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Refúgio e experiência:
uma arquitetura entre vias

Trabalho Final de Graduação

Veridiana Benguela Tersi


orientação: Luis Antônio Jorge

Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP


2022

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sumário

_ localização 8
__ concepção 18
___ projeto 28
____ apresentação 50
_____ experiência 66

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localização

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Nas proximidades do Vale do Anhangabaú, centro de São Paulo, no começo da Avenida
Nove de Julho, há um terreno disforme, delimitado por cinco vias: a própria Nove de Julho, a
rua Álvaro de Carvalho, o viaduto Major Quedinho, a larga escadaria na lateral leste do terreno
e, no mesmo lado o viaduto 9 de Julho. Essas vias citadas configuram-lhe um formato trape-
zoidal.
O principal acesso ao terreno é feito pela Rua Álvaro de Carvalho, pois em sua outra
face - a Av. 9 de Julho - tem-se apenas um muro e um corte de terra. Além desse acesso, há
uma escada privada improvisada que liga o patamar principal com o viaduto Major Quedinho.

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fotos

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O terreno é um espaço disforme sob o
olhar topográfico e cria barreiras visuais ao
pedestre com muros de arrimo. Apesar de
ter aproximadamente 1500m² de área, ele é
uma sobra viária e, como outras na avenida, é
ocupado hoje por um estacionamento na cota
superior, que torna o espaço rentável ao mes-
mo tempo que exige um baixo investimento,
sobretudo nesse caso devido às estruturas
construídas de baixo custo e muito precárias.
Isso também demonstra uma resposta
à região rodoviária - repleta de faróis ofus-
cantes - na qual, mesmo com a presença de
uma larga escada, não aparecem espaços
para atividades sociais e de vivência huma-
na - vivência esta que o projeto se propõe a
recuperar.
Nesse sentido, ainda destaco que esse
lote - o 281 da R. Álvaro de Carvalho - foi no-
tificado pela prefeitura como subutilizado,
por causa justamente da natureza de seu uso
como estacionamento em uma região bem
provida de equipamentos, serviços, postos de
trabalho, transporte. Também foi considerado
como área de interesse social. Porém a notifi-
cação foi cancelada1.

1. PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO PAULO. GeoSam-


pa. 2022.

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Partindo para uma análise mais pes-
soal de vivência do local, nota-se a ocupação
dos grandes muros do terreno por diversos
grafites.
Destaco o grafite azul do artista Zezão2
- conhecido pelo desenho característico nas
galerias pluviais inóspitas- que, em decorrên-
cia das suas formas alusivas às águas e de-
vido ao caráter contextual de seu trabalho,
exerce um papel de lembrete ao ocupar o muro
frontal. Parece denunciar que essa avenida é
um vale e que é em decorrência disso o de-
clive do terreno. É de se intuir, portanto, que
há um corpo d’água escondido, um córrego
canalizado pela modernidade: o Saracura, um
dos afluentes do Rio Anhangabaú. Ele nasce
na Bela Vista, logo atrás da avenida Paulista,
chega na avenida Nove de Julho e segue ca-
nalizado embaixo dela até o vale do Anhan-
gabaú para desaguar.
Em decorrência de seu apagamento, o
Saracura tem uma existência vulnerável e, por
isso, ela será rememorada posteriormente
como um conceito projetual.
2 “Começou na década de 1990 a ocupar com
os seus grafitti espaços da cidade de São Paulo. [..]
Passou a trabalhar em paredes de canais de esgoto
e de galerias de águas pluviais, entre dejetos acumu-
lados em casas abandonadas, em becos desertos e
em vãos debaixo de viadutos, atraindo a atenção para
paisagens urbanas insólitas, as quais muita gente não
quer ver nem saber.” Site: Zezãoarts, 2022.

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Sob a percepção dos transeuntes que
percorrem o entorno, é possível notar uma
disparidade devido às diferentes alturas em
torno do terreno. Aqueles que percorrem os
viadutos nas laterais superiores podem até se
fazer alheios à cota inferior, que é de aproxi-
madamente 3 metros no ponto mais próximo.
A visão destes é caracterizada como uma
visão superior planificada e distante da ex-
periência do espaço.
Já quem sobe e desce a escada lateral
perde a visão planificada e ganha a experiência
da escalada da diferença topográfica. Quem
desce a escada parte do nível superior com
uma visão do piso plano do estacionamento,
descobrindo a profundidade e os taludes de
terra aos poucos, ao mesmo tempo que quem
sobe parte da fachada da avenida 9 de julho
e vai em descoberta do nível superior, porém
já com uma visão inicial dos muros e taludes,
mais verticalizada, para só depois descobrir o
plano superior, já que esta diferença de altura
é em média de 5 metros, distância esta que
supera em alguns metros a altura do obser-
vador.
Essas diferentes experiências de es-
paço são um ponto chave para a compreensão
de como ocupar esse terreno disforme e de
entorno singular.

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