Criatividade Sempre

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A Arte de Ser Criativo

(Manual com 9 dicas práticas de como ser mais


criativo e construir um Processo para isso!)
Copyright © 2021 de Diogo Silva

Todos os direitos reservados. Este ebook ou qualquer parte dele não pode ser
reproduzido ou usado de forma alguma sem autorização expressa, por escrito,
do autor ou editor, exceto pelo uso de citações breves em uma resenha do
ebook.

Primeira edição, 2021


www.dbrsilva.com
Lista de Conteúdos

Introdução - Quem sou eu e como cheguei aqui?


Como eu cheguei aqui?
Parte 1 - O propósito da Criatividade
Por que queremos ser criativos? Qual o propósito disso?
A importância de ser criativo no mundo atual: As eras da Criatividade e o
Ciclo de Produtividade.
Mas eu não sou criativo…
Parte 2 - 9 Dicas Práticas
Dica #1 - Faça perguntas para o mundo ao seu redor
Dica #2: Experimente coisas novas (em tudo que puder)
Dica #3: Use o Método Ozymandias
Dica #4: Não faça nada (e medite) (e procrastine)
Dica #5: Movimente-se (faça exercícios)
Dica #6: Descubra seus Hábitos Criativos
Dica #7: Roube (e colecione) como um Artista
Dica #8: Exponha (bote seu bloco na rua)
Dica #9: Brinque
Parte 3 - O Processo da Criatividade
Disciplina e Inspiração não vem do nada
1. Você está fazendo uma tarefa que não gosta
2. Você está se planejando do jeito errado
3. Você não vê o seu objetivo final
Só continue trabalhando...
O Conceito de Catedrais
Ferramentas para te ajudar a ser mais criativo
As músicas certas
Habilidade de Anotar
Melhorando a sua produtividade
Etapa #1: Clareza
Etapa #2: Sistema
Etapa #3: Ação
Para fechar
E NO FIM, O AMOR QUE VOCÊ RECEBE É IGUAL AO AMOR QUE
VOCÊ DÁ
Referências
Livros
Links
O mistério não é sair da zona de conforto, mas saber viver no conforto da
zona
Luiz Antonio Simas
Introdução - Quem sou eu e como
cheguei aqui?
Como eu cheguei aqui?
Pergunta difícil, né? Complicada até de responder. Afinal, eu comecei minha
vida profissional querendo ser escritor e hoje eu sou líder de um time de
criação...
Eu queria ser escritor. Desde que eu era garoto, viciado em ler livros, eu me
recordo de assumir que queria ser escritor. Galera queria ser policial,
astronauta, bombeiro, e eu queria ser escritor.

Não era uma carreira em si, eu não pensava como uma carreira, mas sim
como um chamado de vida mesmo.

Eu queria ser escritor e botar minhas histórias pra correr pelo mundo.

Então eu fui fazer letras, quando tive que escolher um curso para o vestibular
quando fiz meus 18 anos.

E o curso de letras não serve para você se tornar um escritor. Não posso
negar que as aulas de literatura me ajudaram muito com a questão da estética
e de conhecer um mundo novo. Mas tinha muita coisa de gramática e
linguística que não me ajudava em praticamente nada.

Além disso, o curso não ajudava em coisas importantes para a escrita, como a
organização, melhorar a produtividade e ser mais criativo.

Logo eu descobriria que o curso de letras não me ajudaria em nada para ser
um escritor, que eu teria um pouco de raiva do modelo falido das editoras
tradicionais e que o caminho certo para eu realizar meu sonho era transformar
a escrita numa missão de vida, mas minha carreira era abrir uma editora.

Todo jovem é muito sonhador mesmo.

Então lá fui eu abandonar letras, com o curso quase completo, e fui fazer
outra faculdade, dessa vez de Administração.
Em Administração o mundo se abriu um pouco mais...

Eu comecei a entender melhor não só como escrever mais e ser mais


produtivo (justamente com a organização, processos e gestão), mas também
como ser mais criativo, afinal criatividade não é algo que surge do nada, da
inspiração divina de um mundo das ideias (foi mal, Aristóteles, mas você
tava errado...)

A faculdade de administração me ajudou a me aprofundar ainda mais nessas


minhas pesquisas e acabei indo tentar fazer uma carreira (afinal, boletos
existem), na área de marketing, onde eu poderia continuar aprendendo mais
coisas que me ajudariam com a minha missão de vida (ser escritor) e ainda
poderia desenvolver mais conhecimento nessas áreas que me auxiliavam.

Recentemente assumi uma posição como líder de um time de Criação. Estava


saindo da execução, de ser redator e criar as campanhas e indo num caminho
bem diferente, de gerenciar um time criativo.

Decidi então que criar um Manual para esse time era uma tarefa essencial.
Tentando resumir o que eu já tinha aprendido e tentando responder às
principais perguntas que esse time pudesse ter.

O que é criatividade, qual propósito de ser criativo, como ser mais criativo...

Essas foram algumas perguntas que fui tentando responder ao longo desses
mais de 10 anos. Esse livro é para sintetizar tudo que consegui encontrar
nesse tempo e que ajude a responder algumas dessas perguntas.

Espero que seja útil pra você. Se pelo menos uma das práticas já te auxiliar,
já vou ter cumprido minha missão com essas linhas.

Grande abraço,

Diogo

ps: como eu imagino que você seja um leitor e um aprendedor tão chato e cri-
cri como eu, no final do livro vão estar todas as referências, de livros, links e
vídeos, que usei para escrever e também para construir meu conhecimento
sobre o tema ao longo desses anos. Nada do que está aqui foi tirado do ar e
mesmo os meus achismos são teorias baseadas em pensamentos de outras
pessoas. Importante deixar claro que eu não vou conseguir referenciar como
nota de rodapé, mas só como bibliografia no final mesmo.

ps2: existe um problema grande do uso do gênero masculino como norma


padrão para escrever quando você precisa citar um gênero. Para mudar isso,
alguns livros ou escrevem tudo no feminino ou vão intercalando de gênero a
cada capítulo. Eu vou usar essa estratégia de ir intercalando os capítulos por
gênero, leitora e leitor.
Parte 1 - O propósito da Criatividade
Pode ser balela de quem trabalha nesse mundo de startups tem um tempo,
mas eu gosto sempre de começar as coisas pelo propósito delas.

Pela força motriz, pela energia, pelo que dá a fagulha que começa o fogo.
Então vamos parar um pouquinho e tentar entender um pouco mais do que é
criatividade.
Por que queremos ser criativos? Qual o propósito
disso?
Pra isso eu quero começar primeiro tentando entender o que significa
criatividade...

De acordo com o dicionário de Cambridge, numa tradução livre do verbete,


“Criatividade é a habilidade de produzir ou usar ideias originais e não usuais,
ou fazer algo novo e imaginativo”.

Percebam que a Criatividade envolve ali três verbos bem práticos: produzir,
usar e fazer.

Logo, a criatividade é algo prático e necessita de execução. Não existe ser


criativo e não executar!

Se você tem ideias mas não atua nelas,


você é imaginativo, mas não criativo
A criatividade tem como propósito executar e botar o que você imagina em
jogo.

Outro ponto importante da criatividade é que ela nada mais é do que um


grande processo que envolve alguns objetivos que podem ou não se conectar
entre si. São eles:

1) Perceber o mundo de novas maneiras


2) Achar padrões ocultos
3) Fazer conexões entre coisas que não parecem ter conexão
4) Achar soluções para problemas
A importância de ser criativo no mundo atual: As
eras da Criatividade e o Ciclo de Produtividade.
Um ponto que eu vejo ser negligenciado no debate sobre criatividade, é a sua
importância pro mundo atual.

Geralmente quem tá discutindo criatividade está discutindo muito pouco o


porque ser criativo é importante, entregando mais os meios do que o fim.

Mas eu vou tentar fazer diferente por aqui. Antes de entrar na parte prática
em si, no como da coisa, vou explicar o fim.

Assim, você não vai ser só criativo mas também poder defender melhor a
criatividade e sua importância.

Para isso, vamos olhar para trás e entender um pouco a história do mundo.

Senta que lá vem história...

Ao longo da história, vivemos diversas eras e desde a revolução industrial


nós podemos dividir as eras em 3: Era da Produção em Massa, Era da
Produtividade e Era da Internet. Como dá pra perceber, essas eras estão
muito baseadas em termos de produção do que nós, como sociedade,
conseguimos fazer.

Pra entender uma a uma.

Era da Produção
Lema: Faça coisas grandes (Do things bigger)
É aqui que surgem as novas tecnologias de manufatura. O crescimento
populacional exige que as empresas cresçam rápido e entreguem para os
clientes em larga escala.

Exemplo clássico é o Modelo Ford T. O período histórico começa no fim do


século 19 e vai até o anos de 1925, mais ou menos.

Era da Produtividade
Lema: Faça coisas grandes e melhores (Do things bigger and better)
Aqui as preocupações começam a ser as automações, que permitem que a
produção consiga entregar itens melhores. Também existe mais concorrência,
que exige que todo mundo comece a fazer itens de qualidade, não bastando
só entregar o produto.

Exemplo clássico é o Toyotismo. O período histórico começa ali em 1925 e


vai até o fim dos anos 80.

Era da Internet
Lema: Faça coisas maiores, melhores e mais rápido (Do things bigger, better
and faster)
O mundo ficou menor com a globalização e a internet facilitou que a gente
entregasse as coisas muito mais rápido. Além do que, como as eras são
incrementais, partimos do pressuposto que todos os produtos são feitos em
larga escala e já são de qualidade, embora a produção seja mais
descentralizada. Por isso a importância de fazer tudo isso chegar mais rápido
na casa do cliente.

Exemplo clássico é a Amazon. O período histórico vai do começo dos anos


90 até agora, por enquanto...

Bom, depois de vivermos nas 3 épocas, já temos dados suficientes para saber
que as coisas estão mudando e estamos chegando num novo ponto de ruptura.
Estamos cada vez mais nos aproximando de uma nova Era. Isso se nós já não
entramos nela sem perceber...

É a Era da Criatividade, que tem como lema: Faça coisas maiores,


melhores, mais rápido - e faça mais coisas novas (Do things bigger, better
and faster – and do more new things).

Tem um livro que eu gosto bastante, o “Zero a Um” do Peter Thiel, fundador
do PayPal. Nele, é explicado que existem duas formas de gerar crescimento.

Uma é a forma horizontal, onde você vai melhorando algo que já existe (O
crescimento vai de 1 até N).

A outra, e é a que ele fala que é o segredo das grandes empresas que surgiram
na história, está em ir de 0 até 1, onde você aposta no crescimento vertical,
criando algo novo e "do nada".

Para atingir sucesso e sobrevivência, precisamos dar saltos mais longos,


desbravar novas ideias, parar de melhorar o que existe e criar coisas novas.
Isso já é uma preocupação para grandes empresas, de gerar novas e originais
ideias.

A habilidade de ser criativo acaba se tornando mais uma necessidade e não só


uma habilidade/aptidão a ser desenvolvida.

Ou seja, estamos cada vez mais necessitados da habilidade de ser criativos


justamente para podermos viver nessa nova era.

Antes o recurso escasso no planeta era a produtividade, mas conforme ele vai
ficando mais abundante e commoditizado, fica mais fácil entender que temos
que mudar a forma que a gente investe, seja com dinheiro seja em termos de
carreira.

Num mundo onde a gente compra produtividade com maquinário, a


criatividade passa a ser um recurso escasso e, por isso, passa a valer mais.

Enquanto a produtividade se baseia em otimizar e tirar ao máximo dos


recursos existentes, a criatividade vai no caminho inverso: descobrir novos
recursos, transformar problemas em vantagens e a inspiração para a criação
de um novo mundo.
Mas eu não sou criativo…
Primeiro temos que acabar com essa história de que "eu não sou criativo".
Isso é balela.

E uma coisa que eu queria tirar o estigma é que ser criativo é só coisa de
quem é de "humanas" ou de artista.

Galileu pegou um pedaço de vidro e resolveu olhar pro céu. Descobriu mais
sobre os astros.
Ada Lovelace pegou um artigo pra traduzir e introduziu suas próprias ideias,
criou o primeiro algoritmo crescendo ainda mais a ideia original do artigo
original.
Bide (ou Alcebíades) pegou uma lata de manteiga, um pedaço de couro
pequeno e inventou o tamborim (pra depois ajudar a inventar a primeira
escola de samba).

Toda forma de repensar o mundo ou resolver um problema, tudo isso é ser


criativo.

No fundo a criatividade vem de uma equação simples que é:


curiosidade
+
conexões entre seus conhecimentos
+
resolução de problemas
É mais simples perceber isso na arte, onde a solução de um problema é
simplesmente criar entretenimento, por exemplo.

Mas criatividade também envolve resolver problemas do dia a dia. Quando


você bota um lençol porque não tem uma cortina, isso é criatividade em sua
mais pura essência.

Criatividade tem muito a ver com processo também. Eu trabalho com redação
publicitária e, no meu caso, preciso garantir que meu processo me ajude a
escrever as peças e textos.

Um time de desenvolvedores de tecnologia escreve códigos o tempo todo e


precisa ser criativo para pensar nas diversas maneiras para resolver problemas
numa aplicação. Ou seja, mesmo no mundo das “exatas” temos problemas e
soluções criativas nos ajudando a resolvê-los.

Existem várias ferramentas e processos que ajudam a destravar essa


criatividade que vai ajudar a resolver problemas. São as mesmas ferramentas
e processos que também podem ser utilizados para ser mais criativo num
sentido artístico.

Você que manda!

E agora nós vamos entrar na parte boa desse livrinho: vamos aprofundar nas
9 principais dicas e processos para você conseguir destravar seu lado mais
criativo.

Uma dica antes das dicas: Se você está trabalhando em algum projeto, tem
uma parte no final de cada dica onde tem uma parte “prática”. Essa parte vai
estar relacionada a como aplico a projetos meus, então aconselho seguir dali
pra ajudar nos seus também! :)

E, por favor, lembre-se: o material é PRÁTICO. Bote a mão na massa! De


vez em quando vão estar sinalizados no meio das dicas algumas atividades.
Siga-as e execute-as!
Parte 2 - 9 Dicas Práticas
Dica #1 - Faça perguntas para o mundo ao seu
redor
Pare um segundo aí onde você estiver e lembre-se de tudo que aconteceu
desde o momento que acordou até o agora.

Quantas vezes você, durante esse dia, questionou a realidade ao seu redor?
Quantas vezes você questionou as paradas mais banais da sua existência e
que cruzaram a sua vida?

Você já se perguntou porque o céu é azul?


Ou como é a língua de um pica pau?

Essas são perguntas que o Da Vinci se fazia diariamente. Quem conta isso
pra gente é o Walter Isaacsson, que por sinal também escreveu, além da
biografia do Da Vinci, a do Jobs e a do Einstein. Em todas essas biografias dá
pra perceber que esses caras tinham os mesmos hábitos de se perguntar essas
coisas meio comuns e até meio banais.
Simplesmente pela curiosidade em si.
Não tenho nenhum talento especial.
Sou apenas apaixonadamente curioso.
Einstein
Inclusive tem um trecho, no final da biografia do Da Vinci, que o autor traz
algumas estatísticas:

● Com 5 anos, uma criança faz 120 perguntas por dia


● Com 6 anos uma criança faz 60 perguntas por dia
● Com 40 anos, um adulto faz 4 perguntas por dia

Percebe o que está acontecendo aqui?

Nós vamos perdendo essa capacidade que as crianças tem intrínseca (e que,
querendo ou não, é intrínseco a nossa vida), que é a capacidade de ter uma
mente de iniciante (beginner’s mind), que pergunta mais do que tenta achar
respostas imediatas pros problemas.

Atividade: Comece a prestar atenção nas perguntas que as outras


pessoas fazem, principalmente os artistas, os cientistas e alguns líderes
famosos.
Comece a registrar em algum lugar (pode ser num caderninho físico ou
num software digital como o Evernote ou o Google Keep) algumas dessas
perguntas que te atraem.

Além disso, comece a fazer perguntas para o mundo ao seu redor. Olhe os
objetivos, as paisagens, olhe as coisas e comece a fazer perguntas que você
nunca se permitiu fazer.

Comece a valorizar as perguntas e não as respostas.

Lembre-se: O ser humano inventou a roda e primeiro botou em brinquedos de


crianças, antes de tentar usar aquilo pra se ajudar. Vide os olmecas, povo que
viveu no sul do México, faziam brinquedos para as crianças e demoraram a
utilizar para outras coisas.

Isso serve pra mostrar que o mundo não é tão óbvio assim. E você só vai
descobrir isso perguntando!

A dica na prática: Pegue o seu trabalho atual e comece a fazer perguntas


para ele. Se tem personagens, pergunte mais sobre eles. Se é uma peça de
design, pergunte se as cores poderiam ser diferentes.
Permita-se perguntar para o seu trabalho e comece a olhar ele de
maneira mais curiosa.
Dica #2: Experimente coisas novas (em tudo que
puder)
Drogas, experiências, livros, filmes, esportes e até pessoas.

Não se limite em simplesmente viver as mesmas experiências.


Não se limite em consumir os mesmos tipos de conteúdo que te deixam
confortável.
Não se limite em conviver com pessoas que pensam igual a você.
Não se limite a ouvir as mesmas músicas.

Se abra pra viver coisas diferentes. Cozinhar, pintar, bordar, jogar tarot.
Você escolhe.

Tem TANTA coisa que dá pra fazer e consumir. O mundo, principalmente


para conteúdo, é MUITO VASTO!

Da Vinci abria cadáveres, inventava máquinas, fez diversas peças de teatro


para entreter os Sforza, ia para a praça trocar ideias com as pessoas e, no
final, TUDO ISSO ajudou ele a pintar a Monalisa de um jeito único que só
ele poderia pintar.

Uma história pessoal de como permitir-se coisas novas ajudam: Durante um


dado momento eu precisava construir um processo de produção de conteúdo
que fosse previsível e eficiente nas entregas. Só que eu fiquei empacado com
um problema de gestão. Fiquei durante uns bons dias tentando arranjar uma
solução que não fosse quebrar o processo ou engargalar. Uma bela noite,
vendo vídeos do Food Lab, que é o canal de um cara que cozinha POV
(Point-of-view - ou seja, você vê o ponto de vista da pessoa, geralmente com
uma GoPro na cabeça), eu cheguei a uma solução.

Se eu não tivesse me permitido experimentar ver um vídeo de um cara


cozinhando em POV, será que eu teria chegado a uma solução?
Provavelmente não, porque a solução veio da adaptação de algo que ele fez
no vídeo.

E vai por mim, eu sei que é difícil a gente experimentar essas coisas novas.
Seu corpo gosta de economizar recursos e ele vai fazer o máximo para te
impedir de fazer essas experiências. É um modo de sobrevivência.

Você vai começar a ver aquele vídeo de gente que pensa diferente, vai ver
aquele filme que não é do seu estilo favorito, vai ler uns livros chatos e que te
incomodam e sua primeira reação vai ser fugir.

E isso porque só falei de consumo de conteúdos. Imagina outras experiências


que realmente te tirem do seu conforto.

Mas resista. Vai por mim: quando você era criança e não se preocupava com
isso, você experimentava as coisas e resistia a essa sensação de fugir. E a
maioria dos aprendizados que você teve naquela época estão com você até
hoje.

Se permita começar pequeno, lendo um livro que te deixe desconfortável, por


exemplo. Vendo um filme de um estilo que você odeia.

Quantos de vocês já viram uma stream da twitch ou acompanham o


campeonato de esports? E quantos de vocês acompanham blogs de fofoca pra
saber o que tá acontecendo?

Se você ler Machado de Assis, assistir desenhos da Disney, praticar yoga,


cozinhar algo que te tire da sua zona de conforto, beber algo que você nunca
bebeu, ver stream da twitch e seguir contas de fofoca no Instagram, se essa
começar a ser uma parte da sua realidade eu te digo, com certeza, que você
vai ficar mais criativo e começar a ter novas ideias. É natural.

A dica na prática: Pegue uma folha de papel, bote 7 quadrados (cada


quadrado um dia da semana), e em cada quadrado insira um tipo de
conteúdo que você não está acostumado a consumir. Algumas sugestões:
● Live na Twitch
● Podcasts
● Documentários
● Poesias
● Programas de Auditório
● Jornais em papel
● Desenho Japonês
● Páginas aleatórias da Wikipedia (começa no artigo em destaque e
vai indo)
Consuma, no mínimo, 20 minutos de cada conteúdo desses a cada dia.
Podem ser outros, o principal é escolher algo diferente do que você está
acostumada a consumir.
Dica #3: Use o Método Ozymandias
Existem duas grandes práticas que, conforme eu fui pegando cada vez mais
trabalhos que exigissem criatividade, eu fui fazendo e aprimorando cada vez
mais. Essa dica (#3) e a próxima (#4) vão falar dessas práticas.

A primeira é utilizar o método Ozymandias pra entender as tendências.

Mas peraí, vamos começar explicando quem é Ozymandias e de onde ele


vem!

Watchmen é um quadrinho de 1986, do Alan Moore e do David Gibbons.


Ozymandias é um personagens desse quadrinho e durante a história uma das
coisas que ele fazia pra entender o mundo era ligar um paredão de televisão.

Um paredão mesmo, imagina uma coisa meio furacão 2000 só que ao invés
de caixa de som era muita tv, todas ao mesmo tempo, para ter insights de
tendências do que ia acontecer.

Óbvio que, como quadrinhos, ele lia tudo como se fosse um exercício de
futurologia mesmo. Ele percebia os padrões dos acontecimentos da mídia e
entendia tudo que ocorreria.

Por isso que, ao dar um nome para o que eu fazia, acabei dando o nome de
método Ozymandias. No fundo existem nomes diferentes para coisas
parecidas.

Mas o que é o método?

Você vai consumir, durante um período de tempo, o máximo de informações


possíveis sobre vários temas diferentes para tentar achar padrões.

Isso é algo que os mais velhos acabam fazendo mais do que a gente.
Lembro do meu avô lendo jornal todo domingo, de cabo a rabo, um monte de
notícia diferente, de editorias diferentes e com tons de voz diferentes.

E ele tinha a forma dele de enxergar vários padrões para falar as verdades e
princípios dele. Isso tudo muito influenciado pelo que ele lia.

Hoje em dia a gente recebe as coisas muito mais mastigadas e muito mais
segmentadas. A gente acaba perdendo um pouco dessa maré generalista
porque preferimos entrar numa maré (muito maior) específica.

Atividade: Num domingo, compre um jornal e leia ele de cabo a rabo.


Todas as páginas, da primeira folha até os classificados. São cerca de
100-200 páginas que você consegue matar em uma manhã tomando um
bom café. Além disso, o fato de ser domingo e você estar relaxado vai
ajudar bastante. Leve um caderninho com você e anote as ideias que
forem surgindo na sua cabeça - pode ser do simples insight até uma ideia
mais parruda mesmo.

Quando você fica só acompanhando tudo pelo twitter ou por um site só na


internet para se informar rapidinho, está literalmente atrofiando sua forma de
pensar, botando um arrolho na sua frente. E, veja bem, a escolha da palavra
atrofiar é específica: tal qual um exercício, você precisa de um excesso de
carga durante um período de tempo para crescer e ter mais resultados.

A dica na prática: separe duas horas do seu dia e de 15 em 15 minutos


você troca de canal aleatoriamente na sua tv. Ou veja 2 horas de vídeos
no youtube da forma mais aleatória possível. Ao invés de ter a overdose
de informação de um tema só, tenha uma overdose de várias coisas
intercaladas. Feito isso, vá direto trabalhar em algum projeto seu ou
volte para o seu problema que exige uma solução criativa.
Dica #4: Não faça nada (e medite) (e procrastine)
Depois de ter uma overdose de referências e informações diferentes, depois
de trabalhar por horas em um roteiro, texto ou criativo, depois de ficar um
tempão fechando uma ideia ou um conceito, qual a melhor coisa a se fazer?

No caso do seu cérebro: Você precisa relaxar e fazer porra nenhuma.

A melhor maneira de escrever qualquer coisa, por exemplo, é escrever a


primeira versão e esquecer dela até o outro dia. Simplesmente cagar
solenemente e ir fazer uns nadas. Ler um livro, ver um filme, ouvir um
podcast ou deixar tocar umas músicas enquanto você descansa ou tira uma
soneca.

Encare o método Ozymandias (ou uma tarefa que exige muito de você em
termos de ser “criativo”) como um pequeno estresse pro seu cérebro.
Agora encare a procrastinação como a recuperação natural disso.

Isso te torna mais forte.

Então tire um tempo pra pensar em uns nadas mesmo. Fazer zero coisas.
Relaxar.
Inclusive, no meio do dia mesmo.

Eu acordo às 5 da manhã e começo a trabalhar umas 8. Tu acha mesmo que


logo depois do almoço o melhor a fazer é eu voltar a pegar num roteiro pra
escrever? Eu estou com ele na cabeça desde as 8. Não é produtivo. Não é
criativo. Vai sair uma merda.

E se tem uma coisa que eu não faço de tarde é escrever logo depois do
almoço.

É igual malhar. Você causa um pequeno estresse no seu músculo e depois se


recupera.
Se você malhar 10 horas por dia, tu acha mesmo que isso vai te fazer bem?
Não vai. Esse estresse vai te fazer mal pra caralho.

O certo é você malhar 1 hora por dia e descansar. Se você vai numa academia
seus treinos são conjugados.

Um certo estresse durante um certo período é ótimo pro seu corpo. Agora,
toda hora, todo dia, é péssimo.

A mesma coisa vale para o seu cérebro (que, no fundo, é o responsável por
você ser mais criativo). Um pequeno estresse, um foco agressivo, é ótimo.
Agora, durante horas, fritando naquilo, vai por mim, só vai te destruir e matar
ideias e o seu tempo.

Dica na prática: Uma boa dica para criar uma rotina é separar
momentos de fazer nada durante o dia. Simplesmente ficar deitado
procrastinando ou relaxando. Passear na rua sem objetivo (que também
é chamado de flanar).

Geralmente tento adiantar minhas leituras nesses momentos, de


preferência deixo as leituras que não tem a ver com trabalho ou gestão e
sim as divertidas ou de entretenimento mesmo.

Uma outra dica é meditar. Existem aplicativos e vídeos no youtube que te


ajudam com isso. 10 minutos por dia não vai te fazer mal algum!
Dica #5: Movimente-se (faça exercícios)
Essa próxima dica talvez seja uma das mais importantes e uma das que mais
me ajudou a ficar mais e mais criativo, mas ao mesmo tempo é uma das que
mais as pessoas tendem a não levar a sério.

Então lá vai:

Bote seu corpo em movimento!

Não precisa ser tipo 5km todo dia, correndo boladão. (embora se você for do
meu time, o time das corridas, bora correr atrás desses 5k ou mais todo dia
sim!)

Mas caminhe. Ande.

Agora, falando um pouco dessa realidade de tempos de COVID. Como


comecei o projeto durante esse período, sei que são tempos que a gente fica
muito em casa. Dessa forma é fácil que a gente se esqueça do corpo da gente.

Mas vamos pensar com carinho e regular direitinho essa nossa máquina.

Faça uma Yoga, que dá pra fazer em casa, em qualquer canto. Pula uma
corda. Se alonga. Faz exercícios de calistenia ou com pequenos pesos como
kettlebells que você consegue fazer tendo literalmente uns 2 metros
quadrados em casa.

Agora é importante também salientar que existe uma diferença entre


exercícios físicos com foco em saúde e só se movimentar.

O ideal e que, pra mim, trouxe resultado, vou realmente me preocupar com
meu corpo e minha saúde.

Agora, mesmo que esse não seja o seu foco, é importante se por em
movimento de qualquer maneira.

Para trazer alguns exemplos:

Victor Hugo, quando escrevia Os Miseráveis, caminhava 2-3 horas por dia.

Einstein andava de bike.

Um dos meus autores favoritos é o Nassim Nicholas Taleb. Ele é famoso por
escrever “A Lógica do Cisne Negro” e o “Antifrágil”, dois livros mais
famosinhos pra turma dos investimentos mas que são livros de filosofia.

O Taleb trouxe em seus livros a palavra francesa “flâneur”, que numa


tradução para português seria algo como o flanador. A tese dele é que todo
mundo deveria ser flanador para pensar melhor.

Flanar é simplesmente alguém que sai pra caminhar, sem rumo, pelo simples
fato de caminhar.

Atividade: Pratique o ato de flanar durante 20 minutos, pelo menos uma


vez durante a semana. E atenção: é sem fones, sem distrações de celular,
é simplesmente flanar!

Dica prática: Depois de começar a flanar por aí, escolha um exercício ou


atividade pra fazer todo dia. Separe 30 minutos, inclusive dos fins de
semana e pratique essa atividade. Pode ser algo como Yoga, aula de
dança, lutas, corrida, pedalar, enfim, o que você achar melhor para sua
realidade.

Levante da cadeira!
Dica #6: Descubra seus Hábitos Criativos
Tem momentos do nosso dia que a gente tá mais criativo que em outras
horas. Esses períodos a gente chama de hábito criativo, esse momento em que
teu cérebro tá porreta pra fazer as conexões e pensar coisa nova.

O meu é tomando café da manhã e logo depois, e geralmente nesse horário é


quando eu começo a trabalhar. É mais fácil entrar naquele estado de flow, por
exemplo, e é onde vêm as melhores soluções, por isso prefiro escrever nesse
horário.

Estado de Flow é um conceito criado pelo Mihaly Csikszentmihalyi e


resumindo em um parágrafo (o que não faz jus a todo o conceito) é aquele
estado mental onde você tá tão concentrado que faz toda a atividade e nem
percebe que tá ali tem horas e toda a sua atenção está naquilo.

Nesses momentos de hábitos criativos você fica muito mais próximo desse
estado de flow. Mas isso não serve só pra galera de humanas e gente criativa
(no sentido que a gente entende) no geral. Galera de tecnologia, por exemplo,
geralmente tem horários que se sente mais confortável para trabalhar e achar
soluções para os problemas.

Achem esses horários e esses spots de tempo e guardem no coração. Utilizem


isso a favor de vocês.

E não vem com papinho de que não tem isso com você.

Que tem, tem. Você só não tinha parado pra pensar nisso ainda. Então fique
esperto e comece a reparar nos seus horários.

Dica prática: Comece pelo simples. Dividimos nossos dias em manhã,


tarde, noite e madrugada. Em qual desses períodos você entrega mais
tarefas e se sente mais motivado? Passe a manter um registro do que
você faz em cada turno desses pra entender mais sobre você.
Geralmente tem uma galera que diz que rende mais de madrugada. Eu era um
desses, mas eu comecei a prestar atenção e vi que, de manhã, eu era uma
máquina rendendo e escrevendo bem. No geral eu tenho a tendência de
acreditar que os anos de evolução nos fizeram seres diurnos e períodos da
manhã e começo da tarde são melhores, mas cada um é cada um.

O que importa é prestar muita atenção e tentar verificar em todos esses turnos
quais seus melhores horários. Quais gatilhos te fazem trabalhar melhor. Os
meus, como falei, são tomar meu café da manhã.

E os seus?

Atividade: Pegue um caderno e use como um diário durante uma semana


para manter um registro que vai te ajudar a descobrir isso bem rápido!
Dica #7: Roube (e colecione) como um Artista
Essa dica aqui pode parecer bobeira, mas é uma atividade simples que ajuda
muito.

Provavelmente quem trabalha com áreas mais “criativas” como design ou


redação já está acostumado a fazer isso com as tarefas relacionadas mais ao
trabalho do dia a dia que é criar uma coleção de referências.

Em redação e copywriting a galera costuma falar muito de criar um swipefile,


que é uma espécie de arquivo com cartas de vendas e anúncios de outros
autores para você poder roubar as ideias quando precisar.

Além dessas referências de trabalho, eu também criei um caderno para anotar


referências criativas no geral. Nomes de filmes, trechos de livros, imagens de
quadros e fotografias. Enfim, tudo que eu achar bem foda eu guardo nesse
caderno de referências.

Frases e aforismos de gente famosa. Prints de memes da internet. Tudo que


pode inspirar ou é uma boa ideia eu estou guardando.

Atividade: Crie agora uma pastinha no seu software de preferência


(Evernote, Google Drive, Google Keep, Notion, caderno físico) e durante
uma semana anote pelo menos uma coisa nova ali de referência que você
achou bacana ou bem feita.

E depois de guardar tudo isso? Eu sempre me pego revisitando esses


materiais de tempos em tempos.

Seja para me inspirar num projeto específico, seja para simplesmente olhar e
relembrar de algo. Isso ajuda e muito a ter novas ideias.

Se inspirar em ideias alheias abre muitas portas. Pegar algo já feito e


subverter, tentar olhar para outro prisma, é um exercício que eu acho tão
incrível e que me ajuda muito a abrir a cabeça. Sei que todos os profissionais
criativos que já conversei sentem a mesma coisa.

Um exemplo de quem faz esse exercício muito bem e que sempre gosto de
fazer é a do Banksy, que tem muito esse caráter de pegar referências e
subverter para passar a mensagem. Ele se apoia desse arcabouço geral no
imaginário e utiliza isso para construir sua arte.

Isso só é possível se você roubar suas referências, o que é a prática mais


comum!

Não necessariamente você precisa subverter nada, às vezes só precisa se


inspirar e copiar mesmo. Pegar uma estrutura, trocar algumas palavras ou
simplesmente adaptar uma ideia para a sua realidade.

Vários emails que eu já escrevi vieram de outros emails famosos. Foi só


ajeitar e pronto, tava lá feito e dando resultado.

Dica Prática: Ter um lugar de onde partir muitas vezes é a melhor forma
de começar. Por isso é importante colecionar (e roubar) referências de
outros trabalhos. Se entupa de referências, crie um Evernote ou um
Google Keep e comece a guardar tudo que te inspira.
Dica #8: Exponha (bote seu bloco na rua)
Não adianta você ter uma ideia foda, executar ela e não mostrar pra ninguém.

O que seria do mundo se a Anitta tivesse feito “Meiga e Abusada” e não


postado no orkut? Não teríamos as outras tantas músicas dela pra rebolar a
bunda por aí.

Se você não bota seu bloco na rua, ninguém vai poder falar que seu samba é
bom, nem você vai perceber onde estão os problemas de cadência e ritmo
nele. Só dá pra saber se algo vai pegar ou não se você literalmente expor e
botar ele pra rodar.

Eu, desde pequeno, sempre quis ser escritor. Uma das paradas que mais fiz
foi guardar meus textos na gaveta. Se os textos estão guardados, então por
que eu escrevi eles num primeiro momento?

Entendo que exista a vergonha ou a falta de confiança nos seus trabalhos e


projetos. Eu mesmo, enquanto escrevo essas linhas, fico pensando no que as
pessoas vão pensar ou se tudo está bom e faz sentido mesmo.

No fim das contas, isso pouco importa. De todas as vezes que publiquei algo
meu, mesmo as críticas negativas foram boas de receber, porque me ajudaram
a entender um ponto ruim no meu trabalho e isso pôde me ajudar a melhorar
para os próximos.

Portanto, se exponha.

Dica prática: se você tem muita vergonha, comece expondo para amigos
de confiança que te darão feedbacks bons e ruins também, mas de um
jeito que você sabe receber.

Isso vai te ajudar a ganhar mais confiança para expor os próximos


trabalhos e eventualmente vai aprender a filtrar o que é crítica
construtiva de hate puro e simples.

Inclusive, nunca se esqueça que, por mais que você faça um ótimo trabalho,
sempre pode vir um engraçadinho vir fazer um comentário passivo-agressivo,
uma piadinha idiota. O melhor jeito de responder esse tipo de comentário e
usando comunicação violenta mesmo, expondo o idiota ao ridículo do próprio
comentário e piada. O block pode vir junto, nesses casos.
Dica #9: Brinque
Essa dica talvez seja a mais abstrata, mas é um consenso entre tudo que você
procurar sobre criatividade/ser mais criativo.

Se permita voltar a mentalidade de quando você era criança e se permita


sonhar e brincar mais. Ser bobo mesmo, imaginar um mundo melhor, sonhar
grande e achar que tudo aquilo pode ser verdade.

Não é fugir da realidade, não é negar que a vida real bate lá fora. É
simplesmente separar o tempo para se divertir.

Quando eu era pequeno brincava com meus bonequinhos e me divertia


horrores com eles. Eu inventava mecanismos com corda e papelão para poder
simular as brincadeiras. Por que eu não posso voltar a ter essa mentalidade?
Por que não posso encarar mais os meus processos e rotinas como um jogo e
ter esse olhar mais sensível e inocente pras coisas que faço?

Não tô falando de sair brincando com bonecos. Mas sem encarar a vida com
mais diversão e se divertir, de fato, fazendo o seu trabalho criativo.

Se permita entender que o que você faz tem seus momentos de risada. Se
permita sair um pouco do script e pensar bobeiras e desenvolver ideias que
parecem bobas.

Separe um tempo para brincar, de fato, com seus amigos, suas filhas e filhos,
seus sobrinhos, seus animais.

Encare as coisas como brincadeiras, principalmente os problemas, e tente


brincar com eles.

A vida tem seus momentos de dor, mas o equilíbrio com os momentos de


alegria são essenciais.
Parte 3 - O Processo da Criatividade
Disciplina e Inspiração não vem do nada
Agora que já trouxe algumas dicas práticas, está na hora de começar a
entender que só elas não vão te entregar resultados.

Lembra que lá na parte 1 eu falei sobre execução? É preciso ter um processo


que te ajude a executar melhor.

E todo processo começa com disciplina.

Sei que eu sou um cara meio diferente de outras pessoas e chego a ser meio
chato por demais com esse negócio de disciplina.

Separar horário pra tudo, repetir as coisas todos os dias. Sou craque nisso.

A verdade é isso não veio da noite pro dua, já que eu nunca fui muito
disciplinado e tive que aprender a ser assim. No fim, minha disciplina me
trouxe até aqui e sou grato a ela.

E foi uma habilidade adquirida! Logo, você também pode melhorar nisso.

Mas, o que é disciplina, afinal de contas?


Disciplina é simplesmente fazer as
coisas que devem ser feitas, você
querendo fazê-las ou não.
Você não emagrece sem fazer exercícios todos os dias.
Você não escreve um livro sem escrever todos os dias.
Você não evolui sem se desenvolver todos os dias.

Para tudo isso você precisa ter disciplina.

Uma coisa dolorida que aprendi em relação a disciplina, e minha primeira


grande lição que tive, foi que eu não poderia me dobrar ao discurso de “tá
cansado deixa pra depois, faz parte, respeite seu corpo e sua mente”.

Como falei antes, na dica #4, procrastinar é de suma importância mas não é
uma desculpa para não terminar as coisas ou não entregar.

Você consegue procrastinar e ser produtivo num mesmo dia, sem problemas.

Na quarentena eu vi muito esse discurso de ser super-produtivo e via uma


galera falando “tá tudo bem você não ler um livro e só ficar jogando
videogame”.

Na real é que não tá tudo bem não.

Você deveria ser capaz sim de produzir, mesmo nas situações adversas, ao
invés de cair nesse discurso. O problema está na causa-raiz do problema.

Você geralmente não faz por um dos três motivos:

1. Você está fazendo uma tarefa que não gosta


2. Você está se planejando do jeito errado
3. Você não vê o seu objetivo final com aquele trabalho

Vamos tentar resolver caso a caso?


1. Você está fazendo uma tarefa que não gosta

Nesse caso você deve se perguntar se a tarefa é necessária ou não e o que não
te faz gostar dela.
Você não concorda com o briefing do projeto? Se é um projeto pessoal seu
você pode mudá-lo, se é do trabalho ou cliente, por que não tenta expor suas
ideias?

Às vezes, simplesmente, a gente está de saco cheio. Se você não tem boletos
para pagar, aconselho a largar o cliente.

Agora, se você tem boletos, lembre-se que, sem a tarefa feita, os boletos não
serão pagos.

A motivação não pode depender de vir de fora, de estar inspirado ou de


acordar bem para tirar aquela tarefa da lista. Tem que vir de dentro, tem que
ser feita e pronto.

2. Você está se planejando do jeito errado

Se você ler uma página por dia, consegue ler um livro por ano. Essa pra mim
é a melhor conta pra se mostrar pra alguém que diz que não consegue tempo
pra ler.

Uma página por dia é em torno de 10 minutos se você for ler bem
profundamente e refletindo sobre o que está escrito. Você gasta mais tempo
no Instagram.

Essa visão de uma página por dia é a que melhor demonstra uma das maiores
lições que já tive na vida: se você melhorar nem que seja 0,5% todo dia, em
pouco tempo você vai estar 100% melhor do que era quando começou.

O problema é que tendemos a não enxergar essas pequenas mudanças


graduais. Tendemos a enxergar só grandes progressos.
Mas a verdade é que isso não existe!

Nós só melhoramos porque melhoramos um pouquinho todo dia.

Quando eu escrevo pouco, ou passo alguns dias sem escrever. Eu boto na


minha lista de tarefas a tarefa de escrever uma linha por dia.

Uma linha de algum projeto pessoal meu. Esse material, por exemplo, foi
escrito várias vezes dessa maneira, uma linha por vez.

Agora você consegue ver que o problema está como se planejou e enxerga a
tarefa à sua frente.

Você falar: quero ler 1 livro essa semana parece absurdo se você está
desmotivado. Então não faça isso. Bote na cabeça de ler um capítulo por dia,
ou dez minutos por dia no mínimo, e veja onde estará ao final.

3. Você não vê o seu objetivo final

Quando a gente não enxerga o propósito das coisas, fica bem difícil terminar
elas.

O Simon Sinek, naquele livro e palestra famosa do “Start With Why”


(Comece pelo Porquê), fala muito disso, de começar pelo propósito das
coisas.

O problema é que esse tipo de discurso parece muito startupeiro e abstrato.

Só que, quando colocamos ele num nível mais concreto, o propósito fica algo
bem mais palpável de se importar.

Um propósito bom não precisa ser mudar o mundo através do design, mas
sim garantir que eu sou capaz de finalizar algo. Ou entregar um trabalho que
aumente a conversão do cliente. Ou fazer a tarefa porque ela paga meus
boletos.

Propósito não precisa ser algo complexo. Não precisa ser algo divino e
milagroso. Pode ser simples e direto ao ponto. Prático e não absurdo.

Se o projeto ou tarefa não tem objetivo final, cogitar desistir pode não ser a
pior decisão. Abandonar obras que te fazem perder tempo não
necessariamente são coisas ruins. Existe aprendizado em largar algo que não
faz mais sentido.

Mas lembre-se sempre das situações de boletos pagos!

E, quando se sentir desmotivado, lembre-se do propósito.


Só continue trabalhando...
São essas coisas que te ajudam a dar rotina. Eu não faço exercícios todos os
dias porque eu necessariamente amo fazê-los (tem dia que não queria mesmo
e é um saco, zero vontade). Mas eu faço porque eu sei o objetivo que quero
com eles, eu estou planejado com o que preciso fazer e eu acabo gostando
porque não faço exercícios que não gosto.

Sua disciplina nasce de azeitar e entender esses 3 pontos, ou pelo menos ter
dois deles muito fortes.

O hábito de fazer o que você não necessariamente estaria gostando de fazer


mas precisa fazer é o que vai te manter na linha para continuar produzindo.

E como isso se aplica em trabalhos criativos?

Nesse momento são 7 horas da manhã, eu tenho uma reunião às 9. Eu podia


simplesmente ter seguido a minha vida e visto um filme agora, já que estou
na sala de frente para a televisão.

Mas não.

Eu estou aqui escrevendo essas linhas, tentando terminar o primeiro draft


desse livro para, depois, reler ele mais uma vez, adicionar mais coisa, trazer
mais referência e tentar fechá-lo até a próxima semana (que é meu prazo
máximo para isso).

A verdade é que se a gente ficar esperando momentos de inspiração, eles não


virão. Nem ferrando. Isso é ainda pior quando você precisa ser criativo no
trabalho que paga seus boletos e não nos projetos pessoais, por exemplo.

Continue fazendo mesmo assim. Comece com rascunhos ruins, só copiando


ideias ou reciclando coisas antigas, mas continue mesmo assim.
Ter a disciplina de fazer, nem que seja um pouco, a cada dia, ajuda demais
você a entregar resultados. Obviamente tem dias que as entregas serão piores.
Supere esses dias em momentos de boas entregas.

Tem dias que você não vai acabar entregando seus melhores trabalhos. Não
vai ter como entregar aquela peça bonita, aquela carta de vendas maravilhosa
ou aquele desenho comissionado perfeito do jeito que você imaginou. Mas
você vai entregar porque você vai fazer e ter a disciplina de seguir.
O Conceito de Catedrais
Sempre fui uma pessoa muito, digamos, acelerada. Principalmente quando
era mais jovem.

Imediatista mesmo.

Querendo recompensas rápidas. Um estalo e ganharia o mundo.

As lições mais difíceis que tive foram todas fruto disso. De querer um
resultado rápido de algo que não seria rápido. Só que a realidade é o contrário
dessa minha antiga crença.
.
Projetos tomam tempo. Seja uma obra de arte, seja uma ideia maluca de
negócio, seja qualquer coisa. Eu demorei pra aprender essa lição.

(outra parada que toma tempo e é um processo: aprender)

Aqueles nossos feitos que a gente tem orgulho não para os outros, para a
gente mesmo, esses tomam mais tempo ainda.

Quando eu me toquei disso eu comecei a prestar atenção e buscar ser mais


disciplinado com as coisas que eu realmente sonhava e queria alcançar.

E me inspirei em algumas pessoas. Uma delas foi o Hokusai, um pintor


japonês.

Você já deve ter visto a Grande Onda de Kanagawa por aí. É a imagem de
uma onda revolta, um barco enfrentando ela e o monte Fuji ao fundo.
Esse desenho representa muita coisa.

A primeira onda que Hokusai desenhou data de 30 anos antes da Grande


Onda.
O maluco demorou 30 anos para fazer a sua obra prima. Durante 30 anos ele
foi desenhando, pintando, rabiscando, fazendo outros trabalhos e
eventualmente, TRINTA anos depois do que ele imaginou e tinha na cabeça,
conseguiu botar no desenho o que queria de fato.

Fazia chuva ou sol, lá estava ele, pintando o quadro ou alguma variação de


um quadro desses. Melhorando sua obra, sua técnica. Com o foco em um
único objetivo.

A Grande Onda não foi pintada do dia pra noite. Roma não foi feita em um
dia. Catedrais não foram construídas em poucos anos.

As catedrais começaram a ser construídas na Alta Idade Média por um único


motivo: alcançar os céus, o objetivo maior do cristianismo.
Antes das catedrais começarem a ser construídas, as maiores realizações da
engenharia humana eram as pirâmides. O que, por si só, já demonstrava o
tamanho do desafio.
As catedrais eram feitas por centenas de pessoas entre artesãos, pintores,
engenheiros, arquitetos e construtores. Eram projetos de sonhadores e, mais
do que tudo, projetos de gente que sabia que não necessariamente iria ver a
sua grande obra completa.

Você sabe quanto tempo demorava para uma catedral ser construída na idade
média?
A Catedral de Milão demorou 600 anos. Notre Dame demorou 180 anos. Só
citei duas, mas a maioria delas levou mais de duas gerações familiares para
ser erguida.

Ou seja, seu avô começaria a construir e seus netos terminariam a construção,


isso em casos otimistas.

É o tipo de coisa que toma séculos para serem feitas e saírem perfeitas, do
jeito idealizado no passado. Diferente da obra de um homem só, grandes
obras também podem demorar tanto tempo se forem projetos como as
Catedrais.

Você começava um projeto, fazia parte da construção e não era tão


importante assim se você fosse ver a catedral completa ou não. O importante
era o projeto e a visão de que aquilo seria feito.

Esses sonhos herdados eram o que permitia o progresso em termos de


civilização mesmo. E, se você não quer olhar tanto para o passado, só olhar
para os programas espaciais dos EUA e da União Soviética, projetos de longo
prazo para ultrapassar a fronteira final.

Era um pensamento no longo prazo, mesmo que esse longo prazo não se
realizasse durante a sua vida.

Um enxadrista cubano campeão mundial tem uma frase que sintetiza muito
bem essa tese:
Para começar você deve estudar o
final. Você não quer ser o primeiro a
agir, mas sim o último homem de pé.
José-Raúl Capablanca
No mundo cheio de tecnologia que a gente vive hoje, com múltiplas
notificações e conteúdos que somem depois de 24 horas de postados, é fácil
se afogar no mar de pensamento de curto prazo e focado no agora.

Somos, literalmente, hamsters em rodinhas, rodando e rodando enquanto a


gente não para de descer em feeds infinitos em qualquer rede social.

Esse texto, por exemplo, tem mais de 10000 palavras, o que é bem pouco se
você parar pra refletir, mas já me parece um colosso difícil de digerir e a todo
momento fico me perguntando se não tem como diminuir, cortar e editar pra
ficar mais palatável.

Passamos de uma mentalidade de longo prazo, construir o progresso e o


futuro, para ficarmos presos no agora. Será que foi uma boa troca?

No fim das contas, o tempo é linear.

A gente tende a pensar que ele é cíclico e que as coisas do passado meio que
se repetem. Nossa estrutura de calendário é assim, por exemplo, já que chega
ao fim e reinicia.

Mas, no fundo, o tempo não é cíclico. Ele progride. Ele vai pra frente. Ele
não volta.

(ele não pára, como diria Cazuza)

O futuro não vai se parecer em nada como o passado. Na verdade, o que a


gente tenta fazer, é categorizar tudo, achar padrões para tentar facilitar o jeito
que a gente vive.

No fundo, tudo é bem diferente.

Por isso, entender que existe um horizonte maior, um pensamento de longo


prazo, aliado ao processo do dia a dia para revisitar esse pensamento, é
importante.
Inovação começa com inspiração. Ao entender que o tempo é linear e que
existe um progresso, por mais que não enxerguemos qual tipo, nos
permitimos imaginar como vai ser esse futuro.

Vivemos tão presos nessa visão dos feeds infinitos e no agora que visões de
longo prazo são vistas como infantis ou lunáticas.

Enxergar o tempo como cíclico, e não como algo linear, faz com que a gente
olhe apenas para o passado para nos inspirar. Isso não traz progresso.

Novas Grandes Ondas e novas Catedrais só surgem quando a gente olha pra
frente e imagina o que a gente quer do mundo. Vamos nos permitir sonhar e
imaginar aonde queremos chegar?

Dica prática: Reflita sobre os aspectos da sua vida criativa e tente


entender se você está enxergando tudo de uma forma cíclica ou de uma
forma linear.
Ferramentas para te ajudar a ser mais criativo
Para ajudar com o processo de disciplina e criatividade, queria trazer algumas
ferramentas que me ajudam bastante no dia a dia, seja no trabalho de gestão
criativa seja no trabalho de ser criativo em si.

Lembrando que você não precisa seguir todas essas sugestões, mas
aconselharia a testar todas pelo menos algumas vezes!

As músicas certas

Pra quem trabalha com criatividade, tem umas tarefas que, por mais que a
gente goste de fazer, são cansativas. Sempre tive muitos problemas com essas
tarefas, justamente porque, mesmo quando ia botar a bunda na cadeira e
fazer, me sentia desmotivado depois de um tempo. A cena era sempre muito
parecida todas as vezes. Pega por exemplo o que eu faço, que é escrever:

Tá lá a cadeira, o PC aberto e eu acabei de sentar empolgado. Começo a


escrever igual um doido, parece que eu vou quebrar o teclado quase e aí,
depois de alguns minutos, me recostei na cadeira e ponho as mãos na cabeça.
Esse é o momento que já estou me sentindo meio cansado e entediado. Vou
olhar a hora e nem se passaram 30 minutos. O pior é que, nessa hora que
ponho a mão na cabeça, estou me dando conta que ainda falta uma boa parte
pra completar essa tarefa, talvez nem o primeiro rascunho esteja pronto.

Comecei a dividir com as pessoas esse problema e me deram a dica de botar


música. Eu botava música e me empolgava brabíssimo, o que me ajudava
demais. Só que esse momento de ficar cansado e botar a mão na cabeça, por
mais que demorasse mais um pouquinho, vinha mesmo assim. E eu ainda
ganhei um problema a mais que era ficar mais uns 15 minutos escolhendo
qual nova música botar para ter um novo impulsionamento da produtividade.

O maior problema dessa frustração e cansaço é o ciclo que você entra. Você
quer botar pra vida aquele texto, aquele roteiro, aquela ilustração foda, quer
que todo mundo veja o que você tá vendo. Na sua cabeça tá muito foda e
você quer dividir aquilo com todo mundo. E essa etapa da execução é até boa
e divertida. Você gosta de ver as coisas tomando forma. Mas trabalho e
execução cansam muito.

E aí, nesses momentos que chega o cansaço, começam as cobranças internas,


as dúvidas se vai conseguir entregar mesmo, se você tá no caminho certo…

Então, um belo dia, eu achei a solução!

Já tinha ouvido falar dela antes. E de vez em quando, ao abrir o Youtube, ela
aparecia. A menininha do LoFi – beats to study and relax. Nunca tinha
clicado antes naquela live mas, naquele dia em específico, decidi clicar.

Puta merda. Fiquei apaixonado por aquela transmissão. É quase regra:


preciso me concentrar para fazer algo, pego a playlist do LoFi da meninha,
boto e tudo flui. As horas passam, fica escuro lá fora e eu nem percebo.

Sou um grande defensor da execução (embora eu mesmo enrole com isso


várias vezes). E essa era a ferramenta que eu precisava para executar tudo!

Música afeta seu humor. Faz o teste aí e põe pra tocar um Mukeka di Rato ou
Gangrena Gasosa (tem no Spotify). Você vai ficar mais energizado e puto da
vida. O LoFi tem esse efeito porque ele tem uma constante nas músicas e
você percebe muito bem isso na playlist do Chilled Cow: O barulhinho de
final que é igual em todas as músicas, a batidinha devagar, os sintetizadores
sempre no mesmo tom, tudo sempre muito controlado e baixo. Essa cortina
de barulhos faz com que você entre rapidamente num humor que te deixa
mais relaxado e focado.

Sabe barulho de chuva? Que tem gente que diz que relaxa? Barulho de
Natureza? O LoFi é a versão millenial desses sons New-Age!

Esses sons de fundo são vendidos a anos como ferramentas para ajudar na
produtividade. A Muzak (que basicamente inventou as músicas de elevador),
praticamente se vendia falando exatamente isso, pra botar essas músicas em
linhas de produção de fábricas e aumentar a produtividade dos funcionários.

Vozes, melodias e batidas muito empolgantes, elementos de música que


marcam e chamam atenção (o fúmfúm depois do Vai Malandra, por
exemplo). Isso tudo ajuda a você entrar no humor desejado. Quando você tá
numa balada, tudo faz sentido e você se empolga. Quando você vai correr e
bota um Hip-Hop, você tenta pisar nas batidas, encaixar no ritmo.

O LoFi tem esse mesmo efeito de ajudar na concentração!

Mas, além da música afetar o nosso humor, também tem algum efeito no
cérebro?

A resposta é: muito provavelmente. Existem diversos estudos sobre Ondas


Beta e como, ao ouvir frequências nessas ondas, você tende a ter alguns
efeitos no seu cérebro.

Ondas beta entre 12-20 HZ tendem a nos deixar mais quietos, focados,
concentrados e ajudam a dar energia e performance.

E, depois desse papo científico, adivinha: a Playlist de LoFi está recheada


dessas ondas beta porque as músicas são extremamente moduladas e acabam
chegando nessa frequência mais vezes!

Então nós temos aqui neurociência + psicologia afetando o jeito que a gente
trabalha pro melhor!

Ainda nessa lógica do LoFi e da música, como usar a música pra ser mais
criativo?

Bom, vou dividir minhas práticas, as quais eu tenho mais resultados.

1) Entrando no clima – Essa é uma técnica clássica, onde eu crio uma


playlist para afetar meu humor e, apesar de parecer simples, me ajuda demais.
Se eu sei que vou precisar escrever algo que tenha um ritmo mais agressivo,
eu perco uns 30 minutos (de preferência alguns dias antes) escolhendo
músicas que me ajudem a chegar nesse clima. Não precisa ser uma playlist
imensa, mas uns 40 minutos de música tá bom. Com o tempo você vai tendo
várias playlists prontas para diversos momentos e climas diferentes. Aqui está
o link de exemplo para a minha playlist apaixonado, que uso pra dar aquela
turbinada quando o texto que precisa sair é precisa ter uma cadência e um
ritmo mais romântico!
Você pode criar uma dessas para escrever textos mais agressivos ou diálogos,
por exemplo. Infinitas possibilidades! :)

2) Planejar aonde quero chegar antes de botar o LoFi pra tocar – Uma
parada que eu reparei é que o LoFi ajuda muito a me concentrar rápido mas
não necessariamente ele ajuda a ter novas ideias logo de cara. Para ajudar
nessa girada de chave, eu sempre planejo o que eu quero fazer e onde eu
quero chegar antes de começar a botar o LoFi pra tocar. Com a execução
rolando firme, aí sim as ideias vão naturalmente fluindo melhor.

3) Comece a anotar sensações e ideias que passam na sua cabeça quando


toca alguma música - Eu já cheguei no ponto meio obsessivo de anotar um
sentimento/ideia uma música me despertou num barzinho uma vez (pedi pra
ir no banheiro, anotei meio bêbado no Evernote e pronto). Às vezes, vendo
um filme, tem uma música característica que encaixa tão bem que você fica
pensando “caralho essa música me botaria no clima foda”. Anote ela e
adicione nas suas playlists! É tipo um caderno de referências da dica #7 só
que com sentimentos e sensações que as músicas trazem!
Habilidade de Anotar

Acho que a melhor forma de começar essa seção é sendo sincero e assumindo
que eu sempre tive uma memória muito boa. Eu sempre lembrei muito bem
das coisas.

Nome das pessoas então, eu era craque.

E então, de uns três anos pra cá, puta merda, tudo ficou MUITO mais difícil
de lembrar. Com o nome das pessoas eu ainda consigo mandar bem mas com
todo o resto, principalmente ideias e tarefas pra se fazer, ficou impossível.
Não dá pra lembrar tudo e eu tive que encarar essa realidade.

Isso começou a me incomodar quando as ideias começaram a se esvair. Eu


sempre fui um cara que tinha uma ideia no chuveiro e ia trabalhar em cima
dela duas semanas depois, ainda lembrando. Mas quando isso começou a
sumir, foi horrível.

Então eu comecei a anotar tudo...

Anotar sempre foi algo que eu fiz, meio que passivamente. Numa reunião ou
num papo eu pegava um papel e rabiscava palavras soltas. Levava o papel pra
cima e pra baixo até ele não fazer sentido e jogava fora. Usei alguns
softwares pra isso também, mas sempre pra fazer essas anotações meio
mecânicas.

O ato de anotar tudo foi diferente disso. Eu comprei literalmente cadernos e


comecei a anotar tudo, desorganizado mesmo, conforme as ideias ou coisas
importantes iam surgindo. E eventualmente, nessa desorganização, eu acabei
desmotivando de anotar, muito por não achar as coisas ou por acabar
perdendo alguns prazos e compromissos, porque eventualmente você
flexibiliza seu cérebro a não segurar aquela informação mais.

Desisti de anotar tudo livremente e passei a só registrar compromissos e


tarefas. Comecei a usar softwares para isso (Todoist e Agenda do Google).
As ideias eu criava uma tarefa com a ideia por alto pra depois dar uma
olhada.

Esse método funcionou bem durante um bom tempo e provavelmente eu


ainda estaria usando ele se não fossem duas coisas:

1) O registro de tomada de decisões ou de linhas de raciocínio me fazia uma


falta danada as vezes.

2) Leonardo Da Vinci.

Quando comecei a ler a biografia do Leonardo da Vinci e vi que ele usava


cadernos, comecei a sentir uma coceira para voltar a usar.

(eu tenho isso de tentar copiar hábitos de quem eu admiro, se essas pessoas
fazem, por que não fazer também?)

Agora, mais maduro pra usar cadernos e depois de ter passado bastante tempo
usando softwares e entendendo melhor como me organizar, não deu outra: de
um ano pra cá fiquei o viciado nos cadernos.

Hoje em dia eu mantenho:

1) Um software para anotar minhas tarefas da semana. Eu comecei fazendo


isso como uma to-do list por dia em um caderno de papel, depois passei a
fazer uma to-do list por semana e hoje em dia eu faço essa semanal
adicionando comentários ao lado das tarefas para me ajudar a entender a
tomada de decisão. Comecei com uma página, depois comecei a dividir uma
página para tarefas de trabalho e outra para as pessoais. Agora, já que eu uso
software (todoist) eu separo minha vida em partes diferentes (trabalho,
freelas, rotinas, projetos) e vou anotando comentários nas tarefas, ou seja, não
é só para controle, mas também para registro das coisas (quase como um
diário mesmo).

2) Um caderno para histórias curtas/rascunhos/planejamento/ideias de coisas


que estou escrevendo. Esse caderno é dividido em várias partes com aqueles
marcadores coloridos da 3M, assim consigo achar fácil a “seção” do caderno
que está o que preciso da história que estou trabalhando.

3) Um caderno de longo prazo, onde registro meus propósitos e sonhos,


algumas dúvidas pessoais e defino metas de maior prazo. Eu comecei esse
pra tentar registrar meu cérebro e pensamentos mais profundos mesmo.

Somando o software e os cadernos físicos, eu também uso o Evernote.

Divido tudo em Projetos, onde cada projeto é uma Pilha de Cadernos.


Cada Pilha tem cadernos dentro com funções diferentes.

Por exemplo:

Eu gosto de tentar toda semana fazer um texto novo. Nem sempre cumpro
esse objetivo, mas existe um processo para isso. Meu Evernote é todo
configurado em torno desse processo.

Começa com um caderno chamado “Ideias gerais”, onde eu crio notas


genéricas resumindo as ideias que tive, depois vem o caderno de
”Rascunhos”, onde se eu for trabalhar em alguma ideia eu movo ela pra lá e
começo a escrever. O próximo caderno é o “Trabalho em Progresso da
Semana” que é o único texto que eu vou trabalhar a fundo (fazer pesquisa,
escrever e editar). Depois de pronto eu boto essa nota no caderno de
“Publicar” e ela fica ali até que eu a publique de vez.

Essa estrutura se repete em outros cadernos que tem a mesma lógica de


produção de conteúdo.

Para o meu trabalho do dia a dia tem a Pilha de Cadernos específica do


Responde Aí (onde eu trabalho), com Cadernos variados, geralmente um pra
cada coisa que eu julgar importante organizar (um pra área no geral e um pra
cada projeto).

Além do Evernote e dos meus cadernos físicos (a maioria são os de tamanho


médio da Cícero Papelaria), também uso o Google Keep para guardar
citações, trechos de livros e trechos da internet (basicamente é o meu cérebro
para frases e aforismos).

O importante desses registros e organização é justamente para ajudar a me


lembrar de tudo. Tanto o Evernote quanto meus cadernos físicos me ajudam a
entender como as decisões são tomadas, a registrar minhas ideias da melhor
forma possível e com o máximo de detalhes, além de ajudar a entender como
eu sempre posso melhorar para a próxima semana e para as próximas etapas.

Além disso, esse hábito proporciona uma das melhores sensações possíveis,
que é rever tudo que você registrou.

E rever é um processo importantíssimo

Não tem nada melhor que, quando você está se sentindo sem ideias ou não
criativo, você olha o caderno de drafts e tá lá o que você precisa pra continuar
seguindo. Ou olhar seu caderno de citações e se lembrar de algo que você leu
lá atrás e te gerou alguma reflexão. Ou quando você se sente improdutivo e
olha para suas listas de tarefas anteriores e vê o quanto você tem feito nas
últimas semanas.

Esse processo de olhar os cadernos depois sempre acaba gerando mais ideias
e você sempre acaba desenvolvendo algo que ficou para trás mas era muito
bom. Tem um artigo do Jay Acunzo (um produtor de conteúdo americano)
que fala sobre esvaziar o caderno. É impressionante como esvaziar o caderno,
além de ser importante, dá um gás na gente.

Se eu pudesse virar pro Diogo de 15 anos e ensinar algo pra ele, seria esse
sistema de anotações e cadernos. É algo que, sem exagerar, mudou realmente
a forma que eu vivo.

E não é questão de ser mais produtivo apenas, mas sim a forma que eu penso
e entendo minhas experiências. Registro é a memória/história e isso que nos
define.
Pra fechar, por mais que existam softwares que nos ajudem, não abra mão de
cadernos físicos. Na biografia do Da Vinci, o Walter Isaacson que escreveu o
livro, elenca vários aprendizados que podemos ter com Leonardo e um dos
mais incríveis dele é esse aqui:

“Faça anotações – no papel. Quinhentos anos depois, os cadernos de


Leonardo ainda estão por aí para nos surpreende e nos inspirar. Daqui a
cinquenta anos, nossos próprios cadernos, se levarmos a sério a iniciativa de
começar a preenchê-los, estarão por aí para surpreender e inspirar nossos
netos, ao contrário de nossos tuítes e posts no Facebook“
Melhorando a sua produtividade
Todo processo só funciona se ele for produtivo. E, para ele ser produtivo,
você precisa entender como funciona a sua produtividade.

Mas afinal, o que é produtividade? É a eficiência em completar uma tarefa.

Não é fazer pra caralho, mas fazer as coisas importantes todo dia
Ser mais produtivo é realizar mais
coisas que importam que é igual a ser
mais feliz
Para ser mais produtivo e criar um processo que vá te ajudar nisso, é só
seguir 3 etapas!

Etapa #1: Clareza

Clareza é saber exatamente o que você quer ou precisa fazer.

Você precisa ter uma visão próxima do que você quer alcançar no futuro.
Futuro pode ser sua semana, seu dia, seu ano, mas é importante isso estar, de
algum modo, planejado. Tempo de sentar a bunda e pensar onde se quer
chegar e como chegar lá é muito importante!
Só existe rotina produtiva se você souber onde quer chegar, senão é só
espasmo.
Se eu quero cozinhar eu decido o que quero cozinhar. Se eu quero um bolo,
eu quero um bolo.

Para ter clareza é necessário estipular quais os seus objetivos, onde você quer
chegar e onde você se imagina com aquele projeto.

Se for uma demanda de um cliente, fica mais fácil. Se for um projeto pessoal,
perca um tempinho refletindo sobre.

Etapa #2: Sistema

Sistema é o conjunto de formas para fazer o que precisa ser feito.

São todos os processos e formas que você executa suas tarefas. Existem uma
PORRADA de processos e ferramentas e softwares e técnicas e, no fundo,
você vai precisar criar o seu próprio sistema testando e vendo de tudo isso o
que funciona mais para você.
Pra fazer um bolo você segue uma receita, separa ingredientes e organiza
tudo. Isso é um sistema, com vários processos
Meu sistema atual envolve ter uma lista de tarefas que eu planejo toda
semana e definir as prioridades conforme os objetivos principais que defini
na etapa de clareza.

Aqui, no sistema, o mais importante é você construir e utilizar os que melhor


funcionam para você. Geralmente um sistema consiste em ter uma ferramenta
e um método que juntos constroem um processo.

Para te ajudar, separei uma lista de ferramentas e métodos. Teste-os e veja os


que mais funcionam para você! É assim que se constrói um sistema produtivo
pessoal, testando e aprendendo!

Métodos
● Método Ivy Lee
● Rotina de 15 minutos do Anthony Troloppe
● Eat the Frog
● Pomodoro
● To-do list
● Matriz de Eisenhower
● Método das 2 listas do Buffett
● Kanban
● GTD (Getting Thing Done)
● Time Blocking
● Gestão de Tempo
● Regra dos 2 minutos
● Leis de Newton
● Tiny tasking
● Método Moscow
● Planner
● Journaling
● ZTD (Zen to Done)

Ferramentas

● Todoist
● Notion
● Evernote
● Trello
● Miro
● Focus Keeper
● Caderno Físico
● Google Sheets + Docs
● Google Keep
● Any.do
● Simplenote
● Microsoft ToDo
● OneNote
● Remember the Milk
● Mindmeister
● Whimscal

Etapa #3: Ação

Ação é seguir seu sistema, executar e fazer!

De nada adianta instalar todoist, meter template no notion, criar board no


trello, planejamento pica, se não fizer. Tem que meter a mão na massa e
fazer.

Não adianta pegar receita e ingredientes e deixar em cima da pia, o bolo não
vai ficar pronto, não é vídeo do buzzfeed!

Portanto, vá executando!
Para fechar
E NO FIM, O AMOR QUE VOCÊ RECEBE É
IGUAL AO AMOR QUE VOCÊ DÁ
A verdade é que se eu não impor um limite esse manual nunca mais vai ter
fim. É tanta coisa, tanto assunto, tanta referência e tanto estudo novo, que a
gente precisa chegar uma hora, delimitar e dizer “chega”.

Provavelmente eu vou continuar atualizando esse material para o meu time de


criativos. A cada atualização, talvez eu lance uma nova edição desse manual.

Espero que, ao chegar nesse final, esse material tenha sido muito útil para
você. Que, dê alguma forma, tenha mudado a sua percepção e a forma que
você enxerga a criatividade.

Qualquer feedback é bem vindo direto no meu email: oi@dbrsilva.com

Também tenho meu perfil no Medium: https://dbrsilva.medium.com/

E pode me seguir no twitter e no instagram: @diogobrsilva

Também queria aproveitar esse espaço para agradecer a todas as pessoas que
me apoiaram durante essa minha jornada e ao meu time que me inspira a criar
esse tipo de conteúdo.

Além disso, queria agradecer a você, que separou parte do seu tempo para ler
esse material.

Muito obrigado pela leitura! :)

* ”...and in the end, the love you take is equal to the love you make” tradução
de trecho da música “The End” dos “Beatles”
Referências
Sem ordem, todas jogadas aí!

Livros
Leonardo Da Vinci - Walter Issacsson
De 0 a 1 - Peter Thiel
Criatividade S.A. - Ed Catmull
Roube como um Artista - Austin Kleon
A moda imita a vida - André Carvalhal
Antifrágil - Nassim Nicholas Taleb
Iludidos pelo Acaso - Nassim Nicholas Taleb
O Caminho do Artista - Julia Cameron
Watchmen - Alan Moore e David Gibbons
Desde que o Samba é Samba - Paulo Lins
O Zen e a Arte da Escrita - Ray Bradbury
As Leis da Simplicidade - John Maeda
O Corpo Encantado das Ruas - Luiz Antonio Simas
Sobre a Brevidade da Vida - Sêneca

Links
● Creativity Is the New Productivity
● The Creativity Era – a new paradigm
● for business
● How To Foster A Culture Of Creativity In The Modern Era
● Creativity and Learning in the Era of AI
● Welcome to the Era of Creative Meritocracy
● The Era of Creativity
● Seven Habits of Highly Creative People
● Good Leaders are Great Storytellers — Our 6 Tips for Telling Stories
That Resonate
● 5 passos para pensar fora da caixa em seu dia a dia e ter ideias
incríveis!
● The elements of story

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