando
algo em que distrair-se, dedicou-se a olhar pela janela. O vermelho e marrom da Austrália profunda
tinha dado passo a uma vegetação exuberante e verde, com muitas árvores e água à esquerda.
Parecia o porto, mas não podia ser o porto do Darwin. Não havia casas junto à borda, nem
tampouco muitos navios na água. Um jato comercial sempre demorava muito em aproximar-se do
aeroporto, assim não podiam estar sobre o Darwin ainda.
Quando o avião se inclinou para um lado bruscamente, Scarlet se viu cegada
momentaneamente pelo sol de poente. Fechou os olhos de repente e os apertou com força. A
aterrissagem sempre a tinha inquietado muito, embora nessa ocasião as coisas que a inquietavam
eram mas bem outras.
A aterrissagem pareceu durar uma eternidade, mas não demorou muito em desembarcar.
Por sorte, seu assento estava muito perto da saída. Cruzou a pista para o edifício do terminal… O
único no que podia pensar era que a cada passo que dava se aproximava mais e mais ao John.
Ele estava junto a uma janela, na zona de chegadas, olhando aos passageiros enquanto
desembarcavam. Viu o Scarlet em seguida. Levava uns jeans, uma jaqueta branca e um Top
branco e azul debaixo. Estava maravilhosa, preciosa… e muito tensa. Com o cenho franzido,
andava a toda pressa, com ansiedade. Claramente, não lhe viu ali parado, embora não fazia mais
que olhar a seu redor. Quando ele deu um passo adiante e foi a seu encontro, ela esboçou um
sorriso tenso. Era evidente que estava muito nervosa. Levou-a até o asseio mais próximo quando
ela o pediu e esperou pacientemente a que saísse. Solo havia uma forma de descrever o que
sentia.
Sentia-se… espectador, como não o tinha estado em muito tempo. Não só se tratava do
tema sexual, embora isso também era importante. Mas havia algo mais… A espera que vinha
depois de aceitar um desafio.
Durante na semana anterior tinha tido muito tempo para pensar por que fazia o que fazia.
Finalmente tinha chegado à conclusão de que lhe tinha feito essa proposta para satisfazer seu ego
de macho. Não havia nada misterioso nem confuso nisso. Era o espírito competitivo o que lhe
movia. Ele, John Mitchell, ia fazer o que nenhum outro homem tinha feito nunca. Esse desejo tão
intenso de dar um bebê ao Scarlet não era sozinho sexual; era algo primário. Era esse velho
impulso do homem, o impulso de procriar, de reproduzir-se…
Scarlet tinha acertado de pleno quando lhe havia dito que o de ter meninos era tão
importante para as mulheres como para os homens. Era certo.
Scarlet se sentia muito melhor quando saiu do asseio. Tinha tido tempo de escovar o
cabelo e de tirá-la jaqueta. John seguia ali parado, e com solo lhe ver, sentia mariposas no
estômago. Ainda não se acostumou à idéia de lhe ver tão sexy. Estava tão atrativo com essas
calças carrego e o pólo branco, que lhe realçava o bronzeado… Tampouco conseguia acostumar-
se à forma em que ele a olhava… Respirando fundo, Scarlet se pendurou a bolsa do ombro e foi
para ele, plenamente consciente de seu movimento lento, sua respiração acelerada, a queda e
ascensão dos peitos… De repente se deu conta de que se estava ruborizando. Por sorte, ele se
tinha aproximado da cinta transportadora que tirava a bagagem.
–Como é sua mala? –perguntou-lhe, olhando-a por cima do ombro.
–É negra, com um enorme laço rosa pacote à asa. Aí está –acrescentou, assinalando.
John foi para ali, recolheu a mala da cinta. Ao sentir o peso, levantou as sobrancelhas.
–Solo te pedi que viesse durante dez dias, Scarlet… –lhe disse em um tom brincalhão,
dirigindo-se por volta da saída–. Não para sempre.
–Eu não gosto de ir a um sítio e me encontrar com que levo pouca roupa ou objetos
inadequados.
–Bom, não me passa muito.
–Mas você é um homem.
–E isso é bom –lhe disse ele com um sorriso safado.
Scarlet se deteve de repente e o olhou.
–O que? –perguntou-lhe ele.
–Conheço-te de algo, John Mitchell? Pensava que sim. Pensava que te tinha impregnado;
acreditava que foi esse menino introvertido, anti-social, que se tinha convertido em um adulto
irritante e cascarrabias. E agora, de repente, descubro que não é assim absolutamente. É
engenhoso, encantador e… e…
–Talvez é que nunca chegou a conhecer muito bem ao John Mitchell…
–É evidente que não. O que outras surpresas tem para mim?
–vamos ver o? –disse-lhe, tomando-a do braço e levando-a para o estacionamento.
O todoterreno não foi nenhuma surpresa, mas o papel que se encontrou no assento do
acompanhante sim que foi. Era um relatório médico.
Scarlet sacudiu a cabeça.
–É todo um detalhe, John.
–Não queria que tivesse que preocupar-se de nada. Não ia oferecer te menos do que tinha
nessa clínica. Estou seguro de que seu doador anônimo tinha um pouco parecido.
–Sim. Sim. Tinha-o –disse ela, franzindo o cenho–. Deveria haver lhe pedido isso, mas não
o fiz. Foi uma tolice por minha parte.
–Não é nenhuma tolice. És humano. Ultimamente estiveste muito ocupada. Mas ao final te
teria acordado, e te tivesse preocupado. Agora já não tem que fazê-lo.
–Não –disse ela, e voltou a lhe sorrir–. Já não. Obrigado de novo, John. Por tudo.
–Não me santifique ainda, Scarlet.
–Já –lhe disse ela, lhe lançando um de seus olhares mais típicos–. No futuro tratarei de
não te pôr em um pedestal.
–Bem pensado.
Quando saíram do aeroporto, o sol já se pôs e só deviam faltar uns minutos para o
anoitecer. Embora as estradas que levavam a cidade estavam bem iluminadas, não era fácil ver
muitas coisas da cidade durante uma viagem em carro, assim John não se incomodou em lhe
ensinar nada. Em questão de uns dez minutos já estavam entrando em Central Business District,
muito mais pequeno que o do Sídney.
–Tudo parece tão limpo e ordenado –disse Scarlet, enquanto subiam pelo Stuart Street e
giravam à esquerda, rumo ao Esplanade, uma das melhores ruas do Darwin, conforme pensava
John. Estava justo ao lado da zona comercial, frente ao mar, o qual significava que se podia
desfrutar de um pôr-do-sol magnífico e da brisa marinha.
Seu apartamento estava situado para o final da rua, em um edifício de várias planta com
paredes cinza e azul. Havia muitos balcões que davam ao mar, todos eles com painéis de cristal
gradeados negros.
A garagem estava no porão. John tinha dois lugares. Scarlet lhe olhou assim que subiram
o elevador. Ele apertou o botão do último piso.
–Vive em um apartamento de cobertura?
–Não exatamente. Os apartamentos de cobertura revistam ocupar todo o último piso. Há
dois apartamentos do mesmo tamanho. Eu vivo em um deles.
Ela guardou silêncio. John a conduziu ao apartamento.
–Realmente é muito rico, não?
–Não me falta.
–Para que?
Ele se encolheu de ombros.
–Não terei que trabalhar durante o resto de minha vida se não querer. Embora,
evidentemente, sim que o farei.
Ela voltou a sacudir a cabeça.
–Este lugar deve te haver flanco uma fortuna.
–Não cria. Comprei-o antes de que fora construído, faz uns anos.
–Escolheu os móveis?
–Deus, não. Não tenho gosto para isso. Decoraram-me isso e mobiliaram. Quer ver o resto
da casa?
–Sim, por favor.
John lhe ensinou todas as habitações. A última era o dormitório principal. De repente,
Scarlet não pôde evitar imaginar-se a si mesmo tombada nessa cama imensa, nua, enquanto John
o fazia toda classe de coisas inimagináveis.
–Ficaste-te muito calada –lhe disse ele de repente, de detrás–. Ocorre algo?
–Absolutamente –lhe disse, forçando um sorriso–. Este lugar é maravilhoso, John.
–Mas…?
–Mas o que?
–Sabia que havia algum «mas…»
Scarlet decidiu tomar o touro pelos chifres, em um intento por acabar com a tensão que a
atendia.
–Perguntava-me se esperas que venha aqui esta noite.
John se sentiu tentado de dizer que sim durante um instante.
–Pensava que estaria muito cansada –lhe disse, fazendo todo o possível por ignorar a
reação de seu próprio corpo.
Ela sorriu.
–Quando algo me põe nervosa, eu gosto de terminar com isso quanto antes.
–Não tem motivo para estar nervosa.
Scarlet se Rio.
–Não tem nem idéia.
–Não tenho nem idéia… Do que?
Ela fez uma careta.
–Lhe deveria haver isso dito antes.
–Me dizer o que?
–Acredito que sou um pouco frígida.
A surpresa do John deveu lhe ver-se nos olhos. Scarlet apartou o olhar rapidamente.
–Isto é muito embaraçoso.
Ele guardou silêncio um momento. Agarrou-a pelo queixo e a fez voltar-se para ele.
Duvidava muito que fora tão frígida… Tinha visto paixão nela… muitas vezes…
–Vamos passo a passo –lhe disse brandamente, olhando-a aos olhos–. Gosta que lhe
beijem, não? Quando está com um homem que você gosta, verdade?
Ela piscou e então assentiu. Pensou que ele ia beijar a, mas não o fez. Soltou-a e deslizou
as gemas dos dedos sobre seu lábio inferior, adiante e atrás, desenhando a forma de sua boca
uma e outra vez. Scarlet não demorou para sentir um comichão nos lábios… O coração lhe
pulsava inverificado e só desejava que ele a beijasse… Tratou de respirar… Abriu os lábios… E,
por fim, nesse momento, ele fez o que tanto desejava… A beijou.
Foi um beijo como nunca antes tinha experiente; comedido, mas extraordinariamente
excitante. Sujeitou-lhe as bochechas com ambas as mãos e lhe acariciou os lábios, inchados.
Scarlet gemeu. E então foi quando a beijou com ânsia, lhe mantendo os lábios separados para lhe
colocar a língua dentro.
Ao Scarlet dava voltas a cabeça. Não podia pensar com claridade, mas tampouco lhe
importava. Quão único queria era que John seguisse beijando-a. Mas ele não o fez. apartou-se,
bruscamente.
–Então entendo que… me encontra atrativo.
Lhe fulminou com um olhar.
–É um bastardo arrogante, John Mitchell…
Ele sorriu.
–E você é incrivelmente preciosa, Scarlet King.
Ela enrugou os lábios, fazendo um gesto desafiante.
–E tampouco acredito que seja frígida absolutamente.
–OH! –exclamou ela–. De verdade que é o tipo mais prepotente que conheci jamais…
–Mas sou atrativo –lhe recordou ele, sem alterar-se.
Ela não pôde evitar rir.
–Mas o que vou fazer contigo? –disse-lhe sem pensar.
John arqueou as sobrancelhas. Os olhos lhe brilhavam.
Scarlet enrugou as pálpebras.
–Não te atreva a dizer nada mais. Bom, me vou desfazer a mala em uma das habitações
de convidados. Eu gostaria de ficar na habitação das flores cor turquesa, se não te importar.
Enquanto isso, não terá nada de comer por aqui, não?
–Infelizmente, cozinhar não me dá nada bem, assim que o melhor que posso te oferecer
esta noite é comida preparada. Conheço muitos restaurantes asiáticos que servem em menos de
meia hora. O que prefere? Chinês, tailandês ou vietnamita?
–Não sou muito exigente. Você elijes.
–Então tailandês –lhe disse ao tempo que entravam no salão–. Nos vemos aqui quando
estiver preparada. comprei vinho e aperitivos.
Scarlet esteve a ponto de lhe dizer que não estava acostumado a beber muito, que solo se
havia sentido indisposta esse dia. Mas tampouco queria tirar o tema de sua incapacidade para
conceber um menino. Durante um momento, lhe tinha esquecido.
E também tinha esquecido chamar a sua mãe.
–Tenho que chamar a minha mãe o primeiro –disse, sentindo-se terrivelmente culpado–.
Quero lhe dizer que cheguei bem.
–Sim, claro. Adiante. Eu vou chamar ao restaurante. E… Scarlet…
–O que?
–Pode te relaxar um pouco. Prometo-te que não te obrigarei a fazer nada que não queira –
esboçou um sorriso pícaro–. A menos que me suplique, claro…
Capítulo 11
Janet King, preocupada, agarrou o telefone assim que começou a soar. Assim que viu o
número de sua filha na tela, sentiu um grande alívio. Tinha passado toda a tarde angustiada, na
barbearia. Ao Scarlet nunca tinha gostado de montar em avião, e não a tinha chamado ao chegar.
–Olá, mamãe –lhe disse Scarlet antes de que pudesse dizer nada–. te Tranqüilize. O avião
não caiu e já estou no hotel, sã e salva.
–Oxalá me tivesse chamado do aeroporto –disse Janet sem mais–. Estava muito
preocupada.
Nada mais dizê-lo, arrependeu-se. Não gostava das mães que falavam com seus filhos
como se fossem meninos. Isso os punha em uma situação penosa.
Scarlet reprimiu um suspiro.
–Sinto muito. Queria chegar ao hotel antes de te chamar.
–Mais o sinto eu, carinho. Foste-te a descansar e me olhe… Já te estou fazendo sentir
culpado. Prometo-te que não te chatearei mais. E não tem que me chamar todo o tempo. Mas, sim,
sim que eu gostaria de saber algo do hotel. É bonita a habitação?
Scarlet se sentou em um desses enormes sofás de couro negro. Era tão suave e
confortável.
–Muito –disse, recostando-se–. Tem todas as comodidades e vistas ao porto.
–Não me disse quanto te custou.
Scarlet fez uma careta, pensando em todas as mentiras que estava dizendo. As coisas
podiam chegar a complicar-se muito.
–Em realidade, não só reservei uma habitação, mamãe. É um apartamento.
–Meu deus! Você não revista ser tão esbanjadora, Scarlet, a menos que se trate de roupa.
Não é que me queixe… Não. Merece-te te dar algum capricho depois de tudo o que passaste.
Nesse preciso momento, John entrou no salão, com uma taça de vinho branco na mão. A
deu. Lhe deu as obrigado movendo os lábios e se levou a taça à boca. De repente tinha a
sensação de que ia necessitar uma taça ou dois antes de que terminasse o dia.
–Terá que me mandar alguma foto –lhe disse sua mãe.
Scarlet bebeu um sorvo desse veio frio e delicioso e tratou de pensar como poderia evitar
ter que lhe mandar fotos. Talvez podia lhe enviar alguma das vistas, da habitação de convidados,
do quarto de banho… Mas não nesse momento.
–Lhe as mando amanhã, de acordo? Estou exausta. Solo quero me dar uma ducha e ir a
dormir.
–E não vais comer nada?
–Não morrerei de fome, mamãe. Há comida na cozinha –lhe disse. E era certo. John lhe
tinha ensinado a despensa, que ia do chão ao teto–. Incluso há uma garrafa de vinho branco no
frigorífico.
Levantou sua taça e fez o gesto de um brinde, olhando ao John. Ele se tinha sentado a seu
lado. Devolveu-lhe o sorriso e estirou os braços por cima do sofá. Estava incrivelmente sexy.
Apartou a vista bruscamente e se concentrou na conversação com sua mãe.
–Bom, como lhe arrumaste isso sem mim hoje?
–Bem. Embora nenhuma das garotas tem muita manha com os tinturas. Suspeito que
muitos de seus clientes vão esperar a que retorne para tingir-se. De todos os modos, solo vais
estar fora dez dias. Não é uma eternidade. Estou segura de que sobreviverão.
–com certeza que sim. Tenho que te deixar, mamãe. Não faço mais que bocejar.
Chamarei-te amanhã de noite.
–Isso eu gostaria. Assim me conta o que estiveste fazendo.
Scarlet tragou com dificuldade e o olhou. Quereria fazer o amor pela manhã, a plena luz do
dia? Ou acaso esperaria até o dia seguinte de noite?
–Eu… er… Não acredito que faça muitas coisas amanhã. Acredito que solo darei um
passeio pela cidade, talvez compro um pouco de comida. Não gosta de ir jantar por aí sozinha,
assim prefiro cozinhar.
–Isso sonha bem. boa noite, carinho. Quero-te.
–Eu também, mamãe. Adeus –depois de pendurar, Scarlet bebeu um bom sorvo de vinho
e olhou ao John.
–Mães! –disse com uma mescla de exasperação e afeto.
–Solo querem o melhor para nós.
–Mas? –Scarlet sorriu–. Estou segura de que ouvi algum «mas» –lhe disse, lhe recordando
suas próprias palavras.
Ele esboçou um sorriso.
–Acredito que você é a inteligente aqui, Scarlet. Não eu. Mas, não. Não há «peros». As
mães sempre serão mães. Não importa a idade dos filhos. Solo tem que aprender a escapar de
seu controle sem que se dêem conta, sem que saibam o muito que o odeia.
–Mas eu não o odeio. Não como você. Eu acredito que a preo cupación de minha mãe se
deve a que me quer. Não acredito que trate de me controlar.
Ele encolheu os ombros.
–Não todas as mães são iguais e tenho que admitir que a teu é particularmente simpática e
agradável.
–E a tua também.
–Certo. Mas a minha está casada com meu pai.
Scarlet inclinou a cabeça e o olhou…
–Sempre quis te perguntar por que odeia tanto a seu pai. Quero dizer que… Sei que não é
muito sociável precisamente, mas mesmo assim é seu pai.
–Não siga por aí, Scarlet, por favor.
–Por onde?
–Não comecemos com um interrogatório.
–Solo sinto curiosidade pela relação que tem com seu pai. Não tenho intenção de te
interrogar sobre sua vida.
–Bem. Porque eu não tenho intenção de responder a essas perguntas –cruzou os braços,
adotando uma atitude beligerante.
–Mas que agradável é.
–Não. Em realidade não o sou. Sou exatamente o que me disse antes. Cascarrabias e
anti-social.
Scarlet sentiu que lhe começava a subir a tensão.
–Por favor, não vamos por aí tampouco.
–Por onde? Se é que te posso perguntar.
–Por esse caminho de «volta ao futuro», no que brigamos todo o tempo e terminamos
danificando-o tudo. me acredite quando te digo que não me interessa absolutamente sua vida
privada. Sei que ao princípio te disse que sim, mas troquei que idéia. Dá-me igual onde tenha
estado todos estes anos, o que tenha feito, com quem te deitaste… E tampouco me importa nada
quanto dinheiro tem. O único que me importa é que isto funcione… E que possamos fabricar um
bebê!
De repente se deu conta de que lhe estava gritando, mas ele sorria.
–Sempre lhe deram muito bem as rabietas.
Scarlet não quis lhe devolver o sorriso. Ainda estava muito zangada. Bebeu outro sorvo de
vinho e foi diretamente à cabeça. Tinha que comer algo. Logo.
Como se estivesse tudo preparado, alguém tocou o timbre do telefonillo que dava acesso
ao edifício. Com um pouco de sorte seria o repartidor do restaurante tailandês.
–Salvos pelo sino –disse John e se levantou–. Deve ser o jantar –disse e se dirigiu para a
porta de entrada.
Apertou o botão do telefonillo e perguntou quem era.
–Pedido para o John Mitchell.
–Baixarei para buscá-lo.
Scarlet ficou sentada, um pouco preocupada com o futuro. Tinha que deixar de pensar.
terminou-se a taça, foi à cozinha, e se serve outra. Retornou ao salão e lhe esperou.
Ele voltou com uns recipientes que cheiravam de maravilha.
–vamos comer nos isto à cozinha. A menos que queira que nos sentemos à mesa…
–Não acredito que tenhamos tempo para isso –Scarlet ficou em pé. A habitação lhe deu
voltas–. Se não como algo nos próximos cinco minutos, me vou embebedar.
–Com uma só taça de vinho?
–Servi-me outra quando baixou.
–Mas que bêbada te tornaste!
–Deixa de te burlar de mim e vá servir a comida!
–Pode chegar à cozinha você sozinha ou quer que te leve em braços?
Ela pôs os olhos em branco.
–Acredito que posso chegar sozinha.
–Que pena. Sempre quis te ter em meus braços.
–Mentiroso!
Ele suspirou com um ar melodramático.
–OH, Scarlet, mas o que vou fazer contigo?
–Com um pouco de sorte, poderá me dar de comer.
Capítulo 12
John seguia sentado na cama, vendo a televisão. Eram as onze e quinze. Estava vendo
um documentário que em outras circunstâncias lhe tivesse resultado muito interessante. Mas sua
mente não fazia mais que divagar. A única razão pela que tinha a televisão acesa era que não
podia dormir. Não podia deixar de pensar no Scarlet.
Arrependia-se de haver posposto o de fazer o amor até o dia seguinte. Seu desejo não
tinha feito mais que crescer com cada minuto que passava a seu lado. Inclusive quando ela ficava
respondona ou arisca, desejava-a. Em realidade, quanto mais respondona e arisca ficava, mais a
desejava. Tudo era muito retorcido. Não podia esperar até o dia seguinte. Mas não teria mais
remedeio que fazê-lo. Não podia irromper em seu dormitório a essa hora e lhe pedir que cumprisse
com o trato, sobre tudo porque devia estar profundamente dormida.
O jantar tinha passado em um abrir e fechar de olhos. Scarlet lhe havia dito que estava
esgotada e ele a tinha escutado na ducha enquanto recolhia a cozinha, submetido a um
bombardeio constante de imagens dela, sob o jorro de água quente que corria por seus ombros,
suas costas… A imagem não demorou para converter-se em uma fantasia sexual. Em sua mente
podia vê-la dando-a volta, de forma que a água lhe caía sobre a cara. Jogava atrás a cabeça e
arqueava as costas, seus peitos ficavam sob o jorro… De repente continha o fôlego quando a água
lhe caía sobre os mamilos duros.
Mas no sonho não estava sozinha. Ele estava ali com ela, justo detrás, observando-a e
esperando. Não por muito tempo. Lhe daria uma pastilha de sabão e lhe diria que a lavasse. E ele
o faria, lentamente. Era delicioso, decadente… Era maravilhoso ouvi-la gemer, abrir as pernas, lhe
convidar a entrar.
Infelizmente ela tinha fechado o grifo nesse preciso instante, interrompendo assim a
fantasia.
John se deu uma ducha de água fria. Necessitava espabilarse. Mas o efeito não lhe durou
muito… Ao meter-se na cama, pouco depois das oito e meia, pensou em fazer algo a respeito…
mas então abandonou a idéia ao recordar que Scarlet necessitava o melhor dele, não um
companheiro sexual. Necessitava o melhor dele, ou de qualquer. Qualquer lhe valia. Não tinha
sentido fingir que era especial para ela. Era uma estupidez incomodar-se por isso. O ego
masculino não tinha sentido algum.
De repente alguém chamou a sua porta. O coração quase lhe saiu do peito. Era absurdo.
Solo podia ser ela.
–Entra –lhe disse–. Estou acordado ainda –acrescentou, embora não era necessário.
Podia ver a luz por debaixo da porta, e ouvir a televisão. Desde não ter sido assim, não
tivesse chamado. Durante uma fração de segundo, John se deixou levar por outra fantasia, uma
em que ela não era capaz de dormir e tinha ido seduzir lhe vestida com uma camisola muito
provocadora.
Mas esse sonho não durou muito. A porta se abriu e ela apareceu vestida com a roupa
menos sensual que podia imaginar-se. Não era que esse pijama de lunares rosa fora feio, mas na
escuridão da noite, com a cara limpa e o cabelo recolhido em um acréscimo, parecia aquela garota
de dezesseis anos que recordava.
–Sinto te incomodar, John –lhe disse, um pouco envergonhada–. Mas me despertei com
uma terrível dor de cabeça. procurei em todos os armários do banho, e na cozinha, mas não
encontro analgésicos.
–Sério? Pensava que tinha guardado uns quantos no armário que está em cima da
geladeira.
–OH, não olhei nesse. Estava muito alto.
–Não importa. Tenho mais no armário de meu quarto de banho. Vou buscá-los.
Scarlet ficou tensa quando ele se tirou os lençóis com as que estava abafado, temerosa de
encontrar-lhe nu. Parecia nu, apoiado contra uma montanha de travesseiros. Pelo menos não
levava nada de cintura para acima. Felizmente, por abaixo sim que levava uns bóxer negros de
cintura baixa.
–O que necessita? –disse-lhe por cima do ombro, indo por volta do quarto de banho–.
Paracetamol ou um pouco mais forte?
–Algo que não tenha codeína. Me dá vontade de vomitar.
–Então paracetamol –lhe disse ao voltar, com dois tabletes em uma mão e um copo de
água na outra–. te Beba toda a água –acrescentou, dando-lhe todo–. O vôo e o álcool devem te
haver deixado desidratada.
Scarlet lhe obedeceu, olhando a televisão enquanto bebia a água. Era melhor que olhá-lo a
ele.
–Obrigado –lhe disse finalmente, lhe devolvendo o copo–. Sinto te haver incomodado.
–Não é nenhuma moléstia. Não. Não vá –acrescentou de uma forma um tanto abrupta
quando ela deu meia volta–. Fica a ver a televisão um momento comigo. Até que te passe a dor.
Scarlet não pôde a não ser admitir que se sentia tentada. voltou-se para ele e então olhou
a televisão.
–Podemos ver algo que não seja sobre pesca?
–Claro. Toma o mando. Há um montão de canais para escolher.
–Mas onde me sinto?
Havia um sofá de dois lugares contra a parede, mas estava justo debaixo da televisão.
–A meu lado, na cama. Claro.
Ela ficou olhando, sabendo muito bem o que aconteceria se deitava nessa cama.
–Prometo-te que não te tocarei, Scarlet –lhe disse, olhando-a fixamente–. A menos que
queira que o faça.
Scarlet sacudiu a cabeça lentamente.
–Já não sei o que quero.
–Isso é porque pensa muito em tudo. É hora de deixar que a natureza siga seu curso.
Encontra-me atrativo, não?
Lhe olhou de cima abaixo uma vez mais.
–Sim –lhe disse, quase afogando-se.
–E você gostou que te beijasse antes?
–Sim.
–Que tal a dor agora?
–O que? OH, né, melhor.
–Em uns dez minutos se sentirá muitíssimo melhor, sobre tudo se te deita em minha
cômoda cama e me deixa que te acaricie o cabelo.
–Me acaricie o cabelo –repetiu ela automaticamente.
Um calafrio do mais erótico lhe percorreu as costas.
–Terá que te soltar esse acréscimo, claro. Espera… Já o faço eu.
ficou detrás dela e lhe tirou o coletero, lhe soltando o cabelo sobre os ombros.
–Assim –acrescentou. Levou-a a cama e jogou atrás as mantas.
De repente tomou em braços.
Scarlet conteve o fôlego. O movimento tinha sido tão repentino. Automaticamente levantou
os braços e lhe rodeou o pescoço, piscando, olhando-o aos olhos.
–Sempre quis fazer que o mundo se cambaleasse sob seus pés –lhe disse em um tom
irônico–. E não diga nada sarcástico agora, Scarlet, por favor. Sei que o está desejando. Vejo-o em
seus olhos. Mas não é momento de jogar um pulso. É momento de que confie em mim.
Scarlet pensou em quão estranha era a situação. Franziu o cenho.
–Ainda te está incomodando a dor de cabeça, não? –perguntou-lhe ele, deixando-a sobre
a cama–. Acredito que, dadas as circunstâncias… –rodeou a cama e se deitou a seu lado–. Ver a
televisão não é boa idéia –agarrou o mando e apagou o aparelho–. O que precisa é fechar os olhos
e te relaxar.
Inclinou-se sobre ela e viu que ainda tinha os olhos abertos.
–Scarlet King, tem um problema com a autoridade, não? Fecha os olhos!
Em outra época, provavelmente lhe tivesse aguilhoado com sua incisiva ironia, mas nesse
momento estava muito nervosa e preocupada para manter seu nível de sarcasmo habitual. Além
disso, estava muito excitada, desejando que ele a tocasse, embora solo fora uma carícia na
cabeça. As coisas não foram terminar aí. Disso estava segura.
Fechou os olhos, conteve a respiração, esperou com emoção a que começasse o jogo de
sedução…
Capítulo 13
QUANDO os dedos do John entraram em contato com sua frente, Scarlet ficou tensa.
Quando se enredaram em seu cabelo, apertou os dentes. Teve que fazer um grande esforço por
não gritar, mas finalmente o conseguiu.
Sua mãe estava acostumada lhe acariciar a cabeça quando era pequena e estava doente.
O tato de sua mão era suave, acalmava-a… O roce das mãos do John também era suave, mas
não tinha esse mesmo efeito relaxante, porque estava muito rígida. Não. Não estava rígida; estava
excitada… Era impossível relaxar-se tendo os mamilos duros como pedras, com um comichão
insuportável. Em questão de segundos, já não desejava que lhe tocasse a cabeça, a não ser
outras partes de seu corpo. Os peitos. O abdômen. As coxas. A dor de cabeça quase lhe tinha
tirado e tinha sido substituído por um desejo arrebatador que resultava tão exuberante e decadente
como a luxuosa habitação em que estava. Scarlet logo que podia entender o muito que desejava
que John lhe tirasse a roupa. Já não lhe importava se ele pensava que tinha os peitos muito
pequenos. Queria sentir suas mãos sobre eles. Sua boca… Se tivesse tido guelra, haveria-lhe dito
o que desejava. Mas ela nunca tinha sido atrevida na cama. Ao mesmo tempo, não obstante,
sentia que tinha que dizer algo, algo… Algo com o que pudesse lhe dar a entender que podia
seguir adiante…
–Me tirou a dor.
John se deteve. Scarlet abriu os olhos, a ver se assim entendia o que estava pensando.
Não teve muito êxito… Deveria ter sabido que não poderia lhe ler a mente. John nunca
tinha sido um livro aberto precisamente.
–Talvez deveria voltar para minha habitação –lhe disse, tentando que não lhe notasse a
angústia.
John soltou o fôlego com exasperação.
–Acreditei te haver dito que não lhe desse tantas voltas às coisas. Fique onde está,
Scarlet.
–Fico?
–Sim. isto desejas tanto como eu. Se não fora assim, não te teria ficado. Teria-me
mandado ao inferno, e teria voltado para sua habitação. Conheço-te o bastante para saber que é
muito teimosa. Nunca faz nada que não queira fazer. Quer que te faça o amor, Scarlet, assim….
por que não o admite de uma vez?
Lhe fulminou com o olhar.
–Suponho que não tem sentido te fazer esperar –lhe disse com desdém–. Não se estiver
tão desesperado. Já quase é amanhã… Mas tampouco te vás acreditar que o estou desejando
como uma louca.
Ele sorriu.
–Já veremos, Scarlet. Já veremos…
Scarlet tratou de pensar em algo inteligente e mordaz, mas o cérebro lhe tinha bloqueado
por completo nada mais sentir sua mão sobre o botão superior do pijama. Conteve a respiração
enquanto ele o desabotoava. Por sorte não a estava olhando à cara e não podia ver sua expressão
de estupefação. Lentamente John foi pelo seguinte botão, e depois pelo seguinte… até lhe abrir os
cinco botões… Para quando terminou de lhe abrir a parte superior do pijama, ela logo que podia
respirar. Tratou de recuperar o fôlego… Ele levantou a vista.
–Quer que pare?
Ela sacudiu a cabeça.
–Bem –disse ele–. Porque acredito que não poderia.
Ao lhe ver admitir quão intenso era seu desejo, Scarlet deixou de preocupar-se tanto por
esse arranque incontrolável de luxúria que parecia haver-se apoderado dela. Não era próprio dela
desejar tanto a um homem. Era toda uma surpresa, mas não era desagradável. Havia algo mágico
na idéia de fazer o amor com a idéia de conceber um bebê. Era muito melhor que o que tinha
estado fazendo na clínica.
–Já lhe está pensando isso de novo –lhe disse John com suavidade–. Tem que deixar de
fazer isso, Scarlet. te centre no que estou fazendo, e já está.
Não tinha que dizer-lhe duas vezes.
Abriu-lhe a parte superior do pijama, lhe deixando os peitos ao descoberto.
–É tão formosa –murmurou, lhe agarrando o peito da esquerda e levando o mamilo aos
lábios.
Mas não o chupou como estavam acostumados a fazer outros, como se se estivessem
bebendo sua cerveja favorita através de uma pajita que resultava muito pequena. Ao princípio não
o chupou absolutamente, mas sim começou a lambê-lo, lenta, lascivamente, até fazê-la gemer de
frustração. O mordiscou, apanhou-o entre dois dentes e atirou dele, lançando uma descarga de
prazer que a atravessou de um lado a outro. Quando voltou a fazê-lo, ela se tornou para um lado,
lhe tirando o mamilo quente de entre os lábios. Teria protestado de novo se ele não a tivesse
encurralado contra o travesseiro. Fez-a calar com um beijo; nada que ver com o beijo que lhe tinha
dado antes. Foi um beijo duro e faminto; um beijo que apagou todos seus pensamentos a uma
velocidade vertiginosa. Não parou de beijá-la até deixá-la encantada, enfeitiçada. Tirou-lhe a roupa
lentamente e começou a lhe fazer todas essas coisas que tanto tinha imaginado.
Mas essa vez era de verdade… Estava ali tombada, com os braços e as pernas
estendidos, enquanto ele beijava cada rincão de seu corpo. Ela gemeu de prazer, grunhiu cada vez
que ele se detinha, sempre que estava a ponto de alcançar o clímax. Era uma louca mescla de
prazer e agonia.
–OH, por favor –lhe disse, lhe suplicando, quando ele deixou seus inchado clitóris uma vez
mais.
–Paciência, Scarlet.
Ela resmungou um juramento.
–Muito em breve, carinho –lhe disse ele, sorridente.
Incorporou-se, saiu de entre suas pernas e foi tombar se junto a ela, apoiando-se em um
ombro.
–Confia em mim –lhe disse, lhe dando um beijo nos lábios.
Incorporou-se de novo e se tirou os bóxer negros que levava, deixando ao descoberto uma
formidável ereção; grande e grosa. Scarlet não podia deixar de olhar seu membro excitado, ereto.
Quando se tombou a seu lado, não pôde resistir o impulso de lhe tocar. Essa era a classe
de resposta que John tinha esperado suscitar nela. Queria que se esquecesse dos bebês durante
um momento e que desfrutasse de do sexo somente. Era isso o que tinha planejado quando lhe
tinha pedido que fora a lhe ver o Darwin uma semana antes. Tinha pensado que lhe levaria tempo
seduzir ao Scarlet totalmente, que lhe ia custar muito fazê-la entrar nesse estado mental erótico.
Entretanto, parecia que ia conseguir seu propósito muito antes do esperado. Ela não estava
pensando em nada que não fora sexo nesse momento.
John sabia que devia detê-la, mas não podia. As gemas de seus dedos eram como asas
de mariposa sobre seu membro ereto. Nunca antes lhe haviam meio doido assim; com tanta
doçura e sensualidade ao mesmo tempo. Suas carícias lhe levaram a bordo do precipício. Estar
com o Scarlet estava pondo a prova toda sua força de vontade. Já tinha durado muito e logo que
podia agüentar mais…
–Já basta, Scarlet –lhe disse, estendendo a mão e fazendo-a deter-se–. Sou humano,
sabe? –acrescentou com um sorriso suave quando ela levantou a vista para ele.
Scarlet logo que podia acreditar-se que tivesse sido capaz de lhe tocar assim. Tinha-lhe
encantado… Lhe tinha encantado lhe sentir entre os dedos, tão duro e tão suave de uma vez. De
repente, quando John lhe apartou a mão, pensou que possivelmente poderia fazer com os lábios o
que tinha estado fazendo com a mão… Um pensamento surpreendente, sobre tudo porque não
tinha experiência nessa classe de preliminares. Tinha provado um par de vezes. Aos homens
adoravam, mas nunca lhe tinha feito muita graça. Jamais tinha imaginado que pudesse chegar a
desfrutá-lo, ou a excitar-se com isso. Suspeitava, não obstante, que fazer-lhe ao John seria
completamente distinto. E também o seria lhe ter dentro.
Uma onda de desejo a sacudiu por dentro.
–O que acontece? –perguntou-lhe ele–. O que acontece?
–Me faça o amor –lhe disse em um tom suplicante.
Olhando-a fixamente, ficou entre suas pernas.
–Levanta os joelhos –lhe disse–. Apóia os talões na cama.
Com o estômago duro, Scarlet fez o que lhe pedia. O coração lhe pulsava locamente.
Penetrou-a com suavidade e sutileza, mas ela não pôde evitar conter o fôlego e soltá-lo de
repente.
Ele não se deteve. Empurrou mais e mais até enchê-la por completo. Agarrou-a pelos
tornozelos e lhe pôs as pernas ao redor de sua cintura. Dessa forma, pôde chegar muito mais
dentro.
Scarlet estava desejando que começasse a mover-se… Ao ver que não o fazia, decidiu
tomar a iniciativa. Levantou os quadris da cama. John quase perdeu o controle… De repente se viu
invadido por uma necessidade imperiosa de fazê-la sua brutalmente, como um cavernícola, sem
mais prolegómenos. Começou a mover-se quase de forma involuntária, com vigor, quase com
violência, adiante e atrás. Ela se movia com ele, lhe abraçando sem piedade.
John apertou os dentes, tentando resistir à inundação de sensações que ameaçavam lhe
lançando pelo bordo do precipício. Desesperado, agarrou-a pelos quadris e a sujeitou com uma
força brutal, tratando de ralentizar as coisas um pouco… Mas já era impossível. Não poderia durar
muito mais. Não poderia…
Capítulo 14
SCARLET entreabriu os lábios quando chegou ao clímax. Jamais tivesse esperado sentir
semelhante golpe de estímulos. Nunca antes tinha experiente espasmos tão poderosos, tão
prazenteiros… Nunca antes tinha gemido dessa maneira, com tanta luxúria, tão consciente da
conexão entre ambos. Mas qualquer som que pudesse emitir se viu eclipsado pelos grunhidos do
John quando alcançou o orgasmo. Agarrando-a com mais força ainda, estremeceu-se de cima
abaixo, jogou atrás a cabeça, com os olhos fechados…
Quando por fim chegou, jogou adiante a cabeça e abriu os olhos. A expressão de seu rosto
era de confusão…
Mas toda a confusão se desvaneceu tão rápido como apareceu. Scarlet se perguntava se
não o tinha imaginado possivelmente… Um momento depois lhe sorria, mas seu sorriso era
sarcástico…
–Não é nada frígida, Scarlet –lhe disse, tirando-se de entre suas pernas–. De fato, tem o
que terá que ter para chegar a ser uma grande cortesã.
Scarlet, que ainda estava voltando para a Terra, aterrissou de repente para ouvir suas
palavras.
–Bom, muito obrigado –lhe disse em um tom desafiante–. Miúdo galanteio me acaba de
jogar, me chamando prostituta. Agora, se não te importa… –levantou os ombros e sacudiu os
quadris, tentando lhe tirar de seu corpo.
Foi um movimento equivocado… Quão único conseguiu dessa maneira foi lhe recordar o
que se sentia ao lhe ter dentro. Essas sensações maravilhosas não a deixavam seguir zangada.
–Sim que me importa… Estamos muito cômodos assim, assim não seja tola, te tombe e te
relaxe.
Realmente sim que era uma tolice seguir resistindo.
–muito melhor –lhe disse ele quando ela voltou a recostar-se nos travesseiros–. E o de
relaxar-se um pouco?
Respira profundamente e solta o ar devagar. Sim. Assim.
Embora fizesse o que lhe pedia, não era capaz de relaxar de tudo.
–Para sua informação –lhe disse John, lhe sujeitando as bochechas e enredando os dedos
em seu cabelo–. Uma cortesã não é uma prostituta qualquer. É uma mulher atrativa e geralmente
pobre que ganha a vida usando seu talento erótico para lhe tender uma armadilha a um amante
rico. Eram muito valoradas por seus benfeitores. Normalmente o amante lhe comprava uma casa,
punha-lhe serviço, pagava-lhe as faturas… E tudo por ter o privilégio absoluto de desfrutar de um
corpo tão maravilhoso.
–Muito interessante –disse ela. de repente se sentia retorcidamente adulada por suas
palavras.
–E que classe de talentos eróticos tinham as cortesãs?
John se colocou em cima dela, apoiando os cotovelos na cama a ambos os lados, mas
sem sair dela.
–Tinham muitos talentos e muito variados –lhe disse ele–. Mas uma boa cortesã sabia
muito bem o que gostava a seu amante na cama, seus preliminares favoritos, suas fantasias… E
depois o fazia todo realidade.
–Bom, e que fantasias tem você? –perguntou-lhe ela.
John a olhou aos olhos e se perguntou como ia responder a isso. Não podia lhe dizer a
verdade. Isso estava claro. A maioria de suas fantasias sexuais eram muito excêntricas para as
dizer em voz alta. Mas ao mesmo tempo, não obstante, havia algumas fantasias que sim podia
realizar, quando se apresentasse a oportunidade… Muitas vezes se imaginou ao Scarlet na cama,
sendo sua pulseira sexual… Não podia resistir a essa fantasia.
–Isso vais ter que averiguá-lo, minha querida Scarlet. Porque te vais converter em minha
cortesã durante o tempo que esteja aqui.
–O que?
–Já me ouviste.
–Isso não era parte do trato.
–Não. Me ocorreu quando vi quão boa foi na cama.
–OH –disse ela e o olhou.
Realmente era bastante perverso, e conhecia muito bem às mulheres.
–Fez isto antes alguma vez? –perguntou-lhe de repente.
–A que te refere?
–Não te faça o parvo, John. Já sabe do que falo. Esse teatro é uma de suas fantasias?
–Não. Solo pensei que seria divertido. Isso é tudo. O que acontece? Não te crie capaz? –
disse-lhe, provocando-a.
A primeira reação do Scarlet foi contra-atacar, mas então se deu conta de que ele sozinho
tratava de adulá-la lhe dizendo que parecia uma cortesã. Nem sequer sabia o que tinha feito
bem…
John respirou fundo quando a sentiu mover-se contra ele. Estava-lhe respondendo ao
desafio.
–É evidente que a resposta é «sim».
–Agora sim que está dizendo uma tolice. Não tenho nem a experiência nem as habilidades
necessárias para desempenhar esse papel.
–Essa é sua opinião –disse ele entre dentes.
–Me pode fazer isso de novo, se quiser –lhe disse ela em um tom sedutor, sutil…
Ele tinha toda a intenção de fazê-lo, sobre tudo quando ela enroscou as pernas ao redor
de sua cintura… Mas assim que começou a mover-se, voltou a lhe ocorrer… Essa descarga de
adrenalina que anunciava uma perda total de controle. Tratou de ralentizar as coisas, mas seu
corpo tinha outros planos. entrou nela com determinação e em seguida sentiu que estava a ponto
de chegar. Desesperado, retirou-se e a fez dá-la volta, lhe flexionando as pernas e lhe apoiando os
joelhos na cama. Assim teve uns instantes de alívio antes de penetrá-la de novo. Assim que o fez,
não obstante, ela gritou de prazer e então já não pôde agüentar mais. Uns segundos mais tarde,
desabaram-se juntos sobre a cama. John a fez recostar-se de lado, para não esmagá-la com seu
peso. Estreitou-a entre seus braços e a sujeitou com força. Muito em breve, sua respiração se
voltou mais acalmada e não demorou para sumir-se nesse profundo sonho que solo chegava
detrás ter sexo do bom.
Infelizmente, ele não teve tanta sorte. O sonho lhe escorria de entre as mãos. Não podia
deixar de pensar na facilidade com que tinha perdido o controle… Ela não tinha nada que ver com
essas mulheres com as que estava acostumado a sair. Era totalmente inocente na cama, tão
doce… As garotas com as que se deitava normalmente não eram doces e inocentes. depois de
deixar a universidade, onde o sexo sem ataduras era um passatempo do mais comum, não tinha
demorado para descobrir que deitar-se com mulheres era perigoso para sua saúde mental. A
maioria das garotas de sua idade não procurava uma aventura de uma noite. Esperavam que
ficasse para tomar o café da manhã. Esperavam que as convidasse a sair de novo. Esperavam
converter-se em algo mais. Queriam compromisso, algo que ele não estava disposto a lhes dar.
Sempre tinha desfrutado muito de sua vida de solteiro. Desfrutava de sua liberdade. Podia entrar e
sair sem ter que responder ante ninguém, sem incomodar a ninguém…
Assim, deu-se conta de que solo as mulheres maiores que ele podiam lhe dar o que
procurava: ter relações regulares sem sentir-se culpado todo o tempo. As recém divorciadas eram
as melhores, e também as garotas com carreira que já estavam casadas com seu trabalho.
Durante os dois anos anteriores tinha saído com muitas mulheres que solo procuravam um
pouco de companhia agradável para um jantar, seguida de um encontro sexual prazenteiro,
normalmente em sua casa. Dessa forma não tinha que lhes pedir que se fossem pela manhã.
Podia ir-se ele mesmo, se assim o queria.
Uma vez sua ama de chaves, Bianca, tinha-lhe perguntado por que não levava a casa a
suas noivas. Lhe havia dito que em realidade ela era a única noiva que tinha, porque o fazia rir.
Seu coração se encolheu de dor quando pensou na Bianca, como sempre…
«Não pense nela. Não pode trocar o que aconteceu…».
Scarlet se moveu entre sonhos, subiu os joelhos e lhe empurrou no ventre com o traseiro.
Rapidamente John sentiu que seu sexo despertava. Não ia poder dormir ali. O sentido
comum o dizia. Reprimindo um grunhido de prazer, separou-se de seu lado com cuidado.
Olhou-a por última vez, levantou-se da cama e ficou os boxers. Frígida? Era tão frígida
como uma noite do verão no Amazonas.
Capítulo 15
SCARLET despertou sozinha. Tudo estava em silêncio. Piscou várias vezes, incorporou-
se, sujeitou-se o cabelo detrás das orelhas e escutou…
Nada.
Não sabia que hora podia ser. Olhou a seu redor. Não havia relógios por nenhuma parte. A
julgar pela luz que entrava na habitação devia ser bastante tarde, muito tarde, se se guiava pelas
vontades que tinha de ir ao quarto de banho. Jogou atrás as mantas e se levantou de um salto,
nua. Onde estava John? Estava na cama com ela quando se ficou dormida.
De repente o recordou tudo. A noite anterior tinha sido incrível…
Lavou-se as mãos e se olhou no espelho. Não podia tirar-se da cabeça o eco de sua voz
enquanto chegava ao orgasmo dentro dela. Esses sons guturais…
Sua cortesã… A fantasia não lhe resultava especialmente atrativa. A cortesã do John…
Retornou a dormitório, procurou o pijama e o pôs rapidamente. Fez a cama, respirou
profundamente várias vezes e foi lhe buscar.
Quase passou por seu lado sem lhe ver. Estava convexo em um dos sofás, dormido.
Scarlet sacudiu a cabeça, olhando-o. Estava nu de cintura para acima, e ao parecer não
precisava cobrir-se com mantas para guardar o calor. O climatizador regulava a temperatura no
apartamento, mas mesmo assim…
Sim que tinha um corpo espetacular… Scarlet percorreu com o olhar cada rincão, cada
músculo… De repente reparou em uma cicatriz que tinha na perna direita, justo ao lado do joelho.
Não a tinha visto a noite anterior, mas então estava muito distraída. Era uma marca bastante feia,
morada e enrugava nos borde. Provavelmente a tinha feito nesse acidente que tinha tido, quando
se tinha quebrado a perna. Como tinha ocorrido? Teria sido muito grave? De ter sido qualquer
outra pessoa, poderia lhe haver perguntado ao respeito diretamente, mas John não era uma
pessoa normal. Não gostava dos interrogatórios… Muito típico dele. Sempre tinha sido um solitário,
com uma personalidade taciturna.
«Não lhes diga nada e não as leve a nenhuma parte…».
Essa parecia ser a máxima pela que se guiava em sua relação com as mulheres. De fato,
era surpreendente que tivesse chegado a admitir esse desejo que dizia sentir por ela desde muito
tempo atrás.
Ainda estava pensando nisso quando viu um copo sobre o tapete, junto ao sofá, justo onde
ele poderia pôr o pé quando se levantasse. Deu a volta, recolheu-o e o cheirou. Era brandy… Se
foi da cama, e se tinha sentado ali a beber… até ficar dormido… por que não se ficou com ela?
Seguia tentando averiguar a resposta quando ele começou a mover-se. Durante uma
fração de segundo, pensou em pôr-se a correr rumo ao dormitório, mas, tal e como lhe havia dito a
noite anterior, quando estava nervosa por algo, gostava de terminar com isso o antes possível.
Esperou e lhe observou enquanto se estirava… Lhe viu bocejar… E então abriu um olho, e
depois o outro…
–bom dia, Scarlet… –lhe disse, estirando as pernas e incorporando-se–. Suponho que
dormiste bem, não?
–Muito –disse ela, decidida a ser sincera–. por que te veio aqui a dormir?
–Por isso –lhe disse ele em um tom um tanto seco–. Para dormir. Tratava de… digamos…
me concentrar.
–OH –disse ela e se ruborizou.
–Não tem por que te envergonhar. Não é culpa tua que seja formosa. Sabia que se ficava
ali, não seria capaz de te tirar as mãos de cima, assim saí para te deixar descansar.
–Bom, foi muito… amável de sua parte… –lhe disse ela, sem saber muito bem o que
sentia.
Vergonha? Satisfação? Havia algo incrivelmente adulador em saber que um homem não
podia lhe tirar as mãos de cima.
–Um prazer, Scarlet… Mas não se preocupe… –acrescentou com um pequeno sorriso
malvado–. Hoje me pode compensar por isso.
Ela agarrou o copo com força enquanto tratava de entender do que lhe estava falando.
–Que horas é? Sabe?
–É hora de tomar o café da manhã… E depois pode tomar banho comigo.
–Mas…
–Sem «peros», Scarlet. Tínhamos um trato, recorda?
Scarlet ficou erguida.
–Não recordo ter acessado a ter sexo a todas as horas.
–Não?
–Não.
–Está-me dizendo que não te quer tomar banho comigo?
–Estou-te dizendo que não deveria dar por sentado que vou acessar a tudo. Tem-me que
perguntar primeiro. E tem que respeitar meus desejos. Se não ser assim, o trato se rompe e tomo o
primeiro vôo que me leve a casa.
esqueceste o motivo pelo que veio aqui em primeira instância?
–Não o esqueci –lhe disse, inclinando o queixo, fazendo um gesto desafiante–. Mas isso
não troca as coisas. Ou toma ou o deixa.
John se deu conta de que o da cortesã não tinha sortido efeito. Possivelmente a tinha
infravalorizado um pouco… Tinha pensado que, depois da tórrida noite de paixão que tinham
acontecido juntos, ela se jogaria em seus braços à manhã seguinte. Deveria ter sido mais
preparado… Se tratava do Scarlet…
–Muito bem –lhe disse–. Eu gostaria de muito que tomasse banho comigo depois do café
da manhã, Scarlet, mas se não querer, não há problema –lhe disse, entre dentes.
Scarlet não sabia muito bem o que dizer a seguir. A facilidade com a que se rendeu a tinha
surpreso sobremaneira. Em realidade sim que desejava tomar banho com ele, mas não suportava
essa atitude arrogante.
–Acredito que melhor me experiente eu sozinha –lhe disse, tentando não soar muito
afetada–. Não estou acostumada a compartilhar a ducha, nem tampouco a fazer o amor durante o
dia, já que estamos. Se não te importar, poderíamos deixar as atividades sexuais para a noite?
–Estaria mentindo se te dissesse que não me importa. Mas por agora é você quem leva a
voz cantante, assim deixaremos o sexo de noite, até que troque de idéia, claro –acrescentou com
um brilho malicioso nesse olhar é o privilégio de uma mulher, não? Trocar de idéia… –ficou em pé
e se estirou, fazendo uma careta–. Menos mal que não terei que dormir aqui esta noite. Tenho as
costas destroçada.
–Poderia ter dormido em uma das habitações de hóspedes.
–Bom, por que não me ocorreu? Muito bem. Quer tomar o café da manhã antes ou depois
da ducha? Que conste que lhe estou perguntando isso com muita educação e que não lhe estou
ordenando isso.
Scarlet lhe fez uma careta.
–Não há necessidade de ser tão cortês. E tampouco espero que meus desejos sejam
ordens para ti. Ontem à noite me ensinou onde está tudo na cozinha. Posso encontrar os cereais e
o suco sem problema, que é o que estou acostumado a tomar o café da manhã.
–Estupendo. Deixo-te com isso, então. Vou me dar minha ducha. Muito larga e muito fria.
Scarlet lhe viu partir com olhos arrependidos, mas não quis dar seu braço a torcer.
Precisava centrar-se no que tinha que fazer. Não era uma viagem de prazer. Além disso, recordava
ter lido em algum sítio que o excesso de sexo também era mau para conceber. Os casais com
problemas tinham que seguir o ciclo da mulher e reservar o sexo para os dias de ovulação. Teria
que dizer-lhe ao John. Mas ainda não era o momento… Provavelmente não tomaria muito bem se
lhe dizia que teria que pospor seu próprio prazer em altares da fecundação.
Não obstante, cedo ou tarde teria que dizer o Passasse o que acontecesse, teria que
manter certo grau de controle sobre o John, e sobre si mesmo.
Apertando os lábios com decisão, foi à cozinha e se preparou um bol de muesli e um copo
de suco de laranja.
Assim que terminasse de tomar o café da manhã, daria-se uma ducha, vestiria-se e lhe
pediria que a levasse a dar uma volta pela zona comercial do Darwin. Depois poderiam ir comer e
a dar um passeio em navio possivelmente… Algo para matar a tarde…
Asseguraria-se de chegar bastante tarde ao apartamento. Assim solo teriam tempo de
refrescar-se um pouco antes de sair para jantar, o qual lhes levaria um par de horas mais. Tomaria
tudo com muita calma essa noite e voltariam por volta das dez ou as onze… Com os níveis de
energia ao mínimo depois de uma larga jornada de caminhadas e visitas turísticas. depois de tanto
agitação, John não seria capaz de lhe fazer o amor mais de uma vez. Duas vezes, como muito.
Esboçou um sorriso. Poderia sobreviver a dois orgasmos puxadores sem perder a força de
vontade, e tampouco acabaria acreditando-se apaixonada pelo John solo porque desfrutava de do
sexo com ele. Solo os românticos parvos acreditavam nessas bobagens.
Não sabia por que, mas, de repente, sentiu-se extrañamente segura de que conseguiria a
esse bebê tão ansiado. Seu coração começou a pulsar com força quando se imaginou como seria
o momento, quando lhe confirmassem o embaraço. Ao melhor ficava a saltar de alegria. E sua mãe
também.
–OH, meu Deus, mamãe –exclamou.
Tinha esquecido por completo que ia enviar lhe umas quantas fotos.
Tinha tantas coisas que fazer… Tomou uma colherada de cereais.
E tão pouco tempo…
Capítulo 16
SCARLET tomou o café da manhã, tomou banho e se vestiu em um tempo recorde. Tirou o
telefone e ficou a fazer fotos do quarto de banho e da habitação de hóspedes. Uma vez ficou
satisfeita com as fotos instantâneas, dirigiu-se à cozinha, esperando encontrar-se ali ao John,
tomando o café da manhã. Mas ele não estava… Franziu o cenho. A essas alturas já devia haver
tomado banho e vestido. Mas tampouco estava no salão… A porta de seu dormitório seguia
fechada, assim era possível que ainda estivesse ali, mas não estava disposta a ir lhe buscar. Em
vez disso, retornou à cozinha, tomou outras duas fotos mais e voltou para salão, onde fez outra
foto instantânea mais de uma seção da estadia, tomando somente os sofás e os tapetes.
Depois se dispôs a sair ao balcão para fotografar a espetacular vista do porto. Saiu… e ali
se encontrou ao John, tomando o café da manhã torradas e café. Sim se tinha tomado banho, mas
não se barbeou e parecia uma espécie de mendigo peixeiro, com uma fina barba no queixo e umas
calças curtas esportivas de uma cor gritã.
Era um mendigo peixeiro muito sexy, não obstante…
–Aqui está! –exclamou ele, tentando não lhe olhar muito o peito.
Estava sendo deliberadamente provocador… Tampouco fazia tanto calor esse dia. De fato,
fazia mas bem frio, com a brisa marinha que chegava da baía.
–Não tem frio? –perguntou-lhe em um tom um tanto afiado.
–Eu nunca tenho frio –lhe disse ele, olhando-a de cima abaixo–. Os amantes da Natureza
são tipos duros e curtidos. Fazendo fotos para sua mãe, não?
–O prometi ontem à noite.
–Sim. Ouvi-te. Sua mãe e você estão muito unidas pelo que vejo. É por isso que ainda vive
com ela?
–Não tinha intenção de fazê-lo, mas tampouco tinha intenção de ser mãe solteira. Uma vez
tomei essa decisão, a idéia de ficar em casa cobrou um novo sentido.
–Mas não vais ser mãe solteira. Não por agora. Eu te ajudarei.
–Vamos, John, embora as coisas saiam bem, e fique grávida de ti, ainda seguirei
necessitando a ajuda de minha mãe. Você não vais estar a maior parte do tempo. Não é parte do
trato. Estará por aí, trabalhando em algum rincão recôndito da Terra e só virá para casa por Natal.
Além disso, eu gosto de viver com minha mãe. Somos boas amigas.
–Entendo Muito bem. Segue com suas fotos então –lhe disse e guardou silêncio.
Scarlet quis lhe responder, mas se mordeu a língua. Fez um montão de fotos mais. Em
outras circunstâncias, fizesse algum comentário que outro sobre as vistas, mas não tinha vontades
de falar de trivialidades nesse momento. por que se deixava provocar tanto? Ele sempre conseguia
tirar a de suas casinhas. E por algum estranho motivo suspeitava que tinha o mesmo efeito nele.
Era uma pena… dada a situação. Se teriam podido chegar a ser bons amigos, as coisas teriam
sido muito mais fáceis.
«Depende de ti, Scarlet.», disse-lhe a voz do sentido comum. «Não espere que ele dê o
primeiro passo para terminar com as hostilidades. Os homens não revistam fazê-lo. Está
acostumado a ser a mulher a que busca fazer as pazes quando uma relação fica difícil».
Deixou de fazer fotos e se voltou para ele de repente.
–Acredito que talvez cometi um grande engano aceitando sua oferta –lhe disse, sem ter
pensado bem o que ia dizer.
John ficou em pé de um salto.
–O que?
–Já me ouviste.
–Ouvi-te, mas não entendo por que troca assim de idéia. Você foi quem ficou em contato
comigo, Scarlet, e não ao reverso.
Scarlet começou a sentir o rubor nas bochechas.
–Sei. Suponho que estava um pouco desesperada.
John apertou os dentes e tratou de guardar a compostura. Se pensava que ia deixar ir de
qualquer jeito, estava muito equivocada.
–por que diz que cometeu um grande engano aceitando? –avançou para ela e lhe pôs as
mãos sobre os ombros.
Ela agarrou o telefone rapidamente e o sujeitou contra o peito, como se tivesse medo de
ter contato físico com ele.
–Acredito que não é boa idéia que seja o pai de meu filho. Isso é tudo. As coisas se
complicariam muito.
–De que forma?
–Talvez troca de ideia respeito ao grau de implicação que quer ter. Ao melhor… OH, não
sei o que poderia fazer exatamente. Solo quero que meu filho tenha uma vida segura e feliz. Não
quero que haja conflitos de nenhuma classe.
–Bom, evidentemente não haverá conflitos de nenhuma classe se não ter um bebê. E
provavelmente passe isso se vai correndo agora!
–Na clínica me disseram que solo tinha que ser paciente.
–A clínica tem interesses econômicos muito poderosos.
–O que acaba de dizer é muito cínico e cruel!
–É que eu sou cínico e cruel.
–É que não o entende –disse ela, contendo um soluço.
John se deixou abrandar. Não queria fazê-la chorar. Solo queria aplacar seus temores e
fazer que ficasse com ele. A idéia de vê-la partir ainda lhe enchia de medo.
–Sim que o entendo. Sim… Tem medo de que eu interfira em seu papel de mãe, embora te
tenha prometido que não o farei. perdeste a confiança nos homens, e isso me inclui.
–Mas como vou confiar em ti se já não te conhecer?
–Ah. Já voltamos com isso.
–Acredito que é lógico que responda a umas quantas perguntas se for ser o pai de meu
filho.
John não pôde negá-lo.
–Muito bem. Dispara.
Ela enrugou as pálpebras.
–Dirá-me a verdade?
–Palavra. Mas solo se me prometer que não irá.
Scarlet o pensou um instante e decidiu que não ia deixar que John a esmagasse. Tinha
sido uma loucura ir até o Darwin sem pensar bem as coisas. Uma grande loucura que não era
própria dela… Mas estava tão desesperada…
–Reservo-me o direito a ir se me der conta de que não há madeira de pai em ti –lhe disse
com firmeza.
–Acreditei que isso já te tinha ficado claro ontem à noite –lhe respondeu ele com uma
sonrisita.
Ela se ruborizou. De novo.
–Tem-me isso que recordar?
–Não há de que envergonhar-se. Bom, por que não lhe envia essas fotos a sua mãe
enquanto eu visto? Depois vamos.
–Mas foste responder a minhas perguntas.
–Pode caminhar e falar com mesmo tempo, não? As mulheres sempre dizem que são
multifacéticas.
Scarlet sentiu vontades de lhe dar um murro e de lhe beijar ao mesmo tempo.
–É que me tem que tirar o sarro todo o tempo?
Ele sorriu.
–Certamente. Encontro-te muito sexy quando te zanga.
–Bom, nesse caso não é de sentir saudades que queria me converter em sua pulseira
sexual durante o resto de minha vida –lhe disse, lhe brocando com o olhar–. Porque tenho
zangada contigo do primeiro dia!
Ele tratou de não rir, mas não pôde evitá-lo. Nem ela tampouco. Ao princípio, solo foi uma
careta, mas então lhe começou a tremer o queixo.
Um segundo mais tarde os dois riam a gargalhadas.
Capítulo 17
John retornou ao dormitório principal. ficou uma camiseta branca, uns chinelos cômodas e
procurou a boina de beisebol que se comprou na semana anterior. Inclusive no inverno, o sol do
Darwin podia chegar a queimar, sobre tudo depois de haver-se rapado quase toda a cabeça.
Quando retornou ao salão, Scarlet lhe esperava com uma enorme bolsa pendurada do
braço e um chapéu branco de asa larga.
John foi para a porta, abriu e a convidou a sair. Fechou e se guardou as chaves no bolso
das calças curtas. Acompanhou-a até os elevadores. Baixaram juntos, em silêncio. Uma vez ali, ele
a agarrou por cotovelo e a conduziu ao outro lado da rua, para o parque.
–O parque abrange toda a Esplanade –lhe disse, avançando pelo te ziguezagueiem
caminho que se abria entre os jardins–. Este caminho nos leva a final do Cbo, além do Government
House, um edifício extraordinário. Depois iremos por uma passarela e tomaremos um elevador que
nos baixará até o novo passeio marítimo. Acredito que te vais levar uma surpresa quando vir tudo o
que têm feito para melhorar a zona.
–Tem razão. As vistas da baía daqui abaixo são impressionantes! E muito distintas das
que se vêem desde seu balcão. Crie que poderemos sair à baía um dia? –perguntou-lhe enquanto
fazia fotos.
–Claro. Alugarei um navio. Iremos dar um passeio e te ensinarei a pescar. Ultimamente me
deu pela pesca.
Ela deixou de fazer fotos e o olhou.
–Surpreende-me. Pensava que foi homem de terra firme.
–Eu também o pensava. Mas depois do acidente passei vários meses quase paralisado.
Um amigo me sugeriu o da pesca e eu adorei.
–Meu pai estava acostumado a pescar. Mas eu nunca fui com ele. Sempre me pareceu
aborrecido.
–Não se souber onde pescar e tem a equipe adequada. Se for assim, pode chegar a ser
muito emocionante, e satisfatório. No navio nos cozinharão o que capturemos, se você gostar do
pescado, claro.
–eu adoro.
–Então já temos algo em comum.
Scarlet se Rio.
–A única coisa que temos em comum, certamente.
–Não. Não é a única coisa –lhe disse ele, baixando a voz.
Scarlet decidiu não dar-se por aludida. Foi para uma placa comemorativa com uma lista de
nomes relacionados com a Segunda guerra mundial. ficou a lê-la. Darwin tinha sido a única cidade
da Austrália que tinha sido bombardeada durante a Segunda guerra mundial. Tinha-o lido em
Internet. Tomou uma foto da placa e várias das vistas.
–Darwin é um sítio maravilhoso.
–Eu gosto de muito.
–Então por que não vive aqui de forma permanente? por que vais voltar para a
Suramérica? Pensando-o bem, por que te foste trabalhar ali? Quero dizer que aqui há muito
trabalho para os geólogos. Poderia te haver vindo aqui ou a alguma das cidades mineiras do oeste
do país. Não há necessidade de ir-se ao outro lado do mundo só para fugir da pergunta que
realmente queria lhe fazer lhe escapou dos lábios–. por que odeia tanto a seu pai?
–Vá –disse ele–. Essas são muitas perguntas de repente. Olhe, por que não nos sentamos
aqui? –disse-lhe, levando a para uma parte do banco que estava à sombra de uma árvore. Poderia
me levar um bom momento as responder todas.
–Sobre tudo se o faz com sinceridade –lhe recordou ela.
–Scarlet, crie que te mentiria?
–com certeza que sim –disse ela.
Ele sorriu.
–Conhece-me muito bem.
–Sei que você não gosta de falar de ti mesmo.
John se encolheu de ombros.
–Não acredito que te faça muita graça, mas… Que demônios? Quer a verdade.
Durante uma fração de segundo, perguntou-se se poderia lhe mentir. Uma fração de
segundo…
–Comecemos pelo princípio. Em realidade não vou voltar para o Brasil. Vendi minha casa
de Rio recentemente. Tenho pensado ficar e trabalhar aqui na Austrália.
–Vá surpresa! E o que te tem feito voltar depois de tantos anos? Parecia-me que você
adorava viver na América do Sul.
–E assim é. Provavelmente me teria ficado se minha ama de chaves não tivesse morrido.
Era uma senhora encantadora chamada Bianca, a que queria muito. Foi apunhalada por uma
banda de meninos da rua aos que tentava ajudar.
–OH, John, isso é horrível.
–Sim que foi. Era uma mulher tão boa. Saía todas as noites e lhes levava comida aos sem
teto. Quando não estava trabalhando, eu estava acostumado a acompanhá-la. Eu não gostava que
fora sozinha. Os sítios aos que ia eram muito perigosos. Tratei de convencê-la para que deixasse
de sair quando eu não podia acompanhá-la, mas não me fez conta. Dizia-me que não lhe
aconteceria nada. Acreditava que se não ajudava a esses meninos, ninguém o faria. Uma manhã
cheguei a casa e me encontrei um carro de polícia estacionado. Sabia que algo horrível lhe tinha
passado. Voltei-me louco quando me inteirei de que tinha sido assassinada. Queria matar a todos
esses bastardos. Ao final, dava-lhes uma boa surra a um par deles. À polícia não fez muita graça e
me lançaram uma advertência. naquela época, dava-me igual. Não estavam fazendo nada para
resolver o caso da Bianca. De todos os modos, sabia que se ficava, poderia chegar a cometer uma
verdadeira estupidez, assim vendi a casa e me parti.
–Foi o melhor. Sua família sabe algo disto?
–Claro que não!
–Mas por que não?
–Porque é meu assunto e de ninguém mais.
–Então não sabem o do ama de chaves? Nem tampouco que já não vive no Brasil, ou que
tem pensado viver e trabalhar na Austrália a partir de agora?
–Ainda não. Espera um momento –acrescentou ao ver que ela abria a boca, assombrada–.
me Deixe terminar antes de que suba a esse cavalo branco teu e me esfole vivo por ser tão mau
filho. O direi tudo. Bom, o da Bianca não. Solo lhes direi que voltei para a Austrália e que vou
trabalhar aqui. Mas de momento é melhor que não saibam nada. Não lhe faço mal a ninguém.
Scarlet apertou os lábios para não lhe dizer que sempre o fazia muito machuco a sua
família com essas ausências tão prolongadas, sobre tudo a sua mãe. Ao Carolyn não tivesse
sentado nada bem saber que estava ali no Darwin, de férias, em vez de estar no Brasil,
trabalhando.
–Bom, se te digo a verdade, não é que odeie a meu pai.
Meus sentimentos para ele não são tão singelos.
Scarlet piscou. O que poderia ter passado entre eles para turvar tanto a relação entre pai e
filho?
–Não acredito que saiba nada disto, porque meus pais não falam disso, mas eu tinha um
irmão gêmeo.
–Gêmeo!
–Sim. Tinha um irmão, Josh, que nasceu uns minutos antes que eu. Fomos idênticos.
Idênticos quanto aos gens, mas não tínhamos muito que ver quanto à personalidade. Ele era
extrovertido. Eu era justamente o contrário. Ele era hiperactivo, peralta, encantador. Começou a
falar quando ainda engatinhava. Eu era mais tranqüilo, muito menos comunicativo. A gente
pensava que era tímido, mas não o era. Solo era… um tanto retraído.
Scarlet acreditou saber o que vinha a seguir.
–Josh se afogou na piscina do pátio de atrás quando tinha quatro anos. Minha mãe estava
ao telefone um dia e nós estávamos jogando fora. Josh aproximou uma cadeira à grade e tratou de
subir, mas caiu e se golpeou a cabeça antes de cair à piscina. Eu fiquei paralisado, lhe olhando
durante muito tempo… Ao final entrei na casa, gritando, procurando a minha mãe. Quando lhe
tiraram, estava morto.
–OH, John –disse Scarlet, com lágrimas nos olhos–. Que triste.
John ficou tenso ao ver a reação dela, sua solidariedade. Isso era o que não podia
suportar. Era por isso que nunca lhe tinha contado a história a ninguém. Não queria sentir o que
estava sentindo nesse preciso momento. Não gostava de sentir-se culpado pela morte de seu
irmão. A lógica lhe dizia que não podia ser culpa dela, mas a lógica não significava nada para um
menino de quatro anos que tinha visto sua mãe quase catatónica pela dor, e a seu pai chorando
desconsoladamente. De repente voltou a sentir toda essa pena, a culpa… Porque ele queria muito
ao Josh, tanto como seus pais. Era seu irmão gêmeo, sangue de seu sangue. Eram inseparáveis.
Mas a ninguém tinha importado sua dor.
Não podia acreditar que ainda lhe doesse tanto…
–Bom, resumindo, meu pai fez algo a noite do dia em que morreu Josh… algo que me
afetou muito. Vi-lhe sentado no salão, com a cabeça entre as mãos. Fui para ele e o abracei. Ele
me apartou e disse a minha mãe que me deitasse, que não suportava lombriga.
Scarlet conteve o fôlego.
–Mais tarde, essa mesma noite, veio a me dar um beijo de boa noite a minha habitação,
mas eu apartei a cara e não lhe deixei me dar um beijo. Ele se encolheu de ombros e partiu. depois
disso, eu deixei de lhe falar durante muito tempo. Em realidade, ignorei-lhe por completo durante
anos. Parecia que lhe dava igual. De repente tinha deixado de ser o pai ao que eu adorava. Estava
vazio por dentro. Minha mãe sabia o que acontecia, mas ela passou muito tempo lutando com sua
própria dor, e não me ajudou muito. Não sabia o que dizer, ou o que fazer. Não se recuperou até
que teve a Melissa. Ela foi quem insistiu em que vendêssemos a outra casa e mudássemos a esta.
Mas meu pai seguiu igual. E eu também. voltou-se anti-social, deu-se ao álcool, e eu me converti
nesse menino ao que conheceu. Um guri ressentido, furioso com o mundo.
Scarlet tinha começado a morder o lábio inferior para não chorar.
–Surpreende-me que seja capaz de lhe dirigir a palavra a seu pai com tanta educação.
–Desde que se retirou trocou o bastante. Não lhe cheguei a perdoar de tudo, mas o ódio e
a vingança não levam a nenhuma parte. Agora que me tenho feito major, entendo que nossos pais
não são perfeitos. Solo são seres humanos. Josh tinha sido o ojito direito de meu pai, e morreu. A
dor te pode levar a fazer coisas horríveis.
depois da morte da Bianca, ele mesmo lhe havia dito costure horríveis a sua família. Tinha-
lhes jogado a culpa de tudo por não acompanhá-la essa noite. Eles, entretanto, não o tinham
tomado a peito. Não lhe haviam devolvido as acusações.
Depois da tormenta, não obstante, havia-se sentido muito mal. A vergonha lhe tinha levado
a lhes dar de presente a casa de Rio e tudo o que havia nela. Tinha que lhes compensar de algum
jeito.
–Alguma vez falaste com seu pai do que passou essa noite? –perguntou-lhe Scarlet,
franzindo o cenho.
–Não.
–Pelo menos sua mãe queria a ti e a seu irmão por igual.
–com certeza que sim. Mas então chegou Melissa e minha mãe se dedicou a ela por
completo.
–Todas as mães estão muito apegadas a suas filhas. Isso não significava que te quisesse
menos. Além disso, por aquela época não foi um menino encantador precisamente.
John se Rio.
–Ninguém me afasta da autocompasión tão bem como você.
–Não era minha intenção. Mas… sabe uma coisa, John? Ao melhor as coisas não foram
como te pareceu então. estive pensando…
John suspirou lentamente.
–Do que se trata esta vez?
–É sobre o que te disse seu pai. Talvez queria dizer que não podia suportar te olhar à cara
porque recordava ao Josh. Foram idênticos fisicamente. Ao melhor não queria dizer que não te
queria tanto como a seu irmão.
–Bom, acredito que tudo o que fez a partir desse momento indicava justamente o contrário.
Teve muitas oportunidades para me demonstrar seu carinho, mas não as aproveitou. comportava-
se como se eu não existisse. Não sabe a inveja que me dava seu pai. Ele sempre foi um pai com
maiúsculas.
–Era extraordinário. Mas você tinha a seu avô.
–Certo. O avô foi muito bom comigo. Se te for sincero, de não ter sido por ele,
provavelmente me tivesse ido de casa e teria acabado no cárcere.
–OH, não acredito.
–Não crie? Os cárceres estão cheias de jovens furiosos, filhos rechaçados com muito
pouca auto-estima, sem meta na vida. Meu avô me devolveu o amor próprio e me deu um objetivo;
chegar a ser geólogo. Sua morte foi um duro golpe para mim, porque ocorreu justo antes da
graduação. Mas inclusive depois de sua morte, seguiu cuidando de mim. Deixou-me dinheiro,
muito dinheiro, em realidade. Com esse dinheiro vinha uma carta em que me dizia que tinha que
viajar e ver o mundo. Assim que me graduei, fui. Primeiro fiz uma viagem pela Europa, mas
tampouco eu gostei de muito. Muitas cidades, poucas árvores. Fui de novo e viajei por todo mundo
durante um par de anos. Ao final aterrissei na Suramérica. Para então me tinha ficado sem
dinheiro, assim tive que procurar trabalho. Ou isso ou voltava para casa. Como poderá imaginar, o
de retornar a casa não me fazia muita graça. De todos os modos, como não tinha experiência, solo
encontrei trabalho em uma empresa mineira que procurava geólogos que estivessem dispostos a ir
a sítios aos que ninguém queria ir. Era um trabalho perigoso, mas pagavam bem, e de repente me
dava conta de que eu gostava de assumir riscos. Ao longo dos últimos dez anos, tenho descoberto
uma jazida de esmeraldas na Colômbia, petróleo na Argentina, gás natural no Equador. A outra
cara da moeda foi que recebi uns quantos balaços por isso, caí-me por uma montanha, e quase
morri afogado no Amazonas. Morderam-me milhares de insetos vorazes… Mas me pagaram muito
bem e me pude comprar a casa de Rio, e este apartamento no Darwin. O bom é que já não tenho
que voltar a aceitar trabalhos que me podem custar a vida! –sorriu com tristeza–. Incluso me posso
permitir o luxo de manter a um filho sem que sua mãe tenha que voltar a trabalhar em toda sua
vida, se não querer, claro.
Scarlet franziu o cenho.
–Já vejo que segue pensando. E não em coisas alegres precisamente. Olhe, se não querer
meu dinheiro, diga-o sem mais. Não te vou obrigar a aceitá-lo se não querer. Muitas mulheres
estariam encantadas de ter uma oferta assim sobre a mesa, mas já deveria me haver dado conta
de que você não é dessas.
–Tenho-lhe muita avaliação a minha independência.
–Se aceitasse meu dinheiro, poderia comprar uma casa. Inclusive poderia contratar a uma
babá, se quer seguir trabalhando.
–Uma babá? Não quero deixar a meu filho em mãos de uma babá! E quanto a comprar
minha própria casa, tem que saber que já tenho suficiente dinheiro para comprar a que me dê a
vontade, se quisesse. Levo economizando para uma casa desde que comecei a trabalhar. Muito
obrigado pela oferta, John, mas não. Não necessito nem quero ajuda econômica.
Seu ponto de vista não deveria lhe haver feito zangar, mas o fez.
–Muito bem –lhe disse em um tom cortante–. Não vou pagar nada então.
–Não há necessidade de zangar-se –disse ela–. Deveria te alegrar de que não seja como a
maioria das mulheres. Solo imagina o que aconteceria eu fora uma dessas cazafortunas. Tiraria-te
tudo o que pudesse!
John não pôde evitar sorrir. Ela parecia realmente enojada ante a idéia. ruborizou-se e
assim parecia mais formosa que nunca.
–Muito bem. É uma sorte que não seja uma interessada. Bom, tem alguma pergunta mais
que me fazer antes de poder seguir com meu plano para hoje?
Scarlet piscou, surpreendida.
–Tem um plano para hoje? –perguntou-lhe, pensando que era ela quem tinha o plano.
–Sim que o tinha, antes de que o chateasse tudo e te desse de querer me conhecer
melhor.
–Bom, eu… Eu… –Scarlet não podia acreditar-se que estivesse gaguejando. Normalmente
estava acostumado a ser uma pessoa com bastante facilidade de palavra. Apertou os lábios um
segundo, respirou fundo e seguiu adiante–. Muito bem. Não mais pergunta por agora. Mas ao
melhor logo me surge alguma mais. Qual era seu plano para hoje?
–Fazer um pouco de turismo, tomar uma comida ligeira e passar a tarde na cama.
Scarlet ficou boquiaberta.
–Toda a tarde?
–Palavra. Quando te apresentou no balcão esta manhã, feita um bombom, tive vontades
de me colocar na cama contigo diretamente e passar ali o resto do dia.
Ela ficou olhando. Logo que podia acreditar-se que a desejasse tanto, quase tanto como
ela a ele. De repente, a decisão de deixar o sexo para as noites já não lhe pareceu tão boa idéia.
–Além disso –acrescentou ele. Uma labareda de desejo brilhou em seus olhos–. o desta
tarde não tem nada que ver com o dos bebês. trata-se de prazer. Não só meu, a não ser teu
também. A julgar por como reagiu a outra noite, sua vida sexual não foi muito animada
ultimamente. Se me deixar, eu posso fazer que isso troque –ficou em pé e lhe tendeu a mão–.
Bom, vamos a passear.
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
SCARLET se levou uma surpresa quando despertou e viu que o sol estava tão desço no
céu. Devia haver-se dormido durante um par de horas pelo menos. Não era próprio dela dormir
durante o dia, embora tampouco era próprio dela ter tanto sexo a plena luz. Em algum sítio tinha
lido que ter um orgasmo era o melhor sonífero que podia tomar-se, e parecia que era certo. Era
como se acabasse de despertar detrás ter sofrido um desmaio.
John seguia dormido. E tudo por culpa dela.
–Pobrecito –murmurou, lhe acariciando o braço.
Ele rodou sobre si mesmo e ficou de barriga para cima. Abriu os olhos. Ela se incorporou e
lhe sorriu.
–É hora de levantar-se, belo adormecido. Não sei você, mas eu morro de fome. Há algum
restaurante que abra logo? –perguntou-lhe, apartando o cabelo da cara–. Não sei se posso
agüentar muito.
John, olhando seus peitos nus, começou a sentir que seu próprio corpo voltava para a
vida, mas conseguiu controlar o impulso. quanto antes tomassem o jantar, mais larga seria a tarde
noite.
–O clube de vela serve jantares a partir das cinco e meia –lhe disse–. Sozinho está a uns
poucos minutos em carro daqui. Podemos nos sentar na terraço, e o pôr-do-sol é espetacular.
Deveria te levar a câmara.
–Sonha genial. Vejo-te no salão em quinze minutos –lhe disse. Saltou da cama e se dirigiu
à porta. Sem dúvida ia por volta do quarto de banho principal, e à habitação de convidados, onde
tinha deixado todas suas coisas.
–Scarlet! –gritou ele antes de perder a de vista.
Ela se voltou da porta. Já não sentia vergonha ao lhe ensinar seu corpo. Isso era um bom
sintoma.
–O que?
–Um vestido, por favor. E nada de roupa interior.
Ela piscou e então se ruborizou.
–Sem «peros». Sem discussões. Sem roupa interior.
Ela levantou o queixo, desafiante.
–Não. Não vou fazer isso.
–por que não? Você gostará.
–Não. Eu não gostarei.
–E como sabe que não?
–Sei.
–Igual a sabe que você não gosta de ir acampada? Ou de pesca? Não provaste nenhuma
das duas coisas. Tenta-o, Scarlet. Ninguém saberá exceto eu.
–Bom, pois já são muitas pessoas. Estive de acordo em ter sexo contigo, John, mas não
acessei a essa classe de… fetichismos.
Ele arqueou as sobrancelhas.
–Bom, eu não o chamaria fetichismo.
–Eu sim.
–Muito bem. Não quereria que fizesse nada com o que não te encontrasse cômoda.
–E não tenho intenção de fazê-lo. Agora vou vestir me.
Molesto, John ficou em pé e começou a vestir-se. Era óbvio que ao Scarlet ainda ficava
muito para deixar-se consumir totalmente pelo prazer do sexo. Ele era o que tinha o problema em
realidade.
Ela retornou com um vestido de flores, com saia de vôo, cintura estreita e sutiã com
pescoço Halter. Levava o cabelo recolhido de qualquer maneira, e várias mechas lhe caíam sobre
a frente de forma caprichosa. Não levava mais maquiagem que um brilho de lábios, mas, mesmo
assim, suas bochechas resplandeciam e seus olhos azuis brilhavam. Estava tão fresca, tão sexy,
formosa…
–Não leva prendedor –lhe disse ele em um tom resmungão, vendo a silhueta de seus
mamilos desenhada no tecido.
Ela se encolheu de ombros.
–vestiu com os que não se pode levar prendedor.
–Já –lhe disse ele em um tom um tanto áspero–. Acredito que deveria levar uma blusa de
lã ou uma jaqueta –lhe disse, indo para a porta–. Talvez refresca depois do pôr-do-sol.
–Vou por uma.
Ele não fez nenhum comentário. Não queria atrasar mais a saída. quanto antes a levasse a
clube de vela, antes poderiam comer e retornar.
Scarlet não disse nenhuma palavra durante o caminho. Em realidade se sentia um pouco
culpado, e muito incômoda, porque tinha feito o que lhe tinha pedido, sair sem roupa interior.
Para quando chegaram ao clube de vela, já estava bastante tensa. Era um local pequeno,
construído em uma parcela bem escolhida justo ao lado da baía. Tinha uma só planta, com uma
terraço bastante ampla, cadeiras e mesas de madeira e plástico, muitas delas ao bordo da água,
situadas à sombra de frondosas palmeiras… Como chegaram tão logo conseguiram uma das
melhores mesas, de onde poderiam ver o pôr-do-sol em todo seu esplendor.
Para então o sol já tinha baixado muito e começava a ficar de cor dourada. A beleza do
entardecer distraiu ao Scarlet durante um momento; afastou-a dos temores que a atendiam.
–Quanto falta para o pôr-do-sol? –perguntou ao John.
–Não muito. É hora de começar a fazer fotos. Eu vou pedir. O que quer? Pode tomar filete
com salada, pescado com batatas, algum assado, comida a China…
–Pescado e batatas.
–Muito bem.
Scarlet tirou o telefone e aproveitou para fazer fotos. Quando ele retornou, o sol já estava
perdendo-se no horizonte. converteu-se em uma bola de fogo, vermelha e resplandecente.
–Obrigado –lhe disse ela quando lhe pôs uma taça de vinho branco diante–. Mas não me
posso beber isso ainda. Não me quero perder nem um segundo disto –acrescentou e se voltou
para o horizonte de novo.
Resultava incrível que o sol pudesse ficar tão rápido.
Um minuto antes logo que tocava a linha do horizonte, e pouco depois quase se ocultou de
tudo.
–OH… –exclamou ela com um suspiro.
–Darwin é famoso por suas postas de sol.
–São espetaculares. Minha mãe quererá vir quando lhe ensinar as fotos. E isso me
recorda… –agarrou a taça–. Tenho que chamá-la depois. Não deixe que me esqueça.
–vais chamar a sua mãe todas as noites?
Scarlet bebeu um sorvo e contou até dez antes de responder. Entendia que a relação do
John com sua família era muito distinta, mas isso não lhe dava direito a ser tão crítico com algo
que para ela era do mais normal.
–Sim, John. vou chamar a minha mãe todas as noites. Quero-a muito, e sei que joga muito
de menos. Sinto muito que te incomode tanto, mas terá que te agüentar.
Esperou a que lhe soltasse alguma chicotada sarcástica, mas não o fez. Simplesmente
assentiu com a cabeça.
–Sempre admirei esse teu caráter, Scarlet. E sua sinceridade.
Scarlet agarrou com força a taça.
–Não sempre sou sincera.
John lhe lançou um olhar de surpresa.
–Sério? Quando não o foste?
Falar de sua mãe a tinha feito pensar em todas essas mentiras que lhe tinha contado antes
de ir-se, e em todas as mentiras que teria que lhe dizer a partir desse momento…
De repente a idéia de estar ali sentada, sem calcinhas nem prendedor, voltou-se mais
embaraçosa que nunca. Era vergonhoso, mas excitante ao mesmo tempo. Podia sentir esse calor
na entrepierna que lhe subia pelas coxas…
–Scarlet? Quando não foste sincera?
–Eu… né… Estava pensando nas mentiras que disse a minha mãe. vai ser difícil explicar-
lhe tudo depois.
–Refere-te ao feito de ficar grávida, não?
–Se é que fico grávida.
–Quando ficar grávida. O que seja. É um pouco logo para começar a inventar histórias. Já
nos ocuparemos disso quando estiver grávida.
–Sinto lhe dar tantas voltas às coisas, John, mas tenho que ter uma história sólida na
cabeça antes de esta noite. O tema me tem um pouco preocupada.
–Muito bem –disse ele, tratando de ser paciente–. Tal e a meu ver, tem duas opções. Pode
lhe contar a verdade a sua mãe, ou pode lhe dizer que te encontrou comigo por acaso e que
tivemos uma pequena aventura.
Scarlet sacudiu a cabeça.
–A última idéia não vai funcionar. Minha mãe não vai se acreditar nada. Nem seus pais. E
embora o fizessem, começariam a perguntar-se o que estava fazendo no Darwin quando se
supunha que estava no Brasil.
–Então os conte a verdade.
–E a verdade é…?
–Que me disse que queria ter um bebê desesperadamente e que, por amizade, eu me
ofereci a ser o pai, tudo sem compromissos de nenhuma classe. Pode lhe dizer que acordamos
nos ver no Darwin, mas que o mantivemos em segredo se por acaso não ficava grávida.
Scarlet franziu o cenho.
–Suponho que isso sonha bastante razoável. Minha mãe acreditaria, porque ela sabe o da
clínica de inseminação, mas não sei o que pensarão seus pais. depois de tudo, sempre fomos
inimigos.
–Tolices. Minha mãe nunca pensou isso, e meu pai diretamente não pensa. Iremos com a
verdade por diante, e o diremos tudo quando chegar o momento. De acordo?
–Suponho.
–Olhe, Scarlet… Te trouxe até aqui para que te relaxe e lhe passe isso bem. Esquece o
futuro durante uns dias, e pensa em desfrutar.
–Isso é o que estive fazendo.
–E o que tem de mau?
–Não sei se o que estivemos fazendo é divertido.
–Bom, se não o é, o que é se não?
–Perigoso.
–De que maneira?
–Talvez chega a me gostar de muito.
–O sexo?
–Sim.
–Não vejo por que vai ser perigoso isso.
–Os homens revistam ter outra idéia disto.
Nesse momento começou a soar o timbre. A comida estava preparada. John se levantou,
agarrou o aparelho.
A comida estava deliciosa. O pescado empanado e cozinhado à cerveja estava delicioso, e
as batatas estavam rangentes e suculentas ao mesmo tempo. O aroma da comida reabriu o apetite
ao Scarlet, que começou a comer com gosto. O tempo que passou degustando os manjares foi um
grande alívio, uma trégua que lhe permitiu acalmar-se um pouco. Não se estava apaixonando pelo
John. Solo estava sendo um pouco parva e ingênua.
Quando partiram do clube de vela e puseram rumo a casa, não obstante, a tensão já havia
tornado a apoderar-se dela. John parecia sentir um pouco parecido. Não fazia mais que lhe olhar o
decote… o qual significava que estava preparado para atacar assim que estivessem sozinhos.
De repente Scarlet voltou a recordar que não levava braguitas… Não podia lhe deixar ver
que estava nua debaixo daquele vestido. Seu orgulho não o permitia.
–vou chamar a minha primeiro mãe –disse assim que entraram na casa.
–Muito bem. Eu tenho que fazer um par de chamadas também –acrescentou e se dirigiu à
cozinha.
Scarlet se foi à habitação de hóspedes. ficou umas braguitas brancas rapidamente e
chamou a sua mãe. O telefone deu timbre durante um bom momento, mas sua mãe não
respondeu. Ao final saltou a secretária eletrônica.
Chamou-a o móvel, pensando que provavelmente estaria apagado, mas não foi assim. Sua
mãe respondeu quase imediatamente.
–Mamãe! Tinha o móvel aceso.
–Pensei que seria boa idéia. Sabia que foste chamar me esta noite e não queria deixar de
falar contigo.
–Mas onde está? Há muito ruído.
–Estou na Erina Fair, fazendo umas compras. O que ouve é a chuva sobre o telhado. Não
deixou que chover muito desde que foi.
–Pois aqui não chove nada. Hoje tem feito muito bom dia, uns vinte e cinco graus, com
uma brisa suave que vinha do mar.
–Lhe está acontecendo isso muito bem, não?
–Não tenho feito grande coisa. Fui dar um passeio pela cidade, pelo passeio marítimo, que
está recém reformado. Acabo de voltar de jantar no clube de vela.
–O clube de vela, nada mais e nada menos! Isso sonha genial.
–Bom, em realidade, não é o que imagina. Não tem nada de glamour. É um sítio bastante
informal. Pode comer ao lado do mar e desfrutar de um pôr-do-sol impressionante. Fiz muitas
fotos. Viu as fotos do apartamento que te mandei?
–Sim, claro. Parece um sítio precioso, e as vistas são fantásticas.
–Fiz muitas fotos mais hoje. Lhe as mando por correio assim que pendure.
–OH, não se preocupe, carinho. me pode ensinar isso quando retornar. Além disso, assim
me pode contar isso tudo. Aonde vai amanhã?
–Não sei. Não tenho nada planejado ainda. Talvez dou outro passeio pelo Darwin, e fico
lendo no balcão.
«Ou posso passar todo o dia na cama, fazendo realidade todas minhas fantasias…».
–Pode fazer o que quiser, carinho. E não tem que me chamar todos os dias. Está ali para
tomar um bom descanso. Além disso. Eu não estou sozinha. Estou com as garotas na barbearia
todo o dia, e amanhã de noite tenho minha oficina de costura. Carolyn, por certo, convidou-me para
jantar em sua casa na sábado. Suponho que pensa que jogo muito de menos, e é verdade. Mas
não estou triste. eu adoro que esteja desfrutando destas férias. Direi-te uma coisa… Não me
chame até no domingo de noite. Para então terá muitas coisas que me contar.
–Muito bem. Chamo-te no domingo por volta das sete. Adeus, mamãe. te cuide.
–E você também, carinho. Quero-te. Adeus.
Scarlet suspirou e pendurou. Sua mãe a sentia falta de, mas fazia todo o possível por
dissimulá-lo. Talvez era uma sorte para ela ter aprendido a estar sozinha durante um tempo.
E era melhor que não soubesse o que sua filha se trazia entre mãos durante as férias.
levou-se uma surpresa enorme.
Mas Scarlet já não podia fingir estar surpreendida. A luxúria que a consumia apagava a
surpresa e a vergonha. Estava desejando estar com o John de novo. O coração lhe acelerou.
apressou-se para a cozinha. Ele estava despedindo-se pelo telefone. Deixou-o sobre a encimera
da cozinha e a olhou.
–Pensava que foste falar durante muito mais tempo.
–A conexão não era muito boa –lhe disse Scarlet, surpreendida de poder lhe falar em um
tom tão acalmado–. Chovia tanto que apenas a ouvia. Com quem estava falando? –perguntou-lhe,
mantendo ainda essa fachada de frieza, embora por dentro se estivesse derretendo.
–Era um companheiro. Tem um helicóptero. chama-se Jim. Antes chamei a outro amigo,
Brad. Tem uma empresa de aluguel de navios. estive preparando atividades para os próximos três
dias. Amanhã nos vamos fazer esse cruzeiro pela baía, no que lhe ensinam a pescar. na sábado
vamos ao Kakadu e a outros enclaves turísticos, em helicóptero. E logo pela tarde Jim nos deixará
em um sítio muito especial aonde te vou ensinar que ir acampada também é divertido. no domingo
pela manhã Jim voltará para por nós, e depois vamos pesca em helicóptero. Depois cozinharemos
o que capturemos. O que te parece?
–Genial –disse ela.
Em realidade lhe dava igual o que fizessem ao dia seguinte, na sábado ou no domingo. O
único que lhe importava era o presente.
–John?
–Sim?
–Poderia deixar de falar agora? Realmente necessito que me faça o amor.
John ficou olhando fixamente. Seu olhar era faminto.
–Nesse caso, realmente necessito que te tire esse vestido –lhe disse em um tom baixo e
grave–. Se não recordar mau, sim que te disse que não se permitia a roupa quando estivéssemos
juntos.
Scarlet tragou com dificuldade.
Felizmente havia tornado a ficá-las braguitas. Não queria que ele soubesse que se passou
tudo o jantar sem calcinhas. Isso tivesse sido uma vergonha.
Baixou-se a cremalheira do vestido. Uns segundos depois o objeto estava no chão, a seus
pés.
–E o resto também.
Com mãos trementes se tirou as braguitas. Jogou-as a um lado e ficou erguida frente a ele.
Solo ficavam os sapatos.
–Scarlet King… É uma mulher preciosa –lhe disse, indo para ela.
antes de que a estreitasse entre seus braços, Scarlet soube que essa noite faria algo que
lhe pedisse. Algo…
Capítulo 21
Capítulo 22
O AVIÃO saiu pouco depois das sete e meia da manhã. Scarlet se inclinou sobre seu
assento e fechou os olhos. Tinha sido uma noite muito larga. Não tinha dormido muito.
Tinha chamado a sua mãe a noite anterior, às sete, tal e como lhe tinha prometido. Havia-
lhe dito que sabia o da boneca rota e que retornava a casa ao dia seguinte. Sua mãe lhe tinha
posto umas quantas objeções, mas Scarlet se empenhou em retornar.
Tinha sido duro… não tornar-se a chorar durante a chamada. Mas depois já não tinha
podido agüentar mais e se dormiu chorando. ao redor de meia-noite se tinha despertado e tinha ido
à cozinha para preparar uma taça de chá e uma torrada. John não se moveu, por sorte. E à manhã
seguinte tampouco. Tinha saído do apartamento sem ter que lhe fazer frente de novo.
Melhor assim. Não tivesse podido suportá-lo.
Os olhos lhe encheram de lágrimas enquanto pensava na discussão que tinham tido. Ele
tinha sido tão cruel. Entretanto, sim que havia algo de verdade em suas palavras. Tinha sido ela
quem se pôs em contato com ele, e tinha desfrutado de do sexo em todo momento, inclusive antes
de apaixonar-se por ele.
Apaixonar-se pelo John lhe tinha deixado algo muito claro. Nunca tinha estado do todo
apaixonada pelo Jason. De ter sido assim, o engano lhe tivesse doído muitíssimo mais.
O que podia fazer a partir desse momento? Não ia voltar para a clínica, ao menos durante
um tempo. Não estava em condições de voltar a passar pelo mesmo, e tampouco queria expor-se
o de ser mãe solteira. Uma mãe solteira tinha que ser forte, estável… Tinha que estar segura de si
mesmo. Ela, em troca, já não estava segura de nada.
As lágrimas alagaram seus olhos nesse momento, abundantes e quentes. A senhora que
estava sentada a seu lado se alarmou profundamente ao vê-la chorar assim. Chamou à aeromoça.
Trouxeram-lhe uma cajita de lenços e uma copita de brandy. Mas Scarlet seguiu soluçando de vez
em quando durante o resto do vôo ao Sídney.
Para quando aterrissaram, já lhe tinham acabado as lágrimas. A viagem em trem ao
Gosford transcorreu como em uma nebulosa. Scarlet se preparou para pôr boa cara durante o
trajeto em táxi, mas, mesmo assim, custou-lhe muito esconder a angústia com um sorriso enquanto
sua mãe via as fotos e fazia comentários sobre o Darwin.
Assim que pôde, disse-lhe que estava esgotada e foi dar um banho. Depois lhe preparou o
jantar e se foi à cama. Por sorte, essa noite dormiu como uma ratazana. À manhã seguinte se foi
logo ao salão de beleza e quando chegaram o resto das garotas todo estava preparado. As contas,
os pedidos, o material… Todo mundo estava encantado de vê-la, sobre tudo Joanna.
–Sua mãe se zangou comigo por te haver chamado –lhe disse Joanna em privado–. Mas
eu senti que tinha que fazê-lo.
–Fez o correto, Joanna –disse Scarlet com firmeza e o dizia de verdade.
Foi difícil, não obstante, manter a cabeça ocupada no trabalho essa noite. Por alguma
estranha razão, não podia deixar de pensar que John podia ficar em contato com ela em qualquer
momento, por telefone ou com uma mensagem de texto. Uma esperança absurda… por que ia se
incomodar? Tudo tinha acabado. Tinham acabado.
Para na quarta-feira já estava totalmente entregue ao trabalho. Sua mãe a acompanhou à
barbearia. Dizia que pelo menos poderia responder ao telefone e fazer café. Levava a boneca
engessada, mas podia mover os dedos e estava aprendendo a usar a mão esquerda.
Scarlet agradeceu a companhia, sobre tudo durante o tedioso caminho a casa depois de
uma larga jornada de trabalho. Tinha tomado a auto-estrada de Central Coast, em vez de ir pelo
Terrigal Drive, e o tráfico estava cada vez pior por causa das obras. Que grande alívio seria ter dois
sulcos em vez de um só… Quando se queixou sua mãe lhe disse que pelo menos não estava
chovendo.
–Trouxeste-te o sol a casa –disse, sorridente.
–Se você o disser, mamãe –lhe disse Scarlet com os dentes apertados.
Mas o sol já não brilhava nesse momento. pôs-se uns quinze minutos antes.
Pouco depois das seis, Scarlet entrou no caminho que levava a sua rua. Ao dobrar a
esquina, suspirou, contente de estar em casa por fim. Ao ver um carro prateado estacionado frente
à casa, franziu o cenho. O veículo parecia totalmente novo, e muito caro.
–De quem é esse carro? Sabe? –perguntou a sua mãe, parando junto ao veículo.
Era um carro de alta gama. Devia custar uma dinheirama. Não havia ninguém ao volante,
mas tinha matrícula de New South Wales e também o nome de um concessionário do Sídney.
–Não tenho nem idéia –lhe disse sua mãe–. Não acredito que seja ninguém que venha a
nos ver nós.
–Certo –disse Scarlet, apertando o botão do mando da garagem.
Estava esperando a que a porta se abrisse de tudo quando captou algo pelo espelho
retrovisor. deu-se a volta. Era John, caminhando para elas, vestido com um elegante traje cinza,
camisa e gravata. deteve-se junto ao assento do acompanhante e lhe deu um golpecito no guichê.
Scarlet ficou boquiaberta.
–Deus! –exclamou sua mãe–. É John Mitchell. Scarlet, baixa o guichê, a ver o que quer.
Uma estranha mescla de emoções se apoderou do Scarlet. Apertou o botão do guichê.
–Sim, John. O que acontece?
–Olá, senhora King –lhe disse ele com um sorriso–. Minha mãe me disse que tinha tido um
pequeno acidente. Espero que já se encontre melhor.
–Sim, obrigado, John. Mas o que te traz por aqui? Acreditava que tinha voltado para o
Brasil.
–Esse era o plano inicial, mas passou algo inesperado e decidi ficar a viver no Terrigal. A
coisa é, senhora King, que sei que Scarlet trabalhava como agente imobiliário e estou pensando
em comprar uma casa por aqui… Eu gostaria que me desse algum conselho que outro. Eu não
gosto de esperar muito e me perguntava se poderia roubar-lhe um momento durante o jantar.
Minha mãe estaria encantada de convidá-la para jantar hoje, assim não terá que preocupar-se de
nada. O que me diz, Scarlet? Hoje trago meu próprio carro –lhe disse, olhando para o carro
prateado–. Não está muito cansada, não?
O que podia lhe dizer, se ainda estava tentando averiguar o que se trazia entre mãos?
Apesar desse inesperado estalo de euforia que tinha sentido ao lhe ver, logo que podia acreditá-lo
que acabava de lhe dizer. Ele jamais voltaria a viver de forma permanente ali. Solo era uma
desculpa para estar a sós com ela. Uma estratagema, um ardil… Ao John gostava dos planos. Mas
de que classe de plano se tratava essa vez?
Um alarme estrondoso soou em sua cabeça. Era uma advertência. Tinha que andar-se
com cuidado.
–Não. Não estou muito cansada –lhe disse, contente de ser capaz de manter a calma–.
Mas primeiro eu gostaria de me dar uma ducha e me trocar. Levo todo o dia no trabalho. me dê
meia hora, quer?
–Muito bem –disse ele–. Chamarei a sua porta em meia hora.
–Bom, vá surpresa –disse Janet King, lhe vendo partir pelo espelho retrovisor–. Sempre
gostou, sabe?
–OH, mamãe, não diga tolices –disse Scarlet, colocando o carro na garagem.
–Não é uma tolice. Tenho olhos. E tampouco te resulta indiferente. Vi-lhes os duas na festa
do Carolyn. Se jogar bem suas cartas, ao melhor não tem que voltar para essa clínica.
–Mamãe! Deixa-me de pedra.
Sua mãe pôs os olhos em branco.
–Scarlet King, tem trinta e quatro anos. Muito em breve cumprirá trinta e cinco. Não é
tempo de escandalizar-se. Bom, o que te vais pôr? Algo sexy, espero.
Scarlet não podia acreditá-lo que estava ouvindo. Queria rir a gargalhadas… Todo era tão
irônico… Não ficou nada sensual, não obstante. Seu armário de inverno não continha nenhum
objeto sexy, mas sim elegante. Combinou umas calças de lã marrons com um pulôver cor nata de
pescoço navio. ficou uns pendentes de ouro e pérolas e se jogou umas gotas de seu perfume
favorito, de baunilha, mas não muito forte.
Estava a ponto de agarrar a jaqueta quando soou o timbre. Olhou o relógio. John chegava
um par de minutos antes.
Com a jaqueta pendurada do braço, agarrou a bolsa e saiu lentamente da habitação. Sua
mãe tinha aberto já e a estava chamando. Dizia-lhe que se ia diretamente a casa do Carolyn e que
não esquecesse as chaves, pois provavelmente já estaria dormida quando chegassem. Quando
Scarlet chegou ao vestíbulo, sua mãe já se foi. John estava sob a luz do alpendre.
Scarlet foi consciente do palpitar enlouquecido de seu coração. Caminhou para ele.
–Quero saber a que vieste. Não mais mentiras.
–Não hei dito nenhuma mentira.
–O que? supõe-se que tenho que me acreditar que vais comprar uma casa aqui no
Terrigal?
–Ao melhor não no Terrigal, mas em algum sítio de Central Coast sim.
–Mas se sempre há dito que…
Lhe pôs uma mão sobre o ombro.
–Scarlet, poderíamos ter esta conversação em um sítio mais privado?
–OH –disse ela brandamente–. Muito bem.
–Fecha então. E nos ponhamos em caminho.
Ela conseguiu fechar sem atirar ao chão o jogo de chaves. Pelos cabelos… John a agarrou
por cotovelo direito e a conduziu à porta do acompanhante do carro. Abriu-lhe a porta.
Scarlet subiu, em silêncio. Não sabia o que dizer. Normalmente era uma pessoa com
bastante dom de palavra, mas não nessa ocasião. Tinha um torvelinho na mente.
–reservei mesa no Seasalt Restaurante, no Crowne Plaza –disse John, ficando ao
volante–. Minha mãe me assegurou que a comida é excelente. De fato, nunca jantei em nenhum
restaurante da zona, assim também é minha primeira vez –acendeu o motor e arrancou.
–O que quer dizer isso exatamente?
–Tudo ao seu devido tempo. Tudo a seu tempo.
–Bom, acredito que agora é tão bom momento como qualquer outro. Estamos sozinhos.
longe de nossa rua. Por favor, para e me diga o que acontece.
–Nem pensar. Não vamos fazer o assim.
–E como o vamos fazer?
–Não vou deixar que conte a nossos filhos que seu pai te propôs matrimônio no borda de
uma estrada.
–Pró… propôs o que…?
–É que não te soa de nada essa palavra? E eu que pensava que foi uma garota muito
inteligente. Quer dizer pedir matrimônio.
Scarlet não sabia se rir ou chorar. Não podia estar falando a sério.
Sim o estava.
De repente sentiu que estava a ponto de chorar.
Ele parou o carro no borda. Apagou o motor.
–Bom, tornaste a danificá-lo tudo de novo. ia fazer tudo isto durante o jantar, com velas e
tudo. Música, champanha, toda a parafernália… Mas parece que há garotas que não podem
esperar –se voltou para ela e se tirou uma cajita chapeada do bolso da jaqueta.
Scarlet conteve a respiração quando viu o que havia dentro. tocou-se as bochechas com
as mãos.
–OH, John –exclamou.
–Scarlet King… Te quero. Não, isso é pouco dizer. Estou louco por ti, e não posso viver
sem ti. Concede-me a honra de ser minha esposa?
Scarlet sentiu que os olhos lhe enchiam de lágrimas. Seu coração estava muito cheio de
palavras.
–Uma vez me disse que um diamante só servia se vinha sobre um anel de ouro e
acompanhado de uma proposição de matrimônio.
Ela sorriu.
–É precioso –disse tocando o enorme solitário–. É um dos teus?
–Não. Em realidade não tenho nenhum diamante decente em minha coleção de gemas.
Este o comprei ontem no Sídney, junto com o carro e a roupa. Queria te impressionar.
–E estou impressionada, mas…
–Sem «peros». Sei que uma vez te disse que o do matrimônio não era para mim, que era
um solteiro contumaz. Mas ao final os homens também querem casar-se, quando encontram o
amor verdadeiro. me acredite quando te digo que quero passar o resto de minha vida contigo.
–OH, carinho –lhe disse ela, rendida ante sua declaração de amor. Os olhos lhe ardiam.
–Me deixe terminar… Suponho que também se preocupa minha relação com minha
família, com meu pai em especial. Não tem nada do que preocupar-se, Scarlet, de verdade. Tive
um largo bate-papo com meu pai hoje e averigüei algo do que não era consciente. Pelo visto,
depois da morte do Josh, meu pai sofreu uma profunda depressão que nunca lhe trataram bem.
entregou-se à bebida e isso lhe permitiu lutar com o dia a dia. Quando se retirou, minha mãe o
convenceu para que fora a ver outro médico. Foi então quando lhe fizeram um bom diagnóstico e
lhe deram a medicação que necessitava. Isso explica essa mudança de atitude que teve
recentemente. Hoje me disse o muito que sentia haver tratado a minha mãe e a mim como o fez.
Sente-o muito. Assim, já vê… Não tem motivo para desconfiar. Estou desejando dever viver aqui.
Ao melhor inclusive monto uma empresa de pesca em lugar de voltar a me dedicar à mineração.
depois de tudo, um homem não deveria viajar todo o tempo, sempre em perigo… Não?
–Claro que não –disse ela. Os olhos lhe encheram de lágrimas de novo.
–Ouça… por que todas essas lágrimas? Pensava que te alegraria.
–E me alegro. E, John…
–Sim?
–Eu também te quero. Muito.
Os olhos do John emitiram um brilho.
–De algum jeito soube assim que me esclareci um pouco. Pouco depois de que saísse seu
vôo. Solo me levou um tempo averiguar o que fazer. Tinha que ter um bom plano, sabe?
–OH, você e seus planos! Nunca soube quais eram seus planos no Darwin.
–Mmm. Sim, bom, esse plano ainda está em marcha.
–Sério? De que maneira?
–Direi-lhe isso tudo muito em breve. Então isso é um «sim»? Posso tirar o anel da caixa e
lhe pôr isso no dedo?
Ela assentiu e lhe pôs o anel. Encaixava-lhe à perfeição.
Agarrou-lhe a mão com força e a olhou aos olhos.
–Não posso te dizer o muito que sinto todas essas coisas horríveis que te disse a outra
noite, Scarlet. Foi imperdon…
–Sh –lhe disse ela–. Amar significa não ter que dizer nunca «o sinto».
–Menos mal –disse ele, rendo–. De não ser assim, teria que me passar toda a noite me
desculpando.
–Pois eu prefiro essa janta com velas da que falava.
–E eu.
–Solo há um problema –disse Scarlet.
–E qual é?
–O que vamos dizer a nossos familiares e amigos? Não vão se acreditar o do
compromisso. Parecerá muito repentino a seus olhos.
John franziu o cenho.
–Provavelmente tem razão. Talvez tem que esconder esse anel durante um tempo, pelo
menos até que esteja grávida.
Scarlet ficou boquiaberta. John sorriu sem mais.
–Disse-te que meu plano do Darwin ainda está em marcha. Era um plano muito bom, e
incluía sexo do bom todos os dias, seguido de dois ou três dias de abstinência até que chegue à
fase de máxima fertilidade…
–Vá.
–Sim. Sei que sonha um pouco tremendo quando o diz em alto, mas não por isso deixa de
ser um bom plano. Já que passamos por uma fase de abstinência, não só reservei uma mesa para
jantar no Crowne Plaza esta noite. Também reservei uma habitação. E, antes de que o diga, minha
querida futura algema, sei que não há nenhuma garantia de que vamos engendrar um bebê esta
noite, mas sim há algo que será completamente novo para ti. Esta noite te vai fazer o amor um
homem que te ama de verdade. Esta noite, sentirá-se segura em seus braços. Esta noite, não
haverá estresse porque, haja bebê ou não, pelo menos nos teremos o um ao outro até que a morte
nos separe.
Scarlet tratou de conter as lágrimas. Nunca na vida se havia sentido tão emocionada.
Tinha lido sobre o poder curativo do amor, mas nunca antes o tinha experiente por si mesmo.
Sentia-o nesse momento e jamais o esqueceria.
–John Essas Mitchell são as palavras mais formosas que jamais me hão dito. E você é o
homem mais maravilhoso que conheci. Acredito que devo ser a garota mais afortunada de todo o
planeta porque te encontrei.
–Eu sou o mais afortunado aqui… Vamos. Não comi nada em horas e tenho tanta fome
que poderia me comer uma perca gigante inteira eu sozinho.
Scarlet sorriu e seguiu fazendo-o durante o resto da noite.
Capítulo 23