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Manual do Aluno

SOCIOLOGIA
12.o ano de escolaridade

Projeto - Reestruturação Curricular do Ensino Secundário Geral em Timor-Leste


Cooperação entre:
Ministério da Educação de Timor-Leste | Camões - Insituto da Cooperação e da Língua | Fundação
Calouste Gulbenkian | Universidade de Aveiro
Financiamento do Fundo da Língua Portuguesa
Título
Sociologia - Manual do Aluno

Ano de escolaridade
12.o Ano

Autores
Teresa Carvalho
Rui Saniago
Zélia Breda

Coordenadora de disciplina
Teresa Carvalho

Consultora cieníica
Johanna Schouten

Colaboradora
Andreia Ferreira
Colaboração das equipas técnicas imorenses da disciplina
Este manual foi elaborado com a colaboração de equipas técnicas imorenses da disciplina,
sob a supervisão do Ministério da Educação de Timor-Leste.

Ilustração
Celso Assunção

Design e Paginação
Esfera Críica Unipessoal, Lda.
Celso Assunção

Impressão e Acabamento
xxxxxx

ISBN
xxx - xxx - x - xxxxx - x

Tiragem
xxxxxxx exemplares

1ª Edição

Conceção e elaboração
Universidade de Aveiro

Coordenação geral do Projeto


Isabel P. Marins
Ângelo Ferreira

Ministério da Educação de Timor-Leste

2014

Os síios da Internet referidos ao longo deste livro encontram-se aivos à data de publicação. Considerando a existência de alguma
volailidade na Internet, o seu conteúdo e acessibilidade poderão sofrer eventuais alterações. Caso tenha sido inadveridamente
esquecido o pedido de autorização de uso de algum material protegido por copyright, agradece-se que seja comunicado, a im de
serem tomadas as providências adequadas.
O teu Manual de Sociologia está organizado com
base num conjunto de indicações que procuram
orientar melhor as tuas aprendizagens.
Assim, em cada unidade temá ca encontras o
seguinte:

Sempre que surge este símbolo significa que


tens um pequeno texto onde podes aprofundar
os conhecimentos sobre o tema que está a ser
tratado.

Este símbolo significa que tens à tua disposição


um conjunto de a vidades prá cas que podes
desenvolver para verificar se compreendeste
bem a matéria.

Ao longo do teu manual surgem também,


pequenas caixas de texto nas margens das i A aividade económica
integra três sectores:
páginas. Estas podem conter informação sobre primário, secundário e
alguns assuntos referidos na parte central do terciário.
texto.

Outras servem para destacar a definição de Produção


conceitos importantes. No final do manual
Forma de fabricar os bens ou os
encontras um pequeno glossário com a definição
produtos de que as pessoas e os
de todos estes conceitos. grupos necessitam.

No final de cada subtema encontras um


pequeno resumo dos assuntos mais importantes RESUMO
abordados.

seguido de um conjunto de exercícios que te


ajudam a consolidar o que aprendeste.

Este aviso, recorda-te que não deves escrever no


teu livro, mas sim no teu caderno.

NOTA: Embora os autores estejam conscientes de que a linguagem não é apenas um vínculo pelo qual as ideias são transmi das,
mas, também, um código criador de significados que contribui fortemente para moldar as prá cas e as representações sociais,
optaram pelo uso generalizado do masculino na linguagem. Esta opção prende-se com a necessidade de simplificar o texto e não
traduz qualquer significado associado ao género.
Índice

Unidade Temáica

1 Tipos de Sociedade

8
1 A importância do trabalho em diferentes sociedades
1.1 O que é o trabalho?
9 1.1.1 Trabalho remunerado e não remunerado
11 1.2 Trabalho na atualidade
13 1.2.1 O declínio da importância do trabalho
2 Formas de organização social do trabalho
16 2.1 O trabalho artesanal
17 2.2 A divisão do trabalho
18 2.2.1 Taylorismo e Fordismo
21 2.3 Limitações das teorias modernas
22 2.4 A transformação do trabalho
24 2.5 Pós-fordismo e produção lexível
25 2.6 Trabalho e organização social
3 Género e paricipação no mercado de trabalho
30 3.1 As noções de sexo e de género
34 3.2 As mulheres e o trabalho
36 3.2.1 A evolução e o crescimento da paricipação das mulheres na
vida pública
40 3.3 Género e desigualdades no trabalho
40 3.3.1 Segregação horizontal
41 3.3.2 Desigualdade salarial e Segregação verical
4 O trabalho e a família
48 4.1 A divisão domésica do trabalho
51 4.2 A ligação entre trabalho e família
53 4.3 Políicas laborais de apoio à família

Unidade Temáica

2 Sociedades e globalização

62
1 Educação e igualdade de oportunidades
1.1 Perspeivas sobre a educação, a mobilidade social e as desigualdades
64 1.1.1 A diferença provocada pela escola
65 1.1.2 Os déices socioculturais: Bernstein e os códigos linguísicos
67 1.1.3 O capital cultural e a sua transformação em desigualdades
sociais (Bourdieu)
69 1.2 Escola, insituições escolares e sociedade
2 Diferentes formas de organização do sistema escolar
73 2.1 A expansão da escola nas sociedades
74 2.1.1 Massiicação e democraização
79 2.1.2 Educação e formação de adultos
81 2.2 Diferentes exemplos de organização
87 2.2.1 Europa

4
88 2.2.2 América do Sul
2 89
91
2.2.3 Ásia/Pacíico
2.3 Organização do sistema educaivo em Timor-Leste
3 Educação, conhecimento e desenvolvimento pessoal e social
97 3.1 O papel da educação na socialização
99 3.2 Educação escolar no desenvolvimento cogniivo, moral e social
100 3.3 Educação escolar no desenvolvimento das comunidades locais e da
sociedade
102 3.4 Educação não formal
4 Educação, economia e sociedade do conhecimento
107 4.1 Ligação entre educação e economia
109 4.2 Os saberes cieníicos e os saberes tradicionais
110 4.2.1 Os conhecimentos tecnológicos dominantes e locais
113 4.3 Educação e novas tecnologias da informação e da comunicação

Unidade Temáica

3 Sistemas de estraiicação social

120
1 O conceito de estado
1.1 O nascimento do Estado-Nação nos países ocidentais
123 1.2 A construção do Estado nos novos países: o exemplo de Timor-Leste.
125 1.3 Deinições do conceito de Estado
127 1.4 O Estado moderno: Elementos
131 1.5 A Antropologia e a questão do Estado: A organização políica das
sociedades ‘tradicionais’
2 Tipos de sistemas políicos
136 2.1 Regimes políicos
136 2.1.1 Os regimes democráicos
141 2.1.2 Os regimes não democráicos: Regimes totalitários e regimes
autoritários
143 2.2 Formas de governo
145 2.3 Sistemas de governo
3 Estado-Nação e idenidade nacional
151 3.1 Conceito de idenidade nacional
154 3.2 Idenidade nacional e nacionalismo
156 3.3 Relações entre países com diferentes níveis de desenvolvimento
4 As organizações internacionais e a sua inluência nas políicas nacionais
160 4.1 Conceito de transnacionalidade
161 4.2 Tipos de transnacionalidade

166 Glossário
171 Bibliograia

5
UNIDADE TEMÁTICA 1

1 O trabalho nas sociedades


contemporâneas
1 A importância do trabalho em diferentes
sociedades
2 Formas de organização social do trabalho
3 Género e paricipação no mercado de
trabalho
4 O trabalho e a família

OBJETIVOS
No inal desta unidade temáica o aluno deve ser capaz de:
• Conhecer o conceito de trabalho e disinguir as suas várias formas.
• Ideniicar as principais transformações no trabalho e reconhecer
os fatores que conduzem ao declínio da sua importância.
• Ideniicar as caraterísicas do Taylorismo e do Fordismo e as
principais críicas a estes sistemas de produção.
• Compreender a interrelação entre diferentes formas de organização
do trabalho e a organização social.
• Ideniicar os conceitos de género, segregação horizontal e
segregação verical
Unidade Temática 1 | O trabalho nas sociedades contemporâneas

1 A importância do trabalho em diferentes sociedades

1.1 O que é o trabalho?


O trabalho tem um valor muito importante em quase todas as sociedades,
pois ocupa uma grande parte da vida das pessoas.
Numa deinição simples, podemos dizer que o trabalho representa o
Trabalho
esforço realizado pelos seres humanos durante uma aividade produiva,
Realização de tarefas que envolvem
esforço ísico ou mental, com a manual ou intelectual. O esforço do trabalho é feito com o propósito de
inalidade de produzir bens e serviços
para a saisfação das necessidades saisfazer necessidades relaivas à sobrevivência (alimentação, vestuário,
humanas.
abrigo, etc.), mas também às necessidades sociais, culturais, arísicas ou
espirituais do ser humano.
Mas o conceito de trabalho tem mudado com as alterações nas sociedades.
Para além de ser o esforço para realizar uma aividade, o trabalho é,
também, visto como uma forma de realização pessoal e social. Por outro
lado, o trabalho surge, igualmente, como uma forma de criar riqueza para
os países. As sociedades desenvolveram-se através do trabalho produzido
por agricultores, pescadores, comerciantes, artesãos e operários, entre
outros.
Existem vários ipos de trabalho. Mas, a principal divisão que pode ser
O trabalho, tendo em conta
o esforço desenvolvido, feita é entre trabalho manual e trabalho intelectual. Podemos dizer que
pode ser classiicado como
o primeiro – manual – é aquele que é realizado com esforço ísico, como
manual ou intelectual, ou
ainda a conjugação de é o caso das pessoas que trabalham na terra. Por sua vez, o segundo –
ambos.
intelectual – está ligado ao esforço da nossa mente, como, por exemplo, o
trabalho dos professores ou dos religiosos. Podemos, também, encontrar
aividades em que o trabalho mental e ísico estão ligados, como
acontece com alguns médicos, enfermeiros, trabalhadores que lidam com
tecnologias complexas, entre outras.
Por im, uma diferença importante é a que existe entre trabalho qualiicado,
Em relação à qualiicação
do trabalho, ele poderá ser que exige uma formação e treino especíicos (por exemplo, trabalhar com
qualiicado ou não qualiicado.
computadores) e trabalho não-qualiicado, para o qual não é necessária
uma formação e um treino mais avançados.
O aumento das qualiicações da população é uma das principais medidas
necessárias para promover o desenvolvimento de Timor-Leste. Tendo em
conta a necessidade de aumentar as qualiicações dos trabalhadores, o
Plano Estratégico de Desenvolvimento, de 2011 a 2030, aprovado pelo
Parlamento Nacional, criou projetos de formação vocacional e proissional.
Entre eles podemos destacar o Projeto de Formação de Qualiicações para
Obtenção de Emprego Remunerado (em inglês, STAGE) e o Programa de
Promoção do Emprego entre os Jovens (em inglês, YEP). Estes programas

8
procuram qualiicar os jovens, que procuram emprego, e colocá-los no
mercado de trabalho.

Aividade
1. Dá uma deinição de trabalho.
2. Que diferença existe entre trabalho manual e trabalho intelectual?
3. Dá alguns exemplos destes dois ipos de trabalho. O trabalho dos professores pode ser um
exemplo de trabalho inteletual

1.1.1 Trabalho remunerado e não remunerado


É importante disinguir entre trabalho e emprego. O trabalho sempre
exisiu, mas o emprego surgiu apenas com a sociedade industrial. O
emprego corresponde a uma relação contratual entre quem encomenda
o trabalho e quem o faz. As condições de compra e venda do trabalho são
negociadas entre os dois, e as pessoas que fazem o trabalho normalmente
recebem uma quania em dinheiro – o salário.
Nas sociedades industrializadas a grande maioria dos trabalhadores são Trabalho remunerado
assalariados. O salário corresponde, normalmente, a uma quania em Trabalho efetuado em troca de um
dinheiro, por isso se diz que é trabalho remunerado. pagamento ou salário regular.

No entanto, não é suiciente dizermos que o trabalho existe apenas por


causa do salário que se recebe. Muitas vezes as pessoas desenvolvem
aividades sem receberem um salário para ajudar a família ou a
comunidade. São exemplos disso, o apoio às crianças, aos doentes, a
ajuda na construção de casas de outras pessoas, etc..
Nos países ocidentais industrializados, como a maioria da população tem Trabalho voluntário
um trabalho remunerado, o trabalho que se realiza para ajudar as outras Trabalho em que a pessoa se
pessoas da comunidade e que não implica um salário designa-se por disponibiliza a exercer uma aividade
cívica, sem receber qualquer
trabalho voluntário. remuneração em troca.

É um trabalho que podemos designar como social, do qual fazem parte


aividades cívicas e de solidariedade para com os outros. Este ipo de
trabalho contribui, igualmente, para o bem-estar social (cuidar de pessoas
que necessitam de apoio, treinar equipas desporivas ou, por exemplo,
paricipar na administração das escolas). O trabalho de voluntariado pode
ser realizado no próprio país ou noutros países. Alguns dos estrangeiros que
desenvolveram trabalho em Timor-Leste na construção da independência
do país izeram trabalho de voluntariado.
Assim, tendo em conta esta questão o trabalho divide-se em: O trabalho pode ser
remunerado ou não
• remunerado, trabalho realizado em troca de um pagamento monetário
remunerado.
ou salário.

A importância do trabalho em diferentes sociedades | 9


Trabalho não remunerado • não remunerado, trabalho realizado para concreizar uma aividade,
Trabalho realizado para concreizar mas sem implicar receber um salário.
uma aividade, mas sem receber um
salário. Um exemplo que pode ajudar a perceber esta diferença é o da cestaria
em Timor-Leste. A cestaria é uma aividade realizada em todo o território,
tendo como objeivo a produção de objetos uilitários ou simplesmente
decoraivos.
Quando os cestos são criados para o uso pessoal da família (por exemplo,
arrumar utensílios domésicos, transportar coisas para os mercados, para
colocar alimentos, cigarros, dinheiro, etc.) estamos perante um trabalho
não remunerado. Mas, quando os cestos são feitos para serem vendidos
no mercado correspondem a trabalho remunerado.
O relatório “Panorama de Indicadores Sociais 2011”, da Organização para
a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), revela que, na maior
parte dos países-membros desta organização, as pessoas gastam mais
tempo em trabalho remunerado do que em trabalho sem remuneração.
Diz, também, que as mulheres fazem mais trabalho não remunerado do
que os homens, embora a diferença entre géneros varie de país para país.
Trabalho artesanal de cestaria
A diferença é, em média, de 2,5 horas por dia, mas em países como a
Índia, México e Turquia, as mulheres fazem mais 4,3 a 5 horas diárias de
trabalho não remunerado do que os homens.

O tempo gasto (em horas) em trabalho


remunerado e trabalho não remunerado

10 | O trabalho nas sociedades contemporâneas


Uma das razões para os níveis elevados de pobreza em Timor-Leste
A distribuição do tempo entre
está relacionada com a falta de trabalho remunerado. A maior parte trabalho remunerado e não
remunerado não é igual em
das pessoas que possuem um trabalho remunerado trabalham para o todos os países. Geralmente
as mulheres desenvolvem mais
Governo. Isto veriica-se, especialmente, nas zonas mais rurais. De acordo
trabalho não remunerado.
com o Censos de 2010, 68% das pessoas, com empregos remunerados nas
zonas rurais, trabalham para o Governo – são, normalmente, professores
ou proissionais de saúde. Dos restantes 32% que trabalham para
outras enidades que não o Governo, esima-se que apenas 10% sejam
remunerados. Signiica que muitas pessoas nas zonas rurais não têm
emprego.

Aividade
De modo a veriicar a ocupação do tempo das pessoas com o trabalho, e
a analisar o ipo de trabalho efetuado (remunerado ou não remunerado) e
as aividades desenvolvidas, propomos que, com a ajuda do teu professor,
desenvolvas um inquérito por quesionário. Este deverá ser consituído
essencialmente por perguntas fechadas ou semifechadas e ser direcionado
aos elementos da tua família. Depois de recolhidos os dados, o professor
deverá juntar a informação recolhida por todos os alunos, e analisá-la em
conjunto. Após analisada a informação, em grupo, deverá ser efetuada, numa
cartolina, a apresentação dos resultados, os quais poderão icar expostos na
sala de aula ou noutros locais da escola.

1.2 Trabalho na atualidade
Desde a industrialização que o trabalho remunerado passou a ocupar
uma parte muito importante da vida das pessoas. Os séculos XIX e XX
foram caracterizados pela passagem a assalariados de grande parte dos
trabalhadores no mundo industrializado. Este grande crescimento levou
os governos a criarem leis para regular as relações de trabalho entre
operários e proprietários da indústria.
Com a produção industrial em grandes quanidades, os trabalhadores
deixaram de ter outras formas de rendimento. O seu salário passou a A Organização Internacional
do Trabalho é uma agência
ser a única, ou a principal forma, de ganhar dinheiro para sobreviver. mulilateral ligada à
Para defender os direitos dos trabalhadores surgiram os sindicatos e Organização das Nações
Unidas (ONU), especializada
foi reconhecido o direito à greve. Começaram, portanto, a ter muita nas questões do trabalho.
Tem representação
importância as questões ligadas à proteção dos trabalhadores. de governos dos 182
Estados-Membros, e
Foi o reconhecimento, ao nível internacional, desta necessidade de
de organizações de
proteção que esteve na origem da Organização Internacional do Trabalho empregadores e de
trabalhadores.
(OIT), criada em 1919.

A importância do trabalho em diferentes sociedades | 11


A necessidade de se produzir cada vez mais fez com que se criassem
novos horários de trabalho, acabando-se com os dias de descanso que as
pessoas normalmente inham.
Na atualidade assiste-se, no entanto, à lexibilização e polivalência
Flexibilização
Maior liberdade das organizações para
do trabalho. A lexibilização corresponde a uma maior liberdade das
contratar trabalhadores de acordo organizações para contratar trabalhadores de acordo com as suas
com as suas necessidades.
necessidades. Por exemplo, uma empresa de turismo pode contratar mais
pessoas quando há mais turistas a visitar um país. Mas a lexibilização
também signiica que os trabalhadores podem desempenhar diversas
tarefas. Assim, quando não há turistas, os trabalhadores podem fazer
trabalho administraivo. A polivalência signiica que os trabalhadores
Polivalência
Realização de um maior número e
em vez de se especializarem na realização de uma única tarefa têm de
variedade de tarefas em vez de uma realizar um maior número e variedade de tarefas. Por exemplo, num hotel
única tarefa.
um trabalhador pode ter de trabalhar na receção, fazer as camas e até
cozinhar.
A polivalência pode, no entanto, fazer com que as organizações despeçam
pessoas que têm mais diiculdade em se adaptar a uma maior variedade
das tarefas de produção nas fábricas ou nos serviços. Isto cria uma grande
instabilidade na vida proissional dos trabalhadores.
Nas sociedades industriais mais desenvolvidas os trabalhadores já não
têm, na época atual, a garania de emprego para toda a vida como
acontecia desde a Segunda Guerra Mundial. A automaização do fabrico
dos produtos e dos serviços (por exemplo, com os sistemas informáicos)
pode levar, também, a um aumento do desemprego. Muitos trabalhadores,
especialmente os que têm mais idade, depois de perderem os seus
trabalhos, podem nunca mais conseguir um outro emprego. O desemprego
consitui um problema grave em muitos países, pois como as pessoas não
possuem outra forma de sobreviver tornam-se muito pobres. O facto de
as pessoas se encontrarem desempregadas provoca muitas angúsias e
insegurança.

Aividade
No teu caderno, responde às seguintes questões:

1. Como é que deines a polivalência no trabalho?


2. O desemprego é um problema social grave? Jusiica a tua resposta.
3. Procura mais informação sobre a Organização Mundial do Trabalho. Escreve
um pequeno texto sobre os principais objeivos desta organização.

12 | O trabalho nas sociedades contemporâneas


1.2.1 O declínio da importância do trabalho
Como vimos anteriormente, não é fácil deinir o conceito de trabalho.
A Declaração Universal dos Direitos do Homem, assinada pelas Nações
Unidas, defende que todas as pessoas têm direito ao trabalho. Nos países
industrializados, o conceito de trabalho estava, desde o inal da Segunda
Guerra Mundial, associado a um emprego remunerado. No entanto, como
vimos atrás, existe uma tendência crescente para o desemprego, pelo que
este objeivo não será fácil de cumprir.
Por outro lado, hoje em dia, devido à situação de crise económica, existem
muitos países que estão a aumentar a idade em que as pessoas se podem
reformar ou aposentar. Em geral, o número de horas de trabalho também
está a aumentar.
Em alguns países, que têm preocupações mais fortes com o bem-estar
das suas populações, há uma certa diminuição do tempo dedicado ao
trabalhado remunerado. Mas estes países são muito minoritários. Por
outro lado, esta diminuição só é possível para as classes sociais mais altas,
que têm os melhores empregos. Nestes casos, pode surgir uma forma
diferente de trabalhar, com horários mais lexíveis e a divisão de empregos
por várias pessoas. Estas consideram-se, em geral, mais saisfeitas com
a sua aividade proissional. Muitas vezes, analisando apenas o que se
passava nestes países, muitos sociólogos diziam que o trabalho, na sua
forma tradicional, estava a desaparecer. Porém, esta ideia não é válida
para os vários países ocidentais menos desenvolvidos e para a maioria dos
países em desenvolvimento.
Independentemente do que pode acontecer no futuro, em relação ao
papel do trabalho na sociedade, neste momento estão a surgir grandes
transformações na maneira de organizar o trabalho nos países capitalistas
industrializados.

Aividade
1. A airmação da Declaração Universal dos Direitos do Homem, segundo a
qual todas as pessoas têm direito a um trabalho remunerado, é um objeivo
fácil de aingir? Jusiica a tua resposta.
2. Quais os principais efeitos da crise económica no trabalho?

A importância do trabalho em diferentes sociedades | 13


RESUMO
Apesar de não haver consenso acerca do conceito de trabalho, este pode
ser deinido como a realização de tarefas que envolvem esforço ísico ou
mental. Este esforço tem a inalidade de produzir bens e serviços para
saisfazer as necessidades humanas. O conceito de trabalho deverá
englobar, além do trabalho remunerado, o trabalho não remunerado. É
importante ter em conta este ipo de trabalho, sem salário. Ele também
contribui para o bem-estar social.
Hoje em dia, estão a acontecer grandes transformações na natureza e
na organização do trabalho nos países industrializados, levando alguns
sociólogos a repensar a importância do mesmo. O aumento do desemprego
e do trabalho em horário lexível e da polivalência são fenómenos que, em
muitas sociedades, fazem parte de uma nova realidade na organização do
trabalho.

14 | O trabalho nas sociedades contemporâneas


EXERCÍCIOS

A - Responde ao conjunto de questões em baixo. Em cada grupo de


questões, há apenas uma opção correta. Copia o exercício para o teu
caderno e marca as opções certas com um X.

1. O conceito de trabalho:
a) tem-se manido inalterado ao longo dos tempos.
b) é recente tal como hoje o conhecemos.
c) corresponde apenas ao trabalho manual.

2. O trabalho não remunerado integra:


a) aividades domésicas de roina.
b) o emprego.
c) aividade produiva realizada em troca de um salário.

3. O trabalho remunerado integra:


a) trabalho efetuado em troca de um pagamento regular.
b) trabalho voluntário.
c) trabalho domésico.

B- Copia o esquema seguinte para o teu caderno e faz a ligação entre a


coluna da direita e da esquerda.

Trabalho não remunerado feito em casa,


Trabalho não-qualiicado geralmente por mulheres, como cozinhar, limpar
ou fazer compras.
Trabalho em que a pessoa se disponibiliza a exercer
Trabalho domésico uma aividade cívica, sem receber qualquer
remuneração em troca.

Trabalho para o qual não é necessária preparação


Trabalho voluntário
signiicaiva.

Trabalho, a tempo inteiro ou a tempo parcial,


Trabalho qualiicado efetuado em troca de um pagamento ou salário
regular.

Trabalho não remunerado Trabalho efetuado empregando esforço ísico.

Trabalho cujo desempenho obriga a formação e


Trabalho manual treino especíicos, sem os quais não poderá ser
executado convenientemente.

Trabalho efetuado em aividades domésicas ou de


Trabalho remunerado
voluntariado.

A importância do trabalho em diferentes sociedades | 15


2 Formas de organização social do trabalho

2.1 O trabalho artesanal


O trabalho artesanal é uma transformação dos objetos ou, de outros
materiais, da natureza, com base no trabalho manual e no uso de
ferramentas tradicionais. A produção é pequena e, geralmente, desinada
à venda nos mercados locais.
Este ipo de trabalho teve uma grande importância nos países
industrializados, até à Revolução Industrial. Em países menos
industrializados, como o caso de Timor-Leste, coninua a ser dominante.
Em Timor-Leste, muitas pessoas culivam produtos, apenas, para cozinhar
os seus próprios alimentos e para fabricar as suas próprias ferramentas
de trabalho. Mas, o artesanato também se faz nas cidades, em pequenas
empresas onde podem trabalhar várias pessoas. Nos úlimos anos, o
artesanato foi ganhando importância para as trocas e vendas entre as
pessoas.
Antes da industrialização, nos países desenvolvidos, o artesanato realizava-
-se nas oicinas. Aqui o trabalho era dividido entre um pequeno grupo de
pessoas: o mestre artesão, que inha o conhecimento sobre a fabricação
dos produtos; os jornaleiros, que trabalhavam ao dia (eram contratados
e pagos por cada dia de trabalho); e os aprendizes, que viviam na casa do
mestre artesão, para o qual trabalhavam em troca de casa e de roupa e
dos conhecimentos que o mestre lhes transmiia e ensinava.
A produção destes artesãos era, em geral, pequena, comparada com o
que hoje acontece nas fábricas. Outros artesãos, contudo, acompanharam
as mudanças e começaram a produzir em quanidades cada vez maiores.
Juntaram-se a grandes comerciantes, que vendiam os seus produtos. Mas,
os próprios artesãos podiam comercializar o que produziam.
Ainda hoje, em algumas sociedades em desenvolvimento, a produção
artesanal é um aspeto importante da sua vida económica. Há artesanato
que é feito para venda a turistas, mas outro é usado no dia a dia pelas
populações. Nos países economicamente desenvolvidos, esta forma de
venda e uso do artesanato também coninua a exisir. No entanto, ela tem
menos importância para a economia.
Em Timor-Leste, a produção artesanal está ainda muito presente na
sociedade, nomeadamente no fabrico dos tais, da cestaria, da cerâmica e
na escultura, entre outras aividades. A produção é feita sem a preocupação
principal ser habitualmente vender os produtos. Os homens e as mulheres
Fabrico tradicional de objetos de argila
imorenses usam alguns destes objetos para se embelezarem em dias de

16 | O trabalho nas sociedades contemporâneas


celebrações e festas (principalmente as joias), mostrarem o seu estatuto e
adquirir mais presígio social.

Alguns objetos de artesanato uilizados por Timorenses

Aividade
Junto da tua comunidade, faz um levantamento dos artesãos que existem
e ideniica o ipo de aividade que desenvolvem. Na sala de aula, parilha
essa informação com os teus colegas, e, com a ajuda do professor, façam, em
conjunto, uma lista de artesãos, organizados por oício e por localidade. Esta
lista pode ser exposta na escola, de modo a divulgar esses oícios junto dos
teus colegas.

2.2 A divisão do trabalho


Nas sociedades industriais existe uma divisão do trabalho muito complexa
e diversiicada. Ou seja, o trabalho divide-se num grande número de
aividades diferentes, nas quais as pessoas se especializam. Mas nem
sempre foi assim. Nas sociedades tradicionais (ou pré-industriais e
agrárias), o trabalho baseava-se em aividades agrícolas ou em oícios.
Estes eram exercidos por pessoas que o aprendiam durante muito tempo.
Nestas sociedades, um trabalhador fazia, desde o início ao im, tudo o
que era necessário para fabricar um produto. Com o desenvolvimento
da produção industrial, os trabalhadores passaram a fazer apenas
pequenas partes desse produto. Por exemplo, em Timor-Leste, os oleiros
usam processos artesanais para fazer as suas peças. Normalmente são
mulheres que preparam e moldam a argila que, depois de certo tempo
ao ar, cozem no forno aceso em buracos abertos no chão. Deste processo

Formas de organização social do trabalho | 17


resultam objetos uteis para as lides domésicas como panelas, bilhas,
igelas, etc. Hoje em dia, nas fábricas, estes objetos podem ser feitos
por diferentes pessoas, as quais se especializam em diferentes partes
do seu fabrico. Existe, portanto, uma grande diferença entre a divisão
do trabalho nas sociedades pré industriais e agrárias e nas sociedades
industriais. Nas primeiras, a maioria da população trabalha na agricultura
e é autossuiciente. Isto é, produz alimentos para o seu consumo, fabrica
as suas próprias roupas e outros objetos necessários para a sua vida. Pelo
contrário, nas segundas, existe muita interdependência entre as pessoas.
Estas dependem umas das outras para obter produtos e serviços de que
necessitam. A grande maioria já não produz os alimentos que consome,
não constrói as suas casas, não faz as suas roupas ou fabrica outros bens
de que necessita.
Nas sociedades industriais, a especialização das aividades económicas
leva a que, por exemplo, muitos países produzam apenas algumas partes
dos bens uilizados pela sua população, comprando os restantes a outros
países. Por exemplo, uma fábrica de televisões na Austrália pode apenas
fabricar um pequeno número de peças. A outra parte das peças pode
ser fornecida por outros países, geralmente aqueles que pagam salários
mais baixos aos trabalhadores (como, tal como é o caso, da China, da da
Malásia, da Tailândia, da Indonésia e outros).

Aividade
Responde no teu caderno à seguinte questão:
Quais as principais mudanças que surgem quando se passa do trabalho
artesanal para o trabalho industrial?

2.2.1 Taylorismo e Fordismo

Taylorismo

Adam Smith é considerado o


Nos inais do século XVIII, foram reconhecidas várias vantagens da divisão
pai da economia moderna, e do trabalho para o aumento da produividade. Adam Smith, um dos
o mais importante teórico do
liberalismo económico. fundadores da economia moderna, na sua obra “A riqueza das Nações”,
descreve a divisão do trabalho, dando o exemplo de uma fábrica de
alinetes. Neste exemplo, ele diz que uma pessoa trabalhando sozinha
poderia fabricar 20 alinetes por dia. No entanto, se este fabrico fosse
dividido em várias fases, icando uma pessoa responsável por apenas uma
delas, 10 trabalhadores poderiam produzir diariamente 48.000 alinetes.
Isto quer dizer que, em vez da produção diária por trabalhador ser apenas

18 | O trabalho nas sociedades contemporâneas


de 20 alinetes, passaria a ser 4.800, o que corresponde a 240 vezes
mais. Desta forma, fazendo o trabalho em colaboração com os outros
trabalhadores, a produividade de cada trabalhador é maior do que se
trabalhasse sozinho.
Um século mais tarde, Frederick Winslow Taylor defendeu o princípio da
gestão cieníica do trabalho. Este princípio defendia que a gestão de uma
empresa deveria ser pensada como uma ciência. Era necessário estudar,
com muito pormenor, a forma industrial de fabricar um produto. Esta
consisia em dividir a fabricação do produto em várias fases, começando
pela parte mais simples até se chegar ao produto inal.
Este método, que icou conhecido por Taylorismo, era um sistema de
Frederick Winslow Taylor (1856-1915)
produção que pretendia simpliicar as tarefas de cada trabalhador,
Foi um engenheiro americano. Em
juntando-as umas às outras de uma forma sequencial. Acreditava-se, deste 1911, publicou “Os princípios da
modo, que o trabalhador produzia mais, porque esta maneira de fabricar administração”, obra na qual expôs seu
método cieníico de organização do
os produtos era mais eiciente e dava mais lucro. Este sistema teve uma trabalho.
grande inluência na organização da produção industrial. Permiia reduzir
o tempo necessário para aprender cada tarefa. Desde então, o tempo de Taylorismo
trabalho passou a ser visto como qualquer coisa que valia dinheiro (como Conjunto de ideias desenvolvidas
se fosse uma mercadoria). Se este fabricasse mais peças no menor tempo por Taylor, conhecidas como
gestão cieníica, as quais implicam
possível, também ganhava mais. operações industriais simples e
coordenadas. Estudo dos processos
industriais de modo a simpliicar
Aprofundar os conhecimentos
Os trabalhadores passaram a fazer movimentos simples, que se repeiam
“ as tarefas de cada trabalhador,
integrando-as com as dos outros
operários, de forma a maximizar o
rendimento industrial.
sempre. O ritmo de trabalho imposto pelas máquinas, e por quem as
comandava, era muito forte. Os movimentos dos trabalhadores no fabrico
de peças para um produto eram medidos com um relógio por outros
trabalhadores chamados supervisores. Eram dados prémios aos trabalhadores
que fabricavam mais peças em menos tempo. Esta situação dava origem,
muitas vezes, à compeição entre trabalhadores. Os trabalhadores mais
lentos podiam ser despedidos.
Naquela época, não era exigida a escolarização dos trabalhadores. Muitas
vezes, só era necessário estes terem força ísica. Os trabalhadores eram
despedidos se rendessem menos do que aquilo que lhes era imposto pelos
patrões, sendo facilmente subsituídos por outros. À direção, ou aos gerentes,
cabia controlar, dirigir e vigiar os trabalhadores, impedindo inclusive qualquer
conversa entre os mesmos. Aos trabalhadores só restava obedecer e produzir
sem parar.

Texto elaborado com base em Pacievitch, T. (s.d.). Taylorismo. Consultado


em 12 de novembro de 2012. Disponível em htp://www.infoescola.com/
administracao_/taylorismo/

Formas de organização social do trabalho | 19


Aividade
Copia o exercício para o teu caderno e marca a opção certa com um X. Apenas
uma opção de resposta está correta.

No Taylorismo:
a) o trabalho é dividido nas suas parcelas mais pequenas devendo cada uma
ser realizada por apenas um trabalhador.
b) um trabalhador faz o produto na totalidade das suas fases de fabrico.
c) não há preocupação com o tempo gasto pelo trabalhador na realização das
suas tarefas.

Fordismo
Os princípios de gestão desenvolvidos por Taylor foram mais tarde
aplicados por Henry Ford, na produção de automóveis. Este empresário
capitalista criou linhas de montagem automaizadas para fabricar estes
automóveis, mudando, deste modo, esta indústria, a parir de 1914. Os
veículos eram montados em esteiras rolantes de metal. Estas andavam
para a frente, enquanto os operários icavam quase parados a montar as
peças nos carros que iam passando à sua frente. Cada operário realizava
apenas uma operação simples, não sendo, por isso, quase necessário ter
aprendido conhecimentos na escola.

Henry Ford (1863-1947)


Foi o fundador da empresa Ford Motor
Company, que produziu o carro Ford
Modelo T, e o primeiro empresário a
aplicar a montagem em série de forma
a produzir automóveis em grandes
quanidades, em menos tempo e a um
menor custo.

Linha de montagem no fabrico de automóveis

Fordismo O termo Fordismo começou a ser usado para designar este sistema de
Sistema de produção em grande produção em grandes quanidades e com o custo baixo. A produção na
quanidade a baixo custo, associado
linha de montagem tornou possível a venda de automóveis a preços
ao consumo em massa.
baixos. Os automóveis tornaram-se mais baratos e acessíveis a uma parte

20 | O trabalho nas sociedades contemporâneas


importante da população. Começou, assim, a ser criado um mercado
de consumo de massas. O primeiro veículo produzido, de acordo com o
sistema fordista, foi o Ford Modelo T. Segundo a publicidade da época, era
um veículo robusto, seguro, simples de conduzir e barato.

Aprofundar os conhecimentos “
Henry Ford fez a sua primeira fábrica de carros em Highland Park, no Michigan
Ford Modelo T foi o produto que
popularizou o automóvel e revolucionou
(Estados Unidos da América), em 1908, para fabricar apenas um produto a indústria automobilísica, devido ao
seu baixo custo, segurança e facilidade
– o Ford Modelo T – o que permiiu o uso de ferramentas especializadas e de condução
de maquinaria criada para operações rápidas, precisas e simples. Uma das
inovações mais importantes de Henry Ford foi a elaboração de uma linha
de montagem. Cada trabalhador da linha de montagem de Ford inha uma
tarefa especíica, como encaixar as maçanetas das portas do lado esquerdo, à
medida que a estrutura do carro passava ao longo da linha. Até 1929, quando
terminou o fabrico do Modelo T, inham sido fabricados mais de quinze
milhões de carros.

Adaptado de Giddens, A. (2000). Sociologia (2ª ed.). Lisboa: Fundação


Calouste Gulbenkian.

Aividade
Lê, com atenção, o texto seguinte:
Fordismo é um termo que se passou a usar para caracterizar o sistema de
produção e gestão criado por Henry Ford. O método fordista de organização
do trabalho levou a um grande crescimento da produividade. Foi possível,
assim, fabricar produtos em grande quanidade desinados ao consumo em
massa.

Com a ajuda do teu professor, escreve para as fábricas que existem em


Timor-Leste a perguntar aos responsáveis como é que o fabrico dos produtos
está organizado.

2.3 Limitações das teorias modernas


Apesar do sucesso do Fordismo, a rigidez deste modelo de produção fez
com que se tornasse menos uilizado a parir da década de 1970. Uma
das limitações que é apontada a este modelo é o facto de ele só poder ser

Formas de organização social do trabalho | 21


aplicado em indústrias que fabricam produtos todos iguais, desinados
a grandes mercados e consumos. Outra desvantagem do modelo é que
ele acabou por tornar muito caro o fabrico dos produtos. Isto aconteceu
porque as linhas de produção foram-se mecanizando e automaizando
cada vez mais.
A maneira fordista de fabricar os produtos é, também, fácil de copiar,
desde que haja capital suiciente para invesir na construção de fábricas.
Nos países onde os salários são mais elevados esta maneira tem sido
abandonada em alguns setores industriais. As empresas destes países já
não conseguem compeir com as empresas de outros onde os salários são
mais baixos, como é, por exemplo, o caso da China. Neste país fabrica-
-se, atualmente, um grande número de produtos que são vendidos aos
consumidores de todo o mundo. É o caso, entre outros, dos telemóveis de
algumas marcas, roupa, televisões, rádios, etc. Por outro lado, o Fordismo
(e o Taylorismo) também inha limitações sociais muito grandes. Os seres
humanos eram considerados quase como máquinas, fazendo trabalhos
repeiivos, monótonos e mal pagos. Desta forma, era diícil moivar os
trabalhadores, e os níveis de insaisfação eram elevados.

Aividade
Das airmações seguintes, disingue as verdadeiras das falsas, copiando para
o teu caderno as airmações que estão corretas.

1. A rigidez do Fordismo levou ao declínio (nos países industrializados) deste


modelo de produção.
2. A produção fordista não é fácil de copiar.
3. Uma das críicas feitas ao Taylorismo e ao Fordismo tem a ver com o aspeto
social, uma vez que considerava os trabalhadores quase como máquinas.

2.4 A transformação do trabalho


Nos sistemas de produção taylorista e fordista, os trabalhos são deinidos
Sistemas de pequena
responsabilidade pela administração das empresas e ajustados ao funcionamento das
Organizações ou contextos máquinas. Os trabalhadores têm muito pouca autonomia na realização
laborais nos quais não é permiido
grandes níveis de autonomia aos das tarefas. Desta forma, os níveis de insaisfação e as subsituições e faltas
trabalhadores para poderem gerir as dos trabalhadores tendem a ser elevados. A estes sistemas é atribuída a
suas tarefas.
designação de sistemas de pequena responsabilidade.

22 | O trabalho nas sociedades contemporâneas


Em oposição, existem os sistemas de grande responsabilidade, nos quais Sistemas de grande responsabilidade
é permiido aos trabalhadores controlar o ritmo e a maneira de trabalhar. Organizações ou contextos laborais
nos quais é permiido grandes níveis
A estes sistemas, geralmente, corresponde uma maior saisfação dos
de autonomia aos trabalhadores para
trabalhadores em relação ao seu trabalho. poderem gerir as suas tarefas.

O sistema de produção fordista foi fundamental para a indústria automóvel


em todo o mundo, sendo, também, uilizado em outras indústrias. No
entanto, como vimos atrás, este sistema entrou em declínio a parir da
década de 1970.
Nesta altura, uma outra empresa, a General Motors, tornou menos
rígido o seu sistema de fabrico de automóveis. Esta empresa usou outros
modelos de produção lexível e fabricou uma maior variedade de carros.
Com isso, ultrapassou a Ford como a maior empresa de montagem de
automóveis do mundo.
Também na década de 1970, as crises económicas provocadas pelo
A General Motors
aumento do preço do petróleo, e a entrada dos japoneses no mercado Corporaion, também
conhecida apenas pela sigla
de automóveis, foram fatores que contribuíram ainda mais para a crise do GM, é uma mulinacional
Fordismo. Por exemplo, a Toyota criou a sua própria maneira de produzir com sede nos Estados
Unidos, cuja principal área
automóveis, tornando-se, em 2007, a maior empresa de montagem de de negócios é a produção
de automóveis de várias
veículos do mundo. marcas.

Desta forma, veriica-se que empresas por todo o mundo, em especial na


Europa, Estados Unidos e Japão, começaram a adotar sistemas alternaivos
aos de pequena responsabilidade.

Aividade
Copia as airmações seguintes para o teu caderno e corrige-as.

1. Com as novas formas de organização do trabalho, nomeadamente


os sistemas de grande responsabilidade, os níveis de insaisfação, as
subsituições e as faltas dos trabalhadores tendem a ser elevados.
2. Os sistemas de pequena responsabilidade permitem aos trabalhadores
controlar o ritmo e conteúdo do seu trabalho.
3. Nos sistemas de grande responsabilidade, os trabalhos são ajustados ao
funcionamento das máquinas.
4. O sistema de produção fordista entrou em declínio a parir da década de
1980.

Formas de organização social do trabalho | 23


2.5 Pós-fordismo e produção lexível
Na atualidade, tal como vimos antes, o Fordismo tem vindo a ser
subsituído por sistemas mais lexíveis de organização do trabalho. Nestes,
a produção é feita em pequenas quanidades para saisfazer necessidades
mais especíicas dos consumidores, em vez de se produzirem produtos
iguais, em grandes quanidades. Porém, ainda podemos encontrar muitos
elementos do sistema fordista, tanto na indústria automóvel, como, por
exemplo, na indústria alimentar, têxil, de calçado, eletrónica, etc..
É no fabrico de carros que se começaram As mudanças no sistema de produção foram provocadas por vários
a veriicar as maiores mudanças na
organização do trabalho industrial. fatores, entre os quais se destaca, como vimos atrás: a automaização e os
sistemas de produção lexível. A estes fatores podemos juntar um outro: a
criação de formas de produção em colaboração ou em grupo.

A automaização refere-se ao uso de máquinas (chamadas robôs)


Automaização
Uso de máquinas (chamadas de para realizar a produção, com um controlo mínimo por parte dos
robots) para executar e controlar seres humanos. Os robôs começaram a ser uilizados na indústria, em
processos de produção, com uma
supervisão mínima por parte dos seres quanidades signiicaivas, a parir de 1946, quando foi inventado um
humanos.
disposiivo para regular automaicamente a maquinaria nas fábricas. Com
o avanço da tecnologia, os robôs foram sendo cada vez mais uilizados na
indústria, nomeadamente a parir dos anos 1970. Nesta altura começaram
a ser mais complexos. Passaram, também, a realizar um número cada vez
maior de tarefas, até então da responsabilidade dos trabalhadores: soldar,
pintar, levantar e carregar pesos, entre outras.

Sistema de produção lexível


O sistema de produção lexível consiste, principalmente, na possibilidade
Centro de maquinaria controlada de a produção automaizada nas fábricas poder ser rapidamente mudada
por computador que molda peças
metálicas a alta velocidade, em robots
para o fabrico de novas peças ou produtos. Estes sistemas conseguem
que manuseiam as peças e em carros produzir pequenas quanidades a baixo custo. Isto contrasta com o que
teleguiados que transportam os
materiais pra o lugar de produção e acontecia na era do Fordismo, em que só se conseguia fabricar um produto
daí para outras zonas.
a um preço baixo se se produzisse em grandes quanidades.

Produção em grupo
A produção em grupo baseia-se em grupos de trabalho. Por vezes,

Produção organizada por pequenos funciona em conjunto com a automaização, como forma de reorganizar
grupos e não individualmente,
o trabalho. O seu principal objeivo é aumentar a moivação e saisfação
implicando o abandono da linha de
produção e o estabelecimento de dos trabalhadores, uma vez que eles passam a colaborar, em grupo,
grupos de trabalho paricipaivo.
na fabricação dos produtos. A integração da automaização permite
que as tarefas mais roineiras e aborrecidas sejam feitas por máquinas.
Os trabalhadores podem, assim, desenvolver novas capacidades e
concentrarem-se em tarefas que os moivam mais.

24 | O trabalho nas sociedades contemporâneas


Aividade
No teu caderno responde às seguintes questões:
1. Diz o que é a automaização das fábricas.
2. Quais são os efeitos da automaização do trabalho.
3. Quais são os objeivos da produção em grupo.

2.6 Trabalho e organização social


Cada empresa ou organização pública representa uma parte da forma
como a sociedade organiza a produção dos seus bens e serviços. As
ligações e a cooperação entre estas diversas partes consituem elementos
importantes para que esta produção aumente o bem-estar individual e
coleivo. Organizar o trabalho nas empresas e nas organizações públicas
representa, portanto, apenas uma parte da tarefa. É necessário também
estabelecer um sistema de ligações entre as diferentes empresas e
organizações públicas e fazer com que elas se coloquem ao serviço da
sociedade.
A organização social existente numa sociedade pode ser deinida pela
existência de um sistema de relações de obrigação (deveres e direitos
mútuos) entre os diferentes grupos e comunidades existentes num país.
Desta forma, as transformações surgidas na maneira de produzir e nas
relações de trabalho têm uma grande importância para a compreensão
das relações entre os seres humanos. Nas sociedades pré-industriais e
agrárias, a organização social das comunidades baseava-se, em muitos
casos, na propriedade coleiva, no parentesco ou nos laços de sangue.
Não exisia, ainda, uma divisão diferenciada do trabalho em função da
maneira como eram produzidos os bens. No entanto, o desenvolvimento
do capitalismo, a divisão social do trabalho e o aumento da produividade
do trabalho conduziram à existência de relações sociais, cada vez mais
diferenciadas. Os bens passaram a ser distribuídos de forma mais desigual,
surgindo, igualmente, uma divisão mais clara da sociedade, resultando
em classes.
Durante a época da escravatura e da servidão, o trabalhador da terra
inha-se tornado propriedade do grande senhor, dono das terras, sendo
manido nesta situação pela força. Os servos inham de entregar aos
donos das terras a maior parte dos produtos do seu trabalho, exisindo
uma relação de servidão/exploração.

Formas de organização social do trabalho | 25


Com a Revolução Industrial, e o desenvolvimento do capitalismo, o
homem transferiu o trabalho artesanal para a indústria mecanizada. O
trabalho passou a ser comprado pelos donos das fábricas. Desta forma,
surgiu uma separação entre os assalariados e os patrões, ou seja, entre
aqueles que vivem da exploração do trabalho e aqueles que realizam o
trabalho em troca de um salário.
Camponeses a entregar produtos Esta relação desigual entre os seres humanos deu origem, ao longo dos
resultantes do seu trabalho ao senhor
feudal séculos XIX e XX, nas sociedades ocidentais e nos países colonizados, a
muitos movimentos e lutas sociais. Muitas pessoas revoltaram-se contra
os efeitos negaivos do capitalismo. Revindicavam mais igualdade social
e de oportunidades para todos, principalmente para os que pertenciam
às classes mais pobres. Nos países colonizados, a estas revindicações
juntava-se a luta pela conquista da independência. No fundo, estes
movimentos também revindicavam o im das relações de submissão e
de exploração no trabalho, a sua digniicação e a sua pagamento de uma
forma mais justa.

Aividade
Responde às seguintes questões no teu caderno:
1. Quais as razões que tornaram as relações sociais cada vez mais
diferenciadas?
2. Como é que o trabalho se transformou depois da Revolução Industrial?
3. Quais as reivindicações dos movimentos sociais que surgiram ao longo do
século XIX e XX?

26 | O trabalho nas sociedades contemporâneas


RESUMO
O trabalho artesanal teve uma grande importância até à Revolução
Industrial. A produção era limitada e servia um número reduzido de
pessoas. Em algumas sociedades, a produção artesanal é ainda uma
realidade, não só para ins turísicos, mas também para o uso quoidiano.
Nas sociedades tradicionais, o trabalho baseava-se em aividades agrícolas
ou em oícios, os quais eram exercidos por pessoas que o aprendiam
durante muito tempo. Nas sociedades atuais podemos encontrar muita
especialização no trabalho. Ou seja, o trabalho divide-se num grande
número de aividades diferentes, nas quais as pessoas se especializam.
Existe, portanto, uma grande diferença entre a divisão do trabalho nas
sociedades tradicionais e nas sociedades modernas.
Nos inais do século XVIII, foram reconhecidas várias vantagens da divisão
do trabalho, nomeadamente em termos do aumento da produividade.
Um século mais tarde, Frederick Winslow Taylor defendeu o princípio da
gestão cieníica, ou seja, ele acreditava que a gestão de uma empresa
deveria ser como uma ciência. O método por ele defendido icou conhecido
por Taylorismo. Este era um sistema de produção que pretendia simpliicar
e integrar as tarefas de cada trabalhador com o objeivo de aumentar a
sua produividade.
Os princípios de gestão desenvolvidos por Taylor foram mais tarde
aplicados por Henry Ford, na produção de automóveis. O termo Fordismo
começou a ser usado para designar o sistema de produção em grande
quanidade, a baixo custo, e associado ao consumo em massa.
A parir dos anos 1970, devido, em grande parte, aos problemas criados
pelo Fordismo, algumas empresas na Europa e nos Estados Unidos, e
mais tarde no Japão, colocaram em práica alternaivas às organizações
fordistas de baixa responsabilidade.
Na atualidade, o Fordismo tem vindo a ser subsituído por um novo
sistema mais lexível. Neste, a produção é feita em pequenas quanidades
para saisfazer necessidades mais especíicas dos consumidores. Estas
mudanças no sistema de produção foram provocadas por vários fatores:
a automaização das fábricas, os sistemas de produção lexível e a
introdução de formas de produção em colaboração.
O trabalho é um fenómeno muito importante para a existência do ser
humano, exisindo uma caracterísica comum, que atravessa todos os ipos
de sociedades, desde a esclavagista até à industrial: a subordinação de

Formas de organização social do trabalho | 27


quem vive do trabalho prestado a outrem. Foi com a Revolução Industrial
que a ideia de subordinação ao capital de quem vive do seu trabalho se
acentuou. As transformações que aconteceram na maneira de fabricar
os produtos e nas relações de trabalho têm uma grande importância
para a compreensão das relações entre os homens. A organização social
baseia-se nestas relações entre as pessoas, as empresas e as organizações
públicas.

28 | O trabalho nas sociedades contemporâneas


EXERCÍCIOS

Responde ao conjunto de questões em baixo. Em cada grupo de questões,


apenas uma opção de resposta está correta. Copia o exercício para o teu
caderno e marca as opções certas com um X.

1. Nas úlimas décadas do século XX veriicou-se uma alteração nos


sistemas de produção e de trabalho. Estas alterações provocaram:
a) O aumento do trabalho manual.
b) O aumento da lexibilidade e da polivalência.
c) O desaparecimento de sistemas de fabrico comandados por computa-
dores.

2. Para melhorar a produção nas fábricas no século XIX, foram desenvolvidas


duas teorias: o Taylorismo e o Fordismo.
a) O Fordismo baseava-se na especialização do trabalho e da produção.
b) Com o Fordismo passaram-se a uilizar menos produtos.
c) Com o Taylorismo os trabalhadores passaram a produzir o produto na
sua totalidade.

3. O Fordismo baseava-se nas seguintes caraterísicas:


a) Realização de tarefas muito complicadas.
b) O aumento do número de produtos fabricados devido ao uso de linhas
de montagem.
c) Preocupação com os direitos sociais dos trabalhadores.

Formas de organização social do trabalho | 29


3 Género e paricipação no mercado de trabalho

3.1 As noções de sexo e de género


Todos sabemos que existem diferenças ísicas e biológicas entre homens
e mulheres. Sabemos que somos homens ou mulheres porque temos
órgãos genitais disintos. Temos, ainda, uma estrutura genéica que nos
permite desenvolver hormonas masculinas ou femininas, na base do
desenvolvimento do sistema reproduivo.
Mas, não são apenas estas diferenças que fazem com que se desenvolvam
aitudes e comportamentos disintos ao longo da vida. As diferenças entre
homens e mulheres não dependem apenas da biologia e da natureza, mas
são, também, estabelecidas pela sociedade.
Para tornar clara esta disinção - por um lado as diferenças biológicas
entre homens e mulheres, e por outro lado, as diferenças sociais - os
cienistas sociais uilizam dois conceitos: sexo (que diz respeito aos
aspetos biológicos) e género (que indica os aspetos sociais). A consciência
de que «ser homem» e «ser mulher» não é apenas um facto biológico,
mas também social, foi muito discuida e desenvolvida desde o século XIX.

Simone de Beauvoir (1908-1987) Uma pensadora importante na discussão sobre as questões de género
Foi uma escritora, ilósofa e feminista foi Simone de Beauvoir (1908-1986), uma escritora e feminista francesa.
francesa. Um dos seus livros mais
importantes foi “O segundo sexo” Para salientar a importância da inluência da sociedade na forma como
(1949), na qual faz uma análise homens e mulheres se comportam airmou: ‘Não nascemos mulheres,
profunda e críica do papel da mulher na
sociedade e ao longo da sua história. tornamo-nos mulheres’.
A antropóloga Margaret Mead (1901-1978) também se interessou por este
tema. Ao observar o comportamento das raparigas de Samoa (local onde
estava a fazer o seu estudo), percebeu que este era muito diferente do
comportamento das raparigas dos Estados Unidos da América (local onde
Samoa é um Estado
independente da Polinésia (um inha nascido). Concluiu, então, que os modelos sexuais e os padrões de
conjunto de ilhas no oceano
comportamento das mulheres não eram de natureza biológica e universais,
paciico).
mas, antes, resultado do modelo de educação existente na sua cultura.
Apesar do sexo ser determinado biologicamente, a compreensão do que é
um comportamento feminino ou masculino resulta de uma aprendizagem
social que se faz, muitas vezes de forma inconsciente, através do processo
de socialização.
O conceito de género refere-se, então, a um sistema social e cultural de
educação, existente na sociedade que leva as pessoas a terem diferentes
aitudes e comportamentos de acordo com o seu sexo. Ser homem ou
mulher resulta da aprendizagem dos papéis sociais atribuídos aos dois
sexos em diferentes sociedades.

30 | O trabalho nas sociedades contemporâneas


Desde que nascemos que vamos interiorizando, sem nos darmos conta Género
disso, os papéis sociais correspondentes a cada sexo (recorda no manual Enquanto o conceito de sexo se refere
do 10º ano o conceito de papéis sociais). Esta interiorização depende das apenas às diferenças biológicas entre
homens e mulheres, o conceito de
normas e regras sociais e culturais da sociedade onde estamos inseridos. género está ligado aos diferentes
papéis sociais atribuídos a cada um,
Através do exemplo do comportamento dos outros, vamos aprendendo de acordo com as regras dominantes
na família, na escola, no grupo desporivo ou nos meios de comunicação em cada sociedade.

social, a construir a nossa idenidade de género.


É através do processo de socialização, a que todos estamos sujeitos, que
aprendemos os modelos de comportamento e as caraterísicas que
homens e mulheres devem ter. Desde o momento em que as crianças
nascem, as pessoas comportam-se de modo diferente com os rapazes e as
raparigas. Estas diferenças relacionam-se com o modo como as crianças
são vesidas, com as brincadeiras que lhes são ensinadas e até com outros
aspetos como a forma como as crianças são educadas na escola. Desta
forma, são esimuladas ou diicultadas algumas aitudes, comportamentos
e capacidades de acordo com o que a sociedade considera adequado para
os dois sexos. Por exemplo, na maior parte das sociedades espera-se que
as mulheres estejam mais ligadas às tarefas domésicas do que os homens.
Assim, muitas vezes, as raparigas têm brinquedos relacionados com
tarefas domésicas ou o cuidar. Também desde pequenas são ensinados
certos trabalhos caseiros, e, às vezes, não são esimuladas a estudar
porque o seu trabalho em casa é considerado mais importante.

Aividade
Responde às seguintes questões:
1. Na tua opinião o que queria Simone de Beauvoir dizer com a airmação:
‘Não nascemos mulheres, tornamo-nos mulheres’?
2. Discute e compara as tuas respostas com as dos teus colegas.

Em todas as sociedades existem normas e regras sociais que diferenciam


Estereóipos de género
homens e mulheres, valorizando mais as caraterísicas de um género do
São representações acerca dos
que de outro. Ao conjunto de traços, ou caraterísicas, que a sociedade traços e papéis sociais atribuídos a
homens e mulheres. Os traços de
considera como masculinos ou femininos dá-se o nome de estereóipos género correspondem às noções do
que homens e mulheres devem ser
de género. enquanto os papéis correspondem ao
que devem fazer.
Na maior parte das sociedades espera-se, entre outras caraterísicas,
que as mulheres sejam afetuosas, carinhosas, dependentes, maternais,
românicas, sensíveis e submissas. Estas caraterísicas correspondem a
estereóipos femininos. Já dos homens espera-se que sejam ambiciosos,

Género e participação no mercado de trabalho | 31


aventureiros, corajosos, fortes, dominadores, entre outros. Estes são
alguns dos estereóipos da masculinidade.
Os estereóipos de género são representações socialmente criadas e
valorizadas acerca do que os homens e mulheres devem ser (traços
de género) e fazer (papéis de género). Papéis e traços estão ligados e
hierarquizados. Ou seja, aos traços ditos femininos, como carinhosa e
frágil, correspondem determinados papéis sociais (como o papel de mãe
ou de enfermeira) e estes traços são, em regra geral, socialmente menos
valorizados do que os traços masculinos – por exemplo, ser racional, forte,
violento e agressivo – a que correspondem papéis sociais (como o papel
de pai ou de engenheiro).
Estes estereóipos, que nos vão sendo transmiidos ao longo do processo
de socialização, fazem com que tenhamos determinados comportamentos,
sem nos apercebermos deles. Em Timor-Leste também, as raparigas,
desde cedo, são ensinadas a ser dóceis e prestáveis, a usarem o espaço
de uma forma mais reduzida e a não serem compeiivas. Os rapazes,
pelo contrário, são ensinados a serem compeiivos, aivos, coniantes e a
usarem o espaço sem limites.
Se reparares no recreio da tua escola, estes estereóipos estão traduzidos,
ou expressos, no comportamento e nas brincadeiras de rapazes e
raparigas. Normalmente os rapazes jogam à bola, ocupando grandes
espaços do recreio, enquanto as raparigas se juntam em pequenos grupos
a conversar.

Os estereóipos de género levam a que rapazes e raparigas aprendam diferentes


brincadeiras e ocupem o tempo de diferentes formas.

32 | O trabalho nas sociedades contemporâneas


Muitas vezes, os livros escolares, a música, a publicidade, os ilmes
e as novelas, assim como os jogos, reproduzem estes estereóipos.
As raparigas e as mulheres estão quase sempre em situações de
dependência, passividade e fraqueza, enquanto os rapazes e os homens
são representados como aivos, aventureiros, independentes e fortes.

Aprofundar os conhecimentos
Uma invesigação importante foi realizada por Margaret Mead (1901-1978)

em três sociedades da Nova Guiné (uma ilha no Sudoeste do Pacíico): os
Arapesh, os Mundugomor e os Chambuli. Através destes casos a autora mostra
que os traços, ou caracterísicas, de personalidade masculina e feminina
que se têm por universais (porque são consideradas de origem biológica),
não existem, de igual forma, em todas as sociedades. Mais ainda, certas
sociedades têm um sistema cultural de educação que não considera que os
rapazes e as raparigas tenham caracterísicas opostas (isto é, não acreditam,
por exemplo, que as raparigas são meigas e os rapazes agressivos).
Entre os Arapesh, tudo parece organizado na pequena infância para fazer
com que o futuro Arapesh, homem ou mulher, seja um ser delicado, sensível,
prestável. As crianças são acarinhadas sem disinção de sexo.
Por outro lado, entre os Mundugomor, a consequência do sistema de educação
é antes suscitar a rivalidade, e até mesmo a agressividade, tanto entre os
homens como entre as mulheres, e, ainda, entre os dois sexos. As crianças
são duramente educadas, porque são ilhos não desejados, sejam rapazes ou
raparigas. As duas sociedades produzem, através dos seus métodos culturais,
dois ipos de personalidade completamente opostos.
Inversamente, os Chambuli, o terceiro grupo, pensam como os ocidentais,
que homens e mulheres são profundamente diferentes na sua psicologia.
Mas, ao contrário dos ocidentais, estão convencidos de que a mulher é, “por
natureza”, empreendedora, dinâmica, solidária com os membros do seu sexo,
extroverida; e que o homem é, em contraparida, sensível, menos seguro de
si, muito preocupado com a sua aparência e com tendência para ter inveja
dos seus semelhantes. É que, entre os Chambuli, são as mulheres que detêm
o poder económico e que asseguram o essencial da subsistência do grupo,
ao passo que os homens se consagram sobretudo a aividades cerimoniais e
estéicas (as belas artes, mas também a sua maquilhagem e principalmente
o penteado), que os põem muitas vezes em compeição uns com os outros
como nas sociedades ocidentais acontece com as raparigas ou as mulheres.

Adaptado de Cuche, D. (2004). A noção de cultura nas Ciências Sociais (2ª


ed.). Lisboa: Fim do Século.

Género e participação no mercado de trabalho | 33


Esta publicidade reproduz os estereóipos de género. As mulheres são representadas
ligadas às tarefas domésicas enquanto os homens são representados ligados ao lazer.

Aividade
Lê, com atenção, o seguinte texto:
“As aprendizagens acerca do género dão-se nos primeiros anos da criança de
modo ainda inconsciente. Muito antes de se conseguir reconhecer de forma
inequívoca como rapaz ou rapariga, a criança, por volta dos dois anos, começa
a disinguir parcialmente o que é o género. Há um conjunto de sinais não
verbais que para isso contribuem – a maneira como se lida com as crianças,
as diferenças na maneira de vesir, no esilo de penteado, nos cheiros dos
cosméicos ou dos perfumes, etc…”

Adaptado de Giddens, A. (2010). Sociologia (8ª ed.). Lisboa: Fundação


Gulbenkian.

Responde às seguintes questões:


1. Deine género, a parir do texto.
2. Dá três exemplos de estereóipos masculinos e femininos.

3.2 As mulheres e o trabalho


Em quase todas as sociedades, as mulheres e os homens fazem algumas
tarefas diferentes. Os estereóipos de género e, em paricular, os papéis
sociais atribuídos a homens e mulheres, levam a uma determinada divisão
do trabalho. As tarefas domésicas e a responsabilidade pela casa são,
normalmente, atribuídas às mulheres, enquanto os homens trabalham
mais fora de casa. Por isso se diz que os estereóipos de género atribuem
à mulher o espaço privado da casa, enquanto ao homem atribuem o
espaço público do trabalho.
Tradicionalmente, nos papéis de género, ao nível da família, as tarefas de
cuidar dos ilhos, dos doentes e dos mais velhos são atribuídas às mulheres.

34 | O trabalho nas sociedades contemporâneas


De uma forma geral, na maioria das sociedades está reservado aos homens Em todas as sociedades
o papel de sustento da família. Em grande parte estes estereóipos há diferenças nos papéis
sociais desempenhados por
resultam de diferenças biológicas, já que só as mulheres podem ter ilhos. homens e por mulheres.
Tradicionalmente, em algumas
Esta diferença é, no entanto, muito valorizada pela sociedade. Isso leva a sociedades, as mulheres têm
que as aitudes e comportamentos dos homens sejam mais valorizados a responsabilidade por grande
parte das tarefas domésicas
na sociedade do que as das mulheres. Esta sobrevalorização dos homens e do cuidar dos ilhos e idosos
e, muitas vezes, a venda
é caracterísica das chamadas sociedades patriarcais, onde o homem e a dos produtos da terra nos
igura masculina têm mais poder e são mais valorizados do que os outros mercados.

elementos da sociedade.
A existência de sociedades matriarcais mostra que as diferenças biológicas
Sociedade matriarcal
não são suicientes para explicar as diferenças sociais e culturais entre Corresponde a uma sociedade cuja
homens e mulheres. Numa sociedade matriarcal (apesar das diferenças organização se baseia na autoridade
das mulheres, em especial das mães.
biológicas entre homens e mulheres serem as mesmas), o poder e a São elas que gerem os bens e o nome
da família, bem como a herança, é
autoridade estão concentrados nas mulheres, sobretudo nas mães. transmiida pelas mães.
Nestas sociedades, são elas que gerem os bens (como o dinheiro ou as
terras) e o nome das famílias é passado de mães para ilhas. Exemplos
de sociedades matriarcais são a tribo Mosuo, na China, ou os Bunak, na
região de Bobonaro, em Timor-Leste.

As tarefas domésicas são, desde cedo ensinadas às meninas.

Género e participação no mercado de trabalho | 35


No entanto, é importante saber que nem todos os antropólogos
concordam que se considerem estas sociedades matriarcais. Isto porque
apesar de serem sociedades de linhagem matrilineares (em que a linha de
sucessão na família acontece pelo lado da mãe), os homens coninuam a
ter o poder económico (por exemplo, são quem gere e organiza o uso das
terras.).
O trabalho domésico corresponde ao conjunto de bens e serviços
produzidos na família para saisfazer as suas necessidades de sobrevivência
e desenvolvimento. Este trabalho inclui aividades relacionadas com a
alimentação, os cuidados e o descanso. Na maior parte das sociedades
o trabalho domésico foi sempre desvalorizado, ignorado e subavaliado.

Aividade
Em grupo:
1. Escreve numa folha todas as tarefas ou aividades que fazes desde que te
levantas até que te deitas.
2. Compara as tuas respostas com as dos teus colegas.
3. Analisa, agora, se há diferenças entre as tarefas ou aividades que os
rapazes e as raparigas do teu grupo fazem durante o dia.
4. Como se podem jusiicar estas diferenças?

3.2.1 A evolução e o crescimento da paricipação das mulheres


na vida pública
Embora, como referimos antes, as mulheres sempre tenham trabalhado
em casa, nas terras e nos mercados, com o surgimento da sociedade
industrial, no ocidente, as mulheres começaram a desenvolver aividades
em organizações industriais e de serviços fora do contexto familiar, em
troca de um salário.
Nos séculos XVIII e XIX as mulheres, nos países industrializados, começaram
a trabalhar nas fábricas. Assim, para além do trabalho domésico, as
mulheres passaram a ter, também, um trabalho remunerado fora do lar. No
entanto, as condições de trabalho e os salários das mulheres eram muito
inferiores quando comparados com os dos homens. Esta diferença levou
a que as mulheres, tal como os homens já inham feito, se começassem
a organizar em grupos para lutar por melhores condições e por igualdade
de direitos no trabalho.

36 | O trabalho nas sociedades contemporâneas


Apesar das mulheres terem começado a trabalhar nas fábricas com a
Revolução Industrial o reconhecimento da sua importância surgiu depois
da Primeira (1914-1918) e da Segunda (1939-1945) Guerras Mundiais.
Isto aconteceu, em parte, porque os homens eram obrigados a ir lutar
nas guerras e só icavam as mulheres para realizar o trabalho fabril.
Muitos destes homens não regressaram e muitas mulheres coninuaram
a desenvolver o seu trabalho nas fábricas. Outras iveram de começar a
procurar trabalho para poderem dar comida aos ilhos. Um grupo mais
pequeno de mulheres icou, ainda, a tomar conta dos negócios da família.
No entanto, muitas outras mulheres procuraram inserir-se no mercado
de trabalho por gosto, vontade e ambição em desenvolver determinada
proissão.
Esta integração das mulheres no mercado de trabalho foi muito importante
pois permiiu que estas se tornassem mais autónomas e independentes,
quer dos pais, quer dos maridos. Permiiu, ainda, que as mulheres que
queriam ter uma proissão se pudessem autorrealizar e colocar em causa
os estereóipos de género dominantes.
Existe muita polémica e confusão em torno da origem do Dia Internacional
da Mulher que se comemora a 8 de março. A versão mais conhecida
da origem deste dia é a de que, em 1857, operárias de uma fábrica de
tecidos, situada em Nova Iorque (nos Estados Unidos da América), izeram
uma grande greve. Ocuparam a fábrica e exigiram melhores condições de
trabalho. Entre as exigências estava uma redução do número de horas
de trabalho por dia para 10 horas (o habitual era 16 horas), salário igual
ao dos homens (as mulheres recebiam um terço do salário dos homens
para fazer o mesmo trabalho) e tratamento digno no local de trabalho.
Para conseguirem terminar com a manifestação, os donos da empresa
usaram muita violência. Fecharam as operárias dentro da fábrica e, num
ato totalmente desumano, lançaram-lhes fogo. Há, no entanto, quem
airme que este incêndio foi causado pela grande falta de segurança que
as fábricas inham nesta altura. Para estes o relato não passa de um mito,
isto é, de uma história que é contada de geração em geração mas que
nunca aconteceu.
No entanto, o dia 8 de março é reconhecido pela Organização das
Nações Unidas (ONU) como o Dia Internacional da Mulher. O objeivo
da criação deste dia é o de promover diálogos, conversas e estudos
sobre a situação das mulheres na sociedade, bem como organizar
manifestações e eventos culturais. Com o mesmo objeivo são, também, Em todo o mundo ainda há situações
que levam as mulheres a reinvidicar por
comemorados, em Timor-Leste, o Dia Internacional da Mulher Rural direitos iguais

Género e participação no mercado de trabalho | 37


(15 de outubro) e o Dia Nacional da Mulher (3 de novembro). A estas
comemorações acrescenta-se ainda a existência de 16 dias de aivismo
contra a violência de género de 25 de novembro a 10 de dezembro.
Este aumento da paricipação das mulheres no mercado de trabalho não
aconteceu de igual modo em todos os países do mundo. Ainda hoje, há
importantes diferenças na situação económica e social das mulheres nos
diferentes países. Para tentar compreender esta discriminação, e o modo
como as diferenças de género podem ter impacto na economia, muitos
estudos foram feitos por várias enidades. Uma destas enidades é o
grupo internacional e independente, com o nome World Economic Forum
(Fórum Económico Mundial) – que tem como um dos seus objeivos a
avaliação e a comparação da situação das mulheres em vários países,
através de diversos indicadores. Todos os anos, publica um relatório
chamado Global Gender Gap Report.
De acordo com o relatório de 2012, os dez países do mundo que
apresentavam melhores índices de igualdade entre homens e mulheres
eram os seguintes: Islândia, Finlândia, Noruega, Suécia, Irlanda, Nova
Zelândia, Dinamarca, Filipinas, Nicarágua e Suíça. Já os dez países com
piores condições eram: Zimbabué, Uzbequistão, Tunísia, Bielorússia,
Angola, Yemen, Paquistão, Chad, Síria e Arábia Saudita. Os países do norte
da Europa têm ocupado sempre as primeiras posições desde que este
relatório é publicado.

Dez países do mundo onde a igualdade de género é maior.

Os países melhores classiicados na região da Ásia-Pacíico são a Nova


Zelândia e as Filipinas (incluídos nas 10 melhores posições a nível mundial).
Estes países são, depois, seguidos pela Austrália, Sri Lanka, Mongólia,
Singapura, Tailândia, Vietnam, Timor-Leste e China.

38 | O trabalho nas sociedades contemporâneas


Timor-Leste só começou a ser analisado, neste relatório, em 2012. É
importante salientar que, dos 135 países analisados em todo o mundo,
Timor-Leste está no 68º lugar em termos de igualdade de género. A
situação em Timor-Leste parece ser melhor do que em alguns dos países
do mesmo coninente como a Índia, o Nepal, a República do Irão e o
Paquistão.
Esta posição de Timor-Leste é conseguida, sobretudo, devido à forte
paricipação das mulheres na políica quer no parlamento, quer nos
ministérios. No entanto, a prestação de cuidados de saúde às mulheres
tem de ser melhorada assim como a remuneração no trabalho e a
igualdade na paricipação na educação. O número de mulheres no ensino
vai diminuindo à medida que subimos os níveis. As mulheres representam
85% dos alunos no ensino primário, 39% no secundário e apenas 14% no
superior.
Embora estes dados não nos permitam perceber a evolução do país,
podemos tentar compreender as tendências de desenvolvimento através
dos dados do censos. Assim, no que se refere à paricipação no mercado
de trabalho, veriica-se que a taxa de paricipação dos homens no mercado
de trabalho (com idades entre os 15 e os 64 anos) era, em 2004, de 75%
para os homens e de 54,8% para as mulheres. Em 2010, estas taxas
desceram para 61,1%, no caso dos homens, e 31,3% no caso das mulheres.
Esta descida icou, em grande parte, a dever-se ao facto das pessoas
saírem dos campos para as cidades à procura de melhores condições de
vida. Isto signiica que, a diminuição da paricipação no mercado de
trabalho é mais acentuada no caso das mulheres.

Aividade
Em 1999 Afonso Busa Metan publicou o seguinte poema:
Cansadas já da canga
e da indignidade do silêncio,
e fartas do horizonte encurtado
por panelas e roupa p’ra lavar…

as mulheres ergueram o «surik»


para o céu
e começaram a pisar o chão com imeza.

Metan, A. (1999). Em português vos amamos – Poemas e lendas. Bruxelas:


SOS Timor.

Comenta o poema tendo em atenção os aspetos posiivos da paricipação


das mulheres no mercado de trabalho em Timor-Leste.

Género e participação no mercado de trabalho | 39


3.3 Género e desigualdades no trabalho
Apesar da situação das mulheres no mercado de trabalho ter vindo
a melhorar, ainda existem importantes diferenças que não devemos
esquecer.

3.3.1 Segregação horizontal
A presença das mulheres no mercado de trabalho aumentou, mas a sua
situação não é igual à dos homens. Coninua a exisir discriminação e
segregação com base no género.

Discriminação direta
A discriminação, como conceito geral, resulta de preconceitos negaivos
Resulta de práicas que provocam um
dirigidos a um grupo de pessoas. A discriminação pode ser direta ou
tratamento desigual e desfavorável indireta. A discriminação direta acontece quando se veriicam práicas
para um grupo ou um género.
que resultam num tratamento desigual e desfavorável para um grupo, ou
um dos géneros. Por exemplo, se não se permite a entrada de mulheres
para um dado emprego. A discriminação indireta está relacionada com
Discriminação indireta
situações, leis ou práicas que, aparentemente, são neutras (parecem
Resulta de situações, leis ou práicas
que parecem neutras mas resultam favorecer tanto os homens como as mulheres), mas que resultam em
em desigualdades para determinadas
pessoas ou grupos.
desigualdades para determinadas pessoas ou grupos. Por vezes, a
própria pessoa que é alvo desta discriminação pode não se aperceber
da sua existência. Por exemplo, uma lei que proteja só as mulheres na
maternidade (permiindo, por exemplo, que faltem ao trabalho para
cuidar dos ilhos doentes), leva a que os homens se afastem cada vez mais
das aividades de cuidar.
A discriminação direta, com base no género, é legalmente proibida
em praicamente todos os países. Em grande medida, devido ao papel
da UNTAET e das ações de vários grupos de mulheres imorenses, a
Consituição, aprovada em 2002, considera como um dos objeivos
fundamentais do estado “promover e garanir a efeiva igualdade de
oportunidades entre homens e mulheres”.
Seguindo a tradição das sociedades patriarcais, em que as mulheres se
ocupavam sobretudo do trabalho domésico, a paricipação das mulheres
no mercado de trabalho começou por se fazer em empregos relacionados
com esta área (como criadas ou empregadas domésicas). As mulheres
desenvolveram trabalho na indústria do vestuário, no ensino ou na saúde.
Hoje encontram-se em praicamente todas as proissões.
A paricipação de homens e mulheres no mercado de trabalho é desigual
porque relete os tradicionais papéis de género. Assim, há determinados
empregos que são considerados femininos, como cabeleireira ou
Os estereóipos de género levam a que
normalmente sejam os homens a cuidar enfermeira, e outros que são considerados masculinos como condutor ou
dos búfalos
construtor.

40 | O trabalho nas sociedades contemporâneas


Quando se veriica esta paricipação desigual de homens e mulheres no Segregação horizontal
mercado de trabalho, com algumas proissões a serem maioritariamente Concentração de mulheres e/ou
femininas ou masculinas, dizemos que estamos perante o fenómeno da homens em diferentes ipos de
aividades, icando as mulheres
segregação horizontal ou ocupacional. Este ipo de segregação resulta da coninadas a um leque mais apertado
tendência para as ocupações femininas se concentrarem num pequeno de setores ou proissões.

conjunto de proissões muito ideniicadas com o ipo de aividades que


tradicionalmente compeiam às mulheres na área domésica, como a
educação e cuidados familiares.

Aividade
Lê o seguinte texto:
É possível encontrar diferentes classiicações relaivas aos papéis das
mulheres. Em geral encontramos referências a três ipos de papéis que
icaram conhecidos como ‘women’s triple role’ ou o ‘papel triplo das mulheres’.
Em primeiro lugar, temos o trabalho reproduivo, que inclui a reprodução
biológica (ter ilhos e cuidar das crianças pequenas), a reprodução geracional
(cuidar dos ilhos mais velhos) e a reprodução diária (trabalho domésico
de suporte àqueles que desempenham tarefas produivas, o que inclui a
gestão do lar). Em segundo lugar, encontramos o trabalho produivo, que
abrange a produção para consumo domésico e as aividades agrícolas ou
não-agrícolas geradoras de rendimento. Por úlimo, temos o chamado
trabalho comunitário, aividades e eventos desempenhados coleivamente.

Adaptado de Narciso, V. & Henriques, P. (2008). Desenvolvimento rural,


mulheres e terra – Um olhar sobre Timor-Leste, Rio Branco-Acre: Sociedade
Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural.

1. Faz uma lista de tarefas que são normalmente feitas pelas mulheres.
2. Relaciona estas tarefas com os papéis sociais que os autores ideniicam.
3. Comenta o texto pensando no papel importante que as mulheres podem
ter na redução da pobreza e no desenvolvimento económico do país.

3.3.2 Desigualdade salarial
A diferente valorização social dos traços e papéis de género leva a que o
trabalho de homens e mulheres também seja classiicado de diferentes
formas. Assim, os trabalhos masculinos são, em geral, mais valorizados e
melhor remunerados em comparação com os femininos.
Por outro lado, a segregação horizontal, ligada à tendência para a
sociedade atribuir às mulheres o desempenho de proissões ligadas à área
domésica, leva a que muitas destas aividades não exijam qualiicações

Género e participação no mercado de trabalho | 41


formais (por exemplo, um diploma de uma universidade). Este contexto,
associado a outros fatores (como, por exemplo, o número de pessoas
interessadas em desenvolver a proissão), faz com que estas proissões
sejam mal remuneradas e pouco presigiadas.
Mas, para além desta diferença, veriica-se, também, que as mulheres
Segregação verical (no âmbito do
género) possuem mais diiculdades em chegar ao topo das carreiras. Este
Concentração de mulheres e/ou fenómeno corresponde à segregação verical no mercado de trabalho.
homens em vários níveis da hierarquia
proissional. Frequentemente são as De acordo com uma sondagem do jornal “The Economist”, em 2012,
mulheres que se encontram nos níveis apenas 7% das mulheres em todo o mundo são membros dos conselhos
mais baixos. Mesmo nas proissões
consideradas femininas, muitas vezes de administração das empresas. Nos EUA são 15% e, no Japão, apenas,
as mulheres coninuam a ocupar 1%. De acordo com o Catalyst Inc. (Centro de invesigação sobre as
as posições mais baixas na carreira
proissional. mulheres e os negócios) de 2006 para 2007 a percentagem de mulheres
nestes conselhos de administração subiu apenas de 14,4% para 14,8%. A
este ritmo faltam 73 anos para haver uma representação semelhante de
homens e mulheres no topo das organizações.
Quanto aos salários, temos o exemplo do grupo dos 27 países pertencentes
à União Europeia (que inclui alguns dos 10 países mais igualitários do
mundo), onde, de acordo com o Eurostat (gabinete de estaísicas da
União Europeia), em 2009, as mulheres receberam, em média, 17,1 %
menos do que os homens. Esta desigualdade decorre, da associação ao
«masculino» que é feita do exercício do poder, e é transversal a todas as
aividades. Não é apenas nas empresas que as mulheres têm diiculdade
em chegar ao topo da carreira. Se pensarmos noutros domínios acontece
o mesmo.

Aprofundar os conhecimentos “
“(…) a 7 de dezembro de 1975 a Indonésia invadiu Díli declarando o território
de Timor-Leste como a sua vigésima séima província. Embora sendo uma
ex-colónia economicamente estagnada e com uma população com níveis
muito baixos de literacia e saúde, Timor-Leste resisiu, e as mulheres foram
uma parte muito importante desta resistência. Uma das primeiras a ser morta
foi Muki Bonaparte, uma jovem socialista. Nos meses seguintes assisiu-se
ao aprisionamento, violação e tortura de centenas de mulheres, em especial,
das que pertenciam à OPMT (Organização Popular da Mulher Timorense).
Durante a década de 1980 as mulheres prestaram apoio à resistência armada
através do fornecimento de cuidados de saúde, alimentação, roupa e dinheiro.
Formaram, ainda, unidades armadas de mulheres, assim como, brigadas que
lutavam lado-a-lado com as guerrilhas masculinas com “um bebé num braço
e a arma no outro” (Almeida, 1996: 101). Apesar da sua resistência aiva e
sofrida, o papel das mulheres na luta pela libertação tem sido largamente
ignorado.”

Adaptado de Whiington, S. (2003). Gender and peacekeeping: The United


Naions Transiional Administraion in East Timor.

42 | O trabalho nas sociedades contemporâneas


Assim, por exemplo, apesar do número de mulheres a paricipar na
políica ter aumentado, ainda há muito poucas mulheres chefes de
governo. Também é o caso do ensino superior (universidades e outro ipo
de insituições) onde a paricipação e o trabalho dos homens tende a ser
mais reconhecido do que o das mulheres. Em muitos países, os reitores ou
presidentes das universidades são, na sua maioria, homens.
Muitas vezes as barreiras que as mulheres enfrentam para chegar ao topo
correspondem à discriminação indireta e é, por isso, pouco visível. Existem
diiculdades visíveis e invisíveis que as mulheres, mesmo as mais
qualiicadas, enfrentam quando pretendem chegar ao topo da carreira.
Apesar de terem acesso a todas as proissões e a todos os lugares em
geral as mulheres chegam a um ponto em que estão muito próximas do
topo, mas este coninua a ser-lhes diícil de alcançar.

Aividade
Lê o seguinte texto:
“Na análise do discurso que tem vindo a ser produzido sobre Timor-Leste
e a resistência à ocupação indonésia, veriicamos que se tem debruçado
quase exclusivamente sobre os homens, retratando as mulheres como
víimas passivas e submissas. Todavia, na sequência da ocupação
indonésia, a contribuição das mulheres tornou-se necessária para garanir
o funcionamento da resistência: no mato, combateram ao lado dos homens,
cuidaram dos doentes e dos feridos, entre outras tarefas; nas vilas e aldeias,
era-lhes relaivamente fácil apoiarem a rede clandesina sem que ninguém
desconiasse, na medida em que eram associadas ao espaço da casa; na
diáspora denunciaram a situação do país perante plateias internacionais,
esforçaram-se por angariar fundos e apoios para a sua causa e divulgaram a
cultura imorense no exterior. No apoio à resistência as mulheres imorenses
demonstraram que eram capazes de assumir e lutar pelas causas públicas,
neste caso concreto, na luta contra o ocupante. Atualmente, alcançada que
está a independência nacional, a contribuição das mulheres para a resistência
ainda não foi completa e suicientemente reconhecida.”

Adaptado de Miranda, S. (2011). Percursos de resistência: Mulheres


imorenses em Portugal. In Silva, K. & Sousa, L. (Eds.) Ita Maun Alin: O livro do
irmão mais novo” Colibri. Lisboa.

No teu caderno responde às seguintes questões:


1.Na tua opinião o que jusiica que o contributo das mulheres imorenses na
resistência não seja reconhecido?
2.Porque a autora refere que era ‘fácil apoiarem a rede clandesina sem que
ninguém desconiasse’?
3.As mulheres iveram um papel importante na resistência. Na tua opinião
elas também podem ter um papel importante no desenvolvimento do país?
De que forma?

Género e participação no mercado de trabalho | 43


RESUMO
Quando falamos de homens e mulheres é necessário disinguir os
conceitos de sexo e género. O conceito de sexo refere-se às diferenças
biológicas entre homens e mulheres, enquanto o conceito de género diz
respeito aos diferentes traços e papéis sociais atribuídos a cada um de
acordo com as regras dominantes em cada sociedade.
É através do processo de socialização que aprendemos a comportarmo-nos
como homens ou mulheres. Os estereóipos de género são representações
socialmente criadas e valorizadas acerca do que os homens e mulheres
devem ser (traços de género) e fazer (papéis de género).
Em todas as sociedades há uma divisão social do trabalho. Nas sociedades
patriarcais o trabalho domésico é, tradicionalmente, atribuído às
mulheres, enquanto o trabalho pago, realizado fora de casa, é atribuído
aos homens. Existe, nestas sociedades, uma maior valorização dos traços
e papéis associados aos homens.
Desde a Revolução Industrial que as mulheres têm vindo, também,
a desenvolver trabalho fora de casa em troca de um salário. No
entanto, esta paricipação da mulher no mercado de trabalho
situa-se, maioritariamente, em certas aividades relacionadas com os
papéis tradicionalmente atribuídos às mulheres, como o cuidar. A esta
diferença nas ocupações ou proissões realizadas por homens e mulheres
chama-se segregação horizontal. Além desta forma de discriminação no
mercado de trabalho existe ainda outra mais direta – a segregação verical
– que mantém as mulheres nas posições iniciais ou inferiores da carreira.

44 | O trabalho nas sociedades contemporâneas


EXERCÍCIOS

1. Lê o seguinte texto:
As mulheres, nos manuais escolares, são apresentadas como princesas,
rainhas, bruxas e, no mundo do trabalho, como domésicas, professoras
ou empregadas de balcão. Os estudos têm demonstrado que o sistema
educaivo não impede que as crianças recebam diferentes mensagens
conforme o género.
Adaptado de Fonseca, L. (2001). Culturas juvenis, percursos femininos.
Oeiras: Celta Editora.

No teu caderno, responde às seguintes questões:


a) Diz o que entendes por género.
b) Tendo por referência o texto, diz de que modo se aprendem os traços
e papéis de género.
c) De que forma os estereóipos de género inluenciam a inserção da
mulher no mercado de trabalho?

2. De acordo com os dados da Direção Nacional de Estaísica de


Timor-Leste a evolução da paricipação de homens e mulheres na
administração pública de 2009 para 2010 foi a seguinte:

Nº trabalhadores da administração pública por ipo e por sexo

2009 2010

Masculino 16049 16719

Feminino 6463 6563

TOTAL 22512 23282

O que nos dizem estes dados acerca da paricipação das mulheres no


mercado de trabalho em Timor-Leste?

Género e participação no mercado de trabalho | 45


3. Lê o seguinte texto:
Apesar das diferenças existentes entre os diversos grupos étnicos e
linguísicos o papel fundamental das mulheres coninua a ser o mesmo
da época colonial, ter e criar os ilhos, cuidar da casa e culivar a horta. As
mulheres foram e coninuam a ser uma força de trabalho fundamental,
trabalham primeiro para o pai/família e depois para os maridos (…)

Adaptado de Narciso, V. & Henriques, P. (2008). Desenvolvimento rural,


mulheres e terra – Um olhar sobre Timor-Leste. Rio Branco-Acre: Sociedade
Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural.

No teu caderno, responde às seguintes questões:


a) Concordas com as airmações do texto? Jusiica.
b) Na tua opinião, o que é mais valorizado na sociedade imorense: o
trabalho dos homens ou das mulheres? Jusiica a tua resposta.
c) O que pensas que podia ser feito para melhorar a situação social e
económica das mulheres em Timor-Leste?

46 | O trabalho nas sociedades contemporâneas


4 O trabalho e a família
A família é um núcleo muito importante para a vida da sociedade. Para
a Sociologia, a família é interpretada como um grupo social diferente
de todos os outros. Para o seu estudo existe uma área especializada na
Sociologia - a Sociologia da Família.
A Sociologia da Família estuda diversos aspetos relacionados com o grupo
Sociologia da Família
familiar. Entre estes aspetos surgem, por exemplo, o casamento, a escolha
Estuda todos os fenómenos sociais
do cônjuge, a dimensão da família, os papéis femininos e masculinos, relacionados com as pessoas no grupo
familiar.
as relações entre os cônjuges, o papel das crianças, e as relações de
parentesco mais alargadas. Ou seja, a Sociologia da Família estuda todos
os fenómenos sociais relacionados com as pessoas no grupo familiar.
Diferentes perspeivas teóricas tratam a questão da família de várias
Estruturo-funcionalismo
formas. Por exemplo, uma das perspeivas, designada por estruturo-
Conjunto de teorias que procuram
-funcionalista, vê a família como um sub sistema social com funções explicar aspetos da sociedade
em termos das suas funções e
especíicas dentro da sociedade. Estas funções especializadas relacionam- consequências. Partem do princípio
se com a socialização dos mais jovens e a estabilidade psicológica do adulto. que tudo o que existe na sociedade
tem uma função ou dá uma
A família cumpre estas funções de acordo com a cultura dominante. Isto contribuição necessária para o
é, de acordo com as normas e os valores dominantes na região ou na funcionamento de todo o sistema
social.
comunidade a que pertence.
Uma outra perspeiva, conhecida como interaccionismo, criica a
Interaccionismo
anterior, dizendo que ela parte de preconceitos sobre o que deve ser a
Caracteriza as teorias da Sociologia
família. Para o interacionismo a família deve ser estudada primeiro no que escolhem como objecto de estudo
os processos de interação (relação
que acontece nas relações entre os seus membros. A palavra «interação» entre duas ou mais pessoas) que
refere a importância do contato entre as pessoas – membros da família. surgem em pequenos grupos.

Os interacionistas dão menos importância à relação da família com a


sociedade mais vasta. A família é, assim, considerada como um núcleo
de pessoas em interação umas com as outras. As pessoas vão, pelo seu
comportamento e as suas ações, inluenciar as ideias, as aitudes e o
comportamento dos outros membros da família. Isto signiica que, no seu
dia a dia, os membros da família vão construindo, muitas vezes sem se
darem conta disso, a maneira como as suas relações se desenvolvem.
Qualquer uma destas perspeivas considera, no entanto, que entre os
elementos da família há sempre uma separação de papéis sociais. Isto
signiica que a forma como cada um se comporta dentro da família não
depende apenas das suas caracterísicas pessoais ou da sua personalidade.
Depende, sobretudo, dos modelos de comportamento deinidos pela
sociedade em relação ao lugar que cada um ocupa na família. Há um
conjunto de normas e valores sociais que deinem à parida, por exemplo,
o que deve ser uma boa mãe, um bom pai, um bom marido, uma boa
esposa, um bom ilho ou ilha, um bom io ou ia, um bom primo ou
prima, etc.

O trabalho e a família | 47
Aividade
No teu caderno, responde às seguintes questões:
1. Refere os principais temas estudados pela Sociologia da Família.
2. Quais as duas perspeivas teóricas dominantes na Sociologia da Família?
3. Diz quais as principais diferenças entre as duas.

4.1 A divisão domésica do trabalho


O trabalho domésico é o trabalho que diz respeito às tarefas realizadas
Trabalho domésico
Trabalho relacionado com as tarefas
no espaço da casa e para o bem-estar e sobrevivência da família. Por isso
desenvolvidas no espaço da casa e da se diz que o trabalho domésico faz parte do domínio privado da vida das
família.
pessoas.
Há, em todas as sociedades, uma divisão das tarefas domésicas de acordo
com o género. Geralmente a mulher ocupa-se de tarefas relacionadas
com os cuidados com a casa, com os ilhos e as ilhas com os restantes
membros da família, como por exemplo: preparar e cozinhar a comida,
a limpeza da casa, a lavagem da roupa, os cuidados com os ilhos e os
doentes.
Em Timor-Leste, habitualmente, é a mulher que procura os produtos
necessários para a alimentação, vai à lenha, à água, cozinha e faz alguns
produtos do uso domésico. Alguns destes produtos podem, também,
ser vendidos ou trocados no mercado como, por exemplo, os tais. Mas,
também, vendem nos mercados produtos da terra que as famílias e as
comunidades produzem, como batatas, couves, cenouras, feijões, lenha,
etc.

Mulheres imorenses a venderem produtos da agricultura

48 | O trabalho nas sociedades contemporâneas


Os homens, pelo seu lado, dedicam-se, muitas vezes, mais ao trabalho
fora de casa do que as mulheres. Em Timor-Leste são os homens que, por
exemplo, constroem as casas, preparam a terra e cuidam dos animais de
grande porte como os búfalos.
No entanto, esta divisão de tarefas não tem nada de natural. Quer dizer,
não há nada na natureza ou biologia humana que determine se são os
homens ou as mulheres a realizar estas tarefas.
A divisão de tarefas de acordo com o género resulta de hábitos sociais
que foram sendo deinidos ao longo dos tempos. Isto é, resulta da
cultura dominante em determinada região. Por isso é possível encontrar
certas regiões em Timor-Leste onde a divisão das tarefas entre homens
e mulheres não é esta. Por exemplo, em algumas regiões as mulheres
trabalham na agricultura ou em alguns períodos de trabalho agrícola Mulheres a desenvolverem trabalho na
agricultura
(como a plantação e replantação do arroz) e noutras não.

Paricipação das mulheres no mercado de trabalho


Para além do trabalho domésico as pessoas realizam, igualmente,
aividades fora do contexto familiar. Como referimos anteriormente, a
paricipação das mulheres no mercado de trabalho têm vindo a aumentar,
mas está longe de ser igual à dos homens. O relatório das Nações Unidas,
de 2009, sobre a eliminação de todas as formas de discriminação contra
as mulheres em Timor-Leste referia as questões do emprego como uma
das grandes preocupações na promoção da igualdade. As mulheres
possuíam, nesta altura, taxas muito elevadas de desemprego. As que Economia informal

estavam empregadas, em geral, não inham segurança de emprego e eram Existe em todos os países e
corresponde às trocas que são
mal pagas e trabalhavam, sobretudo, em aividades ligadas à economia feitas sem qualquer documento a
comprová-lo.
informal como na agricultura.
A economia informal refere-se às aividades económicas que não
obedecem aos aspetos formais. Por exemplo, as trocas comerciais entre
as pessoas não são acompanhadas de documentos oiciais como recibos e
faturas. As relações de trabalho, na economia formal, são acompanhadas
de um documento oicial - o contrato de trabalho. Estes dados aparecem
nas estaísicas oiciais. Quando as transações ou trocas se fazem sem
estes documentos elas não entram nas estaísicas oiciais e, por isso, não
estão sujeitas ao pagamento de impostos. Quando isto acontece diz-se
que estamos perante a economia informal. Este ipo de economia existe
em todos os países. Por vezes, uilizam-se também os termos economia
paralela ou mercado negro para designar esta realidade.

O trabalho e a família | 49
O programa do IV governo consitucional (2007-2012) propunha promover
O micro-crédito surgiu na
década de 1970 e consiste a criação de cooperaivas agrícolas e desenvolver mecanismos de micro-
num sistema de crédito dado
às populações pobres ou -crédito agrícola, em especial, para as mulheres. Esta proposta inha como
muito pobres que não têm objeivo ultrapassar o problema da falta de condições de trabalho das
possibilidade de recorrer
aos bancos. O micro-crédito mulheres em Timor-Leste.
consiste no emprésimo
de pequenas quanidades Como referimos antes, à medida que as sociedades se vão desenvolvendo
de dinheiro para apoiar o
desenvolvimento de pequenos as mulheres passam também a fazer trabalho remunerado fora de casa.
negócios. Em Timor-Leste muitas mulheres têm aividades que, tradicionalmente,
eram apenas desempenhadas por homens. Um bom exemplo disto
é a políica. Nas eleições de 2012 as mulheres conseguiram 38,5% dos
lugares no Parlamento. Esta é uma percentagem muito elevada quando
comparada com outros países da região e, até, do mundo. Em grande
parte esta paricipação elevada deve-se à tradição de empenho das
mulheres na luta pela independência e na reconstrução de Timor-Leste. A
Assembleia Consituinte, que redigiu a primeira Consituição da República
Democráica de Timor-Leste, já inha uma paricipação de 27% de
mulheres. A paricipação das mulheres na políica é elevada não só a nível
nacional como, também, local. Nas eleições para a liderança comunitária
de 2009, 28% dos eleitos para os conselhos de suco eram mulheres.
Hoje, em Timor-Leste, existem mulheres em posições importantes no
governo, no parlamento e na sociedade civil. Há, por exemplo, mulheres a
desenvolver aividades na polícia ou como juízas nos tribunais.

Mulheres militares que fazem parte do Exército Timorense

50 | O trabalho nas sociedades contemporâneas


Estas mulheres habitualmente não deixam de desenvolver as tarefas
domésicas. Em geral, mesmo nos países mais desenvolvidos, as
mulheres ocupam mais tempo em aividades não remuneradas de âmbito
domésico do que os homens. Por isso, acabam por ser prejudicadas
na sua progressão proissional. Por outro lado, ao não pariciparem
nas tarefas domésicas e, sobretudo, nos cuidados com as crianças, os
homens acabam por icar prejudicados. Perdem a oportunidade de ter
mais e melhores relações com os ilhos e com os restantes elementos
da família. Com a preocupação de promover uma maior igualdade entre
homens e mulheres na sociedade muitos países desenvolveram políicas
de apoio à família.

Aividade
No teu caderno, responde às seguintes questões:
1. Diz o que entendes por trabalho domésico.
2. Na tua opinião, é importante as mulheres trabalharem fora de casa?
Porquê?

4.2 A ligação entre trabalho e família.


Quer o trabalho das pessoas seja realizado no contexto domésico (na
agricultura, por exemplo), quer fora dele (trabalho pago), há sempre uma
ligação entre o trabalho e a família. Esta ligação tem aspetos posiivos e
negaivos.
A paricipação no mercado de trabalho, quer dizer, a realização de trabalho
pago, fora do contexto familiar, é um fator muito posiivo para a pessoa
e para a sua família. Antes de mais, permite que as famílias melhorem a
sua situação económica e possam adquirir produtos que de outra forma
não poderiam. A isto pode chamar-se a aquisição de capital económico,
através do trabalho. Mas trabalhar fora do contexto familiar também
proporciona o contacto com outras pessoas e outros conhecimentos que
podem ser úteis para a família. Diz-se, neste caso, que se adquire capital
social. A vida familiar pode, assim, melhorar devido à paricipação da
pessoa no mercado de trabalho. Por isso é comum a Sociologia defender
que o trabalho é uma fonte de capital económico e de capital social.
Por outro lado, ao trabalhar fora de casa, tendo uma proissão, a pessoa
sente-se melhor, gosta mais dela própria (autoesima) e tem mais orgulho

O trabalho e a família | 51
em si. Esta situação ajuda até a pessoa a deinir a sua idenidade pessoal.
Isto é, a pessoa tende a ver-se como um proissional e a deinir-se como
tal.
Exercer uma proissão também traz um certo reconhecimento social. Há
proissões com mais presígio social do que outras. Portanto, o que cada
um faz é, também, importante para determinar o seu lugar na estrutura
social de classes.
A família é, por seu lado, igualmente, importante para o trabalho. As
pessoas, homem ou mulher, tendem a moivar-se ou a envolver-se mais
no trabalho quando têm a responsabilidade de contribuir para a vida da
sua família. E o trabalho domésico (normalmente, como vimos, feito
pelas mulheres) é importante para garanir que a pessoa tem as condições
ísicas necessárias para realizar as suas aividades. Por exemplo, uma boa
alimentação assegurada na família é importante para os ilhos terem
sucesso na escola e para os adultos terem força ísica para desenvolver as
suas aividades.
No entanto, a paricipação no mercado de trabalho também pode ter
efeitos negaivos. O trabalho traz muitas exigências e responsabilidades.
Por outro lado, as pessoas quase nunca têm total autonomia para
realizar as suas tarefas. Muitas vezes o trabalho é muito controlado pelos
superiores e não há apoio no local onde se trabalha para que ele possa ser
feito da melhor maneira.
Assim, o trabalho, sobretudo quando é em excesso, também pode ter
efeitos negaivos no bem-estar da pessoa e da família. Quando o trabalho
é excessivo provoca desmoivação e o afastamento da pessoa da família,
já que passa a estar muitas horas fora de casa. Ao trabalhar fora do
contexto familiar, o trabalhador perde controlo sobre aquilo que está a
fazer. Por exemplo, o trabalhador tem de trabalhar um número ixo de
horas e com um determinado ritmo, deixando de ter controlo sobre o uso
do seu tempo.
Trabalhar fora do contexto familiar pode signiicar a necessidade de
trabalhar durante horários alargados, deslocações demoradas ou
frequentes para fora da sua residência, trabalho por turnos (principalmente
nos países industrializados onde os trabalhadores têm turnos de trabalho
de 8 horas, trabalhando de noite e de madrugada),e outras limitações.
Estas acabam por reirar tempo ao trabalhador para estar com a sua
família.

52 | O trabalho nas sociedades contemporâneas


Podem, por vezes, surgir senimentos de fadiga ísica e psicológica Stress
- conhecidos por stress - ou problemas de interferência negaiva do Corresponde a um esgotamento,
exaustão ou fadiga resultante de uma
trabalho sobre a família e vice-versa. Isto tem efeitos negaivos no próprio
exposição prolongada a um trabalho
trabalhador. Mas também pode acontecer que as experiências vividas muito intenso.

pelo trabalhador no domínio, por exemplo, da família, tenham efeitos


posiivos sobre o trabalho. Quando tal acontece o trabalhador sente uma
sensação de bem-estar e de saisfação com a vida.

Aividade
Copia o seguinte quadro para o teu caderno e completa-o.

Relação entre trabalho e família

Aspetos posiivos Aspetos negaivos

Melhora a situação económica das Pode provocar stress


famílias

4.3 Políicas do Estado de apoio à família.


Em muitos países a entrada das mulheres no mercado de trabalho levou a
que, em muitas famílias, tanto o pai como a mãe se encontrem a trabalhar
fora do contexto familiar. Para muitas famílias isto traz problemas para a
conciliação entre as responsabilidades domésicas e as responsabilidades
no trabalho.
Em alguns países, esta situação levou muitos governos a deinirem políicas
Políicas de família
de apoio à família para promover uma maior igualdade entre homens e Correspondem às iniciaivas dos
mulheres. O conceito de políicas de família surge para designar as ações governos para regular e apoiar a vida
das famílias.
dos diferentes governos dirigidas às famílias.
As políicas de família correspondem, então, à legislação, às resoluções,
subsídios e programas deinidos para aingir objeivos de melhorar a vida
da pessoa ou de todo o grupo familiar. Estas políicas podem ser mais
ou menos explícitas ou implícitas. As políicas são explícitas quando são
criados órgãos, dentro do governo, responsáveis pelas questões da família
(por exemplo a direção geral ou secretaria de estado), ou quando são

O trabalho e a família | 53
criadas políicas com objeivos especíicos para a família (por exemplo dar
assistência médica às mães ou licença de maternidade ou paternidade).
As políicas são implícitas, quando as ações do governo surgem a parir
de outras políicas mais gerais que não inham como objeivo inicial a
família. Por exemplo, políicas sobre habitação ou emprego podem ter
implicações sobre a família (no caso de melhorar o saneamento básico
ou água canalizada numa região, o trabalho domésico é mais facilitado).

Para deinir políicas de família, o governo tem à sua disposição três


instrumentos principais:
1. O apoio económico – os governos podem dar apoio às famílias com
subsídios ou fazendo-as pagar menos impostos (através da chamada
políica iscal);
2. A regulação jurídica – através das leis os governos também podem
intervir na vida das famílias. (Por exemplo criando leis sobre o divórcio,
a sucessão e transmissão do património através das heranças ou sobre a
violência domésica, entre outros).
3. O apoio em serviços e equipamentos – para apoiar as famílias os
governos podem, ainda, criar creches, infantários, centros de dia e lares.

54 | O trabalho nas sociedades contemporâneas


O ipo de políicas que os governos deinem para apoiar as famílias
depende, em grande parte, das ideias dominantes em cada sociedade
sobre o que deve ser a família e o comportamento dos seus membros.
Depende, também, do nível de desenvolvimento socioeconómico do país
e das suas tradições de proteção social dos seus cidadãos.
Em Timor-Leste, ao contrário do que acontece em muitos países, não
está deinida pela lei uma idade mínima para o casamento. A taxa de
ferilidade é das mais elevadas do mundo. De acordo com o inquérito
demográico e de saúde, realizado em 2009-2010, em Timor-Leste cada
mulher tem, em média, 5.7 ilhos. No entanto, existem diferenças entre
as regiões urbanas e rurais. Nas cidades as mulheres têm menos ilhos
do que noutras regiões. O distrito onde nascem mais crianças é Ainaro.
Os níveis de ferilidade também não são iguais para as mulheres com
diferentes níveis de educação. As mulheres que não foram à escola têm
mais ilhos do que as que andaram durante muitos anos a estudar. Uma
grande parte dos partos (78%) é feita em casa sem assistência médica
(apenas com o apoio de familiares ou vizinhas). Esta é uma das causas
importantes da taxa muito elevada de mortalidade nas mães e nos recém-
-nascidos. Em Timor-Leste em cada dezasseis crianças que nascem há uma
que morre antes dos cinco anos.

A família tem sido uma preocupação das políicas desenvolvidas em Timor-Leste.

O trabalho e a família | 55
Desde a sua fundação que os governos de Timor-Leste iveram uma grande
preocupação com a família na deinição das leis do país. A consituição
de Timor-Leste, para além de assegurar a igualdade entre homens e
mulheres, garante a proteção de todas as crianças (nascidas dentro ou
fora do matrimónio) contra todas as formas de abandono, discriminação,
violência, opressão, abuso sexual e exploração. O Arigo 39.º regula, em
especial, a família, o casamento e a maternidade. Neste arigo airma-se
que:
1. O Estado protege a família como célula base da sociedade e condição
para o harmonioso desenvolvimento da pessoa.
2. Todos têm direito a consituir e a viver em família.
3. O casamento assenta no livre consenimento das partes e na plena
igualdade de direitos entre os cônjuges, nos termos da lei.
4. A maternidade é digniicada e protegida, assegurando-se a todas as
mulheres proteção especial durante a gravidez e após o parto e às mulheres
trabalhadoras direito a dispensa de trabalho por período adequado,
antes e depois do parto, sem perda de retribuição e de quaisquer outras
regalias, nos termos da lei.
É, no entanto, o código civil de Timor-Leste (Lei 10/2011) que regula a
insituição familiar.
Em Timor-Leste, em 2010, foi criada uma lei importante para o apoio à
família. A lei 7/2010 proíbe todas as formas de violência na família. Esta
lei considera a família como a unidade social e cultural fundamental de
Timor-Leste. De acordo com o inquérito demográico e de saúde, em
2009-2010, 50% das mulheres airmaram ter sido víimas de violência
ísica ou sexual. Um terço das mulheres (38%) inha sido víima de
violência domésica desde os 15 anos. Ainda 74% das mulheres casadas
airmam que foram víimas de violência por parte do seu marido ou
companheiro. Há, também uma percentagem considerável que airma ter
sido víima de violência por parte da sua mãe ou madrasta (34%), do seu
pai ou padrasto (26%), do seu irmão ou irmãos (11%) e de outros parentes
(6%). É importante referir que a violência domésica não resulta sempre
de agressão do marido sobre a esposa. Em 2009-2010 6% das mulheres
airmaram ter exercido violência sobre o seu marido.
Existem, ainda, outras medidas legais que não foram tomadas a pensar
na família, mas que têm efeitos sobre ela. Um exemplo é a criação, pelo
Ministério da Solidariedade Social, de um sistema de “Bolsas da Mãe”.
Estas devem permiir que mães solteiras, viúvas e de famílias pobres

56 | O trabalho nas sociedades contemporâneas


possam dar apoio mínimo aos seus ilhos e aumentar o número de
matrículas na escola. Outro exemplo é o projeto do Ministério da Saúde
para o planeamento familiar e os cuidados de saúde maternal e da criança,
iniciado em 2002. Com base neste projeto foram distribuídos métodos
contraceivos pelas famílias nos diversos distritos.

Aividade
Pergunta, em casa, aos elementos mais velhos da tua família, quantas
pessoas viviam na mesma casa quando eram jovens, com que idade
casaram e o que faziam a sua mãe e o seu pai no dia-a-dia. Compara
as respostas com o que se passa em tua casa hoje.
Responde, no teu caderno, às seguintes questões:
1. O que mudou em relação ao que se passava antes e agora?
2. Na tua opinião, o que deveria ser mudado na actualidade na forma
como a família está organizada?

O trabalho e a família | 57
RESUMO
A família é um núcleo muito importante para a vida da sociedade.
Na Sociologia da Família há duas perspeivas teóricas dominantes: o
estruturo-funcionalismo e o Interacionismo. O estruturo-funcionalismo
procura explicar os aspetos da família em termos das suas funções e
consequências para a sociedade e para o funcionamento de todo o sistema
social. O interacionismo analisa os processos de interação (relação entre
duas ou mais pessoas) que surgem entre as pessoas na família.
É na família que se desenvolve o trabalho domésico. Este trabalho diz
respeito às tarefas realizadas no espaço da casa para o bem-estar e
sobrevivência da família. No seio da família há uma divisão das tarefas
domésicas de acordo com o género. Para além do trabalho domésico
existe, também, o trabalho que é desenvolvido no contexto formal e
informal da economia.
A paricipação no mercado de trabalho traz alguns aspetos posiivos e
outros menos. A realização de trabalho pago, fora do contexto familiar,
permite às famílias aumentar o seu capital económico e social. Isto
é, aumenta os rendimentos e as relações que se estabelecem com
outras pessoas. O emprego ajuda a aumentar a autoesima, a deinir a
idenidade do ser humano e a determinar o lugar de cada um na estrutura
social de classes. No entanto, a paricipação no mercado de trabalho
também pode ter efeitos negaivos. O trabalho traz muitas exigências
e responsabilidades. Por outro lado, as pessoas quase nunca têm total
autonomia para realizar as suas tarefas. O trabalho, sobretudo quando é
em excesso, também pode ter efeitos negaivos no bem-estar da pessoa e
da família. Quando o trabalho é excessivo provoca desmoivação podendo
até surgir senimentos de stress.
Devido aos problemas que podem surgir na relação entre o trabalho e
a família alguns governos têm desenvolvido políicas de apoio à família.
Estas políicas correspondem à legislação, às resoluções, subsídios e
programas deinidos para aingir objeivos de melhorar a vida da pessoa
ou de todo o grupo familiar. As políicas de apoio à família podem ser
explícitas - quando são criados órgãos ou políicas, dentro do governo,
com objeivos especíicos para a família - ou implícitas - quando as ações
do governo surgem a parir de outras políicas mais gerais que não inham
como objeivo inicial a família. Os governos usam três instrumentos para
deinir políicas de apoio à família: o apoio económico, a regulação jurídica
e o apoio em serviços e equipamentos.
As políicas de apoio à família têm sido uma preocupação dos diversos
governos de Timor-Leste desde a independência do país.

58 | O trabalho nas sociedades contemporâneas


EXERCÍCIOS

A - Responde ao conjunto de questões em baixo. Em cada grupo de


questões, há apenas uma opção correta. Copia o exercício para o teu
caderno e marca as opções certas com um X.

1. O trabalho domésico corresponde:


a) ao trabalho pago desenvolvido na economia formal.
b) ao trabalho pago desenvolvido na economia informal.
c)às tarefas realizadas no espaço da casa para o bem estar e sobrevivência
da família.

2. Um dos aspetos posiivos da paricipação no mercado de trabalho é:


a) o aumento da carga de trabalho.
b) o aumento das exigências e responsabilidades
c) a melhoria das condições de vida das populações.

3. Um dos aspetos negaivos da paricipação no mercado de trabalho é:


a) o aumento do stress.
b) o aumento do capital social.
c) o aumento do capital económico.

4. As políicas de apoio à família são:


a) desenvolvidas pelos familiares e amigos.
b) para impedir a destruição da família.
c) políicas desenvolvidas pelos governos para ajudar as famílias.

5. Quando as ações do governo não têm como objeivo principal a família


mas têm efeitos sobre ela diz-se que se trata:
a) de políicas explícitas de apoio à família.
b) de políicas implícitas de apoio à família.
c) da ausência de políicas.

6. Um exemplo de uma lei explicita de apoio à família em Timor-Leste é a


a) Código do Trabalho
b) Lei 7/2010 - Violência Domésica
c) Decreto-Lei 9/2009-Lei Orgânica da PNTL.

O trabalho e a família | 59
UNIDADE TEMÁTICA 2

2 Educação e formação
1 Educação e igualdade de oportunidades
2 Diferentes formas de organização do
sistema escolar
3 Educação, conhecimento e
desenvolvimento pessoal e social
4 Educação, economia e sociedade do
conhecimento

OBJETIVOS
No inal desta unidade temáica o aluno deve ser capaz de:
• Reconhecer o papel da educação escolar na mobilidade,
estraiicação e bem-estar social, bem como na socialização e
desenvolvimento dos seres humanos.
• Conhecer as principais ideias das teorias sociológicas sobre a
relação entre a educação escolar e as desigualdades sociais.
• Reconhecer o papel da escola na organização e funcionamento das
sociedades.
• Reconhecer a importância da educação e formação de adultos para
o desenvolvimento das sociedades.
• Ideniicar diferentes formas de organização dos sistemas
educaivos.
• Disinguir o saber cieníico dos saberes tradicionais e conhecer
a importância dos saberes e conhecimentos locais para o
desenvolvimento de Timor-Leste.
• Avaliar o contributo das novas tecnologias da informação e da
comunicação para a educação escolar.
Unidade Temática 2 | Educação e formação

1 Educação e igualdade de oportunidades

1.1 Perspeivas sobre a educação, a mobilidade social e as


desigualdades
Há medida que as sociedades vão desenvolvendo os seus sistemas
de produção (agricultura, indústria e serviços), os postos de trabalho
criados vão sendo cada vez mais complexos. Ao mesmo tempo, para a
realização das diferentes tarefas proissionais, são necessárias pessoas
mais escolarizadas e com mais competências. Quer isto dizer que são
necessárias pessoas com mais conhecimentos.
São, por isso, habitualmente, as pessoas com mais qualiicações escolares
as que recebem os melhores salários e têm as melhores condições de
trabalho e de vida.
Por outro lado, são as sociedades com pessoas mais qualiicadas as
que têm mais possibilidades de se desenvolverem do ponto de vista
económico. Isto signiica que a melhoria da educação da população tem
inluência sobre o crescimento económico.
Mas a importância da educação não está apenas nas questões económicas.
O aumento das A educação também é importante para promover a cidadania. A melhoria
qualiicações da população
é importante para esimular na educação permite que as pessoas possam tomar decisões mais
o desenvolvimento
informadas.
económico.
Em geral, nas sociedades economicamente mais desenvolvidas, é a
proissão que situa a pessoa na estrutura social e não apenas a origem
socioeconómica da família onde nasceu. Isto signiica que uma pessoa,
nascida numa família ligada às classes sociais economicamente menos
favorecidas, pode, caso tenha possibilidade de ir mais longe nos estudos,
vir a conseguir um emprego bem remunerado. Deste modo, passa a ter
melhores condições económicas do que inha a sua família de origem.
Assim, para além do enriquecimento pessoal, a educação é fundamental
para promover a mobilidade social e diminuir as desigualdades sociais.
A promoção da igualdade de oportunidades é fundamental para o
desenvolvimento da democracia. Desde cedo, nos países economicamente
mais desenvolvidos do Ocidente, diversos estudiosos chamaram a atenção
Igualdade de oportunidades para a importância da escola e da educação formal na promoção da
Criação de contextos que permitam igualdade de oportunidades. Esta pode ser deinida como a criação de
a todos, independentemente da sua
condição social e económica, ter condições que permitam a todos, independentemente da sua origem
acesso às mesmas condições de vida.
social e económica, ter acesso às mesmas condições de vida.

62
A educação é de tal modo importante que dos oito objeivos deinidos
pela Organização das Nações Unidas (ONU) para o Milénio se estabelece,
em segundo lugar, a educação básica de qualidade para todos.
Em praicamente todos os países, até um determinado nível de
A UNESCO (United Naions
escolaridade, o ensino é gratuito e a sua frequência obrigatória. Existem, Educaional, Scieniic, Cultural
no entanto, algumas diferenças em relação ao número de anos de Organizaion) é a Organização
das Nações Unidas para a
escolarização assegurada pelo Estado. Muitos países reconhecem o educação, ciência e cultura.
Foi criada em 1945 e o seu
direito à educação na sua Consituição e assinaram acordos internacionais objeivo é contribuir para
no senido de o promover. É o caso de Timor-Leste. a paz e desenvolvimento
humano no mundo.
A educação, ao nível primário, é obrigatória em praicamente todos os
países do mundo, mas ela não é universal. Há muitas crianças que não
têm a possibilidade de frequentar a escola. Um relatório da UNESCO
(Global Educaion Digest), de 2012, sobre o estado da educação, refere
que 61 milhões de crianças, em todo o mundo, não têm possibilidade
de entrar na escola primária. Apesar de ainda exisir um número muito
elevado de crianças fora da escola, é importante saber que este número
não tem aumentado nos úlimos anos.
No mesmo relatório, a UNESCO esima que, das crianças que não estão
na escola primária, neste momento, em todo o mundo, 47% nunca
terão a possibilidade de a vir a frequentar na sua vida. Uma das razões
para as crianças não irem à escola está relacionada com o facto de
muitas trabalharem. Em Timor-Leste, em termos legais, há limitações
para o trabalho infanil antes dos quinze anos. No entanto, um estudo,
desenvolvido pela Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento
Internacional, refere que, em 2008, 85% das crianças imorenses, com
idade entre 10 e 14 anos, estava a trabalhar, 91% delas na agricultura.
Mas a frequência da escola não signiica, necessariamente, que as crianças O trabalho infanil é uma das razões de
abandono escolar que é um problema
tenham sucesso. Em todo o mundo, 32 milhões de crianças repetem grave para a promoção da educação de
pelo menos um ano na escola primária. Mais grave ainda é o facto de 32 um país

milhões abandonarem completamente a escola e nunca mais voltarem.


Esta tendência para as crianças deixarem a escola é chamada de abandono
escolar. Existe uma fórmula uilizada para o calcular. A taxa de abandono Taxa de abandono
refere-se ao número de alunos que abandonam a escola relaivamente Número de alunos que abandonam a
ao número total de alunos que a frequentam. O abandono escolar é um escola relaivamente ao número total
de alunos que a frequentam.
fenómeno muito estudado pela Sociologia da Educação.
A Sociologia da Educação é um ramo recente da Sociologia que procura
Sociologia da Educação
estudar a importância da escola e do conhecimento na sociedade. O seu
Ramo recente da Sociologia que
tema central de estudo é a relação entre a sociedade e a educação. Mas, procura estudar a importância
da escola e do conhecimento na
também, estuda o modo como a educação desenvolve, nas pessoas, formas sociedade.
de pensar, agir e senir, assim como os efeitos deste desenvolvimento nos
diferentes grupos sociais.

Educação e igualdade de oportunidades | 63


Aividade
Na tabela seguinte podes ver a taxa de abandono escolar dos alunos e alunas
no ensino primário em Timor-Leste.
Distrito Alunos Alunas Total
Aileu 6,1 5,1 5,6
Ainaro 9,6 8,6 9,1
Baucau 4,6 3,9 4,3
Bobonaro 6,3 6,2 6,3
Cova Lima 5,9 4,5 5,2
Díli 2,4 2,0 2,2
Ermera 8,7 7,3 8,0
Lautem 2,6 2,2 2,4
Liquiçá 8,8 7,3 8,1
Manatuto 5,3 4,1 4,8
Manufahi 7,6 5,9 6,8
Oecusse 8,0 6,8 7,4
Viqueque 8,1 7,3 7,7
Nacional 6,2 5,3 5,7
Fonte: Sistema de Informação para Gestão da Educação (2008/09)

No teu caderno, responde às seguintes questões:


1. Porque é importante que as crianças não abandonem a escola?
2. Na tua opinião, o governo deveria fazer alguma coisa para que as crianças
não deixem a escola?

1.1.1 A diferença provocada pela escola


A escola é uma insituição fundamental nas sociedades contemporâneas.
Todos os que estão fora dela têm mais diiculdades de adaptação. O
abandono escolar funciona como a primeira etapa na exclusão social.
A noção de que a escola pode ajudar a eliminar a exclusão social está
associada à ideia de igualdade de oportunidades. Todas as pessoas,
independentemente da sua condição, podem vir a ter sucesso na escola e
na vida proissional.
Nesta perspeiva, há uma visão da escola muito posiiva. É como se as
desigualdades esivessem fora da escola e não exisisse a possibilidade
de elas inluenciarem o seu funcionamento. Na escola procura-se
promover uma educação que não tenha em linha de conta determinadas
caracterísicas do aluno (como a idade, o sexo ou as condições económicas,
A escola é importante para eliminar a
exclusão sociais e culturais), para além das suas capacidades intelectuais.

64 | Educação e formação
Esta visão ‘idealista’ da escola deixou de exisir quando se começaram a
desenvolver os primeiros estudos sobre as causas do abandono e insucesso
escolar. Os autores que reletem sobre estas questões chegam à conclusão
que a própria escola contribui para a exclusão e as desigualdades sociais.

1.1.2 Os déices socioculturais: Bernstein e os códigos linguísicos


Apesar dos diferentes estados, como vimos, terem vindo a deinir políicas
educaivas para escolarizar as suas populações, há, ainda, muitas crianças
que não vão à escola. Outras abandonam a escola mais cedo do que o
número de anos de escolaridade obrigatória. Para explicar esta diiculdade
em atrair ou manter as crianças na escola foram surgindo algumas teorias.
Alguns sociólogos (e outros estudiosos nas Ciências Sociais) chamam a
atenção para o fato de a escola não estar fora da própria sociedade. A
forma como a sociedade está organizada inluencia o funcionamento da
escola. Tal é o caso, por exemplo, da maneira como as crianças e os jovens,
ao longo da sua escolarização, se relacionam com a escola e com o que
nela é ensinado, o insucesso escolar, etc..
Para alguns autores a frequência da escola e o sucesso escolar das
crianças e jovens está dependente da sociedade e, mais especiicamente,
da origem sociocultural da família a que se pertence. Um dos autores
que mais chamou a atenção para a importância da inluência do contexto
social mais geral sobre a escola foi um sociólogo inglês chamado Basil
Basil Bernard Bernstein (1925-2000)
Bernard Bernstein.
Sociólogo inglês que desenvolveu vários
Bernstein tornou-se conhecido porque defendeu que a forma como as estudos sobre a inluência da sociedade
na escola.
crianças são socializadas, nas diferentes classes sociais, inluencia o valor
que dão à escola e até o seu desempenho escolar.
Ao estudar a forma como as pessoas comunicam descobriu que as
diferentes classes usam diferentes ipos de linguagem. Estas diferenças
são importantes no rendimento escolar dos alunos.
Nas famílias de classes sociais economicamente mais desfavorecidas a
A linguagem uilizada nas
linguagem uilizada e a maneira de falar e dialogar são mais simples. Por famílias, pelas diferentes
classes sociais, não é igual.
exemplo, os pais exigem que as crianças obedeçam às suas ordens, sem
lhes explicarem as razões. A criança tem de aprender claramente o que
pode fazer ou não, sem que perceba as razões dessas regras.
Nas famílias de classes sociais mais favorecidas a linguagem uilizada e
a maneira de falar e dialogar são mais complexas. Por exemplo, quando
os pais pedem às crianças para obedecerem a uma ordem explicam-lhes,
com mais tempo e pormenores, a razão pela qual têm de obedecer. Nestas

Educação e igualdade de oportunidades | 65


famílias usa-se mais uma linguagem desenvolvida para tornar claro os
porquês de certas regras e de certas proibições.
Este sociólogo viu, assim, que as crianças das classes sociais
economicamente mais desfavorecidas, ao ouvirem a linguagem e a
maneira de falar das outras classes sociais, precisam de as traduzir para
uma linguagem mais simples, que é a sua. Podem, assim, compreender
melhor os assuntos que são discuidos.
A linguagem mais uilizada nas escolas está mais próxima da linguagem
usada pelas famílias das classes economicamente mais favorecidas para
comunicarem com os seus ilhos. É mais complexa e diícil, o que traz mais
diiculdades para as crianças das famílias das classes economicamente
A linguagem que as famílias usam não é
a mesma em todas as classes sociais mais desfavorecidas. Quando estas crianças não conseguem compreender
totalmente esta linguagem da escola, podem senir-se mais desorientadas.
Com a descoberta deste sociólogo foi possível veriicar que as crianças
chegam à escola com linguagens e maneiras de falar e comunicar
diferentes. Esta situação mostra, igualmente, que há formas diferentes de
A escola uiliza a linguagem
formal e elaborada das classes compreender e de lidar com a realidade. Mas, como na escola se usa uma
mais favorecidas.
linguagem mais diícil e uma forma de falar mais complexa, as crianças
dos meios economicamente mais desfavorecidos estão em situação de
desigualdade. Para conseguirem ter sucesso nas aprendizagens, estas
crianças têm de aprender um novo ipo de linguagem para estudar as
matérias, assim como uma nova maneira de falar com os professores.
Mas, ao aprenderem isto, surgem diferenças em relação à linguagem e
formas de comunicar no seu ambiente familiar.
Têm, assim, de aprender a lidar com as duas linguagens e formas de
comunicar conforme a situação – escola ou família. Desta forma, é exigido
a estas crianças um esforço maior nas aprendizagens escolares. Por esta
razão, muitas acabam por desisir.
Ao uilizar uma linguagem mais diícil e complexa, a escola contribui para
a manutenção das desigualdades sociais, através do insucesso escolar das
populações das classes sociais economicamente mais desfavorecidas.
Em Timor-Leste, este problema é ainda mais diícil de resolver, dado que
Em Timor-Leste, a questão
da linguagem é ainda mais a escolarização é feita em duas línguas oiciais – o tétum e o português.
complexa dada a existência
de várias línguas e dialetos.
Nas famílias imorenses, economicamente mais favorecidas, a maneira de
falar e de comunicar numa ou nas duas línguas consitui uma vantagem
escolar para os seus ilhos, em comparação com os alunos que vêm de
famílias com origem mais desfavorecida.
Desta forma, a escola, no desenvolvimento das suas aividades de ensino
e de aprendizagem, deve ter em conta esta realidade, valorizando, de
igual modo, a linguagem e a maneira de falar e comunicar das famílias e

66 | Educação e formação
das comunidades com diferentes origens sociais e culturais. Esta análise
em relação à linguagem também é verdadeira para outras questões. Por
exemplo, o que se ensina e aprende na escola está mais relacionado com
a maneira de viver e a situação proissional das classes economicamente
mais favorecidas do que com as outras classes. Deste modo, a escola
deve também respeitar e valorizar, por igual, as experiências familiares e
comunitárias das crianças e dos jovens.
Em Timor-Leste, a questão da linguagem
é ainda mais complexa dada a existência
de várias linguas e dialetos.
Aividade
Podemos dizer que quando um professor fala numa sala de aula nem todos
os alunos o compreendem da mesma forma.

Responde, às seguintes questões, no teu caderno:


1. Concordas com a airmação anterior?
2. De acordo com Bernstein, o que pode levar uns alunos a compreender
melhor do que outros o que os professores dizem?

1.1.3 O capital cultural e a sua transformação em desigualdades


sociais (Bourdieu)
O contributo das teorias da Sociologia da Educação foi muito importante
para se poder compreender a razão pela qual as crianças e os jovens
gostam mais ou gostam menos da escola. Também permite compreender
que o facto de terem melhores ou piores notas não depende apenas do
seu esforço ou da sua inteligência.
O desenvolvimento destas teorias foi muito importante em França, depois
dos anos de 1960, devido aos estudos de Pierre Bourdieu e de outros
sociólogos dessa altura.
Pierre Bourdieu foi um sociólogo francês (nasceu em 1930 e morreu em
2002) que chamou a atenção para os mecanismos que, no interior da
própria escola, transformam as desigualdades sociais em desigualdades
escolares.
É muito frequente as crianças e os jovens das classes economicamente
mais favorecidas terem melhores notas na escola. Esta diferença não
se veriica pelo facto destas crianças e jovens terem mais capacidades
intelectuais, ou terem mais dinheiro. Mas antes pelo fenómeno a que
Bourdieu chama ‘herança cultural’ de classe.

Educação e igualdade de oportunidades | 67


Capital económico Na análise das sociedades, Bourdieu faz uma disinção importante entre
Traduz a existência de diferentes capital económico e capital cultural e social. O conceito de capital surgiu
fatores de produção (terra, fábricas na economia em referência ao capital económico. Este conceito procurava
e trabalho) e de bens económicos
(dinheiro, património e bens designar a existência de diferentes fatores de produção (terra, fábricas e
materiais). trabalho) e de bens económicos (dinheiro, património e bens materiais).
As pessoas e grupos procuram desenvolver estratégias para juntar
(acumular), aumentar e manter (reproduzir) o seu capital económico e ter
melhores condições de vida.
Mas, este sociólogo criou outras perspeivas do conceito de capital. O
uso apenas do conceito de capital económico, aplicado às famílias e ao
seu grupo social de origem, não era suiciente para explicar totalmente a
ligação entre nível socioeconómico dos alunos e os resultados escolares.
É esta razão que levou Bourdieu a criar outros conceitos de capital para
compreender melhor estas diferenças. Surgem, assim, os conceitos de
capital social e de capital cultural.
O conceito de capital social surgiu para explicar a forma como as pessoas,
Capital social
fazendo parte de determinadas redes de relações sociais estáveis, podem
Explica a forma como os indivíduos
inseridos em redes de relações sociais beneiciar destas relações para melhorar a sua situação. Os elementos
estáveis podem beneiciar das suas
da família estabelecem relações com outros elementos de outras famílias
relações.
que podem ajudar em diversas situações, trazendo beneícios económicos
ou outros.
Ligado ao capital social existe também, para Bourdieu, o capital cultural.
Capital cultural
Este conceito refere-se ao conjunto de recursos, competências e
Conjunto de recursos, competências e
apetências disponíveis e mobilizáveis moivações que as pessoas e as famílias têm para a cultura letrada. O
em matéria de cultura.
capital cultural pode exisir de duas formas: o que já existe na pessoa,
fruto da sua educação na família, que é designado por capital incorporado;
e aquele que é o resultado de provas, diplomas e ítulos escolares que as
pessoas vão adquirindo - o capital objeivado. Diz-se que o capital cultural
é um capital porque, tal como o capital económico, pode ser acumulado
pelas famílias e transmiido aos ilhos.
Para Bourdieu, a educação escolar, é uma das formas de acumular capital
cultural. A educação escolar é um recurso e uma vantagem tão úil como
o capital económico para as pessoas conquistarem ou manterem a sua
posição na sociedade. A este fenómeno Bourdieu chama a determinação
e reprodução das posições sociais.
O capital cultural das diferentes famílias não é valorizado da mesma forma
pela sociedade. A escola, ao dar mais importância ao modelo dominante
A escola é importante não só para
desenvolver o capital cultural, mas
de sociedade, também valoriza mais a cultura das classes economicamente
também o capital social mais favorecidas e letradas.
Assim, os alunos destas classes já têm na sua família hábitos, gostos e
aitudes que estão mais próximos e são mais valorizados pela escola. Por
exemplo, nas classes economicamente mais favorecidas e letradas há mais

68 | Educação e formação
o hábito de ler o jornal, livros e revistas em comparação com as famílias
das outras classes.
Para algumas crianças e jovens, a cultura da escola está, assim, mais
próxima da cultura das suas famílias. O processo de socialização primária,
desenvolvido na família, ajuda a que estas crianças e jovens se adaptem
melhor e gostem mais da escola. Para outras crianças e jovens, a entrada
e frequência da escola representa uma forma diferente de aculturação em
relação a um novo meio social e cultural. Quer dizer, alguns alunos têm
de fazer um esforço maior para se adaptarem e interiorizarem uma nova
cultura, diferente da que lhes foi transmiida pelas suas famílias.
Estes estudos são importantes porque mostram que não são apenas as
diferenças económicas, ou as políicas educaivas do Estado, que explicam
a forma diferente como as crianças e os jovens paricipam na escola. O Para algumas crianças, a cultura da
próprio sistema educaivo e escolar também contribui para reproduzir as escola está mais afastada da cultura das
suas famílias
desigualdades que existem na sociedade.

Aividade
Responde às seguintes questões, no teu caderno:
1. Que outros capitais existem para além do económico?
2. O capital cultural é importante para a educação? Jusiica a tua reposta.
3. O que pode a escola fazer para eliminar as desigualdades entre os alunos?

1.2 Escola, insituições escolares e sociedade


A escola é uma insituição onde se passa a infância e grande parte da
juventude, numa preparação, mais ou menos intensa, para a entrada na
vida adulta.

A escola é o local onde se passa grande parte da infância e juventude

Educação e igualdade de oportunidades | 69


A escola desenvolve várias funções sociais. Do que foi dito antes podemos
destacar como principais funções:

A escola contribui para a interiorização de valores, para a aprendizagem


de normas que deinem comportamentos, cujo objeivo é a integração das
pessoas na sociedade. Mas, era também é importante para dar aos alunos
conhecimentos especíicos e saberes práicos com vista à sua integração
no mercado de trabalho.
Dadas as funções da escola, e o papel que esta pode ter na diminuição das
desigualdades, é muito importante que estabeleça ligações com outras
insituições sociais. A primeira ligação que a escola deve promover é com
a família. Esta ligação permite à escola compreender melhor o ambiente
familiar e social de cada criança e jovem. Pode, assim, adaptar melhor os
conhecimentos e práicas educaivas às diferentes realidades sociais e
culturais dos seus alunos e alunas. Este esforço pode ajudar a que menos
crianças e jovens desistam da escola. Deste modo, é importante, também,
que a escola promova ligações com as insituições do Estado e com as
organizações públicas e privadas onde os alunos poderão vir a exercer as
suas proissões.

Aividade
Responde às seguintes questões, no teu caderno:
1. Quais são as principais funções da escola?
2. Com que insituições deve a escola tentar relacionar-se?

70 | Educação e formação
RESUMO

A melhoria das qualiicações das populações é importante para promover


o desenvolvimento económico e social de qualquer país. A educação
permite a mobilidade social e diminuir as desigualdades sociais.
Apesar do reconhecimento da importância da educação, e do
desenvolvimento de políicas educaivas, no senido de promover a
escolarização, existem ainda muitas crianças que não podem frequentar
a escola e outras que a abandonam. O abandono escolar é um problema
grave e, por isso, tem sido muito estudado pela Sociologia da Educação.
Para alguns autores, como Bernard Bernstein e Pierre Bourdieu, a
inserção e o sucesso escolar dos alunos está dependente da sociedade e,
mais especiicamente, da família a que pertencem. Bernstein descobriu
que a linguagem uilizada pelas famílias, com diferentes situações
socioeconómicas, não é a mesma. A linguagem que a escola mais uiliza e
valoriza é a usada pelas classes mais privilegiadas. Os alunos das famílias
que usam outra linguagem têm mais diiculdade em se adaptar à escola e
têm de fazer um esforço maior para ter sucesso.
Pierre Bourdieu defendeu a existência de três ipos de capital: económico,
social e cultural. Os seus estudos mostram que não é apenas por terem
capital económico que os alunos das famílias mais favorecidas têm
melhores resultados. Também o capital social e cultural permite as
diferenças no desempenho escolar. Os alunos das classes mais favorecidas
possuem um capital cultural mais próximo do que é transmiido pela
escola, enquanto os outros têm de fazer um esforço maior.
A escola é uma insituição fundamental nas sociedades atuais. Desempenha
três funções principais: socialização, qualiicação e reprodução social.

Educação e igualdade de oportunidades | 71


EXERCÍCIOS

Copia as frases seguintes para o teu caderno e escolhe a única opção


correta:
1. A melhoria das qualiicações da população é importante porque:
a) Se afasta de um dos Objeivos de Desenvolvimento do Milénio.
b) Não permite melhores empregos.
c) Promove o desenvolvimento económico e social do país.

2. A teoria de Bernstein mostra que a linguagem usada pelas famílias com


mais diiculdades económicas é:
a) Igual à das restantes famílias.
b) Simples e pouco elaborada.
c) Formal e elaborada.

3. Para Bourdieu o capital social:


a) Traduz a forma como as pessoas podem beneiciar da sua posição social
e das suas relações de amizade.
b) Traduz os bens materiais que as famílias possuem.
c) Traduz os bens culturais da família.

4. O capital cultural do aluno é importante porque:


a) Ajuda a compreender o maior ou menor sucesso dos alunos.
b) Não é importante para a escola.
c) Só se aprende na escola.

5. As três funções da escola são:


a) Ensinar a ler, escrever e contar.
b) Socialização, qualiicação e reprodução social.
c) Integração, igualdade de oportunidades e desenvolvimento social.

72 | Educação e formação
2 Diferentes formas de organização do sistema escolar

2.1 A expansão da escola nas sociedades


A escola antes da sua expansão
A escola é uma insituição muito aniga. Há mais de dois mil anos, antes do
nascimento de Cristo, numa região chamada Mesopotâmia (onde hoje está
situado o Iraque), exisiam algumas escolas que preparavam as pessoas
para exercer funções na administração dos impérios, como escribas. Na
Grécia Aniga, alguns rapazes eram ensinados, não apenas a ler e escrever,
mas, também, na ilosoia, na retórica (a maneira de conversar, debater
e fazer discursos) e no exercício ísico. Na Roma Aniga, os rapazes das
famílias mais ricas também iam à escola. No mundo Islâmico, no século
No mundo anigo, a escola
VII depois de Cristo, surgiram também escolas, designadas por Madraças, era frequentada por um
número muito pequeno de
onde se ensinava a ler, escrever e a recitar o Alcorão (livro sagrado do Islão). alunos, a que chamamos
No mundo cristão, principalmente a parir do século IX depois de Cristo, uma elite.

foram criadas, igualmente, várias escolas junto de mosteiros, conventos e


abadias. O objeivo destas escolas era ensinar várias disciplinas aos jovens,
muitos deles futuros clérigos (religiosos), como, por exemplo, a escrita, a
leitura, a gramáica, a aritméica, a geometria, a astronomia e a música.
Nestas épocas anigas, em qualquer destas civilizações, a escola só era
acessível a um número muito reduzido de alunos. Era uma pequena
elite (uma pequena minoria), preparada, apenas, para realizar tarefas
administraivas e religiosas. Os textos, escritos à mão, por frades, eram
muito poucos e poucas pessoas os podiam ler. Só depois da invenção da
imprensa escrita (impressão mecânica dos textos em ipograias), em
1454, por Johannes Gutenberg, é que os textos passaram a ser mais
numerosos, podendo, então, ser lidos por mais pessoas.
Com a possibilidade de se imprimir os textos em papel, a educação escolar
tornou-se mais fácil. Em países da Europa, como a Holanda e a Alemanha,
por exemplo, foram criadas escolas para jovens, homens e mulheres.
Aprender a ler era considerado importante para a leitura da Bíblia. Johannes Gutenberg (1398-1468)
Mas, esta educação coninuou, mesmo assim, a consituir um privilégio Gráico alemão que inventou a
impressão mecânica em papel.
apenas reservado a uma minoria (elite) de alunos. Não exisiam sistemas
educaivos organizados e controlados pelo Estado, como os conhecemos,
na atualidade, em todos os países do mundo.
Havia a ideia, também, nessas épocas, que aprender a ler, a escrever e a
contar não era úil para a vida do dia-a-dia das comunidades. Mais
importante era antes aprender os conhecimentos técnicos usados no
trabalho domésico, no culivo da terra e no fabrico de produtos artesanais.
Os mais velhos inham um papel muito importante na transmissão aos

Diferentes formas de organização do sistema escolar | 73


mais novos destes conhecimentos. As crianças começavam, desde muito
cedo, a aprender a realizar as tarefas necessárias para ajudar à subsistência
da sua família e da sua comunidade. Quando chegavam ao início da
juventude, já conheciam bem as técnicas para culivar a terra ou produzir
outros bens. Alguns aprendiam oícios mais especializados, ligados ao
fabrico de ferramentas em madeira e ferro, de objetos domésicos e à
construção de casas (em madeira ou pedra).

Aividade
Copia para o teu caderno e escolhe a opção correta:
1. A escola é:
a) Recente.
b) Familiar.
c) Aniga.

2. A escola era:
a) Frequentada por muita gente.
b) Desinada apenas a mulheres.
c) Frequenta por uma elite.

2.1.1 Massiicação e democraização

O início da massiicação e da democraização da escola


A educação escolar (ou a escola), para cumprir os seus objeivos, está
organizada em fases, que se seguem umas às outras, desde a educação
pré-primária e o ensino primário até ao ensino secundário e superior.
Até ao im do século XIX, em grande parte dos países ocidentais, que inham
iniciado a sua industrialização, a maioria das populações era excluída da
ida à escola. Esta exclusão acontecia ao nível do ensino primário e, em
muito maior quanidade, nos outros níveis de ensino (ensino secundário
e ensino superior). Porém, a entrada de uma maior quanidade de jovens
no ensino de grau médio (várias fases do ensino secundário) e ensino
superior só começou a acontecer, em geral, a parir dos anos de 1950.
Primeiro, isto aconteceu nos países economicamente mais desenvolvidos
e, depois, no resto dos países, a nível mundial. Podemos usar duas noções
Massiicação
para caracterizar este aumento: a massiicação e a democraização.
Grande aumento de entrada na escola
de crianças e jovens de todas as Quando se usa a noção de massiicação, estamos a falar da entrada na
classes sociais.
escola de um grande número de alunos das diferentes classes ou grupos

74 | Educação e formação
sociais. A democraização, por sua vez, é uma noção que está ligada à ideia Democraização
de que um maior número de alunos das classes sociais economicamente Grande aumento da frequência
desfavorecidas passou a frequentar e a concluir estes níveis de ensino. da escola por alunos de todas as
classes sociais economicamente mais
Em geral, até ao período que vimos atrás, a maioria dos alunos destas desfavorecidas.
classes sociais era excluída do ensino secundário mais avançado e do
ensino superior.

A massiicação levou à escola muitos jovens imorenses, como na Escola Secundária em Ailéu

Aividade
Através de um pequeno inquérito, faz um estudo sobre a escolarização dos
membros da tua família e outras pessoas próximas. Podes usar as perguntas
que estão no quadro a seguir. Em casa, aponta as respostas no teu caderno.
Podes acrescentar outras que consideres importantes para conhecer melhor
a história escolar da tua família.

Exemplo de perguntas
Frequentou a escola?
A) Se a resposta for sim, podes colocar as seguintes questões:
A.1. Até que ano frequentou a escola?
A.2. Havia muitos alunos a frequentar a sua escola?
A.3. Fez a sua escola em língua portuguesa, bahasa, inglesa ou outra? Qual?
A.4. Considera que foi importante frequentar a escola?
B) Se a resposta for não, podes colocar as seguintes questões:
B.1. Gostava de ter ido à escola? Porquê?
B.2. Atualmente, na sociedade imorense, considera que é importante
chegar o mais longe possível na escolaridade? Porquê?

Na aula, compara as tuas respostas com as dos teus colegas e, em conjunto,


discutam os resultados com a ajuda do professor.

Diferentes formas de organização do sistema escolar | 75


Os aspetos mais importantes na massiicação e democraização
da escola
Há vários aspetos que nos ajudam a compreender a massiicação
e democraização do ensino secundário e, em alguns países, do
ensino superior. Entre estes aspetos, os principais são os seguintes: a
industrialização dos países, o avanço do conhecimento e da tecnologia,
a democraização das sociedades e as revindicações das classes sociais
mais pobres.
• Industrialização. Nos países ocidentais, o desenvolvimento rápido da
A industrialização dos
países, o avanço do indústria fez aumentar a necessidade de trabalhadores manuais mais
conhecimento e da
tecnologia, a democraização
escolarizados. Esta escolarização inha por base a educação básica geral
das sociedades e as (saber ler e escrever, saber aritméica e Matemáica, História, Geograia,
revindicações das classes
sociais mais populares etc.), e uma formação mais técnica (capacidade para lidar com as
são, ao mesmo tempo, as
causas e as consequências
máquinas e com a organização mais complexa do trabalho nas fábricas).
da massiicação e A industrialização foi determinante para o crescimento da escola. Mas,
democraização da escola.
por outro lado, o desenvolvimento industrial também passou a depender
deste crescimento.
• Avanço do conhecimento e da tecnologia. O avanço do conhecimento
cieníico e das tecnologias consituiu outro dos fatores que contribuiu
para a massiicação e democraização da escola. Mas, por sua vez, a
escolarização de um número cada vez mais elevado de pessoas também
foi muito importante para esse avanço. Apenas saber ler, escrever e
calcular, de forma mais simples, tornou-se numa desvantagem e num
fator de exclusão social. Ao mesmo tempo, uma escolaridade baixa da
população era insuiciente para promover o desenvolvimento cieníico e
tecnológico das sociedades.
• Democraização das sociedades. A democraização das sociedades
teve um papel importante no acesso das classes mais pobres à escola.
A paricipação mais consciente e críica das populações na vida das
suas sociedades passa, em grande parte, pelo desenvolvimento das
suas capacidades e competências sociais, culturais e proissionais. Este
desenvolvimento só é possível através de um aumento da escolarização
da população. A escola tornou-se, assim, também, num instrumento
de formação e de apoio à paricipação das classes mais pobres na vida
democráica das sociedades.
• Revindicações das classes populares. O úlimo fator que nos pode ajudar
a compreender a massiicação e a democraização da escola está ligado às
revindicações sociais das classes economicamente mais desfavorecidas.

76 | Educação e formação
Ao longo do século XX, em todos os países, o aumento da escolarização
resultou, igualmente, das pressões exercidas sobre os governos pelos
diferentes movimentos sociais. Muitas lutas sociais, em diferentes países,
incluíam as revindicações do direito à educação para todos, como forma
de assegurar uma maior igualdade e jusiça sociais.

Apesar deste conjunto de fatores ter contribuído para a massiicação


Nos países industrializados,
e democraização da escola, é necessário termos consciência de que os alunos das classes
populares ainda têm muito
este fenómeno não aconteceu ainda em todos os países. Há diferenças insucesso e abandonam mais
a escola que os alunos das
entre os países economicamente mais desenvolvidos e os países em
classes economicamente
desenvolvimento, como é o caso de Timor-Leste. mais favorecidas.

Nos países industrializados, o analfabeismo quase desapareceu, mas, em


muitos países, mantêm-se desigualdades sociais na entrada para o ensino
secundário e o ensino superior.

Criança brasileira numa situação de pobreza Crianças numa situação de degradação


no Vietname

Diferentes formas de organização do sistema escolar | 77


Aividade
Lê, com atenção, o texto seguinte:
A úlima década teve grandes avanços nas matrículas na escola primária.
No mundo, em 2008, o número de crianças fora da escola primária era de 65
milhões. Está-se ainda longe do objecivo deinido pela UNESCO de assegurar
a educação primária para todas as crianças até 2015. Cerca de 43% das
crianças que estão fora da escola vivem na África subsariana e outras 27%
vivem no sul e no oeste da Ásia. Esta situação agrava-se quando os países
estão envolvidos em conlitos armados. Por outro lado, a exclusão das
crianças da escola é mais forte nas zonas rurais.
No caso de Timor-Leste, a taxa líquida de matrícula de alunos no ensino
primário (proporção, em percentagem (%) entre os alunos matriculados
e o número total de crianças em idade de frequentar a escola primária)
representava, em 2010, no meio urbano e rural, cerca de 71% das crianças.
No meio urbano esta taxa era mais elevada, com cerca de 80% das crianças
matriculadas, do que no meio rural (67%). No caso do ensino pré-secundário,
esta taxa descia muito (23% para todo o país) e as desigualdades entre o
meio urbano (40%) e o meio rural (17%) também eram mais fortes. No caso
do ensino secundário, esta tendência maninha-se (16%) com o meio urbano
a apresentar uma taxa de 30% e o meio rural de 9%. Assim, as crianças dos
meios urbanos inham, na altura, mais possibilidades (quatro vezes mais) de
chegar ao ensino secundário, em comparação com os seus colegas do meio
rural.

Adaptado de UNESCO (2011). Relatório de Monitoramento Global 2011 -


Relatório conciso. Educação para todos: A crise oculta: conlitos armados e
educação. Paris: UNESCO; e da Direção Nacional de Estaísica (2010). Timor-
Leste em números. Disponível em www.dne.mof.gov.tl

O texto aborda um conjunto de problemas importantes sobre a massiicação e


democraização da educação escolar no mundo e em Timor-Leste. Responde
às seguintes questões, no teu caderno:
1. Consideras que o ensino primário tem já caraterísicas universais no
mundo? E em Timor-Leste (em 2010)?
2. Na tua opinião, a taxa de frequência do ensino pré-secundário e secundário
em Timor-Leste permite airmar que estes níveis de ensino estavam, em
2010, massiicados e democraizados?

78 | Educação e formação
2.1.2 Educação e formação de adultos
Na época atual, a educação das pessoas adultas tornou-se cada vez mais
importante para o desenvolvimento social e económico das sociedades.
Por outro lado, o rápido desenvolvimento do conhecimento, e das
tecnologias, faz com que as pessoas tenham de coninuar a estudar para se
manterem atualizadas. A educação das pessoas adultas aumenta os níveis
de bem-estar coleivo e contribui para a diminuição das desigualdades A educação de adultos
sociais. Permite, ainda, que cada um consiga melhores empregos e aumenta os níveis de
bem-estar das populações
carreiras. Apesar das crises de desemprego provocadas pelo capitalismo, e pode fazer diminuir as
desigualdades sociais.
quanto maior for o nível de escolarização das pessoas, menos tempo
estão desempregadas.
Porém, estas conclusões podem ser criicadas. É um facto que o aumento
da educação dos jovens não tem feito diminuir o desemprego entre os
que têm mais habilitações escolares. Existem, igualmente, desigualdades
de oportunidades proissionais entre as pessoas, em função da sua
origem social. Com a mesma escolarização, as pessoas das classes mais
desfavorecidas têm mais diiculdade, em comparação com as das classes
mais privilegiadas, em encontrar trabalho e conseguir um emprego
adequado à sua formação escolar.
Nos países em desenvolvimento, este conjunto de desigualdades pode
ser mais acentuado. A escolarização aumentou o nível educacional das
populações. Porém, não diminuiu as desigualdades entre os diferentes
grupos sociais. Estas são mais fortes que nos países economicamente
mais desenvolvidos. Esta situação é agravada pelas elevadas taxas de
analfabeismo.
Uma grande parte das taxas de analfabeismo ainda é consequência do
colonialismo. As autoridades dos países colonizadores apenas permiiam
a escolarização de pequenas minorias (elites) mais próximas dos seus
interesses ou políicas. A escolarização das populações colonizadas era
vista como uma potencial ameaça ao domínio colonial. Por outro lado,
quando os países colonizadores aumentavam as taxas de escolarização,
o que se ensinava e aprendia nas escolas estava ligado às suas culturas
dominantes. As culturas dos povos dos países colonizados eram ignoradas A cultura de Timor-Leste foi ignorada na
educação escolar durante muitos anos
ou muito desvalorizadas.

Diferentes formas de organização do sistema escolar | 79


Aividade
Lê, com atenção, o texto seguinte:
Em Timor-Leste, no ano de 2004, cerca de 54% da população acima dos seis
anos de idade não sabia ler, escrever e contar. Desta 58% eram mulheres e
48% homens. O distrito de Díli apresenta a taxa mais baixa de analfabeismo
(cerca de 26%). Nos outros distritos esta taxa é sempre mais alta, destacando-
se Ermera com 71%. No caso dos adultos, em 2012, cerca de 60% da população
era analfabeta. O Estado de Timor-Leste assumiu a educação como uma
prioridade políica. A universalização da escolaridade primária (em 2015) e
o desenvolvimento dos níveis seguintes de escolaridade (com a valorização
do ensino técnico-proissional) consituem duas dessas prioridades. Mas,
surge, igualmente, como prioridade a promoção da alfabeização de adultos
e da igualdade de acesso entre os meios urbanos e rurais. Por outro lado,
a Resolução do Governo 3/2007 colocou como um dos objeivos (nº 4) do
Plano de Desenvolvimento Nacional (PDN) “Promover a educação não-formal
e a alfabeização de adultos”. Esta resolução reconhece, ainda, que este
setor não está desenvolvido, sendo necessário criar um currículo nacional
de alfabeização e um sistema de equivalências para que um sistema de
educação não-formal facilite o regresso dos alunos ao sistema de educação
formal.

Adaptado de Moniz, A. R. (2012). Educação e crescimento económico em


Timor-Leste. Dissertação de Mestrado, Universidade do Minho, Braga; e de
Resolução do Governo nº 3/2007, Jornal da República, República Democráica
de Timor-Leste.

Este texto refere alguns dos problemas com os quais Timor-Leste se confronta
ao nível da educação e alfabeização. Responde, no teu caderno, às questões
seguintes:
1. Há uma percentagem mais elevada de analfabetos entre as mulheres ou
entre os homens?
2. Qual o distrito de Timor-Leste que apresenta a taxa mais baixa de
alfabeização?
3. A educação e a alfabeização de adultos são importantes para Timor-Leste?
Porquê?

80 | Educação e formação
2.2 Diferentes exemplos de organização
Desenvolvimento dos sistemas escolares
Os sistemas de organização escolar (ou sistema escolar) surgiram,
na sua forma mais moderna, durante o século XIX. Porém, o grande
desenvolvimento desta organização só aconteceu na primeira metade do Nos países em vias de
desenvolvimento, a criação
século XX, nos países ocidentais economicamente mais desenvolvidos.
de sistemas escolares
Por sua vez, em vários países em vias de desenvolvimento, a criação dos nacionais só surgiu depois da
descolonização.
sistemas escolares nacionais surgiu, apenas, após a descolonização e a
conquista da independência.
No caso de Timor-Leste, até 1975, o sistema escolar herdado do colonialismo
português era muito reduzido. Podia ser caraterizado como um sistema
de elite, apenas dirigido a uma pequena minoria. A esmagadora maioria
da população imorense inha sido afastada da educação escolar. Calcula-
se que, nesta altura, quase 90% da população não sabia ler nem escrever
em língua portuguesa (a língua usada na escolarização das crianças e
jovens). Durante a ocupação indonésia, houve mais invesimento no
sistema escolar. Mas, a administração do ensino e os currículos existentes
serviam, principalmente, os interesses dos ocupantes. Tentavam impor
aos imorenses a cultura e valores dominantes da cultura indonésia.
A administração pela ONU (1999-2002), na transição para a Restauração
da Independência, encontrou um sistema escolar quase totalmente
destruído. A maioria das escolas inha sido destruída, ou não funcionava,
e a quase totalidade dos professores não-imorenses abandonou o país.
Foram, na altura, subsituídos por professores voluntários vindos de vários
países. Na realidade, só a parir de 2001 foi possível começar a reconstruir
um sistema educaivo nacional aos níveis administraivo (papel do Estado),
das instalações ísicas (recuperação das escola destruídas) e dos currículos
usados no ensino (subsituição dos currículos indonésios).
Ainda hoje está em curso uma refundação do sistema escolar imorense
nos seus diferentes aspetos, tais como: a construção de escolas novas
em várias regiões do país; melhoramento dos ediícios; aquisição de
equipamentos pedagógicos; mudanças nos níveis de ensino; deinição de
novos objeivos de ensino e aprendizagem; deinição de novos currículos
para os vários níveis de ensino; e reorganização administraiva do sistema.

A reconstrução das escolas públicas é


um dos objeivos da políica educaiva
em Timor-Leste

Diferentes formas de organização do sistema escolar | 81


Aividade
Lê, com atenção, o texto seguinte:
O conlito tem impactos signiicaivos também ao nível das infraestruturas
educaivas. Timor-Leste é exemplo disso. […] O curto, mas intenso, período de
conlito e destruição que se seguiu ao referendo é o seu exemplo mais visível
e mais signiicaivo, com uma elevadíssima percentagem de escolas e salas de
aula parcial ou totalmente destruídas. Tal aconteceu porque as infraestruturas
educaivas simbolizam os instrumentos e acção do Estado (independente) e a
memória e formação dos povos a aingir. Seja qual for a causa da destruição,
a reconstrução pós-conlito obriga, igualmente, a fazer face à necessidade
de um signiicaivo invesimento na reabilitação das infraestruturas ísicas
associadas direta ou indiretamente ao sistema de educação. […] Timor-Leste
apresenta-se como um caso extremamente interessante de analisar, na
medida em que procurou, desde cedo, aliar a reconstrução das infraestruturas
e da economia à consolidação de um sistema (escolar) universal, obrigatório
e inclusivo.

Adaptado de Ramos, A. M., & Teles, F. (2012). Memória das políicas


educaivas em Timor-Leste: A consolidação de um sistema (2007-2012).
Aveiro: Universidade de Aveiro.

Neste exercício propomos que recolhas informações junto da tua família e


dos mais velhos da tua comunidade sobre o que era a escola durante a época
colonial portuguesa e a ocupação militar indonésia. Compara as informações
que recolheste com o que se passa na época atual. Discute as tuas conclusões,
na sala de aula, com os teus colegas e professores.

A noção de sistema escolar

Principais conceitos

Sistema educaivo
A noção de sistema pode ter vários signiicados em educação. Por
Todos os recursos e meios que o exemplo, quando falamos em sistema educaivo estamos a nomear todos
Estado e a sociedade usam para os recursos e meios que o Estado e a sociedade uilizam para desenvolver
educar os seus cidadãos.
as aprendizagens e conhecimentos nos seus cidadãos. Nestes recursos
e meios podem ser incluídos os seguintes: as leis sobre a educação;
os objeivos educaivos nacionais; a organização escolar; a família;

82 | Educação e formação
as bibliotecas; os museus; as comunidades locais; os professores; as
disciplinas; a maneira de ensinar; as associações de cidadãos; os ediícios
escolares; os equipamentos; e os recursos inanceiros.
Nesta perspeiva, podemos considerar que a noção de sistema de
educação (ou sistema educaivo) refere-se a todas as formas de educação
na sociedade – a educação não formal e a educação formal.
A educação não formal inclui, por exemplo, aspetos relacionados com
o papel das famílias, bibliotecas, museus, associações de cidadãos e
comunidades na educação das crianças, dos jovens e dos adultos. A
educação formal, por sua vez, relaciona-se com a organização do sistema
escolar (ou sistema de ensino) pelo Estado. Aplica-se ao conjunto de
aspetos que fazem parte desta organização: o papel do Estado e da
administração do ensino, a organização dos vários níveis de ensino e
os currículos. A noção de sistema educaivo é, assim, mais global que a
noção de sistema escolar.
Em primeiro lugar, vamos apresentar os principais aspetos globais que
fazem parte do sistema escolar, importantes para a organização da
educação formal. Mais à frente falaremos da educação não formal.

Principais aspetos globais do sistema escolar


As principais partes do sistema escolar podem ser divididas em três: o
Estado, administração e organização escolar; a organização dos diferentes
níveis de ensino; e o currículo. Na igura em baixo podes ver a sua
representação.

• Administração e organização escolar. Em todos os países é o Estado


que tem a maior responsabilidade pela administração e organização
do ensino. Esta inclui leis e outros regulamentos, os recursos materiais
(equipamentos pedagógicos), os professores e os funcionários não-profes-
sores. Em vários países, os pais dos alunos, ou os seus representantes,

Diferentes formas de organização do sistema escolar | 83


também podem paricipar na administração e organização do ensino ao
nível das regiões ou das escolas. Tal é o caso de Timor-Leste ao nível das
escolas (Conselho de Pais).

• Organização dos níveis de ensino. A organização dos vários níveis de


ensino relaciona-se com a maneira, mais ou menos rígida (em função dos
países), como a educação escolar é planeada. Os níveis de escolaridade são
sequenciais (uns seguem-se aos outros). Os alunos têm obrigatoriamente
de os percorrer até um determinado ponto (de acordo com as leis de cada
país) – ensino pré-primário (ou educação pré-primária); ensino primário,
ensino secundário médio (ou inferior), ensino secundário superior e
ensino superior.

Cada um destes níveis de ensino está ligado a grupos de idade de crianças


ou jovens. Por exemplo, o ensino primário, em quase todos os países do
mundo, começa nos 5 ou 6 anos de idade (em alguns países nos 6 ou 7
anos). Em função dos países, o ensino primário pode ir destas idades até
aos 9, 10, 11 ou 12 anos. A idade com que se entra para os outros níveis
A escolaridade obrigatória
(educação básica ou ensino depende da duração do ensino primário prevista em cada país. Quando,
básico) é de 9, 10 ou 12
anos, de acordo com as leis por exemplo, o ensino primário tem 6 anos, os outros níveis seguintes têm
educaivas de cada país.
menos tempo.

Em todos os países também está deinida, nas leis dos seus estados, uma

84 | Educação e formação
duração obrigatória da escolaridade para todos os alunos. Normalmente,
esta escolaridade é designada por educação básica ou ensino básico. Em
alguns países, a escolaridade obrigatória é de 9 anos; noutros, em menor
número, de 12 anos. O ensino pré-primário não entra nesta contagem,
porque não é obrigatório na maioria dos países. É o caso, também, da parte
inal do ensino secundário e do ensino superior. Há países que uilizam
a designação de ciclos (1º ciclo, 2º ciclo e 3º ciclos de escolaridade ou
de educação básica), os quais, em princípio, correspondem, a diferentes
níveis de ensino. Em todos os países, com mais ou menos diferenças,
podemos considerar que a organização da sequência na escolarização é
a seguinte:

• Currículo. O currículo pode ser deinido como um conjunto de


O currículo é um plano
conhecimentos e outro ipo de saberes (aitudes, valores, competências educaivo para os alunos
deinido pelos estados
para se relacionar com as outras pessoas, etc.) que entram na deinição (currículo nacional) e pelas
de um plano educaivo para os alunos. Este plano deve permiir aingir escolas, ao nível local. Isto
depende das leis de cada país.
determinados objeivos educaivos e de aprendizagem (por vezes,
também se fala em metas de aprendizagem). Mas, deve, igualmente ter
em conta a cultura e os valores existentes na sociedade para a qual o
currículo foi deinido. Em termos gerais, podemos dizer que um currículo
pode ser organizado de acordo com os seguintes aspetos: as necessidades
dos alunos; o que se ensina e aprende (conteúdos); com que objeivos
(objeivos de ensino e de aprendizagem - ou metas de aprendizagem);

Diferentes formas de organização do sistema escolar | 85


como se ensina e aprende (organização do ensino e das aprendizagens);
com que meios (materiais pedagógicos e didáicos); e como se pode ver
se os alunos aprendem ou não (avaliação dos alunos).

Aividade
Responde às seguintes questões, no teu caderno:
1. Quais os principais aspetos que fazem parte de um sistema escolar?
2. Os professores e os pais fazem parte da administração escolar?
3. Quais são os níveis de ensino que, em geral, existem nos sistemas escolares
nos diferentes países?
4. O currículo faz parte do sistema escolar? Jusiica a tua resposta.

Há algumas diferenças entre a forma como os sistemas escolares estão


organizados nos vários países. Mas há, também, muitas semelhanças. A
seguir, vamos ver algumas destas diferenças e semelhanças em países
de quatro coninentes: Europa (Portugal), América do Sul (Brasil), África
(África do Sul) e Ásia (Indonésia). Os exemplos que mostramos foram
escolhidos tendo a conta o seguinte: a proximidade cultural (língua oicial
parilhada) e geográica (Indonésia), e a necessidade de mudar o sistema

86 | Educação e formação
escolar em função de determinadas situações históricas e sociais (o im do
regime de segregação racial na África do Sul).

2.2.1 Europa
Em Portugal, a educação pré-escolar vai dos 0 aos 6 anos. Está dividida
Em Portugal, a escolaridade
em dois ciclos: dos 0 aos 3 anos e dos 3 aos 6 anos. Este ipo de educação obrigatória é, atualmente,
de 12 anos (que vai até
faz parte do sistema educaivo, mas não é obrigatória. A escolaridade à conclusão do ensino
obrigatória é, atualmente, de 12 anos (dos 6 aos 17-18 anos). Os seus secundário).

níveis de ensino são compostos por três ciclos do ensino básico e, ainda,
o ensino secundário.
O 1º ciclo do ensino básico corresponde à escola primária, com a duração
de 4 anos (1º, 2º, 3º e 4º anos de escolaridade). Aplica-se aos alunos dos
6 aos 10 anos. Este ciclo existe em escolas primárias. Os alunos fazem
exames no im deste ciclo de escolaridade. O 2º ciclo do ensino básico
tem a duração de 2 anos (5º e 6º anos de escolaridade) e dirige-se aos
alunos entre os 9-10 anos e os 11-12 anos. O 3º ciclo do ensino básico
corresponde a 3 anos de escolaridade (7º, 8º e 9º anos de escolaridade).
Desina-se a alunos entre os 12-13 e os 14-15 anos de idade. No im deste
3º ciclo os alunos fazem exames.
O 2º e 3º ciclos do ensino básico correspondem ao que pode ser
designado, em muitos países, por ensino secundário inferior ou médio.
A escolaridade obrigatória terminava no 3º ciclo do ensino básico (9 anos
de escolaridade), no entanto, esta escolaridade passou para 12 anos,
correspondendo à conclusão do ensino secundário.
O ensino secundário tem a duração de 3 anos (10º, 11º e 12º anos de
escolaridade). Dirige-se aos alunos dos 14-15 aos 17-18 anos. Este nível
de ensino tem duas vias: a via geral e a vocacional e proissional. Existem,
também, escolas proissionais, da responsabilidade das autoridades
locais, de associações ou de pariculares. Estas escolas são equivalentes
ao ensino secundário oicial.
Como em vários países, há, em todos os níveis de ensino, escolas públicas,
que pertencem ao Estado, e escolas privadas (religiosas e não religiosas).
A grande maioria dos alunos está matriculada nas escolas públicas.
Após a conclusão do ensino secundário, os alunos podem coninuar os
seus estudos no ensino superior, após um exame especial de entrada para
este nível de ensino. O ensino superior divide-se em dois subsistemas: o
ensino superior universitário e o ensino superior politécnico (orientação
mais vocacional, técnica e proissionalizante). Depois de obterem a Escola em Portugal

Diferentes formas de organização do sistema escolar | 87


sua licenciatura, os alunos podem candidatar-se à frequência de pós-
-graduações (mestrados e doutoramentos).

2.2.2 América do Sul
No Brasil, o sistema escolar está, igualmente, dividido em 4 grandes fases:
ensino pré-escolar, ensino primário, ensino secundário e ensino superior.
Há nove anos de escolaridade obrigatória: 5 anos de frequência do ensino
primário (1º ao 5º ano), e 4 anos do ensino secundário inferior (6º ao 9ª
ano).

O ensino pré-primário (educação pré-primária) tem a duração de 6 anos.


É composto pela educação inicial (dos 0 aos 3 anos) e pela pré-escola (4-5
anos). Este nível de educação não é obrigatório, tal como acontece em
quase todos os países.

O ensino primário tem a duração de 5 anos (do 1º ao 5º ano) e dirige-se às


No Brasil, a escolaridade
obrigatória é de 9 anos. crianças dos 6 aos 10 anos. O ensino secundário inferior (do 6º ao 9º ano)
integra as idades dos 11 aos 14 anos. Este conjunto de 9 anos de educação
escolar consitui a escolaridade obrigatória.

O ensino secundário superior tem a duração de 3 anos (15-17 anos). Está


dividido em duas vias: o ensino secundário geral e o ensino secundário
vocacional e tecnológico. Esta úlima via pode ter cursos com a duração
de 4 anos.

Os ensinos primário, secundário inferior e secundário superior consituem


a educação básica, embora o ensino só seja obrigatório, como vimos, para
os dois primeiros casos (9 anos de escolaridade). A conclusão do ensino
secundário superior permite a entrada no ensino superior (após exame).

Esta entrada dos alunos no ensino superior surge por volta dos 18 anos.
O ensino superior é composto por universidades públicas e privadas e
outras insituições de ensino superior. Também existe um ensino superior
mais vocacional, técnico e proissional. Após a conclusão dos graus de
bacharelato os alunos podem candidatar-se a pós-graduações (mestrados
Escola no Brasil e doutoramentos).

Aividade
Existem algumas diferenças entre a organização da educação escolar em
Portugal e no Brasil. Refere duas destas diferenças que te pareçam ser as
mais importantes.
88 | Educação e formação
2.2.3 Ásia/Pacíico

Indonésia
Na Indonésia, o ensino pré-escolar (ou educação pré-escolar), dos 4 aos
6 anos, não é obrigatório, tal como acontece na maior parte dos países.

O ensino primário tem a duração de 6 anos, entre a idade de 7 e 12 anos.


Na Indonésia, a escolaridade
O ensino primário faz parte da escolaridade obrigatória, a qual se prolonga
obrigatória é de 9 anos.
por 9 anos. No im do ensino primário (grau 6), os alunos realizam um
exame nacional de acesso ao ensino secundário.

O ensino secundário está dividido em duas fases: ensino secundário


inferior (ou júnior) e ensino secundário superior (geral e vocacional).

O ensino secundário inferior tem a duração de 3 anos, correspondendo às


idades de 13-15 anos. Este nível de ensino faz parte da educação básica
obrigatória (grau 9). Para completar o ensino secundário inferior, os
alunos têm de realizar um exame nacional. Após terminarem este nível de
ensino, os alunos podem entrar no ensino secundário superior (sénior).

O nível de ensino secundário superior (graus 10 a 12) estende-se por 3 anos,


dirigindo-se a alunos do grupo de idades entre os 16-18 anos. Este nível
de ensino está dividido em ensino secundário geral e ensino secundário
vocacional e técnico (proissional). Algumas escolas vocacionais e técnicas
oferecem cursos com mais 1 ano (4 anos).

O ensino superior é composto por academias, universidades, politécnicos,


colégios e insitutos. As academias e os politécnicos são considerados como
sendo o ensino proissional. Os colégios e os insitutos podem oferecer
formações deste mesmo ipo. A duração dos estudos no ensino superior
é de 4 anos, seguidos de pós-graduações (mestrados e doutoramentos).

Uma das paricularidades do sistema escolar indonésio relaciona-se com a


coexistência, em todos os níveis de ensino, de uma rede pública formada
por escolas islâmicas e outra formada por escolas laicas (não religiosas). Escola na Indonésia

Aividade
1. Qual é a duração da escolaridade obrigatória na Indonésia?
2. O ensino secundário superior na Indonésia está dividido em quantas vias?

Diferentes formas de organização do sistema escolar | 89


África do Sul
Em geral, a educação pré-escolar inicia-se aos 3 anos e termina aos 4-5
anos de idade (pelo menos na rede pública). Foi criado um grau R (ano de
receção), dirigido às crianças com 5 anos de idade. O governo sul-africano
Na África do Sul, a parir
de 2014, todos os alunos prevê que, em 2014, todas as crianças com esta idade frequentem este
vão passar a ter 10 anos de grau, o qual fará parte da escolaridade obrigatória. Esta, assim, totaliza 10
escolaridade obrigatória.
anos (grau R+9).
A educação primária tem a duração de 6 anos (do grau 1 ao grau 6), sendo
dirigida às crianças entre os 6-7 e os 12-13 anos. Está dividida em dois
ciclos: a educação primária júnior (do grau 1 a 3) e a educação primária
sénior (do grau 4 ao grau 6).
A educação secundária (ensino secundário), por sua vez, tem a duração
de 6 anos (do grau 7 ao grau 12). Está, igualmente, dividida em duas fases:
o ensino secundário inferior (do grau 7 ao grau 9) e o ensino secundário
sénior (do grau 10 ao grau 12). O ensino secundário inferior consitui o
úlimo ciclo da escolaridade obrigatória. O ensino secundário sénior
(graus 10-12), ao contrário, não é obrigatório. Os alunos têm de fazer
exame nacional para concluir este nível de ensino, obtendo um diploma
chamado Ceriicado Nacional Sénior. Este diploma dá acesso ao ensino
superior.
No ensino secundário existe, igualmente, uma via mais proissionalizante
(educação secundária técnica), que pode ser seguida pelos alunos em
centros técnicos, nas escolas secundárias seniores e em escolas vocacionais.
Em geral, esta via tem, igualmente, a duração de 3 anos (como no ensino
secundário sénior). A sua conclusão permite obter um Ceriicado Nacional
(vocacional). Este ceriicado é considerado equivalente ao ceriicado do
ensino secundário sénior se os alunos passarem nos exames de língua
inglesa e de língua africâner (a outra língua nacional da África do Sul,
falada, principalmente, pelos descendentes dos anigos colonos brancos).
O ensino superior tem, em geral, uma duração de 4 anos (podendo ser
de 3 no caso de alguns cursos). É composto por diferentes vias, incluindo
colégios, technikons (designação em língua africâner), universidades de
tecnologia e universidades. Os technikons e as universidades de tecnologia
têm vários ipos de cursos e formações: com 1 ano de duração (Ceriicado
Nacional de 1 ano de formação), 2 anos (Ceriicado Nacional Superior),
3 anos (Diploma Nacional) e 4 anos (Diploma Nacional Superior). Após
a conclusão do bacharelato, os alunos podem candidatar-se a cursos de
Escola na África do Sul

90 | Educação e formação
pós-graduação e a mestrados e doutoramentos.

Aividade
A África do Sul, tal como Timor-Leste, passou por fases diíceis da sua história.
Isto aconteceu, em especial, no período correspondente ao im do regime
de segregação racial (Apartheid) que discriminava totalmente as populações
não brancas.
Também em Timor-Leste, foi necessário, numa fase de transição, reconstruir
o país numa base de igualdade de direitos e de jusiça social. Dada esta
semelhança, propomos que procures mais informação (na internet ou por
outros meios) sobre a África do Sul, em especial sobre o seu sistema de
educação escolar. Apresenta os resultados da tua pesquisa na aula.

2.3 Organização do sistema educaivo em Timor-Leste


O sistema educaivo em Timor-Leste é administrado pelo Ministério da
Como noutros países, o
Educação, através de vários serviços centrais - as Direções Gerais - e sistema escolar em Timor-
Leste tem os seguintes níveis:
serviços regionais - as Direções Regionais (há cinco Direções Regionais). ensino pré-escolar (não
obrigatório), ensino primário,
As Direções Gerais do Ministério integram, atualmente, cinco Direções
ensino secundário e ensino
Nacionais: Educação Pré-escolar; Ensino Básico; Ensino Secundário Geral; superior.
Ensino Secundário Técnico-Vocacional; Currículo e Avaliação Escolar; e
Ensino Recorrente (adultos).
Por sua vez, os serviços regionais são consituídos por cinco Direções
Regionais: Direção I – Distritos de Baucau, Viqueque, Lautém e Mantuto;
Direção II – Distritos de Díli, Liquiçá e Aileu; Direção III – Distritos de Ainaro
e Manufahi e Covalima; Direção IV – Distritos de Ermera e Bobonaro;
Direção V – Oecusse.
Fazem ainda parte do Ministério da Educação serviços descentralizados
(mais autónomos em relação ao Ministério), como, por exemplo, a
Universidade Nacional de Timor Lorosa’e (UNTL) e o INFORDEPE, para
além de outros serviços na mesma situação.

Bobonaro e Ermera fazem parte da IV


Direção Regional de Educação de Timor-
Leste

Diferentes formas de organização do sistema escolar | 91


De uma forma geral, esta organização corresponde à que existe em
diferentes países em que o Estado é o principal responsável pela
administração do sistema escolar. Assim, o sistema escolar imorense
tem a seguinte estrutura sequencial: sistema pré-escolar (ou educação
pré-escolar), ensino básico (composto pelo ensino primário e pelo ensino
pré-secundário), o ensino secundário e o ensino superior.
O ensino pré-escolar (educação pré-escolar) corresponde ao grupo de
crianças dos 3 aos 5-6 anos de idade. Como em muitos países, este nível de
educação não é obrigatório. É o Estado imorense que assegura o ensino
pré-escolar, através de uma rede de Jardins de Infância. Estes pertencem a
enidades públicas (administração local), cooperaivas e pariculares (em
especial a organizações religiosas e outras).
O ensino primário tem a duração de 6 anos. Aplica-se às crianças dos
5-6 aos 11-12 anos de idade. Esta fase da escolaridade é composta por
dois ciclos. O 1º ciclo, com 4 anos, tem caraterísicas curriculares globais
(aprendizagem da leitura, da escrita, da aritméica e do meio ísico e
social) e as aulas são dadas por um professor único. O 2º ciclo, com 2
anos, já está organizado por áreas de aprendizagem mais especíicas
(Humanidades e Artes, Desporto, Ciência, Tecnologia, e Educação Moral,
Cívica e Religiosa).
O ensino pré-secundário, também designado como 3º ciclo do ensino
básico, tem a duração de 3 anos (12-13 aos 15-16-17 anos). Consitui
uma coninuação mais especializada das aprendizagens do 2º ciclo. A
conclusão do ensino pré-secundário completa os 9 anos de educação
básica obrigatória. Os alunos com aproveitamento nos três ciclos de
educação básica (ensino primário, de dois ciclos, e ensino pré-secundário,
3º ciclo) podem coninuar a sua escolaridade no ensino secundário.
O ensino secundário tem a duração de 3 anos. Este nível de ensino tem
por objeivo o aprofundamento dos conhecimentos e aprendizagens do
ensino básico. Não faz parte da escolaridade obrigatória, embora o Estado
tenha assumido a responsabilidade de o promover. O ensino secundário
está dividido em duas vias: o ensino secundário (geral) e o ensino técnico
proissional. A conclusão das duas vias permite a entrada no ensino
superior: a primeira está mais orientada para a entrada nas universidades
(embora os alunos também possam entrar no ensino superior técnico),
enquanto a segunda está mais orientada para o ensino superior técnico

92 | Educação e formação
(os alunos também podem entrar para a universidade por esta via).
O ensino superior é composto por duas vias: o ensino superior universitário
e o ensino superior técnico (politécnico). Para entrar nestes dois percursos
de formação contam as classiicações obidas no ensino secundário e
outras provas de acesso coordenadas pelo Ministério da Educação. O
ensino superior técnico (politécnico de 1 a 3 anos) está mais orientado
para uma educação e formação mais proissional. O ensino superior
universitário oferece formações mais avançadas (principalmente através
da licenciatura). O ensino superior tem, igualmente, pós-graduações,
mestrados e doutoramentos. Paralelamente à universidade pública Universidade Nacional de Timor Lorosa’e
existem universidades e outras insituições de ensino superior privadas.

Aividade
Responde às seguintes questões, no teu caderno:
1. Quais são os níveis de escolaridade em Timor-Leste? Descreve cada um
deles.
2. Qual é o número de anos de escolaridade obrigatória em Timor-Leste?
3. A educação pré-escolar faz parte da escolaridade obrigatória em Timor-
Leste?
4. Que vias de formação existem no ensino superior?

RESUMO
A escola é uma insituição social muito aniga, com mais de dois mil anos.
No mundo anigo, a escola era apenas frequentada por um número muito
reduzido de alunos. Por esta razão, diz-se que era uma escola para as
elites. A educação escolar só se começou a massiicar e a democraizar
a parir do im do século XIX, no caso do ensino primário, e do im da
segunda guerra mundial, no caso do ensino secundário e superior.
A educação escolar pode ser deinida como uma forma organizada de
transmiir às crianças e jovens um conjunto de valores, conhecimentos,
técnicas e maneiras de viver de uma sociedade. A massiicação é o
grande aumento de entrada na escola de crianças e jovens de todas as

Diferentes formas de organização do sistema escolar | 93


classes sociais. A democraização da escola diz respeito ao aumento de
frequência da escola por alunos das classes sociais economicamente mais
desfavorecidas. Os aspetos que mais contribuíram para a massiicação
e democraização da escola são os seguintes: industrialização, avanço
do conhecimento e tecnologia, democraização das sociedades e
reivindicações das classes populares pelo direito à educação.
Hoje, também, é importante que os países desenvolvam os seus sistemas
de educação e formação de adultos. A educação e formação de adultos
aumenta os níveis de bem-estar das populações e pode fazer diminuir as
desigualdades sociais. Mas, apesar disto, coninuam a exisir desigualdades
de oportunidades proissionais entre as pessoas em função da sua origem
social.
Podemos disinguir o sistema educaivo do sistema escolar. O sistema
educaivo diz respeito a todos os recursos e meios que o Estado e a
sociedade usam para educar os seus cidadãos. Inclui a educação formal
e não formal. O sistema escolar (ou sistema de ensino) refere-se à
organização da educação formal pelo Estado. Inclui o papel do Estado e da
administração do ensino, a organização dos vários níveis de ensino (pré-
primário, primário, secundário e superior) e a organização dos currículos
que têm de ser seguidos pelos alunos.
Em todos os países, com algumas diferenças, a organização da escolarização
está estruturada de uma forma semelhante: pré-primário (3-4 aos 5 anos),
ensino primário (5-6 aos 9-10 ou 12 anos), ensino secundário inferior (12
aos 15-16 anos), ensino secundário superior (15-16 aos 17-18 anos) e
ensino superior (mais de 17-18 anos).
Apesar desta semelhança, há algumas diferenças entre os vários sistemas
escolares dos países. Por exemplo, em Portugal, a escolaridade obrigatória
passou para 12 anos, enquanto no Brasil e na Indonésia esta escolaridade
é de 9 anos. Na África do Sul, a parir de 2014, todos os alunos vão passar
a ter 10 anos de escolaridade obrigatória.
O sistema educaivo em Timor-Leste é administrado pelo Estado, através
de Direções Gerais e de Serviços Regionais. A forma como o sistema está
organizado é muito semelhante ao de outros países – ensino pré-escolar
(3 aos 5-6 anos de idade), ensino primário (5-6 anos aos 11-12), ensino
pré-secundário (12-13 aos 15-16-17 anos), ensino secundário e ensino
superior. A escolaridade obrigatória é de 9 anos.

94 | Educação e formação
EXERCÍCIOS

Escreve, no teu caderno, a opção mais correta (apenas uma).


1. Aparecimento da escola nas sociedades
a) A escola é uma insituição muito recente.
b) Ao longo dos tempos, a escola sempre foi frequentada pela maioria das
crianças e jovens.
c) Ao longo dos tempos, aprender a ler, escrever e contar foi sempre
considerado úil para a vida das pessoas.
d) Os mais velhos, nas sociedades tradicionais, iveram sempre um
papel muito importante no ensino dos conhecimentos técnicos usados
no trabalho domésico, no culivo da terra e no fabrico de produtos
artesanais.

2. Massiicação e democraização do ensino


a) A democraização da escola signiica que apenas as crianças das classes
sociais economicamente mais favorecidas vão à escola.
b) A educação de adultos não contribui para o bem-estar das populações,
nem para a diminuição das desigualdades sociais.
c) A industrialização e o avanço do conhecimento e da tecnologia
contribuíram pouco para o desenvolvimento da educação escolar.
d) A democraização das sociedades e as reivindicações do direito à
educação escolar pelas classes sociais populares (economicamente mais
desfavorecidas) contribuíram muito para o desenvolvimento da educação
escolar.

3. Desenvolvimento do sistema escolar em Timor-Leste


a) Em Timor-Leste, o sistema escolar herdado do colonialismo português
era um sistema massiicado e democraizado.
b) O sistema escolar em Timor-Leste, durante a ocupação indonésia, não
tentava impor a cultura e valores da cultura indonésia.
c) Em 1999, a administração da ONU, na transição para a Restauração da
Independência, encontrou as escolas todas intactas e a funcionar.
d) Só a parir de 2001 foi possível começar a construir um sistema
educaivo nacional em Timor-Leste.

Diferentes formas de organização do sistema escolar | 95


4. Os sistemas escolares de vários países
a) Os sistemas escolares são só consituídos pelo ensino secundário e o
ensino superior.
b) Em todos os países, o Estado tem muito pouca responsabilidade na
organização do ensino.
c) Na África do Sul, a parir de 2014, a escolaridade obrigatória passa a ser
de 12 anos.
d) No Brasil a escolaridade obrigatória é de 9 anos.

5. Organização do sistema escolar em Timor-Leste


a) Em Timor-Leste só existem Serviços Regionais na administração da
educação escolar.
b) Em Timor-Leste é obrigatório o ensino pré-escolar.
c) Em Timor-Leste, o sistema de ensino é composto apenas pelo ensino
pré-escolar, o ensino primário e o ensino pré-secundário.
d) O ensino superior faz parte do sistema educaivo de Timor-Leste.

96 | Educação e formação
3 Educação, conhecimento e desenvolvimento pessoal e
social

3.1 O papel da educação na socialização


A socialização das crianças e dos jovens passa pela aprendizagem de um
conjunto de hábitos, costumes, valores, conhecimentos, técnicas e ideias
dominantes na sociedade.
A organização destas aprendizagens corresponde ao que designamos por
Educação formal
educação. Diz-se que a educação é formal quando as aprendizagens são Educação relacionada com as
feitas na escola, com base no ensino. Por sua vez, as aprendizagens feitas aprendizagens feitas na escola.

em contextos não escolares (comunidades, associações de cidadãos,


movimentos de juventude, etc.) correspondem a uma educação não
Educação não formal
formal (ou informal). Educação ligada às aprendizagens em
contextos não escolares.
O sociólogo Émile Durkheim (viveu entre 1858 e 1917 em França) deiniu,
no início do século XX, a educação como a ação exercida pelas gerações
mais velhas sobre as gerações mais novas. Esta ação surge porque as
gerações mais novas ainda não estão maduras e preparadas para paricipar
totalmente na vida da sociedade. Para Durkheim, a educação consiste,
assim, na socialização planeada das jovens gerações.
Esta deinição tem sido criicada por ser muito rígida. Valoriza muito a
noção de adaptação das crianças e jovens à sociedade. Estas críicas são
feitas a dois níveis: individual e coleivo.
No primeiro caso (nível individual), podemos considerar que a vida de
uma pessoa não é totalmente deinida pela socialização vivida na infância
e na juventude. Ao longo da vida, as pessoas podem irar parido da
educação que receberam, alterar os seus comportamentos e aprender
novos conhecimentos. Mas estas aprendizagens dependem muito das
oportunidades que a sociedade dá às pessoas para as fazerem. Por outro
lado, as pessoas que pertencem às classes economicamente desfavorecidas
coninuam, em grande parte, a ser excluídas destas oportunidades.
No segundo caso (nível coleivo), a educação não pode ser vista apenas
como uma adaptação das gerações mais novas ao que foi deixado pelas
gerações anteriores. Os grupos humanos, de uma forma coleiva, também
vão criando novos conhecimentos, com os quais vão organizando a vida
das suas sociedades. Surgem ideias novas, que permitem saber melhor
como é que os grupos podem agir sobre a realidade e relacionar-se uns
com os outros.

Educação, conhecimento e desenvolvimento pessoal e social | 97


Apesar deste conjunto de críicas, a deinição de Durkheim ainda hoje
A educação formal e não
formal também se relaciona coninua a ser úil para compreendermos melhor o que é a educação.
com a transmissão de um
património de uma geração
Esta também consiste na transmissão de um património cultural de uma
mais velha para uma geração geração mais velha para uma geração mais nova. Os mais velhos vão
mais nova.
morrendo e têm de ser subsituídos pelos mais novos. Por isso, para que
esta subsituição aconteça, os comportamentos, as crenças, os valores, os
conhecimentos e as tecnologias existentes têm de ser transmiidos entre
gerações. Se esta transmissão não for feita, através da educação – formal
As aprendizagens são e informal –, o que já está aprendido é perdido. Um grupo social pode
conínuas ao longo da vida.
então desaparecer por causa desta perda.
De uma certa maneira, este foi um dos problemas com o qual Timor-
Leste se confrontou durante a ocupação indonésia. A Indonésia passou
a controlar o sistema de educação formal (ensino e aprendizagem nas
escolas), impondo os seus valores e conhecimentos. Mas, os imorenses,
por sua vez, coninuaram a controlar, em grande parte, a socialização das
crianças e jovens nas comunidades locais (educação informal).
No contexto de Timor-Leste, a Restauração da Independência e a
democracia abriram o caminho para fortes mudanças sociais. No caso das
mudanças educaivas, surge a tendência para a universalização (levar
todas as crianças e jovens imorenses a frequentar a escola e a concluírem
os seus estudos), que passou para nove anos de escolaridade. A cultura
escolar passou a ter muito mais importância, do que inha anteriormente,
na socialização das crianças e dos jovens. No entanto, mantem-se uma
cultura que não foi criada pela escrita, ou pela escola – rituais, mitos e
Os imorenses maniveram sempre, outras memórias coleivas –, que coninua a ser ensinada e aprendida nas
através da educação não formal, a
transmissão das suas tradições culturais comunidades. Assim, as duas formas de cultura – escolar e não escolar –
às novas gerações
coninuam presentes na sociedade imorense.

Aividade
Lê, com atenção, o texto seguinte:
O avanço da economia e do conhecimento faz com que o saber escolar seja
muito importante para a socialização das crianças e jovens imorenses, o
desenvolvimento do país e o bem-estar da população. Mas, paralelamente
a este saber, há um outro saber nas comunidades que foi feito fora dos
programas escolares, mas que coninua a ser também muito importante para
esse mesmo processo de socialização e o futuro da sociedade imorense.

Concordas com as ideias que estão expostas neste pequeno texto? Discute o
texto com os teus colegas e professor.

98 | Educação e formação
3.2 Educação escolar no desenvolvimento cogniivo, moral
e social
A noção de desenvolvimento signiica a existência de uma mudança
Desenvolvimento
conínua numa sociedade ou numa pessoa. Pode ser uma mudança global Mudança conínua, total ou parcial,
(a sociedade e a pessoa como um todo) ou parcial (só a uma parte da numa sociedade ou numa pessoa.

sociedade ou da pessoa). Em geral, a educação escolar tem como objeivo


principal levar a um conjunto de mudanças posiivas e duráveis nas
sociedades e nas pessoas. Nesta parte, vamos analisar apenas a inluência
da educação escolar no desenvolvimento cogniivo, moral (e, também,
emocional) e social das pessoas.
• Desenvolvimento cogniivo. As mudanças no desenvolvimento Desenvolvimento cogniivo
cogniivo dizem respeito à informação, ao pensamento, à criaividade, à Mudanças no pensamento,
compreensão e à forma como as pessoas resolvem problemas (ligados às criaividade, compreensão e na forma
como as pessoas resolvem problemas
matérias escolares e às situações do dia a dia). A educação escolar ensina o (assuntos escolares e situações
do dia a dia). Estas mudanças
aluno a pensar e a aprender a lidar com este conjunto de aspetos. Para isso, vão acontecendo à medida que a
parte do princípio que pode inluenciar posiivamente o desenvolvimento idade das crianças e dos jovens vai
avançando.
conínuo do aluno, mas por fases, de acordo com as idades. Às idades
mais baixas correspondem formas mais simples de desenvolvimento do
pensamento e da capacidade de aprender. Estas formas vão-se tornando
mais complexas à medida que a idade avança. É por esta razão que a cada
ciclo escolar – educação pré-escolar, ensino primário e ensino secundário
– corresponde um grupo de idades nas crianças e nos jovens (por exemplo,
como vimos antes, o ensino primário é dirigido às crianças dos 5-6 aos
9-10 anos de idade).
Para a Sociologia, os contextos sociais e culturais são muito importantes
para a promoção do desenvolvimento cogniivo. Em princípio, todas as
crianças e jovens aprendem assuntos adaptados à sua idade. Porém,
isso pode acontecer segundo ritmos diferentes. Esta diferença está
relacionada com aspetos ligados ao crescimento – maturação biológica e
psíquica – e sociais. Neste úlimo caso, é importante, por exemplo, o ipo
de experiências e de interações sociais das crianças e dos jovens na sua
família e comunidade.
• Desenvolvimento moral. As mudanças no desenvolvimento moral Desenvolvimento moral
dizem respeito à forma como as crianças e os jovens (e os adultos) lidam Forma como as crianças e os jovens (e
com as regras, valores e princípios da sua sociedade. Entre estes está os adultos) vão lidando com as regras,
valores e princípios que existem na
a forma como cada um vê a jusiça individual, a jusiça social e os seus sociedade (respeito pelas outras
pessoas, solidariedade, tolerância,
direitos e deveres sociais. As emoções também fazem parte dos processos etc.).
de desenvolvimento moral – ser capaz de valorizar as outras pessoas, de

Educação, conhecimento e desenvolvimento pessoal e social | 99


comunicar com elas e de lidar com as normas de convivência social. A
família, a comunidade, a escola e os professores inluenciam esta forma
de desenvolvimento das pessoas.
• Desenvolvimento social. A educação escolar também produz mudanças
Desenvolvimento social
Forma como as crianças e jovens ligadas à forma como as crianças, os jovens (e, também, os adultos) lidam
(e adultos) compreendem e lidam com as outras pessoas e grupos. Ou seja, a forma como compreendem (e
com os senimentos, pensamentos,
emoções e intenções das outras sentem) os seus pensamentos, emoções e intenções. Podemos dizer que
pessoas.
o desenvolvimento social corresponde a um conjunto de capacidades e
competências sociais aprendidas pelas pessoas na escola e fora da escola.
São estas capacidades e competências que ajudam as pessoas a situar-se
melhor na sociedade, do ponto de vista económico, políico, social e
cultural.

Aividade
Lê, com atenção, o texto seguinte:
Não sei se o valor que os imorenses atribuem ao respeito, como base das
relações sociais, resisirá muito tempo aos efeitos da globalização, à qual,
a independência que eles tanto procuram, veio abrir as portas. É provável
que a eicácia social desse valor dependa do prolongamento de estruturas
próprias das sociedades tradicionais, isto é, de sociedades de evolução lenta,
fortemente marcadas por relações inspiradas nas estruturas de parentesco.
Sendo assim, é de esperar que a vida moderna acabe por destruir, mais tarde
ou mais cedo, sobretudo nas cidades, o que circunstâncias muito especiais
preservaram no resto de Timor, até aos nossos tempos.

Adaptado de Matoso J. (2005). A Dignidade, Konis Santana e a Resistência


Timorense. Lisboa: Temas & Debates.

Na tua opinião, o autor tem razão em recear que valores tradicionais


da sociedade imorense, como o respeito, possam ser destruídos pela
globalização económica e pela modernização de Timor-Leste? Discute esta
questão com os teus colegas na aula.

3.3 A educação escolar no desenvolvimento das comunidades


locais e da sociedade
A escola não é uma insituição estáica. Ao longo dos tempos foram
surgindo mudanças no seu interior. Uma delas relaciona-se com a ideia
de que a educação escolar pode contribuir para mudanças nos seus
contextos locais.

100 | Educação e formação


Quando falamos de desenvolvimento local não estamos apenas a falar do
A educação escolar ajuda ao
seu lado económico. Referimo-nos a todos os aspetos sociais e culturais desenvolvimento cultural,
social e económico das
presentes na vida de uma comunidade. Deste modo, a ação da escola
comunidades locais.
pode chegar à comunidade onde está inserida. Ela tem, igualmente, um
papel importante na formação dos próprios membros da comunidade.
Estes, por sua vez, podem ajudar a escola a tomar decisões.
Nesta perspeiva, é muito posiivo que a ação educaiva da escola se
estenda à comunidade local. Ao fazer isto, a escola transforma-se num
agente de desenvolvimento local. Há muitas vantagens nesta situação:
a ajuda ao combate ao insucesso e abandono escolar; a valorização das
comunidades locais, através do estudo e recuperação do seu património
cultural e social (os seus saberes, a sua forma de viver, etc.); a ajuda ao
combate ao isolamento, em especial nas zonas rurais; e a contribuição
para um desenvolvimento local mais justo e equilibrado.
Do mesmo modo, ao abrir-se mais à comunidade, a escola passa a
ter, igualmente, um papel importante na educação não formal. Pode
apresentar projetos educaivos e de formação para as comunidades. Pode,
também, cooperar com insituições e autoridades locais em aividades de
desenvolvimento económico, social e cultural. Exemplos desta cooperação
são a educação para a saúde e a educação para a preservação do meio
ambiente.
Em resumo, a valorização do papel da escola na comunidade permite
beneiciar as duas: através da ação dos professores e dos alunos, as escolas
passam a conhecer melhor as regiões onde estão inseridas; por sua vez,
os membros da comunidade aprendem também mais com a escola.

A escola pode contribuir para o desenvolvimento da comunidade

Educação, conhecimento e desenvolvimento pessoal e social | 101


Aividade
Lê, com atenção, o texto seguinte:
Paricipação dos pais e da comunidade (na escola) (Resolução 3/2007 do
Governo imorense)
A escola existe na, e é uma parte integrante de, uma comunidade. Educa
os ilhos e as ilhas dos membros da comunidade e estes beneícios servem,
não só as crianças, mas também os seus pais e a sua comunidade. Assim,
o envolvimento dos pais, avós, vizinhos e líderes da comunidade é muito
importante para ajudar a desenvolver uma educação robusta que ainja os
seus máximos beneícios. Os princípios orientadores enfaizam o facto de
que os pais, juntamente com os professores e diretores das escolas, sejam os
verdadeiros líderes e proprietários da escola. A educação em Timor-Leste irá
tomar todas as medidas possíveis para assegurar o envolvimento dos pais na
educação.
Com o desenvolvimento da democracia, a paricipação dos pais não
é somente um aspeto da aplicação da democracia, mas é também
uma forma de ensinar conceitos de paricipação democráica.
A paricipação incide em assuntos como a manutenção da escola, proteção
dos ediícios, reparações, aividades extracurriculares, tais como o programa
“Refeição Escolar” nas escolas, o desporto, e questões culturais, em paricular
o canto. No futuro, espera-se incluir a ideniicação de questões relacionadas
com a qualidade da educação e o desenvolvimento de planos de ação para
lidar com essas questões.

Este texto é reirado de uma Resolução do Governo, em 2007, na qual se


procura esimular a paricipação dos pais na vida das escolas. Após a sua
leitura, responde às seguintes questões, no teu caderno:
1. Consideras que esta paricipação beneicia a escola?
2. Consideras que beneicia também as comunidades onde a escola está
situada? Discute as tuas respostas com os teus colegas e professor.

3.4 Educação não formal


O sociólogo francês Pierre Bourdieu dizia que, para além da educação
Educação não escolar
escolar, a Sociologia devia estudar, também, a educação não escolar.
Aprendizagens feitas na comunidade,
de forma mais informal ou através Este estudo é importante para percebermos melhor os problemas da
de aividades organizadas fora do
contexto da escola. própria educação formal, em especial o insucesso e o abandono escolar.
Quanto mais a educação não escolar for desenvolvida, mais aumentam as
possibilidades de estes problemas sociais diminuírem.

102 | Educação e formação


Já ínhamos dito atrás que a educação não escolar, ou não formal, pode
ser ideniicada com as aprendizagens feitas na comunidade, durante
os processos de socialização dos jovens e crianças. Vamos acrescentar
agora outra ideia a essa deinição: a educação não escolar é, também,
consituída por um conjunto de aividades organizadas fora dos contextos
escolares (da escola formal). Em geral, estas aividades têm os seguintes
principais objeivos:
• Promoção da educação básica de populações que, por razões sociais,
culturais e económicas: 1) não puderam frequentar a escola formal (ou às
quais não foram dadas oportunidades de escolarização); 2) frequentaram
a escola, mas não iveram possibilidade de completar alguns dos seus
ciclos (ensino primário, escolaridade básica ou o ensino secundário).
• Promoção da formação (conínua) para populações que completaram a
escola formal, mas que necessitam de aprofundar as suas capacidades e
competências, por razões proissionais ou outras.
• Desenvolvimento de programas não escolares (frequência de bibliotecas,
museus, outras aividades organizadas por associações, etc.) que ajudem
a combater o insucesso e o abandono escolar.
• Uso dos meios de comunicação (rádio e televisão) para a divulgação
pelas populações, principalmente em zonas rurais mais isoladas, de
programas de educação em diferentes áreas (saúde, culturas locais, etc.).

Educação, conhecimento e desenvolvimento pessoal e social | 103


As aividades de educação não formal são diíceis de desenvolver nas
escolas (embora também possam ser realizadas aí). Em muitos casos,
trata-se de uma educação mais práica, ligada à vida quoidiana das
populações.

Aividade
Lê, com atenção, o texto seguinte:
Alguns países na Ásia e no Pacíico têm uma larga experiência em programas
de educação não escolar (ou não formal). A UNESCO fez, numa reunião em
Banguecoque, uma análise da situação em 13 desses países (Bangladesh,
Butão, India, Indonésia, Cazaquistão, Laos, Mongólia, Nepal, Sri Lanka,
Filipinas, Tailândia, Uzbequistão e Vietname). As conclusões a que chegaram
foram as de que devia ser promovido o potencial humano das populações,
com o objeivo de as ajudar a lidar com as necessidades, desaios e situações
do dia a dia, assim como apoiá-las em mudanças que pudessem melhorar as
suas vidas. Os programas desenvolvidos em alguns desses países centram-
se na formação proissional, em especial nas seguintes áreas: agricultura,
educação para a saúde, prevenção de doenças, saúde infanil, consciência
civil, éica e social e igualdade de género.

Adaptado de UNESCO Oice Bangkok & Regional Bureau for Educaion in Asia
and the Paciic (2012). Regional handbook on life skills programmes for non-
formal educaion. Bangkok: UNESCO.

Responde às seguintes questões, no teu caderno:


1. Quais são as principais conclusões gerais da UNESCO reiradas da reunião
realizada em Banguecoque?
2. Quais os principais programas de educação não formal que têm sido
desenvolvidos pelos países analisados pela UNESCO?

104 | Educação e formação


RESUMO

Segundo Durkheim, a educação é a ação exercida pelas gerações mais


velhas sobre as gerações mais novas. É, assim, a socialização planeada
das gerações mais jovens. Mas, as pessoas também podem aproveitar,
individualmente, a educação escolar que receberam, não sendo totalmente
determinadas pela sua socialização anterior. Também as gerações mais
novas, ao nível coleivo, vão criando saberes e conhecimentos novos. Não
se adaptam apenas ao que foi deixado pelas gerações anteriores.
No caso de Timor-Leste, a Restauração da Independência abriu o caminho
para o desenvolvimento da educação escolar (formal) e não-escolar (não-
formal). A cultura escolar passou a ter muita importância na sociedade
imorense. Mas, as tradições culturais do povo imorense coninuaram
a manter-se. Estas duas formas de cultura – escolar e tradicional –
coninuam, assim, presentes na sociedade imorense.
A educação escolar tem como objeivo principal promover o
desenvolvimento cogniivo, moral e social das pessoas. A educação
escolar tem, também, um papel muito importante no desenvolvimento
social e económico das comunidades locais e da sociedade. A escola
pode transformar-se, assim, num agente do desenvolvimento local, para
além de nacional. Neste senido, a escola pode contribuir: para ajudar a
combater o insucesso e abandono escolar; para recuperar e valorizar o
património cultural das comunidades locais; para combater o isolamento
das comunidades, principalmente as rurais; e para promover um
desenvolvimento local mais justo e equilibrado.
A educação não formal (aprendizagens feitas fora do contexto escolar
formal) tem, também um papel central no desenvolvimento das
comunidades. Este ipo de educação pode ser feito com base em aividades
organizadas e apoiadas pelos Estado ou por outras organizações, com por
exemplo as Organizações Não Governamentais. Os principais objeivos
destas aividades são os seguintes: promover a educação básica das
pessoas que não puderam ir à escola ou a abandonaram; completar
a formação recebida na escola pelas pessoas; combater o insucesso
e o abandono escolar; contribuir para a educação e para a saúde das
populações; promover a preservação e o desenvolvimento do património
cultural de cada comunidade e da sociedade, etc.

Educação, conhecimento e desenvolvimento pessoal e social | 105


EXERCÍCIOS

A - Escreve, no teu caderno, a opção mais correta (apenas uma).


1. Educação e socialização
a) Na educação não formal, as principais aprendizagens são feitas na
escola, com base no ensino.
b) Na educação formal, as principais aprendizagens são feitas fora da
escola, na comunidade, com base na transmissão de conhecimentos dos
mais velhos.
c) A vida de uma pessoa é determinada pela socialização que recebeu
quando era criança ou jovem.
d) Os grupos humanos também criam novos conhecimentos e novas
ideias, com os quais vão organizando a vida nas suas comunidades locais
e sociedades.
2. Educação escolar e o desenvolvimento cogniivo, moral e social
a) A escola não contribui para as pessoas aprenderem a pensar e a
compreender a realidade.
b) O desenvolvimento moral não é importante para a vida das sociedades.
c) A escola não ensina as pessoas a lidar com as outras pessoas e com
diferentes situações sociais.
d) A noção de desenvolvimento signiica a existência de uma mudança
(global ou parcial) numa pessoa ou numa sociedade.
3. Educação escolar e desenvolvimento das comunidades
a) O desenvolvimento local está ligado apenas à ideia de desenvolvimento
económico.
b) O desenvolvimento de projetos educaivos e de formação dirigidos à
comunidade local não é uma questão que diga respeito à escola.
c) A escola não tem nenhuma vantagem em colaborar com as comunidades
locais.
d) A colaboração da escola com a comunidade beneicia os professores
e os alunos e contribui, também, para que os membros da comunidade
aprendam mais com a escola.

B - Em geral, a quem se dirigem mais os programas de educação escolar


na região da Ásia/Pacíico?

106 | Educação e formação


4 Educação, economia e sociedade do conhecimento

4.1 Ligação entre educação e economia


Como já vimos, a educação escolar contribui para a reprodução da
sociedade. Mas, ao mesmo tempo, contribui, igualmente, para a sua
renovação. Quer dizer, a educação recebida na escola serve para transmiir
e manter os hábitos, costumes e tradições de uma dada cultura. Mas, não
se limita a esta função. Ela também consitui um meio muito importante
de renovação da vida e da organização da sociedade. Neste senido,
podemos dizer que a educação escolar ajuda a promover mudanças
dirigidas à melhoria da vida nas comunidades locais e da sociedade em
geral.
Há, no entanto, opiniões diferentes sobre estas funções e o lugar que a
escola ocupa na sociedade. Na verdade, têm surgido diversas respostas à
seguinte pergunta: para que serve a educação na sociedade?
Na perspeiva humanista, a educação é entendida como um elemento
O Humanismo surgiu nos
importante para a formação do ser humano, como pessoa. A educação é, séculos XIV e XVI na Europa.
Para o Humanismo, o ser
nesta perspeiva, um meio para promover a liberdade individual e coleiva.
humano é o centro de todas
A educação dos seres humanos é vista como um im em si mesmo e não as explicações. De acordo
com esta perspeiva, todas as
como um meio para aingir um im. pessoas têm dignidade e valor
Ao promover o desenvolvimento individual e social dos seres humanos, e devem respeitar os seus
semelhantes, dando-lhes as
a educação permite, também, que as pessoas possam paricipar mais mesmas oportunidades.
aivamente na construção e melhoramento da sociedade. Para os
humanistas, isto é conseguido porque a educação contribui para que as
pessoas se tornem capazes de releir e agir, de uma forma mais críica,
sobre a realidade que as rodeia.
Nos úlimos anos surgiu uma nova perspeiva sobre a educação, que
se tem tornado dominante na sociedade. Esta perspeciva afasta-se da
ideia de que a educação tem como principal objeivo o desenvolvimento
pessoal e social, defendendo que a sua função deve ser a de desenvolver os
sistemas produivos e a economia. As pessoas deveriam, principalmente,
ser educadas e formadas para o trabalho, com o objeivo de ajudar a
economia a crescer. Assim, não seria importante ensinar as pessoas a
pensar de forma críica, mas sim ensiná-las a realizar determinadas tarefas
e a prepará-las para uma determinada proissão.
Nesta perspeiva, a que poderemos chamar economicista, a melhor
Na perspeiva económica,
forma da educação ajudar ao desenvolvimento da sociedade é servindo a educação deve estar ao
serviço da economia.
de apoio ao desenvolvimento económico. A educação não é um im em
si mesmo, mas, antes, um meio para desenvolver a economia. Deste
modo, no sistema educaivo tudo deveria estar adaptado ou ao serviço da
economia. Por exemplo, os currículos escolares deveriam estar ajustados
às necessidades do mercado de trabalho.

Educação, economia e sociedade do conhecimento | 107


Praicamente todos os economistas, desde os mais anigos até aos mais
contemporâneos, concordam com a ideia de que a educação é importante
para o desenvolvimento económico. Mas, só depois da Segunda Guerra
Mundial, nos anos de 1960 e 1970, é que se começaram a desenvolver
estudos sobre os efeitos da educação no desenvolvimento da economia.
Teoria do Capital Humano
É nesta altura que surge a Teoria do Capital Humano. Nesta teoria, o
Teoria que considera o trabalho
fator humano era tão ou mais importante para a economia que o capital
como um ipo de capital, a que económico e tecnológico. A educação devia ser vista como um invesimento
chamam humano. Quanto maior for
a educação e qualiicação do capital
pelas vantagens que trazia para as pessoas e para a sociedade.
humano maior será a sua produção e Ao estudarem o desenvolvimento de algumas economias ocidentais, estes
a riqueza económica de um pais.
economistas airmavam que o que jusiicava o aumento da riqueza não
era o desenvolvimento tecnológico. Era, antes, o invesimento no ensino.
O aumento da educação e da qualiicação dos trabalhadores permiia
um aumento da produividade. Concluíram, assim, que quanto mais um
país investe na educação, mais oportunidades tem de desenvolver a sua
economia.
A expressão sociedade do conhecimento surgiu para classiicar as
Sociedade do conhecimento
sociedades que usam o conhecimento como fator de produção. Podemos
Resulta do desenvolvimento das
tecnologias e da globalização. O dizer que, nas sociedades pré-industriais ou agrárias, o meio de produção
conhecimento é considerado como
privilegiado era a terra. Nas sociedades industriais era a fábrica. Mas,
um fator de produção e a maioria dos
empregos concentram-se nos serviços. atualmente, nas sociedades economicamente mais desenvolvidas,
o principal fator de produção passou a ser o conhecimento. É este
conhecimento que permite a inovação tecnológica, considerada como um
aspeto determinante para aumentar a riqueza de um país.
A sociedade do conhecimento resulta do desenvolvimento das tecnologias,
como a Internet, e da globalização das economias. Neste ipo de sociedade,
a maior parte dos empregos estão no comércio e nos serviços.

Aprofundar os conhecimentos
A sociedade do conhecimento é uma sociedade em que a maior parte

da produção e do emprego se concentra naquilo a que se chamou o setor
terciário. Neste setor destacam-se os serviços intensivos em conhecimento,
Desde o início do novo século (2000),
como os serviços de educação e saúde, serviços de informáica, entre muitos
começou também a ser dada uma outros. Mas é também um sistema económico em que a generalidade da
grande importância ao conhecimento aividade uiliza mais as tecnologias de informação e comunicação e se
como um fator fundamental para o
desenvolvimento da economia intensiica mais a inovação.
A esta evolução corresponde um grande aumento dos ‘trabalhadores do
conhecimento’. Estes podem vir a ocupar, na estrutura do emprego, a posição
dos operários da indústria, que, há décadas atrás, eram em maior número.
É também a economia em que, aquilo que chamamos capital humano, é a
principal fonte de riqueza e rendimento.
Adaptado de Murteira, M. (2004). Economia do conhecimento. Lisboa:
Quimera.

108 | Educação e formação


Aividade
No teu caderno, responde às seguintes questões:
1. Quais as diferentes perspeivas que conheces sobre as funções da educação
na sociedade?
2. Na tua opinião, a Teoria do Capital Humano contribuiu para a airmação da
perspeiva economicista sobre a educação?
3. O que entendes por sociedade do conhecimento?
4. Qual a principal razão que leva muitos estudiosos a airmar que a sociedade
devia valorizar os conhecimentos tradicionais?

4.2 Os saberes cieníicos e os saberes tradicionais


Quando falamos de sociedade de conhecimento temos por referência
a criação e aplicação do conhecimento cieníico. Este fenómeno
aconteceu, quase sempre, nos países ocidentais economicamente mais
desenvolvidos.
O conhecimento criado pela ciência é, no entanto, muito especíico.
Como já sabemos, o conhecimento da ciência tem de obedecer a algumas
caracterísicas - ser objeivo, claro, metódico, veriicável, sistémico, geral,
aberto, explicaivo, prediivo e racional. Estas caracterísicas afastam o
conhecimento cieníico do senso comum.
Nos úlimos anos, diversos estudiosos têm criicado a valorização excessiva
deste ipo de conhecimento em relação ao conhecimento tradicional.
Como referimos antes, o conhecimento tradicional é muito importante
para a vida das comunidades e dos seus membros. Ajuda a criar uma
idenidade pessoal e das comunidades e mantém a coesão social.
O conhecimento tradicional pode ser deinido como o conhecimento que
Conhecimento tradicional
é transmiido de geração em geração. Este conhecimento está incluído Cultura de um povo, que é transmiida
na cultura de um povo. Corresponde ao conhecimento do senso comum, de geração em geração. Corresponde
ao conhecimento do senso comum.
mas é determinante para assegurar a sobrevivência, equilíbrio e o
desenvolvimento das comunidades.
Alguns estudiosos defendem que a sociedade devia valorizar muito estes
conhecimentos tradicionais. Isto signiica que estes seriam não só uma
forma de airmar e respeitar as culturas locais, como poderiam melhorar
o conhecimento que temos sobre o mundo. Mais importante, ainda, essa
valorização poderia promover uma maior paricipação e envolvimento
das crianças e dos jovens na escola. Aprende-se melhor quando aquilo
que nos é ensinado está próximo da nossa realidade social e cultural.

Educação, economia e sociedade do conhecimento | 109


4.2.1 Os conhecimentos tecnológicos e locais
O desenvolvimento do conhecimento cieníico permiiu o aparecimento
de várias tecnologias cada vez mais complexas. Exemplos destas tecnologias
são as uilizadas na comunicação, como a televisão, os computadores, os
telemóveis e outras. Mas surgiram, também, outras tecnologias uilizadas
em vários domínios, como as máquinas agrícolas, as máquinas industriais,
Tecnologia os automóveis e até os eletrodomésicos, entre muitos outras que se
Aplicação práica de princípios uilizam no dia a dia. A tecnologia corresponde, assim, a uma aplicação
cieníicos.
práica de princípios cieníicos.
O modo como nos úlimos anos as tecnologias se desenvolveram levou a
que as pessoas começassem a pensar na tecnologia quase como qualquer
Os desastres promovidos pelo coisa mágica que signiicaria, sempre, desenvolvimento e progresso. Mas
desenvolvimento tecnológico
foram, inicialmente, a tecnologia não é sempre posiiva. Existem muitos exemplos dos seus
interpretados como acidentes efeitos negaivos. O exemplo mais conhecido destes efeitos negaivos é a
normais que seriam diíceis
de evitar devido à grande degradação do ambiente.
complexidade das tecnologias.
O conhecimento cieníico e a tecnologia surgiram há muitos séculos.
Porém, foi só na década de 1970 e 1980 que alguns desastres ecológicos
puseram em causa a ideia de que inham efeitos automáicos no progresso
das sociedades. A contaminação do ar e da água são dois dos problemas
importantes, quando falamos dos efeitos negaivos das tecnologias.
Também, neste caso, as pessoas que pertencem às classes sociais
economicamente menos favorecidas sofrem mais as consequências
negaivas dos efeitos das tecnologias, principalmente nos países em vias
de desenvolvimento. Isto acontece porque as pessoas têm menos acesso
à informação. Mas, também, porque têm menos oportunidade de viver
em meios sociais e ambientais mais protegidos.
Os primeiros sociólogos a analisar os efeitos negaivos das tecnologias
olhavam para eles como sendo ‘acidentes normais’. Isto é, como
acidentes que aconteciam naturalmente, e não podiam ser evitados,
devido à diiculdade em controlar a complexidade das tecnologias e do
seu uso. Por exemplo, os perigos representados pelas centrais nucleares
e pelos acidentes das plataformas petrolíferas, situadas no mar (e
também pelo naufrágio dos petroleiros), eram vistos como um mal
menor em comparação com o beneício que traziam para a energia (e
consequentemente para a economia).
Ulrich Beck (1944-)
É um sociólogo alemão professor de Mais tarde, outros sociólogos começaram a interpretar, de outra forma,
Sociologia na universidade de Munique
(Alemanha) e na London School of a relação entre tecnologia e sociedade. Tal é o caso de Ulrich Beck. Este
Economics (Reino Unido). sociólogo alemão caracterizou as sociedades desenvolvidas da atualidade

110 | Educação e formação


como sociedades de risco. A sociedade de risco corresponde a uma Sociedade de risco
sociedade em que a tecnologia distribui perigos por todas as categorias Sociedade assim deinida pela forma
como o perigo ainge todas as
da população. pessoas, como um efeito secundário
da tecnologia.
Numa sociedade de risco, o perigo não resulta apenas dos acidentes
tecnológicos, mas, também, dos perigos ambientais. Estes estão mais
espalhados por todo o mundo, sendo mais diíceis de prever que os
acidentes tecnológicos. Um acidente tecnológico corresponde, por
exemplo, à avaria de uma máquina. Porém, os desastres ecológicos
relacionam-se com a qualidade da água, da comida e do ar.

Expressões como o ‘efeito de estufa’, o ‘aquecimento global’, as ‘chuvas


ácidas’ e as ‘espécies em exinção’, traduzem problemas ambientais
resultantes do uso das tecnologias. Estes problemas são hoje muito
conhecidos em todo o mundo.

As consequências negaivas da aplicação das tecnologias têm conduzido a


Conhecimento indígena
uma crescente valorização dos conhecimentos locais. Estes conhecimentos Conhecimento especíico de uma
são, também, conhecidos como conhecimento indígena (alguns determinada cultura e sociedade,
sendo a base para a tomada de
autores também uilizam outras designações para alguns aspetos deste decisões, a nível local, sobre várias
aividades importantes para a
conhecimento, como, por exemplo, tecnologias locais ou conhecimento sobrevivência do ser humano.
tecnológico local). Embora os textos escritos sobre o conhecimento
indígena não apresentem uma deinição única do conceito, todos
ideniicam um conjunto de aspetos que permitem a sua caraterização.
O conhecimento indígena é especíico de uma determinada cultura e
sociedade. Ao nível das comunidades locais, ele é, muitas vezes, a base
para a tomada de decisões sobre a agricultura, saúde, educação, gestão
dos recursos naturais e outras aividades.

O conhecimento indígena é um património e um bem muito importante


para as populações mais pobres. A sua vida depende quase toda dos
saberes, apidões e técnicas de trabalho (na aividade agrícola, no
cuidar das lorestas, na pesca, no artesanato e outras) que foram sendo
transmiidas de geração em geração. Um bom exemplo desta transmissão
relaciona-se com a saúde. O conhecimento das propriedades das plantas
tem permiido às populações usarem o que a natureza lhes oferece para
sobreviverem. E isto acontece não só na alimentação, mas, também, na
cura de algumas doenças. Muitas empresas farmacêuicas têm procurado
usar estes conhecimentos para fabricar medicamentos, sem pagar nada
às comunidades locais que os descobriram.

Educação, economia e sociedade do conhecimento | 111


O conceito de conhecimento indígena está muito próximo do conhecimento
de senso comum ou tradicional. Assim, o conhecimento indígena é:
• Local – faz parte de uma determinada comunidade.
• Tácito – não é facilmente compreendido por quem não pertence à
comunidade e não conhece a sua cultura.
• Transmiido verbalmente – este conhecimento é passado de uns
membros da comunidade para outros e obido através da imitação e
repeição.
• Experimental – resulta das tentaivas realizadas no terreno.
• Mutável – o conhecimento está em constante mudança, sendo, ao
mesmo tempo, produzido e reproduzido, perdido e descoberto.

Nos úlimos anos, este ipo de conhecimento tem sido muito valorizado
pelas universidades e pelos cienistas, que o estudam para compreenderem
melhor o mundo que nos rodeia. Pretende-se usar este conhecimento
como forma de desenvolver e esimular o desenvolvimento local.
De uma forma geral, podemos dizer que atualmente há uma tendência para
que o conhecimento indígena seja tão valorizado como o conhecimento
tecnológico ou mesmo cieníico. A ideia é que todos paricipem na troca
global de conhecimento. Todas as populações ao mesmo tempo que
recebem conhecimento podem, elas próprias, também oferecer o seu
conhecimento aos outros. Os dois são igualmente válidos e valorizados.
Por isso defende-se, hoje, que o conhecimento local e tradicional, apesar
das suas caraterísicas pariculares, deve ser integrado nos currículos, no
ensino e nas aprendizagens escolares.

112 | Educação e formação


Aividade
Lê, com atenção, o texto seguinte e responde às questões, no teu caderno.
Ao longo da história dos seus diferentes povos, os imorenses criaram
numerosos saberes, a parir das suas experiências, e práicas sociais e
culturais. As técnicas tradicionais da agricultura, da caça, da pesca e da
uilização medicinal das plantas, fazem parte dessa criação. Também nela
se podem destacar o artesanato (tecelagem, olaria, ourivesaria, cestaria)
de grande valia, especialmente os tecidos (tais), assim como as esculturas
em madeira e as jóias em prata e ouro. A arquitetura também era muito
valiosa, apresentando variados ipos de casas segundo as regiões. Os rituais,
costumes, a música e as tradições orais consituem outro dos aspectos muito
importantes da cultura imorense desenvolvida ao longo dos tempos. Era
a transmissão, pelos mais velhos, desta cultura e hábitos sociais à geração
seguinte que consituía o único meio de aprendizagem das crianças e jovens
imorenses.
Em muitos países, ainda hoje, as aprendizagens das técnicas e oícios
tradicionais coninuam a ser importantes para a vida das famílias e das
comunidades, principalmente, as mais afastadas da educação escolar. Por
outro lado, alguns sociólogos e antropólogos defendem que muitas destas
aprendizagens devem ser valorizadas pela escola. O património cultural de
um grupo (e de um país) é, assim, mais bem preservado.

1. Que nome se dá ao conhecimento tradicional desenvolvido pelas


comunidades locais?
2. Na tua opinião este conhecimento é mais importante que o conhecimento
tecnológico?
3. Porque devia este conhecimento ser incluído na escola?

4.3 Educação e novas tecnologias da informação e da


comunicação
A sociedade do conhecimento está muito ligada à informação e ao
aparecimento das novas tecnologias da informação. Estas permitem
uma difusão muito rápida do conhecimento. Das novas tecnologias da
informação e da comunicação fazem parte os computadores mas também
outras tecnologias como as digitais móveis (telemóveis, smartphones e
tablets).

Educação, economia e sociedade do conhecimento | 113


As novas tecnologias da informação e da comunicação são hoje muito uilizadas nas
escolas.

Existem dois modos diferentes através dos quais as novas tecnologias da


informação e da comunicação estão ligadas à escola. A escola, ao mesmo
tempo, é inluenciada e inluencia as novas tecnologias da informação e
da comunicação.
A sociedade do conhecimento exige um uso cada vez maior das novas
tecnologias da informação e da comunicação. É na escola que estas se
aprendem. Para facilitar esta aprendizagem o número de computadores
que existem nas escolas têm tendência para aumentar. Mas, o uso destas

O número de computadores tecnologias nas escolas também permite facilitar a procura de informações
que existem nas escolas tem e conhecimentos, tornando as aprendizagens mais atraivas e, sobretudo,
tendência para aumentar.
mais acessíveis a todos.
Os professores podem, usando estas tecnologias, estabelecer contactos
com professores de outras escolas para trocarem ideias sobre o ensino.
Pelo seu lado, as crianças, os jovens e os adultos também podem ter
acesso às matérias das suas disciplinas (ou a outras) através destas novas
tecnologias. Conseguem recolher mais materiais para estudar melhor os
mais diversos temas e assuntos. Com as novas tecnologias, as escolas de
regiões mais isoladas têm possibilidades de contactar, mais facilmente,
com outras escolas e com outras pessoas que se encontram a uma
distância muito grande.
Porém, apesar destes beneícios, ainda não se conhecem totalmente os
efeitos das novas tecnologias sobre a educação. Alguns estudiosos mais

114 | Educação e formação


críicos dizem que as novas tecnologias podem contribuir para reforçar as Não há acordo entre os
estudiosos quanto aos efeitos
desigualdades sociais e educacionais. É verdade que o desenvolvimento das novas tecnologias na
da economia leva ao surgimento de mais postos de trabalho que fazem escola.

uso das novas tecnologias. Os que as souberem usar melhor também


estão mais preparados para conseguir estes empregos. Mas, nem todas as
pessoas têm as mesmas oportunidades de aprender a lidar com as novas
tecnologias. Por isso estão em desvantagem no mercado de trabalho.
Algumas escolas não possuem condições para ter computadores, o que
deixa os seus alunos também em desvantagem em relação a outras.
O desenvolvimento das novas tecnologias também pode reforçar as
diferenças entre países mais e menos economicamente desenvolvidos. É
nos países economicamente desenvolvidos que as novas tecnologias se
têm vindo a desenvolver mais, logo estes estão em vantagem em relação
aos outros.
Os estudiosos menos críicos, por sua vez, consideram que os computadores
não contribuem para aumentar as desigualdades mas, ao contrário, para
as diminuir. Dizem que com o uso de tecnologias digitais móveis (como,
por exemplo, os telemóveis) por um número cada vez maior de pessoas,
a questão que se coloca não é mais o acesso a estas tecnologias. É antes
a velocidade do acesso às redes de comunicação. Defendem que nas
escolas onde há poucos recursos, como livros, os computadores podem
servir para que mais alunos tenham acesso à sua leitura. Os programas de
aprendizagem à distância (conhecidos como e-learning), podem ajudar a
ultrapassar a diiculdade de alguns em se deslocar para ir à escola.

Aividade
Em grupo, com os teus colegas, faz um texto sobre as vantagens e desvantagens
do uso das novas tecnologias da informação e da comunicação na educação
escolar.

Educação, economia e sociedade do conhecimento | 115


RESUMO

Existem diferentes perspeivas sobre as funções da escola na sociedade.


As duas abordagens dominantes são a abordagem humanista e a
abordagem economicista. Na primeira, a educação é entendida como um
elemento importante para a formação do ser humano como pessoa. Na
segunda, considera-se que as pessoas devem ser educadas e formadas
para desenvolver trabalho que ajude a economia a crescer.
A Teoria do Capital Humano surge da tentaiva de perceber melhor a
inluência da educação na economia. Nesta perspeiva teórica, a educação
devia ser vista como um invesimento pelas vantagens que traz para as
pessoas e para a sociedade.
A sociedade do conhecimento carateriza as sociedades em que o
conhecimento é considerado como o principal fator de produção. Nestas
economias, a maioria dos empregos estão concentrados no setor terciário
e a inovação representa um fator importante no desenvolvimento
económico.
O desenvolvimento do conhecimento na sociedade está muito associado
a um ipo especíico de conhecimento – o cieníico. No entanto, o
conhecimento tradicional também é importante para melhorar o
conhecimento que temos sobre o mundo e, mais ainda, como forma de
airmar e respeitar as culturas locais.
O desenvolvimento do conhecimento cieníico permiiu o surgimento de
várias e complexas tecnologias. Mas a tecnologia não é sempre posiiva.
Existem muitos exemplos dos seus efeitos negaivos. Para Ulrich Beck, as
sociedades desenvolvidas da atualidade são sociedades de risco, porque
todas as categorias da população estão expostas aos efeitos negaivos da
tecnologia.
As consequências negaivas da aplicação das tecnologias têm conduzido a
uma crescente valorização do conhecimento local. Este conhecimento é,
também, conhecido como o conhecimento indígena.
De entre as tecnologias desenvolvidas são paricularmente importantes,
para a escola, as novas tecnologias da informação e da comunicação. Por
um lado é na escola que se aprende a trabalhar com estas tecnologias,
mas, por outro lado, elas são muito importantes para o funcionamento
da escola.

116 | Educação e formação


EXERCÍCIOS

Copia as seguintes frases para o teu caderno e escolhe a única opção


correta.
1. A perspeiva humanista sobre a escola considera que:
a) a escola serve para o desenvolvimento pessoal e humano dos alunos.
b) a escola serve para preparar os alunos para o mercado de trabalho.
c) a escola serve para melhorar as novas tecnologias.

2. A sociedade do conhecimento corresponde:


a) a uma sociedade onde a maioria trabalha na agricultura.
b) a uma sociedade onde a maioria trabalha na indústria.
c) a uma sociedade onde a maioria trabalha nos serviços.

3. A sociedade do risco corresponde a uma sociedade em que:


a) os marginais correm riscos.
b) os proissionais não correm riscos de adaptação ao emprego.
c) todas as pessoas em sociedade correm riscos que resultam do
desenvolvimento das tecnologias.

4. O conhecimento indígena é:
a) pouco importante e deve ser ignorado.
b) menos importante que o cieníico.
c) tão ou mais importante que o cieníico, devendo ser incluído na escola.

5. As novas tecnologias da informação e comunicação:


a) devem estar afastadas da escola.
b) são importantes para a escola.
c) só têm efeitos negaivos para a escola.

Educação, economia e sociedade do conhecimento | 117


UNIDADE TEMÁTICA 3

3 Governo e Políica
1 O conceito de Estado
2 Tipos de sistemas políicos
3 Estado-Nação e idenidade nacional
4 As organizações internacionais e a sua
inluência nas políicas nacionais

OBJETIVOS
No inal desta unidade temáica o aluno deve ser capaz de:
• Compreender os conceitos de nação e de Estado e analisar os
principais elementos que estão na base da sua existência.
• Conhecer os principais fatores que deram origem ao nascimento do
Estado-Nação nos países ocidentais.
• Ideniicar diferentes fatores e problemas na construção do Estado-
Nação em Timor-Leste.
• Reconhecer a complexidade da organização políica das sociedades
tradicionais, comparando-a com a organização do Estado moderno.
• Compreender as principais diferenças entre os regimes políicos,
formas e sistemas de governo.
• Conhecer o conceito de idenidade nacional e disinguir do conceito
de nacionalismo.
• Reconhecer a importância da idenidade nacional para a airmação
da soberania do Estado de Timor-Leste.
• Compreender o conceito de transnacionalidade, os seus diferentes
ipos e limites.
Unidade Temática 3 | Governo e Política

1 O conceito de Estado

1.1 O nascimento do Estado-Nação nos países ocidentais


A importância do estudo sobre o Estado
Ao longo do século XX, o Estado foi intervindo cada vez mais na organização
e na vida das sociedades. Atualmente, por causa da crise inanceira do
capitalismo, o Estado, pelo menos nos países ocidentais, tem tentado
diminuir esta intervenção, com o objeivo de reduzir as suas despesas.
Porém, a inluência do Estado nas sociedades coninua a ser muito forte,
principalmente em relação à:
• Intervenção direta na economia, através da construção de obras
públicas, como infraestruturas rodoviárias (estradas e caminhos),
elétricas (eletriicação), educaivas (escolas), saúde (hospitais), etc.;
• Intervenção indireta na economia (criação de leis sobre a organização
da economia e do trabalho);
• Organização da vida social ao nível da segurança (polícia, prisões) e
jusiça (tribunais);
• Organização da defesa do país (forças armadas);
• Organização dos serviços públicos orientados para o bem estar social
(educação, saúde, desemprego, etc.).

É por causa da sua forte influência nas sociedades que o Estado se tornou
Sociologia Políica
Área da Sociologia que estuda o
um importante tema de estudo na Sociologia. A área da Sociologia
poder, o Estado e o dever políico. onde este tema é mais tratado designa-se por Sociologia Políica. Para
A Sociologia Políica ajuda a
compreender os processos da decisão compreender melhor o que se passa atualmente, algumas das perguntas
políica. mais importantes a que a Sociologia tenta responder são as seguintes:
como é que o Estado surgiu? Como é que o Estado se foi tornando tão
importante para a vida das sociedades? Como é que o Estado atualmente
funciona e tem inluência sobre as pessoas?

120
Aividade
Responde às seguintes questões, no teu caderno:
1. Em que domínios da sociedade podemos veriicar a inluência do Estado?
2. Dá um exemplo da intervenção direta e outro da intervenção indireta do
Estado na economia.

O crescimento dos estados modernos


O crescimento do Estado moderno, até se tornar como o conhecemos
hoje, começou nos séculos XVIII e XIX na Europa, principalmente, após a
Norbert Elias (1897-1990)
Revolução Francesa (1789). Sociólogo alemão que estudou a relação
entre o indivíduo e a sociedade. O livro
Norbert Elias é um dos sociólogos que, com os seus estudos, nos ajuda a mais conhecido que escreveu chama-se
compreender melhor como é que estes Estados foram nascendo, até se “O processo civilizacional”.

tornarem Estados-Nação.

Procuramos agora definir o que é uma nação e mais à frente estudaremos


o conceito de Estado. Uma nação caracteriza-se pela ideia de pertença
Nação
a um grupo ou a uma cultura comum. Resulta, normalmente, de uma Resulta da ideia de pertença a um
sociedade que tem um passado comum e desejos parecidos em relação grupo ou a uma cultura.

ao presente e futuro (por exemplo, a liberdade, o bem-estar social, a


religião, etc.).

O conceito de Estado-Nação surgiu na Europa devido a um conjunto de


fatores importantes ideniicados por Norbert Elias: o fortalecimento do
poder central (dos governos), o território, o monopólio de cobrança de
impostos, o monopólio da força e o consenimento das populações.

• Fortalecimento do poder central. Anigamente, na Europa, os senhores


feudais e os condes, duques e príncipes inham poder sobre territórios
relaivamente pequenos. Pouco a pouco, o poder central dos estados A luta pela independência foi
fundamental para a criação do
(monarquias) foi aumentando e os poderes dos senhores feudais, Estado-Nação em Timor-Leste, como
mostrava a exposição do Museu da
situados no seu território, foram diminuindo pela força das guerras, entre Resistência em junho de 2012
outros fatores. Deste modo, o poder foi-se acumulando num só rei. Os
reis mais fortes (ou as monarquias) passaram a representar o Estado. A
parir da Revolução Francesa, no século XVII (1789), em muitos países,
as monarquias foram, pouco a pouco, sendo subsituídas por repúblicas.
Mas, ainda hoje, há países que têm reis ou raínhas, embora na sua maioria
exista democracia e os monarcas têm pouco poder, servindo apenas como
símbolo da unidade da nação.

Tipos de sistemas políticos | 121


• Território. O nascimento do Estado-Nação na Europa está relacionado,
igualmente, com o alargamento de territórios. Isto aconteceu através de
várias conquistas e anexações, mas, também, através da proclamação da
independência. Em geral, numa mesma zona geográica, as fronteiras dos
países foram sendo deinidas e reconhecidas pelos diferentes países entre
si.

• Monopólio da cobrança de impostos. Para poder pagar aos exércitos,


às polícias e às pessoas que trabalhavam na jusiça (juízes e outros
funcionários), os estados cobravam impostos. Eram os únicos que o
podiam fazer. Ninguém inha o direito de cobrar impostos por sua própria
conta. Assim, os estados começaram a ter a sua própria organização
administraiva. Esta inha um conjunto de funcionários especializados
para desenvolver estas tarefas. Podemos dizer, que foi esta situação que
deu origem à administração pública.

• Monopólio da força. À medida que o poder central nos reinos se foi


fortalecendo e as fronteiras dos países deinidas, os estados passaram a
ter exércitos mais organizados. Só os estados podiam declarar as guerras.
O monopólio da força também aconteceu em relação à polícia e à jusiça.
Só a polícia é que podia garanir a segurança interna (não podiam exisir
polícias privadas ou milícias). Este fenómeno é designado como monopólio
de coerção legíima - só a polícia ou o exército pode obrigar as populações
a fazer qualquer coisa em nome do Estado.

• Consenimento das populações. O nascimento do Estado-Nação só foi


possível com a aprovação das populações. Com o surgimento do Estado,
o chefe de família, ou de uma comunidade, deixa de ter autoridade, por
exemplo, para declarar uma guerra, ou para prender e julgar alguém por
roubo. Esta autoridade passa para o Estado, em nome da população que
representa. As populações (ou o povo em geral) aceitam que o Estado tenha
este poder em nome delas. Esta autorização, nos regimes democráicos,
decorre das eleições. Para se chegar a esta situação contribuíram muito
as alterações nos costumes dos povos. A violência privada diminuiu
(conlitos armados entre povos ou comunidades vizinhas, e a violência e
vingança exercidas pelas próprias mãos). As populações foram aceitando
que fossem os Estados a resolver estes conlitos.

122 | Governo e Política


Aividade
Responde às seguintes questões, no teu caderno:
1. Como é que surgiu o fortalecimento do poder central (centralização do
poder) nos estados?
2. Nos estados modernos qualquer pessoa ou grupo pode cobrar impostos,
declarar a guerra e fazer jusiça pelas próprias mãos?
3. O que entendes por consenimento das populações em relação às ações
do Estado?

1.2 A construção do Estado nos novos países: O exemplo de


Timor-Leste
Hoje, praicamente todo o território do planeta está dividido em Estados-
-Nação. Estes estados nasceram em momentos diferentes. Os primeiros,
Grande parte do planeta está
como se viu atrás, surgiram no Ocidente, na Europa e nas Américas (EUA,
dividido em Estados-Nação.
México e Brasil) nos séculos XVIII e XIX, embora em épocas diferentes.
Em geral, o nascimento destes estados esteve relacionado com a
descolonização dos países colonizadores europeus. Mas, também,
resultaram de questões diferentes como a exinção de estados que
exisiam antes, guerras políicas e lutas pela independência.

O conceito de Estado | 123


Timor-Leste foi um dos úlimos países a ver a sua independência
reconhecida pela ONU. Este reconhecimento surgiu em 22 de setembro
de 2002. O úlimo país a ser reconhecido foi o Sudão do Sul (em África)
em 14 de julho de 2011.
Após a primeira declaração de independência (1975) em relação à
ocupação colonial portuguesa, em 30 de agosto de 2001 realizou-se o
Timor-Leste foi um dos úlimos países a primeiro verdadeiro ato de soberania do novo país – as eleições para a
ser reconhecido pela ONU Assembleia Consituinte (ganhas pela FRETILIN).
Podemos considerar que a Assembleia Consituinte foi o primeiro órgão
eleito do novo Estado imorense. Deu origem ao Parlamento que preparou
a Consituição do país, aprovada a 22 de março. Em 14 de abril de 2001,
surgiu o segundo órgão eleito, com a eleição do Presidente da República.
Em 20 de maio, do mesmo ano, foi proclamada, oicialmente, em Díli, a
Restauração da Independência.

Aividade
Lê, com atenção, o texto seguinte:
[…] os heróis são aqueles cuja vida se prolonga na vida daqueles que
resolvem segui-los, como água que brota da mesma fonte, e coninua a
correr enquanto a memória esiver viva. Nesse contexto, a crença popular
exprime o senido profundo da morte e da vida oferecida pelo bem comum.
Deste ponto de vista, Konis (Santana), como Nicolau Lobato, como David Alex,
como Sabalae, como milhares de abnegados resistentes, em boa verdade não
morreram. Coninuam e coninuarão vivos, enquanto houver alguém capaz
de consagrar a sua vida à jusiça e à liberdade do povo de Timor. Mas a jusiça
e a liberdade nunca chegam ao im, nunca se realizam plenamente. Tem de
haver sempre alguém capaz de lutar por elas. Por isso os heróis não podem
morrer. Talvez seja esse o senimento profundo da frase que Konis escreveu
em grandes letras num dos baús em que guardava os seus documentos: “Hau
hanoin katak funu ka terus sei nafain” (“Creio que a luta e o sofrimento
nunca acabam”).

Adaptado de Matoso, J. (2005). A Dignidade, Konis Santana e a Resistência


Timorense. Lisboa: Temas e Debates.

A construção dos estados deu-se, frequentemente, através de conlitos.


Neste texto, o autor, referindo-se a alguns heróis da resistência imorense,
fala de alguns princípios fundamentais que, segundo ele, esiveram presentes
na luta pela criação da sociedade e do Estado imorenses independentes.
Escreve, também, em casa, um pequeno texto sobre o que desejas para o
futuro de Timor-Leste. Os textos de todos os alunos da turma podem, depois,
ser expostos na sala de aula ou na escola.

124 | Governo e Política


1.3 Deinições do conceito de Estado
Ao longo do tempo, as Ciências Sociais (Sociologia, Ciência Políica,
História, Antropologia, etc.) foram deinindo o conceito de Estado de uma
forma diferente.
Para uns, o Estado corresponde ao conjunto de órgãos que o consituem,
como por exemplo: o Presidente da República, o Governo, o Parlamento,
a Magistratura (juízes) e outros órgãos, de acordo com os países. Esta
deinição não é suiciente. Apenas dá conta de um dos aspetos do Estado,
relacionado com quem tem o poder de fazer e aplicar as leis. Por outro
lado, esta perspeiva também leva a que, por causa do grande poder
que o governo tem, se confunda o governo com o Estado. Os governos
vão-se sucedendo, em função dos resultados das eleições, mas o Estado
mantém-se como a insituição mais importante de um país.
Para outros cienistas sociais, o Estado não corresponde aos seus órgãos
de poder, mas é antes, uma insituição social, desinada a organizar um
país do ponto de vista políico. Entre estes, alguns dizem, também, que
esta organização protege as classes economicamente mais favorecidas
e contribui para a manutenção da exploração das classes mais
desfavorecidas. Se é um facto que isto acontece em muitos países, há
outros em que o Estado procura também promover mais igualdade social
entre as suas populações.
Apesar das críicas que podemos fazer a estas deinições, cada uma delas Estado
dá conta de uma parte da realidade do Estado. Deste modo, é possível Conjunto de formas de organização
deinir o Estado como um conjunto de formas de organização e de e de governo das sociedades, com
base num monopólio administraivo
governo das sociedades, com base no monopólio administraivo sobre sobre um território dentro de
fronteiras. Este monopólio é aceite
um território delimitado por fronteiras. Este monopólio assenta na Lei, pelas populações através das eleições
no controlo direto dos meios de segurança (polícia e forças armadas) e no (soberania popular).

consenimento das populações, manifestado através das eleições, no caso


dos regimes democráicos.
O poder que o Estado tem está dividido em três ipos:
• o poder execuivo, exercido pelo governo, que corresponde à
O poder do Estado está
legiimidade que este tem para deinir e executar as políicas para o país, dividido em três áreas:
legislaivo (parlamento),
de acordo com as leis existentes; execuivo (governo) e judicial
(jusiça/juízes).
• o poder legislaivo, exercido pelo parlamento, que corresponde à
deinição e aprovação das leis do país (só o parlamento é que pode
aprovar leis);
• o poder judicial, exercido pela magistratura, que corresponde às
decisões dos juízes sobre o uso correto das leis pelas pessoas, incluindo
os membros do governo e do parlamento.

O conceito de Estado | 125


Estes poderes são independentes uns dos outros. Todos, no entanto, só
podem ser exercidos obedecendo à Consituição (normalmente, feita
e aprovada por uma Assembleia Consituinte, eleita pelo povo). Mas,
também só podem ser exercidos em nome do povo, se forem por este
reconhecidos e consenidos. Isto supõe que as populações, através das
suas comunidades, das suas associações e dos seus cidadãos, sejam
exigentes com o Estado. Sem o reconhecimento, o consenimento e esta
exigência das populações, o poder do Estado não se jusiica e perde a sua
legiimidade.

Aividade
Lê, com atenção, os seguintes exemplos dos arigos 1º, 2º e 69º da Consituição
da República Democráica de Timor-Leste.

Arigo 1º (A República)
1. A República Democráica de Timor-Leste é um Estado de direito democráico,
soberano, independente e unitário, baseado na vontade popular e no respeito
pela dignidade da pessoa humana. [...]

Arigo 2º (Soberania e consitucionalidade)


1. A soberania reside no povo, que a exerce nos termos da Consituição.
2. O Estado subordina-se à Consituição e às leis.
3. As leis e os demais atos do Estado e do poder local só são validos se forem
conformes com a Consituição. [...]

Arigo 69º (Princípio da separação de poderes)


Os órgãos de soberania, nas suas relações recíprocas e no exercício das suas
funções, observam o princípio da separação e interdependência dos poderes
estabelecidos na consituição (execuivo/Governo; Legislaivo/Parlamento;
Judicial/Magistratura-Juízes).

Adaptado da Consituição da República Democráica de Timor-Leste.

Responde às seguintes perguntas, no teu caderno:


1. Quais os elementos mais importantes na deinição do conceito de Estado?
2. Qual a lei mais importante do Estado de Timor-Leste, elaborada pela
Assembleia Consituinte?
3. Em quem reside a soberania do Estado na República Democráica de
Timor-Leste?
4. Os poderes do Estado estão separados na República Democráica de Timor
Leste? Quais são esses poderes?

126 | Governo e Política


1.4 O Estado moderno: Elementos
Como vimos no princípio, o Estado moderno surgiu primeiro nos países
ocidentais, nos séculos XVIII e XIX. Podemos dizer que o Estado moderno
tem por base o desenvolvimento do capitalismo, o avanço das ideias sobre a
organização das sociedades, as revindicações de diferentes grupos sociais,
a separação da Igreja e o aparecimento de uma consciência nacional. O
poder que o Estado passou a exercer é um poder despersonalizado. Quer
isto dizer que a autoridade sobre a sociedade, antes exercida, em nome
pessoal, pelos chefes de família e das aldeias, pelos sacerdotes e pelos
reis, passou a ser da responsabilidade do Estado, que tem o poder em
nome de todos.
O Estado moderno é uma insituição que tem poder administraivo e legal
(dado pela Lei), independente das pessoas (e paridos) que o governam.
É um poder permiido por quem é governado. Esta situação permite ao
Estado organizar as suas aividades e agir legalmente em relação aos seus
cidadãos e a outras situações que são da sua competência.
Deste modo, o Estado moderno corresponde a uma organização políica.
Mas, esta é deinida e consenida pelo povo (soberania popular), através
dos seus representantes eleitos (como é o caso do Presidente da República
e das Assembleias Consituintes), e situada num determinado território.
Podemos considerar, assim, que os elementos mais importantes do
Estado moderno são os seguintes: a população, o território e os órgãos do
governo e da administração pública.
• População. A população, ou o povo, é o primeiro elemento do Estado.
O povo é o primeiro elemento
Não pode exisir um Estado sem população. Porém, nem toda a população do Estado. Entre outros
aspetos, exerce o seu poder
que vive num território de um país é considerada como um elemento do através das eleições.
Estado. Só as pessoas com a nacionalidade do país possuem determinados
direitos e deveres para com o Estado. A nacionalidade (ou a cidadania
nacional) é, em geral, deinida pela Consituição dos diferentes Estados.
No caso de Timor-Leste, é o arigo 3º da Consituição da República
Democráica que deine quem pode ser cidadão imorense.
• O território. Um Estado não existe sem território, com fronteiras
deinidas. O território é um espaço geográico com o qual um povo se
ideniica e que o une. É neste espaço que o Estado exerce a sua ação e
soberania. Mas, hoje, ele estende-se para além do solo delimitado em
terra. Inclui o mar à volta das costas maríimas (para os países que têm
mar), designadas como faixas de águas territoriais, assim como o mar
O povo é o primeiro elemento do
mais afastado (alto mar), até ao limite das plataformas coninentais (a Estado, exercendo o seu poder através
coninuação dos solos das costas, mas que estão debaixo de água). das eleições

O conceito de Estado | 127


O espaço aéreo de cada país e as embaixadas que estes têm nos outros
países fazem parte, igualmente, dos territórios controlados pelo Estado.
Como aconteceu em outros países, o Estado de Timor-Leste deiniu,
também, na sua Consituição (no arigo 4º), o território sobre o qual
exerce a sua soberania.

Aividade
Responde às seguintes questões, no teu caderno:
1. O Estado tem um poder dependente ou independente do povo?
2. Todas as pessoas que vivem num território de um Estado são cidadãos
desse Estado?
3. Um Estado pode exisir sem território?
4. Hoje, o poder do Estado exerce-se apenas sobre o solo de um território?

• Os órgãos do Estado e da administração pública. Uma população e um


território são elementos que, por si só, não são suicientes para consituir
um Estado. A estes dois elementos temos de acrescentar os órgãos de
soberania, que têm o poder e a autoridade políica para governar o
território e as populações, e a administração pública. Esta consitui um
elemento importante do Estado na execução das políicas e na aplicação
das leis e outras normas legais.

Em geral, os principais órgãos do Estado são centralizados, como por


exemplo: a Presidência da República (Presidente da República), o
Governo (Primeiro Ministro, Ministros e Secretários de Estado) e o
Parlamento (Deputados). No caso dos países organizados em repúblicas,
os órgãos centralizados são eleitos pelo povo. Já na situação dos países
com monarquias, os chefes máximos do Estado são reis ou rainhas, em
geral não eleitos, que desempenham o cargo em função da herança por
linhagem.

Campanha eleitoral referente às eleições legislaivas (Parlamento) de 2012

128 | Governo e Política


No caso de Timor-Leste, a hierarquia dos principais órgãos do Estado é a
seguinte: o Presidente da República, o Parlamento e o Governo.

Aprofundar os conhecimentos
Hierarquia do estado da RDTL segundo a Consituição

Presidente da República
Arigo 74º (Deinição)
1. O Presidente da República é o Chefe de Estado, símbolo e garante da
independência nacional, da unidade do Estado e do regular funcionamento
das insituições democráicas
[…]
Arigo 76º (Eleição)
1. O Presidente da República é eleito por sufrágio universal, livre, direto,
secreto e pessoal.
[…]

Parlamento Nacional
Arigo 92º (Deinição)
O Parlamento Nacional é o órgão de soberania da República Democráica
de Timor-Leste, representaivo de todos os cidadãos imorenses com poderes
legislaivos, de iscalização e de decisão políica.
Arigo 93º (Eleição e Composição)
1. O Parlamento Nacional é eleito por sufrágio universal, livre, direto, igual,
secreto e pessoal.
[…]

Governo
Arigo 103º (Deinição)
O Governo é o órgão de soberania responsável pela condução e execução da
políica geral do país e órgão superior da Administração Pública.
Arigo 104º (Composição)
1. O Governo é consituído pelo Primeiro-Ministro, pelos Ministros e pelos
Secretários de Estado
[…]
Arigo 106º (Nomeação)
1. O Primeiro-Ministro é indigitado pelo parido mais votado ou pela aliança de
paridos com maioria parlamentar e nomeado pelo Presidente da República,
ouvidos os paridos políicos representados no Parlamento Nacional
[…]
Arigo 107º (Responsabilidade do Governo)
O Governo responde perante o Presidente da República e o Parlamento
Nacional pela condução e execução da políica interna e externa, nos termos
da Consituição e da lei.

O conceito de Estado | 129


Parlamento Nacional de Timor-Leste Palácio do Governo

Como se vê no texto anterior, que contém alguns arigos da Consituição da


República Democráica de Timor-Leste, os principais órgãos do Estado têm
o poder de decidir sobre as leis e as políicas, em representação do povo
imorense. Estas decisões referem-se a vários aspetos da organização da
sociedade imorense muito importantes para assegurar a independência,
a segurança e a jusiça no país – a organização das forças armadas, das
forças de polícia e da magistratura (juízes).

Aividade
A igura anterior ilustra os principais órgãos de representação do povo e de
soberania da República Democráica de Timor-Leste (RDTL). Mas há outros
órgãos do Estado imorense que são importantes para o funcionamento do
Estado e da sociedade.

Consulta a Consituição da RDTL e regista no teu caderno, com base no quadro


a seguir, a composição e as responsabilidades de alguns desses órgãos.

Outros órgãos importantes da RDTL Composição Responsabilidades

Conselho de Estado
Procuradoria-Geral da República

130 | Governo e Política


1.5 A Antropologia e a questão do Estado: A organização
políica das sociedades ‘tradicionais’
As noções que as Ciências Sociais foram criando para estudar a maneira
como as sociedades se organizam adaptavam-se, principalmente, às
situações dos países ocidentais. Mais diícil era a aplicação destas noções
às sociedades pré-industriais, ou agrárias, como foi o caso das sociedades
pré-coloniais (sociedades existentes antes da colonização pelos países
ocidentais). Nestas sociedades, o poder políico estava organizado de
forma diferente.
Foi esta diferença que levou a Antropologia a tentar encontrar outras noções
e modelos para estudar os aspetos políicos das sociedades tradicionais.
Com este objeivo, surgiu nos anos de 1940, uma área especializada da
Antropologia: a Antropologia Políica. Esta área especializada procurou
Antropologia Políica
estudar a diversidade da organização políica e das insituições sociais. Estuda a organização políica das
Apresentam-se, de seguida, exemplos de formas de organização políica sociedades tradicionais.

deinidos pela Antropologia Políica:


• Pequenas sociedades (25 a 150 pessoas). Eram sociedades consideradas
como tendo uma organização social mínima. Os seus aspetos políicos
coincidiam com as relações de parentesco, as quais asseguravam a sua
coesão social. Em geral, eram sociedades nómadas consituídas por um
ou mais grupos de familiares (podiam ter um determinado território).
• Sociedades com poder políico disperso. Estas sociedades não
inham insituições políicas centralizadas. Quem mandava mais e inha
mais autoridade era um membro escolhido entre os chefes de família,
representando o grupo: o mais velho (considerado mais sábio). Por vezes,
pertencia a um conselho dos mais velhos. O seu poder era considerado
como uma herança dos antepassados. As linhagens (descendência da
família) surgiam, assim, como o elemento mais importante da organização
políica destas sociedades. Mas estas também inham um território, à
volta do qual se uniam os seus membros e em relação ao qual seniam
obrigações. Por outro lado, podiam estar hierarquizadas por grupos de
idades (grupos consituídos por membros com mais ou menos a mesma
idade). As crianças, os jovens e os jovens adultos necessitavam de passar
por rituais de iniciação para serem aceites no grupo de idade superior.
Hoje ainda existe este ipo de sociedade.
• Sociedades organizadas em chefatura. Eram sociedades com uma
autoridade centralizada e com uma administração e insituições
judiciárias. A autoridade centralizada representava o grupo nas decisões

O conceito de Estado | 131


coleivas. Tinha como base o parentesco, o presígio social e as forças do
sagrado (poder ligado aos antepassados míicos do grupo). Conforme
a cultura, os chefes eram designados por herança (ítulo hereditário),
nomeados ou eleitos. Estas sociedades viviam num território delimitado,
que consideravam como seu. Faziam trocas entre si e, por vezes, entravam
em conlito umas com as outras, quando inham de ser pagos tributos e
redistribuídos bens.
• Sociedades organizadas em estados. Alguns reinos em África estavam
organizados de tal maneira que podiam ser designados como estados.
Tinham um governo centralizado e uma hierarquia administraiva.
Também exerciam a sua soberania sobre um determinado território.

A colonização alterou muito a organização políica das sociedades pré-


coloniais. As formas anigas de poder foram transformadas. Tal aconteceu,
igualmente, com a inluência dos estados modernos nos novos países
independentes. Desapareceram, em parte, as formas tradicionais de
organização políica. Muitos dos aspetos desta organização passaram
para as novas administrações coloniais e pós-coloniais (estruturas
dos estados independentes). A ideia ocidental de Estado tornou-se
dominante. O presígio dos chefes tradicionais foi afetado, devido ao seu
enfraquecimento económico. O seu poder tornou-se menos sagrado,
assim como diminuiu o seu papel de árbitros na comunidade. Porém, há
vários países em que coexistem os dois poderes: o poder tradicional e o
poder do Estado moderno.
No caso de Timor-Leste, aos sucos e aos seus conselhos (dos Katuas ou
outros) foi reconhecida alguma autoridade para resolver questões locais.

132 | Governo e Política


O Estado imorense reconhece e valoriza as normas e os usos costumeiros
(arigo 2º, nº 4 da Consituição), embora só quando estes não vão contra
a Consituição e as leis que venham a ser aprovadas sobre esses mesmos
costumes.

O poder tradicional coninua a ser usado e reconhecido em Timor-Leste.

Aividade
Responde, no teu caderno, às questões seguintes:
1. Que ipos de sociedades exisiam em vários países e territórios antes da
sua colonização?
2. A colonização e os estados modernos saídos das independências alteraram
a organização políica das sociedades tradicionais? Jusiica a tua resposta.
3. Concordas que, em Timor-Leste, os Conselhos dos Sucos coninuem a ter
poder para decidir sobre questões locais? Jusiica a tua resposta.

O conceito de Estado | 133


RESUMO

Ao longo do século XX, o Estado foi ocupando um lugar cada vez mais
importante na organização das sociedades. Tal aconteceu não só em
relação à organização da jusiça e da defesa, mas, também, em relação
à economia, serviços de proteção social, saúde e educação. Norbert Elias
foi um dos sociólogos que ajudou a compreender como é que o Estado e
a Nação (Estado-Nação) se formaram. Segundo este autor, este processo
aconteceu com base no fortalecimento do poder central, no alargamento
dos territórios, no monopólio da cobrança de impostos, no monopólio
do uso da força e na aprovação das populações. Hoje, grande parte do
planeta está dividido em Estados-Nação. Timor-Leste foi um dos úlimos
estados a serem reconhecidos pela ONU.
A nação carateriza-se pela ideia de pertença a um grupo ou a uma cultura
comum. O Estado corresponde a uma insituição desinada a organizar
um país, do ponto de vista políico, e aceite pelo povo. Do Estado fazem
parte vários órgãos, como o Presidente da República (ou um rei ou
rainha, se for uma monarquia), o Governo, o Parlamento e a Magistratura
(Juízes). O poder do Estado está, assim, dividido em três componentes
independentes umas das outras: o poder execuivo, o poder legislaivo e
o poder judicial.
Os elementos do Estado moderno são os seguintes: a população, o
território e os órgãos do Estado e da administração pública. Tal como em
muitos outros países, a República Democráica de Timor-Leste (RDTL)
tem, como principais órgãos do Estado centralizados, o Presidente da
República, o Parlamento e o Governo. Estes órgãos representam o povo
de Timor-Leste, que os elege através do sufrágio universal (eleições). O
Estado-Nação é uma enidade criada nos países ocidentais, mas que se foi
estendendo a todos os países com a descolonização. No entanto, muitas
sociedades pré-industriais ou agrárias, antes da colonização, também
inham organizações políicas tão ou mais complexas que os Estados-
-Nação ocidentais.

134 | Governo e Política


EXERCÍCIOS

Responde, no teu caderno, às questões seguintes:


1. Deine Nação e Estado. Quais as principais diferenças entre estes
conceitos?
2. Quais os cinco aspetos que, na perspeiva do sociólogo Norbert Elias,
contribuíram para o nascimento dos estados modernos na Europa?
3. A autoridade do Estado da RDTL está, como noutros países democráicos,
dividida por três ipos de poder: poder execuivo, poder legislaivo e
poder judicial. Com base na Consituição da RDTL, caracteriza cada um
destes poderes.
4. Quais os principais elementos do Estado moderno? Carateriza cada um
deles.
5. Quais os principais órgãos de representação do povo e de soberania
nacional da RDTL? Com base na Consituição da RDTL, diz como é que são
designados.
6. As sociedades pré-industriais ou agrárias inham uma organização social
e políica tão ou mais complexa que as sociedades industriais. Refere qual
é a principal diferença entre as sociedades com um poder políico disperso
e as sociedades organizadas em chefatura.

O conceito de Estado | 135


2 Tipos de sistemas políicos
Ao longo da vida das sociedades humanas, foram aparecendo diferentes
maneiras através das quais os seres humanos se organizaram coleivamente
do ponto de vista políico. Isto deu origem, também, a diversos regimes
políicos, formas e sistemas de governo que iremos analisar neste tema.

2.1 Regimes políicos
Dá-se o nome de regime políico à forma como o poder políico é
Regime políico
Forma como o poder políico é
organizado em cada Estado. Está relacionado com as inalidades e os meios
assumido em cada Estado, estando uilizados para exercer o poder, assim como com os direitos fundamentais
relacionada com os ins e os meios
do poder e da comunidade, com dos cidadãos e a organização económica e social dos países. Em geral,
os direitos fundamentais e com a
organização económica e social. os estudiosos destes temas dividem os regimes políicos em dois ipos:
democráicos e não democráicos. Estes úlimos, por sua vez, podem
ainda ser subdivididos em autoritários e totalitários.

2.1.1 Os regimes democráicos

Origem e princípios gerais da democracia


Os regimes democráicos têm a sua origem na ideia de democracia (demos
signiica povo e kracia signiica governo), que surgiu na Grécia Aniga,
antes de Cristo, mais precisamente em Atenas (uma das suas principais
cidades).

A democracia em Atenas signiicava que todos os cidadãos eram iguais


perante a lei. Todos os homens considerados cidadãos gregos podiam
paricipar no governo da cidade, escolhendo, ou sendo escolhidos, para
ocupar os lugares na sua administração. Embora esta ideia de democracia
tenha sido aí desenvolvida, nem todos podiam paricipar nas decisões
políicas. As mulheres, os estrangeiros, os escravos e as crianças não

136 | Governo e Política


paricipavam nas decisões democráicas. Atualmente, a democracia é
exercida, na maioria dos países, de forma mais paricipaiva. É uma forma
de governo do povo e para o povo.

Para haver democracia, terá de exisir liberdade políica. Ou seja, todas as


pessoas deverão possuir o direito de paricipar na vida políica dos países
e de debater ou decidir sobre as medidas políicas que são tomadas. A
democracia assenta, também, nos princípios de liberdade de expressão,
dignidade humana e igualdade. Estes direitos são considerados como
sendo universais nos regimes democráicos. Os regimes políicos
democráicos caracterizam-se, também, por eleições livres.

Em suma, os regimes democráicos são aqueles onde a origem do poder


Regime democráico
está no povo, nos cidadãos. A distribuição do poder e o controlo do Regime políico onde a origem, a
seu exercício também estão nas mãos do povo. Todos os membros da distribuição e o controlo do poder está
no povo.
sociedade têm direitos políicos iguais. É esse valor políico que consitui a
soberania popular, base da organização de um regime democráico. Como
exemplo, Timor-Leste é um Estado de direito democráico, soberano,
independente e unitário, baseado na vontade popular e no respeito pela
dignidade da pessoa humana.

Desde a Segunda Guerra Mundial, a democracia tem ganho ampla


aceitação. Em princípio, quase todos os estados apoiam a democracia,
embora alguns não a praiquem.

Por essa razão, é diícil dizer ao certo o número de regimes democráicos


Freedom House é uma
na atualidade. No entanto, houve tentaivas para determinar esse associação sem ins lucraivos,
sediada em Washington,
número. De acordo com a Casa da Liberdade (Freedom House), no im do nos Estados Unidos, para
promover os direitos humanos
ano 2000, o número de democracias era de 144, num total de 192 países e a democracia.
analisados. Em 2012 havia 138 regimes democráicos, dos quais 58 eram
considerados apenas parcialmente livres. A região do mundo com uma
menor percentagem de regimes democráicos é o Médio Oriente.

De acordo com alguns sociólogos, a democracia também não se está a


consolidar de forma sólida. Existem estudos que mostram que cada
vez mais pessoas estão insaisfeitas com o funcionamento do sistema
políico no seu país ou se sentem indiferentes a ele. As razões para este
descontentamento estão relacionadas com o impacto do capitalismo e a
Manifestação em Espanha, em 2011,
globalização da vida social. contra o sistema políico

Tipos de sistemas políticos | 137


Aividade
Lê, com atenção, o texto seguinte:

Consituição da República Democráica de Timor-Leste


PARTE I
Arigo 7º. (Sufrágio universal e muliparidarismo)
1. O povo exerce o poder políico através do sufrágio universal, livre,
igual, direto, secreto e periódico e através das demais formas previstas na
Consituição.
[...]

PARTE II
Título II
Arigo 46º. (Direito de paricipação políica)
1.Todo o cidadão tem o direito de paricipar, por si ou através de representantes
democraicamente eleitos, na vida políica e nos assuntos públicos do país.
2. Todo o cidadão tem o direito de consituir e de paricipar em paridos
políicos.
[...]
Arigo 47º. (Direito de sufrágio)
1. Todo o cidadão maior de dezassete anos tem o direito de votar e de ser
eleito.
2. O exercício do direito de sufrágio é pessoal e consitui um dever cívico.

PARTE III
Título I
Arigo 65º. (Eleições)
1. Os órgãos eleitos de soberania e do poder local são escolhidos através
de eleições, mediante sufrágio universal, livre, direto, secreto, pessoal e
periódico.
[...]
Arigo 70º. (Paridos políicos e direito de oposição)
1. Os paridos políicos paricipam nos órgãos do poder políico de acordo
com a sua representaividade democráica, baseada no sufrágio universal e
direto.
[...]

Responde, no teu caderno, à questão seguinte:


Ideniica os vários princípios democráicos conidos na Consituição da
República Democráica de Timor-Leste.

O sistema de eleições

Eleições
O sistema de eleições, usado em vários países, consitui uma forma do

Sistema usado para o povo poder povo eleger representantes para governar o país. No passado, muitos
eleger os seus representantes, através grupos foram excluídos do direito de voto, a vários níveis:
do voto.
• Exclusão étnica. Muitas sociedades negaram a pessoas o direito de votar
baseadas no grupo étnico a que pertenciam. Exemplo disso é a exclusão de

138 | Governo e Política


pessoas de diferentes grupos e etnias não brancos na época do Apartheid
O Apartheid foi um regime de
na África do Sul (1948-1994). Hoje em dia, a maioria das sociedades não segregação racial adotado,
de 1948 a 1994, na África
faz essa exclusão. do Sul, no qual os direitos
da grande maioria dos
• Exclusão de classes. Até ao século XIX, nas democracias ocidentais, habitantes foram limitados
pelo governo formado pela
apenas pessoas com um certo grau de riqueza podiam votar. Atualmente
minoria branca.
estas leis já não existem.
• Exclusão de género. Outra exclusão que durou muito tempo foi a
baseada no sexo. Todas as democracias proibiam as mulheres de votar até
1893, ano em que a Nova Zelândia se tornou no primeiro país do mundo
a dar às mulheres o direito de voto nas mesmas condições dos homens.
Hoje, praicamente todos os estados permitem que as mulheres votem.
As únicas exceções são sete países do Médio Oriente: Arábia Saudita,
Bahrein, Kuwait, Omã, Qatar e Emirados Árabes Unidos.
Por vezes a exclusão faz-se de uma forma bastante aberta, estando escrita
Ao longo da história tem
nas leis eleitorais. Outras vezes não é feita de forma direta, mas é posta havido registos de exlusão
de cidadãos do seu direito de
em práica, por exemplo, através da introdução de exigências relacionadas voto.
com a alfabeização (como saber ler e escrever).
Em geral, o direito de voto é garanido sem discriminação de raça, grupo
étnico, classe ou sexo. No entanto, o direito de voto ainda não é universal.
É restrito a pessoas que aingem uma certa idade, normalmente 18 anos
(embora em alguns países possa ser 16 ou 21 anos). Em Timor-Leste,
podem votar os cidadãos imorenses maiores de 17 anos.
O exercício do direito de voto é pessoal e consitui um dever cívico. No
entanto, o direito de voto pode ser negado a pessoas que estão na prisão
ou que cometeram crimes muito graves, mesmo depois de essas pessoas
Cidadãos imorenses à espera de exercer
serem libertadas. Outros países permitem que os reclusos mantenham o o seu direito de voto nas eleições
direito de voto, como é o caso de Timor-Leste. presidenciais de 2007

Tipos de democracia
Existem várias formas de democracia, mas as mais comuns são as seguintes:
direta ou paricipaiva; a semidireta; e a indireta ou representaiva.
Democracia direta ou paricipaiva. O povo, através de eleições, referendos
Democracia direta ou paricipaiva
ou outras formas de consultas populares, pode decidir diretamente sobre Regime políico em que as decisões
assuntos políicos ou administraivos. Podemos, então, dizer que é um de governo são tomadas diretamente
pelo povo, sem intermediários.
regime em que as decisões de governo são tomadas diretamente pelo
povo, sem intermediários. Este regime é aquele em que o povo exerce,
por si próprio, os poderes governamentais, fazendo leis, administrando e
julgando.

Tipos de sistemas políticos | 139


O exercício deste ipo de democracia tornou-se cada vez mais diícil, à
A democracia direta tem uma
importância limitada nas medida que o número de cidadãos foi crescendo. Desta forma, ele tem
sociedades modernas.
uma importância limitada nas sociedades modernas. Mas, em alguns
países, ainda existe a um nível muito local. Por exemplo, em Timor-Leste
podemos considerar que as decisões nos Sucos aproximam-se deste ipo
de democracia.

Democracia semidireta
Democracia semidireta. O povo delega, a representantes seus nas

Regime em que o povo delega apenas assembleias ou parlamentos, apenas poderes normais de administração,
poderes normais de administração, mantendo consigo, para ser consultado através de voto, os poderes mais
retendo consigo, para ser consultado
através de voto, os poderes mais importantes. A democracia semidireta permite um equilíbrio entre a
importantes.
representação políica e a soberania popular direta. Um exemplo deste
regime é o praicado na Suíça.
Democracia indireta ou representaiva. O povo decide através de
Democracia indireta ou
representaiva representantes seus, reunidos em assembleia ou parlamento. Estes
Regime em que o povo decide através tomam decisões em nome daqueles que os elegeram. Ou seja, o povo,
de representantes seus, reunidos em
assembleia ou parlamento. não podendo governar diretamente, devido à superície dos territórios,
densidade demográica (quanidade alta de população) e complexidade
dos problemas sociais, permite que as funções de governo sejam
exercidas pelos seus representantes. Estes, como vimos, são eleitos
periodicamente, através do voto. O sistema de eleições, usado em vários
países, é então considerado uma forma de democracia representaiva.
Muitas democracias representaivas incorporam alguns elementos da
democracia direta, nomeadamente a possibilidade de um referendo.
Apuramento dos votos no referendo
Através deste procura-se chegar a uma decisão que tem em conta a opinião
de independência em Timor-Leste em
1999 da maioria das pessoas sobre um determinado assunto em discussão.

Exemplo de um boleim de voto das


eleições presidenciais de 2007, com
candidatos de vários paridos

140 | Governo e Política


Existem dois ipos de democracia indireta: muliparidária e uniparidária.
A democracia muliparidária existe sempre que os eleitores tenham Democracia muliparidária
pelo menos dois paridos para optar no processo políico. As nações que Regime em que, nas eleições, o povo
praicam este ipo de democracia são chamadas democracias liberais. pode decidir entre vários paridos
políicos.
A democracia uniparidária refere-se a regimes democráicos de um
só parido. Os eleitores não podem escolher entre paridos diferentes. Democracia uniparidária

No entanto existem eleições para nomear representantes do povo para Regime em que o povo não pode
escolher entre paridos diferentes,
diferentes cargos. Para os cidadãos das democracias liberais, este sistema apenas entre candidatos do mesmo
parido.
não é visto como sendo verdadeiramente democráico. É geralmente
praicado nas sociedades com ditaduras.

Aividade
Responde, no teu caderno, às seguintes questões:
1. Quais as caraterísicas de um regime democráico? Dá exemplo de países
onde este regime se pode encontrar.
2. Que ipos de democracia existem? Quais as principais diferenças entre
elas?

2.1.2 Os regimes não democráicos: Regimes totalitários e


regimes autoritários
Dentro dos regimes não democráicos podemos disinguir dois ipos: Existem dois ipos de regimes
não democráicos: totalitários
• Regimes totalitários: regimes em que os cidadãos icam totalmente
e autoritários.
submeidos ao controle do Estado e de um parido ou movimento políico
que se encontra no poder.
• Regimes autoritários: regime em que as normas consitucionais são
manipuladas ou mudadas conforme os interesses do grupo ou parido
que tem o poder.

Regimes totalitários
Os regimes totalitários são caracterizados pela práica de um regime
Regime totalitário ou totalitarismo
políico que defende o total domínio do Estado sobre a vida dos cidadãos. Regime políico em que todo o poder
Esta práica é, também, designada por totalitarismo. está concentrado nos governantes.

Todos os poderes icam concentrados nas mãos de uma pessoa e parido


ou movimento, que não reconhece limites à sua autoridade. O chamado
líder ou chefe faz leis e toma decisões políicas e económicas de acordo
com a sua vontade. Há um sistema de jusiça e uma assembleia, mas estes

Tipos de sistemas políticos | 141


não têm poder. São totalmente controlados pelo regime. O governo não
é eleito de forma democráica. Não existe o direito a certas liberdades
fundamentais. O governo controla, de forma absoluta, os diversos setores
da vida social, os meios de comunicação, os órgãos de segurança, os
sindicatos dos trabalhadores, entre outros. É defendida a eliminação
da oposição, através de uma propaganda agressiva, ou, por vezes, da
violência ísica. Desta forma, no regime totalitário, não há espaço para
a práica da democracia, nem mesmo a garania dos direitos individuais.

Regimes autoritários

Regime autoritário ou autoritarismo


Os regimes políicos autoritários caracterizam-se por uma grande
Regime políico que se caracteriza autoridade do Estado e pela suspensão das liberdades individuais e
pela excessiva autoridade do Estado políicas. As consituições e as leis são manipuladas ou alteradas conforme
e pela suspensão das garanias
individuais e políicas. os interesses do grupo ou parido que tem o poder.
Existem caraterísicas comuns entre os regimes autoritários e totalitaristas.
Entre essas caraterísicas está o controlo do poder execuivo (Governo
ou Presidente) sobre o poder legislaivo (Assembleia ou Parlamento) e o
poder judicial (juízes). No totalitarismo existe um sistema de parido único
(e às vezes um sindicato único ao serviço deste parido), comandado por
um chefe ou ditador. No autoritarismo são proibidos todos os paridos e
sindicatos.

Em geral, no autoritarismo, as pessoas ou grupos para se manterem no


poder, precisam do apoio das forças armadas. Por isso, cria, por vezes,
relações muito próximas com os militares. Este ipo de relações também
pode acontecer com os que têm o poder económico.
Ao longo da história, os regimes políicos conhecidos como ditaduras
militares foram modelos de autoritarismo puro, que se impuseram pela
força das armas e foram manidos por elas.

142 | Governo e Política


Aividade
Responde, no teu caderno, às questões seguintes:
1. O que são regimes não democráicos? Quais são os elementos que os
disinguem dos regimes democráicos?
2. Quais as caraterísicas comuns entre os regimes totalitários e regimes
autoritários? Quais as principais diferenças? Dá exemplos de cada um deles.

2.2 Formas de governo
Podemos dizer que forma de governo é o conjunto de insituições políicas
Forma de governo
através das quais um Estado se organiza para exercer o poder políico
Conjunto de insituições políicas
sobre a sociedade. É diícil dizermos que formas de governo existem no por meio das quais um Estado se
mundo. Cada sociedade tem as suas caracterísicas políicas e sociais organiza, de maneira a exercer o seu
poder sobre a sociedade.
especíicas. Assim, alguns estudiosos airmam que existem tantas formas
de governo como existem sociedades. No entanto, as formas de governo
são geralmente classiicadas em duas grandes categorias: monarquia e As formas de governos são
república. geralmente categorizadas
em dois ipos: monarquia e
A monarquia carateriza-se pela existência de uma família real que é república.
considerada pelos cidadãos do seu país como a representante das
tradições culturais e históricas da sociedade. Em tempos mais anigos,
Monarquia
esta insituição inha obrigação, moral e políica, de proteger o país, a
Forma de governo em que o chefe
nação e o seu povo. Por isso, inha o controlo da administração da nação. de Estado se mantem no cargo até
Ainda hoje isto acontece em alguns países, como por exemplo o Brunei à sua morte ou abdicação, sendo
normalmente um regime hereditário.
(sultanato), o Kuwait (emirado), a Arábia Saudita (reino), entre outros.
O chefe de Estado, nas monarquias, é a igura de destaque da família real
(chamado monarca). Esta pessoa mantém o cargo até à sua morte ou
abdicação (abandono do poder). É, normalmente, um regime hereditário,
ou seja, passa de pais para ilhos ou ilhas. No entanto, existem também
monarquias eleitas – ou seja, o chefe de governo é eleito por votação e
Monarquia eleita
tem um cargo para toda a vida.
Monarquia em que o chefe de
Há vários ipos de monarquias: absolutas, semiconsitucionais, governo é eleito por votação e tem
cargo vitalício.
consitucionais, reinos da Comunidade das Nações, e sub-nacionais.

Tipos de sistemas políticos | 143


Monarquia absoluta As monarquias absolutas podem ser deinidas pelo facto de o monarca
Forma de governo em que o monarca governar como um autocrata, com poder absoluto sobre o Estado e o
exerce poder absoluto sobre o estado governo (por exemplo, o direito para governar por decreto, promulgar leis
e o governo.
e impor punições). Alguns monarcas dos países árabes, como a Arábia
Saudita e Omã, têm quase todo o poder nas suas mãos, sendo monarquias
absolutas.
As monarquias consitucionais caraterizam-se pelo poder do monarca ser
Monarquia consitucional
Forma de governo em que o poder do
limitado pela Consituição desses países. Os representantes eleitos pelo
monarca é limitado pela Consituição, povo também têm poder. Desta forma, os monarcas não têm poderes
que dá autoridade aos representantes
eleitos pelo povo. ilimitados. A Tailândia e a Espanha são dois exemplos de monarquias
consitucionais.

Monarquia semi-consitucional Ao longo da história, tem havido formas de governo entre a monarquia
Forma de governo onde o monarca, absoluta e a consitucional, onde o monarca, por vezes, é forçado a
por vezes, cede poder a um governo ceder algum poder a um governo democráico. Mas, mesmo assim, ainda
democráico, mantendo ainda uma
inluência políica signiicaiva. mantém uma grande inluência políica. Essas monarquias são chamadas
de monarquias semiconsitucionais, tendo como exemplo Marrocos.

Reino da Comunidade das Nações


Alguns países da Comunidade das Nações (Commonwealth) são chamados
Monarquia consitucional cujo chefe reinos da Comunidade das Nações, por serem monarquias consitucionais,
de Estado simbólico é o monarca do cujo chefe de Estado é o monarca do Reino Unido (atualmente, a Rainha
Reino Unido.
Isabel II). Nesta comunidade, o chefe de Estado (a Rainha) tem apenas
um papel políico simbólico. Os governos desses países são totalmente
separados e independentes. Em cada nação (à exceção do Reino Unido e
Irlanda do Norte), o monarca é representado por um governador-geral.
São exemplos destes reinos, a Austrália, Canadá, Nova Zelândia e Papua
Nova Guiné.
As monarquias sub-nacionais são monarquias situadas dentro de estados
Monarquia sub-nacional
Monarquia situada dentro de estados
reconhecidos, como é o caso do Dubai, que se situa dentro dos Emirados
reconhecidos. Árabes Unidos.
Embora alguns estados modernos ainda tenham monarcas, estes são
poucos. A maioria são monarquias consitucionais, exisindo apenas, e
oicialmente, cinco monarquias absolutas no mundo, ainda que o Qatar,
sendo oicialmente uma monarquia consitucional, possua caraterísicas
de uma monarquia absoluta.
A república é uma forma de governo onde nenhuma família ou indivíduo
República
é o dono das tradições da sociedade. Esta função compete ao Estado, que
Forma de governo na qual o chefe do
Estado é eleito pelos cidadãos ou seus é uma insituição pública pertencente a todos. Para que o Estado exerça
representantes, tendo a sua cheia
uma duração limitada. esta função é necessário que alguém assuma a sua direção. O chefe de
Estado é, por regra, um presidente da república, eleito pelos cidadãos,
ou pelos seus representantes, através do voto livre e secreto. A cheia
do Estado tem uma duração limitada (geralmente quatro ou cinco anos).

144 | Governo e Política


Dependendo do sistema de governo, o presidente da república pode ou
não acumular o poder execuivo (chefe do governo).

Aividade
Responde, no teu caderno, às questões seguintes:
1. Quais as formas de governo que existem e quais as principais diferenças
entre elas?
2. Quais os ipos de monarquia existentes no mundo?

2.3 Sistemas de governo
O sistema de governo é a forma pela qual o poder políico é dividido e
Sistema de governo
exercido no Estado. Existem três sistemas de governo: parlamentarista, Forma pela qual o poder políico é
presidencialista e semipresidencialista. dividido e exercido no Estado.

No sistema parlamentarista, também chamado parlamentarismo, existe


Sistema parlamentarista ou
uma diferença entre o chefe do Governo e o chefe de Estado. O monarca parlamentarismo

ou o presidente (conforme a forma de governo) é o chefe de Estado, e Sistema de governo em que não há
uma clara separação entre os poderes
o Primeiro-ministro é o chefe do Governo. O governo é designado pelo execuivo e legislaivo.
parlamento, eleito pelo povo. A população elege os seus representantes
(deputados). Os paridos que obiverem a maioria dos votos irão consituir
um governo.
Nos sistemas parlamentaristas, geralmente, o chefe de Estado é uma igura
simbólica, com poucos ou nenhuns poderes políicos. No entanto, alguns
países atribuem-lhe certos poderes, como a cheia das forças armadas ou
o direito de dissolver o Parlamento.
No sistema presidencialista, também chamado presidencialismo, o chefe
Sistema presidencialista ou
de Estado e o chefe do Governo são a mesma pessoa – o Presidente da presidencialismo

República –, o qual é eleito pelos cidadãos. Como chefe de Estado, é Sistema de governo em que há uma
clara separação entre os poderes
ele quem escolhe os chefes dos grandes departamentos ou ministérios. execuivo e legislaivo.
Desta forma, existe no presidencialismo uma separação do poder
execuivo do poder legislaivo, uma vez que o poder execuivo é exercido
independentemente do parlamento, o qual detém o poder legislaivo.
Como exemplos de repúblicas presidencialistas temos o Brasil, os Estados
Unidos, Moçambique, Indonésia e Filipinas.
O sistema semipresidencialista é um sistema de governo no qual o chefe Sistema semipresidencialista

do Governo (geralmente com o ítulo de Primeiro-Ministro) e o chefe de Sistema do Governo em que o chefe
de governo e o chefe de Estado
Estado (geralmente com o ítulo de Presidente da República) parilham parilham o poder execuivo.

Tipos de sistemas políticos | 145


o poder execuivo. Ambos paricipam na administração do Estado. Este
sistema difere do parlamentarismo por ter um Presidente da República
eleito através de voto direto. Difere, também, do presidencialismo por ter
um chefe do Governo com responsabilidades perante o poder legislaivo,
ou seja, perante o Parlamento. No sistema semipresidencialista, a
linha que divide os poderes do chefe de Estado e do chefe do Governo
é diferente de país para país. Como exemplos de países que têm um
sistema semipresidencialista podemos falar de Portugal, Rússia, França e
Mongólia.
Timor-Leste também é uma república semipresidencialista, em que o
Timor-Leste possui a forma
de governo republicano Presidente e o Parlamento são diretamente eleitos pelo povo.
semipresidencialista.

Aividade
Responde, no teu caderno, às questões seguintes:
1. O que é um sistema presidencialista?
2. Quais os elementos que o disinguem do sistema parlamentar?
3. Como é que os poderes estão distribuídos num sistema semipresidencialista?

146 | Governo e Política


RESUMO

Dá-se o nome de regime políico à forma como o poder políico é


assumido em cada Estado. Existem dois ipos básicos de regimes políicos:
os democráicos e os não democráicos.
Os regimes democráicos fundamentam-se na democracia, que é
um sistema políico em que o povo governa. Alguns dos princípios
democráicos são a liberdade de expressão, eleições livres e imparciais,
e direito de voto. Este é uma forma de paricipação e demonstração de
interesse das pessoas na vida pública e na sociedade políica.
O referendo é geralmente usado para que os cidadãos possam dar a sua
opinião, a ítulo vinculaivo, sobre determinados assuntos de relevante
interesse para o país. O sistema de eleições é usado, em vários países, para
o povo eleger representantes para governar o país. No passado, muitos
grupos foram excluídos do direito de voto. No entanto, hoje em dia, em
muitas democracias, o direito de voto é garanido sem discriminação de
raça, grupo étnico, classe ou sexo.
Existem várias formas de democracia. Porém as mais comuns são: a direta
ou paricipaiva, a semidireta, e a indireta ou representaiva.
Na democracia direta ou paricipaiva, as decisões são tomadas por
aqueles a quem elas dizem respeito. Na democracia semidireta, o povo
delega, a representantes seus, apenas poderes normais de administração,
mantendo consigo, para ser consultado através de voto, os poderes mais
importantes. Na democracia indireta ou representaiva, o povo decide
através de representantes, que tomam decisões em nome daqueles que
os elegeram. Existem dois ipos de democracia indireta: muliparidária e
uniparidária. Uma democracia liberal é uma democracia representaiva
muliparidária, onde os cidadãos podem votar em um de pelo menos
dois paridos.
Os regimes não democráicos podem dividir-se em totalitários e
autoritários. Os regimes totalitários são caracterizados pela práica de
um regime políico que defende a total importância do Estado sobre os
interesses dos cidadãos. Existe um parido único que é, muitas vezes,
marcado pelo culto de personalidade, o controle sobre a economia e a
falta de liberdade de expressão.
Os regimes políicos autoritários caracterizam-se pela excessiva
autoridade do Estado e pela suspensão das garanias individuais e políicas,
ultrapassando a autoridade que lhe foi dada. As normas consitucionais

Tipos de sistemas políticos | 147


são manipuladas ou alteradas conforme os interesses do grupo ou parido
que detém o poder.
Quanto à forma de governo, ou seja, o conjunto de insituições políicas
através das quais um Estado se organiza, de maneira a exercer o seu poder
sobre a sociedade, podemos classiicá-las em duas grandes categorias:
monarquia e república.
A monarquia é a forma de governo em que o chefe de Estado se
mantem no cargo até à sua morte ou abdicação, sendo normalmente
um regime hereditário. Existem vários ipos de monarquias: absolutas,
consitucionais, semiconsitucionais, reinos da Comunidade das Nações e
sub-nacionais. A república é a forma de governo na qual o chefe do Estado
é eleito pelos cidadãos ou seus representantes, tendo a sua cheia uma
duração limitada.
O sistema de governo é a forma pela qual o poder políico é dividido
e exercido dentro de um Estado, podendo assumir três formas:
parlamentarista, presidencialista e semipresidencialista.
O sistema parlamentarista disingue os papéis de chefe de Estado dos de
chefe do Governo, ao contrário do sistema presidencialista, onde os dois
papéis são exercidos pela mesma pessoa. O chefe de Estado desempenha
papéis mais simbólicos, o chefe do Governo trabalha juntamente com
o Parlamento. No sistema semipresidencialista, o chefe do Governo e o
chefe de Estado parilham o poder execuivo, paricipando, ambos, do
quoidiano da administração pública de um Estado.

148 | Governo e Política


EXERCÍCIOS

1. Escreve, no teu caderno, as opções corretas.


a) Nos regimes democráicos, as pessoas paricipam nas decisões políicas.
b) Os regimes políicos não democráicos caracterizam-se por eleições
livres.
c) Todas as pessoas que vivem num país democráico podem votar nas
eleições desse país.
d) Os referendos são um elemento de consulta popular caraterísico da
democracia indireta.
e) Os regimes totalitários são caraterizados pela práica de um regime
políico que defende a total importância dos interesses dos cidadãos
sobre os interesses do Estado.
f) Os regimes políicos autoritários caraterizam-se pela excessiva
autoridade do Estado e pela suspensão das garanias individuais e
políicas.
g) A monarquia é sempre um regime hereditário.
h) O sistema de governo varia de acordo com o grau de separação dos
poderes políicos.
i) No sistema parlamentarista, o chefe do Governo e o chefe de Estado
são a mesma pessoa.
j) Timor-Leste é uma república semipresidencialista.

2. Copia os quadros seguintes para o teu caderno, fazendo corresponder


as colunas da direita com as colunas da esquerda.

Regimes políicos
Regime em que o povo decide através de
Democracia muliparidária representantes seus reunidos em assembleia ou
parlamento.
Regime políico em que as decisões de governo são
Regime democráico
tomadas diretamente pelo povo, sem intermediários.
Regime políico que se caracteriza pela excessiva
Democracia direta ou autoridade do Estado e pela suspensão das garanias
paricipaiva individuais e políicas, ultrapassando a autoridade de
que lhe foi dada.
Regime políico onde a origem, a distribuição e o
Democracia semidireta
controlo do poder está no povo.

Tipos de sistemas políticos | 149


Regime políico que defende a total importância do
Democracia uniparidária
Estado sobre os interesses dos cidadãos.
Regime em que o povo não pode escolher entre
Regime totalitário ou
paridos diferentes, apenas entre candidatos do mesmo
totalitarismo
parido.
Democracia indireta ou Regime em que, nas eleições, o povo pode decidir entre
representaiva vários paridos políicos.
Regime em que o povo delega apenas poderes normais
Regime autoritário ou
de administração, retendo consigo, para ser consultado
autoritarismo
através de voto, os poderes mais importantes.

Forma de governo
Forma de governo na qual o chefe do Estado é eleito
Monarquia
pelos cidadãos ou seus representantes, tendo a sua
cheia uma duração limitada.
Forma de governo onde o monarca, por vezes, cede
Monarquia absoluta
poder a um governo democráico, mantendo ainda uma
inluência políica signiicaiva.
Forma de governo em que o chefe de Estado se
Monarquia eleiva
mantem no cargo até à sua morte ou abdicação, sendo
normalmente um regime hereditário.
Reino da Comunidade das
Monarquia situada dentro de estados reconhecidos.
Nações
Monarquia Monarquia em que o chefe do Governo é eleito por
semiconsitucional votação e tem cargo vitalício.
Monarquia sub-nacional Monarquia consitucional com o monarca do Reino
Unido como o seu próprio chefe de Estado simbólico.
República Forma de governo em que o monarca exerce poder
absoluto sobre o estado e o governo.

Sistema de governo
Sistema parlamentarista ou Sistema de governo em que o chefe de governo e o
parlamentarismo chefe de Estado parilham o poder execuivo.
Sistema de governo em que há uma clara separação
Sistema semipresidencialista
entre os poderes execuivo e legislaivo.
Sistema de governo em que não há uma clara separação
Sistema presidencialista
entre os poderes execuivo e legislaivo.

150 | Governo e Política


3 Estado-Nação e idenidade nacional

3.1 Conceito de idenidade nacional


A formação da idenidade nacional
Ao longo da nossa vida senimos que fazemos parte de um sistema
social global que corresponde a uma nação, organizada num Estado. Este
senimento é parilhado com outras pessoas, que também pertencem
à mesma nação. Podemos então dizer que nos ideniicamos com um
coleivo (conjunto da população, de maneiras de viver e de insituições
sociais) que ocupa um determinado território, com fronteiras.
Esta ideniicação é a base da formação da nossa idenidade nacional.
A ideniicação com um
Para esta formação contribui o facto de se terem desenvolvido, dentro coleivo (população, maneira
de viver e insituições)
de um mesmo território, uma língua (ou várias línguas), uma cultura (ou contribui para a formação da
várias culturas) e uma história comuns. A idenidade nacional pode então idenidade nacional.

ser caraterizada pela pertença a um sistema social (Nação e Estado), no


qual se parilham valores, crenças, normas e até comportamentos. O
senimento de pertença pode trazer-nos alegrias mas, também, tristezas.
Por exemplo, icamos contentes quando as nossas seleções nacionais de
futebol ganham jogos. Deste modo, podemos considerar que o senimento
de pertença a uma nação e Estado tem aspetos subjeivos. Baseia-se,
principalmente, naquilo que imaginamos exisir e que é parilhado pelos
nossos compatriotas – os valores, a maneira de viver, as crenças sobre o
mundo que nos rodeia, a religião (ou religiões), etc.
Mas, a nossa idenidade nacional também tem aspetos objeivos: os
nomes que nos são dados quando nascemos, o local onde nascemos, as
famílias de quem descendemos e a língua (ou as línguas) que falamos
e parilhamos com as outras pessoas. Em muitos países, estes dados
objeivos da nossa idenidade fazem mesmo parte de um documento
nacional de ideniicação: Bilhete ou Cartão Nacional de Idenidade.
É importante dizer, no entanto, que uma nação nem sempre corresponde
a um só povo. E nem sempre, num Estado, existe apenas uma idenidade
nacional parilhada por todos. Há estados modernos em que se veem
vários grupos a reclamar a sua independência face ao Estado onde estão
inseridos. Na Ásia do Sudoeste, Timor-Leste é o exemplo mais recente
de um país que conquistou a sua independência, e se tornou um Estado-
Nação autónomo.
As pessoas e os grupos que vivem dentro de um mesmo Estado podem,
também, não falar a mesma língua. Apesar disso podem senir que
pertencem à mesma nação. É possível, igualmente, falarmos uma língua

Estado-Nação e identidade nacional | 151


que pertence a outra nação, mas senir que somos cidadãos do país onde
vivemos. Assim, a parilha de uma só língua (ou de uma só cultura) não
é uma condição determinante para a construção da idenidade nacional.
Por isso, pode dizer-se que a idenidade nacional não é uma idenidade
unidimensional (só com origem na mesma língua e cultura). Antes, tem
vários aspetos que a podem deinir como pluridimensional (estar ligada
ao convívio entre várias línguas e culturas).

A bandeira nacional de Timor-Leste é um símbolo da idenidade nacional imorense

Aividade
Responde, no teu caderno, às seguintes questões:
1. Deine, por palavras tuas, idenidade nacional.
2. A idenidade nacional tem dois aspetos principais: um mais subjeivo e
outro mais objeivo. Descreve cada um destes aspetos.
3. Na tua opinião, é necessário exisir uma só língua e uma só cultura para
haver uma idenidade nacional?

Idenidade nacional e a ‘comunidade imaginada’


Zygmunt Bauman, um sociólogo que tem estudado as sociedades atuais,
diz que é importante a existência do senimento de idenidade nacional.
Permite às pessoas viver com a segurança de pertencer a um país. Estas
Zygmunt Bauman (1925-) acreditam no Estado e pensam que este pode proteger alguns aspetos da
Sociólogo polaco que deiniu a sua vida social. Quando isto acontece, o Estado torna-se num símbolo da
idenidade nacional como importante
para as sociedades atuais. uniicação de um país, no qual a idenidade nacional se baseia.

152 | Governo e Política


O senimento de pertença a um país é apenas uma ideniicação com
um sistema social, que pode ser considerado como uma ‘comunidade
imaginada’. Este conceito foi criado por um estudioso em Ciências Políicas
chamado Benedict Anderson. Com isto, ele quis dizer que não conhecemos
todos os habitantes, todos os grupos sociais e todas as insituições que
fazem parte do nosso país ou nação. Assim, passamos a imaginar como
é a nossa comunidade nacional, porque a não conhecemos em todos os
seus aspetos, principalmente as pessoas que dela fazem parte.

Mas, ao mesmo tempo, a forma como imaginamos a nossa comunidade


não é um fenómeno individual. As outras pessoas do nosso país também
a imaginam como nós. Neste senido, ela transforma-se numa realidade, Benedict Anderson (1936-)

parilhada por todos. Parilhamos símbolos, como a bandeira e o hino Professor de Ciências Políicas da
Universidade de Cornell (Estados Unidos
nacional, a história comum e as referências aos nossos antepassados. da América). Especializou-se em estudos
sobre o nascimento do nacionalismo na
Quando falamos em imorenses, por exemplo, há coisas que imaginamos Ásia do Sudeste.

que todos os nacionais imorenses têm em comum. Há uma ideniicação


de todos com uma ‘comunidade imaginada’. Esta ideniicação é muito
Comunidade imaginada
importante para a formação da idenidade nacional. Um imorense sente Comunidade composta por um grande
que todos os imorenses têm qualquer coisa em comum, mesmo que não conjunto de pessoas (nação) que, sem
se conhecerem umas às outras, se
se conheçam pessoalmente. ideniicam com um passado comum,
vivido dentro do mesmo território, e
Deste modo, é o que pensamos exisir de comum entre todos que forma com a sociedade de que fazem parte.

as bases de uma nação. A nação torna-se, assim, numa realidade para


nós. Como todos a imaginam de uma forma semelhante, em muitos dos
seus aspetos, isto dá-nos o senimento de pertencer a algo que é maior do
que nós. Como se fosse uma totalidade. Fazemos parte desta totalidade e
não de outra. As outras nações são, assim, diferentes da nossa.

Mas esta ‘comunidade imaginada’ foi sendo construída ao longo dos


tempos. Há um passado comum, vivido pelas pessoas dentro do mesmo
território. Quando nascemos, todo este passado já inha sido construído
pelos nossos antepassados. Por isso, não escolhemos a nossa nação. Mas,
esta parte do princípio que queremos fazer parte dela. É qualquer coisa
que vem do passado e é diícil de mudar. Os mitos anigos da origem dos
países são um dos aspetos mais importantes na formação da idenidade
nacional. É um fenómeno posiivo, mas também tem sido usado de uma
forma negaiva por alguns nacionalismos, como veremos mais à frente.

Estado-Nação e identidade nacional | 153


Aividade
Lê, com atenção, o texto seguinte:
Pouco tempo antes da sua morte, ao releir sobre o que deseja para o povo
maubere, Konis (Santana) não sonha com uma economia próspera, nem com o
potencial militar, nem com insituições políicas exemplares, mas apenas com
uma cultura própria, ao serviço do povo, que preserve os valores tradicionais,
que seja um fator de unidade e que leve os outros povos a respeitar a sua
independência. Os lorikus devem querer usar a sua própria língua para cantar
o hino da liberdade no cume das montanhas azuis.

Adaptado de Matoso, J. (2005). A dignidade, Konis Santana e a resistência


imorense. Lisboa: Temas & Debates.

Neste pequeno texto podemos considerar que Konis Santana imaginava


como, na sua visão, deveria ser Timor-Leste no futuro.
1. Deine, por palavras tuas, uma ‘comunidade imaginada’.
2. Qual a principal ideia de Konis Santana para a ‘comunidade imaginada’ de
Timor-Leste no futuro?

3.2 Idenidade nacional e nacionalismo


Já vimos que a formação da idenidade nacional está relacionada com
o nosso senimento de pertença a um país e a um Estado. Podemos
considerar que esta formação dá origem a um nacionalismo popular e
anigo, ligado a senimentos e a comportamentos emocionais. Trata-
se de uma ligação ao nosso país e aos nossos antepassados, com base
numa herança comum. Com base nela, desejamos ser autónomos e livres
em relação a outras nações. Este desejo está na origem da deinição do
nacionalismo como um conjunto de senimentos, dos quais pode resultar
um Estado próprio.
Mas o nacionalismo pode ter outros signiicados, que não estão
forçosamente ligados ao nosso senimento de pertença. Um desses
signiicados nasceu com o Estado-Nação. Relaciona-se com a ideia de que
as nações são divisões naturais entre grupos humanos que ocupam um
mesmo território. A cada um deve corresponder um Estado.
Este ipo de nacionalismo tem duas versões principais. A primeira diz
respeito ao que podemos designar por nacionalismo emancipador ou
nacionalismo cívico. A segunda refere-se a um outro ipo de nacionalismo,
a que podemos chamar nacionalismo totalitário.

154 | Governo e Política


Nacionalismo emancipador ou cívico. O nacionalismo emancipador ou Nacionalismo emancipador ou cívico
cívico tem por base uma ideia de nação fundada em valores de paricipação Forma de nacionalismo consituído
e de inclusão. Quer isto dizer que todos aqueles que parilham uma cultura, pelas ideias de nação baseadas em
valores de paricipação e inclusão
uma religião, uma língua e um território fazem parte de uma comunidade (todos fazem parte da nação e as
diferentes culturas são reconhecidas).
ideniicada com uma nacionalidade. Mas esta paricipação e inclusão
só são completas quando, nesta comunidade, são reconhecidas todas as
culturas, religiões e línguas existentes num dado território comum.
Este ipo de nacionalismo pode estar ligado a um patrioismo consituído
pelo amor à pátria, à terra e ao grupo onde se nasceu. Mas, além disso, pode,
também, estar ligado à ideia de solidariedade em relação à diversidade de
culturas existentes num país e aos grupos sociais oprimidos. Há sempre
uma disinção entre nós (nacionais) e os outros (não nacionais), mas esta
disinção é lexível, baseada na noção de tolerância e de respeito pela
diversidade. Os nacionalismos democráicos e revolucionários, em que
se apoiaram as lutas pela independência, são exemplos do nacionalismo
emancipador ou cívico.
Nacionalismo totalitário. Do lado oposto, a outra versão do nacionalismo Nacionalismo totalitário
é a que podemos ideniicar com o nacionalismo totalitário. Baseia-se na Forma de nacionalismo racista e
crença da superioridade de um povo em relação aos outros (muito comum intolerante, baseado na ideia de
superioridade de um povo em relação
nas doutrinas racistas). É um nacionalismo xenófobo (racista) que exclui aos outros povos.
os outros povos e nações. Disingue fortemente os nacionais dos não
nacionais, em função das suas diferenças culturais, linguísicas e étnicas.
A idenidade nacional é deinida, também, a parir da disinção entre o
nós (nacionais) e os outros (não nacionais). Mas, desta vez, esta disinção
é muito rígida e intolerante. Os grupos minoritários são desprezados
e, por vezes, perseguidos. Trata-se de uma visão muito negaiva do
nacionalismo. Quer-se impor uma idenidade uniicada e uma só cultura
dentro de um território, com o objeivo de obrigar as pessoas a ter uma
visão comum da nação. Esta idenidade uniicada é, assim, confundida
com a idenidade nacional.

Aividade
Lê, com atenção, o texto seguinte:
A ideologia nacionalista tem medo da existência de uma idenidade nacional
deinida a parir de várias culturas e de vários grupos de pertença. Nega que
a idenidade nacional possa ser construída à volta da diversidade, ou seja, de
várias culturas e de várias línguas e maneiras de viver.

Com base neste texto, diz quais são as principais diferenças entre o
nacionalismo emancipador ou cívico e o nacionalismo totalitário.

Estado-Nação e identidade nacional | 155


3.3 Relações entre países com diferentes níveis de desen-
volvimento
Não existe um acordo sobre as caraterísicas dos estados que se tornaram
independentes depois da descolonização, em especial após a Segunda
Guerra Mundial. Ainda hoje a discussão sobre este tema é muito forte. A
pergunta que se faz é a de saber se esses estados devem adotar ou não
os modelos de organização criados no Ocidente. Também se discute se
os modelos de desenvolvimento económico, capitalista e ocidental, são
aplicáveis a esses estados. Diz-se, muitas vezes, que a aplicação destes
modelos faz desaparecer a organização social e económica tradicional das
comunidades.
Os cienistas sociais Samir Amin e Imannuel Wallerstein estão entre os
estudiosos que, de forma mais críica, abordaram este tema. Dizem que
Samir Amin (1931-)
o modelo ocidental de Estado e de desenvolvimento capitalista não pode
Economista egípcio que estuda a
dominação do sistema capitalista sobre ser aplicado, automaicamente, aos estados que surgiram depois das
os países mais pobres. Publicou “O
vírus liberal: A guerra permanente e a
descolonizações. Há relações desiguais entre estados que resultam do
americanização do mundo”. facto de os países economicamente mais favorecidos serem os principais
responsáveis pelo não-desenvolvimento (principalmente económico)
dos países mais desfavorecidos. Os países colonizados foram obrigados a
transferir as suas riquezas para os países colonizadores. Esta exploração da
riqueza e do trabalho dos países colonizados fazia parte de um complexo
sistema mundial de domínio de uns países – chamados países do centro (os
mais desenvolvidos do ponto de vista económico) – sobre outros países,
designados da periferia (os economicamente menos desenvolvidos).
Ainda hoje, apesar da sua independência e da recuperação da soberania
nacional, mantem-se este domínio dos países do centro sobre os países
da periferia. A dependência económica que exisia durante a colonização
não desapareceu. O im do colonialismo não deu origem a uma total
descolonização do mundo. Os povos independentes não europeus e não
Immanuel Wallerstein (1930-)
norte americanos (com algumas exceções, como a China, o Brasil, a Índia,
Sociólogo americano que estudou as
relações desiguais entre países. etc.) coninuam a viver debaixo das imposições de algumas elites dos países
economicamente mais favorecidos. Muitas destas imposições são feitas
por organismos internacionais, como o Fundo Monetário Internacional
(FMI) e o Banco Mundial (BM), que representam os interesses dos países
mais desenvolvidos.
Os países do centro são os
países economicamente mais
Esta situação poderá manter-se e reproduzir-se ainda durante muito
desenvolvidos que dominam o tempo. Por esta razão, muitos dos Estados-Nação, que surgiram depois
sistema capitalista mundial.
das descolonizações, têm diiculdade em se organizar segundo o

156 | Governo e Política


modelo do Estado moderno. Isto acontece, principalmente, quando esta
organização é muito diferente das tradições existentes nos países. Alguns
têm tentado combinar os modelos de organização dos seus estados com
estas tradições. Este é o caso, por exemplo, de Timor-Leste. Os conselhos
locais dos Sucos (Conselho dos Katuas e outros) coninuam a ter poderes
para resolver alguns problemas que surgem nas suas comunidades.
A formação das idenidades nacionais também acontece dentro destes
contextos de dominação dos países do centro em relação aos países da
periferia. Mas temos de reconhecer que em vários novos Estados-Nação
surgiram nacionalismos totalitários, baseados em princípios racistas e
étnicos (superioridade de uma etnia em relação a outras existentes no
país). Em alguns estados, além destes princípios, existem, igualmente,
situações de corrupção. E, em muitos estados, a liberdade de expressão é
limitada. Pessoas, que criicam estas situações dentro dos seus próprios
países são, por vezes, perseguidas, inimidadas e, às vezes, assassinadas.

Aividade
Lê, com atenção, o texto seguinte:
Não será sem dúvida uma tarefa fácil concreizar a independência, conciliando
a diversidade de heranças culturais e as aspirações a uma vida melhor. É certo
que Timor-Leste possui recursos naturais, nomeadamente hidrocarbonetos,
e um potencial agrícola importante, mas terá também de enfrentar desaios
sem precedentes: no interior, com um crescimento demográico inédito, e no
exterior, com uma crise económica mundial dos anos 2000 em paralelo com
uma situação ambiental e climáica problemáica. […] o caminho ainda é
longo para os ilhos do Grande Crocodilo.

Adaptado de Durand, F. (2010). Timor-Leste: País no Cruzamento da Ásia e do


Pacíico – Um Atlas Histórico-Geográico. Lisboa: LIDEL.

Escreve um pequeno texto, em casa, sobre este tema: “O caminho para


concreizar plenamente a independência de Timor-Leste – independência
económica, social e cultural – ainda é um caminho longo”.

Estado-Nação e identidade nacional | 157


RESUMO

Todas as pessoas vivem numa nação organizada num Estado. Da parte das
pessoas há uma ideniicação com um coleivo que ocupa um determinado
território com fronteiras deinidas. Neste território fala-se uma ou várias
línguas, existem várias culturas e uma história comum. A ideniicação
com este coleivo é a base da formação da idenidade nacional.
O sociólogo Zygmunt Bauman refere que é importante ter uma idenidade
nacional. Permite às pessoas viver com a segurança de pertencer a um
país. Este sistema social, com o qual as pessoas se ideniicam, pode ser
chamado ‘comunidade imaginada’. Este conceito é deinido, por Benedict
Anderson, como um grande conjunto de pessoas (nação) que, sem se
conhecerem umas às outras, se ideniicam com um passado comum,
construído dentro do mesmo território, e com a sociedade de que fazem
parte.
A idenidade nacional dá origem a um nacionalismo popular e anigo,
ligado a senimentos e comportamentos emocionais, relacionados com a
pertença ao país de cada um e aos antepassados. Mas, com o Estado-Nação
este nacionalismo passou, também, a ter outros signiicados. Pode ser
um nacionalismo emancipador ou cívico ou um nacionalismo totalitário.
O primeiro tem por base a ideia de uma nação fundada em valores de
paricipação e inclusão, sem excluir as pessoas que falam outras línguas
e têm outras religiões e culturas. O segundo, o nacionalismo totalitário,
baseia-se na crença sobre a superioridade de um povo em relação a outro
ou outros. É um nacionalismo xenófobo (racista) que exclui os outros
povos ou nações.
No caso dos países que conquistaram a independência depois da
descolonização, pode considerar-se que o seu nacionalismo era de ipo
emancipador ou cívico. No entanto, discute-se, ainda, se os estados dos
novos países independentes devem adotar ou não os modelos ocidentais.
Alguns estudiosos das ciências sociais, como Samir Amin e
Immannuel Wallerstein, dizem que o modelo ocidental de Estado e de
desenvolvimento capitalista não pode ser aplicado automaicamente aos
estados que surgiram depois da descolonização. Há relações desiguais
entre estados que estão ligados ao facto de os países economicamente
mais desenvolvidos, principalmente os anigos colonizadores, serem os
principais responsáveis pelo não desenvolvimento económico dos outros
países.

158 | Governo e Política


EXERCÍCIOS

Apenas uma opção de resposta está correta. Copia o exercício para o teu
caderno e marca as opções certas com um X.
1. A pertença a uma nação signiica que:
a) ao longo da nossa vida nunca senimos que fazemos parte de um
sistema social.
b) a língua (ou línguas), a cultura (ou culturas) e a história não são comuns
aos membros da sociedade.
c) as pessoas sentem que não têm nada em comum umas com as outras.
d) as pessoas e os grupos que vivem dentro de um mesmo Estado, mesmo
não falando a mesma língua, sentem que pertencem ao mesmo sistema
social.

2. Uma ‘comunidade imaginada’ é:


a) quando conhecemos todas as pessoas que dela fazem parte.
b) um fenómeno individual.
c) uma realidade que não é comum a todos.
d) composta por um conjunto de pessoas que se ideniicam com um
passado comum que exisiu no mesmo território.

3. O nacionalismo:
a) é sempre xenófobo.
b) é sempre emancipador.
c) só existe em estados totalitários.
d) pode ser emancipador ou cívico ou totalitário.

4. Samir Amin e Imannuel Wallerstein consideram que:


a) o modelo ocidental de Estado e de desenvolvimento capitalista não
pode ser aplicado automaicamente aos estados que surgiram depois das
descolonizações.
b) o modelo ocidental de Estado e de desenvolvimento capitalista deve
ser aplicado automaicamente aos estados que surgiram depois das
descolonizações.
c) o modelo ocidental de Estado e de desenvolvimento capitalista é o
melhor para o desenvolvimento destes países.
d) o modelo ocidental de Estado e de desenvolvimento capitalista permite
manter a organização social e económica tradicional das comunidades.

Estado-Nação e identidade nacional | 159


4 As organizações internacionais e a sua inluência nas
políicas nacionais

4.1 Conceito de transnacionalidade
Com as mudanças nas sociedades e a globalização o Estado entrou em
crise. Em muitos países, o Estado tornou-se incapaz de assegurar as razões
pelas quais foi organizado, como a garania da vida, da segurança, da
liberdade, entre outros. Como resultado, diminui a coniança das pessoas
no Estado. Isto tem afetado, em vários países, a vontade das pessoas em
paricipar no processo políico. Por outro lado, os estados nacionais viram
também o seu poder diminuído em relação às aividades das grandes
empresas mulinacionais. Estas são as principais intervenientes no sistema
económico global. A globalização tem diminuído as barreiras existentes
entre os estados nacionais. Com os mercados cada vez mais globalizados,
alterou-se a autonomia e a capacidade da ação políico-económica dos
estados modernos.

Como resposta a esta nova realidade, o sociólogo Ulrich Beck apresenta


Transnacionalidade
Ideia defendida por Ulrich Beck, em a ideia de transnacionalidade dos estados. Para ele, os estados nacionais
que os estados passam a ter um novo
não deixarão de exisir, mas terão um novo papel. Isto é, a organização em
papel face aos desaios impostos pela
globalização, passando a enfrentá-los estados coninuará a exisir para dar forma ao processo de globalização
para além da sua conceção soberana.
e regulá-lo de modo transnacional. Esta ideia signiica que uma parte do
poder que os estados nacionais inham passa a ser exercido a um nível
mais global, com base em organizações em que os próprios estados
paricipam.

Cria-se, assim, um espaço transnacional, onde os estados nacionais


atuam. Esta atuação permite prevenir a formação de um único Estado à
escala mundial, cujos poderes seriam ilimitados.

O conceito de Estado transnacional refere-se à emergência de novas


Estado transnacional
Corresponde à existência de organizações coleivas de países, que resultam da intensiicação da
espaços coleivos que resultam do
complexidade das relações globais. Estas são dotadas de capacidade de
desenvolvimento de relações globais.
intervenção e de imposição de regras, com o objeivo de regular a ordem
mundial. A ONU é um exemplo deste ipo de organizações.

160 | Governo e Política


Aividade
Lê, com atenção, o texto seguinte:
A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, ou CPLP, é uma organização
transnacional que visa o reforço da amizade mútua e da cooperação entre
os seus países membros. Criada a 17 de julho de 1996 é uma insituição com
autonomia inanceira e jurídica, englobando os seguintes países de língua
oicial portuguesa: Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São
Tomé e Príncipe, Portugal, Brasil e Timor-Leste.
A CPLP tem como objeivos a harmonia políica e diplomáica entre os seus
Estados membros (servindo assim de fórum de promoção internacional
dos mesmos), a cooperação entre as nações consituintes em todos os
domínios, o desenvolvimento de projetos de promoção e divulgação da língua
portuguesa. Todos os Estados membros gozam de igualdade e reciprocidade
de tratamento no seio da CPLP, mantendo as suas idenidades nacionais e
respeitando o princípio da não-ingerência em assuntos de cada um dos
países, bem como a sua integridade territorial. A paz, democracia, direitos
humanos, jusiça social e estado de direito são os objeivos a que se votam os
membros da CPLP de acordo com os princípios por que se regem, com vista à
promoção do desenvolvimento e da cooperação mútua.

Infopédia (2012). Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).


Acedido a 23 de dezembro de 2012, disponível em htp://www.infopedia.
pt/$comunidade-dos-paises-de-lingua-portuguesa

1. Responde, no teu caderno, à questão seguinte:


Na tua opinião, qual a importância da criação de espaços transnacionais? Dá
o exemplo concreto da CPLP.

4.2 Tipos de transnacionalidade
Podemos dizer que a transnacionalidade pode ser analisada do ponto de
vista políico, económico, social, ambiental, humanitário, entre outros.
A transnacionalidade é um fenómeno ligado à globalização, pois esta
permitiu uma ligação mais fácil entre as nações. Representa a nova
situação mundial. Esta, surgiu principalmente, a partir do grande aumento
das relações económicas e comerciais depois da Segunda Guerra Mundial,
na qual as empresas transnacionais desempenharam um papel relevante.
Em conjunto com estas empresas existem, no entanto, outros
intervenientes importantes, nomeadamente:
1. as organizações que representam a comunidade internacional dos
estados, incluindo a Organização das Nações Unidas.

As organizações internacionais e a sua influência nas políticas nacionais | 161


2. as organizações que se preocupam com os processos que exigem a
colaboração ou a comunicação internacional, como os serviços postais,
as telecomunicações, as leis de navegação, etc.
3. as organizações que ligam estados ou outros intervenientes
económicos com interesses internacionais comuns, como é o caso da
Associação de Nações do Sudeste Asiáico (ANSEA/ASEAN) ou a União
Europeia.
Foi com a Primeira Guerra Mundial que começaram a surgir as organizações
internacionais, de caráter universal e de natureza políica, como é o caso
da Organização das Nações Unidas. Os dirigentes políicos parilhavam a
opinião de que não deveria voltar a haver guerra numa tal escala, pelo que
uma das missões desta organização é proteger e promover a paz mundial.
Atualmente a ONU inclui praicamente todos os estados do mundo, tendo
uma profunda inluência sobre o sistema mundial. Esta representa a
crescente integração do sistema mundial.
Outro dos objeivos da criação de organizações transnacionais é a atuação
contra o crime. Por exemplo, a Força Tarefa Conjunta Interagentes Oeste
(JIAT F West), criada em 1989, tem como objeivo combater o crime
transnacional organizado associado às drogas. Procura reduzir as ameaças
na região Ásia-Pacíico, proteger interesses de segurança nacional e
promover a estabilidade regional.
Ao longo dos úlimos séculos tem vindo a registar-se a degradação
dos recursos naturais. A ameaça ao meio ambiente resulta da grande
expansão da produção industrial e da intervenção tecnológica na natureza,
especialmente acentuada a parir da Revolução Industrial. Os movimentos
e paridos “verdes”, como os Amigos da Terra ou o Greenpeace, que são
organizações globais, desenvolveram-se para dar resposta a estes desaios
ambientais. Estas organizações têm como objeivo preservar o ambiente,
conservar os recursos e proteger as espécies existentes.

Greenpeace é uma
Outro exemplo da intervenção transnacional tem a ver com a manutenção
organização não- da paz e os direitos humanos. Segundo as organizações existentes, a
-governamental que atua
internacionalmente em comunidade internacional tem a responsabilidade de criar um contexto
questões relacionadas com
a preservação do meio
propício para a realização deste direito. Um exemplo é a Amnisia
ambiente e desenvolvimento Internacional, que defende a liberdade de expressão e averigua denúncias
sustentável, com campanhas
dedicadas às lorestas, clima, de prisões políicas, torturas ou execuções, luta contra a pena de morte,
oceanos, substâncias tóxicas,
energia renovável, entre
protege os refugiados alvo de perseguição políica, entre outros.
outros. Procura sensibilizar
A procura dos direitos humanos para todos apoia-se na Carta das Nações
a opinião pública através de
atos, publicidade e outros Unidas e da Declaração Universal dos Direitos Humanos. A ONU paricipa
meios.
também na organização de missões de paz para países em conlito. O

162 | Governo e Política


caráter internacional das missões de paz autorizadas pelo Conselho de
Segurança da ONU proporciona a qualquer operação uma legiimidade
incontestável. É o caso das diversas missões em Timor-Leste.

Forças policiais das Filipinas ao serviço da ONU em Timor-Leste

Aividade
Responde, no teu caderno, às questões seguintes:
1. Que ipos de transnacionalidade existem? Procura, na biblioteca da tua
escola, mais informação acerca de cada uma.
2. Dá exemplos da inluência ou da presença de insituições transnacionais
em Timor-Leste.

As organizações internacionais e a sua influência nas políticas nacionais | 163


RESUMO

O fenómeno da transnacionalidade representa o novo contexto social


mundial, surgido principalmente a parir do aumento das operações de
natureza económica e comercial no período do pós-guerra.
Os governos nacionais são demasiado pequenos para dar resposta a
questões globais de grande complexidade. Ao mesmo tempo que os
governos enfraqueceram em relação a problemas globais, também se
tornaram mais distantes da vida da maioria dos cidadãos. Os governos
têm, também, pouco poder, por exemplo, sobre as aividades das grandes
empresas mulinacionais, que são os principais intervenientes no sistema
económico global.
O intenso movimento de globalização quebrou as barreiras existentes
entre os estados nacionais. Alterou a autonomia e a capacidade da ação
dos estados modernos. Criou-se, assim, um espaço transnacional, que
resulta da intensiicação da complexidade das relações globais. Estes
espaços são dotados de capacidade de intervenção e de imposição de
regras, com o objeivo de construir uma nova ordem mundial.
Além das empresas transnacionais existem outros intervenientes
importantes no fenómeno da transnacionalidade, nomeadamente: as
organizações que representam a comunidade internacional dos estados,
as organizações que se preocupam com os processos que exigem a
colaboração ou a comunicação internacional e as organizações que
ligam estados ou outros intervenientes económicos com interesses
internacionais comuns. Além destas organizações, podem-se citar outras
forças no plano transnacional que desaiam o Estado, como é o exemplo
das Organizações Não-Governamentais.
A transnacionalidade pode ser vista do ponto de vista políico, económico,
social, ambiental, humanitário, entre outros.

164 | Governo e Política


EXERCÍCIOS

Responde, no teu caderno, às questões seguintes:


1. Qual o papel da globalização no fenómeno da transnacionalidade?
2. Ideniica os intervenientes que têm um papel no fenómeno da
transnacionalidade.

As organizações internacionais e a sua influência nas políticas nacionais | 165


GLOSSÁRIO

A Antropologia Políica - Estuda a organização políica das sociedades


tradicionais.
Automaização - Uso de máquinas (chamadas de robots) para executar e
controlar processos de produção, com uma supervisão mínima por parte
dos seres humanos.

C Capital cultural - Conjunto de recursos, competências e apetências


disponíveis e mobilizáveis em matéria de cultura.
Capital económico - Traduz a existência de diferentes fatores de produção
(terra, fábricas e trabalho) e de bens económicos (dinheiro, património e
bens materiais).
Capital social - Explica a forma como os indivíduos inseridos em redes de
relações sociais estáveis podem beneiciar das suas relações.
Comunidade imaginada - Comunidade composta por um grande
conjunto de pessoas (nação) que, sem se conhecerem umas às outras, se
ideniicam com um passado comum, vivido dentro do mesmo território,
e com a sociedade de que fazem parte.
Conhecimento indígena - Conhecimento especíico de uma determinada
cultura e sociedade, sendo a base para a tomada de decisões, a nível local,
sobre várias aividades importantes para a sobrevivência do ser humano.
Conhecimento tradicional - Cultura de um povo, que é transmiida de
geração em geração. Corresponde ao conhecimento do senso comum.

D Democracia direta ou paricipaiva - Regime políico em que as decisões


de governo são tomadas diretamente pelo povo, sem intermediários.
Democracia indireta ou representaiva - Regime em que o povo decide
através de representantes seus reunidos em assembleia ou parlamento.
Democracia muliparidária - Regime em que, nas eleições, o povo pode
decidir entre vários paridos políicos.
Democracia semidirecta - Regime em que o povo delega apenas poderes
normais de administração, retendo consigo, para ser consultado através
de voto, os poderes mais importantes.
Democracia uniparidária - Regime em que o povo não pode escolher
entre paridos diferentes, apenas entre candidatos do mesmo parido.
Democraização - Grande aumento da frequência da escola por alunos de
todas as classes sociais economicamente mais desfavorecidas.
Desenvolvimento - Mudança conínua, total ou parcial, numa sociedade
ou numa pessoa.
Desenvolvimento cogniivo - Mudanças no pensamento, criaividade,
compreensão e na forma como as pessoas resolvem problemas (assuntos

166
escolares e situações do dia a dia). Estas mudanças vão acontecendo à
medida que a idade das crianças e dos jovens vai avançando.
Desenvolvimento moral - Forma como as crianças e os jovens (e os
adultos) vão lidando com as regras, valores e princípios que existem na
sociedade (respeito pelas outras pessoas, solidariedade, tolerância, etc.).
Desenvolvimento social - Forma como as crianças e jovens (e adultos)
compreendem e lidam com os senimentos, pensamentos, emoções e
intenções das outras pessoas.
Discriminação direta - Resulta de práicas que provocam um tratamento
desigual e desfavorável para um grupo ou um género.
Discriminação indireta - Resulta de situações, leis ou práicas que parecem
neutras mas resultam em desigualdades para determinadas pessoas ou
grupos.
Economia informal - Trocas que são feitas sem qualquer documento a
comprová-lo.
E
Educação formal - Educação relacionada com as aprendizagens feitas na
escola.
Educação não escolar - Aprendizagens feitas na comunidade, de forma
mais informal ou através de aividades organizadas fora do contexto da
escola.
Educação não formal - Educação ligada às aprendizagens em contextos
não escolares.
Eleições - Sistema usado para o povo poder eleger os seus representantes,
através do voto.
Estado - Conjunto de formas de organização e de governo das sociedades,
com base num monopólio administraivo sobre um território dentro de
fronteiras. Este monopólio é aceite pelas populações através das eleições
(soberania popular).
Estado transnacional - Corresponde à existência de espaços coleivos que
resultam do desenvolvimento de relações globais.
Estereóipos de género - Representações acerca dos traços e papéis sociais
atribuídos a homens e mulheres. Os traços de género correspondem
às noções do que homens e mulheres devem ser enquanto os papéis
correspondem ao que devem fazer.
Estruturo-funcionalismo - Conjunto de teorias que procuram explicar
aspetos da sociedade em termos das suas funções e consequências.
Partem do princípio que tudo o que existe na sociedade tem uma função
ou dá uma contribuição necessária para o funcionamento de todo o
sistema social.
Flexibilização - Maior liberdade das organizações para contratar
trabalhadores de acordo com as suas necessidades.
F
Glossário | 167
Fordismo - Sistema de produção em grande quanidade a baixo custo,
associado ao consumo em massa.
Forma de governo - Conjunto de insituições políicas por meio das
quais um Estado se organiza, de maneira a exercer o seu poder sobre a
sociedade.

G Género - Enquanto o conceito de sexo se refere apenas às diferenças


biológicas entre homens e mulheres, o conceito de género está ligado aos
diferentes papéis sociais atribuídos a cada um, de acordo com as regras
dominantes em cada sociedade.

I Igualdade de oportunidades - Criação de contextos que permitam a todos,


independentemente da sua condição social e económica, ter acesso às
mesmas condições de vida.
Interacionismo - Caracteriza as teorias da Sociologia que escolhem como
objeto de estudo os processos de interação (relação entre duas ou mais
pessoas) que surgem em pequenos grupos.

M Massiicação - Grande aumento de entrada na escola de crianças e jovens


de todas as classes sociais.
Monarquia - Forma de governo em que o chefe de Estado se mantem
no cargo até à sua morte ou abdicação, sendo normalmente um regime
hereditário.
Monarquia absoluta - Forma de governo em que o chefe de Estado se
mantem no cargo até à sua morte ou abdicação, sendo normalmente um
regime hereditário.
Monarquia consitucional - Forma de governo em que o monarca exerce
poder absoluto sobre o Estado e o Governo.
Monarquia eleita - Monarquia em que o chefe de governo é eleito por
votação e tem cargo vitalício.
Monarquia semi-consitucional - Forma de governo onde o monarca,
por vezes, cede poder a um governo democráico, mantendo ainda uma
inluência políica signiicaiva.
Monarquia sub-nacional – Monarquia situada dentro de estados
relacionados.

N Nação - Resulta da ideia de pertença a um grupo ou a uma cultura.


Nacionalismo emancipador ou cívico – Forma de nacionalismo consituído
pelas ideias de nação baseadas em valores de paricipação e inclusão
(todos fazem parte da nação e as diferentes culturas são reconhecidas).
Nacionalismo totalitário - Forma de nacionalismo racista e intolerante,
baseado na ideia de superioridade de um povo em relação aos outros
povos.

P Políicas de família - Correspondem às iniciaivas dos governos para


regular e apoiar a vida das famílias.

168 | Glossário
Polivalência - Realização de um maior número e variedade de tarefas em
vez de uma única tarefa.
Produção em grupo - Produção organizada por pequenos grupos e
não individualmente, implicando o abandono da linha de produção e o
estabelecimento de grupos de trabalho paricipaivo.
Regime autoritário ou autoritarismo - Regime políico que se caracteriza
pela excessiva autoridade do Estado e pela suspensão das garanias
R
individuais e políicas.
Regime democráico - Regime políico onde a origem, a distribuição e o
controlo do poder está no povo.
Regime políico - Forma como o poder políico é assumido em cada Estado,
estando relacionada com os ins e os meios do poder e da comunidade,
com os direitos fundamentais e com a organização económica e social.
Regime totalitário ou totalitarismo - Regime políico em que todo o poder
está concentrado nos governantes.
Reino da Comunidade das Nações - Monarquia consitucional cujo chefe
de Estado simbólico é o monarca do Reino Unido.
República - Forma de governo na qual o chefe do Estado é eleito pelos
cidadãos ou seus representantes, tendo a sua cheia uma duração limitada.
Segregação horizontal - Concentração de mulheres e/ou homens em
diferentes ipos de aividades, icando as mulheres coninadas a um leque
S
mais apertado de setores ou proissões.
Segregação verical (no âmbito do género) - Concentração de mulheres
e/ou homens em vários níveis da hierarquia proissional. Frequentemente
são as mulheres que se encontram nos níveis mais baixos. Mesmo nas
proissões consideradas femininas, muitas vezes as mulheres coninuam a
ocupar as posições mais baixas na carreira proissional.
Sistema de governo - Forma pela qual o poder políico é dividido e
exercido no Estado.
Sistema de produção lexível - Centro de maquinaria controlada por
computador que molda peças metálicas a alta velocidade, em robots
que manuseiam as peças e em carros teleguiados que transportam os
materiais pra o lugar de produção e daí para outras zonas.
Sistema educaivo - Todos os recursos e meios que o Estado e a sociedade
usam para educar os seus cidadãos.
Sistema parlamentarista ou parlamentarismo - Sistema de governo em
que não há uma clara separação entre os poderes execuivo e legislaivo.
Sistema presidencialista ou presidencialismo - Sistema de governo em
que há uma clara separação entre os poderes execuivo e legislaivo.
Sistema semipresidencialista - Sistema do Governo em que o chefe de
governo e o chefe de Estado parilham o poder execuivo.

Glossário | 169
Sistemas de grande responsabilidade - Organizações ou contextos laborais
nos quais é permiido grandes níveis de autonomia aos trabalhadores
para poderem gerir as suas tarefas.
Sistemas de pequena responsabilidade - Organizações ou contextos
laborais nos quais não é permiido grandes níveis de autonomia aos
trabalhadores para poderem gerir as suas tarefas.
Sociedade de risco - Sociedade assim deinida pela forma como o perigo
ainge todas as pessoas como um efeito secundário da tecnologia.
Sociedade do conhecimento – Resulta do desenvolvimento das
tecnologias e da globalização. O conhecimento é considerado como um
fator de produção e a maioria dos empregos concentram-se nos serviços.
Sociedade patriarcal - Sociedade cuja organização se baseia na autoridade
masculina. Isto signiica que as relações entre as pessoas não são
iguais mas hierarquizadas, com os homens a exercerem poder sobre as
mulheres. Esta autoridade masculina evidencia-se em todos os domínios
da sociedade. Refere-se tanto ao poder que os homens adultos têm na
família – a autoridade sobre os familiares – como ao poder que exibem
nos níveis da organização religiosa, cultural e políica.
Sociologia da Educação - Ramo recente da Sociologia que procura estudar
a importância da escola e do conhecimento na sociedade.
Sociologia da Família - Ramo da Sociologia que estuda todos os fenómenos
sociais relacionados com as pessoas no grupo familiar.
Sociologia Políica - Ramo da Sociologia que estuda o poder, o Estado e o
dever políico. A Sociologia Políica ajuda a compreender os processos da
decisão políica.
Stress no trabalho - Corresponde a um esgotamento, exaustão ou fadiga
resultante de uma exposição prolongada a um trabalho muito intenso.

T Taxa de abandono - Número de alunos que abandonam a escola


relativamente ao número total de alunos que a frequentam.
Taylorismo - Conjunto de ideias desenvolvidas por Taylor, conhecidas
como gestão cieníica, as quais implicam operações industriais simples e
coordenadas. Estudos dos processos industriais de modo a simpliicar as
tarefas de cada trabalhador, integrando-as com a dos outros operários, de
forma a maximizar o rendimento industrial.
Tecnologia - Aplicação práica de princípios cieníicos.
Teoria do Capital Humano - Teoria que considera o trabalho como um
ipo de capital, a que chamam humano. Quanto maior for a educação
e qualiicação do capital humano maior será a sua produção e a riqueza
económica de um pais.
Trabalho - Realização de tarefas que envolvem esforço ísico ou mental,
com a inalidade de produzir bens e serviços para a saisfação das
necessidades humanas.

170 | Glossário
Trabalho domésico - Trabalho relacionado com as tarefas desenvolvidas
no espaço da casa e da família.
Trabalho não remunerado - Trabalho realizado para concreizar uma
aividade, mas sem receber um salário.
Trabalho remunerado - Trabalho efetuado em troca de um pagamento ou
salário regular.
Trabalho voluntário - Trabalho em que a pessoa se disponibiliza a exercer
uma aividade cívica, sem receber qualquer remuneração em troca.
Transnacionalidade - Ideia defendida por Ulrich Beck, em que os estados
passam a ter um novo papel face aos desaios impostos pela globalização,
passando a enfrentá-los para além da sua conceção soberana.

BIBLIOGRAFIA

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Estampa.
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Créditos das Imagens

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