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AP741 - Arquitetura Paisagística I

AVALIAÇÃO 2 - Vale do Anhangabaú: Projeto de Rosa Kliass


Análise do Projeto do Parque do Anhangabaú e a Escola Californiana
FECFAU - UNICAMP
novembro/2023

Grupo 05
Beatriz Mestre 249851
Bruno Borelli 167933
Giovana Pinheiro 249952
Júlia Andrade 249994
Maria Regina 250090
Fernando São Pedro 249928
Karina Alves 250017

1. BIOGRAFIA

1.1 Rosa Kliass


Formada em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo em 1955, Rosa Kliass
(1932-) inicia a sua carreira profissional em projetos de largas escalas em 1960, quando começa a
trabalhar em planos diretores para as cidades brasileiras e projetos de áreas verdes para a cidade de
São Paulo junto com o urbanista Jorge Wilheim, graduado pelo Mackenzie.
Em 1969, Rosa Kliass viaja durante três meses para os Estados Unidos através de uma bolsa de
estudos, período onde entra em contato com a Escola Californiana e nomes da arquitetura paisagística
norte-americana da época: Lawrence Halprin (1916-2009), Garret Eckbo (1910-2000), Thomas Church
(1902-78) e Ian McHargh (1920-2001). Concluiu seu mestrado no tema “a evolução dos Parques
Urbanos na Cidade de São Paulo” em 1993 pela FAU-USP e abriu seu próprio escritório de Arquitetura
Paisagística em 1970.
Rosa Kliass foi responsável em desenvolver projetos paisagistas pioneiros pelo Brasil. Entre
seus princípios estão a valorização dos espaços públicos, projetos em escala humana, áreas verdes e
revitalização de espaços. Atuou diretamente em políticas públicas voltadas à proteção e gestão da
paisagem urbana, em projetos institucionais, públicos e privados. Sua atividade profissional conta com
23 homenagens, menções honrosas e premiações.

1.2 Lawrence Halprin


Halprin (1916-2009) formou-se em ciências vegetais na Universidade Cornell e prosseguiu seus
estudos de mestrado na mesma área na Universidade de Wisconsin em 1941. Após uma visita no
estúdio de Frank Lloyd Wright, Lawrence realizou uma pós-graduação em design em Harvard em 1942,
onde estudou junto com o arquiteto paisagista Christopher Tunnard (1910-79).
Em 1945, trabalhou junto com Thomas Church, arquiteto e paisagista, em São Francisco, e
abriu sua própria empresa depois de quatro anos. Atuou em projetos de pequena escala no primeiro
momento pós-guerra e, em 1960, passou a revitalizar em regiões urbanas degradadas americanas,
criando complexos industriais históricos e ativando espaços de domínio público.

“A minha maneira tem sido conceber as formas exteriores da natureza, mas


enfatizar os resultados dos processos da natureza… Este acto de transmutar
a experiência da paisagem natural em experiência feita pelo homem é, para
mim, a essência da arte do paisagismo.” (HALPRIN, 1995)

Os projetos de Halprin são responsáveis por terem trazido inovações do design paisagístico ao
estudar a relação entre o ambiente construído e a natureza, junto com sua abordagem interdisciplinar.
Sua carreira de designer paisagista resultou em inúmeros prêmios, homenagens e menções honrosas.

2. A ESCOLA CALIFORNIANA
A Escola Californiana surge na década 1930 e 1940 no período pós-guerra com propostas
paisagísticas diferentes dos conceitos da Arquitetura Moderna, esta escola envolveu uma relação
menos projetual de áreas verdes em seus projetos, com o desenho de jardins de uma forma mais
funcional e com menor apelo estético. Esse rompimento com o jardim do movimento moderno veio
com a era de desenvolvimento industrial e urbano no século XIX. Já a Escola Californiana, por outro
lado, traz de volta o incentivo de projetos de Arquitetura Paisagística, junto com uma preocupação
social neste pós-desenvolvimento industrial das cidades.
Além disso, entre as concepções da Escola Californiana, estão a destruição do eixo - de
qualquer lugar do projeto, pode-se ter vistas e acesso aos eixos -, a integração de casa e jardim, o
paisagismo voltado para as pessoas, o diálogo com as artes - preocupação com as formas - e o uso da
natureza como forma de estímulo ao corpo e à mente.
A Escola Californiana foi introduzida à Rosa Kliass pelo professor Roberto Cardozo (1923-2013)
e se aprofundou na vanguarda nos anos em que estudou nos Estados Unidos. A paisagista trouxe, em
seus projetos, todo o repertório plástico das formas, texturas e composições vegetais para os espaços
públicos brasileiros.

3. FUNDAMENTOS TEÓRICOS, SOCIAL E ESPACIAL


O Vale do Anhangabaú é um vale formado entre os bairros Sé e República, não foi edificado
porque era passagem entre os bairros no sentido leste-oeste. No sentido norte-sul, está entre o
Viaduto Santa Ifigênia e o Viaduto do Chá. A primeira intervenção foi a construção do Viaduto do Chá,
o qual disponibilizou novas formas de vivenciar os espaços públicos, tornando-se um espaço de
protestos e reivindicações. Depois veio o Viaduto Santa Ifigênia e o interesse cultural pelas edificações
em seu entorno.
Mesmo com propostas de tornar o Anhangabaú um parque de uso público e destinado aos
pedestres, gradualmente tornando-se o Parque Anhangabaú, o espaço logo perdeu-se pelos carros. As
características perdidas do Anhangabaú como parque trouxe diversas propostas urbanas relacionadas à
circulação daquele espaço.
Nas décadas de 1970 e 1980, houve uma visão sobre o Anhangabaú como um lugar destinado
a uma grande praça pública e livre de carros, quando ruas da Sé e República se tornavam exclusiva para
pedestres, funcionando como bulevares que se integravam ao Anhangabaú. Além disso, houve a
inauguração de linhas de metrô na Praça São Bento e no próprio Vale. Em questões sociais, era um
espaço de manifestações públicas, em 1980, foi palco das passeatas em favor da volta do voto direto
para as eleições presidenciais e o Movimento Diretas Já.
Dentre tantas tentativas de resolver a confusão urbana do Anhangabaú, o projeto vencedor foi
o de Rosa Kliass e Jorge Wilheim que propuseram um espaço cívico para a recuperação do lugar.

4. VALE DO ANHANGABAÚ DE ROSA KLIASS

4.1 Concepção, Partido e Programa


Segundo Marina Melo, a concepção do projeto era conformar uma grande praça para
pedestres, ajardinada e livre da circulação de carros e ônibus, que seria totalmente enterrada abaixo da
praça. E, como partido, o projeto seria uma praça de formato alongado com aproximadamente 440
metros de comprimento por 60 a 80 metros de largura. Com a concepção de formar uma grande praça
destinada a pedestres, ajardinada e de livre circulação de automóveis. O Vale se conecta de formas
fluidas entre os bairros através de proximidades estratégicas: saída do metrô São Bento e Anhangabaú,
Avenida São João, Largo do Café e Praça dos Correios.
Com o projeto, o espaço foi de uma paisagem estática à passagem dinâmica. Rosa Kliass focou
principalmente na reurbanização e repedestrização do lugar, promovendo a integração com o entorno
urbano, a acessibilidade e mobilidade urbana, os espaços de lazer e convivência, a preservação
histórica e identidade local, iluminação e segurança.

“A criação destes túneis traria ao Vale do Anhangabaú, segundo os autores,


dois benefícios. O primeiro seria o de permitir o tráfego ininterrupto tanto
para os aproximadamente doze mil veículos individuais e coletivos que
cruzavam o Vale no sentido Norte-Sul-Norte, quanto para os quase um milhão
de pedestres que o atravessavam diariamente; o segundo seria o de
desvincular os efeitos negativos que o grande fluxo de veículos traziam para o
ambiente do Vale, como a poluição do ar e sonora, os atropelamentos, etc.”
(Carlos E. M. Miller)

Além da criação do sistema Túnel-Plataforma, o projeto de Rosa Kliass possuía outras duas
grandes intervenções no sistema viário da região. A primeira, próxima ao sul do Vale, foi a criação de
duas passarelas conectadas ao terminal de ônibus da Praça da Bandeira que possibilitariam uma
conexão direta entre a região da Memória e a Rua do Ouvidor. Essas passarelas serviriam, também,
para criar dois pórticos sobre as Avenidas Nove de Julho e Vinte e Três de Maio. A segunda intervenção
seria a criação de um pontilhão curvo junto à Avenida São João WKK que permitisse conversões tanto
à esquerda no sentido Sul-Oeste quanto à direita no sentido Sul-Leste.

4.2 Concepção da Vegetação, Adequação ao solo, Materiais e Mobiliário Urbano

O projeto de Rosa Kliass teve seus espaços livres fortemente influenciados pelo terreno
preexistente na região, como podemos confirmar numa frase da própria paisagista.

“não tínhamos nenhuma ideia pré-concebida, mas esta começou a ser


desenvolvida à medida que analisávamos a situação verdadeira do Vale do
Anhangabaú” (Rosa Kliass)

Fazendo uma análise no sentido Sul-Norte, é possível identificar diversos elementos que
comprovam a influência, principalmente dos desníveis do solo, no projeto final apresentado no
concurso. Olhando para o trecho Sul do Vale e identificando situações precárias de acesso ao terminal
de ônibus da Praça das Bandeiras, os autores propõem a criação de uma cobertura ajardinada coberta
que acolhesse os usuários da estação e os permitisse acesso às passarelas construídas sobre as
Avenidas Nove de Julho e Vinte e Três de Maio.
Pouco mais a Norte, próximo ao Largo da Memória, foi prevista uma união do largo com os
terraços que acessam a Estação Anhangabaú do metrô. Essa união se daria pela criação de uma
pequena praça que abrigaria uma área de estar, creche e serviços para trabalhadores utilizando o
espaço de alguns terrenos desapropriados e demolidos pelo metrô e abrangeria desde a Ladeira da
Memória até a Avenida Nove de Julho.
Mais a Norte, em frente a Praça Ramos de Azevedo, foi sugerida a criação de uma grande
praça destinada a comícios, espetáculos populares, concertos e festivais de dança. Para respeitar os
alinhamentos pré-determinados, foi definido que o ponto central da nova tribuna seria cruzado pelo
eixo de simetria da antiga praça. Para acomodar o público, foram previstos vários patamares e espelhos
d'água que criariam palcos alternativos, além de pequenos recantos para eventos de menor porte. Para
eventos de massa, foi pensado que o jardim do teatro pudesse ser utilizado como um anfiteatro
natural e prolongamento da praça.
Atrás da tribuna, foi projetado um grande maciço de árvores com copas largas para criar um
pano de fundo da tribuna ao mesmo tempo que proporciona uma área sombreada para o calçadão
entre os edifícios existentes. Esse calçadão criaria uma conexão entre a Rua Libero Badaró e o fundo do
vale.
Para o eixo da Avenida São João, foi previsto o alargamento das cantadas e a construção de
escadarias que permitissem a transposição do pontilhão pelos pedestres. Além disso, duas praças
também foram projetadas, uma não arborizada, voltada para o edifício Central do Correio e outra mais
arborizada, voltada para os edifícios do vale. A união dessas praças se daria por um trecho margeado
por jardins e espelhos d'água.
Na Praça Pedro Lessa, foi sugerida a criação de uma praça de lazer que proporcionasse
repouso, descanso e recreação infantil, portanto os projetistas se utilizaram da árvores existentes para
a formação de um bosque e adicionaram ao espaço bancos de alvenaria de diversas formas,
equipamentos de playground, bancos isolados, mesas de jogos, etc. Parte da praça foi reservada para
parada de uma linha de ônibus.
Para terminar, outra praça foi proposta, dessa vez próxima ao viaduto Santa Efigênia, para a
acomodação dos usuários da estação São Bento do Metro. Nessa praça também haveriam serviços
públicos como creche e postos de informação.

4.3 Áreas de Uso Intensivo e Equipamentos Culturais

4.3.1 Uso Intensivo


Considerando o uso intensivo, as principais características do projeto do Parque do
Anhangabaú incluem a infraestrutura para os pedestres, como pavimentação dos caminhos, além de
áreas para receber atividades culturais e de lazer.
A inauguração do Parque do Anhangabaú, no início dos anos 1990, é um exemplo da
ressignificação dos usos do centro urbano. Há a intenção de se criar um espaço para interação social,
descanso e lazer. Assim, o parque tinha a intenção de receber algumas atividades a fim de trazer os
novos usos e significados ao espaço público, como apresentações, protestos, exibições, feiras, shows.
Ao longo dos anos, algumas transformações no espaço do parque (mesmo as mais simples) deram
suporte a essa intenção, como por exemplo as faixas de pedestres, paraciclos, ciclovias, bicicletários e
banheiros públicos adicionados. Também foram adicionados bancos em muretas e canteiros, decks de
madeira com guarda-sol e cadeiras de praia, playground e aparelhos de ginástica. Mostra-se, com isso,
a intenção de valorizar o uso do Sistema de Espaços Livres tanto para eventos excepcionais quanto para
o cotidiano da cidade.

4.3.2 Equipamentos Culturais


Pelos arredores do Vale do Anhangabaú é possível encontrar diversos equipamentos culturais,
desde o Theatro Municipal (inaugurado em 1911), na borda do Vale, até o CCBB (inaugurado em 2001),
equipamento que reforçou a ideologia de que a cultura e o patrimônio teriam papel chave na
“revitalização” da região. Na esquina entre a rua Formosa e a Avenida São João, encontra-se o SESC 24
de Maio, que tem relevância na contextualização das atividades culturais da região do Anhangabaú.

“ As travessias por dentro dos espaços públicos dos edifícios culturais da


região potencializam a porosidade urbana, mostrando-se mais do que meros
monumentos isolados. ” (Gustavo M. Kerr)

4.4 Áreas de Uso Extensivo e Contemplação


O projeto do Parque do Anhangabaú previa a criação de uma área verde com jardins, lagos e fontes,
destinada ao uso extensivo e à contemplação.

4.5 Relação do Partido com Contexto

Na implantação do projeto, notava-se algumas falhas. As saídas do metrô ficaram isoladas e o


propósito de se criar um espaço de lazer público não se concretizou.
“Muitos dos fatores da difícil revalorização do espaço e entorno são em relação ao
esvaziamento residencial acrescidas dos problemas sociais.”

5. MEMÓRIA E FUNÇÃO SOCIAL DO ESPAÇO


O Vale do Anhangabaú, além de ser responsável por um espaço de grande circulação e fluxo
de pessoas, também carrega conceitos culturais e de memória. É utilizado como palco de intervenções
artísticas, como a Virada Cultural e a Virada Esportiva e eventos gratuitos que articulam os
equipamentos culturais (teatros, museus, galerias de arte, etc). Recentemente abriu novos caminhos
ao uso de bicicletas, com toda a região da Sé e da República conectadas com uma densa e expressiva
malha ferroviária.
O Vale, assim como todo o conjunto que forma o Centro Novo da cidade de São Paulo,
contraria a tendência modernista de reduzir os espaços públicos e favorecer as edificações privadas. A
região passou a dispor de equipamentos públicos de permanência arranjados entre espaços livres e
edificações, características que segundo o Sociólogo Milton Santos, fazem o centro novo performar
muito bem a facilidade de mobilidade, incentivando a transição e passagem de pessoas, mercadorias
ou culturas, e incentivando a desterritorialização (retomada dos espaços livres para o público).

7.ANÁLISE DA RELAÇÕES DO PARTIDO COM O CONTEXTO


Um dos principais objetivos do projeto de Jorge Wilheim, Rosa Kliass e Jamil Kfouri era resolver
as questões relacionadas aos conflitos gerados pelo grande fluxo de veículos e pessoas que passavam
pelo vale, situação que era acabava por acarretar acidentes, atropelamentos e engarrafamentos na
região.
A principal solução proposta no projeto, a qual serviria de partido, norteando as propostas
conseguintes, foi o rebaixamento da via expressa que cortava o vale em sentido longitudinal, criando
um túnel que chegaria a 10,5m de profundidade. Essa mudança, segundo os autores do projeto, teria
impacto positivo de duas formas. A primeira seria a criação de uma cobertura ajardinada que serviria
de passagem e que também poderia ser uma área de permanência para os pedestres, principalmente
aquelas pessoas que utilizavam aquele local diariamente. Em segundo lugar, essa grande praça serviria
para realizar o acolhimento em nível dos passageiros que utilizassem a estação de metrô do
Anhangabaú. Para Wilheim a criação desta cobertura ainda permitiria o fechamento da perspectiva sul
do Vale.
Ainda sobre a cobertura, os arquitetos tinham diversos planos para a utilização daquele
espaço. Para a acomodação do público os autores previam a realização de múltiplos patamares e
espelhos d’água, que além de criar palcos alternativos trariam a conformação de pequenos recantos
para eventos de menor porte. Já para os eventos de massa, imaginavam os autores, que o jardim do
teatro poderia ser utilizado como anfiteatro natural e prolongamento da praça.
Os autores propõem a criação de um agrupamento de árvores de espécies nativas com copas
amplas e altas. Essas árvores estariam dispostas em “blocos” orgânicos dispostos sobre o vale, criando
recintos de descanso e sombreamento para as pessoas e, além disso, serviriam de plano de fundo para
o projeto. Ademais, a complementação da área seria feita com disposição de grandes bancos de
alvenaria, curvos e convexos, e de equipamentos como playgrounds, bancos isolados, mesas para
jogos, etc.
Do ponto de vista programático, os autores ainda preveem a construção de dois novos
terminais de ônibus, um na Praça da Bandeira dimensionado para cinquenta linhas e outro na Praça
Pedro Lessa.
No entanto, nem tudo o que estava no projeto se concretizou de forma que os autores
planejaram.
Houveram mudanças significativas no que diz respeito ao desenho dos equipamentos
propostos, tais como a praça de comícios, o playground e as áreas de estar. O objetivo destas
alterações, segundo os idealizadores do projeto, era valorizar o Teatro Municipal, tornando-o ponto
focal da praça e assim incorporando-o ainda mais à paisagem do Vale.
Outra alteração se deu na maneira como foram criados os pequenos recantos dentro deste
espaço. A proposta original imaginava-se atingir este resultado por meio de múltiplos patamares e
espelhos d’água, mas, no projeto implantado os autores utilizam-se do desenho de piso, da alternação
de materiais e da criação de três arquibancadas independentes para atingir estes objetivos. Ainda
assim, os maciços de árvores foram menos adensados para manter a permeabilidade entre o parque e
seu entorno.
Além disso, houveram ainda uma série de mudanças práticas na proposta original, que
ocorreram, na maior parte das vezes, para dar uma melhor adequação do projeto à área implantada.
Mas, de forma geral, no que diz respeito à questão principal do projeto, o conflito entre pedestres e
veículos, o projeto foi executado foi satisfatório, resolvendo a questão com êxito.

4.5 CONSIDERAÇÕES FINAIS


A relação do Parque com o território apresentava certas contradições e conflitos, considerando
o intuito de preservar e potencializar as multiplicidades dos lugares públicos, reconhecidas como
práticas democráticas. A segregação continuou presente, criando espaços de exclusão, o que gera uma
tensão no “viver em público”, por mais que este fosse promovido com a proposta. Assim, os sistemas
de espaços livres e públicos careciam de melhor qualificação e compreensão, dada sua condição
potencial para a esfera pública (da vida e política).
É possível notar, três décadas depois da inauguração do Parque de 1992, que os principais
problemas listados pela equipe de arquitetos, que foram usados como justificativa da solução
proposta, permaneceram após sua implantação. A própria equipe de arquitetos, no memorial
descritivo elaborado para o concurso, afirmou:
“(...) o problema básico, o único a justificar uma intervenção profunda, é o empobrecimento
funcional e desperdício do Vale como espaço urbano desfrutável: apesar de sua acessibilidade urbana
(...), não tem função de ponto de encontro; apesar de seu potencial e valores paisagístico-culturais, não
há como nem porque nele permanecer e gozar; apesar de sua localização ensejar encontros de
solidariedade, não tem hoje o menor teor de urbanidade.”
(trecho do memorial descritivo do concurso, retirado da tese de Gustavo Kerr)

Os problemas mencionados se assemelham ao Anhangabaú mais recente. Mais de 30 anos


após a inauguração do Parque Anhangabaú de 1992, nenhum outro tipo de apropriação do espaço
conseguiu valorizar seu potencial ou mesmo gerar um novo caráter ao Vale.
6. REFERÊNCIAS

MILLER, Carlos Eduardo M.. Reurbanização do Vale do Anhangabaú: propostas para a recriação de
uma paisagem. Dissertação de mestrado. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Faculdade de São
Paulo. São Paulo. Disponível em:
<https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/16/16135/tde-05072017-102653/publico/CarlosEduardo
MurgelMiller.pdf?authuser=0>. Acessado em nov 2023.

MELLO, Marina C. F.. Potencialidades Urbanas do Cotidiano da Cidade de São Paulo: Os casos do Vale
do Anhangabaú e do Largo da Batata. Dissertação de mestrado. Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo, Faculdade de São Paulo. São Paulo. Disponível em:
<https://teses.usp.br/teses/disponiveis/16/16138/tde-26092019-152407/publico/MEMARINACARVAL
HOFERREIRADEMELO.pdf?authuser=0>. Acessado em nov 2023.

KERR, Gustavo M.. A Praça das Artes e o Centro Cultural do Correio. Uma reflexão sobre a dimensão
pública da arquitetura do Vale do Anhangabaú. Dissertação de mestrado. Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo, Faculdade de São Paulo. São Paulo. Disponível em:
<https://teses.usp.br/teses/disponiveis/16/16138/tde-16012019-095824/publico/MEgustavomadaloss
okerr.pdf?authuser=0>. Acessado em nov 2023.

ROSA KLIASS A paisagista rebelde. Rosa Kliass revelando paisagens brasileiras, 2023. Disponível em: <
https://publica.ciar.ufg.br/projetos/rosa-kliass/sobre.html>. Acessado em nov 2023.

LAWRENCE HALPRIN. The landscape architecture of Lawrence Halprin. Disponível em:


<https://www.tclf.org/sites/default/files/microsites/halprinlegacy/lawrence-halprin.html>. Acessado
em nov 2023.

LIVRO DA ARQUITETA ROSA KLIASS. Arquitetando na Net. Disponível em:


<https://arquitetandonanet.blogspot.com/2020/05/livro-da-arquiteta-rosa-kliass.html>. Acessado em
nov 2023.

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