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CRISTIANA FORTINI, RAFAEL SÉRGIO LIMA DE OLIVEIRA, TATIANA CAMARÃO (Coords.

)
COMENTÁRIOS À LEI DE LICITAÇÕES E CONTRATOS ADMINISTRATIVOS: LEI Nº 14.133, DE 1º DE ABRIL DE 2021 – Vol. 1

Art. 23. O valor previamente estimado da contratação deverá ser compatível


com os valores praticados pelo mercado, considerados os preços constantes
de bancos de dados públicos e as quantidades a serem contratadas,
observadas a potencial economia de escala e as peculiaridades do local
de execução do objeto.
§1º No processo licitatório para aquisição de bens e contratação de serviços
em geral, conforme regulamento, o valor estimado será definido com base
no melhor preço aferido por meio da utilização dos seguintes parâmetros,
adotados de forma combinada ou não:
I – composição de custos unitários menores ou iguais à mediana do item
correspondente no painel para consulta de preços ou no banco de preços
em saúde disponíveis no Portal Nacional de Contratações Públicas (PNCP);
II – contratações similares feitas pela Administração Pública, em execução
ou concluídas no período de 1 (um) ano anterior à data da pesquisa de
preços, inclusive mediante sistema de registro de preços, observado o
índice de atualização de preços correspondente;
III – utilização de dados de pesquisa publicada em mídia especializada, de
tabela de referência formalmente aprovada pelo Poder Executivo federal
e de sítios eletrônicos especializados ou de domínio amplo, desde que
contenham a data e hora de acesso;
IV – pesquisa direta com no mínimo 3 (três) fornecedores, mediante
solicitação formal de cotação, desde que seja apresentada justificativa da
escolha desses fornecedores e que não tenham sido obtidos os orçamentos
com mais de 6 (seis) meses de antecedência da data de divulgação do edital;
V – pesquisa na base nacional de notas fiscais eletrônicas, na forma de
regulamento.
§2º No processo licitatório para contratação de obras e serviços de
engenharia, conforme regulamento, o valor estimado, acrescido do
percentual de Benefícios e Despesas Indiretas (BDI) de referência e dos
Encargos Sociais (ES) cabíveis, será definido por meio da utilização de
parâmetros na seguinte ordem:
I – composição de custos unitários menores ou iguais à mediana do item
correspondente do Sistema de Custos Referenciais de Obras (Sicro), para
serviços e obras de infraestrutura de transportes, ou do Sistema Nacional de
Pesquisa de Custos e Índices de Construção Civil (Sinapi), para as demais
obras e serviços de engenharia;
II – utilização de dados de pesquisa publicada em mídia especializada, de
tabela de referência formalmente aprovada pelo Poder Executivo federal

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ART. 23

e de sítios eletrônicos especializados ou de domínio amplo, desde que


contenham a data e a hora de acesso;
III – contratações similares feitas pela Administração Pública, em execução
ou concluídas no período de 1 (um) ano anterior à data da pesquisa de
preços, observado o índice de atualização de preços correspondente;
IV – pesquisa na base nacional de notas fiscais eletrônicas, na forma de
regulamento.
§3º Nas contratações realizadas por Municípios, Estados e Distrito Federal,
desde que não envolvam recursos da União, o valor previamente estimado
da contratação, a que se refere o caput deste artigo, poderá ser definido por
meio da utilização de outros sistemas de custos adotados pelo respectivo
ente federativo.
§4º Nas contratações diretas por inexigibilidade ou por dispensa, quando
não for possível estimar o valor do objeto na forma estabelecida nos §§1º, 2º
e 3º deste artigo, o contratado deverá comprovar previamente que os preços
estão em conformidade com os praticados em contratações semelhantes
de objetos de mesma natureza, por meio da apresentação de notas fiscais
emitidas para outros contratantes no período de até 1 (um) ano anterior à
data da contratação pela Administração, ou por outro meio idôneo.
§5º No processo licitatório para contratação de obras e serviços de
engenharia sob os regimes de contratação integrada ou semi-integrada,
o valor estimado da contratação será calculado nos termos do §2º deste
artigo, acrescido ou não de parcela referente à remuneração do risco, e,
sempre que necessário e o anteprojeto o permitir, a estimativa de preço será
baseada em orçamento sintético, balizado em sistema de custo definido no
inciso I do §2º deste artigo, devendo a utilização de metodologia expedita
ou paramétrica e de avaliação aproximada baseada em outras contratações
similares ser reservada às frações do empreendimento não suficientemente
detalhadas no anteprojeto.
§6º Na hipótese do §5º deste artigo, será exigido dos licitantes ou
contratados, no orçamento que compuser suas respectivas propostas, no
mínimo, o mesmo nível de detalhamento do orçamento sintético referido
no mencionado parágrafo.

TATIANA CAMARÃO

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CRISTIANA FORTINI, RAFAEL SÉRGIO LIMA DE OLIVEIRA, TATIANA CAMARÃO (Coords.)
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23 Considerações iniciais (art. 23)


A pesquisa de preços assume especial importância no processo licitatório, visto
que por meio dela é possível saber a estimativa da despesa a ser suportada e se há or-
çamento para suportá-la; viabilizar a fixação do preço máximo para a licitação; verificar
se há indício de preço inexequível; subsidiar a análise e o julgamento das propostas e,
por fim, servir de parâmetro para análise de pedido de revisão de contrato.
Muito embora a pesquisa mercadológica tenha assento na Lei nº 8.666/93 e na
Lei nº 10.520/02 como etapa indispensável da fase interna da licitação, esses normativos
não deram tratamento específico disciplinando sua feitura.
Em direção oposta, a Lei nº 13.144/211 incluiu, no art. 11, como propósito das
contratações públicas, a previsão de que estas não podem ser formalizadas com sobre-
preço ou preço manifestamente inexequível, e tampouco é permitido o superfaturamento
na execução contratual, exigindo dos órgãos e entidades públicas que realizem boa
pesquisa mercadológica para efetividade desse preceito legal.
Além disso, a Nova Lei prescreveu o procedimento e os parâmetros a serem
adotados para efeito de orçamentação.

23.1 Impacto do planejamento na pesquisa mercadológica


Como já dito, a ausência de planejamento é uma patologia presente no sistema
de contratações públicas, fazendo com que a Administração Pública amargue colossal
prejuízo. Notadamente, há a necessidade de implantação de medidas para corrigir
essa disfunção.
A Nova Lei dá ênfase à fase preparatória desse sistema, incentivando o planeja-
mento e destacando os documentos que a compõem: Estudo Técnico Preliminar (ETP),
Análise de Risco e Termos de Referência (TR)/Projeto Básico.
O estímulo ao planejamento como alicerce das contratações exige que os órgãos
identifiquem a necessidade da contratação e como ela se adequa ao mercado, às novas
tecnologias e ao ciclo orçamentário. Todas essas informações são essenciais e reverberam
nas demais etapas do processo de contratação, em especial na pesquisa mercadológica.
Ora, para que a pesquisa seja bem elaboradora, é necessário que a área deman-
dante encaminhe o pedido com uma descrição precisa e suficiente da solução encontrada
para atender à demanda. A propósito, o Tribunal de Contas da União (TCU) já prolatou
decisão reconhecendo que é importante que se identifique, na fase de planejamento, as
soluções possíveis de atender a necessidade da área demandante, de modo que se tenha
pesquisa mercadológica abrangente e atenue a restrição de participação de potenciais
interessados:

9. Parece-me claro, portanto, que houve restrição à competitividade do Pregão


Presencial nº 10/2019, amoldando-se com perfeição ao caso em tela a afirmação feita pela
Secex Desenvolvimento, com base em precedente desta Corte de Contas (Acórdão nº
2383/2014-TCU-Plenário, da relatoria do Ministro José Múcio Monteiro), no sentido de que
a Administração, por ocasião do planejamento de suas aquisições de equipamentos, deve

1
Art. 11, III – evitar contratações com sobrepreço ou com preços manifestamente inexequíveis e superfaturamento
na execução dos contratos.

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ART. 23

identificar, previamente à elaboração das especificações técnicas e à cotação de preços, um


conjunto representativo dos diversos modelos existentes no mercado que possam atender
completamente suas necessidades, de modo a caracterizar a realização de ampla pesquisa
de mercado e evitar o direcionamento do certame para modelo específico pela inserção
no edital de características atípicas. (Acórdão nº 214/2020 – Plenário).

Acerca do tema, vale alertar, ainda, que um objeto com especificação incorreta
impacta a pesquisa de preços, tanto em virtude do detalhamento desnecessário de
requisitos quanto pela omissão de informações, podendo levar ao direcionamento do
processo licitatório, resultando em contratações contrárias à demanda apresentada ou
mesmo antieconômicas, por induzirem a custos mais elevados ou abaixo do que os
praticados pelo mercado.2
Nesse diapasão é o entendimento das Cortes de Contas.

85. Por seu turno, definições inadequadas ou insuficientes do objeto e o detalhamento


impreciso dos serviços contratados no projeto básico também contribuem para equivocada
estimativa de preços, pois alguns itens contratados mostram-se, muitas vezes, desneces-
sários ao longo da execução contratual, a exemplo do módulo de Compras contratado
pela (...) e depois descartado sem a justificativa adequada (relatado no Achado I) e dos
treinamentos oferecidos pela contratada que muitas vezes foram recusados pelos con-
tratantes e, no entanto, fizeram parte da composição de preços dos serviços prestados.
A contratação de treinamentos sem o uso efetivo foi verificada nos órgãos visitados, em
especial no Ministério das Comunicações, conforme demonstram as Ocorrências nºs
2030/2008 e 1346/2008 (fls. 303 e 307, anexo 2) do documento de acompanhamento dos
serviços prestados elaborado pela contratada. (Acórdão TCU nº 54/2012 – Plenário).3 4

No mesmo sentido, vale trazer lição de Benjamin Zymler e Laureano Canabarro


Dios:

Na aquisição de bens e serviços, o grau de exigência técnica em relação ao produto reper-


cute no seu valor e no universo de futuros fornecedores. Maiores exigências acarretam
menos competição e maiores preços, menores exigências, por sua vez, podem acarretar a
contratação de produtos com qualidade insuficiente para atender a administração.
Ou seja, caso não exponha bem as suas necessidades, a administração pode contratar
produtos que são inadequados para seus propósitos. Podem eles serem inservíveis por
não preencherem as necessidades do contratante ou se prestarem a essas necessidades de
forma superlativa, hipótese em que os custos incorridos serão maiores do que o necessário.5

2
100. Feitas essas considerações, cumpre registrar que o exame dos processos de contratação analisados em
campo evidenciou diversas falhas na definição e/ou na caracterização do objeto contratado, potencialmente
conduzindo a Administração à prática de atos antieconômicos. (Acórdão TCU nº 54/2012 – Plenário).
3
Acórdão TCU nº 54/2012 – Plenário.
4
10.1 Determinar ao (...) que: c) realize o planejamento prévio de seus gastos anuais, de modo a evitar o
fracionamento de despesas de mesma natureza, a fim de não extrapolar os limites estabelecidos nos artigos
23, §2º, e 24, inciso II, da Lei nº 8.666/93, observando que o valor limite para as modalidades licitatórias é
cumulativo ao longo do exercício financeiro; (Acórdão TCU nº 1.084/2007 – Plenário).
5
ZYMLER, Benjamin; CANABRAVA DIOS, Laureano. Regime Diferenciado de Contratação – RDC. 3. ed. Belo
Horizonte: Fórum, 2014. p. 53.

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Portanto, é fundamental que seja feito o estudo técnico preliminar para identificar
as soluções viáveis, devendo as informações da contratação ser lançadas no termo de
referência.
Nesse contexto, cite-se acórdão do TCU:

Estudo preliminar com vistas a comprovar a suposta vantagem e economicidade da aludi-


da locação em face, por exemplo, da subjacente possibilidade de definitiva aquisição dos
aludidos veículos pelo mesmo valor, a cada período de 24 meses, devendo a administração
pública apresentar o correspondente memorial de cálculo e a devida indicação de todos
os gestores públicos responsáveis pela condução da referida locação.6

É possível, ainda, que a pesquisa seja realizada em desacordo com o recomen-


tado nos regulamentos e orientações das Cortes de Contas. É importante registrar que
o levantamento de valores deve ser feito contando com vários parâmetros e fontes,
buscando identificar o preço mais próximo do de mercado. Além disso, os valores de-
vem ser tratados e descartados aqueles que distorcem o preço médio de mercado. Por
conseguinte, há necessidade da presença e ação da consultoria jurídica, do agente de
contratação ou pregoeiro, do controle interno e do comitê de planejamento, no sentido
de observarem como se deu o modus operandi da pesquisa na etapa preparatória.
O TCU, no acórdão nº 299/2011- Plenário, recomenda:

2.43. Recomendar ao (...) que, nas futuras contratações de bens e serviços de tecnologia
da informação:
i. aprimore os mecanismos de controle do Processo de Planejamento de Contratação, a fim
de detectar erros na elaboração da pesquisa de preços e garantir, efetivamente, o confronto
dos valores cotados com aqueles praticados com outros órgãos da Administração, a fim
de validar os valores aceitos na contratação.

Sugere-se a adoção de alguns procedimentos na etapa preparatória da licitação


com o propósito de melhorar a qualidade da pesquisa de preços, bem como regula-
mentar como essa coleta deve ser feita, notadamente levando em consideração todos os
elementos que circundam a contratação, tais como; quantidades a serem contratadas,
adequação do objeto ao mercado, prazo e locais/horários de entrega, peculiaridades
do local de execução do objeto, instalação e montagem, formas e prazo de pagamento,
fretes, garantias exigidas e marcas/modelos, quando for o caso.

23.2 Catálogo eletrônico


Para o aprimoramento da pesquisa de preços é importante que os órgãos im-
plantem catálogo eletrônico padronizado de itens a serem adquiridos, procedimento
que facilita a especificação do objeto pelas áreas demandantes e reduz a diversificação
de objetos da consulta mercadológica, permitindo que se ganhe com a economia de
escala de compras com maior volume dos mesmos bens.
Ademais, o catálogo permite maior compreensão da demanda apresentada,
promove a otimização das compras, tornando mais célere a especificação do pedido.

6
Acórdão TCU nº 11.535/2020 – Segunda Câmara.

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Para além das vantagens apontadas, o catálogo pode servir como documento
estratégico para consulta de valores mercadológicos, constando o último valor em vigor
no órgão ou entidade pública contratante.
Oportuno asseverar que o catálogo deverá descrever com precisão os objetos com
as condições básicas necessárias. A indicação de código com abrangência de itens pode
induzir o cotista e fornecedor a erro e a atos antieconômicos. Aliás, o cotista deverá ter
atenção ao item do catálogo descrito pela área demandante. O TCU teve a oportuni-
dade de analisar uma licitação com esse tipo de vício. Na contratação analisada, a área
requisitante indicou o código do Catmat genérico (conjunto de mesas de escritório,
nome da mesa de escritório/acessório/componente) para adquirir gabinetes modulares
de arquivo deslizante. A pesquisa de preços, por óbvio, ficou comprometida. (Acórdão
nº 693/2013 – Plenário).
Disso temos, embasados na orientação do TCU,7 que para utilizar o Catmat, que
é um módulo do Sistema Integrado de Administração de Serviços Gerais (Siasg) e per-
mite a catalogação dos materiais destinados às atividades fins e meios da Administração
Pública, faz-se necessário que o usuário, antes de promover a licitação, pesquise nos
catálogos (Catmat ou Comprasnet) se o item desejado está registrado. Se estiver, deve
utilizar o código correspondente, caso contrário, deve solicitar a inclusão de novo item
no Catmat.

23.3 Termo de Referência: momento para realização da pesquisa de


preços
O Termo de Referência é o documento que condensa as principais informações da
fase interna da licitação e, por isso, deve ser construído com cuidado e atenção, já que
seus dados servem de espelho para a elaboração do edital e do contrato administrativo.
Um dos elementos mais sensíveis do Termo de Referência, previsto no art. 6º,
inciso XXIII, “letra i”, é a estimativa do valor da contratação, acompanhada dos preços
unitários referenciais, das memórias de cálculo e dos documentos que lhe dão suporte,
com o detalhamento dos parâmetros utilizados para a obtenção dos preços e para os
respectivos cálculos, os quais devem constar em documento separado e classificado.
Como dito anteriormente, a inexistência ou a má elaboração de uma pesqui-
sa de preços no processo de contratação pode gerar prejuízos incalculáveis para a
Administração Pública.
A título de exemplo, o Acórdão nº 815/2017 do TCU trata de situação de contra-
tação que foi realizada sem que estivesse incluído no valor os contratos acessórios de
manutenção e treinamento.
Lado outro, o TCU, no Acórdão nº 11.535/2020 – 2ª Câmara, menciona o cuidado
com a ausência de informações que envolvem a contratação, pois impactam a pesquisa
mercadológica e o oferecimento da proposta comercial.
Neste caso, resta claro que, ao fazer a pesquisa de preços, o cotista não levou
em consideração as despesas acessórias, as quais deveriam fazer parte da execução do
objeto. Se o órgão tivesse identificado sua demanda e realizado um estudo prévio mais
aprofundado das soluções, a possibilidade de ocorrência desses vícios seria mitigada.

7
Acórdão TCU nº 693/2013 – Plenário.

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Lado outro, o TCU, no Acórdão nº 54/2012, identificou contratação que exigiu


serviços de treinamento que não foram utilizados pela área demandante, mas fizeram
parte da composição de preços. Esse desvirtuamento da especificação, para além do
prejuízo causado – pois qualquer exigência encarece o objeto –, impactou a pesquisa,
visto que na planilha de custos constava esse serviço, comprometendo a consulta de
outras fontes e valores.8
Destacam-se outros exemplos retirados dos seguintes acórdãos do TCU:

• Pregão de passagens aéreas. Exigências excessivas. Check-in antecipado e


balcão de atendimento próprio em pelo menos oito capitais. (TCU, Acórdão
nº 0651/04-Plenário).
• Veículos com características acima das necessárias. (TCU, Acórdão nº
2172/11-Plenário).
• Utilização, em presídios federais, de equipamento para detectar armas
químicas (TCU, Acórdão nº 1147/2010 – Plenário).
• Exigências de qualificação técnica de pessoal de apoio, de número mínimo
de computadores interligados em impressora e de veículo para deslocamento
impostas a escritórios de advocacia configuram interferência desnecessária
na organização administrativa da licitante e implicam violação ao disposto
nos comandos contidos nos §§5º e 6º do art. 30 da Lei nº 8.666/93. (Acórdão
nº 2074/2012 – Plenário).

Sabe-se, por outro lado, que o conhecimento da integralidade do objeto não é


uma opção de medida da fase preparatória, mas sim um dever. Nesse sentido, traz o
Acórdão nº 2.684/2008 – TCU – Plenário:

1. A ausência do cumprimento da fase interna da licitação inviabiliza o


conhecimento integral do objeto que se pretende contratar e as estimativas
de custos a ele inerentes.
2. A realização da fase interna da licitação é condição prévia essencial à
contratação, inclusive nos casos de dispensa e inexigibilidade de licitação.
3. As contratações devem iniciar-se sempre com o diagnóstico, por parte da
administração, de sua necessidade, seguindo-se a motivação do ato, que não
está dispensada nas contratações diretas.

Como podemos ver, a pesquisa de preços é um importante requisito para guiar


os responsáveis pela condução da licitação no julgamento das propostas.

23.4 Pesquisa de preços e sustentabilidade


A pesquisa de preços deve assegurar a observância do princípio da sustentabili-
dade, com o propósito de encontrar a solução que represente o menor dispêndio para o

8
1.5.1.1. Aprimore a metodologia de pesquisa de preços de mercado, atentando, entre outros aspectos, para a
necessidade de definir precisamente as características e os quantitativos do objeto a ser licitado, de modo a obter
preços estimados próximos à realidade de mercado, em atenção ao art. 9º, §2º do Decreto nº 5.450/2005, evitando
discrepâncias significativas entre o valor orçado e o efetivamente licitado, observadas nos Pregões Eletrônicos
nº 28/2012, 29/2012, 30/2012, 31/2012, 36/2012, 38/2012 e 50/2012, todos da UASG 550005. (Acórdão TCU nº
2.908/2013 – 2ª Câmara).

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órgão ou a entidade pública. Para tanto, na fase de coleta devem constar os parâmetros
mínimos de qualidade a serem atendidos, relacionados aos custos indiretos da contra-
tação, como, por exemplo, despesas de manutenção, utilização, reposição, depreciação,
custos de desfazimento dos bens e resíduos e impacto ambiental, entre outros fatores.
Sob essa perspectiva, esclarece Benjamin Zymler e Laureano Canabarro Dios:

Trata-se de procedimento já adotado no setor privado, mas sem aplicação até agora no
setor público diante da falta de previsão legal. Assim, quando da aquisição de deter-
minado equipamento, poderão ser trazidos para o valor presente os gastos estimados
com manutenção e/ou operação – v.g., consumo de combustível – durante determinado
período de tempo e adicionados ao custo de aquisição. Ganhará a licitação pelo menor
preço aquele produto que apresentar o menor resultado da soma do valor de aquisição e
custos de manutenção/operação. Ou seja, paradoxalmente, aquele cujo custo de aquisição
é menor poderá ser menos vantajoso economicamente em razão dos custos elevados de
manutenção/operação.9

No mesmo sentido, Luiz Fernando Biasi Staskowian discorre com absoluta razão:

A leitura da legislação em vigência deixa transparecer que houve sensível evolução no


sentido de prestigiar-se a qualidade dos bens e produtos adquiridos, em um movimento
que vem acelerado por dois catalisadores facilmente identificáveis e já descritos, con-
sistentes na compreensão de que o produto mais barato pode não ser o mais vantajoso
financeiramente no fim das contas e de que o administrado merece um serviço público
adequado, relembrando-se que, no mais das vezes, o usuário é quem é prejudicado pela
eventual baixa qualidade dos instrumentos adquiridos pelo Poder Público via licitação.
Quanto ao primeiro ponto, convém afirmar, agora com ainda mais razão diante da previsão
dos ativos em voga, que a análise de preços apresentados ao poder público comprador deve
seguir por critérios de custo-benefício há muito já compreendidos pela iniciativa privada. É
importante que se diga que, a despeito do necessário estabelecimento de regras de licitação
diferenciadas daquelas que regem a iniciativa privada no livre-mercado, nada impede
que haja um compartilhamento de boas práticas e de conceitos de economia de mercado
que se revelem benéficos ao serviço público, quando isso consagrar o interesse público.10

É importante esclarecer que a pesquisa de preços no ETP tem propósito distinto


daquela realizada no momento da elaboração do Termo de Referência. O levantamen-
to realizado no ETP busca aferir o valor das soluções indicadas e pode acarretar “na
alteração, adequação ou remodelagem do objeto a ser licitado, a fim de torná-lo mais
aderente e atrativo, o que fortalecerá a competitividade do certame e, consequentemente,
permitirá uma solução economicamente mais viável para a Administração”.11 Não há,
portanto, a coleta de várias fontes de uma mesma solução com o respectivo tratamento
estatístico, procedimento específico do TR.

9
ZYMLER, Benjamin; CANABRAVA DIOS, Laureano. Regime Diferenciado de Contratação – RDC. 3. ed. Belo
Horizonte: Fórum, 2014. p. 46.
10
HARGER, Marcelo (Coord.). Aspectos Polêmicos sobre a Nova lei de Licitações e Contratos Administrativos: Lei nº
14.133/21. Belo Horizonte: Editora Fórum, 2022. p. 287.
11
Texto extraído do livro de Henrique Campolina, em fase de finalização.

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23.5 Parâmetros para pesquisa de preços (art. 23, §1º)


O parágrafo 1º, do art. 23, prescreve como deve ser realizada a pesquisa de mer-
cado e indica os parâmetros que devem ser consultados, de forma combinada ou não.
Com efeito, a previsão da possibilidade de se consultar apenas um parâmetro
pode induzir à interpretação de que basta uma informação de valores para que a pes-
quisa seja atendida. Não é bem isso. Em todas as hipóteses há expressões (no plural)
ou procedimentos orientando uma consulta abrangente, de forma que não é suficiente
apenas uma fonte como base da parametrização. O inciso I, por exemplo, menciona a
consulta ao Portal Nacional de Contratações Públicas (PNCP) por meio da composição
de custos unitários menores ou iguais à mediana do item. A aplicação do método da
mediana exige que tenhamos, no mínimo, três informações. Lado outro, o inciso II men-
ciona a palavra “contratações similares” e o inciso III, “dados” de pesquisa. Por último,
temos a categoria da pesquisa com fornecedor que determina a coleta de preços com
no mínimo 3 (três) empresas. Assim sendo, o parágrafo 1º permite que um parâmetro
seja consultado, mas com apoio em várias orçamentações.
Registra-se, ainda, que a combinação de parâmetros reflete jurisprudência con-
solidada do TCU, o qual recomenda ampliar e diversificar as fontes das informações
coletadas para referência da pesquisa mercadológica, procedimento denominado,
vulgarmente, de “cesta de preços”.12 13 14 15 16 17
Sobre o assunto, cabe destacar trecho do voto condutor do Acórdão nº 527/2020
– Plenário – Relator Bruno Dantas:

01. Por fim, trago excerto do Voto condutor do Acórdão nº 2170/2007-TCU-Plenário (Rel.
Min. Ubiratan Aguiar), o qual elencou exemplos de fontes de pesquisa de preços, in verbis:
‘Esse conjunto de preços ao qual me referi como ‘cesta de preços aceitáveis’ pode ser oriun-
do, por exemplo, de pesquisas junto a fornecedores, valores adjudicados em licitações

12
Acórdão TCU nº 265/2010.
13
[...] ausência de orçamento do objeto a ser contratado com base em uma “cesta de preços aceitáveis”, oriunda, por
exemplo, de pesquisas junto à cotação específica com fornecedores, pesquisa em catálogos com fornecedores,
pesquisa em bases de sistema de compras, avaliação de contratos recentes ou vigentes, valores adjudicados em
licitações de outros órgãos públicos, valores registrados em atas de RP e analogia com compras/contratações
realizadas por corporações privadas, expurgados os valores que manifestamente não representem a realidade
do mercado e, ainda, devidamente detalhado a ponto de expressar a composição de todos os custos unitários.
(TCU, Acórdão nº 5.323/2010 – Primeira Câmara).
14
Recomendamos leitura do Manual de orientação de pesquisa de preços do STJ. (BRASIL. Superior Tribunal de
Justiça. Secretaria de Controle Interno. Manual de orientação: pesquisa de preço. Disponível em: https://www.
stj.jus.br/static_files/STJ/Licita%C3%A7%C3%B5es%20e%20contas%20p%C3%BAblicas/Manual%20de%20
pesquisa%20de%20pre%C3%A7o/manual_de_orientacao_de_pesquisa_de_precos.pdf. Acesso em 25 ago.
2021).
15
Acórdão TCU nº 819/2009.
16
Irregularidade: pesquisa de preços restrita à consulta a fornecedores, deixando de incluir contratações realizadas
por outros órgãos e não refletiu o objeto contratado devido às alterações realizadas posteriormente com
a inclusão de novo prazo de garantia (o período de garantia impacta a formação de preço de bens de TI),
sendo que no caso concreto houve uma redução significativa de 48 para doze meses e modificação do prazo
de vigência do contrato de 30 (trinta) meses de vigência para 24 (vinte e quatro), o que deveria ter ensejado a
realização de nova pesquisa de preços e realização de pregão na forma presencial. (Acórdão TCU nº 3.059/2020).
17
As estimativas de preços prévias às licitações devem estar baseadas em cesta de preços aceitáveis, tais como
os oriundos de pesquisas diretas com fornecedores ou em seus catálogos, valores adjudicados em licitações de
órgãos públicos, sistemas de compras (Comprasnet), valores registrados em atas de SRP, avaliação de contratos
recentes ou vigentes, compras e contratações realizadas por corporações privadas em condições idênticas ou
semelhantes. (Acórdão TCU nº 2.637/2015 – Plenário).

366

COMENTARIOS A NOVA LEI DE LICITACOES E COTNRATOS ADMINISTRATIVOS-V1.indb 366 08/11/2023 10:14:29


ART. 23

de órgãos públicos – inclusos aqueles constantes no Comprasnet, valores registrados


em atas do Sistema de Registros de Preços (SRP), entre outras fontes disponíveis, tanto
para os gestores como para os órgãos de controle – a exemplo de compras/contratações
realizadas por corporações privadas em condições idênticas ou semelhantes àquelas da
Administração Pública, desde que, com relação a qualquer das fontes utilizadas, sejam
expurgados os valores que, manifestamente, não representem a realidade do mercado.

Acórdão recente do TCU reitera essa recomendação:

1.5.4. Dar ciência (...) de que: (...) 1.5.4.2. Os certames licitatórios, ante o disposto nos arts.
26, parágrafo único, incisos II e III, e 43, inciso IV, da Lei nº 8.666/1993, assim como no art.
3º, inciso XI, do Decreto nº 10.024, de 20.09.2019, devem ser precedidos de pesquisa de
preços com base em cesta de preços aceitáveis, tais como os oriundos de pesquisas dire-
tas com fornecedores ou em seus catálogos, valores adjudicados em licitações de órgãos
públicos, sistemas de compras (Comprasnet), valores registrados em atas do Sistema de
Registros de Preços, avaliação de contratos recentes ou vigentes e compras e contratações
realizadas por corporações privadas em condições idênticas ou semelhantes.18

Enfim, há que se fazer uma coleta ampla, com o maior número possível de in-
formações, voltada a refletir com qualidade o valor do mercado.19 20
Por todo o exposto, é de se ter em conta que o mais acertado é a pesquisa merca-
dológica ser abrangente, efetiva e parametrizada em várias fontes, para melhor refletir
o mercado, sendo recomendado regulamentar esse procedimento.

23.5.1 Portal Nacional de Contratações Públicas (PNCP) (art. 23, §1º, I)


No dia 9 de agosto de 2021, foi lançado o Portal Nacional de Contratações Públicas
(PNCP), que tem o objetivo de integrar as unidades de compras da União, dos Estados,
do Distrito Federal e dos Municípios, promovendo a difusão de informações para aper-
feiçoamento, modernização e maior eficiência das compras públicas.
Esse dispositivo suscita alguns questionamentos. Vejamos.
A menção à composição de custos unitários quase sempre está vinculada a uma
planilha com os valores que envolvem um serviço ou obra. Desta feita, como adotar
a composição de custos unitários de item? A proposta comercial da licitante deverá
demonstrar quais elementos envolvem o valor de um item? Ou seja, essa expressão
pode levar a erro e, portanto, não é a mais adequada.

18
Acórdão TCU nº 817/2021 – Plenário.
19
A unidade instrutora apresenta, ainda, um comparativo de valores de outras licitações, o qual indica a possível
existência de sobrepreço em diversos itens registrados, da ordem de até 300% em alguns casos. Além da
baixa competitividade, menciona, como possível causa do suposto sobrepreço, a baixa qualidade da pesquisa
realizada pelo órgão. (Acórdão TCU nº 4530/2020).
20
2.3.6. Comprovar a vantajosidade/economicidade da composição dos grupos do Pregão Eletrônico – SRP
nº 4/2020, apresentando os fundamentos dos estudos de mercado realizados, de modo a demonstrar os
fornecedores aptos a atendê-la nos conjuntos definidos pelos respectivos agrupamentos, e não apenas em
itens individuais, uma vez que os grupos reúnem itens heterogêneos que, em princípio, poderiam ser licitados
separadamente, a fim de melhor aproveitar as particularidades do mercado, conforme preceitua o art. 15, inciso
IV, da Lei nº 8.666/1993 e a Súmula nº 247 do TCU (Acórdão TCU nº 4530/2020).

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COMENTARIOS A NOVA LEI DE LICITACOES E COTNRATOS ADMINISTRATIVOS-V1.indb 367 08/11/2023 10:14:29


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COMENTÁRIOS À LEI DE LICITAÇÕES E CONTRATOS ADMINISTRATIVOS: LEI Nº 14.133, DE 1º DE ABRIL DE 2021 – Vol. 1

Nessa linha é a orientação do Superior Tribunal de Justiça (STJ):

Conforme jurisprudência atual do Tribunal de Contas da União, somente será possível a


utilização de um preço único como parâmetro para pesquisa quando comprovadamente
não for possível obter cotações válidas no Portal de Compras Governamentais e em todas
as demais fontes de pesquisa.21

Ademais, qual a razão de fixar a metodologia da mediana do item e não incluir


a possibilidade de usar a média? Vale lembrar que a aplicação da mediana ou média
depende da amostragem de valores levantados.
Assim, como fixado, o especialista em pesquisas de preços, Henrique Campolina,
esclarece:

A mediana, que identifica o valor central do universo amostral, e a média, que utiliza todos
os valores em sua base de cálculo, são métodos previstos nas INs, nºs 73/2020 e 65/2021
para obtenção do preço estimado. Porém, uma dúvida recorrente dos agentes públicos
repousa no momento de suas escolhas.
Quando a amostragem é mais homogênea, ambos métodos tendem a retornar valores
próximos. Contudo, em dados mais heterogêneos, quando não é possível descartar, de
imediato, valores inexequíveis, inconsistentes e excessivamente elevados, a adoção da
mediana é mais indicada que a média, uma vez que seu cálculo buscará o preço central
e valores muito altos ou baixos não interferirão em seu resultado.22

A propósito, o Caderno de Logística da Seges traz o seguinte esclarecimento:

Existem outras técnicas (média ponderada, média saneada e outras) que podem ser uti-
lizadas, desde que devidamente justificadas pela autoridade competente. É importante
ressaltar que o emprego de qualquer que seja a metodologia não pode suceder em equívoco
ou levar a resultado diverso do fim almejado em lei.23

O TCU, com muito acerto, assim decidiu sobre o tema:

A definição da metodologia a ser empregada no processo de elaboração de pesquisa de pre-


ços se encontra nitidamente dentro do espaço de escolha discricionária da administração.24

Enfim, a criação do PNCP apresenta-se como excelente medida e espera-se que


possa atingir os fins para os quais foi criado, com eficiência e efetividade, mas a reda-
ção do inciso I não é a melhor e merece ser analisada com cuidado na elaboração dos
regulamentos específicos de cada órgão ou entidade pública.

21
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Secretaria de Controle Interno. Manual de orientação: pesquisa de
preço. Disponível em: https://www.stj.jus.br/static_files/STJ/Licita%C3%A7%C3%B5es%20e%20contas%20
p%C3%BAblicas/Manual%20de%20pesquisa%20de%20pre%C3%A7o/manual_de_orientacao_de_pesquisa_
de_precos.pdf. Acesso em 25 ago. 2021.
22
Trecho do livro “Pesquisa mercadológica”, em fase de produção.
23
Cf.: Prestação de serviços de limpeza, asseio e conservação: Ministério do Desenvolvimento, Orçamento e
Gestão. SEGES – Secretaria de Gestão, Brasília, 2017. (Caderno de Logística; Contratações públicas sus- tentáveis).
24
Acórdão TCU nº4952/2012 – Plenário.

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COMENTARIOS A NOVA LEI DE LICITACOES E COTNRATOS ADMINISTRATIVOS-V1.indb 368 08/11/2023 10:14:29


ART. 23

23.5.2 Contratações similares feitas pela Administração Pública (art.


23, §1º, II)
Outro parâmetro de pesquisa que pode ser utilizado são as contratações similares
de outros entes públicos, em execução ou concluídas no período de até 1 (ano) anterior
à data da coleta de preços.
A propósito, o TCU recomenda:

9.2.1. A necessidade de adoção de medidas com vistas a obter uma avaliação real e fidedigna
do valor de mercado dos bens e serviços de TI a serem licitados, realizando estimativas
que considerem, além de pesquisa de preços junto a fornecedores, outras fontes, como, por
exemplo, contratações em outros órgãos e entidades da Administração Pública, conforme
previsto no art. 15, inciso V, §1º, c/c o art. 43, inciso IV, da Lei nº 8.666/1993.25

Nesse parâmetro, estão incluídas as atas de registro de preços, com aplicação do


reajuste por meio de índice de atualização.

23.5.3 Mídia especializada, tabela de referência formalmente


aprovada pelo Poder Executivo federal e de sítios eletrônicos
especializados ou de domínio amplo (art. 23, §1º, III)
A pesquisa de preços em mídia especializada e em sítio eletrônico especializado
ou de domínio amplo deverá ser demonstrada por meio da juntada ao processo da
cópia da página com o preço, descrição do bem e data da consulta.
No caso das publicações especializadas, a comprovação se dará com a juntada
no processo da cópia da capa e da página pesquisada ou, alternativamente, indicado o
número da publicação e da página consultada.

23.5.4 Pesquisa direta com, no mínimo, 3 (três) fornecedores (art. 23,


§1º, IV)
A Ausência do modus faciendi da pesquisa mercadológica na Lei nº 8.666/93
levou o Tribunal de Contas a recomendar que fossem levantados 3 (três) orçamentos
distintos, elaborados por fornecedores que atuam no ramo da contratação (Acórdão
nº 3.068/2010-Plenário).
Com efeito, essa não foi a melhor estratégia para orientar a pesquisa merca-
dológica, já que os fornecedores não desejam antecipar sua estratégia de negócio e
oferecem valores, quase sempre, muito acima do praticado no mercado, manipulando
a orçamentação.
O TCU por várias vezes posicionou-se sobre esse tema.26 Cite-se, a propósito:

25
Acórdão TCU nº 299/2011 – Plenário.
26
A estimativa que considere apenas cotação junto a fornecedores pode apresentar preços superestimados, uma
vez que as empresas não têm interesse em revelar, nessa fase, o real valor a que estão dispostas a realizar o
negócio. Os fornecedores têm conhecimento de que o valor informado será usado para a definição do preço
máximo que o órgão estará disposto a pagar e os valores obtidos nessas consultas tendem a ser superestimados.
(Acórdão TCU nº 299/2011 – Plenário).

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CRISTIANA FORTINI, RAFAEL SÉRGIO LIMA DE OLIVEIRA, TATIANA CAMARÃO (Coords.)
COMENTÁRIOS À LEI DE LICITAÇÕES E CONTRATOS ADMINISTRATIVOS: LEI Nº 14.133, DE 1º DE ABRIL DE 2021 – Vol. 1

9. Em relação à afirmação de que a pesquisa de preços reflete o preço de mercado, observa-


-se que a pesquisa limitada a fornecedores, como foi o caso do (...), tende a apresentar
preços superestimados, uma vez que as empresas não têm interesse em divulgar os preços
efetivamente praticados antes da licitação, conforme observado no Guia de Boas Práticas
em Contratações de Soluções de Tecnologia da Informação do TCU:
4. Os fornecedores não revelam em suas propostas, antes da licitação, os preços que de
fato irão propor durante o certame, pois não têm estímulo para isso. Por isso, sabe-se,
de antemão, que os preços levantados de propostas comerciais preliminares são maiores
que os praticados nas condições de concorrência. Pode ser caro preparar uma proposta
comercial de boa qualidade (detalhada e confiável), pois exige a análise de diversos ele-
mentos do planejamento da contratação (e.g. requisitos, itens pontuáveis, quantidades a
contratar, modelos de execução do objeto e de gestão do contrato), assim os fornecedores
provavelmente não gastarão tempo e dinheiro com propostas comerciais prévias à licitação,
pois isso não lhes trará qualquer vantagem na licitação. Pelo contrário, pois quanto maior
a estimativa de preço feita pelo órgão, menor a probabilidade do preço final contratado
ser questionado. Essa é também uma razão para se ter muita cautela ao justificar a razoa-
bilidade de preços em dispensas de licitação com base apenas em propostas comerciais.27

Tal fato acabou por gerar distorções frequentes nas pesquisas, prejudicando a
sua real finalidade, já que o dimensionamento econômico realizado para aferir a des-
pesa não espelha o mercado, o que levou o Tribunal de Contas da União a mudar sua
orientação e a recomendar uma pesquisa mais abrangente com consulta a outras fontes
(Acórdão nº 265/2010 – Plenário).28
Com efeito, se esse parâmetro for adotado, há que se tomar algumas cautelas:

a) conceder prazo razoável de resposta;


b) informar que a consulta tem finalidade de cotação de preços;
c) consultar fabricante quando o volume da contratação for elevado e o comércio
quando se tratar de contratação de valores intermediários;
d) juntar aos autos do processo o comprovante do envio e reporte do fornecedor,
quando se tratar de consulta por e-mail;
e) juntar ao processo da pesquisa, feita presencialmente pelo representante
do órgão, o nome da empresa, a data da coleta, o nome e a assinatura do
responsável pelo fornecimento do preço. É possível, ainda, tirar foto para
comprovação do estabelecimento consultado;
f) juntar no processo do comprovante do levantamento o número do telefone, a
data, o horário, o nome da empresa, o CNPJ e o nome da pessoa responsável
pela informação;
g) registrar nos autos do processo da contratação correspondente a relação de
fornecedores que foram consultados e não enviaram propostas como resposta
à solicitação de orçamentação.

27
BRASIL. Tribunal de Contas da União. Guia de boas práticas em contratação de soluções de tecnologia da informação
– 1ª edição. 06 dez. 2012. Disponível em: https://portal.tcu.gov.br/biblioteca-digital/guia-de-boas-praticas-em-
contratacao-de-solucoes-de-tecnologia-da-informacao-1-edicao.htm. Acesso em 10 set. 2021.
28
c) realize uma detalhada estimativa de preços com base em pesquisa fundamentada em informações de diversas
fontes propriamente avaliadas. (Acórdão TCU nº 265/2010 – Plenário).

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COMENTARIOS A NOVA LEI DE LICITACOES E COTNRATOS ADMINISTRATIVOS-V1.indb 370 08/11/2023 10:14:29


ART. 23

Vale destacar que, no caso de fiscalização dos órgãos de controle interno e ex-
terno, o registro desses dados no processo é importante para efeito de comprovação
da realização da coleta.
Por fim, cumpre destacar que a Instrução normativa SEGES/ME nº 65, a qual
dispõe sobre o procedimento administrativo para a realização de pesquisa de preços
para aquisição de bens e contratação de serviços em geral, no âmbito da Administração
Pública federal direta, autárquica e fundacional, prevê, em seu art. 5º, IV, que a pesquisa
direta com, no mínimo, 3 (três) fornecedores, deverá ser feita mediante solicitação formal
de cotação, por meio de ofício ou e-mail, desde que seja apresentada justificativa da
escolha desses fornecedores e que não tenham sido obtidos os orçamentos com mais de
6 (seis) meses de antecedência da data de divulgação do edital. Essa orientação exclui
a possibilidade da consulta ser realizada por telefone.

23.5.5 Pesquisa na Base Nacional de Notas Fiscais Eletrônicas (art. 23,


§1º, V)
O Portal Nacional de Contratações Públicas (PNCP) tem, entre suas funcionali-
dades, oferecer o acesso à Base Nacional de Notas Fiscais Eletrônicas. Esse parâmetro
já vem sendo adotado em alguns estados com resultado exitoso.

23.6 Contratação de obras e serviços de engenharia (art. 23, §2º)


De acordo com o TCU,29 na orçamentação da obra são consideradas as especifi-
cações técnicas estabelecidas para os serviços e suas características específicas, e para
composição dos custos devem ser consultados os sistemas de referência de preços ou
as publicações técnicas.
O Decreto nº 7.983/13, que estabelece regras e critérios para elaboração do orça-
mento de referência de obras e serviços de engenharia contratados e executados com
recursos dos orçamentos da União e dá outras providências, prevê que o custo global
será obtido a partir da composições dos custos unitários previstos no projeto que in-
tegra o edital de licitação, menores ou iguais à mediana de seus correspondentes nos
custos unitários de referência do Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e Índices da
Construção Civil (Sinapi), excetuados os itens caracterizados como montagem industrial
ou que não possam ser considerados como de construção civil (art. 3º). Esse sistema
é mantido pela Caixa Econômica Federal (CEF), segundo definições técnicas de enge-
nharia desta instituição e de pesquisa de preço realizada pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE).
A propósito, assinala Bernardo Wildi Lins:

O dispositivo, portanto, estabeleceu uma hierarquia entre as fontes dos preços itens unitá-
rios de uma obra ou serviço de engenharia consideradas legítimas para fins de elaboração
do orçamento estimado da contratação: primeiro, devem ser utilizados valores iguais ou
menores do que a média dos valores constantes nas tabelas SICRO (Sistema de Custos

29
BRASIL. Tribunal de Contas da União. Obras públicas. 4. ed. Brasília: TCU, 2014. Disponível em: https://portal.
tcu.gov.br/data/files/1E/26/8A/06/23DEF610F5680BF6F18818A8/Obras_publicas_recomendacoes_basicas_
contratacao_fiscalizacao_obras_edificacoes_publicas_4_edicao.PDF. Acesso em 10 set. 2021.

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COMENTARIOS A NOVA LEI DE LICITACOES E COTNRATOS ADMINISTRATIVOS-V1.indb 371 08/11/2023 10:14:29


CRISTIANA FORTINI, RAFAEL SÉRGIO LIMA DE OLIVEIRA, TATIANA CAMARÃO (Coords.)
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de Obras Rodoviárias) ou SINAPI (Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e Índices de


Construção Civil), aplicáveis a depender da situação; segundo, a utilização de informa-
ções constantes em bancos de dados de pesquisas ou tabelas de referências aprovadas
pelo Poder Executivo federal; terceiro, dados de contratações similares realizadas pela
Administração Pública; e, quarto, pesquisa na base nacional de notas fiscais eletrônicas,
hipótese ainda dependente da edição de regulamento.30

Vale ressaltar que as orientações de pesquisas previstas no Decreto tiveram suas


premissas chanceladas para aplicação no âmbito da Administração Pública Federal
direta, autárquica e fundacional, por meio da publicação da IN SEGES nº 72/21.
No caso de serviços e obras de infraestrutura de transportes, o custo global
de referência será obtido a partir das composições dos custos unitários previstas no
projeto que integra o edital de licitação, menores ou iguais aos seus correspondentes
nos custos unitários de referência do Sistema de Custos Referenciais de Obras (Sicro),
cuja manutenção e divulgação caberá ao Departamento Nacional de Infraestrutura de
Transportes (DNIT), excetuados os itens caracterizados como montagem industrial ou
que não possam ser considerados como de infraestrutura de transportes (art. 4º).
Sobre o tema, cita-se entendimento do TCU:

[...] utilize, nas licitações para obras e serviços de engenharia, os sistemas oficiais para
apuração do valor do objeto licitado, tais como SICRO ou SINAPI, em observância ao
disposto no art. 115 da Lei nº 11.439/2006 (LDO/2007), de forma a evitar-se consultas
prévias de preços de mercado junto a empresas que poderão participar do certame, com
evidentes prejuízos ao princípio constitucional da isonomia, previsto no art. 3º da Lei nº
8.666/93, o qual assegura a igualdade de condições a todos os concorrentes, prevista no
inciso XXI do art. 37 da Constituição Federal. (Acórdão TCU nº 1191/2007 – Plenário).

O Decreto prevê, ainda, que no caso de inviabilidade da definição dos custos,


parametrizados na tabela SINAPI, SICRO ou em outros sistemas de referência de cus-
tos aprovados pelo Ministério da Economia, a estimativa de custo global poderá ser
apurada por meio da utilização de dados contidos em tabela de referência formalmente
aprovada por órgãos ou entidades da Administração Pública Federal em publicações
técnicas especializadas, em sistema específico instituído para o setor ou em pesquisa de
mercado. O TCU alerta, ainda, que as fontes de consulta devem ser indicadas na me-
mória de cálculo do orçamento, fazendo parte da documentação do processo licitatório.
Corroborando esse entendimento, transcrevemos passagem da obra de Valmir
Campelo e Rafael Jardim Cavalcante:

Nas obras e serviços de engenharia, portanto, a fundamentação dos preços-base dos ins-
trumentos convocatórios deve replicar os custos presentes naqueles sistemas oficiais. As
pesquisas de preço devem ser utilizadas unicamente quando não existente determinado
insumo ou serviços naqueles paradigmas legais – caso em que deverão ser apresentadas,
no mínimo, três propostas. Quando existir comprovada inexatidão no valor oferecido
naqueles sistemas, também se admite a pesquisa, acompanhado de documentação hábil

30
HARGER, Marcelo (Coord.). Aspectos Polêmicos sobre a Nova lei de Licitações e Contratos Administrativos: Lei nº
14.133/21. Belo Horizonte: Editora Fórum, 2022. p. 134.

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COMENTARIOS A NOVA LEI DE LICITACOES E COTNRATOS ADMINISTRATIVOS-V1.indb 372 08/11/2023 10:14:29


ART. 23

para demonstrar, materialidade, a dita inconsistência (vide Acórdão nº 157/2009 – TCU


– Plenário).31

23.6.1 Pesquisa de preços e BDI


Com relação ao BDI, cumpre trazer o alerta de Valmir Campelo e Rafael Jardim
Cavalcante:

Quando se tratar de pesquisas de preços de serviços, deve haver o cuidado de


não duplicar, total ou parcialmente, o BDI já embutido no preço do serviço pesquisado.
Via de regra, os preços sondados já embutem os custos indiretos necessários à execução
daqueles encargos contratuais (como tributos, custos administrativos e lucro). Aplicar,
novamente, o BDI contratual sobre o valor da pesquisa pode redundar na sobreavaliação
de preços do serviço em comparação com os de mercado, mormente quando o serviço
for executado diretamente pela futura contratada (sem a subcontratação).32

23.7 Utilização de outros sistemas de custos por Municípios, Estados e


Distrito Federal, desde que não envolvam recursos da União (art.
23, §3º)
O parágrafo 3º prevê que outros sistemas de custos podem ser adotados pelos
Municípios, pelos Estados e pelo Distrito Federal quando não envolverem recursos da
União. Com isso, esses entes poderão consultar outros sistemas similares ao painel de
preços e plataformas de preços.
A propósito, cita-se o painel de pesquisa de preços do Tribunal de Contas de
Minas Gerais – o SICOM, o qual serve como ferramenta de consulta para os órgãos e
entidades mineiros.
Com o propósito de alimentar a cesta de preços mercadológicos, é possível uti-
lizar ferramentas de pesquisa de entidades e empresas privadas, como, por exemplo,
o banco de dados do IPEAD, Negócios Públicos, Zênite, entre outros. Além disso, re-
comenda-se incluir na cesta os valores de contratos praticados pelo próprio órgão ou
entidade pública contratante.
Sobre o tema, cumpre trazer a notícia de decisão do TCE/MG:

Consulta nº 924.244 – Processo de contratação pública – Estimativa do custo do objeto


e indicação do critério de aceitabilidade dos preços – Imprescindibilidade de pesquisa
de preços – A pesquisa deve basear-se em instrumento(s) de reconhecida idoneidade –
Contratação de empresa especializada em banco de preços – Possibilidade, desde que
obedecidas todas as normas aplicáveis sobre orçamento, finanças e contratação pública
– Necessidade de documentação da pesquisa nos autos.
A. Na contratação pública, com ou sem certame licitatório, é imprescindível a pesquisa
de preços;

31
CAMPELO, Valmir; CAVALCANTE, Rafael Jardim. Obras públicas comentários à jurisprudência do TCU. 4. ed.
Belo Horizonte: Fórum, 2018. p. 605.
32
CAMPELO, Valmir; CAVALCANTE, Rafael Jardim. Obras públicas comentários à jurisprudência do TCU. 4. ed.
Belo Horizonte: Fórum, 2018. p. 605.

373

COMENTARIOS A NOVA LEI DE LICITACOES E COTNRATOS ADMINISTRATIVOS-V1.indb 373 08/11/2023 10:14:29


CRISTIANA FORTINI, RAFAEL SÉRGIO LIMA DE OLIVEIRA, TATIANA CAMARÃO (Coords.)
COMENTÁRIOS À LEI DE LICITAÇÕES E CONTRATOS ADMINISTRATIVOS: LEI Nº 14.133, DE 1º DE ABRIL DE 2021 – Vol. 1

B. A pesquisa de preços deve basear-se em instrumento – ou instrumentos – de reconhecida


idoneidade, para evidenciar os preços que estão sendo efetivamente praticados no mercado;
C. Banco de preços mantido por prestador de serviços especializados constitui, em prin-
cípio, instrumento idôneo para a pesquisa de preços na contratação pública;
D. O agente público responsável pela contratação deve avaliar os instrumentos idôneos
disponíveis para a pesquisa de mercado, a 5m de selecionar qual deles – ou qual conjunto
deles – é o mais adequado, no caso concreto;
E. A pesquisa de preços deve ser documentada nos autos do processo de contratação
pública, até mesmo para viabilizar o exercício dos controles interno e externo;
F. Na contratação, pelo Poder Público, de prestador de serviços especializados de banco
de preços, devem ser obedecidas todas as normas aplicáveis sobre orçamento, finanças e
contratação pública, particularmente as da Lei nº 8.666/93.

O 1º Simpósio de Licitação e Contratos da Justiça Federal, evento promovido


pelo Centro de Estudos Judiciários do Conselho da Justiça Federal (CEJ/CJF), também
enunciou a mesma orientação: “Ferramenta privada de pesquisa de preços mantida por
prestador de serviços especializados constitui instrumento idôneo (parâmetro) para a
pesquisa de preços na contratação pública” (Enunciado 23).33

23.8 Análise crítica e métodos para estimar preço


Após a coleta de preços, feita, preferencialmente, com vários parâmetros e fontes,
faz-se necessário realizar uma análise crítica dos valores levantados,34 35 36 aplicando
deflatores e expurgos dos valores destoantes e que impactam negativamente a pesquisa.37
Nesse diapasão é entendimento do TCU: “A pesquisa de preços que antecede a
elaboração do orçamento de licitação demanda avaliação crítica dos valores obtidos”.38 39
De acordo com o Manual da Advocacia-Geral da União (AGU), com vistas a
evitar a fixação de um preço médio incompatível com o de mercado, deve o consulente:

– verificar se a variação de valores ocorre em razão da qualidade do produto;

33
Os enunciados estão disponíveis para consulta no Portal do CJF, por meio do link: BRASIL. Conselho da
Justiça Federal. I Simpósio de Licitações e contratos da Justiça Federal. Enunciados aprovados. 2022. Disponível
em: https://www.cjf.jus.br/cjf/corregedoria-da-justica-federal/centro-de-estudos-judiciarios-1/publicacoes-1/
cjf/corregedoria-da-justica-federal/centro-de-estudos-judiciarios-1/publicacoes-1/licita-contat-jf. Acesso em 17
mar. 2023.
34
A pesquisa de preços que antecede a elaboração do orçamento de licitação demanda avaliação crítica dos
valores obtidos. (TCU. Acórdão nº 403/2013-Primeira Câmara).
35
Cotação de preços realizada pela unidade de compras, sem análise crítica dos preços inexequíveis ou excessivos
apresentados, sem avaliação crítica da condição dos fornecedores e sem utilização de outras fontes e parâmetros
de avaliação dos preços de mercado, mesmo com diversos alertas da Procuradoria-Geral do Estado do Amapá
sobre as falhas nos procedimentos adotados, com violação do art. 7º, §2º, inciso II, da Lei nº 8.666/1993 e em
desacordo com jurisprudência deste Tribunal, a exemplo do Acórdão nº 1108/2007-TCU-Plenário; (Acórdão nº
3224/2020 – Plenário).
36
Não é admissível que a pesquisa de preços de mercado feita pela entidade seja destituída de juízo crítico
acerca da consistência dos valores levantados, máxime quando observados indícios de preços destoantes dos
praticados no mercado. (Acórdão TCU nº 1108/2007-TCU-Plenário).
37
9.5.7.6. Definir método para a estimativa de preços, considerando uma cesta de preços, levando em conta as
diretrizes contidas na IN SLTI 5/2014. (Acórdão nº 4539/2020).
38
Acórdão TCU nº 403/2013-Primeira Câmara.
39
“Não é admissível que a pesquisa de preços de mercado feita pela entidade seja destituída de juízo crítico
acerca da consistência dos valores levantados, máxime quando observados indícios de preços destoantes dos
praticados no mercado”. (Acórdão TCU nº 1.108/2007-TCU-Plenário).

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COMENTARIOS A NOVA LEI DE LICITACOES E COTNRATOS ADMINISTRATIVOS-V1.indb 374 08/11/2023 10:14:29


ART. 23

– em caso positivo, por meio do departamento técnico competente, definir todas


as qualidades que o produto solicitado deve apresentar para a satisfação do
interesse público e, a partir daí, cotar o preço dos produtos que apresentarem
a qualidade especificada e definir o preço médio;
– em caso negativo, fixar o preço médio, desconsiderando os valores
demasiadamente discrepantes eventualmente apresentados por uma das
empresas, sem se descurar, contudo, da exigência de o preço médio ser fixado
a partir de, pelo menos, três orçamentos.40

No mesmo sentido, já decidiu o TCU:

Os valores obtidos por meio dessas consultas que sejam incapazes de refletir a realidade
de mercado devem ser desprezados sob pena de comprometer a seleção de proposta van-
tajosa para a entidade contratante. (Acórdão nº 868/2013, TC nº 002.989/2013-1, 10.04.2013).

Na depuração dos valores pesquisados, uma técnica interessante de ser adotada


é o gráfico de dispersão ou de linhas, para fins de demonstrar, de maneira objetiva, o
quão determinado valor se afasta da realidade dos demais preços. Tais gráficos podem
ser facilmente criados por intermédio de programa de planilhas eletrônicas (ex.: Excel
e Calc), no qual são inseridos os valores pesquisados e suas origens, gerando como
produto um gráfico com a notoriedade da discrepância apontada.41
Depois de eliminar os preços inexequíveis, inconsistentes ou excessivos, passa-se
à aplicação de método ou critério para estimar o valor da contratação, o qual pode ser
o menor valor ou a média ou mediana dos preços obtidos.42
Registra-se que essa é a recomendação do TCU: “2.7.1.2. Pesquisa de preços reali-
zada, com respectiva metodologia, contendo todas as fontes utilizadas como parâmetro,
incluindo as propostas das empresas eventualmente consultadas”.43
É importante aplicar o método de obtenção de resultado mais assertivo e justificar
sua adoção, considerando as amostragens dos valores levantados. Lembrando que no
caso de limitação mercadológica, com poucas fontes, não há como adotar a média ou
a mediana, as quais são empregadas apenas em condições de mercado competitivo.44
Ademais, cabe mencionar que a Lei não trouxe o entendimento de “preço esti-
mado”, de “sobrepreço” e de “preços aceitáveis”. É vital contemplar essas definições
em regulamento próprio, pois há muita confusão na identificação do preço máximo e
estimado.

40
Cf.: Manual de Procedimentos para a Contratação de bens e serviços pelos órgãos públicos federais. 2. ed. AGU,
2012. Disponível em: https://rafaelauditoria.files.wordpress.com/2018/03/2-8-contratac3a7c3b5es-de-bens-e-
servic3a7os-agu.pdf. Acesso em 01 ago. 2021.
41
Acórdão TCU nº 2.908/2013.
42
9.2.1. Desenvolvam métodos eficientes para a crítica e pesquisa de preços dos materiais a serem adquiridos,
estabelecendo procedimento padronizado de forma a possibilitar juízo crítico dos valores levantados, evitando
compras por preços destoantes e antieconômicos em datas próximas devido a não utilização da melhor
negociação disponível; (Acórdão TCU nº 28/2013 – Plenário).
43
Acórdão nº 4530/2020.
44
7. No entanto, ainda que os valores contratados pudessem ser menores, não estaria caracterizada a existência
de sobrepreço. Em face do desconto concedido pela vencedora do certame, seus preços unitários para os itens
que foram orçados com base nas medianas acabaram se situando, quase que totalmente, abaixo das menores
cotações. (Acórdão TCU nº 8514/2017 – Segunda Câmara).

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CRISTIANA FORTINI, RAFAEL SÉRGIO LIMA DE OLIVEIRA, TATIANA CAMARÃO (Coords.)
COMENTÁRIOS À LEI DE LICITAÇÕES E CONTRATOS ADMINISTRATIVOS: LEI Nº 14.133, DE 1º DE ABRIL DE 2021 – Vol. 1

A Instrução Normativa SEGES/ME nº 65, que dispõe sobre o procedimento ad-


ministrativo para realização de pesquisa de preços para aquisição de bens e contratação
de serviços em geral, no âmbito da Administração Pública federal direta, autárquica e
fundacional, define, em seu art. 2º, “preço estimado” e “sobrepreço”:

I – preço estimado: valor obtido a partir de método matemático aplicado em série de


preços coletados, devendo desconsiderar, na sua formação, os valores inexequíveis, os
inconsistentes e os excessivamente elevados; e
II – sobrepreço: preço orçado para licitação ou contratado em valor expressivamente
superior aos preços referenciais de mercado, seja de apenas 1 (um) item, se a licitação ou
a contratação for por preços unitários de serviço, seja do valor global do objeto, se a lici-
tação ou a contratação for por tarefa, empreitada por preço global ou empreitada integral.

Para o TCU, o “Orçamento” ou “valor orçado” ou “valor de referência” ou sim-


plesmente “valor estimado” não se confundem com o preço máximo. O “valor orça-
do”, a depender da previsão editalícia, pode eventualmente ser definido como “preço
máximo” a ser praticado em determinada licitação, mas não necessariamente (TCU,
Acórdão nº 392/2011- Plenário).
Ainda nessa linha de intelecção, é o entendimento do TCU: preço aceitável é
aquele que não se encontra abaixo do limite inferior, nem acima do maior valor cons-
tante da faixa identificada para o produto ou serviço.45
Por fim, a Nova Lei não prevê a possibilidade de utilização de percentual acima
ou abaixo do valor estimado depois de tratado. A Instrução Normativa nº 65 da SEGES/
ME prevê essa prerrogativa no art. 6º, §2º: “Com base no tratamento de que trata o
caput, o preço estimado da contratação poderá ser obtido, ainda, acrescentando ou
subtraindo determinado percentual, de forma a aliar a atratividade do mercado e a
mitigar o risco de sobrepreço”.
É importante que os órgãos e as entidades públicas criem normas estabelecendo
os critérios e procedimentos a serem adotados nas pesquisas.46 O TCU, por várias vezes,
posicionou-se sobre a necessidade de regulamentar a pesquisa de preços, com ênfase
na consulta de várias fontes47 e metodologias a serem observadas.

23.9 Limitação de mercado


Se o cotista não conseguir levantar de forma abrangente as fontes sugeridas no
art. 23, deverá justificar as razões pelas quais não teve êxito.
Nesse sentido é orientação do TCU: “Diante de eventuais dificuldades na pesqui-
sa de preços, basta o gestor comprovar a existência dessas limitações, evitando assim
que o processo de compras se arraste no tempo, às vezes até prejudicando o benefício
obtido com a compra”. (Acórdão nº 2.203/2005 – 1ª Câmara).

45
Acórdão nº 2.170/07, Plenário, Rel. Min. Ubiratan Aguiar, DOU, 19 dez. 2007.
46
BRASIL. Tribunal de Contas do Estado do Espírito Santo. Portaria Normativa nº 071, de 23 de outubro de 2017.
Dispõe sobre os procedimentos administrativos básicos para a realização de pesquisa de preços visando à aquisição
de bens e contratação de serviços em geral no âmbito do TCEES. DOEL, Espírito Santo, 26 out. 2017. Disponível
em: https://www.tcees.tc.br/wp-content/uploads/2017/10/Port-N-n%C2%BA-071-2017-Disp%C3%B5e-sobre-os-
procedimentos-administrativos-b%C3%A1sicos-para.pdf. Acesso em 10 mai. 2021.
47
Acórdão nº 2.622/2015 – TCU – Plenário.

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COMENTARIOS A NOVA LEI DE LICITACOES E COTNRATOS ADMINISTRATIVOS-V1.indb 376 08/11/2023 10:14:29


ART. 23

Essa é a orientação da Instrução Normativa nº 65 da SEGES/MG:

Art. 6º, §5º. Excepcionalmente, será admitida a determinação de preço estimado com
base em menos de três preços, desde que devidamente justificada nos autos pelo gestor
responsável e aprovada pela autoridade competente.

23.10 Pesquisa de preços nas contratações diretas (art. 23, §4º)


Este parágrafo orienta como deve ser feita a justificativa de preços decorrente de
inexigibilidade e dispensa de licitação quando não for possível estimar o valor do objeto
com base nos parâmetros citados nos parágrafos 1º, 2º e 3º do art. 23, a qual poderá ser
feita por meio da apresentação de comprovante de contratações semelhantes de objetos
de mesma natureza ou notas fiscais emitidas para outros contratantes,48 no período de
até 1 (um) ano anterior à data da contratação direta pelo órgão ou entidade pública.49
Resta evidente, na utilização da expressão semelhante, que é possível contratar
objeto de mesma natureza, mas não necessariamente idênticos. É muito comum a de-
manda não se enquadrar como similar ao objeto que já foi contratado pela empresa.
No caso da dispensa emergencial, o art. 23 não estipula como deve se dar a pes-
quisa, mas recomenda consultar o maior número possível de fornecedores no mercado,
seguindo os roteiros com parâmetros e procedimentos previstos nos parágrafos 1º, 2º e
3º do art. 23, e considerando tratar-se de exceção à licitação com divulgação mais restrita.
Nesses termos é a orientação do Tribunal de Contas da União:

9.2. Alertar à (...) que, quando da realização de dispensa de licitação nos termos do art.
24, inciso IV, da Lei nº 8666/1993, além da caracterização da situação emergencial ou
calamitosa que justifique a dispensa, deve-se trazer elementos aos autos do processo que
demonstrem a compatibilidade dos preços contratados com aqueles vigentes no merca-
do ou com os fixados por órgão oficial competente, ou, ainda, com os que constam em
sistemas de registro de preços, bem como que foi consultado o maior número possível
de fornecedores ou executantes, em atenção aos incisos II e III do parágrafo único do art.
26 dessa lei. (Acórdão nº 2.019/2010-Plenário).50

23.11 Regulamentação e documentos da pesquisa


Um ponto de atenção dos órgãos e entidades públicas diz respeito à regulamenta-
ção da pesquisa de preços considerando a sua realidade. A elaboração do regulamento
deve contar com a participação das áreas de assessoria jurídica e de controle interno.

48
“2. A justificativa de preço em contratação decorrente de inexigibilidade de licitação (art. 26, parágrafo único,
inciso III, da Lei nº 8.666/1993) pode ser feita mediante a comparação do valor ofertado com aqueles praticados
pelo contratado junto a outros entes públicos ou privados, em avenças envolvendo o mesmo objeto ou objeto
similar. (TCU, Informativo de Licitações e Contratos nº 361).
49
Orientação Normativa nº 17 da AGU: a razoabilidade do valor das contratações decorrentes de inexigibilidade
de licitação poderá ser aferida por meio da comparação da proposta apresentada com os preços praticados pela
futura contratada junto a outros entes públicos e/ou privados, ou outros meios igualmente idôneos.
50
Outros acórdãos do TCU sobre o tema: “Nas contratações diretas fundadas em emergência (art. 24, inciso IV,
da Lei nº 8.666/1993), cabe ao gestor demonstrar a impossibilidade de esperar o tempo necessário à realização
de procedimento licitatório, em face de risco de prejuízo ou comprometimento da segurança de pessoas e de
bens públicos ou particulares, além de justificar a escolha do fornecedor e o preço pactuado”. (Acórdão nº
1130/2019-TCU-Primeira Câmara).

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CRISTIANA FORTINI, RAFAEL SÉRGIO LIMA DE OLIVEIRA, TATIANA CAMARÃO (Coords.)
COMENTÁRIOS À LEI DE LICITAÇÕES E CONTRATOS ADMINISTRATIVOS: LEI Nº 14.133, DE 1º DE ABRIL DE 2021 – Vol. 1

Um dos temas que devem fazer parte do ato normativo diz respeito à elabo-
ração do documento que serve de substrato para confecção da pesquisa. A Instrução
Normativa nº 65 da SEGES/ME serve como boa prática, pois traz alguns elementos que
este documento deve conter:

Art. 3º A pesquisa de preços será materializada em documento que conterá, no mínimo:


I – descrição do objeto a ser contratado;
II – identificação do(s) agente(s) responsável(is) pela pesquisa ou, se for o caso, da equipe
de planejamento;
III – caracterização das fontes consultadas;
IV – série de preços coletados;
V – método estatístico aplicado para a definição do valor estimado;
VI – justificativa para a metodologia utilizada, em especial para a desconsideração de
valores inconsistentes, inexequíveis ou excessivamente elevados, se aplicável;
VII – memória de cálculo do valor estimado e documentos que lhe dão suporte; e
VIII – justificativa da escolha dos fornecedores, no caso da pesquisa direta de que dispõe
o inciso IV do art. 5º.

23.12 Responsabilidade do Agente de Contratação e Pregoeiro


A pesquisa de preços deve espelhar o valor mercadológico e se apoiar em várias
fontes. O agente de contratação ou pregoeiro, quando recebe o processo licitatório, deve
ter atenção com a feitura da pesquisa e verificar se a coleta foi ampla e, caso contrário,
se há no processo justificativa para limitação mercadológica.
A equipe de planejamento ou o cotista ficará responsável pelos dados que a
pesquisa informa. Com isso, a responsabilização não é do agente de contratação ou
pregoeiro. Nesse sentido é o acórdão TCU nº 3.516/2007-1C U:

2. Não constitui incumbência obrigatória da CPL, do pregoeiro ou da autoridade superior


realizar pesquisas de preços no mercado e em outros entes públicos, sendo essa atribui-
ção, tendo em vista a complexidade dos diversos objetos licitados, dos setores ou pessoas
competentes envolvidas na aquisição do objeto.
3. Não cabe responsabilização por sobrepreço de membros da CPL, do pregoeiro ou da
autoridade superior, quando restar comprovado que a pesquisa foi realizada observando
critérios técnicos aceitáveis por setor ou pessoa habilitada para essa finalidade.

Ronny Charles, focalizando aspecto interessante sobre o tema, registra que a


premissa de responsabilização não pode ser generalizada.

Assim como a segregação de funções é uma técnica necessária ao escorreito desenvolvimento


da atividade administrativa, também deve sê-la a segregação das responsabilidades. Em
nossa opinião, a comissão de licitação ou o pregoeiro não têm, nem devem ter, a função de
avaliar a estimativa técnica feita pelo órgão competente, sob pena de criarmos um processo
pouco eficiente, uma ‘cultura do medo’, em que diversos setores passem a lançar infindáveis
dúvidas sobre atividades da competência de outrem, em atitude de auto preservação, a qual
tem o intuito individual (às vezes egoístico) de evitar eventuais responsabilizações, mas, ao
final, pode acabar por prejudicar a eficiência do processo licitatório.51

51
TORRES, Ronny Charles Lopes de. Leis de licitações públicas comentadas. 12. ed. São Paulo: Ed. JusPodivm, 2021.
p. 168.

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COMENTARIOS A NOVA LEI DE LICITACOES E COTNRATOS ADMINISTRATIVOS-V1.indb 378 08/11/2023 10:14:29


ART. 23

Todavia, essa isenção dos demais atores do processo licitatório, com relação à
pesquisa mercadológica, não pode ser vista de forma absoluta. Sob essa perspectiva,
o TCU decidiu52 que

O fato de não constar menção a item específico do edital infringido pelo pregoeiro não
inviabiliza a audiência do responsável, tendo em vista que a sua conduta não deve obe-
decer apenas ao que está disposto no edital, mas sim a todo o arcabouço jurídico que
fundamenta as regras editalícias, tais como a Lei nº 8.666/1993 e o Decreto nº 7.170/2010.

Por conseguinte, não pode o agente de contratação ou pregoeiro alegar inocência


ou desconhecimento das orientações acerca do procedimento que deve ser adotado
para feitura da pesquisa.

23.13 Cuidados que os licitantes devem ter


Não é novidade que a Administração Pública sofre com a falta de organização e
planejamento, o que resulta, muitas vezes, em contratações superfaturadas ou na aqui-
sição de produtos que não atendem à qualidade desejada pela unidade demandante.
Em decorrência, os órgãos de controle responsabilizam os gestores públicos
pela desídia ou por irregularidades na produção dos documentos preparatórios da
licitação, já que geraram prejuízo passivo para o erário. Não é incomum, também, es-
sas condenações resvalarem nas empresas contratadas, que acabam sofrendo sanções
pelos danos causados.
Fato é que atribuir à Administração Pública toda sorte de infortúnios, retirando
dos licitantes sua conivência para o acarretamento da contratação maculada com irre-
gularidades, é avaliar a situação com opacidade.
Algumas vezes, é possível que a empresa contribua para a prática do ato ilícito.
É a hipótese, por exemplo, da pesquisa de preços na qual a empresa, acobertada pela
posição privilegiada de ser apenas uma consulta informal de preços praticados no
mercado, oferece valor que impacta no preço referencial da licitação.
Amparados na lógica de que a orçamentação serve de parâmetro para proposta
comercial, muitas empresas apresentam seus preços muito acima dos de mercado e do
próprio preço que pratica, pois a pesquisa constante do processo chancela a oferta supe-
rior. Agora, essa prática está sendo rechaçada pelos órgãos de controle, com apenação
da empresa que se propuser a ofertar preços destoantes daqueles que comercializa. A
propósito, o TCU já se pronunciou:

Responsabilidade. Licitação. Orçamento estimativo. Solidariedade. Licitante.


Superfaturamento. Preço de mercado. Proposta de preço.
Os licitantes, sob risco de responderem por superfaturamento em solidariedade com os
agentes públicos, têm a obrigação de oferecer preços que reflitam os paradigmas de mer-
cado, ainda que os valores fixados pela Administração no orçamento-base do certame se
situem além daquele patamar.

52
Acórdão TCU nº 3059/2020.

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CRISTIANA FORTINI, RAFAEL SÉRGIO LIMA DE OLIVEIRA, TATIANA CAMARÃO (Coords.)
COMENTÁRIOS À LEI DE LICITAÇÕES E CONTRATOS ADMINISTRATIVOS: LEI Nº 14.133, DE 1º DE ABRIL DE 2021 – Vol. 1

Acórdão nº 183/2019 Plenário (Tomada de Contas Especial, Relator Ministro Benjamin


Zymler).53

Essa situação assume contorno mais grave, caso a empresa participe da orça-
mentação e, no momento do torneio licitatório, oferece valor abaixo do que informou
inicialmente. Essa prática de manipulação de valores passou pelo crivo do TCU, que
decidiu responsabilizar as empresas que atuam dessa maneira: “É dever do licitante
ofertar preços compatíveis com os paradigmas de mercado, independentemente de
haver erro no orçamento do órgão contratante. Pior ainda será a responsabilidade da
empresa se ela tiver contribuído para a elaboração da estimativa errada”.54
Por isso, é importante que as empresas fiquem antenadas e se preocupem com
os atos e documentos elaborados na fase preliminar da licitação, em especial a pesquisa
mercadológica.

53
“Os comandos da Lei nº 8.666/1993 se direcionam tanto ao agente público quanto ao privado, que renuncia em
alguma medida ao ambiente de liberdade econômica que prevalece nos contratos privados”. (Acórdão TCU nº
1.304/2007 – Plenário).
54
67. Entretanto, isso não é relevante para o deslinde da matéria, uma vez que, como será demonstrado a
seguir, cabia à licitante cumprir a regra deduzida do art. 43, inciso IV, da Lei nº 8.666/1993, qual seja, ofertar
preços compatíveis com os praticados pelo mercado, independentemente de eventual erro cometido pela
Administração quando da elaboração do edital e do orçamento. (Acórdão nº 1.304/2017 – Plenário).

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