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Escrito com letras de sangue mártires

do século XX Anderson Wagner Araújo


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Anderson Wagner Araújo

ESCRITO COM LETRAS DE

SANGUE
Histórias e Atas dos Mártires do Século XX
ESCRITO COM LETRAS DE SANGUE:
HISTÓRIAS E ATAS DOS MÁRTIRES DO SÉCULO XX

Copyright © 2019 Anderson Wagner Santos de Araújo Todos


os direitos reservados

1ª Edição – Editora GARCIA


Brasil – Março de 2019
ISBN 978-65-80264-12-4

Designer da capa: Elizandra França


Correção ortográfica: Wiliana Souza

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


A663e Araújo, Anderson Wagner Santos de
Escrito com letras de sangue / Anderson
Wagner Santos de Araújo. 1ª ed. -- Juiz de Fora, MG:
Editora Garcia, 2019.

ISBN: 978-65-80264-12-4

2019-391 1. Cristianismo. 2. Mártires. I. Título


CDD-272
CDU-272

Elaborado por Odilio Hilario Moreira Junior - CRB-8/9949

Índice para catálogo sistemático:


1. Mártires 272
2. Mártires 272

Todos os direitos desta edição são reservados ao autor.


Proibida a cópia ou reprodução por qualquer meio, inclusive
eletrônico, conforme a lei nº 10.695 de 4 de julho de 2003.

2019

Editado por: Editora Garcia


Impressão: Garcia Impressão de Livros
Site: www.editoragarcia.com.br
E-mail: editorial@editoragarcia.com.br
Quando pela palavra se combate,
Erguendo, não a espada, mas a cruz,
Como a cruz redentora do Calvário,
Também o sangue é luz.
Quando se renuncia à própria vida,
No gesto heroico da oblação suprema,
Para glória de Deus e bem das almas,
Também o sangue é poema.
Como a água das fontes cristalinas,
Brotando do sopé de serra brava,
Se é por Jesus que se derrama o sangue,
O sangue também lava.
Em cada Mártir o Senhor Se exalta
Sobre os ódios da turba irada e cega.
Como a palavra, e mais do que a palavra,
O sangue também prega.
Honra e louvor ao Pai omnipotente
E ao Filho, que por nós morreu na cruz,
E ao Espírito, que glorifica os Mártires
No Sangue de Jesus.

Hino das vésperas em memória de um mártir,


extraído da Liturgia das horas.
P r ef á c i o

A
história da Igreja, especialmente nos seus três primeiros séculos, é
caracterizada por longos e intensos períodos de perseguição, em-
preendida sobretudo da parte do Império Romano, pois os cris-
tãos, com a encantadora novidade de sua vida e de seu testemunho, eram causa
de grande incômodo. Contudo, esta realidade não se extinguiu, ainda que, em
certo momento, os cristãos tenham gozado de paz e liberdade. Ao longo dos
séculos seguintes, seja na Idade Média, seja na Idade Moderna ou Contemporâ-
nea, esta aversão à fé cristã se manifestou de variadas formas, sob diversos ma-
tizes, mas com a forte consciência da Igreja de que “sanguinis martyrum semen
christianorum” (Tertuliano).
E isto não deve ser visto por nós como algo alheio à nossa fé, como uma
série de fatos acidentais. É preciso olharmos para Jesus Cristo, Senhor nosso,
que por primeiro foi perseguido, tornando-se causa de nossa salvação e reden-
ção. E Ele próprio já nos advertiu: “Se o mundo vos odeia, sabei que me odiou a
mim antes que a vós. O servo não é maior do que o seu senhor. Se me persegui-
ram, também vos hão de perseguir” (Jo 15, 18.20).
O século XX, apenas findado, traz consigo uma gama de testemunhos elo-
quentes e corajosos de fé e incondicional abandono em Deus, Senhor da Vida
e da história, verdadeiramente escritos com letras de sangue. Estes mártires
contemporâneos têm muito a nos dizer, sobretudo quando consideramos que
ainda existem, nos dias atuais, tantas forças más que se opõem violentamente
a Cristo, ao Seu Evangelho e à Sua Igreja, martirizando muitos de nossos irmãos
e irmãs, sobretudo no Oriente Médio. O número de mártires nos dias de hoje é
assustadoramente crescente.
Portanto, merece reconhecimento todo o trabalho do jovem advogado e
professor Anderson Wagner em pesquisar, reunir e publicar, neste livro, a histó-
ria de alguns destes mártires de nossos tempos, vítimas de sistemas políticos,
filosóficos e até mesmo ditos religiosos. A leitura de “Escritos com letras de
sangue” deve ser feita numa profunda perspectiva de fé, pois, ao longo de suas
páginas, vemos o relato de almas que, não temendo aqueles que podem matar
o corpo (Mt 10, 28), amaram a Jesus de modo radical, ofertando-se a si mesmas,
confiando no Justo Juiz, que lhes concedeu a coroa da glória (2Tm 4, 8).
Deixemo-nos tocar, na mente e no coração, pelo testemunho destes már-
tires, e peçamos que intercedam por nós, para que sejamos capazes de renun-
ciar a nós mesmos e amar ao Senhor com radicalidade.

Dom Francisco Canindé Palhano


Bispo Diocesano de Petrolina - Pernambuco
A pr es en ta ç ã o

O livro “Escrito com letras de sangue, história e atas dos mártires


do século XX”, é de autoria de Anderson Wagner Araújo, jovem
inquieto pela verdade e sedento de Deus, a quem parabenizo pela
boa iniciativa e pelo subsídio que nos oferece, para uma bela e fecunda
leitura, de modo que possamos conformar as nossas vidas dentro do projeto de
Deus, como fizeram os santos mártires. Esta obra inspira e nos inspira e nos im-
pulsiona na busca de tudo aquilo que Jesus acenou aos seus discípulos: “Onde
estiver o teu tesouro, aí estará o teu coração”. (Mt 6,21)
A intenção do autor deste livro baseia-se no Salmo 111,112,6: “O justo
será lembrado”. O autor navegou em fonte fecunda, onde narra a vida e o tes-
temunho dos santos mártires do século XX, por isso toma a atitude de partilhar
conosco este rico conteúdo.
Este livro, não trata apenas de histórias de pessoas que por adesão à Jesus
Cristo aceitaram mortes violentas, todavia, versa sobre vidas em diversas idades,
culturas e nações que professavam a mesma fé em Cristo, de modo radical, na
qual Ele assumia a centralidade, e viver ou morrer não mais poderia afastá-las
do amor de Deus. (Rom. 8. 38-39). Para estes valentes heróis no testemunho o
martírio não foi capaz de afastá-los de seu Divino Mestre.
Santa Teresa d’Avila afirma que “A cruz que se carrega incomoda menos que a
cruz que se arrasta”, os mártires nos ensinam que a cruz com Jesus, mesmo não sen-
do leve é possível carregar, e perseverar na fé. Eles sem hesitar abraçaram-na e seu
testemunho suscita profundas conversões, bem como copiosas e frutíferas vocações
para o seio da Igreja. É verdadeiramente impressionante o dado apresentado e tão
pouco conhecido, de que no somente no século XX, foram contabilizados cerca de
45.000.000 (quarenta e cinco milhões) de cristãos martirizados, derramando o seu
sangue por Nosso Senhor Jesus Cristo e a Sua Igreja.
O heroísmo dos santos mártires nos exorta a escutar a palavra do Mestre:
“Vós sois lentos para crer” (Lc 24,25), acrescenta: “Quando o filho do homem
vier, encontrará fé sobre a terra? (Lc 18.8). Os santos mártires experimentaram
pela a radicalidade do Evangelho e corajosamente seguiram os passos de Jesus,
na mesma lógica de São Pedro: “Senhor, a quem iremos nós, só o Senhor tem
Palavra de vida eterna”. (Jo 6,68)
Ancorado nas verdades supracitadas, o autor deste livro quer mostrar-nos
a grande lição que devemos aprender com esses mártires, que com atitudes
tão heroicas na fé, a tal ponto de deixarem “lavar as suas vestes no sangue do
Cordeiro”. Derramando seu próprio sangue por amor e fé em Jesus Cristo, eles
nos ensinam que nossa opção religiosa exige um verdadeiro comprometimento
com o Reino de Deus.

Dom Manoel dos Reis de Farias


Bispo Emérito de Petrolina - Pernambuco
S umá ri o

Introdução ....................................................................................................... 11
Miguel Agustín Pro ........................................................................................... 19
José Sánchez del Río ......................................................................................... 39
Bartolomé Blanco ............................................................................................. 55
Florentino Asensio ............................................................................................ 81
Apolônia Ochoa .............................................................................................. 107
Martín Martínez Pascual ................................................................................ 119
Maximiliano Kolbe .......................................................................................... 129
Edith Stein ...................................................................................................... 153
Jakob Gaap ..................................................................................................... 171
Maria Tuci ....................................................................................................... 197
János Brenner ................................................................................................. 211
Charles de Focauld ......................................................................................... 227
Conclusão ....................................................................................................... 239
Referências ..................................................................................................... 247
Dicas de filmes ................................................................................................ 250
I nt r odu ç ã o

O
Catecismo da Igreja Católica no § 2474 expressa: Com o maior cui-
dado, a Igreja recolheu as lembranças daqueles que foram até o fim
para testemunhar a fé. São as “Atas dos Mártires” (Acta Martyrum).
Constituem os arquivos da Verdade escritos em letras de sangue:
De nada me servirão os encantos do mundo e dos remos deste século.
Melhor para mim é morrer (para me unir) a Cristo Jesus do que rei-
nar até as extremidades da terra. É a Ele, que morreu por nós, que eu
procuro; é a Ele, que ressuscitou por nós, que eu quero. Aproxima-se o
momento em que serei gerado... Eu vos bendigo por me terdes julgado
digno desse dia e dessa hora, digno de ser contado no número dos vos-
sos mártires... (Santo Inácio de Antioquia)
Guardastes vossa promessa, Deus da fidelidade e da verdade. Por essa
graça e por todas as coisas, eu vos louvo, vos bendigo e vos glorifico
pelo eterno e celeste sumo sacerdote, Jesus Cristo vosso Filho bem-
-amado. Por Ele, que está convosco e com o Espírito, vos seja dada
glória, agora e por todos os séculos. Amém. (São Policarpo)
Com estas percepções destes santos mártires, se inicia esse livro que
tem por objetivo abordar a temática do martírio no século XX, que é
chamado por muitos historiadores de “o século dos már ires”. A Igreja foi
edificada com san-gue, o de Nosso Senhor Jesus Cristo e de uma incontável
multidão de mártires, homens e mulheres, de todas as idades, que entregaram
as suas vidas, foram brutalmente assassinados por amor a Ele, o único “delito”
que cometeram era o simples fato de terem fé.
Nos primórdios do Cristianismo, aqueles cristãos que foram as testemunhas
da ressurreição sem temor preferiram a morte do que calar sobre o grande fato
que viram, e depois deles, muitos outros fizeram o mesmo, sempre anunciando a
cruz, “escândalo para o mundo” e proclamando que Jesus Ressuscitou, de ver-
dade, como havia dito. Deixou o sepulcro vazio, ao terceiro dia. A certeza da res-
11
surreição e o Espírito Santo vindo sobre a Igreja em Pentecostes, retirou qualquer
sombra de medo que pudesse existir na Igreja Primitiva.
Os primeiros cristãos sofreram duríssimas perseguições das autoridades
judaicas de então, mas, no entanto, o Cristianismo cada vez mais foi difundido
chegando a Roma. O Império Romano, do ano 64 d.C. a 313 d.C, martirizou muitos
milhares de cristãos, desde crianças até idosos, homens e mulheres.
A crueldade dos martírios da Igreja Primitiva, era absurda. Sobretudo nas
perseguições dos terríveis imperadores Nero Cláudio César Augusto Germânico (do
ano 54 d.C a 68 d.C) e Caio Aurélio Valério Diocleciano (do ano 284 d.C a 305 d.C).
Em 19 de julho de 64 d.C, Roma foi incendiada, o próprio Nero, motivado
por sua ambição, que queria construir um novo palácio, ordenou que ateassem
fogo sobre a cidade, afirmam estudiosos da História Romana. Ele, porém, para
livrar-se do peso da culpa, incriminou os cristãos, que eram vistos como uma
perigosa seita que não adorava os deuses (falsos) de Roma. O ódio contra a fé
cristã e os seus fiéis gerou uma verdadeira sangria, durante anos. Os seguidores
de Jesus Cristo eram mortos de maneiras quanto mais sórdidas e cruéis pos-
síveis, muitos foram lançados às feras famintas, outros torturados, mutilados,
crucificados, apedrejados ou queimados vivos. “Em meados do século II, não
era difícil encontrar grupos tentando apedrejar os cristãos, incentivados, muitas
vezes, por seitas rivais”. Eusébio de Cesáreia, História Eclesiástica 5.1.7).
Não raras vezes, cristãos, viveram a sua vocação de iluminar o mundo,
não no sentido metafórico, mas com o seu próprio corpo. Eram utilizados para
iluminar os jardins do palácio, como tochas humanas. No Coliseu, incontáveis
fieis, para o divertimento da plateia, tinham que gladiar totalmente desarma-
dos com grandes leões, que eram mantidos sem alimentação, durante dias. A
fidelidade dos cristãos era tamanha, que o modo como morriam, louvando ao
Senhor e felizes, foi aniquilando o ódio ao Cristianismo e ao contrário, do que
pretendiam os governadores romanos, foi despertando a fé na população.
“... uma grande multidão foi condenada não apenas pelo crime de incên-
dio, mas por ódio contra a raça humana. E, em suas mortes, eles foram feitos
objetos de esporte, pois foram amarrados nos esconderijos de bestas selvagens
e feitos em pedaços por cães, ou cravados em cruzes, ou incendiados, e, ao fim
do dia, eram queimados para servirem de luz noturna. ” (Tácito, Annales, XV.44)
Neste contexto, percebendo o aumento no número de cristãos por todo
o Império Romano, Tertuliano afirmou: “Nós multiplicamo-nos todas as vezes
que somos ceifados por vós: o sangue dos mártires é semente de novos cris-
tãos”. (Apologeticum)
A sórdida perseguição aos cristãos continuou até a legalização do Cris-
12
tianismo, com o Édito de Milão, emitido em 313, pelo imperador Constantino.
Erroneamente, muitos acreditam que os martírios encerraram com a descri-
minalização da fé cristã, na Roma Antiga, o que se constitui um ledo engano.
Durante os vinte séculos da Era Cristã, houveram pessoas que testemunharam
Jesus Cristo com o próprio sangue.
Um dado que causa perplexidade, e que é imensamente desconhecido,
muitas vezes, até por religiosos e historiadores foi apresentado pelo pesquisa-
dor britânico, David B. Barett, diretor da Christian World Encyclopedy, que em
2001, estimou poder apresentar o número de aproximadamente 45 milhões de
mártires cristãos somente no século XX.
Em 2011, esta estimativa foi reafirmada no relatório do Centro de Estudos
das Novas Religiões, o mesmo foi apresentado em um seminário organizado
pela Universidade Pontifícia Lateranense de Roma. Segundo o diretor do estu-
do, o sociólogo italiano chamado Massimo Introvigne, o número de martírios
cristãos, no mundo, desde os primórdios do Cristianismo, chega a 70 milhões,
sendo que no século XX, ocorreram mais da metade, 45 milhões.
O século XX teve mais mártires do que os dezenove séculos anteriores
juntos, contudo, o que impressiona é o fato de que isso não é dito, passando
despercebido das salas de aulas de história, nos debates universitários e infe-
lizmente na memória de muitos católicos de hoje. Royal (2001) comenta sobre
o que aconteceu aos católicos no século passado: “Foi um verdadeiro geno-
cídio pouco documentado pela História geral e pouco divulgado pela grande
mídia. Portanto, um genocídio silencioso. Apesar de não se saber ao certo o
número de vítimas”.
Já no início do século, a Revolta dos Boxers, na China, vitimou 30 mil
cristãos, incluindo cinco bispos e dezenas de padres. Entre 1915 e
1917, número semelhante de leigos foi morto pelos turcos otomanos
na Armênia, juntamente com sete bispos, 126 padres e 47 freiras. Ou-
tra onda de perseguição que merece destaque aconteceu no México
após a revolução de 1917, sobretudo no governo de Plutarco Elias Calles
(1924-1928) onde foram mortos e expulsos centenas de padres e as-
sassinados cerca de 5.300 leigos (ROPS, 2006, p. 437).
Apesar das perseguições terem ocorrido em todas as partes do planeta
durante todo o século XX, esta tentativa de aniquilar a Igreja mostrou-se
mais violenta na Europa, especialmente durante a primeira metade
do século XX. As raízes que levaram os diversos regimes a combate-
rem os católicos encontram-se nos dois séculos antecedentes. Desde
o Iluminismo no século XVIII, passando pelas ideologias materialistas e
ateias do século XIX, que culminaram no liberalismo, no nazismo e no
13
marxismo, concepções filosóficas e políticas inspiraram o extermínio
da Igreja. Por mais antagônicas que estas ideologias possam ser ou pa-
reçam ser, todas têm em comum o fato de considerar a Igreja Católica
como reacionária, opositora do progresso social e apologista de várias
formas de exploração, acusada de inimiga da humanidade, e que, por-
tanto, deveria ser eliminada para ceder lugar a uma sociedade melhor.
(ROYAL 2001, p. 26).
Várias correntes de pensamento pregavam o fim da religião como um
todo e da Igreja Católica em particular. Destas, as que influenciariam
todo o Ocidente no próximo século seriam o positivismo e o marxismo.
O francês Auguste Comte desenvolve o positivismo, onde afirma que
a religião – ou estado teológico – está ultrapassada e agora tudo deve
ser explicado pela observação do real, pela experimentação e pela téc-
nica. Comte institui a religião da humanidade cujo deus é o homem. Na
doutrina filosófica de Karl Marx, a religião aparece como uma superes-
trutura do capitalismo que deve ser eliminada, pois é a principal causa
da alienação do homem, é “o ópio do povo”. No desenvolvimento da
sociedade comunista, a religião desapareceria porque não haveria ra-
zão de existir (ROPS, 2003, pp. 505-506).
No final do século XX, próximo ao Jubileu do Ano 2000, o Santo Padre
João Paulo II, salientou que é dever da igreja recordar a memória e celebrar a
heroicidade destas grandes testemunhas da fé, que pagaram com as suas vidas,
pelo seguimento a Jesus Cristo.
Estes dois mil anos depois do nascimento de Cristo estão marcados
pelo persistente testemunho dos mártires. Também este século, que
caminha para o seu ocaso, conheceu numerosíssimos mártires, sobre-
tudo por causa do nazismo, do comunismo e das lutas raciais ou tribais.
Sofreram pela sua fé pessoas das diversas condições sociais, pagando
com o sangue a sua adesão a Cristo e à Igreja ou enfrentando cora-
josamente infindáveis anos de prisão e de privações de todo gênero,
para não cederem a uma ideologia que se transformou num regime
de cruel ditadura. Do ponto de vista psicológico, o martírio é a prova
mais eloquente da verdade da fé, que consegue dar um rosto humano
inclusive à morte mais violenta e manifestar a sua beleza mesmo nas
perseguições mais atrozes.
Inundados pela graça no próximo ano jubilar, poderemos mais vigo-
rosamente erguer ao Pai o nosso hino de gratidão, cantando: Te mar-
tyrum candidatus laudat exercitus (o exército resplandecente dos már-
tires canta os vossos louvores). Sim, é o exército daqueles que “lava-
14
ram as suas vestes e as branquearam no sangue do Cordeiro” (Ap 7,
14). Por isso, a Igreja espalhada por toda a terra deverá permanecer
ancorada ao seu testemunho e defender zelosamente a sua memória.
Possa o povo de Deus, revigorado na fé pelos exemplos destes autênti-
cos campeões de diversa idade, língua e nação, cruzar confiadamente
o limiar do terceiro milênio. À admiração pelo seu martírio associe-se,
no coração dos fiéis, o desejo de poderem, com a graça de Deus, seguir
o seu exemplo, caso o exijam as circunstâncias” (Bula Incarnationis
Mysterium nº 13).
No desejo de contribuir para que se conheça sobre o martírio no século
XX e ainda de perpetuar a memória de alguns deles surgiu esse livro. O mesmo
apresenta o testemunho de alguns dos incontáveis cristãos que corajosamente
entregaram as suas vidas por amor ao Senhor no século passado, que se tornaram
verdadeiras “Imitações de Cristo”, por isso muitas vezes se verá citações dessa tão
importante obra de autoria atribuída a Tomás de Kempis, no século XV.
Este livro vislumbra, render a homenagem ao sangue de incontáveis ho-
mens, mulheres, idosos, jovens e crianças, de diferentes culturas, etnias e luga-
res, que ofereceram suas vidas como oblação, oferta e sacrifício de louvor ao
Senhor, não o renegando, optando pela morte do que virar as costas a fé. Pes-
soas que uniram para sempre o seu sangue ao Sangue do Cordeiro, que corajo-
samente, deixaram-se purificar por este elemento constitutivo sempre presente
na história da Igreja.
O Sangue de Cristo redimiu a humanidade, pagou o preço pelas iniquida-
des, misérias e pecados de todos os homens, que jamais poderiam arcar com
tamanha dívida. O mesmo sangue edificou os sacramentos confiados à Igreja e
sob a ótica do Pão e do Vinho, se perpetua nos altares, como o mais augusto
Mistério da Fé. O Sangue Redentor de Cristo, Nosso Senhor, há dois milênios
não cessa de percorrer o coração do Seu Corpo Místico, a Igreja. Ele perene-
mente e em abundância jorra por todos os séculos através de seus mártires!
O Sacratíssimo Sangue, é única substância vermelha capaz de alvejar todas as
coisas por seu poderosíssimo contato.
É uma verdade, neste livro existem histórias fortes, imagens que por mui-
tos podem ser consideradas pesadas, mas que não poderiam deixar de ser apre-
sentadas, pois expressam a verdade dos nossos corajosos irmãos na fé. Algu-
mas histórias, por tanta atrocidade, podem gerar a indagação: Como os mártires
conseguiram se manter fieis, nessas tão duras condições? A resposta é o Sangue
Preciosíssimo de Cristo e o seu Corpo Sagrado sempre “salvam e dão coragem”.
Os mártires entregaram as suas vidas não por uma ideologia, não por par-
tidarismo político, causa social, filosofia, entre outras coisas, eles se ofertam
15
por amor a uma pessoa, que tem um rosto e que habitou em meio a nós, esta
que foi morta e ressuscitou, que vive e reina soberanamente em todo universo:
Jesus Cristo. Os mártires foram pessoas fascinadas por Jesus, sabiam que sem
Ele, não teriam para onde ir, olhariam para si mesmos, no mais profundo de seu
ser e questionariam como São Pedro: “Senhor, para quem iremos? Só tu tens as
palavras de vida eterna”. (João 6, 68). Se tivessem negado Jesus Cristo, a suas
vidas não teriam mais sentido, não saberiam para onde caminhar, ficariam to-
talmente desnorteados. O fascínio, a fidelidade e amor dos mártires por Jesus
Cristo, era tão grande ponto de sentirem que a morte dos seus corpos era mil
vezes mais favorável do que a morte da fé em suas almas.

O significado do Martírio
O Catecismo da Igreja dispõe:
§2473- O martírio é o supremo testemunho prestado à verdade da fé;
designa um testemunho que vai até a morte. O mártir dá testemunho de Cristo,
morto e ressuscitado, ao qual está unido pela caridade. Dá testemunho da ver-
dade da fé e da doutrina cristã. Enfrenta a morte num ato de fortaleza. “Deixai-
-me ser comida das feras. E por elas que me será concedido chegar até Deus.”
(Santo Inácio de Antioquia)
Os mártires de Cristo permanecem fiéis até o fim, auxiliados pela força do
Espírito Santo, ainda diz o Catecismo:
§852- “O Espírito Santo é o protagonista de toda a missão eclesial.” É ele
quem conduz a Igreja pelos caminhos da missão. “Esta missão, no decurso da
história, continua e desdobra a missão do próprio Cristo, enviado a evangelizar
os pobres. Eis por que a Igreja, impelida pelo Espírito de Cristo, deve trilhar a
mesma senda de Cristo, isto é, os caminhos da pobreza, da obediência, do ser-
viço e da imolação de si até a, morte, da qual Ele saiu vencedor por sua Ressur-
reição.” É assim que “o sangue dos mártires é uma semente de cristãos”.
Ao se configurarem ao Cristo em sua Cruz, unem-se indelevelmente a
todo o mistério pascal, abraçando toda a Paixão e gozando da grande alegria
da Ressurreição. “Visto que Jesus, Filho de Deus, manifestou Sua caridade en-
tregando Sua vida por nós, ninguém possui maior amor que aquele que entrega
sua vida por Ele e seus irmãos (cf. 1Jo3, 16; Jo 15, 13). Por isso, desde o início
alguns cristãos foram chamados e alguns sempre serão chamados para dar o
supremo testemunho de seu amor diante de todos os homens, mas de modo
especial perante os perseguidores. O martírio, por conseguinte, pelo qual o dis-
cípulo se assemelha ao Mestre, que aceita livremente a morte pela salvação do
mundo, e se conforma a Ele na efusão do sangue é estimado pela Igreja com
16
exímio dom e suprema prova de caridade. Se a poucos é dado, todos, porém,
devem estar prontos a confessar Cristo perante os homens, segui-lo no caminho
da cruz entre perseguições, que nunca faltam à Igreja” (Lumen Gentium nº 42).
Por terem vivido tão radicalmente o Evangelho, tornaram-se dignos de
estar ante ao Trono do Cordeiro, rendendo-lhe a glória e o louvor:
“Então um dos Anciãos falou comigo e perguntou-me: Esses, que estão
revestidos de vestes brancas, quem são e de onde vêm? Respondi-lhe: Meu Se-
nhor, tu o sabes. E ele me disse: Esses são os sobreviventes da grande tribulação;
lavaram as suas vestes e as alvejaram no sangue do Cordeiro. Por isso, estão
diante do trono de Deus e o servem, dia e noite, no seu templo. Aquele que está
sentado no trono os abrigará em sua tenda. Já não terão fome, nem sede, nem
o sol ou calor algum os abrasará, porque o Cordeiro, que está no meio do trono,
será o seu pastor e os levará às fontes das águas vivas; e Deus enxugará toda
lágrima de seus olhos”. (Ap 7,13-16)
É belo contemplar a vida de pessoas que existiram para fazer ressoar na
humanidade, o mais profundo louvor ao Cordeiro Vencedor, que jamais se apar-
taram do Corpo de Cristo, nas suas vidas e nem com as suas mortes. Nada pode
separá-los do Amor de Deus (Rm 8)
Supliquemos ao Senhor que nestes tempos de forte secularismo e rela-
tivismo, a fé seja fortalecida em nós, para que não neguemos o Senhor. Atual-
mente, muitas vezes renegamos a fé, por meio de nossas posturas, ações, faltas
e omissões. Quantas vezes nós praticamos, às vezes, até sem perceber, atitudes
incompatíveis com o Santo Evangelho e com a nossa vocação de cristãos de tes-
temunharmos o Cristo, anunciando-o até os confins do Terra.
Rogo ao Cristo Rei do Universo, que os exemplos dos mártires relatados
a seguir, nos comprometa com a verdade da fé, nos fazendo assumir uma vida
coerente na busca da santidade, que nos auxiliem em nosso processo de con-
versão e que nos inspirem, a nas mais diversificadas e difíceis situações, a ter
coragem de gritar ao mundo: Jesus Cristo é o Senhor, Ele é o Grande Rei do
Universo!
Que não sejamos cristãos covardes! Tenhamos coragem! Para G. K. Ches-
terton: “A coragem significa um forte desejo de viver, sob a forma de disposição
para morrer”. E se for para morrer por Cristo, a morte ganha especial valor e
sentido, como testemunha a carta ao Filipenses:
Paulo e Timóteo, servos de Cristo Jesus, a todos os santos em Cristo Je-
sus que estão em Filipos, com os bispos e diáconos: Graça a vós, e paz
da parte de Deus nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo. Dou graças ao meu
Deus todas as vezes que me lembro de vós, fazendo sempre, em todas
17
as minhas orações, súplicas por todos vós com alegria pela vossa coo-
peração a favor do evangelho desde o primeiro dia até agora... Quero,
irmãos, que saibais que as coisas que me aconteceram tem antes con-
tribuído para o progresso do evangelho; de modo que se tem tornado
manifesto a toda a guarda pretoriana e a todos os demais, que é por
Cristo que estou em prisões; também a maior parte dos irmãos no Se-
nhor, animados pelas minhas prisões, são muito mais corajosos para fa-
lar sem temor a palavra de Deus. Verdade é que alguns pregam a Cristo
até por inveja e contenda, mas outros o fazem de boa mente; estes por
amor, sabendo que fui posto para defesa do evangelho; mas aqueles por
contenda anunciam a Cristo, não sinceramente, julgando suscitar aflição
às minhas prisões. Mas que importa? Contanto que, de toda maneira,
ou por pretexto ou de verdade, Cristo seja anunciado, nisto me regozijo,
sim, e me regozijarei; porque sei que isto me resultará em salvação, pela
vossa súplica e pelo socorro do Espírito de Jesus Cristo, segundo a minha
ardente expectativa e esperança, de que em nada serei confundido; an-
tes, com toda a ousadia, Cristo será, tanto agora como sempre, engran-
decido no meu corpo, seja pela vida, seja pela morte. Porque para mim
o viver é Cristo, e o morrer é lucro. (Fl. 1, 1-5, 13-21)
Bendito seja o Nome do Senhor e de todos aqueles que por Ele foram co-
roados, por terem guardado a fé a retidão de seus corações como as primícias
de suas vidas:
Porque guardaste a minha palavra com firmeza, também Eu te guar-
darei na hora da provação que está para sobrevir ao mundo inteiro,
para provar os habitantes da terra. Eu venho em breve: conserva com
firmeza o que tens, para que ninguém arrebate a tua coroa. Farei do
vencedor uma coluna no templo do meu Deus e jamais sairá dele; es-
creverei sobre ele o nome do meu Deus e o nome da cidade do meu
Deus, a nova Jerusalém, que desce do Céu, de junto do meu Deus, e
também o meu nome novo. (Ap 3, 10-12)

18
Ícone de Santo Inácio de Antioquia (67– 110 d.C) São Policarpo Bispo de Esmirna, mártir do II
"Vivo, vos escrevo, desejando morrer. Meu amor está Século, ouviu do procônsul romano que queria
crucificado. Não há em mim um fogo que busque dissuadi-lo de seguir Cristo: "Eu tenho feras, e
alimentar-se da matéria, apenas uma água viva e te entregarei a elas, se não mudares de ideia."
murmurante dentro de mim, dizendo-me em segredo: Ele disse: "Pode chamá-las. Para nós, é
‘Vem para o Pai!' [...] Se for martirizado, vós me impossível mudar de ideia, a fim de passar do
quisestes bem. Se for rejeitado, vós me odiastes." (Da melhor para o pior; mas é bom
Carta aos Romanos, de Santo Inácio de Antioquia, mudar, para passar do mal à justiça." O
bispo e mártir). procônsul insistiu: "Já que desprezas as feras,
eu te farei queimar no fogo, se não mudares de
ideia." Policarpo respondeu-lhe: "Tu me
ameaças com um fogo que queima por um
momento, e pouco depois se apaga, porque
ignoras o fogo do julgamento futuro e do
suplício eterno, reservado para os ímpios. Mas
por que tardar? Vai e faze o queres."

SA exemplo do apologeta Tetertuliano de Cartago, Gilbert Keith


Chesterton, cristão do século XX, assume a postura de defender a fé,
no tempo de forte secularismo, em que viveu. Chesterton distingue o
martírio do suicídio: “Mais ou menos na mesma época li uma solene
bobagem de algum livre-pensador. Dizia ele que um suicida era
simplesmente o mesmo que um mártir. A patente falácia desse texto
ajudou-me a esclarecer a questão. Obviamente um suicida é o oposto
de um mártir. Um mártir é um homem que se preocupa tanto com
alguma coisa fora dele que se esquece de sua vida pessoal. Um
suicida é um homem que se preocupa tão pouco com tudo o que está
fora dele que ele quer ver o fim de tudo. Um quer que alguma coisa
comece; o outro, que tudo acabe. Em outras palavras, o mártir é
nobre, exatamente porque (embora renuncie ao mundo ou execre
toda a humanidade) ele confessa esse supremo laço com a vida;
coloca o coração fora de si mesmo: morre para que alguma coisa
viva. O suicida é ignóbil porque mão tem esse vínculo com a
existência: ele é meramente um destruidor. Espiritualmente, ele
destrói o universo. E depois me lembrei da estaca e da encruzilhada,
e o estranho fato de que o cristianismo mostrara esse rigor incomum
para com o suicida. Pois o cristianismo mostrara um ardente incentivo
ao martírio. (CHESTERTON, G.K., Ortodoxia. 2007, p.122-123)

Tertuliano de Cartago.

19
No ano de 1964, Paulo VI retomou a tradição do rito da
Via-sacra no Coliseu, iniciada por São Leonardo de Porto
Maurício em 1750.

O coliseu em Roma foi consagrado como um lugar


santo. Eis a lápide encontrada no local, que indica a
referida consagração. Os mártires foram
configurados ao Senhor e habitam a Sua Presença,
não cessam de render-lhe louvor. Vieram da
grande tribulação, lavaram as suas vestes com o
sangue do Cordeiro e Ele perpetuamente adoram.
(Imagem da Basílica do Carmo-Recife, Arautos).

Os santos mártires de Roma sofriam todos os tipos de


perseguição, torturas e tinham as suas vidas ceifadas,
sem nenhuma piedade. Muitos destes martírios foram
realizados no Coliseu, anfiteatro, obra iniciada pelo
imperador Vespasiano, no segundo ano após sua
ascensão ao trono (72 d.C.), faleceu antes de que a obra
fosse concluída. O seu filho Tito ficou encarregado pela
conclusão. Foi construído com a finalidade de ser o
grande palco para os jogos de gladiadores. Ocorre que
acabou sendo o centro de martírio de cristãos, que
testemunhavam a sua fé, mesmo sofrendo com a extrema
crueldade dos pagãos.

20
Martírio de Santo Inácio de Antioquia, de Johann Kreuzfelder (1570-1636).
"Tenho escrito a todas as Igrejas e a todas elas faço saber que com alegria
morro por Deus, contanto que vós não o impeçais. Suplico-vos: não
demonstreis por mim uma benevolência intempestiva. Deixai-me ser alimento
das feras, porque, através delas, pode-se alcançar a Deus. Sou trigo de
Deus: que seja eu triturado pelos dentes das feras para tornar-me puro pão
de Cristo! Instigai, ao contrário, os animais para que neles encontre o meu
sepulcro e nada reste de meu corpo para não ser pesado a ninguém, depois
de adormecer. Então serei verdadeiro discípulo de Cristo, quando o mundo
não mais vir sequer o meu corpo. Suplicai a Deus por mim, que por este
meio me torne uma hóstia para Deus. [...]
Que nada, tanto das coisas visíveis quanto das invisíveis, segure o meu
espírito, a fim de que eu possa alcançar a Jesus Cristo. Que o fogo, a cruz,
um bando de feras, os dilaceramentos, os cortes, a deslocação dos ossos, o
esquartejamento, as feridas pelo corpo todo, os duros tormentos do diabo
venham sobre mim para que eu ganhe unicamente a Jesus Cristo! [...]
Procuro aquele que morreu por nós: quero aquele que por nós ressuscitou.
Meu nascimento está iminente. Perdoai- me, irmãos! Não me impeçais de
viver, não desejeis que eu morra, pois desejo ser de Deus. [...] (Da Carta aos
Romanos, de Santo Inácio de Antioquia, bispo e mártir)

21
A experiência dos mártires e das Testemunhas da Fé não é uma
característica exclusivamente da Igreja dos primórdios, mas
delineia todas as épocas da sua história. De resto, no século XX,
talvez ainda mais do que no primeiro período do cristianismo,
muitíssimos foram os que testemunharam a fé com sofrimentos
não raro heroicos. Durante o século XX, quantos cristãos em
todos os continentes pagaram o seu amor a Cristo, também
derramando o próprio sangue! Eles padeceram formas de
perseguição antigas e recentes, experimentando o ódio e a
exclusão, a violência e a morte. Muitos países de antiga tradição
cristã voltaram a ser terras em que a fidelidade ao Evangelho
teve um preço muito elevado. No nosso século o "testemunho,
dado por Cristo até ao derramamento do sangue, tornou-se
patrimônio comum de católicos, ortodoxos, anglicanos e
protestantes" (Tertio millennio adveniente, 37). Homilia do Papa
João Paulo II-Roma, Coliseu, Domingo 7 de Maio de 2000
(Celebração Ecumênica para recordar as Testemunhas da fé do
século XX). A geração a que pertenço conheceu o terror da
guerra, os campos de concentração e a perseguição. Durante a
segunda guerra mundial, na minha Pátria sacerdotes e cristãos
foram deportados para os campos de extermínio. Somente em
Dachau foram internados cerca de três mil sacerdotes. O seu
sacrifício uniu-se ao de muitos cristãos provenientes de outros
países europeus e, nalguns casos, pertencentes a outras Igrejas
e Comunidades eclesiais. O meu sacerdócio inscreveu-se no
sacrifício de muitos homens e mulheres da minha geração. Nos
meus anos de juventude, eu mesmo fui testemunha de muitos
sofrimentos e de inúmeras provações. Desde a sua origem, o
meu sacerdócio "inscreveu-se no sacrifício de muitos homens e
mulheres da minha geração" (Dom e Mistério, pág. 47).

22
Miguel A gu s tín P ro
O alegre e destemido mártir de Cristo Rei
(1891-1927)
“Serei, ainda que imperfeito, um débil reflexo do
Coração de Cristo que tanto ama os homens...”

D
“ eixe-me viver ao Seu lado, minha Mãe, para fazer companhia
a sua solidão e a sua profunda dor! Deixe-me sentir em minha
alma o pranto doloroso de teus olhos e o abandono de seu co-
ração! Eu não quero no caminho da minha vida desfrutar da alegria de Belém,
adorando o Menino Jesus, em seus braços virginais. Eu não quero desfrutar
em sua humilde casa de Nazaré a presença querida de Jesus Cristo. Nem quero
unir-me ao coro dos anjos na sua gloriosa Assunção! Eu quero na minha vida
o desprezo e a zombaria do Calvário; Eu quero a morte lenta de seu Filho, o
desprezo, a ignomínia, a infâmia da Cruz. Quero, ó Virgem Dolorosa, estar per-
to de Ti, em pé, para fortalecer o meu espírito com suas lágrimas, consumar
o meu sacrifício com o seu martírio, apoiar o meu coração com a sua solidão,
amar o meu e o vosso Deus com o sacrifício de todo o meu ser.”
O Senhor se dignou em ouvir e atender esta oração feita pelo Beato Padre
Miguel Pro dirigida a Santíssima Virgem Maria. A vida deste fantástico padre foi
configurada ao Cristo em todas as coisas, sobretudo no Calvário. Por amor ao
Senhor e a Santa Igreja fez da sua existência um sacrifício de louvor, oferta viva
no altar de Deus. Como a Mãe de Jesus, o Pe. Pro abandonou-se inteiramente
aos desígnios de Deus.
O Pe. Miguel Pro é um dos incontáveis mártires, brutalmente assassina-
dos no México, durante o Governo de Calles, o “Nero do México”. Era um pa-
dre fantástico, alegre, inteligente, piedoso, simpático, dedicado ao seu rebanho,
amante à Santa Igreja, devoto da Virgem Maria e fiel à administração dos sacra-
mentos, centro da vida sacerdotal. Mesmo com a perseguição e proibição de
exercer seu ministério, padre Miguel o fazia com assiduidade e amor, na clan-
destinidade, arriscando-se a ser capturado e preso.
Em 13 de janeiro de 1891, às 14h15, nasceu José Ramón Miguel Agustín
Pro Juárez, no povoado mineiro de Guadalupe, no estado de Zacatecas. No dia
23
16, recebeu o sacramento do batismo. Foi o terceiro de onze irmãos, seus pais
Miguel e Josefa, eram católicos fervorosos. No final de 1891, a família passou
a residir em Ciudad de México. Em 1896, a numerosa família mudou-se para
Monterrey e em 1898, mudou-se novamente, desta vez para o município de
Concepción del Oro, no estado Zacatecas.
Em 19 de março de 1898, aos 7 anos de idade, Miguel, recebeu pela pri-
meira vez a comunhão eucarística, pelas mãos do Pe. Mateo Correa, que no
futuro também seria martirizado, em 6 de fevereiro de 1927. O dia 19 de março
era um dia de festa para toda a família, celebravam o dia de São José, mas tam-
bém o aniversário de Dona Josefa e neste ano em especial a Primeira Eucaristia
de Miguel. Com muitos preparativos celebraram um dia de muita alegria. Mi-
guel, com grande fervor diz a sua mãe o seu maior desejo de então: “Mamãe,
eu quero ir a uma procissão que não se acabe nunca!”
Na juventude, como muitos outros rapazes e moças, viveu uma crise para
descobrir qual era a sua vocação. Admirava a decisão de suas irmãs mais velhas,
que sem hesitar ingressaram no convento, no mais profundo do seu ser também
ouvia a voz do Senhor que lhe chamava pelo nome. Viveu alguns momentos de
tibieza, falta de fervor espiritual, mas perseverou na sua identidade religiosa e
por meio de seus exercícios espirituais manteve o olhar fixo em Cristo. A Ma-
dre Julia Navarrete e o Padre Alberto Mir, colaboraram imensamente para que
Miguel Pro tomasse a decisão de ingressar na Companhia de Jesus. Ao decidir,
Miguel reconheceu o chamado de Deus para a sua vida, muito emocionado ex-
pressou: “Minha vocação é certa!! Serei religioso apesar de todos os obstácu-
los! Falarei com meu confessor e pedirei admissão a Companhia de Jesus”. Aos
20 anos de idade, ingressou no noviciado dos jesuítas em El Llano, no estado de
Michoacán, em 10 de agosto de 1911.
Com todas as cerimônias devidas, formalmente, em 15 de agosto de 1913,
fez os votos de religioso para o próximo biênio. No dia seguinte iniciou o Junio-
rato. Nos arquivos da Companhia de Jesus foi encontrada a fórmula de seus vo-
tos, na qual ele livremente promete viver a castidade, a pobreza e a obediência.
Miguel era um homem profundamente feliz, realizado vocacionalmente. Viver
a vocação que o Senhor selou no seu coração, ainda que surgissem dificuldades
e obstáculos, trazia a verdadeira alegria para a sua alma. Ele se caracteriza pelo
amor que transbordava para com todos, viveu, como Santa Teresinha, a vocação
do amor e o que ensinou São João Paulo II: “O amor é a fundamental e originá-
ria vocação do ser humano”.
Miguel Pro, vivia uma vida à altura do Evangelho, esvaziou-se, deixou-se
conduzir por Deus, lutou incansavelmente contra o pecado e nunca estava com
uma cara fechada, ou triste pelos cantos, era imensamente alegre. As suas pos-
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turas se traduzem na famosa frase de Santo Agostinho: “Os teus pecados são a
tua tristeza, deixa que a santidade seja a tua alegria”. Ressalte-se que contraria-
mente ao que se difunde, que os santos eram pessoas infelizes, que fique claro
que a santidade é a verdadeira alegria e que os pecados e iniquidades são a raiz
da tristeza que assola o coração do homem. Pe. Pro era alegre e irradiava alegria
a quem estava ao seu redor, no entanto isso não o afastava da sua profunda vida
interior e introspecção.
Um dos seus companheiros do noviciado expressou sobre Miguel: “Neste
noviço se descobria com facilidade duas personalidades: o brincalhão, que ale-
grava os intervalos e o homem de uma profundíssima vida interior”.
Miguel Pro permaneceu no Juniortato um ano exato, pois a comunidade
foi dissolvida. Em 15 de agosto de 1914, relatou o irmão Pro: “O padre superior
subiu ao altar; imensamente abatido, e nos disse que era preciso fugir e nos deu
conselhos para a vida de aventuras que estava se iniciando”. Nesta data em que
se celebra a Assunção da Virgem Maria, o quadro da Mãe Rainha dos Noviços,
foi retirado. Na manhã do dia seguinte, por volta das 07h, o grupo formado pe-
los irmãos Campos, Cavero, Rios e Miguel Pro, parte para a cidade de Zamora.
A dissolução do noviciado em El Llano, Michoacán se deu por conta dos graves
ataques dos revolucionários carrancistas e suas ameaças de extermínio.
A Igreja no México estava passando por perseguições, (mas ainda se tor-
nariam imensamente piores anos depois) os noviços não puderam permanecer
em Zamora por muito tempo, logo partiram para a cidade de Guadalajara, onde
o irmão Pro teve a oportunidade de ver a sua mãe, que lavava roupas para co-
laborar com a manutenção das despesas da numerosa família. Em primeiro de
outubro de 1914, o irmão Pro e seus companheiros de noviciado, receberam a
ordem de emigrar. Passaram a residir nos Estados Unidos, em San Antônio, em
seguida partiriam a Los Gatos na Califórnia. Dona Josefa, mãe do irmão Pro, foi
a estação ferroviária para despedir-se do filho, não imaginava que seria a última
vez que lhe veria, emocionada disse ao seu filho, que em poucos instantes par-
tiria: “Olha meu filho, eu te imploro que siga tua vocação. Não sabemos se o seu
pai sobreviverá, mas temos Deus, nosso Pai”.
Miguel Pro, para seguir firmemente na sua vocação, partiu, obviamente
que precisou mortificar a sua vontade e não olhar para trás. Sabia das dificulda-
des de sua família, via os enormes esforços de sua mãe, bem como a situação de
seu pai que estava entre a vida e morte. O irmão Pro viveu a eleição que Deus
lhe fez, tudo lhe entregou por gratidão e generosidade. Abraçou a Cruz sem he-
sitar. Amou o Senhor acima de tudo e de todos. Ressoava em seu ser as palavras
de Nosso Senhor: “Quem ama seu pai ou sua mãe mais que a mim, não é digno
de mim. Quem ama seu filho mais que a mim, não é digno de mim. Quem não
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toma a sua cruz e não me segue, não é digno de mim. Aquele que tentar salvar
a sua vida, perdê-la-á. Aquele que a perder, por minha causa, reencontrá-la-á”.
(Mt. 10. 37-39)
Na Califórnia se deparou com um fortíssimo inverno, que lhe acarretava
grandes dores no estômago e ainda foi machucado fortemente na orelha, quase
lhe perdeu. Também não ficaria muito tempo neste lugar, transladou-se via El
Paso, para Nova Orleans. De lá foi para Key West, fez escalas em Havana e Nova
York e enfim embarcou para seu destino final a cidade espanhola de Granada.
No final de julho de 1915 chega a esta localidade, onde estudaria filosofia e re-
tórica, permanecendo por cinco anos.
Como já foi dito Miguel Pro, era brincalhão, igualmente era comprometi-
do com a sua vida de oração e estudos, mas inúmeras vezes foi incompreendido,
não por poucos, em relação ao seu caráter extrovertido. A maioria dos irmãos,
sobretudo os mais velhos, eram ranzinzas e se incomodavam ao vê-lo sorrir.
Dedicou todas as suas energias nos estudos, no momento era aquilo que
Deus lhe pedia. Tinha a convicção de que não seria um doutor, cientista ou pro-
fessor. Fixava o olhar em outro propósito: como sacerdote, queria ser pai para
os mais necessitados: pobres, órfãos e trabalhadores. Nas adversidades, o ir-
mão Pro permanecia com o otimismo que lhe era peculiar, afirmou: “Eu gostaria
de viver diversos tipos de dificuldades para ver como me sairia nelas. O México
precisa de homens que descubram saídas.” Pro nutria uma forte admiração por
Santo Inácio, fundador dos jesuítas, exortava os irmãos dizendo: “Imitemos o
nosso pai Santo Inácio, que foi um verdadeiro revolucionário, um inovador e de
muitos cárceres padeceu...”.
Após concluir os seus estudos de filosofia na Espanha, no final de 1920,
passou a residir em Nicarágua, numa cidade com o mesmo nome da que mora-
va na Espanha. Granada. Esta agora, é localizada às margens do Lago Cocibolca,
na costa oeste do país. Viveu os dois anos de magistério, que chamou de os mais
difíceis. Prestava serviços no Colégio Centro América Sagrado Coração, que ain-
da estava na metade das obras de construção. Não tinha alvenaria, as salas de
aula, oficinas e escritórios tinham piso de terra. O calor era intenso e desfavo-
rável. A vegetação invadia o espaço do colégio. Era comum o apaprecimento de
muitos insetos, baratas, escorpiões e cobras. Por toda parte haviam mosquitos.
Ele assumia a responsabilidade junto aos mais pequenos e ficava encarre-
gado da vigilância dos externos e semi-internos. Mesmo com todas as circustân-
cias disfavoráveis, o irmão Pro não cessava de doar-se. Em uma tarde extrama-
mente quente, em pleno sol, ele foi visto brincando a pular com as crianças para
distraí-las, por perceber que estavam tristes. Verdadeiramente, ele servia ao
Senhor com alegria, mesmo nas dores. Continuava a sentir as agudas dores no
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estomâgo, com muita discrição se retirava para o seu quarto e em algum tempo
voltava como a mesma animação de sempre.
O irmão Pulido, sobre as suas posturas afirmou: “Além dos muitos sofri-
mentos do Irmão Pro​, ele suportou ingratidões, falsas acusações, dores mortais,
incontáveis contrariedades e aborrecimentos, em com tranquilidade conservou
a alegria ...”
Em setembro de 1922, decorridos os trabalhos na Nicarágua, ele foi en-
viado para o Colégio de Santo Inácio, em Sarriá, na Espanha. Iniciou os estudos
teológicos e se destaca nas questões práticas de moral, logo ele se tornou um
dos mais consultados entre seus colegas. A enfermidade que o irmão Miguel
Pro trazia em seu estômago acentuou-se gravemente. Chegou a passar dias sem
conseguir levantar-se da cama, mas logo que teve significativa melhora, pediu
para ser assistente do padre responsável por dar assistência aos necessitados e
ainda manter os estudantes de Teologia que ali residiam, na época 92 estudan-
tes, uma missão árdua.
Durante a Semana Santa de 1924, os jesuítas realizaram os seus exercí-
cios espirituais em Manresa. O Pe. Crivelli que visitou Sarriá, trouxe informações
dos ultimos acontecimentos no México, principalmente de Orizaba, local onde
os comunistas chegaram ao poder e umas das primeiras ações foi assasinar o
padre. Com grande estardalhaço sinalizaram, utilizaram fogos de artificio, a pre-
sença do sacerdote que em seguida foi exterminado.
O Pe. Crivelli, o então Privincial do México, disse ainda que não iria fechar
a casa religiosa mexicana e que a Companhia de Jesus necessitava de um jovem
padre que não temesse o martírio para estar na nesta missão. O Irmão Miguel
Pro prontamente se propos a partir, dizendo: “Eis-me aqui!”
Para assumir com perspicácia a missão a qual se propos, o Ir. Pro seria en-
viado para a França ou para a Bélgica. Antes de ser trasferido dirgiu-se a Manresa
onde realizou um retiro espiritual. Neste local contemplou com profundidade a
vida de Santo Inácio Loyola. Pro esteve presente inclsive na gruta onde o santo
escreveu os exercícios espirituais e lá recordou de sua mãe, escrevendo-lhe algu-
mas palavras em um postal. Ao voltar do retiro, foi designidado a ir para a Bélgi-
ca, onde se prepararia para o apostolado nos tempos dificeis que o México vivia.
A perseguição a Igreja no México acentuou-se fortemente. O presidente
Plutarco Elías Calles fez claras declarações contra a Igreja e os sacerdotes. Du-
rante toda a sua campanha política, Calles esbraveja: “Eu sou um inimigo da cas-
ta sacerdotal que vê em sua posição um privilégio e não uma missão apostólica.
Sou um inimigo dos padres políticos, intrigantes, exploradores e opressores...
Eu declaro que respeito todas as religiões, desde que seus ministros não se en-
27
volvam em disputas políticas e descumpram as nossas leis”. Calles, pelos seus
ideais comunistas, não respeitava a liberdade religiosa e queria calar e destruir
a Igreja.
Em setembro de 1924 o Ir. Miguel Pro e o Ir. José Amozurrutia partiram
da Espanha e se dirigiram a Enghien na Bélgica. Nesta localidade a comunida-
de religiosa era grandiosa, congregava 130 jesuítas, provenientes da França e
outros quinze países. O único meio de comunicação neste lugar era o idioma
latino. Chegaram em um período muito frio, mas no inverno a temperatura era
ainda mais baixa. O Ir. Pro sofreu muítisimo, estava com a saúde debilitada, re-
sistia com serenidade e por sua alegria e otimismo não deixava transparecer o
que sentia. Tudo suportava por amor e mesmo nessa situação não hesitou em
regressar a sua pátria, impulsionado pelo ardor missionário em seu coração,
não temendo as ameças, os horrores, torturas e a morte que eram destinada a
muitos católicos no México.
No final do inverno, após passar dias desolado, sentindo fortes dores, tris-
te e com muitos medos, o Ir. Pro se dirige aos seus superiores e lhes pergunta
se ele foi considerado digno de ser ordenado. Na ocasião fez memória a cada
um dos seus anos de vida religiosa, expressou sobretudo as grandes dificulda-
des vividas na Nicarágua. Ao fim estava convencido de que sua ordenação seria
autorizada e assim se cumpriu. O Ir. Pro manifestou alegria ao receber a notícia,
mas no seu íntimo uma imensa angústia o consumia.
Ao ser comunicado pelo Pe. Crivelli sobre a sua admissão as Ordens Sa-
cras, copiosas lágrimas se derramaram em seu rosto e correndo ao sacrário
permaneceu em oração por um longo tempo. Mais uma vez abandonou-se em
Cristo, o seu grande amor.
Em seguida, escreveu ao seu antigo diretor espiritual na Nicarágua, o Pe.
Portas, na missiva enviada em março de 1925 apresentava: “Alegre-se comigo
e ajude-me com seus santos sacrifícios e orações a dar graças a Deus por este
novo favor e alcançar d’Ele que me prepare melhor para receber tão grande
Sacramento...”
Dois meses depois de assumir a presidência, Calles já decido pela destruição
da Igreja, nela instalou um movimento cismático, liderado por pelo bispo Joaquín
López Budar, conhecido como “Patriarca Pérez” e apoiado por Luis N. Morones,
maior autoridade da Confederação Regional dos Trabalhadores. Fundaram a Igre-
ja Católica Apostólica Mexicana em 21 de fevereiro de 1925, totalmente desligada
de Roma, que com furor pretendia desmoralizar e amedrontar o Papa.
López Budar muitas vezes foi desobediente aos seus superiores, era um
homem soberbo e que gostava de divisões. Encontrou no apoio de Luis N. Mo-
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rones e do presidente a Calles a oportunidade de torna-se o “Papa da Igreja Me-
xicana”, ao passo que Calles lhe daria legitimidade como líder da igreja estatal,
Luis Morones lhe daria a segurança e proteção contra atentados.
O Mons. José Mora y del Río, o fiel e piedoso Arcebispo do México, com
coragem denunciou: “Para deter a marcha triunfal da Santa Igreja Católica, se
requerem homens de talento, de maior estatura, e qualidades, as quais não exis-
tem em José Joaquín Pérez Budar”
Estando feliz por aproximar-se a data de sua ordenação, no mês de 1925
o Ir. Pro obteve de seus superiores a permissão de ir à cidade belga de Charleroi,
para que pudesse conhecer a miséria em que viviam os trabalhadores, para que
aprendesse a lhe dar com tantas necessidades e sofrimentos. O Ir. José Amozur-
rutia o acompanhou nesta viagem.
Sem vacilar, os jesuítas subiram em um trem no qual os trabalhadores
viajavam em vagões destinados para eles. Os mineiros ficaram surpresos e lhes
olhavam em silêncio. Um dos trabalhadores fez questão de expor que todos eles
eram socialistas. Depois sobre os trabalhadores de Charleroi, o Ir. Pro afirmou:
“Se restringem a dois ou três. Eles são socialistas que desprezam os sacerdotes
e riem de suas batinas”.

Ordenação Presbiteral
Em 30 de agosto 1925 o Irmão Pro foi ordenado sacerdote pelo bispo
Mons. Lecomte. Neste dia tão importante, não pode contar com a presença de
sua família, e nem do seu amigo o Ir. José Amozurrutia, estava sozinho. Na orde-
nação sacerdotal o valente Miguel Pro, novamente chorou bastante. Se emocio-
nou por reconhecer a grandeza da eleição de Deus para a sua vida, expressou:
“Contra todos os meus propósitos, ao contrário do que eu esperava da minha
natureza dura e fria, no dia da minha ordenação ao ouvir o bispo proferir as
palavras da consagração, não pude conter as lágrimas. No meu peito o meu
coração pulsou como nunca antes... O que dizer sobre a suave unção do Espírito
Santo que sinto e está sobre minhas mãos, inundando a minha pobre alma de
doçuras do céu? Escreveu uma carta a sua família na qual contou que a eles deu
a sua primeira benção: “...Me dirigi ao meu quarto, coloquei sobre minha mesa
as fotografias da minha família e os abençoei com toda a minha alma... “
No dia seguinte, o neossacerdote celebrou a sua primeira Missa, em En-
ghien, Bélgica, na Capela de São José. “Às 7h iniciei a Santa Missa na Capela
de São José. Nos primeiros instantes estava em pouco nervoso, mas segui com
muita paz e a alegria do céu. Durou 32 minutos e os participantes disseram que
parecia a uma missa presidida por um padre antigo. Visto que ensaiado muito”.
29
Em setembro do mesmo ano o jovem sacerdote foi enviado a França, para
orientar e dirigir a Ação Popular, um movimento social católico que atuava em
diferentes questões sociais, lutando na defesa da vida, da liberdade e da digni-
dade da pessoa humana.
Diariamente celebrava a Santa Missa pela manhã. Durante o resto o tem-
po dedicava-se imensamente a trabalhar na biblioteca, estudar diversos assuntos
filosóficos, teológicos e sociológicos. Consultou uma grande quantidade de pa-
dres para amadurecer enquanto sacerdote, sobretudo no modo de agir pastoral-
mente. Pe. Pro reconhecia a necessidade de pregar o Evangelho incansavelmen-
te, desejava pescar homens em grande número, não se contentava com poucos,
queria salvar o maior número de almas para Deus. Escreveu: “Devemos formar
a opinião, buscar horizontes, olhar para o futuro... o sacerdote que se contenta
com poucas almas, pode ser bem-intencionado, mas tem espírito de sacristão”.
Ele sonhava em ver cristãos convictos e formados intelectualmente: “No México
o nível intelectual é muito baixo, é necessário levantá-lo. Portanto é preciso for-
mar o clero, os leigos, os trabalhadores, preparar grupos, estudar, orar...”
Em 3 de novembro de 1925, foi levado a clínica de Sain-Remy, para reali-
zar exames e fazer radiografias. Foi diagnosticada uma úlcera no estômago com
estreitamento no piloro, ou estenose pilórica. Precisou ficar internado, levou
consigo alguns livros, um tratado de teologia dogmática, outro do sacerdote no
altar e ainda um dicionário de francês. Passou vários dias, que pareciam eter-
nos, internado, o que lhe custou bastante e se concretizou como uma providen-
te forma de exercitar a paciência.
No dia 17, o Pe. Pro foi operado pela primeira vez. Como sempre o seu
bom humor não deixava transparecer a dores e sofrimentos que estava sentin-
do. Com total confiança sabia que tinha depositado a sua vida em Deus e não
temia nada. Isso era tão perceptível que era chamado pelos religiosos de “o
menino mimado por Deus Pai. ” A ferida da cirurgia não cicatrizou e sangrava
abundantemente, assim foi necessária ainda a realização de outra cirurgia em 5
de janeiro de 1926.
Outro marco extremamente doloroso na vida de Miguel Pro foi o faleci-
mento de sua mãe, Dona Josefa, em 08 de fevereiro do mesmo ano. Soube do
triste acontecimento por meio de uma carta que recebeu dois depois. Ele sabia
que a mãe estava com câncer no estômago e que já tinha dado metástase. Dona
Josefa era realizada pela fidelidade a vocação do seu filho. O Sr. Miguel, seu pai,
que outrora estava enfermo se recuperou e abatido sepultou a sua esposa.
Pe. Pro foi submetido ainda a uma terceira cirurgia, que ensejou o seu in-
ternamento até o dia 06 de março e em seguida foi enviado a Hyéres para casa
de repouso e cuidados hospitalares gerenciada por Religiosas Franciscanas. O
30
médico que lhe atendia em Hyéres, confidenciou ao irmão jesuíta que acompa-
nhava Pe. Pro que a situação dele era gravíssima e não havia o que ser feito pela
Medicina, deveria comunicar ao superiores a gravidade do caso.
Em 5 de junho de 1926, o Pe. Picard comunica ao Pe. Pro que ele deve
retornar ao México, isso lhe seria um consolo, pois poderia despedir-se dos seus
familiares e amigos. O Pe. Picard com muita verdade lhe disse: “Regresse ao
México para morrer em sua pátria”.
Pe. Pro não se desmotivou, continuou com o seu otimismo inabalável e
sabia que a sua vida estava nas mãos de Deus e Ele faria o que quisesse. Era seu
Pai Amoroso e que marchava a sua frente. Em 17 de junho de 1926 peregrinou a
Lourdes, na França, chegou às 8h45 e às 9h já estava celebrando a Santa Eucaris-
tia na gruta das aparições da Santíssima Virgem. Às 16h50 já embarcou no trem
de volta. Em Lourdes encontrou esperança e forças para seguir adiante em seu
tratamento médico, para continuar os seus estudos e trabalhos, sobretudo para
dar assistência aos necessitados e atender confissões por horas, muitas vezes
sem parar nem para alimentar-se.
“O que senti em Lourdes não dá para escrever, foi um dos dias mais feli-
zes... Às 09h presidi a Missa... Passei uma hora na gruta, chorei como um meni-
no. É demais para descrever o que sentiu a minha pobre alma. Agora vou regres-
sar com a alma cheia de consolo.... Para mim, ir a Lourdes era encontrar a minha
Mãe no céu, falar-lhe, pedir-lhe e eu a encontrei, falei e pedi...”

O retorno ao México
Dias depois, embarcou no navio rumo ao México. Consciente da situação
política no México, tinha receio de não poder entrar no país, por ser sacerdote e
religioso, no entanto rezava e absolutamente confiava. O Pe. Pro, em 7 de julho,
desembarcou em Veracruz, não teve dificuldades para adentar na sua pátria.
Antes de sua chegada, cerca de 160 padres já haviam sido fuzilados e vários
outros presos.
A noite pegou um trem dirigindo-se a capital. Em 8 de julho se apresen-
tou ao Pe. Provincial Luis Vega. Uma hora depois foi a casa de Enrico Martínez,
onde exerceria seus ministérios e em seguida foi a cada de sua família na rua
de Orizaba. Logo que chegou percebeu a falta de seu irmão Humberto, que ti-
nha 24 anos e descobriu que estava preso por atuar na Liga Nacional Defensora
da liberdade religiosa. Observando a situação fática, refletiu com tristeza: “... A
Igreja do México está hoje entregue a seus inimigos, desprezada, humilhada,
cuspida e esbofeteada”.
31
Logo que chegou passou a dedicar-se ao zelo pastoral, de 8 a 31 de julho,
das 5h às 11h e das 15h às 20h, Pe. Pro atendia confissões. Nos intervalos sem-
pre estava ocupado em ministrar outros sacramentos, inclusive o matrimônio.
Eram tempos dificílimos e os sacerdotes eram escassos, em razão da persegui-
ção. Chegou a desmaiar duas vezes no confessionário pela fragilidade de sua
saúde somada ao cansaço.
Sobre como encontrou forças para suportar tão elevada jornada Pe. Pro
afirmou: “Como resisti? Como resisto? Eu o frágil hóspede de tantas clínicas eu-
ropeias? Isso é uma prova evidentíssima que o elemento divino, me utiliza como
instrumento...”
Em 31 de julho de 1926, Calles conseguiu proceder com a regulamenta-
ção do Código Penal que tornava a Igreja Católica, oficialmente proibida e crimi-
nalizava o sacerdócio, determinando que só os padres nomeados pelo governo
poderiam exercer o ministério no país. A lei entrou em vigor no mesmo dia. “...
toda ordem religiosa foi dissolvida. Todas as escolas católicas, secularizadas, o
que significa que, na realidade, tornaram-se ateístas; nelas, nenhuma menção a
Deus era tolerada. Crucifixos foram arrancados das paredes e as estátuas, des-
truídas. Em seguida, para eliminar toda “propaganda Católica”, todas as edito-
ras religiosas foram tomadas. Padre Pro não poderia ter escolhido melhor hora
para retornar. (Dominico)
Os templos católicos foram fechados ao público por ordem dos bispos
e com a aprovação do Santo Padre, o Papa Pio XI, para evitar o massacre dos
fiéis, mas Calles não se conformou, por sua vez, declarou que todas as igrejas,
conventos e seminários deveriam ser abandonados pelos padres, freiras e semi-
naristas, e seriam ocupados para outras finalidades, as mais diversas possíveis,
muitas foram imensamente profanadas e se tornaram lugares de orgias.
Em 1° de agosto de 1926, o México amanheceu em total orfandade. As
igrejas estavam fechadas. As celebrações estavam proibidas. Os sacrários abertos
e as velas não eram acesas. A angústia tomou conta da população que imediata-
mente protestou contra a Lei de Calles, realizando um boicote econômico, o mes-
mo não surtiu o efeito esperado e enfureceu ainda mais o nefasto presidente.
O modo de governar de Calles contava com o apoio da Rússia e com o si-
lêncio dos Estados Unidos e a venda das armas à crédito: “O embaixador Russo
Stanislas Pesthovsky garantiu a Calles que suas políticas anticlericais estavam
em perfeito acordo com os métodos comunistas, e desejou a ele todo o sucesso.
Ademais, para manter os métodos comunistas de vigilância, o ditador pró-co-
munista empregou dez mil agentes do governo, quase todos estrangeiros, para
investigar o povo, e assegurar que as novas leis fossem obedecidas. Onde tal na-
ção empobrecida conseguiu dinheiro para pagar esta violenta gestapo continua
32
um mistério... Mais incriminador para nosso país é o fato de que Washington
esteve vendendo armas à crédito ao General Obregon, sem as quais nem ele
nem Calles teriam conseguido sustentar suas sangrentas campanhas. Igualmen-
te estranho é o fato da imprensa dos Estados Unidos jamais ter publicado uma
única notícia ao povo Americano sobre o que estava realmente ocorrendo na
República vizinha...”. (Dominico)
O Pe. Pro, para não privar os fiéis da Santa Missa, idealizou as chamadas
“Estações Eucarísticas” que na verdade eram casas, onde clandestinamente ce-
lebrava a Eucaristia e ministrava sacramentos aos fiéis. No início eram trezentas,
depois outras mil foram criadas. Vários sacerdotes, religiosos e leigos se revesa-
vam e se reuniam para celebrar a fé, tinham ciência de que se fossem descober-
tos seriam encarcerados ou mortos.
Em 4 de dezembro de 1926, a Liga Nacional Defensora da Liberdade Reli-
giosa, realizou um protesto contra Calles. Em resposta, o governo federal iniciou
expedir inúmeros mandados de busca nas casas e prisões dos membros da Liga.
O Padre Pro foi aprendido por Bandala, um dos chefes da polícia secreta.
Fato interessantíssimo acerca do Pe. Pro é que estava em um grande
edifício, presidindo uma reunião com os jovens da Ação Católica, quando su-
bitamente a polícia surgiu rodeando o edifício. O Padre teve de esconder-se
num armário. Momentos depois, entrou no salão o Coronel portanto duas
pistolas: “Onde está o Padre Pro?“. Os moços disseram que não sabiam. “Tem
um minuto para dizer-me onde está este padre, ou matarei a todos!” Nesse
instante, sentiu o coronel um cano frio de arma tocar-lhe a nuca. Era o Pe. Pro
que havia saído do armário. “Solte essas pistolas ou morre!”. O coronel deixou
cair as armas no chão, e estas foram recolhidas pelos jovens. “Agora fujam vo-
cês!”, ordenou Pro aos membros as Ação Católica, que apressadamente corre-
ram buscando esconderijo. Em seguida, o padre disse: “Agora vire-se, Senhor
Coronel, vire-se para ver com que coisa o desarmei”. O coronel, humilhado,
percebeu que o padre lhe apontava a ponta de uma garrafa vazia. Pro com
uma mera garrafa, conseguiu desamarrar o coronel com duas pistolas total-
mente carregadas. Depois desse fato, o padre passou a ser ainda mais odiado
pela polícia, ressalte-se que encontrou meios de fugir da condenação após
esse fato. De acordo com Robert Royal, em sua obra “The Catholic Martyrs of
the Twentieth Century”.
As famílias que não renegavam o catolicismo eram perseguidas e muitas
vezes tinham os seus bens confiscados, passando a viver na miséria. Pe. Pro agia
como um verdadeiro pastor junto a essas famílias, tratava os seus filhos espiritu-
ais com grande carinho e não hesitou jamais em arriscar a sua vida para cuidar
das suas ovelhas. Não queria que lhes faltasse nunca o alimento espiritual, bem
33
como o material. Foram criadas comissões de auxílio para os católicos que per-
deram tudo ou não tinham o que comer.
“Enquanto horríveis martírios ocorriam, Padre Pro estava ocupado
organizando a ‘contrarrevolução’ bem no coração da capital. Primei-
ro, ele estabeleceu ‘estações eucarísticas’ por toda a cidade. Estas
estações eram casas de católicos de confiança, às quais ele ia em de-
terminados dias distribuir a Santa Comunhão, e, possivelmente, dizer
a Missa. Por conta própria, distribuía uma média de trezentas comu-
nhões por dia. Também organizou uma companhia de trezentos ho-
mens para percorrer toda a cidade e seus subúrbios como instrutores
religiosos [...] graças a estas instruções, jovens e velhos conservaram
sua Fé viva. Estas aulas também se provaram um substituto para as
escolas que normalmente teriam provido educação religiosa para as
crianças”. (Dominico)

As peripécias do Pe. Miguel


Constantemente abordado por policiais, Pe. Pro foi detido duas vezes,
mas a sua fé, coragem, alegria e criatividade lhe permitiram realizar um apos-
tolado fecundo e fértil. Muitas histórias são contadas dos seus feitos, que pare-
cem cenas de verdadeiros filmes policiais.
Ao seguir viagem em um táxi, o Pe. Pro percebeu que estava sendo se-
guido por um carro da polícia. Pediu que o motorista continuasse dirigindo, e
prontamente se jogou do carro em movimento. Os policiais não perceberam
e quando finalmente alcançaram o carro o padre já estava longe. Outra oca-
sião bastante curiosa foi quando os policiais cercaram um local onde o Pe. Pro
estava. Ele não demonstrou medo e tampouco se evadiu às pressas. De lon-
ge fez um movimento, como se estivesse apresentando um distintivo e disse:
“Aí dentro existe um padre escondido!” Os soldados acreditaram que ele fos-
se um agente à paisana e o deixaram passar livremente. É contado ainda que
Pe. Pro com vestes civis, após celebrar a Missa, consegui despistar policiais,
cumprimentando-os. Em outra perseguição, Pe. Pro percebeu que dois agen-
tes o vigiavam, avistou na rua uma senhora católica que frequentava a Missa,
aproximou-se dela e pediu que agisse como se fosse sua noiva. De braços da-
dos escapou dos agentes com facilidade.
“Fotografias do período mostram-no em vários disfarces. Organizou
retiros para diversos grupos [...] Com os trabalhadores, usava sus-
pensórios e capacete; ele parecia um motorista em uma reunião de
motoristas, um mecânico entre mecânicos. Por meio de vários sub-
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terfúgios conseguia ouvir confissões mesmo nas cadeias. Ele acon-
selhava os que se preparavam para ser oradores públicos em defesa
da Igreja sobre como moldar a opinião pública”. Robert Royal, The
Catholic Martyrs of the Twentieth Century, The Crossroad Publishing
Company, New York, NY, 2000.
Os superiores do Pe. Pro ordenaram que ficasse recluso em casa, nos me-
ses de fevereiro e março de 1927, porque os seus atos de bondade e heroicida-
de o tornaram marcado pelo polícia. O padre obedeceu, não sem sofrer, pois,
gostaria de estar na rua e nas casas realizando o seu apostolado, contudo reco-
nhecia a grande virtude da obediência, escreveu: “Quão difícil é esta virtude da
obediência! Recluso em um quarto estreito... proibido de exibir-me muito. Passo
os dias revolvendo meus livros e papeis. Creio que a obediência é o melhor dos
exercícios”.
Nos meses seguintes, o Pe. Pro retoma suas atividades, com grande afinco
e com destemor, em vários lugares anunciava o Evangelho de Cristo, chegou a
fazê-lo até diante de edifícios do governo e em prédios abandonados. Pregou
incontáveis retiros, celebrou muitas missas e celebrou os sacramentos junto ao
povo de Deus. De acordo com a ocasião o Pe. Pro se disfarçava para não ser des-
coberto, o seu coração palpitava de amor pelos mais sofridos e necessitados.
Bendizia a Deus por ter lhe concedido a sublime dignidade do sacerdócio. Ele
chegou a relatar que sentia uma profunda paz interior por poder ajudar uma
família de trabalhadores, por levar a comunhão para um “menino” de 94 anos,
por ensinar o catecismo a um comunista, por atender uma confissão em baixo
de uma árvore... Essas eram as suas maiores alegrias.
Em 23 de setembro a irmã Maria Concepción Acevedo, (Madre Conchita)
e o Padre Pro durante a Santa Missa se oferecem, nas palavras deste padre:
“Como vítimas da Justiça Divina, pela salvação da fé no México, pela Paz da
Igreja e pela conversão de seus perseguidores”.
Na manhã de 13 de novembro o Pe. Pro foi celebrar a Missa na casa da
Sra. Guadalupe Belaunzarán de García, em seguida dirigiu-se a casa da Sra.
Montes de Oca, onde atendeu confissões. Às 13h, foi para a casa de sua família
onde vivia o seu pai e seus irmãos, Ana María, Humberto e Roberto, estes dois
tinham acabado de chegar de uma conferência católica em Azcapotzaltongo. A
família almoçou reunida. Às 15h, Humberto e Roberto foram comprar “paletas”
mexicanas.
Nesta mesma tarde o General Alvaro Obregón, comunista, torturador e
assassino foi vítima de um atentado, enquanto dirigia pelo bosque de Chapul-
tepec, não sofreu nenhum dano. O atentado foi organizado por Luis Segura Vil-
chis, Juan Tirado e Nahúm Lamberto Ruiz.
35
Pe. Pro nesta mesma tarde foi ainda exercer suas atividades missionárias
em casas de fieis, estando na casa da família García foi procurado por seu irmão
Roberto. De lá foram à casa da Sra. Montes de Oca e por fim, a casa da famí-
lia Valezzi. Lá tomaram conhecimento do atentado contra o Coronel Obregón.
Pe. Pro preocupado, mas sem jamais imaginar que estaria envolvido comentou:
“Quem sabe quantas pessoas vão estar envolvidas neste acontecimento!”
Às 18h Ana Maria enviou a empregada para comprar carvão para utilizar
na cozinha. Ao voltar, esta contou os comentários que ouviu sobre o atentado.
Ao tomar conhecimento Humberto, vai buscar informações e descobre que o
carro utilizado no ataque era um Essex n°10101, do mesmo que tinha vendido,
em 8 de novembro a Luis Segura Vilchis, por meio de um terceiro, sem saber que
uso lhe dariam.
No dia 14, o Pe. Pro celebrou a Missa na casa da senhorita Esperanza
Montaño. Enquanto isso o agente Mazcorro incumbiu o agente Antonio Quin-
tana de descobrir os reponsáveis pelo ataque. Inicialmente a culpa caiu sobre
Juan Tirado, que foi preso e torturado de diversas formas, mas não revelou
quem eram os seus cúmplices. A esposa de Nahum Lamberto Ruiz, que foi fe-
rido pela polícia na perseguição do carro Essex, e era um dos reponsáveis pelo
atentado, com a intenção de livrar o seu marido, fez declarações nas quais
citou Luis Segura Vilchis como um dos culpados e vinculou a ele os irmãos Pro.
Álvaro Basáil e Antonio Quintana, agentes da Polícia passaram a buscar os
irmãos Pro incansavelmente.
Os três irmãos abandonaram a casa de sua família e se alojaram em di-
ferentes casas para não serem encontrados. Escondido na residência da Sra.
Urquiaga, o Pe. Pro se confessou com o seu diretor espiritual o Pe. Alberto Mén-
dez Medina. Depois escondeu-se com seus irmãos no lar da Sra. María Valdéz
de González, que ao ser questionada pelo Pe. Pro sobre ter medo de recebe-los
na sua casa, afirmou não ter medo. Era dia 15 de novembro, nesta mesma data
Humberto Pro se apresentou aos diretores da Liga Católica e mostrou disposi-
ção para partir à montanha se unindo aos cristeros. O Pe. Pro planejou fugir da
Ciudad de México em 19 de novembro.
O dia seguinte, transcorreu com calma. Os muitos amigos do Pe. Pro lhe
procuravam um lugar seguro. A noite abençoou o matrimônio de um jovem ca-
sal. Pe. Pro admirava a coragem dos cristeros, mas jamais seria capaz de pegar
em armas de fogo e não apoiava o conflito armado.
No dia 17 novembro, a polícia estava na casa da Sra. Montes de Oca. O
seu pequeno filho ligou pedindo que fossem buscá-lo na casa de seus avós. O
agente Basail, pediu a direção a criança para ir para ele. Ao encontrar o menino
o ameçaram para que revelasse o esconderijo dos irmãos Pro. Um dia antes o
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menino tinha ido até lá para se confessar, então amedrontado pelo repulsivo
agente, a criança revelou que estavam escondidos na casa da Sra. Valdéz. A po-
lícia estudou com atenção a localidade, planejando a abordagem para que não
permitisse a possibilidade de fuga.
Na madrugada do dia 18, por volta das 3h, a Sra. Valdéz e os seus criados
acordaram, por causa dos barulhos no telhado e os latidos do cachorro. Ao olhar
pela janela constatou que vinte soldados armados cercavam a casa, estes que
imediatamente arrombaram a porta e adentraram. Eles se dirigiram ao quarto
onde dormiam os irmãos Pro e disseram: “Não se mexam!”. O Pe. Pro disse aos
seus irmãos: “Arrependam-se de seus pecados como si estivessem na presença
de Deus”. Em seguida, pronunciou a absolvição sacramental e lhes disse: “Desde
agora vamos oferecendo nossas vidas pela fé no México e façamos os três uni-
dos para que Deus aceite o nosso sacrifício”.
O agente Álvaro Basáil enfurecido disse a Sra. Valdéz: “Sabia que escondia
em sua casa dinamiteiros?” Ela respondeu: “O que sei é que escondia um san-
to”. Pe. Pro disse ao agente: “Esta senhora é inocente, deixe-a tranquila, somos
nós a quem procuravam”. Olhando para a bondosa senhora o padre disse: “Serei
morto. Receba como presente os meus paramentos sacerdotais”. Basáil disse:
“Vocês não têm nada a temer. É uma inspeção”. O padre foi ao armário, pegou o
seu crucifixo, beijou-o devotamente e o guardou na bolsa. A Sra. Valdéz doou ao
padre um agasalho, que mais tarde ele daria a Juan Tirado, que foi severamente
torturado e caiu no chão tremendo de frio.
No dia 18, o Pe. Pro e seus irmãos, já detidos, fazem uma escala na casa
da Sra. Montes de Oca, que também estava presa, lá encontram a sua irmã e
em seguida foram levados para a inspetoria e lá fizeram as suas primeiras decla-
rações. Era aproximadamente 5h da manhã. Os agentes mostraram o carro aos
irmãos que responderam: “Nós não temos nada a ver com isso!” Depois foram
encarcerados numa cela no porão. Roberto e Pe. Miguel Pro ficaram em uma
cela e Humberto e a Sra. Montes de Oca em outra. Estavam em um lugar ermo,
demasiadamente frio, onde não havia entrada de iluminação solar. Passavam
o tempo fazendo orações, cantando louvores e recitando o rosário. Faziam no
pouco espaço alguns exercícios físicos para amenizar o frio. Repartiam entre si
os poucos alimentos que eram obtidos. Durante os 04 dias de cativeiro, se pre-
pararam para entregar-se a Deus. Pe. Pro escreveu nas paredes da cela: “¡Viva
Cristo Rey! ¡Viva la Virgen de Guadalupe!”
Não havia meios probatórios contra os irmãos Pro, que acreditavam que
seriam libertos, os verdadeiros autores do atentado, sobretudo Luis Segura Vil-
chis, afirmaram que os irmãos eram inocentes. Ana María, despois de consultar-
-se com um sacerdote e com um advogado, propõe o pagamento dos valores de
37
$4.000 pela liberdade do padre, $2.000 pela de Humberto e $1.000 por Rober-
to, de acordo com os cálculos que foram realizados, levando em consideração a
idade e a profissão.
Em 21 de novembro de 1927, o general Cruz recebeu de Calles e Obre-
gón a ordem de fuzilar a os detidos, como se todos fossem cúmplices e partíci-
pes do atentado contra Obregón. Estavam ainda mais tomados de ódio e furor
contra a Igreja, pois em um telegrama enviado pelo Arcebispo do México, se
evidenciava que o Papa Pio XI rejeitava as proposições feitas por Calles e Obre-
gon a respeito da situação religiosa no México, pois com clareza era possível
observar o dolo e a fraude no regime. Calles ao condenar a morte, pretende
golpear o sentimento católico.
Em 22 de novembro de 1927 o supracitado general cumprindo as ordens
dos seus superiores, convocou os repórteres de vários jornais. Os detidos, com a
exceção de Roberto Pro, compareceram diante da imprensa. As palavras do Pe.
Pro foram: “Senhores, juro diante de Deus que sou inocente do que me acusam.
Não tenho nenhuma participação...” Cruz lhe interrompeu bruscamente: “Já
basta, retire-se imediatamente!” E voltando-se aos repórteres disse: “Já o escu-
taram! O mesmo confessou a sua culpa!” Nesse mesmo dia, Calles e Obregón
voltam a falar entre si, afirmaram que era necessário dar uma lição a essa “gen-
tinha”. O general Cruz argumentou que era preciso a sentença ser revestida de
um meio legal, ainda que aparentemente. Calles enfurecido gritou: “Não quero
um meio, quero o fato! Mate-os!”. Assim foi confirmada a ordem de fuzilamento
para a manhã do dia seguinte.
Às 19h30 tomaram declarações verbais dos detidos, com a finalidade
de encontrar motivos para a condenação. O Pe. Pro ficou otimista com as afir-
mações que fez e acreditava que seriam considerados inocentes nos tribunais.
À meia-noite, desceram ao cárcere o General Roberto Cruz e Palomera López
acompanhados por outros militares e fotógrafos. Essa visita causou impacto ne-
gativo para o Pe. Pro que disse ao seu irmão Roberto: “Agora a coisa piorou.
Quem sabe o que querem fazer esses senhores, mas não deve ser nada de bom.
Peçamos a Deus resignação e força para suportarmos o que nos vem”. Na ver-
dade eles estavam preparando o “Grande Espetáculo”, que seria coberto pela
mídia e que muitos deputados ligados ao governo estariam presentes levando
também os seus convidados. Viam esse momento como um fascinante show,
tal qual em Roma, quando os cristãos eram jogados aos leões famintos, mul-
tilados por gladiadores e torturados até a morte perante o público no Coliseu.
Os irmãos Pro rezaram o Rosário juntos pela última vez, em seguida dormiram,
o padre no chão completamente desnudo, pois deu o seu cobertor a Antonio
Mutiuzábal.
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“I do not! I remember them as only another proof of how unworthy
he is of the confidence of any woman.”
“Really, Mr. Pennell, you seem to be all on Miss Brandt’s side!”
“I am, and for this reason. If your ideas concerning her are correct,
she displayed a large amount of fortitude whilst speaking of your
brother-in-law yesterday. But my own belief is, that you are mistaken
—that Miss Brandt is too clever for Ralph, or any of you—and that
she cares no more for him in that way than you do. She considers
doubtless that he has behaved in a most ungentlemanly manner
towards them all, and so do I. I did not know what excuse to make
for Ralph! I was ashamed to own him as a relation.”
“Harriet Brandt did then confide her supposed wrongs to you!”
“Not at all! When she mentioned Ralph’s name, it was like that of
any other acquaintance. But when she was out of the room, the
Baroness told me that he had behaved like a scoundrel to the girl—
that he had never confided the fact of his engagement to her, but run
after her on every occasion, and then after having promised to join
their party in Brussels, and asked Madame Gobelli to engage his
room for him, he left for England without even sending her a line of
apology, nor has he taken the least notice of them since!”
“Ah! but you know the reason of his sudden departure!” cried
Margaret, her soft eyes welling over with tears.
“My dear Mrs. Pullen,” said Anthony Pennell, sympathetically,
“even at that sad moment, Ralph might have sent a telegram, or
scratched a line of apology. We have to attend to such little
courtesies, you know, even if our hearts are breaking! And how can
you excuse his not having called on them, or written since? No
wonder the Baroness is angry. She did not restrain her tongue in
speaking of him yesterday. She said she never wished to see his
face again.”
“Does she know that Elinor went to the Red House?”
“I think not! There was no mention of her name!”
“Then I suppose we may at all events consider the affair une
chose finie?”
“I hope so, sincerely! I should not advise Master Ralph to show his
face at the Red House again. The Baroness said she longed to lay
her stick across his back, and I believe she is quite capable of doing
so!”
“Oh! indeed she is,” replied Margaret, smiling, “we heard a great
many stories of her valour in that respect from Madame Lamont, the
landlady of the Lion d’Or. Has Miss Brandt taken up her residence
altogether with Madame Gobelli?”
“I think not! She told me her life there was very dull, and she
should like to change it.”
“She is in a most unfortunate position for a young girl,” remarked
Margaret, “left parentless, with money at her command, and in a
strange country! And with the strange stigma attached to her birth—”
“I don’t believe in stigmas being attached to one’s birth,” returned
Pennell hastily, “the only stigmas worth thinking about, are those we
bring upon ourselves by our misconduct—such a one, for instance,
as my cousin Ralph has done with regard to Miss Brandt! I would
rather be in her shoes than his. Ralph thinks, perhaps, that being a
stranger and friendless she is fair game—”
“Who is that, taking my name in vain?” interrupted a languid voice
at the open door, as Captain Pullen advanced into the room.
Margaret Pullen started and grew very red at being detected in
discussing her brother-in-law’s actions, but Anthony Pennell, who
was always ruffled by his cousin’s affected walk and drawl, blurted
the truth right out.
“I was,” he replied, hardly touching the hand which Captain Pullen
extended to him, “I was just telling Mrs. Pullen of the high estimation
in which your name is held at the Red House!”
It was now Ralph’s turn to grow red. His fair face flushed from chin
to brow, as he repeated,
“The Red House! what Red House?”
“Did they not mention the name to you? I mean the residence of
Madame Gobelli. I was dining there yesterday.”
“Dining there, were you? By Jove! I didn’t know you were
acquainted with the woman. Isn’t she a queer old party? Baroness
Boots, eh? Fancy your knowing them! I thought you were a cut
above that, Anthony!”
“If the Gobellis were good enough for you to be intimate with in
Heyst, I suppose they are good enough for me to dine with in
London, Ralph! I did not know until last evening, however, that you
had left them to pay for your rooms in Brussels, or I would have
taken the money over with me to defray the debt.”
Ralph had seated himself by this time, but he looked very uneasy
and as if he wished he had not come.
“Did the old girl engage rooms for me?” he stammered. “Well! you
know the reason I could not go to Brussels, but of course if I had
known that she had gone to any expense for me, I would have
repaid her. Did she tell you of it herself?” he added, rather anxiously.
“Yes! and a good many more things besides. As you have
happened to come in whilst we are on the question, I had better
make a clean breast of it. Perhaps you have heard that Miss Leyton
has been to the Red House and had an interview with Miss Brandt!”
“Yes! I’ve just come from Richmond, where we’ve had a jolly row
over it,” grumbled Ralph, pulling his moustaches.
“Your family all felt that sort of thing could not go on—that it must
end one way or the other—and therefore I went to the Red House,
ostensibly to view Madame Gobelli’s collection of china, but in reality
to ascertain what view of the matter she and Miss Brandt took—and
to undeceive them as to your being in a position to pursue your
intimacy with the young lady any further.”
“And what the devil business have you to meddle in my private
affairs?” demanded Captain Pullen rousing himself.
“Because, unfortunately, your mother happened to be my father’s
sister,” replied Pennell sternly, “and the scrapes you get in harm me
more than they do yourself! One officer more or less, who gets into a
scrape with women, goes pretty well unnoticed, but I have attained a
position in which I cannot afford to have my relations’ names
bandied about as having behaved in a manner unbecoming
gentlemen.”
“Who dares to say that of me?” cried Ralph angrily.
“Everybody who knows of the attention you paid Miss Brandt in
Heyst,” replied Anthony Pennell, boldly, “and without telling her that
you were already engaged to be married. I do not wonder at Miss
Leyton being angry about it! I only wonder she consents to have any
more to do with you in the circumstances.”
“O! we’ve settled all that!” said Ralph, testily, “we had the whole
matter out at Richmond this afternoon, and I’ve promised to be a
good boy for the future, and never speak to a pretty woman again!
You need not wonder any more about Elinor! She is only glad
enough to get me back at any price!”
“Yes? And what about Miss Brandt?” enquired Pennell.
“Is she worrying about this affair?” asked Captain Pullen, quickly.
“Not a bit! I think she estimates your attentions at their true value. I
was alluding to the opinion she and her friends must have formed of
your character as an officer and a gentleman.”
“O! I’ll soon set all that right! I’ll run over to the Red House and see
the old girl, if you two will promise not to tell Elinor!”
“I should not advise you to do that! I am afraid you might get a
warm reception. I think Madame Gobelli is quite capable of having
you soused in the horse-pond. You would think the same if you had
heard the names she called you yesterday.”
“What did she call me?”
“Everything she could think of. She considers you have behaved
not only in a most ungentlemanly manner towards her, but in a most
dishonourable one to Miss Brandt. She particularly told me to tell you
that she never wished to see your face again.”
“Damn her!” exclaimed Captain Pullen, wrathfully, “and all her
boots and shoes into the bargain. A vulgar, coarse old tradesman’s
wife! How dare she——”
“Stop a minute, Ralph! The Baroness’s status in society makes no
difference in this matter. You know perfectly well that you did wrong.
Let us have no more discussion of the subject.”
Captain Pullen leaned back sulkily in his chair.
“Well! if I did flirt a little bit more than was prudent with an
uncommonly distracting little girl,” he muttered presently, “I am sure I
have had to pay for it! Lord Walthamstowe insists that if I do not
marry Elinor before the Rangers start for Malta the engagement shall
be broken off, so I suppose I must do it! But it is a doosid nuisance to
be tied up at five-and-twenty, before one has half seen life! What the
dickens I am to do with her when I’ve got her, I’m sure I don’t know!”
“O! you will find married life very charming when you’re used to it!”
said Pennell consolingly, “and Miss Leyton is everything a fellow
could wish for in a wife! Only you must give up flirting, my boy, or if I
mistake not, you’ll find you’ve caught a tartar!”
“I expect to have to give up everything,” said the other with a sour
mouth.
As soon as he perceived a favourable opportunity, Anthony
Pennell rose to take his leave. He did not wish to quarrel with Ralph
Pullen about a girl whom he had only seen once, at the same time
he feared for his own self-control, if his cousin continued to mention
the matter in so nonchalant a manner. Pennell had always despised
Captain Pullen for his easy conceit with regard to women, and it
seemed to him to have grown more detestably contemptible than
before. He was anxious therefore to quit the scene of action. But, to
his annoyance, when he bade Margaret good-evening, Ralph also
rose and expressed his wish to walk with him in the direction of his
chambers.
“I suppose you couldn’t put me up for the night, old chappie!” he
said with his most languid air.
“Decidedly not!” replied Pennell. “I have only my own bedroom,
and I’ve no intention of your sharing it. Why do you not go back to
Richmond, or put up at an hotel?”
“Doosid inhospitable!” remarked Captain Pullen, with a faded
smile.
“Sorry you think so, but a man cannot give what he does not
possess. You had better stay and keep your sister-in-law company
for a little while. I have work to do and am going straight home!”
“All right! I’ll walk with you a little way,” persisted Ralph, and the
two young men left the house together.
As soon as they found themselves in the street, Captain Pullen
attacked his cousin, eagerly.
“I say, Pennell, what is the exact direction of the Red House?”
“Why do you want to know?” enquired his companion.
“Because I feel that I owe the Baroness a visit. I acknowledge that
I was wrong not to write and make my apologies, but you must know
what it is—with a deuce of a lot of women to look after, and the
whole gang crying their eyes out, and everything thrown on my
shoulders, coffin, funeral, taking them over from Heyst to England,
and all—it was enough to drive everything else out of a man’s head.
You must acknowledge that.”
“You owe no excuses to me, Pullen, neither do I quite believe in
them. You have had plenty of time since to remedy your negligence,
even if you did forget to be courteous at the moment!”
“I know that, and you’re quite right about the other thing. I had
more reasons than one for letting the matter drop. You are a man
and I can tell you with impunity what would set the women tearing
my eyes out. I did flirt a bit with Harriet Brandt, perhaps more than
was quite prudent in the circumstances—”
“You mean the circumstance of your engagement to Miss Leyton?”
“Yes and No! If I had been free, it would have been all the same—
perhaps worse, for I should not have had a loophole of escape. For
you see Miss Brandt is not the sort of girl that any man could marry.”
“Why not?” demanded Pennell with some asperity.
“Oh! because—well! you should hear old Phillips talk of her and
her parents. They were the most awful people, and she has black
blood in her, her mother was a half-caste, so you see it would be
impossible for any man in my position to think of marrying her! One
might get a piebald son and heir! Ha! ha! ha! But putting all that
aside, she is one of the demndest fascinating little women I ever
came across—you would say so too, if you had seen as much of her
as I did—I can’t tell you what it is exactly, but she has a drawing way
about her, that pulls a fellow into the net before he knows what he is
about. And her voice, by Jove!—have you heard her sing?”
“I have, but that has nothing to do that I can see with the subject
under discussion. You, an engaged man, who had no more right to
philander with a girl, than if you had been married, appear to me to
have followed this young lady about and paid her attentions, which
were, to say the least of them, compromising, never announcing the
fact, meanwhile, that you were bound to Miss Leyton. After which,
you left her, without a word of explanation, to think what she chose of
your conduct. And now you wish to see her again, in order to
apologise. Am I right?”
“Pretty well, only you make such a serious matter out of a little
fun!”
“Well, then, I repeat that if you are wise, you will save yourself the
trouble, Ralph! Miss Brandt is happily too sensible to have been
taken in by your pretence of making love to her. She estimates you
at your true value. She knows that you are engaged to Elinor Leyton
—that you were engaged all the time she knew you—and, I think,
she rather pities Miss Leyton for being engaged to you!”
But this point of view had never presented itself before to the
inflated vanity of Ralph Pullen.
“Pities her!” he exclaimed, “the devil!”
“I daresay it seems incomprehensible to you that any woman
should not be thankful to accept at your hands the crumbs that may
fall from another’s table, but with regard to Miss Brandt, I assure you
it is true! And even were it otherwise, I am certain Madame Gobelli
would not admit you to her house. You know the sort of person she
is! She can be very violent if she chooses, and the names she called
you yesterday, were not pretty ones. I had much trouble, as your
relative, to stand by and listen to them quietly. Yet I could not say
that they were undeserved!”
“O well! I daresay!” returned Ralph, impatiently. “Let us allow, for
the sake of argument, that you are right, and that I behaved like a
brute! The matter lies only between Hally Brandt and myself. The old
woman has nothing to do with it! She never met the girl till she went
to Heyst. What I want to do is to see Hally again and make my peace
with her! You know how easily women are won over. A pretty present
—a few kisses and excuses,—a few tears—and the thing is done. I
shouldn’t like to leave England without making my peace with the
little girl. Couldn’t you get her to come to your chambers, and let me
meet her there? Then the Baroness need know nothing about it!”
“I thought you told us just now, that you had had a reconciliation
with Miss Leyton on condition that you were to be a good boy for the
future. Does that not include a surreptitious meeting with Miss
Brandt?”
“I suppose it does, but we have to make all sorts of promises
where women are concerned. A nice kind of life a man would lead, if
he consented to be tied to his wife’s apron-strings, and never go
anywhere, nor see anyone, of whom she did not approve. I swore to
everything she and old Walthamstowe asked me, just for peace’s
sake,—but if they imagine I’m going to be hampered like that, they
must be greater fools than I take them for!”
“You must do as you think right, Pullen, but I am not going to help
you to break your word!”
“Tell me where the Red House is! Tell me whereabouts Hally takes
her daily walks!” urged Captain Pullen.
“I shall tell you nothing—you must find out for yourself!”
“Well! you are damned particular!” exclaimed his cousin, “one
would think this little half-caste was a princess of the Blood Royal.
What is she, when all’s said and done? The daughter of a mulatto
and a man who made himself so detested that he was murdered by
his own servants—the bastard of a——”
“Stop!” cried Pennell, so vehemently that the passers-by turned
their heads to look at him, “I don’t believe it, and if it is true, I do not
wish to hear it! Miss Brandt may be all that you say—I am not in a
position to contradict your assertions—but to me she represents only
a friendless and unprotected woman, who has a right to our
sympathy and respect.”
“A friendless woman!” sneered Captain Pullen, “yes! and a doosid
good-looking one into the bargain, eh, my dear fellow, and much of
your sympathy and respect she would command if she were ugly
and humpbacked. O! I know you, Pennell! It’s no use your coming
the benevolent Samaritan over me! You have an eye for a jimper
waist and a trim ancle as well as most men. But I fancy your interest
is rather thrown away in this quarter. Miss Brandt has a thorny path
before her. She is a young lady who will have her own way, and with
the glorious example of the Baroness the way is not likely to be too
carefully chosen. To tell the truth, old boy, I ran away because I was
afraid of falling into the trap. The girl wishes intensely to be married,
and she is not a girl whom men will marry, and so—we need go no
further. Only, I should not be surprised if, notwithstanding her fortune
and her beauty, we should find Miss Harriet Brandt figuring before
long, amongst the free lances of London.”
“And you would have done your best to send her there!” replied
Anthony Pennell indignantly, as he stopped on the doorstep of his
Piccadilly chambers. “But I am glad to say that your folly has been
frustrated this time, and Miss Brandt sees you as you are! Good-
night!” and without further discussion, he turned on his heel and
walked upstairs.
“By Jove!” thought Ralph, as he too went on his way, “I believe old
Anthony is smitten with the girl himself, though he has only seen her
once! That was the most remarkable thing about her—the ease with
which she seemed to attract, looking so innocent all the while, and
the deadly strength with which she resisted one’s efforts to get free
again. Perhaps it is as well after all that I should not meet her. I don’t
believe I could trust myself, only speaking of her seems to have
revived the old sensation of being drawn against my will—
hypnotised, I suppose the scientists would call it—to be near her, to
touch her, to embrace her, until all power of resistance is gone. But I
do hope old Anthony is not going to be hypnotised. He’s too good for
that.”
Meanwhile Pennell, having reached his rooms, lighted the gas,
threw himself into an armchair, and rested his head upon his hands.
“Poor little girl!” he murmured to himself. “Poor little girl!”
Anthony Pennell was a Socialist in the best and truest sense of the
world. He loved his fellow creatures, both high and low, better than
he loved himself. He wanted all to share alike—to be equally happy,
equally comfortable—to help and be helped, to rest and depend
upon one another. He knew that the dream was only a dream—that it
would never be fulfilled in his time, nor any other; that some men
would be rich and some poor as long as the world lasts, and that
what one man can do to alleviate the misery and privation and
suffering with which we are surrounded, is very little. What little
Pennell could do, however, to prove that his theories were not mere
talk, he did. He made a large income by his popular writings and the
greater part of it went to relieve the want of his humbler friends, not
through governors and secretaries and the heads of charitable
Societies, but from his own hand to theirs. But his Socialism went
further and higher than this. Money was not the only thing which his
fellow creatures required—they wanted love, sympathy, kindness,
and consideration—and these he gave also, wherever he found that
there was need. He set his face pertinaciously against all scandal
and back-biting, and waged a perpetual warfare against the tyranny
of men over women; the ill-treatment of children; and the barbarities
practised upon dumb animals and all living things. He was a liberal-
minded man, with a heart large enough and tender enough to belong
to a woman—with a horror of cruelty and a great compassion for
everything that was incapable of defending itself. He was always
writing in defence of the People, calling the attention of those in
authority to their misfortunes; their evil chances; their lack of
opportunity; and their patience under tribulation. For this purpose
and in order to know them thoroughly, he had gone and lived
amongst them; shared their filthy dens in Whitechapel, partaken of
their unappetising food in Stratford; and watched them at their labour
in Homerton. His figure and his kindly face were well-known in some
of the worst and most degraded parts of London, and he could pass
anywhere, without fear of a hand being lifted up against him, or an
oath called after him in salutation. Anthony Pennell was, in fact, a
general lover—a lover of Mankind.
And that is why he leant his head upon his hand as he ejaculated
with reference to Harriet Brandt, “Poor little girl.”
It seemed so terrible in his eyes that just because she was
friendless, and an orphan, just because her parents had been,
perhaps, unworthy, just because she had a dark stream mingling
with her blood, just because she needed the more sympathy and
kindness, the more protection and courtesy, she should be
considered fit prey for the sensualist—a fit subject to wipe men’s feet
upon!
What difference did it make to Harriet Brandt herself, that she was
marked with an hereditary taint? Did it render her less beautiful, less
attractive, less graceful and accomplished? Were the sins of the
fathers ever to be visited upon the children?—was no sympathetic
fellow-creature to be found to say, “If it is so, let us forget it! It is not
your fault nor mine! Our duty is to make each other’s lives as happy
as possible and trust the rest to God.”
He hoped as he sat there, that before long, Harriet Brandt would
find a friend for life, who would never remind her of anything outside
her own loveliness and loveable qualities.
Presently he rose, with a sigh, and going to his bookcase drew
thence an uncut copy of his last work, “God and the People.” It had
been a tremendous success, having already reached the tenth
edition. It dealt largely, as its title indicated, with his favourite theory,
but it was light and amusing also, full of strong nervous language,
and bristling every here and there, with wit—not strained epigrams,
such as no Society conversationalists ever tossed backward and
forward to each other—but honest, mirth-provoking humour, arising
from the humorous side of Pennell’s own character, which ever had
a good-humoured jest for the oddities and comicalities of everyday
life.
He regarded the volume for a moment as though he were
considering if it were an offering worthy of its destination, and then
he took up a pen and transcribed upon the fly leaf the name of
Harriet Brandt—only her name, nothing more.
“She seems intelligent,” he thought, “and she may like to read it.
Who knows, if there is any fear of the sad destiny which Ralph
prophesies for her, whether I may not be happy enough to turn her
ideas into a worthier and more wholesome direction. With an
independent fortune, how much good might she not accomplish,
amongst those less happily situated than herself! But the other idea
—No, I will not entertain it for a moment! She is too good, too pure,
too beautiful, for so horrible a fate! Poor little girl! Poor, poor little
girl!”
C H A P T E R X V.
The holiday season being now over, and the less fashionable
people returned to town, Harriet Brandt’s curiosity was much excited
by the number of visitors who called at the Red House, but were
never shewn into the drawing-room. As many as a dozen might
arrive in the course of an afternoon and were taken by Miss
Wynward straight upstairs to the room where Madame Gobelli and
Mr. Milliken so often shut themselves up together. These mysterious
visitors were not objects of charity either, but well-dressed men and
women, some of whom came in their own carriages, and all of whom
appeared to be of the higher class of society. The Baroness had left
off going to the factory, also, and stayed at home every day,
apparently with the sole reason of being at hand to receive her
visitors.
Harriet could not understand it at all, and after having watched two
fashionably attired ladies accompanied by a gentleman, ascend the
staircase, to Madame Gobelli’s room, one afternoon, she ventured to
sound Miss Wynward on the subject.
“Who were the ladies who went upstairs just now?” she asked.
“Friends of the Baroness, Miss Brandt!” was the curt reply.
“But why do they not come down to the drawing-room then? What
does Madame Gobelli do with them in that little room upstairs? I was
passing one day just after someone had entered, and I heard the key
turned in the lock. What is all the secrecy about?”
“There is no secrecy on my part, Miss Brandt. You know the
position I hold here. When I have shewn the visitors upstairs,
according to my Lady’s directions, my duty is done!”
“But you must know why they come to see her!”
“I know nothing. If you are curious on the subject, you must ask
the Baroness.”
But Harriet did not like to do that. The Baroness had become less
affectionate to her of late—her fancy was already on the wane—she
no longer called the attention of strangers to her young friend as the
“daughter of the house”—and Harriet felt the change, though she
could scarcely have defined where it exactly lay. She had begun to
feel less at home in her hostess’s presence, and her high spirit
chafed at the alteration in her manner. She realised, as many had
done before her, that she had out-stayed her welcome. But her
curiosity respecting the people who visited Madame Gobelli upstairs
was none the less. She confided it to Bobby—poor Bobby who grew
whiter and more languid ever day—but her playful threat to invade
the sacred precincts and find out what the Baroness and her friends
were engaged upon, was received by the youth with horror. He
trembled as he begged her not to think of such a thing.
“Hally, you mustn’t, indeed you mustn’t! You don’t know—you have
no idea—what might not happen to you, if you offended Mamma by
breaking in upon her privacy. O! don’t, pray don’t! She can be so
terrible at times—I do not know what she might not do or say!”
“My dear Bobby, I was only in fun! I have not the least idea of
doing anything so rude. Only, if you think that I am frightened of your
Mamma or any other woman, you are very much mistaken. It’s all
nonsense! No one person can harm another in this world!”
“O! yes, they can—if they have help,” replied the boy, shaking his
head.
“Help! what help? The help of Mr. Milliken, I suppose! I would
rather fight him than the Baroness any day—but I fear neither of
them.”
“O! Hally, you are wrong,” said the lad, “you must be careful,
indeed you must—for my sake!”
“Why! you silly Bobby, you are actually trembling! However, I
promise you I will do nothing rash! And I shall not be here much
longer now! Your Mamma is getting tired of me, I can see that plainly
enough! She has hardly spoken a word to me for the last two days. I
am going to ask Mr. Pennell, to advise me where to find another
home!”
“No! no!” cried the lad, clinging to her, “you shall not leave us! Mr.
Pennell shall not take you away! I will kill him first!”
He was getting terribly jealous of Anthony Pennell, but Harriet
laughed at his complaints and reproaches as the emanations of a
love-sick schoolboy. She was flattered by his feverish longing for her
society, and his outspoken admiration of her beauty, but she did not
suppose for one moment that Bobby was capable of a lasting, or
dangerous, sentiment.
Mr. Pennell had become a familiar figure at the Red House by this
time. His first visit had been speedily succeeded by another, at which
he had presented Harriet Brandt with the copy of his book—an
attention, which had he known it, flattered her vanity more than any
praises of her beauty could have done. A plain woman likes to be
told that she is good-looking, a handsome one that she is clever.
Harriet Brandt was not unintelligent, on the contrary she had
inherited a very fair amount of brains from her scientific father—but
no one ever seemed to have found it out, until Anthony Pennell
came her way. She was a little tired of being told that she had lovely
eyes, and the most fascinating smile, she knew all that by heart, and
craved for something new. Mr. Pennell had supplied the novelty by
talking to her as if her intellect were on a level with his own—as if
she were perfectly able to understand and sympathise with his
quixotic plans for the alleviation of the woes of all mankind—with his
Arcadian dreams of Liberty, Equality and Fraternity,—and might help
them also, if she chose, not with money only, but by raising her own
voice in the Cause of the People. Harriet had never been treated so
by anyone before, and her ardent, impetuous, passionate nature,
which had a large amount of gratitude in its composition, fixed itself
upon her new friend with a vehemence which neither of them would
find it easy to overcome—or to disentangle themselves from. Her
love (eager to repair the void left by the desertion of Captain Pullen)
had poured itself, by means of looks and sighs and little timid, tender
touches upon Anthony Pennell like a mountain torrent that had burst
its bounds, and he had been responsive—he had opened his arms
to receive the flood, actuated not only by the admiration which he
had conceived for her from the first, but by the intense, yearning pity
which her loneliness and friendlessness had evoked in his generous,
compassionate nature. In fact they were desperately in love with
each other, and Harriet was expecting each time he came, to hear
Anthony Pennell say that he could no longer live without her. And
Bobby looked on from a little distance—and suffered. The next time
that Mr. Pennell came to see her, Harriet confided to him the mystery
of the upstairs room, and asked his opinion as to what it could
possibly mean.
“Perhaps they are people connected with the boot trade,”
suggested Anthony jestingly, “does Madame keep a stock of boots
and shoes up there, do you think?”
“O! no! Mr. Pennell, you must not joke about it! This is something
serious! Poor Bobby grew as white as a sheet when I proposed to
make a raid upon the room some day and discover the mystery, and
said that his mother was a terrible woman, and able to do me great
harm if I offended her!”
“I quite agree with Bobby in his estimate of his Mamma being a
terrible woman,” replied Mr. Pennell, “but it is all nonsense about her
being able to harm you! I should soon see about that!”
“What would you do?” asked Harriet, with downcast eyes.
“What would I not do to save you from anything disagreeable, let
alone anything dangerous. But the Baroness is too fond of you,
surely, to do you any harm!”
Harriet pursed up her lips.
“I am not so sure about her being fond of me, Mr. Pennell! She
used to profess to be, I know, but lately her manner has very much
altered. She will pass half a day without speaking a word to me, and
they have cut off wine and champagne and everything nice from the
dinner table. I declare the meals here are sometimes not fit to eat.
And I believe they grudge me the little I consider worthy my
attention.”
“But why do you stay here, if you fancy you are not welcome?”
asked Pennell, earnestly, “you are not dependent on these people or
their hospitality.”
“But where am I to go?” said the girl, “I know no one in London,
and Miss Wynward says that I am too young to live at an hotel by
myself!”
“Miss Wynward is quite right! You are far too young and too
beautiful. You don’t know what wicked men and women there are in
the world, who would delight in fleecing an innocent lamb like you.
But I can soon find you a home where you could stay in
respectability and comfort, until—until——”
“Until what,” asked Harriet, with apparent ingenuousness, for she
knew well enough what was coming.
They were seated on one of those little couches made expressly
for conversation, where a couple can sit back to back, with their
faces turned to one another. Harriet half raised her slumbrous black
eyes as she put the question, and met the fire in his own. He
stretched out his arms and caught her round the waist.
“Hally! Hally! you know—there is no need for me to tell you! Will
you come home to me, dearest? Don’t ever say that you are
friendless again! Here is your friend and your lover and your devoted
slave for ever! My darling—my beautiful Hally, say you will be my
wife—and make me the very happiest man in all the world!”
She did not shrink from his warm wooing—that was not her nature!
Her eyes waked up and flashed fire, responsive to his own; she let
her head rest on his shoulder, and turned her lips upwards eagerly to
meet his kiss, she cooed her love into his ear, and clasped him
tightly round the neck as if she would never let him go.
“I love you—I love you,” she kept on murmuring, “I have loved you
from the very first!”
“O! Hally, how happy it makes me to hear you say so,” he replied,
“how few women have the honesty and courage to avow their love
as you do. My sweet child of the sun! The women in this cold country
have no idea of the joy that a mutual love like ours has the power to
bestow. We will love each other for ever and ever, my Hally, and
when our bodies are withered by age, our spirits shall still go loving
on.”
He—the man whose whole thoughts hitherto had been so devoted
to the task of ameliorating the condition of his fellow-creatures, that
he had had no time to think of dalliance, succumbed as fully to its
pleasures now, as the girl whose life had simply been a ripening
process for the seed which had burst forth into flower. They were
equally passionate—equally loving—equally unreserved—and they
were soon absorbed in their own feelings, and noticed nothing that
was taking place around them.
But they were not as entirely alone as they imagined. A pale face
full of misery was watching them through one of the panes in the
French windows, gazing at what seemed like his death doom, too
horribly fascinated to tear himself away. Bobby stood there and saw
Hally—his Hally, as he had often fondly called her, without knowing
the meaning of the word—clasped in the arms of this stranger,
pressing her lips to his, and being released with tumbled hair and a
flushed face, only to seek the source of her delight again. At last
Bobby could stand the bitter sight no longer, and with a low moan, he
fled to his own apartment and flung himself, face downward on the
bed. And Anthony Pennell and Harriet Brandt continued to make
love to each other, until the shadows lengthened, and six o’clock was
near at hand.
“I must go now, my darling,” he said at last, “though it is hard to
tear myself away. But I am so happy, Hally, so very, very happy, that I
dare not complain.”
“Why cannot you stay the evening?” she urged.
“I had better not! I have not been asked in the first instance, and if
what you say about the Baroness’s altered demeanour towards
yourself be true, I am afraid I should find it difficult to keep my
temper. But we part for a very short time, my darling! The first thing
to-morrow, I shall see about another home for you, where I can visit
you as freely as I like! And as soon as it can ever be, Hally, we will
be married—is that a promise?”
“A promise, yes! a thousand times over, Anthony! I long for the
time when I shall be your wife!”
“God bless you, my sweet! You have made my future life look all
sunshine! I will write to you as soon as ever I have news and then
you will lose no time in leaving your present home, will you?”
“Not an instant that I can help,” replied Harriet, eagerly; “I am
longing to get away. I feel that I have lost my footing here!”
And with another long embrace, the lovers parted. As soon as
Anthony had left her, Harriet ran up to her room, to cool her feverish
face and change her dress for dinner. She was really and truly fond
of the man she had just promised to marry, and if anything could
have the power to transform her into a thinking and responsible
woman, it would be marriage with Anthony Pennell. She was
immensely proud that so clever and popular a writer should have
chosen her from out the world of women to be his wife, and she
loved him for the excellent qualities he had displayed towards his
fellow men, as well as for the passionate warmth he had shewn for
herself. She was a happier girl than she had ever been in all her life
before, as she stood, flushed and triumphant, in front of her mirror
and saw the beautiful light in her dark eyes, and the luxuriant growth
of her dusky hair, and the carmine of her lips, and loved every charm
she possessed for Anthony’s sake. She felt less vexed even with the
Baroness than she had done, and determined that she would not
break the news of her intended departure from the Red House, that
evening, but try to leave as pleasant an impression behind her as
she could! And she put on the lemon-coloured frock, though Anthony
was not there to see it, from a feeling that since he approved of her,
she must be careful of her appearance for the future, to do justice to
his opinion.
Madame Gobelli appeared to be in a worse temper than usual that
evening. She stumped in to the dining-room and took her seat at
table without vouchsafing a word to Harriet, although she had not
seen her since luncheon time. She found fault with everything that
Miss Wynward did, and telling her that she grew stupider and
stupider each day, ordered her to attend her upstairs after dinner, as
she had some friends coming and needed her assistance. The ex-
governess did not answer at first, and the Baroness sharply
demanded if she had heard her speak.
“Yes! my lady,” she replied, slowly, “but I trust that you will excuse
my attendance, as I have made an engagement for this evening!”
Madame Gobelli boiled over with rage.
“Engagement! What do you mean by making an engagement
without asking my leave first? You can’t keep it! I want you to ’elp me
in something and you’ll ’ave to come!”
“You must forgive me,” repeated Miss Wynward, firmly, “but I
cannot do as you wish!”
Harriet opened her eyes in amazement. Miss Wynward refusing a
request from Madame Gobelli. What would happen next?
The Baroness grew scarlet in the face. She positively trembled
with rage.
“’Old your tongue!” she screamed. “You’ll do as I say, or you leave
my ’ouse.”
“Then I will leave your house!” replied Miss Wynward.
Madame Gobelli was thunderstruck! Where was this insolent
menial, who had actually dared to defy her, going? What friends had
she? What home to go to? She had received no salary from her for
years past, but had accepted board and lodging and cast-off clothes
in return for her services. How could she face the world without
money?
“You go at your peril,” she exclaimed, hoarse with rage, “you know
what will ’appen to you if you try to resist me! I ’ave those that will
’elp me to be revenged on my enemies! You know that those I ’ate,
die! And when I ’ave my knife in a body, I turn it! You ’ad better be
careful, and think twice about what you’re going to do.”
“Your ladyship cannot frighten me any longer,” replied Miss
Wynward, calmly, “I thank God and my friends that I have got over

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