Caderno de Resumos Do VIII Vozes Do Direito Contemporâneo 1st Edition Centro de Estudos Jurídicos Do PPGD Ufpr Rick Daniel Pianaro Da Silva

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Caderno de Resumos do VIII Vozes do

Direito Contemporâneo 1st Edition


Centro De Estudos Jurídicos Do Ppgd
Ufpr Rick Daniel Pianaro Da Silva
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Edition Gustavo Cives Seabra

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Rick Daniel Pianaro da Silva Presidente
Pedro Henrique Carvalho da Costa Vice-Presidente
Claudia Beeck Moreira de Souza Secretária
Ana Cláudia Milani e Silva Tesoureira
Emmanuella Magro Denora Diretora Cultural
Marcus Paulo Röder Diretor de Eventos

Alice de Perdigão Lana Representante Mestrado


Bruno Kons Franco Suplente Mestrado
Fábio Rezende Braga Representante Doutorado
Emmanuella Magro Denora Suplente Doutorado

Sérgio Said Staut Jr. Nádia Rubia Biscaia


Vera Karam de Chueri Nicolly Carvalho Nogues
Melina Girardi Fachin Vivian Carla da Costa
Taysa Schiocchet Dorival Assi Junior
Clayton Maranhão Gustavo Dalpupo de Lara
Paulo Nalin Michele Hastreiter
Gustavo Adolfo A. de Almeida Marcus Schubert
Clara Roman Borges Mariana Pimentel
Heloisa Fernandes Câmara Juliana Pavão
Farracha de Castro Advogados Andersen Ballão Advocacia
Araúz & Advogados Associados Fachin Advogados Associados

Conselho Editorial: Ana Cláudia Milani e Silva (UFPR), Claudia Beeck Moreira de Souza (UFPR),
Emmanuella Magro Denora (UFPR), Fabio Rezende Braga (UFPR), Gustavo Dalpupo de Lara
(UFPR), Marcus Schubert (UFPR), Mariana Pimentel (UFPR), Michele Hastreiter (UFPR).

CEJUR - VIII Vozes do Direito Contemporâneo


17 e 18 de maio de 2021 – even3.com.br/cejur
Foram recebidos 41 resumos para a mostra científica do VIII Vozes. As
submissões se concentraram na área de Direito do Estado, com 51,2% dos
trabalhos, ao passo que Relações Sociais e Direitos Humanos e Democracia
representaram, cada uma, 24,4% dos envios:

Além do estado do Paraná, que concentra o maior número de submissões,


foram recebidos trabalhos de mais 7 estados, incluindo São Paulo, Mato Grosso
do Sul, Goiás, Rio Grande do Norte, Santa Catarina, Piauí e Minas Gerais:

USP
UniBrasil
UNESP
UFSC
UFRN
UFPR
UFOP
UFGD
UFG
PUCPR
FMU - SP
FAM - SP
FACULDADE MAURÍCIO DE NASSAU - PI
FACULDADE EDUCACIONAL DA LAPA - PR
Católica SC
ABDConst - PR
0 2 4 6 8 10 12 14

O formato virtual permite maior intercâmbio entre pesquisadoras(es) de


diversas localidades do país, construindo um ambiente plural de debates,
principal marca do VIII Vozes do Direito Contemporâneo.
Sumário

DIREITOS HUMANOS E DEMOCRACIA ............................................................................................. 8

DEPOIMENTO SEM DANO, POLÍTICA DE ENFRENTAMENTO À VIOLÊNCIA SEXUAL


CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES E A “JUDICIARIZAÇÃO DE PROBLEMAS SOCIAIS”
......................................................................................................................................................................9
Ana Carolina Garcia

O ECOAR DA VOZ DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA: MOVIMENTOS SOCIAIS E A RUPTURA


DE PARADIGMA .......................................................................................................................................9
Beatriz Fracaro

ESCRAVIDÃO CONTEMPORÂNEA: CONTRASSENSO ANACRÔNICO OU REALIDADE


VELADA?.................................................................................................................................................. 10
Caroline Lisboa Belo do Ó Ismael

DA BIOPOLÍTICA À NECROPOLÍTICA NA POLITIZAÇÃO DA PANDEMIA PELO GOVERNO


FEDERAL: A AMEAÇA AOS DIREITOS HUMANOS NA BATALHA DOS PODERES ............... 11
Daniela Antunes Chierice Davanso

LUZ, CÂMERA, JURISDIÇÃO: APROXIMAÇÕES SOBRE A ALIENAÇÃO DO DIREITO NA ERA


DO ESPETÁCULO .................................................................................................................................. 12
Fábio Marques Gonçalves

A LICENÇA-PATERNIDADE NO BRASIL: REFLEXOS DA DESIGUALDADE DE GÊNERO E


A DIVISÃO SEXUAL DO TRABALHO ................................................................................................. 13
Geanne Gschwendtner

O BOTO ROSA E A CIFRA NEGRA: REPENSANDO A LENDA AMAZÔNICA SOB A


PERSPECTIVA DA NEGAÇÃO DE DIREITOS .................................................................................. 14
Kamayra Gomes Mendes

O DIREITO DO TRABALHO DE EXCEÇÃO E A PANDEMIA NO BRASIL: Uma análise da ADI


6363........................................................................................................................................................... 15
Michael Willian Conradt

AS FALHAS DO SISTEMA JURÍDICO BRASILEIRO COMO FATOR MOTOR DA CORRUPÇÃO


.................................................................................................................................................................... 16
Myrelle Ferreira G. Rodrigues

A VIOLAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS AOS CORPOS INDESEJADOS: RAÇA E


MIGRAÇÃO .............................................................................................................................................. 16
Stefany de Lucas
DIREITO DAS RELAÇÕES SOCIAIS................................................................................................... 18

O JUDICIÁRIO NA SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO: UM CONTEXTO, MUITAS


PROSPECÇÕES ...................................................................................................................................... 19
Caio Pacca Ferraz de Camargo

A MITIGAÇÃO DO PRINCÍPIO DA CONGRUÊNCIA EM FAVOR DA REPARAÇÃO ADEQUADA


DOS DANOS EXTRAPATRIMONIAIS ................................................................................................ 20
Gabriel Alves Fonseca

VIOLAÇÃO POSITIVA DO CONTRATO E RESPONSABILIDADE CIVIL: BREVES


CONTROVÉRSIAS DOUTRINÁRIAS E JURISPRUDENCIAIS PERMEADAS ENTRE A FIGURA
DO INADIMPLEMENTO TOTAL E MORA DA OBRIGAÇÃO........................................................... 21
Isabora Lucek Gaspar

O “BOTÃO DO PÂNICO” E A PL 3314/20 COMO MECANISMOS DE MITIGAÇÃO DA


VIOLÊNCIA DOMÉSTICA EM TEMPOS DE PANDEMIA ............................................................... 22
Letícia Lopes Borja

O ‘DISPUTE SYSTEM DESIGN’ COMO AUXILIAR NO PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO DAS


EMPRESAS ............................................................................................................................................ 23
Mariana de la Cruz Faxina

PRECEDENTE JUDICIAL COMO CARGA ARGUMENTATIVA: UM ESTUDO “PRAGMÁTICO”


DA EFICÁCIA VINCULANTE DAS DECISÕES DOS TRIBUNAIS SUPERIORES .................... 24
Alberto Luiz Hanemann Bastos

O CONTRADITÓRIO ENTRE OS LITIGANTES DE MASSA: ANÁLISE DAS DECISÕES DE


ADMISSIBILIDADE DO IRDR NO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARANÁ ....... 25
Felipe Delle

TUTELA DE DIREITOS FUNDAMENTAIS EM PERSPECTIVA COMPARATÍSTICA: O AMPARO


IBERO-AMERICANO E AS AÇÕES CONSTITUCIONAIS BRASILEIRAS ................................. 26
Lívia Losso Andreatini

DESIGUALDADE E TECNOLOGIA SOB A LUZ DA CRITICAL LEGAL STUDIES .................... 27


Sâmia Souza Carvalho

A REPARAÇÃO NÃO PECUNIÁRIA DOS DANOS EXTRAPATRIMONIAIS .............................. 28


Vivian Carla da Costa
DIREITO DO ESTADO ........................................................................................................................... 30

A ECOLOGIZAÇÃO DO DIREITO FRENTE AOS REFLEXOS DA PANDEMIA DA COVID-19 . 31


Amanda Camille de Paula Nasser

O STANDARD DE PROVA NOS CRIMES SEXUAIS ....................................................................... 31


André Szesz

SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS) E IMPLEMENTAÇÃO DE SAÚDE DIGITAL NO BRASIL


................................................................................................................................................................... 32
Bárbara Mendonça Bertotti

A ESCUTA ESPECIALIZADA DE CRIANÇAS E DE ADOLESCENTES COMO POLÍTICA


CRIMINAL ............................................................................................................................................... 33
Bruna Araújo Cesário Lima

CONTROLE INTERNO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA COMO INSTRUMENTO PRÉVIO


PARA EVITAR IRREGULARIDADES EM PROCEDIMENTOS LICITATÓRIOS.......................... 34
Chaiene Meira de Oliveira

EMPRESAS ESTATAIS E GOVERNANÇA CORPORATIVA: as políticas de transações entre


partes relacionadas em sociedades de economia mista........................................................ 35
Bruno Henrique Kons Franco

PRISÃO DE PARLAMENTARES: DESNATURAÇÃO INTERPRETATIVA? ................................ 36


Erick Kiyoshi Nakamura

O PATRIOTISMO CONSTITUCIONAL COMO NOVO ELO SOCIAL BRASILEIRO .................... 37


Leonardo Soares Brito

O PARTIDO POLÍTICO MILITAR NA CONTEMPORANEIDADE: A INCOMPATIBILIDADE COM


O PROJETO CONSTITUINTE DE 1988............................................................................................... 38
Lucas de Souza Prates

ANÁLISE SOBRE O INQUERITO DAS FAKE NEWS ..................................................................... 39


Pedro Rodrigo Alcântara de Sousa Freitas

MULHERES, ALIMENTO E PANDEMIA: intersecções entre gênero e segurança alimentar


e nutricional .......................................................................................................................................... 40
Eduarda Camargo Sansão

O ÂMBITO DE ALCANCE E OS LIMITES À INCIDÊNCIA DO TIPO DE OBSTRUÇÃO DE


JUSTIÇA ................................................................................................................................................... 41
Ivan Navarro Zonta

A DOUTRINA DO STRICT SCRUTINY COMO TÉCNICA DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS


FUNDAMENTAIS E DE CONTENÇÃO AO CONSTITUCIONALISMO ABUSIVO ....................... 42
Leandro de Oliveira Teixeira

A EFICIÊNCIA DAS POLÍTICAS PÚBLICAS E A PARTICIPAÇÃO POPULAR ATRAVÉS DAS


REDES SOCIAIS .................................................................................................................................... 43
Luísa Fófano Chudzij

LANÇAMENTO E AUTOVINCULAÇÃO: PERSPECTIVAS DE ESTABILIZAÇÃO DA RELAÇÃO


JURÍDICA TRIBUTÁRIA ....................................................................................................................... 44
Nádia Rubia Biscaia

AS POLÍTICAS PÚBLICAS DE COMBATE À VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E SEXUAL CONTRA


MULHERES IMIGRANTES E REFUGIADAS EM DOURADOS, ESTADO DE MATO GROSSO
DO SUL .................................................................................................................................................... 45
Valesca Luzia Leão Luiz

A JURISPRUDÊNCIA DO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 4ª REGIÃO EM MATÉRIA DE


CONCESSÃO DOS 10 MEDICAMENTOS DE ALTO CUSTO MAIS DEMANDADOS NA JUSTIÇA
FEDERAL E ESTADUAL ...................................................................................................................... 46
Vinicius Silva Nascimento

O MOVIMENTO POR JUSTIÇA AMBIENTAL NA SOCIEDADE SOCIEDADE DE RISCO.......47


Ygor de Siqueira Mendes Mendonça
DEPOIMENTO SEM DANO, POLÍTICA DE ENFRENTAMENTO À VIOLÊNCIA SEXUAL
CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES E A “JUDICIARIZAÇÃO DE PROBLEMAS
SOCIAIS”
Ana Carolina Garcia
Universidade Estadual Paulista - UNESP – Campus Franca

No ano de 2003, surge no sul do Brasil uma “nova técnica” para oitiva de crianças
e adolescentes vítimas ou testemunhas de violência sexual. A técnica que ficou
conhecida como “depoimento sem dano” passou a ser utilizada pelo Poder Judiciário
com a finalidade de garantir a coleta de prova judicial oral e, ao mesmo tempo, “evitar”
que crianças ou adolescentes sofressem com a chamada revitimização ou vitimização
secundária, conceito criminológico que se refere à vítima que, além de sofrer a
violência física, emocional ou econômica, sofre nova violência diante das agências de
controle formal e órgãos de persecução criminal do Estado, quando, dentro do
processo judicial ou na fase do inquérito policial, padecem com as ações ou omissões
de tais órgãos, adquirindo, por vezes, traumas ainda maiores que os sofridos diante da
violência inicial. Desde o início da utilização da técnica, entretanto, muitos profissionais
do direito, da psicologia e do serviço social passaram a debater sobre o potencial dano
psíquico e emocional associado a oitivas de crianças e adolescentes em processos
judiciais dessa natureza. Além das contribuições críticas desses profissionais que
apontam para uma inevitável manutenção do fenômeno da revitimização, outro
fenômeno merece debate acerca do uso da técnica do depoimento sem dano como
política de enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes. Trata-se
de um observado crescimento da procura do Poder Judiciário para a resolução de
conflitos e problemas sociais que, por vezes, requerem remédios alheios à atuação
deste Poder ou que ao menos se encontram fora de seu alcance. A partir disso, este
estudo propõe análise do uso da técnica do depoimento sem dano como expressão da
“judiciarização de problemas sociais”, reduzindo a política de enfrentamento da
violência sexual contra crianças e adolescentes a uma política criminal e em busca de
um eficientismo penal. Para viabilização da discussão, utilizou-se de revisão
bibliográfica, organizada por meio do método dedutivo de abordagem.
Palavras-chave: depoimento sem dano, política de enfrentamento à violência
sexual contra crianças e adolescentes, judiciarização de problemas sociais.

O ECOAR DA VOZ DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA: MOVIMENTOS SOCIAIS E A


RUPTURA DE PARADIGMA
Beatriz Fracaro
Centro Universitário Autônomo do Brasil - UniBrasil

Por um longo tempo, a deficiência foi mantida em uma zona de total invisibilidade.
Ademais, tornou-se comum pessoas com deficiência ocuparem papeis e espaços
sociais que os ditos “normais” lhes reservavam. Historicamente, em algumas
sociedades da Antiguidade, suas vidas foram ceifadas; na Idade Média, essas pessoas
foram associadas a castigos divinos; já na Modernidade, foram alvo de objetificação
científica, o que resultou, a princípio, na segregação e, posteriormente, no processo de
integração, o qual apresenta um viés ainda excludente de tratamento. No século XX,
esse histórico de discriminação e estigmatização passou a ser contestado por
movimentos sociais “de” pessoas com deficiência, em especial nas décadas de 1970 e
1980. O objeto de estudo do presente trabalho são os referidos movimentos, com ênfase
na sua contribuição para o rompimento do paradigma médico de deficiência,
tipicamente moderno, e para a consolidação do paradigma social, voltado à plena
inclusão. No Brasil, a ascensão e desenvolvimento do movimento coincidem com o
declínio do regime militar, seguido do processo de redemocratização que viabilizou a
participação efetiva de pessoas com deficiência na Constituinte, inclusive insurgindo-
se contra propostas que visavam destinar-lhes no texto constitucional um capítulo
específico. Almejavam conquistar tratamento isonômico, e não especial. Entretanto,
apesar da abertura da Constituição de 1988 ao pluralismo e heterogeneidade social,
permaneceu em seu texto final uma predominante nota assistencialista, com vistas à
proteção e reabilitação da pessoa com deficiência. Todavia, a experiência histórica
aponta para uma linha tênue entre excessiva proteção e tirania. Desse modo, as
pessoas com deficiência seguiram engajadas na busca pela plena inclusão, e, sob o
lema “Nada Sobre Nós Sem Nós”, participaram da elaboração da Convenção
Internacional Sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (CDPD), documento que
adota o modelo social e transfere o foco das limitações individuais para as barreiras
da sociedade. O Brasil tornou-se seu signatário em 2007, e em seguida a internalizou
com status constitucional. Disso resultou a aprovação da Lei nº 13.146/2015 (Estatuto da
Pessoa com Deficiência), um microssistema normativo que impõe a adequação da
legislação nacional aos princípios e diretrizes convencionais. A partir da pesquisa,
desenvolvida por meio do método dedutivo e do procedimento bibliográfico, verifica-se
que a ruptura do paradigma médico/reabilitador de deficiência decorre de um processo
intenso e contínuo de mobilização social, que surge fragmentado e por iniciativa de
terceiros e, posteriormente, se torna uma demanda unificada e com participação direta
das pessoas com deficiência. Dele resultou, no plano interno, o reconhecimento e
transversalidade dos seus direitos na Constituição Federal de 1988 (abertura ao
pluralismo), e, no plano internacional, a aprovação da CDPD, que é símbolo da
cooperação entre Estados para a inclusão da pessoas com deficiência. Todavia, em
sede conclusiva, aponta-se para um cenário atual de coexistência entre os modelos
médico e social de abordagem da deficiência, de modo que o processo inclusivo ainda
não é pleno. Trata-se de uma luta contínua, cujos instrumentos centrais são informação
adequada, conjugação de esforços e garantia de vez e voz às pessoas com deficiência,
enquanto protagonistas de sua própria história.
Palavras-chave: Direitos humanos e fundamentais; Modelos médico e social;
Movimentos sociais; Pessoa com deficiência; Pluralismo.

ESCRAVIDÃO CONTEMPORÂNEA: CONTRASSENSO ANACRÔNICO OU REALIDADE


VELADA?
Caroline Lisboa Belo do Ó Ismael
Faculdade Educacional da Lapa - FAEL

A partir da pesquisa bibliográfica, desenvolvida por meio do método dedutivo,


tem-se por objeto a conceituação do trabalho análogo ao de escravo nas relações
laborais atuais. Para tanto, faz-se necessário o resgate histórico do conceito de
escravidão, desde a Antiguidade até o período contemporâneo, com esteio no conceito
de tempo histórico, proposto por Antoine Prost. Em seguida, busca-se a característica
do escravismo que se perdura em todo o curso histórico: a subjugação do semelhante
que se julga inferior. Nessa toada, especificamente quanto ao período contemporâneo,
faz-se necessário analisar como a pandemia do Covid-19 influenciou na flexibilização
das relações trabalhistas. Em razão das condições precárias de subsistência, os
trabalhadores foram compelidos a desempenharem atividades laborais em regime
análogo ao de escravo na mudança do trabalho desempenhado presencialmente para
o ambiente virtual, em redes, tomando-se o conceito de “sociedade em redes”, de
Manuel Castells. Na sequência, para compreender como aquela relação de subjugação
ocorre, se averiguam os ensinamentos da filósofa Hannah Arendt, na célebre obra
Origens do Totalitarismo. Entende-se que, embora esta obra seja ambientada na
Segunda Guerra Mundial, possui elementos que podem ser aplicados a toda e qualquer
relação de subjugação. Em relação à disseminação de características de determinado
indivíduo ou de uma coletividade como deletérias e indesejáveis ao grupo dominante, é
imprescindível fazer um cotejo com o conceito de “stalinismo de mercado”, de Mark
Fisher, na célebre obra Realismo Capitalista. Embora seja contemporânea, esta obra
possui elementos que também podem ser aplicados à relação de subjugação, em
comento. Em seguida, analisam-se os instrumentos jurídicos estrangeiros e nacionais,
no que concerne ao conceito e ao combate ao trabalho análogo ao de escravo,
amparado nos regramentos da OIT e do direito comparado. Ademais, não se pode
perder de vista que a mera persistência do trabalho análogo ao de escravo fere o
princípio fundante de todo o ordenamento jurídico brasileiro e, quiçá, do pensamento
jurídico neoconstitucionalista: a dignidade da pessoa humana. Assim, conclui-se que a
escravidão contemporânea não se limita a restrição da locomoção, mas vai além,
abrangendo os conceitos de jornadas exaustivas e condições degradantes. E estas
espécies não podem ser negligenciadas, quer na conceituação, quer no combate àquela
mazela social. Isso porque se observa uma tendência, ao menos no Brasil, de redução
do conceito de trabalho análogo ao de escravidão à restrição da liberdade de
locomoção. O que vai de encontro a todo o aparato histórico e aos direitos fundamentais
mais sensíveis dos trabalhadores, como a dignidade da pessoa humana, a garantia de
salário não inferior ao mínimo, repouso, alimentação, dentre outros.
Palavras-chave: Trabalho análogo ao de escravo; Dignidade da pessoa
humana; subjugação.

DA BIOPOLÍTICA À NECROPOLÍTICA NA POLITIZAÇÃO DA PANDEMIA PELO GOVERNO


FEDERAL: A AMEAÇA AOS DIREITOS HUMANOS NA BATALHA DOS PODERES
Daniela Antunes Chierice Davanso
Mestranda em Direito vinculada ao PPG da FCHS – UNESP/Franca

O trabalho resultou em artigo científico que tornou-se capítulo de livro voltado


para a temática bioética. O estudo originou-se a partir de pesquisa básica com caráter
exploratório, que buscou discutir a postura política do poder executivo federal desde a
vitória eleitoral em 2018 até o encontro com a crise sanitária da pandemia de COVID-
19. Os dados e informações foram colhidos mediante os métodos de procedimento de
pesquisa bibliográfica e pesquisa documental de fontes distintas, tais como obras
literárias, artigos científicos, notícias de jornal e jurisprudência do Supremo Tribunal
Federal (STF). Foram selecionados alguns acontecimentos paradigmáticos
protagonizados pelo governo federal (de 2018 à 2021) cogitando sua aproximação com
o modelo de Estado Mínimo, em contraposição ao Modelo de Estado Democrático de
Direito inaugurado pela Constituição Federal de 1988 (CF/88). Adotando-se como marco
teórico central a obra “A Batalha dos Poderes”, de Oscar Vilhena Vieira, dela foram
extraídos alguns conceitos detectáveis nestas condutas e decisões empreendidas pelo
executivo federal, que foram tomadas como paradigmas nesta análise. Mediante
aplicação do método de abordagem dialético, procurou-se demonstrar que, no contexto
da sociedade pós-moderna atual, em pleno processo de transição e de crise de
modelos, existem contradições intrínsecas entre a postura do poder executivo federal
e a missão garantidora da CF/88. Explorando os conceitos de “jogada dura”, “mal estar
constitucional” e de “estocada” (nas expressões de Oscar Vilhena) demonstrou-se o
impacto dos paradigmas selecionados sobre a democracia nacional e sobre o Estado
Providência, identificando-se o recrudecimento neoliberal na administração federal.
Como resultado, interpreta-se que o desgaste dos institutos jurídico-constitucionais e
do mecanismo de freios e contrapesos somado ao advento da Pandemia da COVID-19
contribuiu para a superação de uma postura biopolítica (conforme Michel Foucault),
evoluindo-se para uma postura necropolítica (conforme Achile Mbembe), como forma
de dominação, colocando-se em risco os direitos humanos fundamentais.
Palavras-chave: Biopolítica. Necropolítica. Direitos Humanos Fundamentais.
Estado Mínimo. Estado Democrático de Direito

LUZ, CÂMERA, JURISDIÇÃO: APROXIMAÇÕES SOBRE A ALIENAÇÃO DO DIREITO NA


ERA DO ESPETÁCULO
Fábio Marques Gonçalves
Universidade Estadual Paulista (UNESP)

O objetivo do trabalho é responder ao questionamento sobre o que é o direito na


era do espetáculo, ou seja, busca-se compreender em que o direito se transforma
quando o império espetacular passa a se espraiar e dominar todas as esferas da vida.
Para tanto, delineia-se a realidade que, na sociedade do espetáculo (Guy Debord), se
apresenta como pano de fundo para a construção do pensamento jurídico e para a
aplicação do direito, de modo a se possibilitar a compreensão das relações perniciosas
que se dão entre o mundo altamente massificado e espetacular (com seus sentidos
sendo construídos pelas mídias) e o modo ocidental de se conceber o fenômeno
jurídico-político. Conclui-se que o direito, na era do espetáculo, também passa a se
construir de modo espetacular, sempre ocultando a violência que subjaz às suas
práticas, o que ocasiona a impossibilidade de superação (definitiva) do autoritarismo –
algo que pode ser verificado, de modo explícito, na democracia brasileira, na qual se dá
a ocorrência de um estado de exceção (Giorgio Agamben) que, gradativamente, se torna
a regra das práticas cotidianas do Estado, especialmente do Poder Judiciário. O
trabalho se desenvolveu pela técnica de revisão bibliográfica e, partindo da noção de
que o método é um caminho provisório de abordagem da temática da pesquisa, buscou
seu horizonte metodológico na elaboração de um quadro referencial teórico com
conceitos harmonicamente relacionados. O quadro teórico construído teve por
preocupação a manutenção de coerência teórico-filosófica, com a articulação,
principalmente, de autores e conceitos que conseguissem trazer ao debate a revolução
ocorrida na filosofia, no século XX, que estabeleceu a nova forma como se passou a
pensar a linguagem e as ciências humanas.
Palavras-chave: Estado de Direito; Sociedade do Espetáculo; Biopolítica;
Jurisdição; Estado de Exceção.

A LICENÇA-PATERNIDADE NO BRASIL: REFLEXOS DA DESIGUALDADE DE GÊNERO E


A DIVISÃO SEXUAL DO TRABALHO
Geanne Gschwendtner
Católica-SC

Considerando como marco histórico a Assembleia Nacional Constituinte de 1987,


na qual a articulação das mulheres através do Conselho Nacional dos Direitos da
Mulher (CNDM) atuou em prol de reivindicações de direitos fundamentais e garantias
constitucionais. O presente artigo em desenvolvimento possui como objeto e intuito a
análise crítica da licença-paternidade no ordenamento jurídico brasileiro. Originada na
Consolidação das Leis Trabalhistas de 1943 (CLT), ainda sem essa nomenclatura, a
licença-paternidade concedia ao pai 1 (um) dia de ausência do trabalho sem prejuízo. A
principal motivação era reservar ao pai um dia para que ele realizasse o registro da
criança em repartição pública competente. Apenas com o advento da Constituição da
República Federativa do Brasil de 1988, a pretensão, levantada principalmente pelas
mulheres constituintes, consolidou o inciso XIX no artigo 7º e a licença-paternidade
ganhou o caráter de direito social e garantia fundamental. Entretanto, o texto
constitucional refere que os termos específicos relacionados ao tema devam ser
fixados em lei, e até que seja dado a devida regulamentação, o prazo da licença seria
de 5 (cinco) dias. Até hoje aplicado em regra conforme o texto constitucional, a licença-
paternidade permanece sem a normatização. Entende-se, portanto, que a licença-
paternidade em prazo irrisório reforça a desigualdade de gênero e a divisão sexual do
trabalho na qual o cuidado do lar e da família é exercido exclusivamente pela mulher.
A disparidade com a licença-maternidade é injustificável, vez que superado os fatores
biológicos, a convivência de ambos os genitores beneficia a todos. Almejando uma
análise dentro da perspectiva de gênero, o artigo em andamento, preza por reconhecer
as protagonistas desse o marco histórico constitucional, bem como compreender a
lacuna legislativa ainda não solucionada da licença-paternidade. O problema da
pesquisa questiona se o acesso das mulheres ao mercado de trabalho e a sua
manutenção nele são prejudicados em razão do prazo efêmero da licença-paternidade.
Através do método de pesquisa bibliográfico, levantando como hipótese principal a
regulamentação e aumento da licença-paternidade como meio capaz de reduzir a
desigualdade de gênero no trabalho. A pertinência do tema é justificada uma vez que a
garantia constitucional ainda que assegurada, permanece sem a devida
regulamentação específica frente a urgência de superar a desigualdade de gênero e a
divisão sexual do trabalho no país. O resultado esperado da pesquisa em andamento, é
comprovar que uma normatização da licença-paternidade pode ser um caminho efetivo
para ampliar o direito social à convivência do pai com a criança recém-nascida ou
adotada e consequentemente modificar o cenário de acesso e manutenção das
mulheres no mercado de trabalho no Brasil.
Palavras-chave: Licença-paternidade; Desigualdade de Gênero; Divisão sexual
do trabalho; Direito Constitucional; Direitos sociais.

O BOTO ROSA E A CIFRA NEGRA: REPENSANDO A LENDA AMAZÔNICA SOB A


PERSPECTIVA DA NEGAÇÃO DE DIREITOS
Kamayra Gomes Mendes
Universidade Federal do Paraná

As lendas são uma forma de linguagem que permeia o imaginário amazônico e


dentre as mais conhecidas está a do boto cor-de-rosa. Relata-se que o boto é um
animal que se transforma em homem, engravida as moças das comunidades e no dia
seguinte volta ao seu estado anterior, desaparecendo do convívio com o filho. Apesar
da origem imprecisa, a história é utilizada para amenizar práticas de abandono e
estrupro, em uma região de difícil acessibilidade na reclamação de direitos. Assim, este
trabalho intencionou extrair as nuances dos direitos violados na história imaginada,
verificar o motivo de sua repetição e propor formas de elucidação e acompanhamento
adequado dos casos. Foram utilizadas balizas da sociologia jurídica, criminologia e
psicanálise na compreensão do problema, bem como foram realizadas conversas com
pessoas vítimas de tal estigma, conhecidos como “de filhos de boto. Verificou-se, ao
menos de formal parcial, que tanto o abandono parental quanto a violência sexual não
são denunciados ao poder judiciário muitas vezes por vergonha e falta de apoio
extrajurídico, o que pode indicar uma deficiência de amparo que considere as
peculiaridades de denúncia na região. Dentre as propostas de ações estratégicas para
o desenvolvimento econômico, social e ambiental da região ribeirinha e cabocla,
compatível com os objetivos do desenvolvimento sustentável (ODS), está a atuação, por
instituições como Defensoria Pública e Conselho Nacional de Justiça, na promoção de
acesso à justiça e articulação com as mulheres vítimas de tal abuso para a elucidação
das condutas e direcionamento aos meios de ressarcimento. Mas a presença dessas
instituições em um local tão extenso como a geografia amazônica ainda se faz de
maneira precária. Como solução provisória, propõe-se o fomento ao trabalho de
grupos e organizações locais que através de meios terapêuticos e artísticos
possibilitam a expressão de tão doloroso tema em uma rede confiável de apoio, para a
partir daí se promover um redirecionamento para as instituições jurídicas estatais.
Nota-se que o trabalho de assembleias comunitárias funciona melhor na região, dada
a estreita ligação das pessoas em um contexto interiorano e a necessidade dos
aparelhos jurídicos não excluírem a forma de expressão indígena e cabocla, operando,
assim, em dialética e aprendizado, modelo mais próximo aos acordos que o Estado
brasileiro se comprometeu internacionalmente.
Palavras-chave: Abandono Parental. Cifra negra. Sociologia Jurídica.
O DIREITO DO TRABALHO DE EXCEÇÃO E A PANDEMIA NO BRASIL: Uma análise da
ADI 6363
Michael Willian Conradt
PPGD-UFPR

O presente estudo tem como objeto a Ação Direta de Inconstitucionalidade 6363,


na qual o Supremo Tribunal Federal reputou constitucional norma da Medida Provisória
936/2020 que introduziu a permissão da redução salarial por negociação individual
durante a pandemia. Trata-se de estudo de caso realizado a partir do conceito de Direito
do Trabalho de Exceção, categoria apresentada pelo jurista português Antônio Casimiro
Ferreira no contexto das políticas de austeridade impostas na Europa após a crise de
2008. Segundo o autor, a austeridade impõe ao Direito do Trabalho a perda de sua
identidade político-jurídica, em especial pela imposição de medidas neoliberais através
da afirmação de que a flexibilização e a desregulamentação aumentam a
competitividade e diminuem o desemprego. Em tal perspectiva, o Poder Judiciário apto
ao controle de constitucionalidade recebe o papel de dar subsistência às decisões
políticas da austeridade e aprofundamento da retirada de direitos no trabalho, tendendo
a sustentar juridicamente a argumentação da exceção, por meio de uma valorização da
singularidade no momento crítico. O problema central diz respeito à adequação ou não
deste modelo teórico à realidade juslaboral brasileira no contexto pandêmico. A partir
da decisão pelo Supremo Tribunal Federal da Ação Direta de Inconstitucionalidade nº
6.363, constata-se que a corte considerou constitucional norma que abriu a
possibilidade de redução salarial por meio de negociação individual no contexto
pandêmico, a despeito da restrição do artigo 7º, inciso VI, da Constituição Federal.
Prevaleceu a tese de que o dispositivo constitucional que condiciona a validade da
redução salarial à negociação coletiva se aplicaria somente a situações de
“normalidade”. Em uma exceção provocada por violenta crise sanitária, com efeitos
sociais e econômicos imediatos, a compreensão da maioria da corte foi no sentido de
que há constitucionalidade de norma que relativiza o próprio texto expresso da
Constituição. Neste sentido, o voto do ministro Gilmar Mendes foi emblemático, ao
apontar a atividade da Corte Constitucional portuguesa, em razão da sua atuação em
situações de crise: “Nos tempos em que nós estamos vivendo – e passamos por
diversas crises – a ‘emergência do apagão’ nos vem à memória como um caso que
podemos catalogar, como fazem os amigos portugueses, na chamada ‘jurisprudência
de crise’”. Identifica-se, assim, inspiração na atuação da corte portuguesa, bem como
um forte indício da aplicabilidade do conceito de Direito do Trabalho de exceção na
jurisdição constitucional brasileira, especialmente no contexto pandêmico. A
observação da excepcionalidade como argumento jurídico capaz de respaldar norma
inconstitucional fortalece hipótese segundo a qual o Brasil se vale do momento crítico
para aprofundar o desmantelamento de direitos coletivos do trabalho e reafirmar a
desvalorização da autonomia coletiva, confirmando uma tendência percebida no Direito
do Trabalho brasileiro desde a Reforma Trabalhista de 2017.
Palavras-chave: Direito do Trabalho de exceção; Pandemia; Negociação
Coletiva; Supremo Tribunal Federal.
AS FALHAS DO SISTEMA JURÍDICO BRASILEIRO COMO FATOR MOTOR DA
CORRUPÇÃO
Myrelle Ferreira G Rodrigues
Faculdade das Américas - FAM

Este estudo tem por finalidade refletir acerca das falhas do sistema jurídico Brasileiro
como fator motor da corrupção. Compreendendo as raízes históricas, sociais e
jurídicas da corrupção no Brasil. Percebendo suas fissuras desde o Brasil colonial, com
os padres da companhia de Jesus em seus primeiros momentos até os dias atuais,
transitando pelos principais julgados apontando e compreendendo a falha do sistema
jurídico. Bem como perceber o traço patriarcal e patrimonialista as dificuldades de
separação do público privado das relações do sistema jurídico Brasileiro.
Compreendendo assim as razoes pelas quais a certeza da impunidade e os excessos
de oportunidades para desviar recursos públicos são fatores que podem ser
compreendidos como motores da corrupção. Este estudo justifica-se com o objetivo
de perceber onde estão os âmagos da corrupção e as razões pelas quais ela se
sustenta na sociedade Brasileira. Pretende-se com os resultados desta
pesquisa compreender a matriz histórica da corrupção, deseja-se responder à
pergunta “Porque há falha do sistema jurídico Brasileiro? e" Porque a falta da
culpabilidade fomenta a corrupção?" Assim através de investigação objetiva de
pesquisa bibliográfica, descritiva compreender os fatos como são vistos bem como
utilizar método dialético através de uma investigação da realidade. Pretende-se
apresentar um relato histórico, social e jurídico da corrupção no Brasil Como conclusão
espera-se compreender os meandros da corrupção, a falta da culpabilização a falha do
sistema jurídico como uma ação intencional sistematizada para cumprir um objetivo
particular. sustentada pelos percussores da própria lei, que continuam se deixar levar
pela confusão público privado, colocando seus interesses pessoais, acima da própria
lei, promovendo articulações para sustentar seus anseios e entender a problemática
que as falhas do sistema judiciário Brasileiro podem propiciar.
Palavras-chave: Corrupção. História do Direito. Direito penal, Sociologia Jurídica.

A VIOLAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS AOS CORPOS INDESEJADOS: RAÇA E


MIGRAÇÃO
Stefany de Lucas
Universidade Federal do Paraná

O presente resumo, a partir de uma revisão bibliográfica e análise de dados sobre


a violação de direitos humanos à corpos migrantes racializados, se propõe a investigar
as possíveis pontes entre a negativa dos direitos humanos dos migrantes e raça. O
trânsito de corpos pelo mundo é uma prática que remete a processos desde à Idade
Antiga, entretanto, o conceito de migração se desenvolve na posterioridade, já em
sociedade: gesta-se a construção social território, Estado e cidadão, logo, nasce quem
está fora da acepção de cidadania (DOUZINAS, 2009). Segundo a professora Mary
Garcia Castro “ser migrante é, antes de tudo, uma construção social” e, nesse sentido,
atende à localização temporal, cultural e histórica que lhe acomete. Nesse sentido, o
cenário local mostra-se agente direto na administração desses corpos, ou seja, esses
migrantes necessariamente são atravessados pelas lógicas locais. Partindo desses
pressupostos teóricos, a presente pesquisa – em andamento – se propõe a investigar
os corpos em situação de migração no território nacional brasileiro, raça e a sua
negativa dos direitos humanos. Compreende-se, portanto, a sociedade construída nas
lógicas de racialização (MONSMA, 2013) que se desenvolve no “racismo por denegação
da amefricanidade” (GONZALEZ, 1988) trazendo consigo uma série práticas que
sumariamente violam os direitos humanos e policia todos os corpos que adentram o
território nacional, nesse contexto é que se insere o migrante e a ideia de migração.
Desse modo, a hipótese prévia é a raça como diretamente atuante na negativa dos
direitos humanos para lidos como corpos racializados e migrantes, problemática sobre
raça já outrora anunciada: “é o problema da linha da cor – a relação entre as raças de
homens mais escuros e os mais claros” (DU BOIS, 1961, p.23) compreendidos, portanto,
como corpos indesejados pelo Estado. Esses corpos lidos como raciais, sofrem o risco
das negativas sistêmicas como a violação do direito à vida, circulação segura, do direito
à integridade física, negativa de dignidade humana, violação do direito a igualdade
(direitos elencados a partir dos Considerandos da Declaração das Nações Unidas sobre
a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial); sujeitos a situações de
discriminação racial para além das vulnerabilidades que já são acometidos como sendo
o “outro”, no Brasil. O presente resumo, inicialmente, a partir de revisão bibliográfica e
estudo de casos com possível ligação à discriminação racial e migração (como o caso
da intervenção da Polícia Militar no Complexo da Maré, com o discurso de envolvimento
de guerrilheiros angolanos no tráfico de drogas), tem observado uma relação entre a
negativa de determinados direitos humanos e acessos à cor do migrante. Ao se
encontrarem dentro do sistema de racialização, é possível perceber algumas negativas
das lógicas dessa estrutura atravessando tais corpos raciais e migrantes.
Discriminação racial, a negativa dos direitos fundamentais, retirada de nacionalidade
(KALY,2000) se mostram relacionais com corpos migrantes específicos,
recorrentemente ligados de antemão à leitura de raça/cor do assujeitado
(CASTRO,2005).
Palavras-chave: Raça; Direitos Humanos; Migração; Violação;
O JUDICIÁRIO NA SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO: UM CONTEXTO, MUITAS
PROSPECÇÕES
Caio Pacca Ferraz de Camargo
UniFMU (SP) – Mestrando em Direito

Os vislumbres da sociedade pós-industrial de Bell (1974) e Lyotard (1979) se


confirmaram a partir do início da década de 1990, com o aprimoramento e barateamento
das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) que, ao potencializarem os efeitos
de rede, conduziram-nos à Sociedade em Rede, dinamizada pela informação (Castells)
e, por conseguinte, à Sociedade da Informação, onde todas as atividades humanas
passam a se estruturar a partir do uso da informação e suas tecnologias. Nessa
sociedade fluída, o espaço perde relevância sendo a superação do tempo a última
barreira, daí a aceleração ser a arma de dominação (Bauman). A evolução da tecnologia
dos microchips e do processamento de dados é exponencial, ocorre em progressão
geométrica, não aritmética (Moore; Kurzweil). Por isso, harmonizar-se com a marcha
dessas inovações exige, em boa medida, um exercício mais prospectivo de suas futuras
aplicações que compreensivo de suas implicações. Conquanto tais mudanças tenham
revolucionado o modo humano de viver, se relacionar e trabalhar, a forma de prestar
Justiça nos países ocidentais não variou, nesse período, com a mesma agudez. Prova
disso é que há mais gente no mundo com acesso à internet (50% da população mundial)
a acesso à proteção jurídica (46% da população mundial), segundo o relatório
Leveranging the SDGs for Inclusive Growth: Delivering Access to Justice or All, de 2016,
da OCDE. Agregar a tecnologia na prestação e democratização da Justiça é, e cada vez
mais será um imperativo. Ao menos na realidade brasileira, observaram-se
importantes iniciativas nesse sentido, notadamente após a Emenda Constitucional
45/2004, destacando-se a adoção do processo digital, em âmbito federal e estatual, e
a instituição de uma Política Judiciária Nacional de Tratamento Adequado dos Conflitos
de Interesses com a Resolução 125/2010, do CNJ, a título de exemplo. A pandemia da
Covid-19, e a necessidade por ela imposta de isolamento social, acelerou a
consolidação do teletrabalho por magistrados e servidores e a realização e audiências
virtuais síncronas. Como as inovações tecnológicas se dão em saltos exponenciais, uns
afirmando que estamos no liminar da Quarta Revolução Industrial, ou Indústria 4.0
(Schwab) e outros já vaticinando que no da Quinta Revolução Industrial, ou Indústria
5.0, impulsionada pela computação quântica, pensar prospectivamente novas formas
de prestar a Justiça integrando-a com as tecnologias existentes, e as que a partir
dessas imaginamos vindouras, é um exercício necessário ao profissional do Direito. O
Judiciário, concebido como um serviço e não um lugar é, e ainda será indispensável,
pois, como destaca Richard Susskind em Online Courts and the Future of Justice (2019,
p. 19), é o Judiciário que reforça valores comumente aceitos e aprofunda a coesão social
a ponto de as democracias civilizadas e economias de mercado não poderem funcionar
sem ele. Daí a necessidade de se imaginar o aprofundamento do uso de técnicas de
Online Dispute Resolution (ODR), realidade aumentada (RA), Inteligência Artificial (IA),
juízes robôs, análises preditivas e design thinking (visual law), a concebermos que a
inclusão digital experimentada nas últimas três décadas redunde numa inclusão do
sistema de Justiça e, também, numa Justiça inclusiva.
Palavras-chave: Sociedade da Informação; Evolução tecnológica exponencial;
Judiciário na Sociedade da Informação.

A MITIGAÇÃO DO PRINCÍPIO DA CONGRUÊNCIA EM FAVOR DA REPARAÇÃO


ADEQUADA DOS DANOS EXTRAPATRIMONIAIS
Gabriel Alves Fonseca
Universidade Federal do Paraná

A presente pesquisa, ainda em andamento, tem como objeto uma breve


investigação acerca da possibilidade de mitigação do princípio da congruência, a fim de
propiciar, por meio da primazia da tutela específica a ser devidamente auferida pelo
juiz no caso concreto, uma reparação adequada às vítimas de danos extrapatrimoniais
e, por conseguinte, às lesões perpetradas contra direitos da personalidade. A
justificativa desse esforço investigativo reside na importância de buscar uma via de
otimização do processo civil a fim de aprimorar a tutela dos direitos subjetivos de
natureza extrapatrimonial, o que exige uma resposta que demanda a efetivação de
medidas que, mesmo que não sejam requeridas pela vítima, se mostram mais eficazes
a reparar adequadamente os danos extrapatrimoniais por ela sofridos. A fim de dar azo
a esta perquirição, os materiais empregados na presente pesquisa são, em suma,
livros, dissertações e artigos científicos, com foco prioritário nas produções de autores
especializados nas áreas da Responsabilidade Civil e do Direito Processual Civil, mas
sem olvidar dos textos normativos e das decisões judiciais pertinentes ao objeto de
investigação. Os materiais consultados estão sendo cotejados mediante o emprego do
método comparativo, por meio do qual há uma intersecção tanto a nível interno, com
um diálogo entre o Direito Civil e o Direito Processual Civil, quanto a nível externo, com
um cotejo entre o Direito Brasileiro e o Direito Comparado. Também há o manejo do
método dedutivo, com reflexo na própria estrutura de desenvolvimento do trabalho, na
medida em que, para a obtenção dos resultados da pesquisa, estão sendo
desenvolvidas premissas que refletem os próprios objetivos da investigação, sendo o
primeiro deles geral e dois subsequentes, específicos: (1) aferir a legitimidade e a
viabilidade de o juiz decidir de maneira diversa dos limites do pedido em ações de
reparação de danos extrapatrimoniais; (2) tratar do princípio da congruência no
processo civil brasileiro e suas hipóteses de mitigação; (3) verificar as possibilidades
de tutela específica aplicáveis na reparação de lesões a direitos da personalidade. Por
meio da operacionalização dessa metodologia, até o estado atual da pesquisa, os
resultados provisórios foram dois: (1) a partir de disposições expressas no Código de
Processo Civil e no Código de Defesa do Consumidor, admite-se que o juiz determine,
de ofício, a aplicação de multa ou de uma providência diversa daquela pedida pelo autor
da demanda, desde que voltada à efetiva tutela do direito material e desde que sejam
respeitados os postulados da adequação e da necessidade da medida empregada; (2)
nas ações de responsabilidade civil por danos extrapatrimoniais, é possível ao juiz
acrescer, independentemente de pedido da vítima, uma forma não pecuniária de
reparação, ou mesmo alterar a medida escolhida, desde que sejam respeitados o prévio
contraditório, o princípio da não surpresa, a indisponibilidade do direito da
personalidade afligido e a proporcionalidade da medida adotada.
Palavras-chave: Direitos da personalidade. Danos extrapatrimoniais.
Reparação adequada. Tutela específica. Princípio da congruência.

VIOLAÇÃO POSITIVA DO CONTRATO E RESPONSABILIDADE CIVIL: BREVES


CONTROVÉRSIAS DOUTRINÁRIAS E JURISPRUDENCIAIS PERMEADAS ENTRE A
FIGURA DO INADIMPLEMENTO TOTAL E MORA DA OBRIGAÇÃO.
Isadora Lucek Gaspar
Universidade Federal do Paraná - UFPR

O presente trabalho possui como objeto o estudo da violação positiva do contrato


à luz da responsabilidade civil. A violação positiva do contrato constitui espécie de
inadimplemento provindo do direito alemão-estrangeiro, decorrente da violação dos
deveres de proteção (ou anexo) da obrigação derivados da boa-fé objetiva, de modo que
apesar de cumprido o dever de prestação, isto é, a obrigação principal, houve causação
de danos aos direitos, aos bens jurídicos e aos interesses da contraparte em vista do
descumprimento dos deveres de proteção, como dever de informação e esclarecimento;
dever de cuidado e proteção e dever de lealdade e proteção. Dessa busca, busca-se o
estudo do “cumprimento defeituoso” por um dos seus principais efeitos, a
responsabilidade civil. Para tanto, a pesquisa se utiliza da metodologia dedutiva por
análises bibliográficas, estudos críticos e casos práticos julgados pelos Tribunais
pátrios. Em um primeiro momento, procura-se diferenciar a violação positiva do
contrato em relação às figuras do inadimplemento parcial e total da obrigação,
visualizando tal espécie de descumprimento dentro da noção de obrigação como
processo, através dos deveres secundário ou anexos derivados da boa-fé objetiva que
podem ser examinados durante o curso da relação jurídica. Após, busca-se
compreender a violação positiva do contrato a partir de um dos seus efeitos: a
responsabilidade civil, como forma de reparar os danos causados pela quebra dos
deveres de proteção. Nesse escopo, procura-se analisar, de maneira geral, as
principais controvérsias envolvendo a disciplina à luz da doutrina permeado com
análise de caso prático por meio de julgados. Posteriormente, com o prosseguimento
da pesquisa, buscar-se-á visualizar, inclusive, a violação positiva do contrato e a
responsabilidade civil por um olhar indenizatório vinculado ao interesse contratual
positivo e negativo, respectivamente, tentativa de colocar o credor frustrado numa
situação hipotética de cumprimento perfeito do contrato e de não realização do
contrato. A priori, como resultados parciais, pode-se aferir que i) a violação positiva do
contrato encontra problemáticas conceituais e teóricas para a sua aplicação no direito
brasileiro, em vista de ser proveniente do direito estrangeiro, ocasionando confusões
com o instituto da mora, levando parte da doutrina a considerar, erroneamente, essa
espécie de inadimplemento como “desnecessária”; ii) a violação positiva do contrato
acarreta danos ao dever de proteção da obrigação e, por consequência, acarreta ou
efeito resolutivo ou, principalmente, a responsabilidade civil que, a princípio, mostra-
se contatual; e iii) que apesar do regime de responsabilidade civil contatual, cabe ao
intérprete verificar no caso concreto se, realmente, o regime contratual seria aplicável
ao ônus probatório, solidariedade, contagem de juros e atualização monetária,
competência e prescrição Portanto, esta pesquisa procura visualizar a importância da
violação positiva do contrato no contexto da responsabilidade civil, de forma a
compreender que apesar da adaptação deste instituto estrangeiro ao modelo brasileiro,
há uma dificuldade prática no sentido conceitual e interpretativo na sua aplicação
prática.
Palavras-chave: Violação Positiva do Contato; Responsabilidade Civil; Dano;
Dever de proteção; Inadimplemento.

O “BOTÃO DO PÂNICO” E A PL 3314/20 COMO MECANISMOS DE MITIGAÇÃO DA


VIOLÊNCIA DOMÉSTICA EM TEMPOS DE PANDEMIA
Letícia Lopes Borja
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)

De acordo com dados divulgados pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública


(2020), o início do isolamento social no Brasil provocou um aumento no número de
solicitações em linhas de ajuda sob natureza de violência doméstica, evidenciando um
quadro de aprofundamento das vulnerabilidades enfrentadas pelas mulheres
brasileiras, haja vista serem elas as principais vítimas desse tipo de crime. Entretanto,
além de provocar uma multiplicação dos casos de agressão, a quarentena também
alargou as barreiras de denúncia já enfrentadas pelas vítimas, uma vez que o
confinamento contínuo com o agressor costuma dificultar o acesso da mulher aos
canais de denúncia e aos serviços de apoio institucional, por essa se achar, muitas
vezes, sob a vigilância constante de seu companheiro. Foi diante dessa realidade que,
em 2020, a rede varejista Magazine Luiza aprimorou um botão de denúncia em seu
aplicativo, o qual, ao ser clicado, redireciona o consumidor aos serviços oficiais de
denúncia ou a projetos de orientação e apoio às vítimas. Dessa forma, as mulheres
podem simular uma compra na plataforma para realizar a queixa de maneira discreta
e segura, sem levantar suspeitas ou possíveis retaliações por parte do ofensor. Em
face da efetividade da iniciativa e da popularização crescente do comércio eletrônico
durante a pandemia de COVID-19, o deputado Walter Alves (MDB-RN) apresentou o
Projeto de Lei n. 3.314/2020, que prevê a obrigatoriedade de implementação de um
“botão do pânico” voltado à denúncia de violência doméstica em sites e aplicativos de
comércio eletrônico, visando a ampliação e facilitação do acesso aos canais de
denúncia. Frente às considerações apresentadas, o presente estudo elege como
problemática central o seguinte questionamento: em que medida a instalação
obrigatória do botão de denúncia nas plataformas de venda virtual pode, efetivamente,
contribuir no combate à violência doméstica em tempos de COVID-19 no Brasil? Para
respondê-lo, apontam-se como objetivos específicos a averiguação das barreiras de
denúncia durante o período de isolamento social, a análise dos resultados alcançados
pela implantação do botão de emergência da Magazine Luiza, a verificação das
limitações dessa iniciativa e o exame das potencialidades do PL 3.314/2020 no âmbito
das denúncias de violência doméstica. No que concerne à metodologia empregada, será
desenvolvida uma pesquisa de natureza teórica, com abordagem qualitativa e objetivo
exploratório, por visar interpretar e descrever os fatos relacionados ao assunto. Para
isso, serão utilizados os procedimentos técnicos de pesquisa bibliográfica, estatística
e documental, a partir da consulta de livros, artigos, legislações e levantamentos.
Quanto à justificação do trabalho, ressalta-se, primeiramente, a atualidade do tema,
tendo em vista a instauração recente dos mecanismos de denúncia supracitados e
tramitação ainda em curso do PL, o que demanda observação atenta face aos possíveis
impactos da aprovação da proposta. Em segundo lugar, menciona-se a urgência de
debates acerca da violência doméstica na quarentena, levando em conta a
vulnerabilidade crescente das vítimas. A partir da realização da pesquisa, ainda em
andamento, espera-se destacar as deficiências e contribuições da ferramenta citada
na luta contra essa verdadeira “epidemia” de violência, tão mortal quanto a provocada
pela COVID-19.
Palavras-chave: Violência Doméstica; Botão do Pânico; Tecnologia; Pandemia.

O ‘DISPUTE SYSTEM DESIGN’ COMO AUXILIAR NO PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO DAS


EMPRESAS
Mariana de la Cruz Faxina
Universidade Federal do Paraná

O presente trabalho busca aprofundar-se no estudo de uma das técnicas


desenvolvidas na Escola de Negócios de Harvard para atuação em conflitos
massificados, o Desenho de Solução de Disputas ou Conflitos (Dispute System Design
- DSD). Essa técnica se encaixa em uma solução consensual de conflitos e busca
analisar as tipologias de conflitos, seus interesses, posições, regramentos, conflito de
poderes, conjuntura econômica, e, assim, delinear estrategicamente um desenho
customizado para a solução e tratamento adequado do conflito mediante metodologia
específica para cada tipo de conflito, social e individual. O designer é o profissional
contratado para efetuar o desenho do sistema, mas sempre em conjunto com demais
profissionais da empresa. O DSD vem sendo utilizado por grandes companhias, como
por exemplo empresas aéreas que instalam totens nos aeroportos para que os clientes
possam realizar reclamações, visando antecipar a solução do conflito e fugir da
judicialização. Buscar-se-á, em um primeiro momento, traçar similitudes entre o
Dispute System Design e alguns dos métodos adequados de resolução de litígios já
conhecidos e utilizados no Brasil, para que se possa compreender os grandes
benefícios que esses métodos podem trazer para auxiliar na desjudicialização dos
conflitos. O DSD tem grande potencial para suprir um dos grandes desafios atuais das
empresas no Brasil, a busca por mudanças estruturais que sejam eficazes no
gerenciamento de conflitos. Posteriormente, buscar-se-á analisar como vem sendo a
aplicação do método em algumas empresas, a partir da análise de casos nacionais e
também internacionais. Além disso, sem o intento de exaurir o tema, far-se-á uma
análise sobre as formas pelas quais se buscam resolver conflitos fora do meio judicial
com a aplicação dessa técnica, utilizando-a no planejamento estratégico das empresas.
A pesquisa realizada será voltada também para demonstrar a revolução das soluções
alternativas à judicialização dos conflitos nos últimos anos, o que muitas empresas têm
buscado tendo em vista que nosso judiciário encontra-se com alta insegurança jurídica,
com custos muito elevados e também sobrecarregado. Por fim, após concluir análise
da potencialidade do DSD como um excelente aliado das grandes empresas, analisar-
se-á as vantagens efetivas deste instrumento para a resolução de conflitos
massificados.
Palavras-chave: Desenho de solução de disputas; Dispute system design;
Método adequado de resolução de litígio; Solução consensual; Solução de conflitos
massificados.

PRECEDENTE JUDICIAL COMO CARGA ARGUMENTATIVA: UM ESTUDO “PRAGMÁTICO”


DA EFICÁCIA VINCULANTE DAS DECISÕES DOS TRIBUNAIS SUPERIORES
Alberto Luiz Hanemann Bastos
Universidade Federal do Paraná – UFPR.

A discussão sobre a eficácia vinculante dos precedentes dos Tribunais


Superiores envolve a contraposição de duas principais vanguardas doutrinárias: a
primeira delas – capitaneada por autores como Luiz Guilherme Marinoni e Daniel
Mitidiero – propõe que os precedentes do STJ e do STF são peremptoriamente
vinculantes, porquanto tais Cortes detêm a competência específica de outorgar unidade
ao direito; a segunda – encabeçada sobretudo por Lenio Luiz Streck e Georges Abboud
– sugere que as decisões do STJ e do STF vinculam as instâncias ordinárias apenas de
modo contingencial, eis que os magistrados somente têm a obrigação de seguir a ratio
do precedente quando ela estampar coerência e integridade com a tradição jurídica.
Ocorre que essas duas correntes teóricas possuem caráter prescritivo, pois se
prestam a indicar qual a dinâmica “ideal” de um sistema de precedentes no Brasil. Em
vista disso, valendo-se do método analítico-bibliográfico, o presente estudo empreende
uma investigação dos precedentes sob a perspectiva descritiva, de modo a estudar o
precedente judicial “como ele é”, e não “como ele deveria ser”. Partindo das reflexões
de James Goldschmidt sobre o processo como situação jurídica, concebe-se que,
embora indesejáveis, as decisões injustas e expressamente dissonantes da
jurisprudência dos Tribunais Superiores são corriqueiras no ambiente forense. É que
todos os magistrados que compõe o Judiciário incorporam a potestade do poder
estatal, razão pela qual as partes, ainda que discordem do mérito da decisão, não
podem eximir-se de cumpri-la. No cenário processual “real”, se um juiz emite um
comando dissonante da jurisprudência pacificada nos Tribunais, a parte prejudicada é
livre para opor embargos de declaração ou, alternativamente, interpor o recurso
respectivo, porém, em nenhuma hipótese, pode se recusar a cumprir a ordem
(definitiva ou provisória) emanada pela jurisdição, sob pena de o próprio juízo tomar
medidas coercitivas mais gravosas. Diagnostica-se, portanto, que a emanação de
precedentes pelos Tribunais Superiores, por si só, não é capaz de impedir arbítrios na
atividade judicante. Diante disso, este estudo indaga: se a formação de precedentes
aparentemente não é capaz de impedir a prolação de decisões injustas, qual a utilidade
desta figura perante ordenamento pátrio? Para responder à pergunta, concebe-se o
precedente como carga argumentativa. Quando uma das partes invoca um precedente,
libera uma carga argumentativa cujo lançamento, independentemente dos alvedrios e
das arbitrariedades do mundo processual “real”, causará alguma repercussão no
debate processual. É que o julgador, ao se defrontar com a arguição de um precedente,
jamais poderá manifestar indiferença ao argumento sem causar alguma repercussão
no debate processual, pois: (i) se apreciá-lo e acolhê-lo, atende o interesse da parte
que invocou o precedente; (ii) se apreciá-lo e afastá-lo, atrai para si o ônus de proceder
ao distinguishing ou overruling; e (iii) se ignorá-lo, abrirá à parte prejudicada a
possibilidade de valer-se da reclamação do art. 988 do CPC para que as instâncias
superiores cassem a decisão. Por isso, o argumento calcado em precedentes dos
Tribunais Superiores incorpora uma espécie de trunfo no debate processual, pois
inevitavelmente será apreciado pelo Judiciário – seja nas vias ordinárias, seja em sede
de reclamação.
Palavras-chave: Precedente; Carga argumentativa; Eficácia vinculante;
Decisão judicial.

O CONTRADITÓRIO ENTRE OS LITIGANTES DE MASSA: ANÁLISE DAS DECISÕES DE


ADMISSIBILIDADE DO IRDR NO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARANÁ
Felipe Delle
Universidade Federal do Paraná

O presente trabalho analisa o incidente de resolução de demandas repetitivas


(IRDR) sob o prisma do devido processo legal. O novo instituto, IRDR, é técnica
processual concebida para solucionar litígios de massa e conferir unidade à
interpretação do direito em determinada região. Verifica-se se as decisões de
admissibilidade do IRDR respeitam, no momento da instauração, o contraditório e
ampla defesa. A pesquisa se divide em dois momentos: a revisão da bibliografia, via
método hipotético-dedutivo, com proposições de lege lata em relação aos problemas
levantados; e, via análise empírica, verifica-se a confiabilidade das premissas adotadas.
Desse modo, analisa-se a dimensão do acesso à justiça no processo individual e
coletivo, de modo a verificar em qual categoria a litigiosidade de massa se encontra.
Observa-se que a litigância de massa é um fenômeno à parte, que encontra respaldo
na cultura litigante brasileira e no microssistema de casos repetitivos, uma vez que o
problema da quantidade de processos tramitando no judiciário necessita de uma
solução contingencial. Portanto, a proposta do microssistema é resolver casos com
questões similares da mesma forma a fim de homogeneizar as decisões judiciais. Essa
solução foi trazida pelo Código de Processo Civil de 2015, “CPC/15”, através do IRDR.
Entretanto, o incidente possui um problema de premissa, pois como garantir a unidade
ao direito sem conferir os adequados meios de participação dos interessados no
julgamento do incidente? É diante do déficit de contraditório e de participação entre os
litigantes de massa que esse trabalho busca tratar. Entre propostas de solução do
problema e seus impactos, propõe-se como solução o uso de determinadas técnicas
processuais com o objetivo de melhor delimitar o objeto do IRDR no momento de
instauração. Assim, as técnicas elencadas como meios de (re)equilibrar a paridade de
armas nos processos de massa seriam: os amici curiae, as audiências públicas, o
controle do processo paradigma e da representatividade adequada como um dever do
relator no IRDR e das recomendações do CNJ direcionadas aos tribunais de justiça com
a finalidade de notificar os potenciais interessados via o sistema de processo
eletrônico. Por fim, demonstra-se por meio de pesquisa empírica, que, na instauração
de IRDR’s perante o Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, não se observa a
notificação das partes no momento da admissibilidade, ao passo que o incidente é
suscitado – em sua maioria -, de ofício pelos magistrados a fim prosseguir com o IRDR,
de modo que em apenas 55% dos incidentes houve a oportunidade de participação dos
litigantes. Ou seja, não apenas a participação dos litigantes é desconsiderada no
momento de garantir uniformidade ao direito, como também, a decisão sem a
manifestação prévia das partes desrespeita os artigos 9° e 10° do CPC/15, vez que é
vedado a decisão surpresa no processo. Isto posto, é necessário não somente
compreender a utilidade e como é uso na prática do IRDR, mas é imprescindível
adequar a referida técnica ao texto constitucional, principalmente, ao princípio do
devido processo legal por meio do contraditório, ampla defesa e oportunidade de
participação dos interessados.
Palavras-chave: IRDR; Devido processo legal; Litigância de massa; Paridade
de armas; Análise empírica.

TUTELA DE DIREITOS FUNDAMENTAIS EM PERSPECTIVA COMPARATÍSTICA: O


AMPARO IBERO-AMERICANO E AS AÇÕES CONSTITUCIONAIS BRASILEIRAS
Lívia Losso Andreatini
Universidade de São Paulo (USP)

Mandado de segurança, habeas corpus, habeas data, ADPF, mandado de injunção


– o rol de remédios constitucionais previstos no ordenamento brasileiro é vasto e
complexo. Distanciando-se de países que incorporaram o juicio de amparo, no Brasil,
há diversas ações manejáveis para a tutela jurisdicional de direitos fundamentais.
Assim, o objeto desta pesquisa é identificar se o ordenamento jurídico brasileiro possui
remédio constitucional equiparável ao juicio de amparo Ibero-americano; e, caso
inexista, os eventuais prejuízos desta ausência.
O juicio de amparo possui sua gênese na Constituição Mexicana de 1824. Trata-
se de remédio constitucional que visa à salvaguarda de vasta gama de garantias
individuais – direito à igualdade, à liberdade de culto e de pensamento, à tutela
jurisdicional efetiva, ao devido processo legal, à autodeterminação digital, além de
inúmeros outros. Dentre os países que incorporaram o juicio de amparo mexicano,
destaca-se a Argentina, Bolívia, Colômbia, Chile, Equador, Espanha, Paraguai e
Venezuela.
Para a análise de Direito Comparado, investigar-se-á o recurso de amparo
espanhol. A escolha pelo remédio constitucional espanhol decorre da similitude entre
o processo civil espanhol e brasileiro, bem como pela ampla produção bibliográfica
espanhola, a expressa previsão do recurso de amparo na Constituição Espanhola e pela
jurisprudência consolidada do Tribunal Constitucional sobre o tema.
À semelhança dos demais ordenamentos que incorporaram o juicio de amparo, o
amparo espanhol possui amplo cabimento – tutela vasto leque de direitos
fundamentais, mormente de garantias individuais. Apesar de receber a alcunha de
recurso, é ação autônoma, ajuizada perante o Tribunal Constitucional. Destarte, serve
a fim que transcende ao singular pois, de um lado, faz cessar a violação ao direito
fundamental subjetivamente infringido; de outro vértice, se julgado pelo Pleno do
Tribunal Constitucional, converte-se em ação do controle concentrado de
constitucionalidade (i.e., cuestión de inconstitucionalidad).
Da análise do recurso de amparo espanhol, conclui-se que o Brasil prescinde de
ação constitucional análoga. O ordenamento brasileiro recebeu a influência do juicio de
amparo, mas converteu-o em outra ação, com objeto muito mais restrito: o mandado
de segurança. Simultaneamente, previu outros remédios constitucionais para tutelar
garantias individuais, v.g., habeas corpus, habeas data, recurso extraordinário, ADPF –
todos com cabimento e ritos próprios. Ao invés de um único remédio constitucional
amplamente cabível, o ordenamento brasileiro concebe diversas ações, manejáveis a
depender do direito fundamental vulnerado.
Tal dispersão de remédios constitucionais indica que a tutela de direitos
fundamentais, no ordenamento brasileiro, é consideravelmente mais complexa à de
países que incorporaram o juicio de amparo. Mas a ausência de instituto análogo ao
amparo Ibero-americano não implica sua necessária inclusão no direito brasileiro, pois
o ordenamento jurídico brasileiro concebe remédios constitucionais outros que fazem
as vezes do amparo. Deste estudo comparatístico, afastando-se propostas de lege
ferenda, o que se depreende é a necessidade de maior sistematização e simplificação
dos remédios constitucionais brasileiros. Possível solução para tanto – inspirando-se
na ampla abrangência do recurso de amparo – seria o emprego da técnica de
fungibilidade entre os remédios constitucionais brasileiros, ilidindo que vícios formais
impeçam o conhecimento e julgamento da ação, e outorgando maior eficiência à tutela
de direitos fundamentais.
Palavras-chave: Tutela jurisdicional; Direitos fundamentais; Direito
Comparado; Juicio de amparo; Processo Constitucional.

DESIGUALDADE E TECNOLOGIA SOB A LUZ DA CRITICAL LEGAL STUDIES


Sâmia Souza Carvalho
UNESP-Franca

O presente estudo tem por objetivo geral examinar a aproximação entre


desigualdade social e tecnológica esclarecendo de que forma tecnologia e
desigualdade estão interligadas. Será feito uso das seguintes normativas: CF e Marco
Civil, além, dos princípios norteadores das agências internacionais, pois, ambos
colocam a inclusão digital como um direito fundamental e, portanto, instrumento de
desenvolvimento social e de exercício da cidadania. Não se pretende uma perspectiva
exclusivamente jurídica sobre o tema. Intenta-se adotar uma postura fundamentada na
Critical Legal Studies. Assim, se projeta, especificamente, investigar se existe certa
tensão entre o ideal da igualdade material construído na normativa constitucional
brasileira, no Marco Civil e nas agências internacionais, e a realidade da estrutura
social, no que tange ao acesso a TIC. As últimas, ao contrário, podem estar orientadas
à desigualdade, como se pretende demonstrar e, portanto, são capazes de entravar a
efetiva participação cidadã. Propõem-se os seguintes tópicos: noções de desigualdade,
igualdade e tecnologia, desigualdade social e tecnológica podem estar aproximadas e
a tecnologia como direito fundamental e instrumento de desenvolvimento social. O
presente artigo se desenvolverá com pesquisa bibliográfica e o método utilizado será
o dedutivo, dado que, inicialmente se parte de uma visão geral sobre o assunto, para,
na sequência, enfrentar a questão central que se coloca: é possível que a tecnologia
enquanto direito fundamental e mecanismo de desenvolvimento social, porém, com
distribuição desigual, seja um dos instrumentos de participação social global? Além
disso, o presente estudo é relevante e justificável, pois, fará uma abordagem com
preocupação coletiva orientada para o desenvolvimento social, para o esclarecimento
e legitimação do direito a igualdade de oportunidade no acesso as TIC. Ao final, conclui-
se pela tensão entre o ideal normativo da igualdade e a realidade da estrutura social,
no que tange ao acesso as tecnologias de comunicação e informação.
Palavras-chave: Desigualdade; Tecnologias de Comunicação e Informação;
Direito fundamental; Inclusão digital; Desenvolvimento social.

A REPARAÇÃO NÃO PECUNIÁRIA DOS DANOS EXTRAPATRIMONIAIS


Vivian Carla da Costa
Universidade Federal do Paraná

O fenômeno da constitucionalização do Direito Civil possibilitou uma


ressignificação dos institutos jurídicos, conferindo-lhes maior efetividade, a fim de
atender os anseios da realidade social, destacando-se os princípios constitucionais, em
especial, o da dignidade da pessoa humana, nova diretriz do direito privado a partir de
uma leitura sistemática do ordenamento. Nessa linha, agora no campo da
responsabilidade civil, âmbito dos mais dinâmicos do direito privado, são notórias as
mudanças: se antes, com base da literalidade dos dispositivos legais e da doutrina
tradicional, imperava a ideia de reparação integral do dano através de punição
pecuniária do agente ofensor, agora, percebe-se no instituto novas motivações, como
a de evitar danos futuros e, em caso de dano concreto, reparar-se, efetiva e
adequadamente, a vítima. E esse viés multifuncional da responsabilidade civil reflete,
sobretudo, na reparação do dano extrapatrimonial, a qual, dada a natureza altamente
subjetiva desta espécie de dano, é muito melindrosa. E isso porque não há, sendo o
dano moral, conceituado constitucionalmente como violação da esfera íntima da
pessoa, a possibilidade de se repará-lo integralmente, restituindo o status quo ante,
sendo crível tão somente uma compensação da vítima, a qual, por sua vez, deve ser a
mais efetiva e adequada possível.
Neste contexto, tais bens violados não possuem, a priori, valor econômico, os
quais, entretanto, ganham correspondência pecuniária nas massivas e tradicionais
decisões judiciais, com o intuito de compensar-se o então dano sofrido. E, talvez, pelo
contexto socioeconômico que se enquadra o nosso ordenamento jurídico ou,
porventura, pela comodidade do Judiciário de criar parâmetros monetários de
indenização dado o exponencial crescimento de demandas com esta matéria,
instaurou-se a pecuniária como principal forma de reparação do dano extrapatrimonial.
Restringiu-se, portanto, ao dinheiro a finalidade de se compensar a vítima, o que nem
sempre é efetivo ou adequado, ficando esquecida, ao que parece, a tão cara reparação
in natura, em que se privilegia outras formas de reparação alinhadas às peculiaridades
do caso concreto, as quais serão perquiridas e analisadas na pesquisa desenvolvida.
Para tanto, a metodologia a ser adotada neste estágio inicial de investigação deverá
ser o recurso da documentação indireta, tanto a partir de pesquisa documental (leis,
enunciados, sentenças, votos e pareceres), quanto bibliográfica (livros, artigos e
periódicos).
E, a partir de tal investigação, não se pretende-se, como objetivo, descaracterizar
a importância da pecúnia na reparação civil mormente aos danos morais, tendo em
conta que pode, sim, ser eficaz para o desestímulo da ilicitude, mas tão somente
contribuir para a desconstrução desse lado essencialmente patrimonialista do instituto
que dissente de sua proposta civil-constitucional, possibilitando cenários em que o
dinheiro e a reparação não pecuniária possam se complementar como mecanismos da
responsabilidade civil, atendendo, na medida das circunstâncias fáticas, suas diversas
funções.
Palavras-chave: Responsabilidade civil; Dano extrapatrimonial; Compensação;
Reparação in natura
A ECOLOGIZAÇÃO DO DIREITO FRENTE AOS REFLEXOS DA PANDEMIA DA COVID-19
Amanda Camille de Paula Nasser
Pontifícia Universidade Católica do Paraná

Um estudo realizado pela WWF Internacional em 29 países em 4 continentes,


demonstrou que o Brasil é uma das nações que mais desmata e que degrada florestas.
O relatório aponta que mais de 43 milhões de hectares foram perdidos entre 2004 e
2017 e que a maior causa de perda e/ou degradação florestal, é causada pela pecuária
e agricultura em larga escala. Esses dados se tornam mais importantes diante da
pandemia da COVID-19, visto que os impactos da pandemia na economia são inevitáveis
e a combinação do colapso econômico e a preservação do meio ambiente, não se
conversam, ou seja, quanto mais pobre a nação, maior é a degradação ambiental. É
possível afirmar isso com base no ranking EPI 2016 que mediu o desempenho ambiental
de 180 países, com base em 20 indicadores em 9 categorias. O resultado foi a
constatação de que países mais pobres degradam mais o meio ambiente. Na pesquisa
realizada pela WWF Internacional, dos 29 países analisados, apenas 2 são considerados
desenvolvidos. Diante dessa constatação e dos reflexos econômicos da pandemia da
COVID-19, se faz necessário uma grande mudança no tratamento ao meio ambiente, a
fim de evitar maiores violações ambientais. Esse tratamento feito pelo Estado, é
ineficaz à medida que sob o argumento de progresso e crescimento, a natureza se
tornou um recurso com base na racionalidade antropocêntrica. Além disso, diante dos
reflexos econômicos negativos que o país sofrerá, mudar essa racionalidade poderá
evitar novas pandemias e crises globais. Portanto, o problema enfrentado pela
pesquisa está relacionado com a ineficácia estatal no tratamento ambiental, que poderá
ser agravado mediante a crise econômica causada pela pandemia. O objetivo geral é
compreender de que forma a ecologização do direito pode ser tangente para a
preservação do meio ambiente, frente aos problemas econômicos decorrentes da
pandemia. Os objetivos específicos são: i) analisar de que forma os problemas
econômicos podem agravar a crise ambiental; ii) compreender como a ecologização do
direito pode ser aplicada, a fim de contribuir para reprimir novos impactos negativos
ao meio ambiente. A metodologia utilizada é dedutiva, lastrada na pesquisa
bibliográfica. Diante disso, a hipótese central é que a crise ecológica é uma realidade e
que o direito ambiental vigente não objetiva proteger a natureza, mas sim, permitir sua
exploração com impacto reduzido. Sendo assim, retirar a ideia base antropocêntrica e
dar a natureza o papel de detentora de direitos, é uma necessidade impreterível diante
do cenário pandêmico. Necessário, portanto, alterar as estruturas dogmáticas do
direito para responder às demandas sociais decorrentes da produção de riscos globais
emanados da sociedade industrial, frente ao cenário atual.
Palavras-chave: 1; Direito Ambiental 2; Ecologização do Direito 3; COVID-19

O STANDARD DE PROVA NOS CRIMES SEXUAIS


André Szesz
Universidade Federal do Paraná

A ministra Rosa Weber, em voto proferido na APN 470 (“Caso Mensalão”), afirmou
que o standard probatório nos crimes sexuais teria rigidez reduzida e que mesmo
raciocínio poderia ser aplicado a crimes de lavagem de dinheiro e outros de mesma
complexidade, em relação aos quais usualmente se verifica dificuldade de produção de
provas. O presente estudo apresenta uma reflexão sobre a pertinência dessa
afirmação, a partir de uma revisão bibliográfica sobre o problema da prova no processo
penal e de uma análise dos critérios fixados pela jurisprudência dos tribunais
superiores sobre a especial atenção conferida à palavra da vítima em crimes sexuais.
Entende-se que a teorização do standard probatório representa um importante esforço
na tentativa de lidar com as limitações cognitivas da atividade judicial e de racionalizar
a análise probatória. Nesse sentido, o parâmetro da exigência de prova “mais além de
qualquer dúvida razoável” se mostra válido e útil. Por outro lado, há uma controversa
tendência à flexibilização da rigidez desse standard - defendida por setores da doutrina
e já verificada em julgados nacionais - com relação aos crimes que compõe a chamada
“nova criminalidade”. Isso porque esses crimes, a exemplo da lavagem de dinheiro, são
muito mais complexos do que aqueles dos quais o direito penal tradicionalmente se
ocupou, o que leva a uma dificuldade muito maior de se produzir prova em relação a
eles e, consequentemente, de se atender um standard probatório muito rígido. Porém,
como toda flexibilização de standard, a consequência lógica dessa tendência é o
aumento de condenações equivocadas. Em que pese essa discussão, ao contrário do
que sugerido pela Ministra, a problemática sobre a flexibilização de standard probatório
com relação à nova criminalidade não se confunde com a problemática da prova nos
crimes sexuais. Nestes também se verifica dificuldade probatória, porém provocada
sobretudo pelo modus operandi com o qual os crimes são usualmente praticados, já
que frequentemente não se deixa vestígios nem testemunhas. Todavia, a especial
atenção conferida à palavra da vítima, reconhecida como necessária pela doutrina e
pela jurisprudência, não significa uma redução do standard probatório. Significa que a
valoração desse depoimento deve levar em conta o contexto de dificuldade de produção
probatória no caso (a ausência de outras provas não é indicativo de que o fato não
aconteceu), deve buscar verificar a coerência externa (confirmação por elementos
independentes de prova) e interna do testemunho e deve ser desprovida de
estereótipos de gênero e de juízos morais. Essa valoração especial apela para a
avaliação do contexto de provas que são possíveis de produzir em cada caso e admite
que eventualmente apenas serão possíveis poucos elementos de confirmação. Mesmo
assim, ela não autoriza a redução da rigidez da exigência de confirmação probatória da
hipótese acusatória nem aceita presunção de veracidade sobre a palavra da vítima.
Palavras-chave: 1. Processo penal; 2. standard probatório; 3. nova
criminalidade; 4. crimes sexuais; 5. depoimento da vítima.

SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS) E IMPLEMENTAÇÃO DE SAÚDE DIGITAL NO BRASIL


Bárbara Mendonça Bertotti
Pontifícia Universidade Católica do Paraná
Saúde Digital compreende o uso de recursos de Tecnologia de Informação e
Comunicação (TIC) na produção e disponibilização de informações do estado de saúde.
É expressão mais ampla que e-Saúde visto que incorpora os recentes avanços na
tecnologia como novos conceitos, aplicações de redes sociais, Internet das Coisas (IoT),
Inteligência Artificial (IA), entre outros. Nesse sentido, a Estratégia de Saúde Digital
(ESD) para o Brasil 2020-2028 ao sistematizar e consolidar as iniciativas anteriores no
âmbito da saúde digital reafirma as diretrizes, políticas, portarias, atos e iniciativas já
aprovados no Sistema Único de Saúde (SUS). A partir disso, a presente pesquisa possui
como objetivo identificar em que medida o SUS tem incorporado novas tecnologias e
se alinhado à ESD. Para tanto, serão apresentados (i) os projetos que compõem o
Programa Conecte SUS, tais como a Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS) e o
Programa de Apoio à Informatização e Qualificação dos Dados da Atenção Primária à
Saúde (Informatiza APS); (ii) o TeleSUS, como estratégia do governo na gestão da crise
trazida pela pandemia de COVID-19; (iii) algumas outras ferramentas que foram criadas
para digitalizar a saúde, como por exemplo o cartão SUS digital, que é a identidade do
cidadão no SUS. Serão consideradas questões relativas à vigilância digital, como forma
de monitoramento que pode vir a violar a privacidade das pessoas e suas liberdades; e
à utilização da telemedicina, onde se encontram conflitos entre a universalização do
acesso à saúde e a precariedade do atendimento. Por fim, será destacado que se deve
atentar à realidade brasileira no exercício da transformação digital já que a
desigualdade social no Brasil impacta no acesso digital, onde há uma elite digital e
pessoas sem acesso à internet (de acordo com a PNAD contínua de 2019, quase 40
milhões de brasileiros não tinham acesso à internet naquele ano, representando 21,7%
da população com idade acima de 10 anos). Desse modo, a incorporação de novas
tecnologias deve vir acompanhada de instrumentos específicos compatíveis com a
realidade brasileira. A metodologia a ser utilizada na pesquisa é a lógico-dedutiva, a
partir de revisão bibliográfica e de análise de documentos e de dados publicados pelo
governo sobre a temática.
Palavras-chave: Sistema Único de Saúde; Novas tecnologias; Saúde digital;
Estratégia de Saúde Digital.

A ESCUTA ESPECIALIZADA DE CRIANÇAS E DE ADOLESCENTES COMO POLÍTICA


CRIMINAL
Bruna Araújo Cesário Lima
Faculdade Unyleya

O Estatuto da Criança e do Adolescente de 1990 é um instrumento normativo que


representa os avanços dos direitos conquistados gradativamente no direito
infantojuvenil, com a inclusão de valores de fraternidade social e do princípio da
absoluta prioridade, consoantes com a Constituição Federal de 1988 e com os tratados
internacionais sobre os direitos da criança e do adolescente.
No entanto, apesar de tantos direitos, o Brasil ainda caminha a passos lentos para
a aplicação dessas garantias. Por exemplo, no mês de maio, realiza-se no Brasil a
campanha nacional sobre o enfrentamento da violência sexual contra crianças e
adolescentes, sendo que essa espécie de criminalidade é muito presente em nosso
país, tanto em centros urbanos como em regiões do país em que a fiscalização estatal
é menos frequente. A violência sexual é estritamente relacionada a crimes
transnacionais, como o tráfico humano, crime que o Brasil se comprometeu em
combater ao ser signatário do Protocolo de Palermo.
Portanto, diante da vulnerabilidade em que crianças e adolescentes estão
inseridos, esse trabalho se propõe a refletir sobre possíveis políticas criminais para
que a criança ou o adolescente sejam acompanhados e ouvidos sobre a sua realidade,
principalmente sobre o seu ambiente doméstico. A escuta especializada é um dos
instrumentos legais pelos quais os crimes contra o público infantojuvenil podem ser
evitados. É um procedimento de escuta de uma criança ou de um adolescente em
situação de violência perante um órgão de proteção, tais como escolas, saúde,
assistência ou centros especializados, tendo como finalidade a proteção social e a
coleta apenas das informações necessárias para entender o contexto em que a criança
ou o adolescente está inserido.
Entende-se que, com a capacitação de profissionais que atendem o público
infantojuvenil para a realização da escuta especializada, os crimes que ocorrem dentro
do ambiente doméstico ou social da criança e do adolescente podem ser descobertos
e combatidos. A cada Isabella, Bernardo e Henry que comovem a sociedade com suas
mortes injustas, existem muitas outras crianças vivendo essa mesma realidade. No
entanto, essas fazem parte da cifra oculta, dos crimes ainda não investigados. Dessa
forma, é necessário um trabalho transdisciplinar e com a análise da linguagem verbal
e corporal do escutado para que a violência contra crianças e adolescentes seja
identificada e denunciada.
Palavras-chave: Direito da Criança e do Adolescente; Política Criminal;
Criminologia; Estatuto da Criança e do Adolescente; Enfrentamento da Violência
Sexual contra Crianças e Adolescentes.

CONTROLE INTERNO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA COMO INSTRUMENTO PRÉVIO


PARA EVITAR IRREGULARIDADES EM PROCEDIMENTOS LICITATÓRIOS
Chaiene Meira de Oliveira
Universidade de Santa Cruz do Sul

Com o presente trabalho objetiva-se realizar um estudo sobre o controle interno


da administração pública como instrumento prévio para evitar irregularidades em
procedimentos licitatórios. A temática relaciona-se com o controle da administração
pública, estando delimitada ao contexto brasileiro com foco no controle interno
especificamente no que se refere aos editais de licitação. Dessa forma, considerando a
necessidade de colaboração entre os agentes controladores, bem como as limitações
do controle externo da administração pública, questiona-se: de que modo o controle
interno pode ser utilizado como instrumento prévio para evitar tais irregularidades nos
procedimentos licitatórios? Para tanto, utiliza-se o método de abordagem dedutivo,
método de procedimento monográfico e a técnica de pesquisa resumida em consulta a
livros, periódicos, teses, dissertações, dentre outros meios. A justificativa centra-se na
necessidade constante de atualização dos instrumentos de controle da administração
pública e na forma como estes são utilizados e se comunicam, a fim de observar os
dispositivos legais, constitucionais, além da concretização dos direitos fundamentais e
do interesse público. A hipótese inicial é de que o controle interno pode ser visto como
um instrumento auxiliar devendo ser utilizado em conjunto com as modalidades de
controle social e controle externo. Os objetivos específicos, em conformidade com a
divisão dos capítulos consistem em um primeiro momento na identificação das formas
de controle da administração pública brasileira, após uma análise dos déficits
existentes na atividade controladora sobretudo quanto a comunicação entre os agentes
controladores e por fim, delimitar o modo como o controle interno pode ser utilizado
como um instrumento prévio para evitar as irregularidades em procedimentos
licitatórios. Em termos de conclusão, considerando que a pesquisa encontra-se em
andamento, é possível concluir desde logo que o controle interno constitui um
importante instrumento a ser adotado possibilitando o controle prévio por parte da
administração pública de todas as fases da licitação e consequentemente sendo uma
das formas a serem adotadas para evitar a ocorrência de irregularidades.
Palavras-chave: Administração pública. Controle. Irregularidades. Licitações.

EMPRESAS ESTATAIS E GOVERNANÇA CORPORATIVA: as políticas de transações


entre partes relacionadas em sociedades de economia mista
Bruno Henrique Kons Franco
Universidade Federal do Paraná (UFPR)

O objetivo geral deste trabalho consiste em investigar o modelo de intervenção


direta do Estado no domínio econômico estabelecido pela Lei nº 13.303/2016, com
atenção aos instrumentos de governança corporativa que a nova legislação exige das
empresas estatais. Nesse sentido, o objetivo específico reside em explorar os limites
de um desses instrumentos de governança corporativa, que é a política de transações
entre partes relacionadas, exigida pelo art. 8º, VII, da Lei nº 13.303/2016, com a finalidade
de oferecer uma resposta ao seguinte problema de pesquisa: as políticas de transações
entre partes relacionadas adotadas pelas sociedades de economia mista mitigam os
riscos atrelados a essa prática corporativa? Como hipótese inicial, admite-se que as
políticas atualmente adotadas pelas empresas não mitigam os principais riscos dessa
espécie de transação, porque elas não se dirigem com precisão às relações entre a
companhia e o ente público controlador. O trabalho se utilizará do método dedutivo
para apresentar a resposta ao problema de pesquisa, por intermédio de uma
abordagem quantitativa, reunindo as políticas adotadas por todas as sociedades de
economia mista de capital aberto controladas pela União, e qualitativa, identificando os
mecanismos jurídicos contidos nessa política corporativa e avaliando-os de maneira
crítica. O primeiro capítulo se debruçará sobre o contexto corporativo no qual se
inserem as sociedades de economia mista que justifica o controle específico dessas
transações por mecanismos de distintas naturezas. O segundo capítulo identificará
quais são os riscos que a regulação dessas transações se destina a mitigar e quais são
os instrumentos jurídicos aptos a diluir esses riscos. O terceiro capítulo descreverá os
instrumentos jurídicos efetivamente adotados pelas políticas de transações entre
partes relacionadas sociedades de economia mista sob controle da União após a Lei nº
13.303/2016. O trabalho ainda carece de uma resposta definitiva ao problema de
pesquisa, mas, a título provisório, apresentam-se as seguintes conclusões parciais: a)
há duas razões que justificam as políticas de transações entre partes relacionadas. Em
primeiro lugar, sob um contexto de expansão dos mecanismos autorregulatórios nas
sociedades empresárias, exige-se das sociedades de economia mista que assumam o
protagonismo de sua governança corporativa, elaborando as próprias políticas internas
e optando pelos instrumentos jurídicos que melhor se adaptam ao contexto da
companhia. Em segundo lugar, a proliferação e especialização dos agentes
corporativos que participam da dinâmica das sociedades de economia mista exige a
adoção de um instrumento jurídico específico para regular as relações de agência que
se multiplicam nessas companhias, especialmente as relações entre a companhia e o
ente controlador; b) há duas categorias de riscos a serem objeto dessa política
corporativa. Em primeiro lugar, os agentes corporativos podem se utilizar de
transações entre partes relacionadas para promover a prática de escoamento de
valores (tunneling). Em segundo lugar, o ente público controlador e gestores de alto
escalão podem se utilizar dessas transações para canalizar interesses políticos em
sentido amplo (policy channeling).
Palavras-chave: 1. Empresas estatais; 2. Governança corporativa; 3.
Transações entre partes relacionadas; 4. Intervenção do Estado na economia.

PRISÃO DE PARLAMENTARES: DESNATURAÇÃO INTERPRETATIVA?


Erick Kiyoshi Nakamura
Universidade Federal do Paraná

As Ditaduras nas quais o Brasil esteve imerso retiraram arbitrariamente o


Legislativo da arena política. A fim de impedir este aniquilamento democrático, a
Constituição Brasileira, promulgada em 1988, previu restrições e garantias aos
parlamentares e às parlamentares. A estes é garantido o livre exercício do mandato
que lhes foi conferido por toda a coletividade, respeitadas a pluralidade de ideias e as
limitações constitucionais. Para repelir interferências arbitrárias de outros Poderes,
as imunidades formais foram previstas de forma similar às ordens constitucionais
anteriores, tendo sido restringidas pelas Emendas Constitucionais nº 35/2001 e nº
76/2013. Atualmente, um dos principais mecanismos de proteção aos congressistas se
constitui na vedação da prisão de congressista no exercício do mandato, com uma única
exceção: o flagrante de crime inafiançável, hipótese em que se segue o rito previsto no
artigo 53, § 2º, da Constituição. A restrição é prevista para que o/a parlamentar,
enquanto exerce o seu importante múnus constitucional, esteja protegido de
perseguições políticas que possam afetar o exercício de suas atribuições e, por
consequência, o regular funcionamento do Legislativo. Contudo, a adjudicação desta
regra pelo Supremo Tribunal Federal a tem desnaturado, fato que se pode verificar de
quatro questões centrais. (i) Apesar de inexistir qualquer diferenciação em relação à
prisão-pena e à prisão-cautela, o Tribunal entendeu que a garantia não obsta a
execução de penas privativas da liberdade definitivamente impostas ao membro do
Congresso Nacional (Inq 510/DF; 1991); compreensão reafirmada ao se determinar a
prisão de deputado no exercício de seu mandato por condenação criminal transitada
em julgado (AP 396 QO/RO; 2013). (ii) Em situação considerada excepcional, a
comunicação à Casa Legislativa a que alude a regra constitucional foi expressamente
dispensada, em razão de membros da Assembleia Legislativa de ente federativo
responderem a inquéritos criminais (HC 89417/RO; 2006). (iii) Foi decretada
monocraticamente a prisão de senador, subvertendo-se a exceção à regra numa
espécie de “prisão preventiva em flagrância de crime inafiançável” (AC 4039/DF; 2015).
O crime a que se aludia, por ser relativo à conduta instantânea, não poderia ser
considerado como permanente e, assim, passível de flagrante após o seu cometimento.
Ademais, a tese levada à cabo pela decisão, supostamente fundada no artigo 324, IV, do
CPP, conduziria, em realidade, que sempre que estiverem presentes os pressupostos
para a decretação de prisão preventiva os crimes sejam considerados inafiançáveis,
para além dos descritos na Constituição. Em 2021, foi determinada, sob a mesma
hipótese, a prisão de deputado federal, repetindo-se a parca argumentação quanto à
inafiançabilidade do crime supostamente praticado (Inq. 4781/DF; 2021). (iv) Apesar de
o Tribunal ter assentado expressamente como inconstitucional a decretação de prisões
cautelares, temporárias ou preventivas de parlamentares (ADI 5526/DF; 2017), decisão
monocrática afirma que persiste dúvida fundada quanto a esta possibilidade (Pet
9218/DF; 2020). Sob este panorama, defende-se que, apesar de salutares
interpretações dialógicas sobre os institutos constitucionais, essas não podem, como
neste tema têm feito, causar a perda do sentido teleológico do instituto e da referência
ao próprio texto constitucional.
Palavras-chave: Estatuto parlamentar; Imunidades formais; Prisão de
parlamentares; Adjudicação; Supremo Tribunal Federal.

O PATRIOTISMO CONSTITUCIONAL COMO NOVO ELO SOCIAL BRASILEIRO


Leonardo Soares Brito
Universidade Federal do Paraná

Após a derrota na Segunda Guerra Mundial (1939-1945), viu-se a sociedade alemã


compelida a abandonar o ideário do nacional-socialismo, o qual levara o país a uma
devastação material, ética e humana sem precedentes na história. Assim, por ocasião
do aniversário de 30 (trinta) anos da Lei Fundamental de Bonn (1949), identificou o
historiador Dolf Sternberger, e, posteriormente, o sociólogo Jürgen Habermas, que a
sociedade havia superado a amargura do totalitarismo nazista afincando-se a um novo
marco de coesão social: o patriotismo constitucional (verfassungspatriotismus). Para
os autores, o nacionalismo étnico-bélico germânico, existente desde a Unificação
Alemã (1871) e potencializado com a chegada do Partido Nacional-Socialista Alemão ao
poder (1933), foi substituído pelo respeito e louvor aos princípios democráticos e
inclusivos plasmados na Constituição Alemã do pós-guerra. Nesse sentido, a partir das
lições históricas e teóricas alemãs, o presente trabalho se propõe a identificar a
aplicabilidade do conceito de patriotismo constitucional na realidade social brasileira,
a fim de superar a profunda ruptura de identidade nacional que o país atravessa. Pela
mesma via, busca-se elencar as práticas que corroborariam com a internalização da
cultura de respeito aos direitos constitucionais no país. Desse modo, partindo-se de
uma metodologia exploratória-bibliográfica, a investigação analisa historicamente o
contexto alemão que permitiu o desenvolvimento de um patriotismo fincado na
Constituição, comparando-o com a atual estágio da sociabilidade brasileira. Ao final,
identifica-se que é plenamente possível que haja um patriotismo constitucional
verfassungspatriotismus aos moldes brasileiros, tendo como objeto a Constituição da
República Federativa do Brasil de 1988. Como conclusão parcial, observa-se que o
processo de internalização do conceito na cultura brasileira passa por dois âmbitos de
atuação. De um lado, deve o Supremo Tribunal Federal ter papel ativo na defesa e
proclamação do patriotismo constitucional como elo social de identidade nacional,
assim como o Tribunal Constitucional Federal (Bundesverfassungsgericht) o teve na
Alemanha. De outro, as camadas mais jovens da sociedade, ainda no início da formação
intelectual, devem ser inseridas na cultura de respeito e admiração aos direitos
fundamentais constitucionais. Nessa toada, conclui-se parcialmente que a proliferação
do patriotismo constitucional necessita de políticas educacionais que fomentem o
aprendizado e ensino da Constituição na educação básica e média do país, tanto por
meio de aulas expositivas-participativas com os jovens, como também por atividades
extracurriculares voltadas ao tema, citando-se, como exemplo, a criação de olimpíadas
nacionais, estaduais e municipais de direito constitucional.
Palavras-chave: Patriotismo Constitucional; Ruptura democrática; Coesão
social; Supremo Tribunal Federal; Educação Básica.

O PARTIDO POLÍTICO MILITAR NA CONTEMPORANEIDADE: A INCOMPATIBILIDADE


COM O PROJETO CONSTITUINTE DE 1988
Lucas de Souza Prates
Universidade Federal de Ouro Preto

O presente trabalho apresenta o objetivo de investigar como as Forças Armadas


no Brasil funcionam como uma espécie de partido político tradicional dentro do espaço
público (PENIDO e LENTZ, 2020) (PENIDO; RODRIGUES; MATHIAS, 2020). O fenômeno,
reconhecido como militarização da política, é observado na trajetória da República do
Brasil (DE CARVALHO, 2006). Entretanto, na contemporaneidade, desde a gestão de
Temer houve crescente intensificação dos militares intervindo em assuntos internos e
a ampliação de cargos civis providos para militares (MEYER, 2018). Essa característica
foi reforçada na atual gestão de Bolsonaro (PRATES, 2021a e 2021b). Tal fenômeno,
apesar de ser intensificado na contemporaneidade, é uma característica intrínseca a
histórica constitucional e institucional brasileira (DE CARVALHO, 2006 e PRATES,
2021b). Para a presente investigação, três variáveis são analisadas ao longo do
trabalho: (i) militares em cargos estratégicos no quadro estatal; (ii) expressão de
discursos ou comentários sobre os rumos da política nacional no espaço público; (iii)
avaliação de mecanismos político-institucionais que são utilizados para haver maior
intervenção interna dos militares na política nacional. Alguns resultados parciais já são
observados: o modelo institucional que permite grande intervenção militar em aspectos
civis (REIS, 2017); grande número de militares nos quadros públicos; intervenção
federal liderada por militar; possibilidade de comemoração do golpe de 64; ministro da
saúde militar; a invocação de suposta intervenção militar constitucional, entre outros
inúmeros fatos que balizam essas tensões de poder (PRATES, 2021a). Em termos
metodológicos, a pesquisa é baseada no modelo hipotético-dedutivo (MARCONI;
LAKATOS, 2017, p. 95-99), de caráter histórico-jurídico (GUSTIN; DIAS; NICÁCIO, 2020.
p. 81-86), com ampla revisão bibliográfica de base jurídico-social (GUSTIN; DIAS;
NICÁCIO, 2020. p. 67-70). As conclusões parciais revelam como essa característica
institucional é de grande risco para a democracia brasileira, tendo em vista o histórico
do regime de exceção de natureza militar de um passado recente, o qual não foi
devidamente tratado no processo transicional. Toma-se como exemplo a Lei de
Autoanistia, cuja característica é de reforçar a amnésia social, não colaborando para a
efetivação dos pilares da justiça de transição brasileira (MEYER, 2012). Assim, percebe-
se o grande risco de haver novas erosões democráticas na contemporaneidade por
meio das relações entre Forças Armadas e o campo político. A ideia é que o organismo
institucional das Forças Armadas, submetido ao poder civil (art. 142, CR/88), tende a
querer funcionar como partido político tradicional para reforçar seu poder interventor.
Esse movimento não é compatível para o Estado Democrático de Direito inaugurado
pelo projeto constituinte de 1988.
Palavras-chave: Forças Armadas; Militarização da política; Erosão
democrática; Partido político.

ANÁLISE SOBRE O INQUERITO DAS FAKE NEWS


Pedro Rodrigo Alcântara de Sousa Freitas
UFPI

a) Introdução: O Brasil enfrenta uma crise de desinformação. As plataformas de


mídia social, antes elogiadas por ajudar a abrir novos espaços para a comunicação
horizontal, estão sendo armadas para manipular os cidadãos, validar o discurso de ódio
e minar os princípios democráticos. Em 14 de março de 2019, foi aberto um inquérito
pelo presidente do STF Dias Toffoli, contra a existência de uma associação criminosa
dedicada à divulgação de notícias falsas, ataques a pessoas, autoridades e instituições,
como o Supremo Tribunal Federal, com conteúdo de ódio, subversão da ordem e
incentivos a quebrar as instituições democráticas provocando reações imediatas de
entidades ligadas à área jurídica. b) Objetivos: Este trabalho tem por escopo discutir a
relevância e analisar a forma de instauração de abertura do inquérito, bem como
analisar o papel do Supremo Tribunal Federal na investigação. c) Metodologia: A
pesquisa que se pretende realizar seguirá a metodologia bibliográfica, de natureza
descritiva-qualitativa d) Discussão e resultados: Argumenta-se que a abertura de
investigações criminais sobre fatos ocorridos fora das dependências do tribunal não é
atribuição do Supremo Tribunal Federal, cuja função é julgar, mas de entidades como a
Polícia Federal e o Ministério Público. A indefinição quanto ao escopo da investigação
também foi criticada, assim como a possibilidade de violação do direito fundamental à
liberdade de expressão. Mais recentemente, a investigação foi objeto de uma ação
movida no Supremo pela Rede Sustentabilidade. A parte pede a sua anulação mediante
declaração de inconstitucionalidade da portaria que a institui. Em sua denúncia, a Rede
afirma que o Inquérito “pode ser dirigido contra jornalistas, membros do governo,
membros do judiciário e do Ministério Público, bem como cidadãos em geral”. Segundo
Toffoli, “o STF sempre atuou na defesa das liberdades, especialmente da liberdade de
imprensa e uma imprensa livre em vários de seus julgamentos”. A competência do
Presidente do STF para instaurar tal inquérito está prevista no artigo 43 do Regimento
Interno do Tribunal de Justiça que afirma que “em caso de violação da lei penal na sede
ou dependência do tribunal, o Presidente deverá iniciar uma investigação, se envolver
uma autoridade ou pessoa sob sua jurisdição, ou delegar esta atribuição a outro
ministro”. e) Conclusões: Para serem eficazes, as estratégias para interromper a
desinformação e o conteúdo extremo precisam ser abrangentes. Estamos em um
mundo pós-verdade, onde as pessoas são incapazes de distinguir o fato da ficção, isso
quer dizer que nossa democracia está em apuros. É necessária uma maior
autorregulação em curto prazo, com um objetivo de longo prazo de desenvolver um
Código de Práticas para encorajar a transparência, a cultura da mídia, a diversidade, o
desenvolvimento de ferramentas para “enfrentar” a desinformação e pesquisas
adicionais para monitorar e avaliar as fontes e o impacto das notícias falsas. Essa
proteção é essencial para evitar a autocensura da mídia, para promover reportagens
vigorosas sobre o governo e funcionários públicos e para preservar nossa democracia.
Palavras-chave: Constituição; Desinformação; Democracia; Inquérito.

MULHERES, ALIMENTO E PANDEMIA: intersecções entre gênero e segurança


alimentar e nutricional
Eduarda Camargo Sansão
Faculdade de Ciências Humanas e Sociais - UNESP

O cumprimento da segurança alimentar e nutricional pode ser considerado um


fundamento para o direito à vida, com base nos princípios de promoção da saúde com
acesso adequado e de modo regular a alimentos suficientes em quantidade e
qualidade. A partir da perspectiva jurídica, compreende-se a alimentação como um
direito social previsto no art. 6º da Constituição Federal de 1988. Ao avaliarmos as
formas que a alimentação acontece em famílias economicamente marginalizadas,
existem diferenciações em núcleos familiares conduzidos por mulheres. A fragilização
da educação, das relações de trabalho e formas de obtenção de renda das mulheres
contextualizam a alimentação em um local de insegurança dentro do ambiente
da família. Organismos internacionais, como a ONU e a FAO, assim como pesquisadores
como Emma Silipriandi têm indicado que gênero e classe são elementos determinantes
na constituição dos processos alimentares. A partir dessa perspectiva, esse trabalho
realiza uma avaliação sobre a relação entre a questão de gênero e a segurança
alimentar e nutricional, sob os indicativos que têm surgido dada as condições da
pandemia COVID-19. A atualidade do tema se justifica a partir da necessidade de
avaliação dos impactos pandêmicos ao acesso a alimentos por meio da renda familiar
e distribuição de produtos. Metodologicamente, o presente trabalho tem sido
desenvolvido por uma revisão bibliográfica com avaliação da relação entre a questão
de gênero e o conceito de segurança alimentar e nutricional, o que possibilita a conexão
do impacto da pandemia na realidade concreta de alimentação das mulheres. A
observação desse impacto foi realizada a partir de análise de documentos produzidos
por organizações e setores públicos que têm tratado do debate em torno da segurança
alimentar, com consideração para a parcialidade dos resultados. Analisar a questão de
gênero e a segurança alimentar sob os efeitos da pandemia pode proporcionar
direcionamentos para realização de projetos e políticas públicas no combate às
consequências para a alimentação de famílias vulneráveis chefiadas por mulheres.
Trata-se de um tema de pesquisa que abarca diversos desafios. Analisar os impactos
de um processo temporal em curso apresenta percursos complexos e uma atividade
de pesquisa constante, com um olhar cotidiano sobre os efeitos da pandemia COVID-19
em relação às mulheres e à segurança alimentar e nutricional.
Palavras-chave: Gênero; Segurança Alimentar e Nutricional; Covid-19; Pandemia;
Mulheres.

O ÂMBITO DE ALCANCE E OS LIMITES À INCIDÊNCIA DO TIPO DE OBSTRUÇÃO DE


JUSTIÇA
Ivan Navarro Zonta
Universidade Federal do Paraná

O objetivo do presente trabalho é aferir, com base em revisão bibliográfica de


doutrina especializada e pesquisa jurisprudencial, o âmbito de alcance concreto e os
limites de incidência do tipo penal de obstrução de justiça, previsto no § 1.º do art. 2.º
da Lei n. 12.850/2013 — previsão decorrente de compromisso internacionalmente
assumido na Convenção das Nações Unidas Contra o Crime Organizado Transnacional.
Comete o delito “quem impede ou, de qualquer forma, embaraça a investigação de
infração penal que envolva organização criminosa”. Com a evolução do aparato de
persecução penal e em decorrência da orientação político-criminal de combate
acirrado ao crime organizado, o tipo de obstrução de justiça vem aparecendo com
frequência crescente no cenário pátrio, citando-se como alguns exemplos relevantes
o oferecimento de denúncias contra o deputado federal Aécio Neves (STF, Inq. n.
4.720/DF) e contra o ex-presidente Michel Temer (TRF1, 12ª Vara Federal de Brasília, IP
n. 0004709-34.2019.4.01.3400). Paralelamente à recorrência da imputação do delito, a
jurisprudência vem se deparando — sem suficiente amparo doutrinário, ante a
escassez de obras aprofundadas sobre o tema — com ampla gama de questionamentos
que contrapõem o combate à criminalidade organizada e o direito fundamental de
defender-se perante o Estado. Pode-se questionar, por exemplo, a própria
constitucionalidade do tipo (STF, ADI n. 5.567, de relatoria do Min. Alexandre de Moraes,
com julgamento ainda pendente), a vagueza da descrição das condutas incriminadas, o
possível conflito aparente com outros tipos penais, e a ofensa ao direito de defesa e à
garantia de não autoincriminação. Esses e outros pontos problemáticos motivam o
estudo pretendido, que visa investigar a amplitude do tipo e se de fato há algum âmbito
legítimo de incriminação por esse dispositivo. Visa-se aferir se é possível, a despeito
da lacônica redação legal, incriminar a obstrução de justiça no direito brasileiro sem
interferir no direito de defesa e sem invadir o âmbito de incidência de outros tipos
penais. Com essa perspectiva em vista, busca-se o auxílio do direito comparado, em
especial o norte-americano, cuja jurisprudência e doutrina já se debruçaram com
maior cuidado sobre formas variadas de crimes de obstrução de justiça. Levando em
conta as hipóteses de que (i) a redação do tipo é demasiadamente vaga, (ii) o âmbito de
incidência do tipo não deve alcançar algumas condutas que têm por objetivo a
autodefesa contra a persecução penal, e (iii) o tipo penal pode acabar sendo
indevidamente invocado para incriminar condutas praticadas em perspectiva de
exercício do direito defesa, busca-se investigar se há condutas concretas que possam
ser legitimamente criminalizadas – sem desrespeito aos limites da autodefesa, da
vedação à autoincriminação e do exercício da defesa técnica na esfera penal – como
atos de obstrução de justiça. E, caso positivo, quais balizas devem ser observadas para
que a aplicação do dispositivo incriminador se dê em conformidade com as regras que
regem o sistema penal e processual penal pátrio.
Palavras-chave: direito penal; obstrução de justiça; alcance do tipo penal;
direito de defesa.

A DOUTRINA DO STRICT SCRUTINY COMO TÉCNICA DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS


FUNDAMENTAIS E DE CONTENÇÃO AO CONSTITUCIONALISMO ABUSIVO
Leandro de Oliveira Teixeira
Academia Brasileira de Direito Constitucional

Nos sistemas de controle de constitucionalidade brasileiro e norte-americano,


aplica-se o princípio da presunção de constitucionalidade, segundo o qual as normas
jurídicas nascem em conformidade com a Constituição e, por consequência, a
comprovação de inconstitucionalidade de determinada norma é ônus processual de
quem alegá-la. Nos Estados Unidos, no entanto, a Suprema Corte norte-americana
admite a doutrina do strict scrutiny ou doutrina do “escrutínio estrito”, que é uma forma
de controle judicial em que se aplica a relativização ou a inversão da presunção de
constitucionalidade em relação a normas jurídicas violadoras de direitos fundamentais
constitucionalmente protegidos, sendo especialmente utilizada contra atos
governamentais. A hipótese central deste trabalho é a possibilidade de aplicação de tal
doutrina pelo Judiciário brasileiro com a finalidade de proteção dos direitos
fundamentais e de impedimento do avanço do constitucionalismo abusivo, sendo este
definido como fenômeno em que líderes com vieses autoritários e populistas utilizam
a estrutura constitucional contra a democracia constitucional e os direitos
fundamentais, enfraquecendo a qualidade democrática de um país. Sendo assim, esta
pesquisa tem como objetivos os estudos acerca da compatibilidade da doutrina norte-
americana do strict scrutiny no controle de constitucionalidade brasileiro, formas de
contenção ao constitucionalismo abusivo e de proteção dos direitos fundamentais e das
minorias. Para tanto, a metodologia se baseia em pesquisas bibliográfica e
jurisprudencial, tanto nacionais quanto estrangeiras, aplicando-se também o método
comparativo quanto ao estudo do direito estrangeiro. Analisam-se os sistemas de
controle de constitucionalidade brasileiro e o norte-americano, suas características,
pontos em comum e distinções. Em seguida, estuda-se a doutrina do strict scrutiny,
que é uma construção jurisprudencial criada pela Suprema Corte dos Estados Unidos
como modo de defesa de direitos fundamentais, sua origem e os principais casos em
que foi aplicada. Após, investiga-se a possibilidade de sua adoção no controle de
constitucionalidade brasileiro a partir do fundamento do papel contramajoritário das
Cortes Constitucionais na defesa e na concretização dos direitos fundamentais, com o
objetivo de que a presunção de constitucionalidade de leis e atos normativos que violem
tais direitos seja relativizada em prol da máxima proteção dos direitos fundamentais e
da defesa das minorias. Posteriormente, examina-se a doutrina do strict scrutiny como
um dos principais meios de resistência, pela via Judicial, contra o avanço do
constitucionalismo abusivo e do populismo, ressaltando também a importância do
checks and balances como sistema de fortalecimento da democracia e antídoto contra
práticas governamentais autoritárias que visem à erosão democrática e à supressão
de direitos fundamentais. Por fim, conclui-se que a doutrina do strict scrutiny pode ser
aplicada no direito brasileiro, tanto por construção jurisprudencial – a partir da
fundamentação da máxima efetividade dos direitos fundamentais, do papel
contramajoritário das Cortes na tutela de direitos fundamentais, etc. – quanto por
previsão em lei.
Palavras-chave: Constitucionalismo Abusivo; Controle de Constitucionalidade;
Democracia; Direitos Fundamentais; Strict Scrutiny.

A EFICIÊNCIA DAS POLÍTICAS PÚBLICAS E A PARTICIPAÇÃO POPULAR ATRAVÉS DAS


REDES SOCIAIS
Luísa Fófano Chudzij
Academia Brasileira de Direito Constitucional - ABDConst

As Políticas Públicas estão, a priori, respaldadas na dignidade da pessoa humana


e possuem como cerne a promoção dos direitos fundamentais, sendo conceitualizadas
como mecanismos necessários para a concretização de tais direitos. Logo, são um
conjunto coordenado de ações estatais voltadas à efetivação dos direitos, sendo uma
atividade estreitamente correlacionada ao princípio da eficiência. Sendo assim, essa
pesquisa toma por objeto de estudo a possibilidade da utilização das redes sociais
como meios de participação da sociedade civil na formulação e controle das Políticas
Públicas, a fim de alcançar uma maior eficiência. Para tanto, a metodologia se baseia
em pesquisas bibliográficas como fonte do raciocínio, bem como em um estudo
casuístico da Constituinte Islandesa de 2011, valendo-se do método dedutivo para a
construção das principais ideias textuais. A proposta é examinar a possibilidade da
utilização das redes sociais – como Facebook, Instagram, WhatsApp – como canais de
comunicação imediatos entre a sociedade civil e os agentes políticos responsáveis pela
formulação e implementação das Políticas Públicas. Por meio desta nova perspectiva
participativa seria possível alcançar uma maior eficiência das ações políticas – seja do
ponto de vista da eficiência da escolha ou da eficiência como finalidade. A escolha do
tema foi motivada no fato de que o princípio da eficiência constitui a base fundamental
a ser propagada em todo o policy cycle e deve ser sempre perquirido. Ao longo do
estudo, foi possível depreender que é primordial a abertura de diálogo, haja vista que,
assim, a própria sociedade participaria do processo de construção, controle e
fiscalização das ações governamentais. É essencial que a população exerça um papel
ativo na arena política, apresentando suas demandas, opiniões e fiscalizando o agir
político. Diante de tais considerações, deparou-se com o cenário da Constituinte
Islandesa de 2011, na qual as redes sociais foram empregadas como canais diretos com
a sociedade civil. No país nórdico, a população pôde participar ativa e diretamente na
construção de uma Constituição que fosse fidedigna aos anseios sociais. Conclui-se
que os canais digitais de comunicação diretos com a sociedade permitem uma
transmutação do sujeito: este passa a não ser apenas um objeto para o qual as Políticas
Públicas são destinadas, mas também co-autor. Sendo assim, ampliar o debate político
com a criação de canais oficiais é uma perspectiva não apenas positiva, mas também
essencial para a eficiência das Políticas Públicas. Não se ignora o fato de que, mesmo
com a utilização das redes sociais, as Políticas Públicas podem ainda não alcançar uma
máxime eficiência, até porque o amplo acesso aos meios de comunicação não é
realidade em todos os estratos sociais. Todavia, a abertura do ciberespaço é, hoje, uma
alternativa de intensificação da participação na construção das decisões políticas. É
necessária uma atitude disruptiva e inovadora. Os sujeitos envolvidos no processo de
Políticas Públicas devem estar motivados a implementar a Democracia participativa
digital. Somente com novos panoramas de abertura política é que as Políticas Públicas
poderão cumprir com o seu escopo: ser mecanismo de concretização dos direitos
fundamentais e, principalmente, do Estado Democrático de Direito.
Palavras-chave: Políticas Públicas – Eficiência – Democracia participativa –
Internet – Redes sociais

LANÇAMENTO E AUTOVINCULAÇÃO: PERSPECTIVAS DE ESTABILIZAÇÃO DA RELAÇÃO


JURÍDICA TRIBUTÁRIA
Nádia Rubia Biscaia
Universidade Federal do Paraná

O presente estudo tem por escopo analisar os contornos e dimensões da


autovinculação, inerente ao lançamento tributário, extraindo as perspectivas para a
manutenção da estabilidade e equidade da relação jurídica de direito tributário.
Sabendo que aos agentes da Administração Pública há a imposição do dever de
observância irrestrita dos termos legais, por especial força do princípio da legalidade,
conforme prescrito pelo Código Tributário Nacional (artigo 3º) e assentado na literatura
brasileira, a questão maior que se colocará para solução é a definição da exata
extensão do caráter vinculativo e de que modo esta apreensão contribui para a
proteção do contribuinte contra atos subjetivos e excedentes. A concepção apresentada
intenta sistematizar o conhecimento acerca do tema, justificando-se pela ausência, na
literatura, ainda que parcial, de discussão direcionada ao controle do lançamento
tributário. Com esteio em pesquisa teórica, levada a efeito por meio de revisão
bibliográfica, e com fundamento no método dedutivo, a investigação alçará análise, em
primeiro momento, quanto ao fundamento, a função, e a aplicabilidade do dever de
vinculação à administração tributária. Em segundo momento, evidenciará as dimensões
daquele dever e a implicação de limitação à atuação da autoridade administrativa. A par
da pesquisa empreendida, em terceira análise, delineará a formatação do controle do
lançamento tributário, especialmente no que tange à revisão, discorrendo acerca da
instauração do contencioso administrativo tributário. Frente às nuances que circundam
o processo administrativo tributário, evidenciará, com esteio nos princípios da
legalidade e da juridicidade, as balizas para a perspectivação da estabilidade e equidade
na relação jurídica tributária. Desse modo, enfrentados os aspectos que contornam a
temática do lançamento tributário e da autovinculação, concluirá, inicialmente, que
esse dever circunda não somente a atuação fiscalizatória (voltada à apreensão de fatos
jurídicos e respectiva subsunção à norma – resultando na constituição do crédito
tributário) mas, também, a atuação no âmbito do contencioso administrativo tributário
– englobando atos procedimentais e de cunho decisório. Concluirá, ainda, que o
controle do lançamento tributário, quando fundamentado nos princípios da legalidade
e da juridicidade, constitui instrumento hábil para a manutenção e efetivação do dever
de vinculação das autoridades administrativas tributárias não somente às normas, mas
de igual forma aos preceitos constitucionais. Em razão desse último aspecto, a
proposta é demarcar as limitações à atividade dos agentes fiscais, sobretudo no âmbito
da interpretação normativa. Diante da investigação proposta, busca-se demonstrar os
caminhos e clareiras à estabilização da relação jurídica própria do direito tributário,
com especial acuidade reflexiva quanto à proteção e observância dos direitos
fundamentais que circunscrevem o campo da tributação. Contribuindo para a melhor
apreensão desta temática no âmbito acadêmico e profissional, aporta ao presente
estudo panorama esclarecedor, sistemático e fundamental, voltado à compreensão do
que se constitui a vinculação da Administração Pública e a sua respectiva aplicação no
âmbito do exercício do poder-dever tributário; bem como dos meios de efetivação do
direito de defesa dos contribuintes, essencialmente nas hipóteses em que são
identificadas arbitrariedades e abusos por parte das autoridades administrativas em
função tributária.
Palavras-chave: lançamento tributário; autovinculação; controle; princípio da
legalidade; princípio da juridicidade.

AS POLÍTICAS PÚBLICAS DE COMBATE À VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E SEXUAL CONTRA


MULHERES IMIGRANTES E REFUGIADAS EM DOURADOS, ESTADO DE MATO GROSSO
DO SUL
Valesca Luzia Leão Luiz
Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD)

A presente pesquisa tem por objetivo verificar a existência de políticas públicas


destinadas às mulheres imigrantes e refugiadas que são vítimas de violência doméstica
e sexual na cidade de Dourados, estado de Mato Grosso do Sul. A escolha desta
delimitação territorial se dá pelo aumento expressivo da migração e do programa de
interiorização dos venezuelanos no referido estado. Utiliza-se como metodologia a
pesquisa exploratória, por demandar um trabalho de campo em que não se tenha uma
bibliografia especializada. Caso a análise demonstre a existência de poucas políticas
públicas, poderá ser utilizado o estudo de caso para ampliar as informações
pertinentes. Nesse sentido, a pesquisa adota como conceito de migrante o estabelecido
pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), sendo aquele que
escolhe se deslocar não por causa de uma ameaça direta de perseguição ou morte, e
sim para obter melhores condições de vida e diminuir as dificuldades ocasionadas por
desastres naturais, pela fome e pela extrema pobreza. Já em relação aos refugiados
observa-se o conceito consagrado na Convenção de Genebra de 1951, relativo ao
Estatuto dos Refugiados; e o Protocolo Adicional de Nova York, de 1967, relativo ao
Estatuto dos Refugiado, todos da Organização das Nações Unidas (ONU); e o do Estatuto
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father Æneas, already the chivalry of Troy are flocking
in, and stretching themselves here and there on coverlets
of purple. There are servants offering them water
for their hands, and deftly producing the bread from the 15
baskets, and presenting towels with shorn nap. Within
are fifty maidens, whose charge is in course to pile up provisions
in lasting store, and light up with fire the gods of the
hearth. A hundred others there are, and male attendants
of equal number and equal age, to load the table with 20
dishes, and set on the cups. The Tyrians, too, have
assembled in crowds through the festive hall, and scatter
themselves as invited over the embroidered couches.
There is marvelling at Æneas’ presents, marvelling at
Iulus, at those glowing features, where the god shines 25
through, and those words which he feigns so well, and at
the robe and the veil with the yellow acanthus border.
Chief of all, the unhappy victim of coming ruin cannot
satisfy herself with gazing,[116] and kindles as she looks,
the Phœnician woman, charmed with the boy and the 30
presents alike. He, after he has hung long in Æneas’
arms and round his neck, gratifying the intense fondness
of the sire he feigned to be his, finds his way to the queen.
She is riveted by him—riveted, eye and heart, and ever
and anon fondles him in her lap[117]—poor Dido, unconscious 35
how great a god is sitting heavy on that wretched bosom.
But he, with his mind still bent on his Acidalian mother,
is beginning to efface the name of Sychæus letter by letter,
and endeavouring to surprise by a living passion affections
long torpid, and a heart long unused to love.

When the banquet’s first lull was come, and the board
removed, then they set up the huge bowls and wreathe the
wine. A din rings to the roof—the voice rolls through 5
those spacious halls; lamps[118] hang from the gilded ceiling,
burning brightly, and flambeau-fires put out the night.
Then the queen called for a cup, heavy with jewels and
gold, and filled it with unmixed wine; the same which
had been used by Belus, and every king from Belus downward. 10
Then silence was commanded through the hall.
“Jupiter, for thou hast the name of lawgiver for guest and
host, grant that this day may be auspicious alike for the
Tyrians and the voyagers from Troy, and that its memory
may long live among our posterity. Be with us, Bacchus,[119] 15
the giver of jollity, and Juno, the queen of our blessings;
and you, the lords of Tyre, may your goodwill grace this
meeting.” She said, and poured on the table an offering
of the wine, and, the libation made, touched the cup
first with her lips, then handed it to Bitias, rallying his 20
slowness. Eagerly he quaffed the foaming goblet, and
drenched himself deep with its brimming gold. Then
came the other lords in order. Iopas, the long-haired
bard, takes his gilded lyre, and fills the hall with music;
he, whose teacher was the mighty Atlas.[120] His song[121] is of 25
the wanderings of the moon and the agonies of the sun,
whence sprung man’s race and the cattle, whence rain-water
and fire; of Arcturus and the showery Hyades,
and the twin Bears; why the winter suns make such
haste to dip in ocean, or what is the retarding cause that 30
bids the nights move slowly. Plaudits redouble from
the Tyrians, and the Trojans follow the lead. With
varied talk, too, she kept lengthening out the night, unhappy
Dido, drinking draughts of love long and deep,
as she asked much about Priam, about Hector much; 35
now what were the arms in which Aurora’s son had come
to battle; now what Diomede’s steeds were like; now how
great was Achilles. “Or rather, gentle guest,” cries she,
“tell us the story from the very first—all about the stratagems
of the Danaans, and the sad fate of your country,
and your own wanderings—for this is now the seventh
summer that is wafting you a wanderer still over every
land and wave.”
BOOK II
Every tongue was hushed, and every eye fixed intently,
when, from high couch, father Æneas began thus:—

“Too cruel to be told, great queen, is the sorrow you


bid me revive—how the power of Troy and its empire
met with piteous overthrow from the Danaans—the 5
heartrending sights which my own eyes saw, and the scenes
where I had a large part to play. Who, in such recital—be
he of the Myrmidons[122] or the Dolopes, or a soldier of
ruthless Ulysses’[123] band—would refrain from tears? And
now, too, night is rushing in dews down the steep of heaven, 10
and the setting stars counsel repose. Still, if so great be
your longing to acquaint yourself with our disasters, and
hear the brief tale of Troy’s last agony, though my mind
shudders at the remembrance, and starts back in sudden
anguish, I will essay the task. 15

“Broken by war and foiled by destiny, the chiefs of the


Danaans, now that the flying years were numbering so
many, build a horse of mountain size, by the inspiration of
Pallas’ skill, and interlace its ribs with planks of fir. A
vow for their safe journey home is the pretext: such the 20
fame that spreads. In this they secretly enclose chosen
men of sinew, picked out by lot, in the depth of its sides,
and fill every corner of those mighty caverns, the belly of
the monster, with armed warriors.

“In sight of Troy lies Tenedos, an island of wide-spread 25


renown, powerful and rich while Priam’s empire yet was,
now a mere bay, a treacherous roadstead for ships. Thus
far they sail out, and hide themselves on the forsaken
coast. We thought them gone off with a fair wind for
Mycenæ. And so all Trojan land shakes off the agony of 30
years. Open fly the gates; what pleasure to go and see the
Dorian camp, and the places deserted, and the shore forsaken!
Yes, here were the troops of the Dolopes; here
the tent of that savage Achilles; here the ships were drawn
up; here they used to set the battle in array. Some of 5
us are standing agaze at the fatal offering to the virgin
goddess, and wondering at the hugeness of the horse;
and Thymœtes takes the lead, urging to have it dragged
within the walls, and lodged in the citadel, either with
treasonable intent, or that the fate of Troy had begun to 10
set that way. But Capys, and the men of saner judgment,
bid us send this snare of the Danaans, this suspicious present,
headlong into the sea, or light a fire under and burn
it; or, if not that, to pierce and probe that hollow womb
that might hide so much. The populace, unstable as 15
ever, divides off into opposite factions.

“Throwing himself before all, with a great crowd at his


back, Laocoon,[124] all on fire, comes running down the steep
of the citadel, crying in the distance, ‘What strange
madness is this, my unhappy countrymen? Think you 20
that the enemy has sailed off, or that a Danaan could ever
make a present that had no treachery in it? Is this your
knowledge of Ulysses? Either the Achæans are shut up
and hiding in this piece of wood, or it is an engine framed
against our walls, to command the houses and come down 25
on the city from above, or there is some other secret trick.
Men of Troy, put no faith in the horse. Whatever it be,
I fear a Greek even with a gift in his hand.’ With these
words he hurled a mighty spear with all his force against
the beast’s side, the jointed arch of its belly. It lodged, 30
and stood quivering; the womb shook again, and an echo
and a groan rang hollow from its caverns; and, then,
had but heaven’s destiny and man’s judgment been unwarped,
he had led us to carry sword and havoc into the
Argive lurking-place, and Troy would now be standing, 35
and thou, Priam’s tall fortress, still in being.

“Meanwhile, see! some Dardan shepherds are dragging


with loud shouts before the king a young man with his
hands tied behind him, who had thrown himself, a stranger,
across their way, to compass this very thing, and thus
let the Achæans into Troy—bold of heart, and ready for
either issue, either to play off his stratagem, or to meet
inevitable death. From all sides, in eager curiosity, 5
the Trojan youth come streaming round, vying in their
insults to the prisoner. Now then, listen, to the tale of
Danaan fraud, and from one act of guilt learn what the
whole nation is. There as he stood, with all eyes bent on
him, bewildered, defenceless, and looked round on the 10
Phrygian bands, ’ Alas!’ he cries, ‘where is there a
spot of earth or sea that will give me shelter now? or what
last resource is left for a wretch like me—one who has no
place among the Danaans to hide my head—while the
children of Dardanus no less are in arms against me, 15
crying for bloody vengeance?’ At that piteous cry our
mood was changed, and every outrage checked. We
encourage him to speak—to tell us what his parentage
is; what his business; what he has to rest on as a prisoner.
‘All, my lord, shall be avowed to you truly, whatever 20
be the issue. I will not deny that I am an Argive by
nation; this to begin with. Nor if Fortune has made a
miserable man out of Sinon, shall her base schooling
make him deceiver and liar as well. If haply in talk your
ears ever caught the name of Palamedes, of the house of 25
Belus, and his wide-spread renown—his, whom under
false accusation, an innocent man, charged by the blackest
calumny, all because his voice was against the war,
the Pelasgians sent down to death, and now, when he is
laid in darkness, lament him too late—know that it was 30
as his comrade and near kinsman I was sent by a needy
father to a soldier’s life in earliest youth. While he stood
with his royal state unimpaired, an honoured member of
the kingly council, I, too, enjoyed my measure of name
and dignity; but after the jealousy of false Ulysses—you 35
know the tale—removed him from this upper clime—dashed
from my height, I dragged on life in darkness and
sorrow, and vented to my own heart my rage at the disaster
of my innocent friend. Nor did I keep silence—madman
that I was! No, if ever the chance were given
me—if ever I came back with glory to my native Argos—I
vowed myself his avenger, and my words stirred up
bitter enmity. From that time my ruin began; from that 5
time Ulysses was ever threatening me with some new
charge, ever scattering abroad words of mystery, and looking
for allies to plot with. Nor did he rest till by Calchas’[125]
agency—but why recall this unwelcome story with no
end to gain? Why waste your time, if you hold all Achæans 10
alike, and to hear that is to hear enough? Take the
vengeance you should have taken long ago. It is just
what would please the Ithacan, and earn a large reward
from the sons of Atreus!’[126]

“This makes us burn, indeed, to explore and inquire into 15


the reason of his tale, not knowing that crime could be so
monstrous, and Pelasgian art so cunning. He resumes, in
faltering tones, spoken from his false heart:—

“‘Often have the Danaans designed to turn their back


on Troy and accomplish a retreat, and abandon the war 20
that had wearied them so long; and would they had done
it! As often has the fierce inclemency of the deep barred
their purpose, and the south wind frightened them from
sailing. Especially, when this horse was set up at last, a
compacted mass of maple planks, the thunder of the storm-clouds
25
was heard the whole firmament over. In our
perplexity we send Eurypylus to inquire of Phœbus’[127]
oracle, and this is the gloomy message that he brings back
from the shrine: “With blood it was ye appeased the winds,
even with a maiden’s slaughter, when first ye came, Danaans, 30
to the shore of Ilion. With blood it is ye must buy
your return, and propitiate heaven by the life of an Argive!”
Soon as the news reached the public ear, every
mind was cowed, and a cold shudder thrilled the depth of
every heart. For whom has Fate a summons? Whom does 35
Apollo demand as his prey? And now the Ithacan, with
boisterous vehemence, drags forward the prophet Calchas,
insists on knowing what that announcement of heaven’s
will may mean; and many even then were the prophetic
mouths that warned me of the trickster’s cruel villany,
and many the eyes that silently foresaw the future. Ten
days the seer holds his peace, and keeps his tent, refusing
to utter a word that should, disclose any name or sacrifice 5
any life. At last, goaded by the Ithacan’s vehement
clamour, he breaks into a concerted utterance, and dooms
me to the altar. All assented, well content that the danger
which each feared for himself should be directed to the
extinction of one poor wretch. And now the day of horror 10
was come; all was being ready for my sacrifice—the
salt cakes for the fire, and the fillet to crown my brow—when
I escaped, I own it, from death, and broke my
bonds, and hid myself that night in a muddy marsh in the
covert of the rushes, while they should be sailing, in the 15
faint hope that they had sailed. My old country, I
never expect to see it again, nor my darling children, and
the father I have longed so for! No! they are likely
to visit them with vengeance for my escape, and expiate
this guilt of mine by taking their poor lives. O! by the 20
gods above, and the powers that know when truth is
spoken, if there is yet abiding anywhere among men such
a thing as unsullied faith, I conjure you, have pity on this
weight of suffering, have pity on a soul that is unworthily
borne down!’ 25

“Such a tearful appeal gains him his life, and our compassion
too. Priam himself is first to bid them relieve the
man of his manacles and the chains that bound him, and
addresses him in words of kindness. ‘Whoever you are,
from this time forth have done with the Greeks, and forget 30
them. I make you my man, and bid you answer truly
the questions I shall put. What do they mean by setting
up this huge mountain of a horse? Who was the prompter
of it? What is their object? Some religious offering, or
some engine of war?’ 35

“Thus Priam: the prisoner, with all his Pelasgian craft


and cunning about him, raised his unfettered hands to the
stars:—

“‘You, eternal fires, with your inviolable majesty, be


my witnesses; you, altars and impious swords, from which
I fled; and you, hallowed fillets, which I wore for the sacrifice!
I am free to break all the sacred ties that bound me
to the Greeks. I am free to treat them as my foes, and 5
disclose all their secrets to the light of day, all the claims
of the land of my birth notwithstanding. Only do thou
abide by thy plighted word, and preserve faith with thy
preserver, land of Troy, if he tells thee true, and makes
thee large returns. 10

“‘The strength of the Danaan hopes, and the soul of


their confidence in the war they plunged into, has ever
been the aid of Pallas. From the time when Tydeus’ impious
son and Ulysses, that coiner of villany, dared to
drag away from her hallowed temple the fateful Palladium,[128] 15
slaughtering the guards who watched the citadel’s
height, thenceforth there was an ebb and a backsliding in
the Danaan hopes, their forces shattered, the goddess estranged.
Nor were the portents dubious that betokened
Tritonia’s change of mood. Scarce was the image lodged 20
in the camp, when flashing fire glowed in her uplifted eyes,
and salt sweat trickled over her frame, and thrice of herself
she leaped from the ground, marvellous to relate, shield
and quivering lance and all. Forthwith Calchas sounds
the note for flight over the perilous deep, for that Pergamus 25
can never be razed by Argive steel, unless they go to
Argos for fresh omens, and bring back the divine aid
which their crooked keels bore with them aforetime over
the sea. And now this their voyage home to Mycenæ is
to get new forces and gods to sail with them; they will re-cross 30
the deep, and come upon you unforeseen. Such is
Calchas’ scanning of the omens. As for this image, he
warned them to set it up in exchange for the Palladium,
and, in expiation of injured deity, to atone for their fatal
crime. Calchas, however, bade them raise it to the vast 35
height you see, knitting plank to plank, till it was brought
near to heaven, that it might not be admitted at the gates
or dragged within the walls, and thus restore to the people
the bulwark of their old worship. For if your hand should
profane Minerva’s offering, then (said he) a mighty destruction—may
the gods turn the omen on his head ere
it falls on yours!—would come on the empire of Priam
and the Phrygian nation; but if these hands of yours 5
should help it to scale your city’s height, Asia would roll
the mighty tide of invasion on the walls of Pelops,[129] and
our posterity would have to meet the fate he threatened.’

“Such was the stratagem—the cursed art of perjured


Sinon—that gained credence for the tale; and such the 10
victory won over us by wiles and constrained tears—over
us, whom not Tydeus’ son, nor Achilles of Larissa,
nor ten years of war subdued, nor a fleet of a thousand
sail.

“And now another object, greater and far more terrible, 15


is forced on my poor countrymen, to the confusion of their
unprophetic souls. Laocoon, drawn by lot as Neptune’s
priest, was sacrificing a mighty bull at the wonted altar—when
behold from Tenedos, over the still deep—I
shudder as I recount the tale—two serpents coiled in vast 20
circles are seen breasting the sea, and moving side by side
towards the shore. Their breasts rise erect among the
waves; their manes, of blood-red hue, tower over the
water, the rest of them floats behind on the main, trailing
a huge undulating length; the brine foams and dashes 25
about them; they are already on shore, in the plain—with
their glowing eyes bloodshot and fiery, and their
forked tongues playing in their hissing mouths. We fly
all ways in pale terror: they, in an unswerving column,
make for Laocoon, and first each serpent folds round one 30
of his two sons, clasping the youthful body, and greedily
devouring the poor limbs. Afterwards, as the father comes
to the rescue, weapon in hand, they fasten on him and lash
their enormous spires tight round him—and now twice
folded round his middle, twice embracing his neck with 35
their scaly length, they tower over him with uplifted head
and crest. He is straining with agonizing clutch to pull
the knots asunder, his priestly fillets all bedewed with gore
and black poison, and raising all the while dreadful cries
to heaven—like the bellowing, when a wounded bull darts
away from the altar, dashing off from his neck the ill-aimed
axe. But the two serpents escape glidingly to the
temple top, making for the height where ruthless Tritonia 5
is enthroned, and there shelter themselves under the goddess’s
feet and the round of her shield. Then, indeed,
every breast is cowed and thrilled through by a new and
strange terror—every voice cries that Laocoon has been
duly punished for his crime, profaning the sacred wood 10
with his weapon’s point, and hurling his guilty lance
against the back of the steed. Let the image be drawn
to her temple, and let prayer be made to the goddess, is
the general cry—we break through the walls and open
the town within. All gird them to the work, putting 15
wheels to run easily under its feet, and throwing lengths
of hempen tie round its neck. It scales the walls, that
fateful engine, with its armed brood—boys and unwedded
girls, standing about it, chant sacred hymns, delighted to
touch the rope. In it moves, rolling with threatening brow 20
into the heart of the city. O my country! O Ilion,
home of the gods! O ye, Dardan towers, with your martial
fame! Yes—four times on the gateway’s very threshold
it stopped, four times the arms rattled in its womb.
On, however, we press, unheeding, in the blindness of our 25
frenzy, and lodge the ill-starred portent in our hallowed
citadel. Even then Cassandra[130] unseals to speak of future
fate those lips which by the god’s command no Trojan
ever believed—while we, alas! we, spend the day that
was to be our last in crowning the temples of the gods 30
with festal boughs the whole city through.

“Meantime round rolls the sky, and on comes night from


the ocean, wrapping in its mighty shade earth and heaven
and Myrmidon wiles: through the city the Trojans are
hushed in careless repose, their tired limbs in the arms of 35
sleep. Already was the Argive host on its way from Tenedos,
through the friendly stillness of the quiet moon,
making for the well-known shore, when see! the royal
ship mounts its fire signal, and Sinon, sheltered by heaven’s
partial decree, stealthily sets at large the Danaans, hid in
that treacherous womb, and opens the pine-wood door:
they as the horse opens are restored to upper air, and leap
forth with joy from the hollow timber, Thessander and 5
Sthenelus leading the way, and the dreaded Ulysses, gliding
down the lowered rope, and Achamas and Thoas, and
Neoptolemus of Peleus’ line, and first Machaon, and Menelaus,
and the framer of the cheat himself, Epeus. They
rush on the town as it lies drowned in sleep and revelry. 10
The watchers are put to the sword, the gates thrown open,
and all are welcoming their comrades, and uniting with
the conspiring bands.

“It was just the time when first slumber comes to heal
human suffering, stealing on men by heaven’s blessing 15
with balmiest influence. Lo! as I slept, before my eyes
Hector,[131] in deepest sorrow, seemed to be standing by me,
shedding rivers of tears—mangled from dragging at the
car, as I remember him of old, and black with gory dust,
and with his swollen feet bored by the thong. Ay me! 20
what a sight was there! what a change from that Hector
of ours, who comes back to us clad in the spoils of Achilles,
or from hurling Phrygian fire on Danaan vessels! with
stiffened beard and hair matted with blood, and those
wounds fresh about him, which fell on him so thickly 25
round his country’s walls. Methought I addressed him
first with tears like his own, fetching from my breast the
accents of sorrow—‘O light of Dardan land, surest hope
that Trojans ever had! What delay has kept you so long?
From what clime is the Hector of our longings returned 30
to us at last? O the eyes with which, after long months
of death among your people, months of manifold suffering
to Troy and her sons, spent and weary, we look upon you
now! What unworthy cause has marred the clear beauty
of those features, or why do I behold these wounds?’ 35
He answers nought, and gives no idle heed to my vain
inquiries, but with a deep sigh, heaved from the bottom
of his heart—‘Ah! fly, goddess-born!’ cries he, ‘and
escape from these flames—the walls are in the enemy’s
hand—Troy is tumbling from its summit—the claims
of country and king are satisfied—if Pergamus could be
defended by force of hand, it would have been defended
by mine, in my day. Your country’s worship and her 5
gods are what she entrusts to you now—take them to
share your destiny—seek for them a mighty city, which
you shall one day build when you have wandered the
ocean over.’ With these words he brings out Queen Vesta[132]
with her fillets and the ever-burning fire from the secret 10
shrine.

“Meanwhile the city in its various quarters is being convulsed


with agony—and ever more and more, though my
father Anchises’ palace was retired in the privacy of embosoming
trees, the sounds deepen, and the alarm of 15
battle swells. I start up from sleep, mount the sloping
roof, and stand intently listening—even as, when among
standing corn a spark falls with a fierce south wind to
fan it, or the impetuous stream of a mountain torrent
sweeps the fields, sweeps the joyous crops and the bullocks’ 20
toil, and drives the woods headlong before it, in
perplexed amazement a shepherd takes in the crash from
a rock’s tall summit. Then, indeed, all doubt was over,
and the wiles of the Danaans stood confessed. Already
Deiphobus’ palace has fallen with a mighty overthrow 25
before the mastering fire-god—already his neighbour
Ucalegon is in flames—the expanse of the Sigean sea
shines again with the blaze. Up rises at once the shouting
of men and the braying of trumpets. To arms I rush
in frenzy.—not that good cause is shown for arms—but 30
to muster a troop for fight, and run to the citadel with
my comrades is my first burning impulse—madness and
rage drive my mind headlong, and I think how glorious to
die with arms in my hand.

“But see! Panthus, escaped from an Achæan volley, 35


Panthus, Othrys’ son, priest of Phœbus in the citadel,
comes dragging along with his own hand the vanquished
gods of his worship and his young grandchild, and making
distractedly for my door. ‘How goes the day, Panthus?
What hold have we of the citadel?’ The words
were scarcely uttered when with a groan he replies, ‘It is
come, the last day, the inevitable hour—on Dardan land
no more Trojans; no more of Ilion, and the great renown 5
of the sons of Teucer; Jove, in his cruelty, has carried all
over to Argos; the town is on fire, and the Danaans are
its masters. There, planted high in the heart of the city,
the horse is pouring out armed men, and Sinon is flinging
about fire in the insolence of conquest; some are 10
crowding into the unfolded gates—thousands, many as
ever came from huge Mycenæ: some are blocking up the
narrow streets, with weapons pointed at all comers; the
sharp steel with its gleaming blade stands drawn, ready
for slaughter; hardly, even on the threshold, the sentinels 15
of the gates are attempting resistance, in a struggle where
the powers of war are blind.’

“At these words of the son of Othrys, and heaven’s


will thus expressed, I plunge into the fire and the battle,
following the war-fiend’s yell, the din of strife, and the 20
shout that rose to the sky. There join me Rhipeus and
Epytus, bravest in fight, crossing my way in the moonlight,
as also Hypanis and Dymas, and form at my side;
young Coroebus, too, Mygdon’s son; he happened to be
just then come to Troy, with a frantic passion for Cassandra, 25
and was bringing a son-in-law’s aid to Priam and his
Phrygians—poor boy! to have given no heed to the
warnings of his heaven-struck bride! Seeing them
gathered in a mass and nerved for battle, I begin thereon:—‘Young
hearts, full of unavailing valour, if your desire 30
is set to follow a desperate man, you see what the plight
of our affairs is—gone in a body from shrine and altar
are the gods who upheld this our empire—the city you
succour is a blazing ruin; choose we then death, and rush
we into the thick of the fight. The one safety for vanquished 35
men is to hope for none.’ These words stirred
their young spirits to madness: then, like ravenous wolves
in night’s dark cloud, driven abroad by the blind rage of
lawless hunger, with their cubs left at home waiting their
return with parched jaws, among javelins, among foemen,
on we go with no uncertain fate before us, keeping our
way through the heart of the town, while night flaps over
us its dark, overshadowing wings. Who could unfold in 5
speech the carnage, the horrors of that night, or make his
tears keep pace with our suffering? It is an ancient city,
falling from the height where she queened it many a year;
and heaps of unresisting bodies are lying confusedly in the
streets, in the houses, on the hallowed steps of temples. 10
Nor is it on Teucer’s sons alone that bloody vengeance
lights. There are times when even the vanquished feel
courage rushing back to their hearts, and the conquering
Danaans fall. Everywhere is relentless agony; everywhere
terror, and the vision of death in many a manifestation. 15

“First of the Danaans, with a large band at his back,


Androgeos crosses our way, taking us for a troop of his
friends in his ignorance, and hails us at once in words of
fellowship: ‘Come, my men, be quick. Why, what sloth 20
is keeping you so late? Pergamus is on fire, and the rest
of us are spoiling and sacking it, and here are you, but
just disembarked from your tall ships.’ He said, and instantly,
for no reply was forthcoming to reassure him, saw
that he had fallen into the thick of the enemy. Struck 25
with consternation, he drew back foot and tongue. Just
as a man who at unawares has trodden on a snake among
thorns and briers in his walk, and recoils at once in sudden
alarm from the angry uplifted crest and the black swelling
neck, so Androgeos, appalled at the sight, was retiring. 30
But we rush on him, and close round, weapons in
hand; and, in their ignorance of the ground, and the
surprise of their terror, they fall before us everywhere.
Fortune smiles on our first encounter. Hereon Coroebus,
flushed with success and daring, ‘Come, my friends,’ he 35
cries, ‘where Fortune at starting directs us to the path of
safety, and reveals herself as our ally, be it ours to follow
on. Let us change shields, and see if Danaan decorations
will fit us. Trick or strength of hand, who, in dealing
with an enemy, asks which? They shall arm us against
themselves.’ So saying, he puts on Androgeos’ crested
helm, and his shield with its goodly device, and fastens
to his side an Argive sword. So does Rhipeus, so Dymas 5
too, and all our company, with youthful exultation, each
arming himself out of the new-won spoils. On we go,
mixing with the Greeks, under auspices not our own, and
many are the combats in which we engage in the blindness
of night, many the Danaans whom we send down to 10
the shades. They fly on all hands: some to the ships,
making at full speed for safety on the shore; others, in
the debasement of terror, climb once more the horse’s
huge sides, and hide themselves in the womb they knew
so well. 15

“Alas! it is not for man to throw himself on the gods


against their will!

“Lo! there was a princess of Priam’s house being


dragged by her dishevelled hair from the temple, from
the very shrine of Minerva, Cassandra, straining her flashing 20
eyes to heaven in vain—her eyes—for those delicate
hands were confined by manacles. The sight was too
much for the infuriate mind of Coroebus: rushing to his
doom, he flung himself into the middle of the hostile force.
One and all, we follow, close our ranks, and fall on. And 25
now, first from the temple’s lofty top we are overwhelmed
by a shower of our own countrymen’s darts, and a most
piteous carnage ensues, all along of the appearance of our
arms and our mistaken Grecian crests. Then the Danaans,
groaning and enraged at the rescue of the maiden, rally 30
from all sides, and fall on us. Ajax, in all his fury, and
the two sons of Atreus, and the whole array of the Dolopes—even
as one day when the tempest is broken loose, and
wind meets wind—west, and south, and east exulting in
his orient steeds—there is crashing in the woods, and 35
Nereus,[133] in a cloud of foam, is plying his ruthless trident,
and stirring up the sea from its very bottom. Such of
the foe, moreover, as in the darkness of night we had
driven routed through, the gloom—thanks to our stratagem—and
scattered the whole city over, rally again:
they are the first to recognize the imposture of shield and
weapon, and to mark the different sound of our speech.
All is over—we are overwhelmed by numbers: first of 5
all, Coroebus is stretched low; his slayer Peneleos, his
place of death the altar of the Goddess of Arms; slain,
too, is Rhipeus, the justest and most righteous man in
Troy—but heaven’s will is not ours—down go Hypanis
and Dymas both, shot by their friends; nor could all 10
your acts of piety, good Panthus, shield you in your fall;
no, nor the fillet of Apollo on your brow. Ye ashes of
Ilion, and thou, funeral fire of those I loved, witness ye
that in your day of doom I shrank from no Danaan dart,
no hand-to-hand encounter; nay, that had my fate been 15
to fall, my hand had earned it well. We are parted from
the rest, Iphitus, Pelias, and I. Iphitus, a man on whom
years were already pressing; Pelias, crippled by a wound
from Ulysses—all three summoned by the shouting to
Priam’s palace. 20

“Here, indeed, the conflict was gigantic—just as if the


rest of the war were nowhere—as if none were dying in the
whole city beside: even such was the sight we saw—the
war-god raging untamed, the Danaans streaming up to the
roof, the door blockaded by a long penthouse of shields. 25
The scaling ladders are clasping the walls; close to the very
door men are climbing, with their left hands presenting
the buckler to shelter them from darts, while with their
right they are clasping the battlements. The Dardans,
on their part, are tearing up from the palace turret and 30
roof—such the weapons with which, in their dire extremity,
in the last death-struggle, they make ready for their
defence—gilded rafters, the stately ornaments of elder
days, they are hurling down; while others, their swords
drawn, are stationed at the doors at the bottom, and 35
guarding them in close array. The fire revived within
me, to bring succour to the royal roof, and relieve those
brave men, and breathe new daring into the vanquished.

“A door there was, a hidden entrance, a thoroughfare


through Priam’s palace, a postern which you leave in the
rear; by it the hapless Andromache,[134] while yet the throne
was standing, used often to repair unattended to her husband’s 5
parents, and pull the boy Astyanax into his grandsire’s
presence. Through it I make my way to the summit
of the roof, whence the wretched Teucrians were hurling
darts without avail. There was a tower standing precipitous,
its roof reared high to the stars, whence could be
seen all Troy, and the Danaan fleet, and the Achæan camp; 10
to this we applied our weapons, just where the lofty flooring
made the joining insecure; we wrench it from its eminence,
we have toppled it over—down it falls at once, a huge
crashing ruin, and tumbles far and wide over the Danaan
ranks. But others fill their place; while stones and every 15
kind of missile keep raining unabated.

“There in the entry, at the very gate, is Pyrrhus[135] in his


glory, gleaming with spear and sword, and with all the
brilliance of steel. Even as against the daylight a serpent
gorged with baleful herbage, whom winter’s cold of late 20
was keeping swollen underground, now, his skin shed, in
new life and in the beauty of youth, rears his breast erect,
and wreathes his shining scales, towering to the sun, and
flashes in his mouth his three-forked tongue. With him
gigantic Periphas and Automedon, his armour-bearer, 25
once Achilles’ charioteer, with him the whole chivalry
of Scyros press to the walls, and hurl up fire to the roof.
Himself among the foremost, a two-edged axe in hand,
is bursting through the stubborn door and forcing from
their hinges the valves copper-sheathed; see! now he has 30
cut out a plank and delved into that stout heart of oak,
and made a wide gaping window in the middle. There is
seen the house within, and the long vista of the hall;
there is seen the august retirement of Priam and the
monarchs of past days, and armed warriors are disclosed 35
standing in the entrance.

“But the palace within is a confused scene of shrieking


and piteous disorder; the vaulted chambers wail from
their hollow depths with female lamentation; the noise
strikes the golden stars above. The terror-stricken matrons
are running to and fro through the spacious courts, clinging
claspingly to the gates and printing them with kisses.
On presses Pyrrhus with all his father’s might; neither 5
barrier of oak nor yet living guard can resist him; the
door gives way under the thick strokes of the battery,
and the valves are torn from their hinges and brought
down. Force finds its way; the Danaans burst a passage,
rush in, and slaughter those they meet, and the whole 10
wide space is flooded with soldiers. With far less fury,
when the river, all foam, has broken the prison of its banks
and streamed with triumphant tide over the barriers set
to check it, down it comes tumbling along the corn-fields,
and along the whole country sweeps away herd and stall. 15
With my own eyes I saw Neoptolemus, mad with carnage,
and the two Atridæ on the palace-floor. I saw Hecuba[136]
and her hundred daughters-in-law, and Priam at the
altar, polluting with his blood the flames he had himself
made holy. Those fifty marriage-chambers, the splendid 20
promise of children’s children, doors gorgeous with barbaric
gold and plundered treasure, all sank in dust. Where
the fire flags, the Danaans are masters.

“Perhaps, too, you may be curious to hear the fate of


Priam. When he saw his city fallen and captured, the 25
doors of his palace burst open, the foe in the heart of his
home’s sanctuary, poor old man! helplessly and hopelessly
he puts about his shoulders, trembling with age,
his armour, long disused, and girds on his unavailing sword,
and is going to his doom among the thick of the foe. In 30
the midst of the palace, under the naked height of the sky,
stood a great altar, and by it a bay tree of age untold,
leaning over the altar and enfolding the household gods
in its shade. Here about the altar Hecuba and her
daughters, all helpless, like doves driven headlong down 35
by a murky tempest, huddled together and clinging to
the statues of the gods, were sitting. But when she saw
Priam—yes, Priam—wearing the arms of his youth—‘What
monstrous thought,’ cries she, ‘my most wretched
spouse, has moved you to gird on these weapons? or to
what are you hurrying? It is not help like this, not protections
like those you wear, that the crisis needs. No,
not even if my lost Hector were now at our side. Come, 5
join us here at last; this altar shall be a defence for us all,
or we will die together.’ With these words she took him
to where she was, and lodged his aged frame in the hallowed
resting-place.

“But, see! here is Polites, one of Priam’s sons escaped 10


from Pyrrhus’ murderous hand, through showers of darts
and masses of foemen, flying down the long corridors and
traversing the empty courts, sore and wounded, while
Pyrrhus, all on fire, is pursuing him, with a deadly stroke,
his hand all but grasping him, his spear close upon him. 15
Just as at last he won his way into the view and presence of
his parents, down he fell and poured out his life in a gush of
blood. Hereon Priam, though hemmed in by death on
all sides, could not restrain himself, or control voice and
passion. ‘Aye,’ cries he, ‘for a crime, for an outrage like 20
this, may the gods, if there is any sense of right in heaven
to take cognizance of such deeds, give you the full thanks
you merit, and pay you your due reward; you, who have
made me look with my own eyes on my son’s death, and
stained a father’s presence with the sight of blood. But 25
he whom your lying tongue calls your sire, Achilles, dealt
not thus with Priam his foe—he had a cheek that could
crimson at a suppliant’s rights, a suppliant’s honour.
Hector’s lifeless body he gave back to the tomb, and sent
me home to my realms in peace.’ So said the poor old 30
man, and hurled at him a dart unwarlike, unwounding,
which the ringing brass at once shook off, and left hanging
helplessly from the end of the shield’s boss. Pyrrhus
retorts: ‘You shall take your complaint, then, and carry

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