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Laboratório de Urbanismo

RODOVIÁRIA DE JAÚ
João Vilanova Artigas

Análise Crítica
Obra: Rodoviária de Jau
Arquiteto: João Vilanova Artigas

A presente analise trata de uma obra de grande importância na arquitetura


no mundo no século XX, a Rodoviária de Jaú projetada em 1973, de Autoria de
João Vilanova Artigas, foi um projeto de extrema importância para o arquiteto,
localizado na cidade de Jaú no estado de São Paulo, situada entre duas ruas
paralelas, Rua Saldanha Marinho e Rua Humaitá para aproveitar o desnível de
6 metros na topografia do local.

Imagem extraida do Google maps, mostra a rodoviária incerida no centro urbano da cidade.

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Rodoviária na epoca de sua construção.
Fonte:http://au.pini.com.br/arquitetura-urbanismo/248/historia-em-detalhe-a-relacao-entre-
edificio-e-cidade-na-330441-1.aspx

A rodoviária foi edificada no local onde se situava a antiga Estação


Ferroviária da Companhia Paulista de Estradas de Ferro, justamente no topo do
eixo ascendente que estruturava a cidade do Jaú, desde o século XIX.
Durante a década de 1970, a cidade de Jaú passou por uma série de
transformações que alteraram sua estrutura urbana. Grande parte dessas
transformações foi proposta e projetada por Artigas. O projeto do anel viário
preservou a área central, historicamente consolidada, e definiu a preparação do
sistema viário de maneira a possibilitar a implantação da nova Rodoviária,
justamente num dos pontos extremos do centro urbano estabelecido¹.
A obra de caráter urbano foi desenvolvida numa época de estruturação
do município de Jaú direcionada ao novo zoneamento da cidade, buscando uma
nova ordenação do Viário, criando em seu entorno uma área verde promovendo
novos equipamentos urbano.

Obra de característica Moderna, Artigas mais uma vez revela que a sua
arquitetura abrange materiais e características construtivas desse estilo, como

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exemplo o concreto armado aparente, o vidro trazendo naturalidade no projeto,
a forma linear de formato horizontal, transformado a edificação em um dos mais
belos contextos de arte construída. Conforme afirmação de ARTIGAS:

“Admiro os poetas. O que eles dizem com duas


palavras a gente tem que exprimir com milhares de
tijolos. ”

―João Batista Vilanova Artigas

01- Conforme descrito na fonte de pesquisa: http://au.pini.com.br/arquitetura-urbanismo / 248


historia-em-detalhe-a-relacao-entre-edificio-e-cidade-na-330441-1.aspx,
Artigo da revista AU Educação, edição 248, novembro de 2014, editora Pini.

Esta obra chama atenção por diversas particularidades, uma delas seria
as Cúpulas transparentes em sua cobertura, trazendo iluminação natural,
juntamente com seus pilares que se abrem em quatro partes recebendo
iluminação para o interior da rodoviária de do pavimento, com um formato original
e ousado projetado por Artigas.

Outra questão que chama a atenção é a implantação, ela segue a sua


topografia com seis metros de diferença de nível entre as ruas, e o arquiteto
consegue aproveitar esse desnível sem precisar fazer alguma espécie de aterro
ou movimentação de terra, mas sim, com ligações internas entre os andares da
Rodoviária, ele cria uma conexão à edificação, dando assim uma espécie de
projeto virtual ao que se vê, pois, em uma fachada na Rua Saldanha Marinho,
vemos somente uma área de terraço coberta com uma grande “Caixa”, suspensa
por seus pilares que se abrem, envolvendo com as vigas e deixando a mostra
as cúpulas transparentes. Já, visto pela rua Humaitá, temos a entrada para
compras de passagens, o seu 1º andar mostrando os restaurantes, e possui uma
vedação em vidro que chega no terraço no outro pavimento acima, alinhando
com o desnível do terreno. Conforme fotos abaixo:

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Fachada da rodoviária, com fechamento em vidro.

Fonte: https://www.pinterest.com/pin/37436240625279639/

Local de circulação dos ônibus

Fonte: http://www.archdaily.com.br/br/01-133553/classicos-da-arquitetura-rodoviaria-de-jau-

vilanova-artigas/5206bbbfe8e44e3e30000056

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A Rodoviária abrange um programa que tenha outros usos, não sendo
apenas utilizada para embarque e desembarque, mas abrange uma área de
lazer, compras e convivência no pavimento do nível 112,22 e 115,35 com
restaurantes, lojas e um grande terraço, com isto, acreditamos que Artigas quis
trazer com este projeto algo além de um lugar de “passagem” mas um lugar que
possa ser admirado, como a paisagem ao seu arredor, trabalhando a
permeabilidade visual do vidro e considerando o ponto mais alto do desnível do
terreno para observar o urbano.

Foto com vista do Terraço da Rodoviária.

Fonte: http://vilanovaartigas.com/cronologia/projetos/estacao-rodoviaria-de-jau

A Rodoviária de Jaú não tem um perímetro definido, pois cada pavimento


possui área e perímetro diferenciado, Artigas usa de todos os espaços e níveis
da topografia do terreno, a cobertura tem aproximadamente 50x58m tendo em
média 2600 m² executada com uma laje nervurada de duas direções, onde tudo
acontece nesse perímetro, além dos acessos principais, há dois acessos

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secundários nas laterais do edifício, paralelos ao acesso de embarque e
desembarque de ônibus, que foi criado entre os níveis 115,35 e o 108,75, dando
um acesso intermediário junto com os acessos secundários. No nível 110,12,
hoje é o desembarque e embarque, antigamente era estação ferroviária de Jaú,
conforme estudos. Logo abaixo deste, há um o subsolo com sanitários e o
depósito para a rodoviária.

A ligação dos pavimentos se dá por rampas, trabalha-se vigas


protendidas, se apoiando tanto no muro de arrimo, quanto nos pilares que se
localizam próximos, segue em balanço possibilitando a passagem dos
pedestres². É interessante observar como Artigas foi detalhista até na questão
das ligações, pois há uma “ordem” de subidas e descidas a serem seguidas, em
um ponto central onde não agride visualmente o projeto, mas sim complementa
a edificação e continua a deixar o conjunto harmonioso.

Vista da área de embarque e desembarque, a conexão de rampas e seus pilares no topo da


rodoviária.

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Fonte: http://vilanovaartigas.com/cronologia/projetos/estacao-rodoviaria-de-jau.

02- Informação descrita na fonte: monografia de mestrado, A rodoviária de Jaú e a dimensão


urbana na Arquitetura, IWAMIZU, Cesar Shundi, pag. 62, FAU_USP Fevereiro de 2008, São
Paulo.

Organização dos Pavimentos:

Visto que a Rodoviária se dispõem de 04 pavimentos, segue abaixo as


plantas como trabalho de estudo e reanalise da Obra, feita neste semestre,
juntamente com seus respectivos ambientes descritos:

Começamos com a Implantação, pode se perceber que na imagem abaixo


o eixo de Pilares com termino em suas cúpulas de 4metros de diâmetro, os
pilares foram definidos em 80cmx80cm, a cobertura com aproximadamente
50metrosx58metros em forma de “Caixão perdido” com aproximadamente 1
metro de altura.

Implantação da Rodoviária

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Ampliação mostrando mais detalhes da imagem

Térreo 01 ou uma das entradas da rodoviária, onde se encontra o acesso de


pessoas para comprar passagens, acesso através de rampas para o Subsolo e
para o pavimento intermediário de embarque e desembarque, também através
de rampas, segue imagem:

Planta do térreo

No 2° pavimento, ou intermediário, embarque e desembarque, 3º pavimento


restaurantes, lojas e convívio, lembrando que no 3º pavimento tem as rampas
laterais de acesso secundário à construção.

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Planta dos pavimentos intermediários,

4° pavimento, térreo 02 ou terraço que abrange a entrada pela Saldanha


Marinho, com um terminal de ônibus municipais, junto com um convívio. Neste
pavimento podemos observar que há uma junção dos pilares que vão até o 3º
pavimento, transformando apenas em um eixo, transformando a sua malha
estrutural, no qual se interligam as vigas em um formato peculiar, mostrando
assim a sua engenhosidade nessa junção.

Planta do térreo 02.

Na sequencia, segue os cortes da Rodoviária, objeto de estudo fundamental para


o entendimento da topografia no terreno, diante de um desnível de 6 metros.

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Corte AA,

Corte BB

Corte CC,

Outro ponto fundamental para o entendimento do formato do pilar na área do


“terraço” foi este detalhe, conforme abaixo, este foi necessário para estudo,
juntamente com artigos relacionados, esclarecendo como era o seu formato e
como se utilizava dele estruturalmente.

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Primeiros estudos do detalhe do pilar em planta e corte

Sua construção deu-se pelo concreto armado totalmente aparente


material muito utilizado nas construções do século XX, pilares de 80x80
centímetros atravessando os pavimentos, com uma malha estrutural de três por
seis, já explicada anteriormente.

As formas estruturais adotadas por Artigas nesse projeto elementos como


vigas, fundações, pilares e fechamentos são desenhados de forma que se
transformam em outra função estrutural como as vigas que se transformar em
pilares ou pilares que se transformam em vigas, blocos de fundações que se
afloram do chão e se transformam nos próprios pilares.

As nervuras que compõem o caixão perdido localizado no terraço não se


cruzam evitando o encontro dos pilares com as vigas, os pilares gira quarenta
cinco graus e se desabrocha em quatro componentes curvos, cada vértice
transforma se num componente dividindo cada face ao meio e mantendo a
ortogonalidade da reticula, sobre cada pilar que se abre em um formato circular
de 4 metros de diâmetro no nível superior e seis metros no nível superior. Nessa
abertura o pilar recebe luz zenitalmente trazendo uma iluminação natural no
pavimento.

Pilares atravessando os pavimentos

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Fonte: http://vilanovaartigas.com/cronologia/projetos/estacao-rodoviaria-de-jau

Comparação com outras obras estudadas

A maneira como foi desenvolvido esses pilares se torna muito


interessante, pois a rodoviária recebe muitos visitantes, que vem para conhecer
a obra e se admiram com os pilares que se abrem em quatro partes na caixa
perdida do terraço ou 4° pavimento, acredito que a mesma coisa acontece na
Catedral de Brasília, inaugurada em 1970 projeto de Oscar Niemeyer, onde os
pilares é uma das coisas que chama a atenção na obra, a maneira como
pensado e executado, colunas de concreto (pilares de secção parabólica) num
formato hiperboloide. Niemeryer usa do subsolo para desenvolver o restante do
projeto, semelhante também o que Artigas faz com a rodoviária.

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Catedral de Brasília

Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Catedral_de_Bras%C3%ADlia_-_DSC00258.JPG

O Sanatório Paimio na Finlândia, possui um caráter dinâmico, o arquiteto


organizou as diversas funções do estabelecimento com uma série de volumes
arquitetônicos combinados livremente, apesar de ter sido projetada em um lugar
bem isolado, pelo seu propósito de tratar dos doentes, essa disposição como
Alvar projeta os espaços, nos faz lembrar o que Artigas também faz na
Rodoviária, com essa criação dos espaços combinados de acordo com a
topografia.

Sanatório Paimio
Fonte: http://www.fotolog.com/aalto/66002481/

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Fachada Sanatório Paimio
Fonte: https://www.flickr.com/photos/stgoweb/306974140
A Capela de São Pedro em Campos do Jordão de 1928 projetada pelo
arquiteto Paulo Mendes da Rocha, também possui suas semelhanças com a
Rodoviária, apesar de serem de épocas diferentes, Paulo Mendes usa concreto
armado aparente e fechamento em vidro trazendo clareza e naturalidade para o
projeto, exatamente o que Artigas faz anos depois. São obras com finalidades
diferentes, mais que possui um caráter muito parecido em relação aos espaços,
como o uso da topografia que acaba criando um espaço virtual. Olhando de um
ângulo se vê uma coisa, de outro um espaço totalmente ‘submerso’.

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Capela de São Pedro

Fonte: http://www.snpcultura.org/tvb_capela_sao_pedro_paulo_mendes_rocha.html

A casa Tugendhat de 1930 do arquiteto Mies van der Rohe , fica


localizada na República Tcheca. O arquiteto utiliza do aço cria espaços abertos
e livres numa habitação composta por três níveis, com diferentes plantas, que
se relacionam com a variação de inclinação do terreno. A casa fica em um local
mais afastado da cidade, mais também nos lembra do aproveitamento do
terreno, o declive e a formação dos espaços virtuais que acontecem na
rodoviária, além do fechamento em vidro que é utilizado.

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Fachada da casa

Vista da casa pela rua de acesso

Nessas imagens se consegue perceber esse conceito do ‘espaço virtual’


Outra obra de Niemeyer que se assemelha a rodoviária de Artigas e a
Biblioteca do memorial da América Latina. Inaugurada em 1989 o conjunto
arquitetônico, tinha como estreitar as relações políticas, econômicas, sociais, e
culturais do Brasil com os demais países da América Latina, em uma época em
que as divergências de interesse eram enormes. A obra foi idealizada para que,
em seus quase 90 mil metros de terreno, ocupasse o maior espaço possível.
Assim, Niemeyer projetou seus seis edifícios espalhados por duas praças unidas
por uma passarela.³

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Vista do Memorial da America Latina

Uma das obras mais parecidas com que a que estamos estudando, em
relação ao espaço onde está inserida. O memorial fica no centro da cidade de
São Paulo, assim como a Rodoviária que fica no centro de Jaú. Niemeyer
também usa do concreto armado aparente.

03- Conforme descrito na fonte de pesquisa: http://www.cidadedesaopaulo.com/sp/br/o-que-


visitar/atrativos/pontos-turisticos/4386-memorial-da-america-lati
Já o Convento de La Tourette de 1960 projetada por Le Corbusier, a obra
está localizada em um contexto rural bem diferente da rodoviária de estudo. O
convento foi construído inteiramente em concreto, o que nos leva a lembrar
novamente dos materiais que foram utilizados por Artigas na Rodoviária.

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Fonte: http://www.galinsky.com/buildings/latourette/

A Casa Farnsworth foi construída em 1951 outra obra de Mies van der
Rohe, encomendada por Dr. Edith Farnsworth que lhe pediu que projetasse uma
casa para ela passar o fim de semana dentro de um terreno recém comprado
em Illinois, Chicago. A estrutura da casa consiste em duas placas de betão por
oito vigas de aço. O chão e suspenso por essas vigas e o fechamento todo em
vidro.

Fonte:http://www.taringa.net/comunidades/skp-vray/7519865/Animacion-casa-Farnsworth.html

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Após uma análise das duas obras pode se notar que as duas obras não possuem
tantas semelhanças. A Casa Farnsworth está sobre um terreno plano, o que é o oposto
do projeto de Artigas na Rodoviária de Jaú, que fica em um terreno com um desnível de
6 metros. Além de estarem inseridas em locais diferentes, a casa em um local de campo
e a rodoviária no centro urbano da cidade. O que mais se assemelha nesses dois
projetos de anos diferentes, são as soluções encontradas para buscar iluminação
natural.

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