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Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Instituto de Artes

Anderson Ladislau da Rocha

VÍDEO – PROCESSOS E MODALIDADES

Rio de Janeiro
2022
Anderson Ladislau da Rocha

RIO EM RISCOS: COMPLEXIDADES DA DERIVA URBANA

Trabalho apresentado à
disciplina de Vídeo –
Processos e Modalidades,
ministrada pelo Prof. Dr.
Rodrigo Gueron, do curso de
Bacharelado em Artes Visuais,
da Universidade do Estado do
Rio de Janeiro.

Rio de Janeiro
2022
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“Rio em Riscos: Complexidades da Deriva Urbana” tem como objetivo


analisar as interferências causadas pela especulação imobiliária na paisagem
urbana, alterando o seu cenário e transgredindo e/ou ignorando a relação “espaço-
temporal” do indivíduo com o ambiente externo ocasionado pela estruturação urbana
e toda a sua complexidade espacial e visual.
Em meio às transgressões realizadas pelo poder econômico das construtoras
e o mercado imobiliário que movimenta e aquece a economia da construção civil,
está a destruição completa das edificações históricas datadas do final do século
XVIII e início do século XIX.
Nos limitamos a registrar em vídeo,
estas residências situadas no bairro do
Méier, região norte do Rio de Janeiro, cujos
valores patrimonial e histórico são
ignorados, e as alterações da paisagem
urbana como consequência do crescimento
urbano ao longo de mais de um século de
existência. Para fazermos o registro,
utilizamos o celular acoplado ao guidão da bicicleta e observamos os contrastes
entre os edifícios comerciais/residenciais e tais edificações residenciais com
significado histórico e cultural.
Na primeira cena, saímos do interior do
prédio, descemos a rampa da garagem e
registramos o primeiro contato com o ambiente
urbano. Nos deparamos com calçadas estreitas,
com péssimo estado de conservação e com vários
obstáculos (carros, cabines, lixos e canteiros de
jardins reduzindo ainda mais a circulação de
pedestres) sendo obrigado a circular pela pista, na
contramão, disputando o espaço com os veículos.
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Em seguida, nos deslocamos para um


local mais movimentado, a principal via do
bairro, e registramos algumas das
construções que nos levaram a refletir e
imaginar como aquele setor do bairro seria
em termos urbanos e quais sensações
poderia nos proporcionar. Prédios com
fachadas envidraçadas e espelhadas refletindo múltiplas imagens distorcidas do seu
entorno nos dão uma amostra do que se tornou o ambiente urbano.
Mais uma vez, nos deslocamos e seguimos pedalando para outras regiões do
bairro e imediatamente percebemos uma mudança no aspecto visual. As ruas eram
menos movimentadas, estreitas, variando entre prédios residenciais e casas de, no
máximo, dois pavimentos. Havia um número maior de mudas de árvores e níveis
variados de relevo exigindo esforço físico na subida e proporcionando descanso e
repouso ao descer as ruas repletas de árvores cujas calçadas estreitas serviam de
caminho para os pedestres, transportando-nos a um ambiente de interior, com
presença vegetal e sensações de campo e tranquilidade mesmo em meio ao barulho
dos carros. Pude, neste instante, refletir sobre as variáveis psicogeográficas, de
Debord, em sua Teoria da Deriva:

“Chega-se assim à hipótese central da existência de placas giratórias


psicogeográficas. Medem-se as distâncias que separam efetivamente os lugares de
uma cidade que não têm relação com o que uma visão aproximativa de um plano
urbano poderia perceber. Pode-se compor, com ajuda de mapas velhos, de
fotografias aéreas e de derivas experimentais, uma cartografia influencia que
faltava até o momento, e cuja incerteza atual, inevitável antes que se tenha
cumprido um imenso trabalho, não é maior que a das primeiras descrições, com a
diferença de que não se trata de delimitar precisamente áreas dum continente, mas
sim de transformar a arquitetura e o urbanismo. As diferentes unidades da
atmosfera e de moradia não estão, hoje em dia, exatamente demarcadas, sem
aproximar-se dos limites mais ou menos extensos. O maior ganho que propõe a
deriva é a diminuição constante desses limites, até sua supressão completa. Na
arquitetura, a inclinação à deriva leva a anunciar todo tipo de novos labirintos que
as possibilidades modernas de construção favorecem.” (pg.4. Texto publicado no
nº. 2 da revista Internacional Situacionista em dezembro de 1958. Segunda
tradução (espanhol – português) por membros do Gunh Anopetil em 19 de março
de 2006.)
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Por fim, localizamos as


residências históricas. Uma
delas, datada de 1895, é uma
“testemunha ocular” de uma
época em que as cidades
apresentavam uma paisagem
urbana completamente distinta.
Esta residência encontra-se
vazia, abandonada. Contudo, ainda resiste à especulação imobiliária haja vista a sua
localização que contribui para a sua permanência por estar próxima à comunidade e,
comercialmente, segundo os exploradores capitalistas do espaço urbano, pouco
atrativo.
Antes de concluir a deriva, mais uma residência histórica foi localizada.
Porém, já havia sido exterminada. Prevendo este acontecimento, antes da sua
demolição, invadi a área privada e registrei algumas imagens de uma casa em
ruínas, sem o telhado, o piso completamente destruído e algumas paredes
demolidas. E assim, a paisagem urbana vai se modificando ao longo do tempo e as
construções e objeto que a compõem, vão se transformando.

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