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COMARCA: Canoas

VARA: 3ª Vara Cível – 1º Juizado


PROCESSO Nº: 008/1.06.0000788-8
ESPÉCIE: Usucapião
AUTORA: Gleci Maria Zwir
RÉUS: Herdeiros de José João Majewski e Eda
Costa Majewski
DATA DA SENTENÇA: 28 de novembro de 2007
JUÍZA DE DIREITO: Viviane Souto Sant’Anna
Vistos.

GLECI MARIA ZWIR, devidamente qualificada na inicial,


ajuizou ação de usucapião contra os Herdeiros de JOSÉ JOÃO
MAJEWSKI e de EDA COSTA MAJEWSKI, igualmente qualificados
na exordial.
Sustentou, em síntese, que, há mais de 20 anos, exerce,
de forma mansa e pacífica, sem qualquer interrupção, a posse da
área registrada na matrícula 9774 do Livro 2 do Registro de Imóveis
de Canoas, descrita como:
“Área de terras urbanas, situada na zona urbana de Canoas, no
quarteirão formado pelas Ruas Santa Terezinha, Clemente Pinto,
Monte Castelo e José Bonifácio, localizado na quadra 'M' da Chácara
Barreto, medindo 22m de frente ao sul, na Rua Santa Terezinha, por
50m de extensão de frente ao fundo, onde mede 22,50m da Rua
Clemente Pinto”.

Traz que, em meados de 1979, foi residir com sua família,


marido e dois filhos, no local que foi cedido pelo Sr. José João ao
marido da autora, uma vez que este era funcionário do Sr. José João.
Aduziu, também, que nada foi cobrado a título de aluguel, sendo a
cessão a título gratuito. Acresceu que seu marido já faleceu e lá a
autora ficou residindo com seus filhos, tendo sido interposta ação de
despejo, que já foi julgada extinta.
Afirmou ter preenchido os requisitos necessários para o
usucapião. Postulou a procedência do pedido. Juntou documentos.
Os confinantes foram citados (fls. 58-59).
Os réus Nelson, Paulo, Celso, Sérgio, José Costa e Marcos
também foram citados (fl. 62v.).
As Fazendas Estadual e Federal manifestaram não
possuir interesse no feito (fls. 68 e 79). A Fazenda Municipal aduziu
haver dúvida quanto à descrição da área.
O Ministério Público, com vista, opinou pela extinção do
feito, por impossibilidade jurídica do pedido.

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Veio aos autos contestação (fls. 81-91), aduzindo que não
estão presentes os requisitos necessários ao usucapião, uma vez que
a posse não era animus domini.
Em réplica, a autora argüiu a intempestividade da
contestação, repisando os demais argumentos da inicial.
O Ministério Público reiterou o parecer anterior.
Em audiência, foram ouvidas duas testemunhas, sendo
que, em debates, a autora postulou a procedência do pedido,
enquanto os réus pugnaram pela improcedência. O Ministério
Público, uma vez mais, ratificou o parecer exarado.
Vieram, pois, os autos, conclusos.
Foi o relatório.
Decido.

Inicialmente, examino a preliminar de intempestividade


da contestação.
Não entendo possa ser acolhida.
É que, ao exame detido dos autos, sequer foram citados
todos os herdeiros, pois Gilda e Ana não foram citadas, nem
trouxeram manifestação aos autos, pelo que, contando-se o prazo de
contestação do último mandado juntado, não iniciou sequer a
contagem do prazo, não havendo como se reconhecer
intempestividade da contestação.
Apesar de eventuais irregularidades no feito, que não se
desconhece – o Município alega haver alguma divergência na
descrição da área e não foram citados completamente os herdeiros-
réus -, entendo que possível o julgamento do feito no estado em que
se encontra, uma vez que o exame trata de requisito essencial,
condição da ação, não havendo qualquer prejuízo aos réus.
Passo, pois, ao exame do mérito.
Efetivamente, tenho que com razão o Ministério Público,
quando postulava o julgamento antecipado do feito, antes mesmo de
realização de audiência de instrução, por falta de requisito essencial
ao pedido, verdadeira falta de interesse processual, que pode ser
analisado de ofício e a qualquer tempo no processo.
No caso, a própria autora na inicial refere que ocupava o
local, em razão de seu marido ser empregado do falecido José João,
que, portanto, teria cedido a área em comodato, para ele ocupar
com sua família – a autora e dois filhos.

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Ora, tal situação descaracteriza o animus domini
necessário à aquisição por usucapião, afastando, portanto, a
possibilidade da procedência do pedido.
Desimporta, no caso, se a posse era mansa, pacífica, ou
por mais de vinte anos, uma vez que faltando o requisito da posse
animus domini não há de ser reconhecido o usucapião em favor da
autora.
Tal situação não é negada pela autora no processo e é
corroborada pelo depoimento da testemunha Otto, em audiência,
que bem afirma que o próprio marido da autora dizia que ocupa a
área porque era empregado de José João.
Assim, não se configurando a posse animus domini,
incabível o reconhecimento do usucapião.
Desse modo, há que ser julgado improcedente o pedido.
Isso posto, julgo improcedente o pedido.
Condeno a autora ao pagamento das custas e honorários
advocatícios ao patrono dos réus, que fixo em R$ 800,00, corrigidos
pelo IGP-M FGV desde esta data até o efetivo pagamento, tendo em
vista os critérios de natureza da causa e singeleza do feito. Fica, por
ora, a autora isentada das verbas sucumbenciais, tendo em vista que
lhe foi deferido o benefício da assistência judiciária gratuita.

Publique-se.
Registre-se.
Intimem-se, inclusive o Ministério Público de modo
pessoal.

Canoas, 28 de novembro de 2007.

Viviane Souto Sant’Anna,


Juíza de Direito.

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