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Aulas de Noventa Minutos


Joaquim António Pinto*

“... o jovem não quer mais ser enganado por uma escola, uma instituição obso - alunos, e não o de mero transmissor do velho. O professor cuja actividade é
leta, por professores que não sabem mais como repetir o velho. Eles querem transmitir o velho não tem mais espaço neste mundo que estamos começando a
encontrar gente que com eles procure o novo.” viver”. [Ubiratan D’Ambrosio (1997/a)]. É aqui, que as aulas de noventa minutos,
vão possibilitar que o professor assuma, de uma vez por todas, “Uma das suas
[Ubiratan D’Ambrosio (1997/a)] características, uma das grandes virtudes do professor é ele se expor perante seus
alunos. Se expor quer dizer mostrar as dúvidas que eles têm, as incertezas, e con -
É com grande satisfação que escrevo estas linhas para me congratular com a vidar os alunos a juntos procurarem direcções novas”. [Ubiratan D’Ambrosio
chegada das aulas de noventa minutos ao nosso Sistema Educativo, porque ando (1997/a)]. Ora, a exposição que estas aulas vão “obrigar” o professor pode assus-
há três anos e alguns meses como Professor Acompanhante a “pedir tempo” para tar, no entanto, só aceitando estes desafios é que evoluímos como professores e,
poder dar cabal expressão ao preconizado no actual Programa de Matemática do deixando de lado a “mesmice”, é que poderemos alcançar resultados diferentes
Ensino Secundário. daqueles que até aqui temos conseguido æ uma geração de estudantes com
Hoje as solicitações do meio onde os nossos estudantes estão inseridos são grandes dificuldades de interpretar o conteúdo de um texto e incapazes de
demasiadas e deixam pouco tempo para que estes se preocupem com a Escola; responder a uma pergunta que tenha mais do que cinco palavras, por um lado, e
deste modo, as aulas de noventa minutos, vão possibilitar a melhor motivação por outro, estudantes que respondem sem o mínimo espírito crítico, aceitando,
dos estudantes e o desenvolvimento dentro da sala de aula de algum do trabalho de ânimo leve, todo e qualquer resultado que obtenham por mais disparatado
que antes tinha de ser desenvolvido aos pedaços e em casa. Não quero com isto que este seja.
dizer que este tem de deixar de ser feito, antes pelo contrário, tem sempre que Ora, é importante que “os estudantes possam fazer matemática com autonomia.
complementar o que é feito na aula, mas assim o aluno pode ficar mais motiva- É bem claro que as aulas de noventa minutos significam diversificação de
do para esse trabalho se puder ir mais longe na aula. metodologias e novas relações pedagógicas na sala de aula. As aulas de noventa
Não é minha intenção estar aqui a transcrever o que está escrito no Programa, minutos significam nova organização do espaço aula, não podem reduzir-se a
todos nós já o lemos e relemos, no entanto, acho importante aproveitar este exposições magistrais, exigem actividade aos alunos. Mas não é isso que todos
espaço para, tal como o Professor Ubiratan, salientar que tais aulas vão permitir reclamam quando dizem que, na actual divisão horária das aulas, não podem
fazer melhor Matemática e não servir simplesmente Matemática pronta a propor actividades que os alunos autonomamente desenvolvam?” [Público, 12
“comer”; para se poder enveredar por tal caminho é necessário mais tempo. de Maio de 2000, Três preciosas mudanças que é preciso defender por Arsélio
Todos nós sabemos que cinquenta (quarenta e cinco, quando muito) minutos não Martins, Graziela Fonseca e Jaime Carvalho e Silva].
chegam sequer para dar verdadeiramente início a uma tarefa, quanto mais extrair Por tudo o que aqui foi exposto e porque vivemos num tempo que corre muito
tudo aquilo que pensamos que ela pode proporcionar quando a preparamos. depressa, é que, cada vez mais, temos as novas tecnologias como um aliado que
Porque nós aprendemos não só porque fomos ensinados, mas também porque já entrou nas nossas aulas sem nos termos dado conta disso, e ainda bem, pois
somos o resultado das nossas próprias histórias: “Carregamos nosso passado, para só nos falta capitalizar devidamente todo esse potencial em nosso proveito.
bem ou para mal. Mas a autocrítica permanente permite evitar a satisfação Aproveitando a predisposição e apetência, da generalidade dos alunos, para lidar
ilusória de se crer que é possível ter as soluções para situações novas naquilo que com ela e, assim aprendermos também, vivendo cada vez mais junto do aluno,
já se sabe, no que já se fez, no que já se aprendeu, e que serviu para situações dando-lhe conforto e auto-estima, um dos objectivos preconizados no presente
velhas. Claro que quanto maior nossa experiência, mais elementos temos para Programa. E para fazer isto, nada melhor do que aulas de noventa minutos.
enveredar pelo novo. Mas a mesmice dificilmente nos leva ao novo. Isso é fun - (Continua na pág. 7)
damental em educação”. [Ubiratan D’Ambrosio (1999)]. Donde a nós profes-
sores nos é “reservado o papel de dialogar, de entrar no novo junto com os * Escola Secundária Marques de Castilho, Águeda. E-mail: joaquimpinto@mail.prof2000.pt
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A Avaliação em Trabalho de Grupo


Vladimiro Machado*

Introdução Trabalho de grupo - elaboração de um texto


No Ajustamento do Programa de Matemática (1997) afirma-se: Na primeira tarefa os grupos estabeleceram a sequência gene-
ralização, conjectura e prova. Os dois primeiros aspectos
“O professor não deve reduzir as suas formas de avaliação
foram ultrapassados rapidamente, já na prova manifestaram
aos testes escritos, antes deve diversificar as formas de avali- dificuldades. Para a construção desta cada grupo teve a opor-
Algumas Secções ação de modo a que cerca de metade seja feita usando outros tunidade de consultar os manuais de 7.º, 8.º e 9.º ano.
num Octaedro Regular instrumentos que não testes clássicos.” (p.13). A pesquisa trouxe alguns problemas, nomeadamente tiveram
Em face disto surgiu a necessidade de implementar outros dificuldades em situar os assuntos, o que conduziu a que se
1. No octaedro regular que construíram, instrumentos de avaliação o que relançou algum debate em fornecessem algumas pistas para promover uma procura efi-
considerem a secção [ABCD]. torno da avaliação. Muito naturalmente que para além do caz. Na posse de ‘novos’ conhecimentos os alunos con-
O que é que podem conjecturar acerca conhecimento de outros instrumentos de avaliação importa o frontaram opiniões sobre a prova a apresentar e acabaram por
das secções produzidas no octaedro modo como estes são usados. Centrando-nos neste último elaborar um texto com as conclusões.
por planos paralelos ao plano que contém Na segunda tarefa, após a leitura, procederam às medições
aspecto iremos dar o nosso contributo para esse debate.
a secção [ABCD].
Assim, levamos até à prática um modo de integrar a avaliação que entenderam como necessárias, num octaedro de oito
2. Apresentem uma prova para a
na aprendizagem, e é de referir que rejeitamos assumir a centímetros de aresta que tinham construído em casa. Com os
conjectura feita. (sugestão: consultem os
avaliação e a aprendizagem como dois sistemas separados. dados recolhidos elaboraram um gráfico (em papel quadricu-
manuais de 7.º, 8.º e 9.º).
Contudo tivemos sempre presente que embora integrados, o lado) revelando, em geral, dificuldades em identificar se a
3. Indiquem qual a secção de área máxima
linha que obtinham era ou não uma curva. Por isso o profes-
e de área mínima. nosso objectivo era a aprendizagem e não a avaliação, ou
sor, quer por solicitação dos grupos quer por iniciativa
seja criamos condições para que a avaliação pudesse con-
própria, decidiu apoiar iniciativas que permitissem esclarecer
tribuir para uma melhoria da aprendizagem. a situação. Assim, e depois de confrontarem opiniões,
acabaram por elaborar um gráfico e um texto explicativo.
Um modo de…
Numa turma de 10.º ano, implementou-se uma avaliação em Avaliação descritiva - dos textos
que se privilegiou essencialmente o desenvolvimento do Cada um dos textos foi sujeito a uma avaliação descritiva
raciocínio e da capacidade de comunicar. Para isso elabo- baseada num descritor de avaliação construído para o efeito.
raram-se duas tarefas que foram resolvidas num contexto de Nesta realçou-se os aspectos positivos já alcançados, e indi-
trabalho de grupo. Na primeira tarefa tinha-se como principal cou-se aqueles que deveriam ser sujeitos a uma melhoria ou
objectivo que os alunos ‘viajassem’ desde a generalização alteração; enfatizando-se os aspectos que diziam respeito à
passando pela conjectura até à prova, e na segunda que esta- clareza, à simbologia matemática e em especial ao conteúdo.
belecessem conexões entre os temas de geometria e de Naturalmente que a avaliação assumiu um caracter holístico
funções. em contraposição a uma simples correcção de erros.

Durante sete tempos lectivos (alguns dos quais duplos) os


alunos realizaram consecutivamente as duas tarefas em tra- Trabalho de grupo - preparação de uma apresentação à turma
balho de grupo, e no final apresentaram as conclusões à O texto referente à primeira tarefa foi devolvido com a avalia-
turma. A metodologia usada para cada uma das tarefas com- ção, juntamente com um acetato para registo das conclusões
preendeu quatro fases: (1) trabalho de grupo com elaboração a apresentar à turma. Em face disto os grupos, depois de lerem
de um texto; (2) avaliação descritiva do texto; (3) trabalho de a apreciação feita, discutiram os aspectos a serem melhorados
grupo para a preparação de uma apresentação à turma, com e/ou alterados. De referir que houve um maior envolvimento
elaboração de um acetato; (4) avaliação descritiva do acetato. na actividade matemática, tendo surgido uma nova oportu-
Posteriormente o processo terminou com mais duas fases: (5) nidade para argumentarem e refutarem. Finalmente estabele-
trabalho de grupo para ajustes nos acetatos e apresentação à ceram um acordo sobre o modo de optimizarem em especial
turma; (6) trabalho individual para a elaboração de um o conteúdo matemático. Mas apesar de terem construído uma
prova aceitável para a proporcionalidade dos lados tiveram
relatório.
muitas dificuldades quanto à igualdade dos ângulos. Assim
Trataremos seguidamente em simultâneo cada uma das fases tornou-se necessário dar um esclarecimento para toda a
que corresponde à resolução das tarefas e posteriormente as turma de como se podia comprovar esse facto. Posto isto
duas últimas. elaboraram o acetato para apresentar à turma.

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m Trabalho de Grupo
dimiro Machado*

Quanto à segunda tarefa o processo seguido pelos grupos foi Nota Final
o mesmo terminando com a elaboração do acetato. Em consonância com o que afirmamos na introdução
(o nosso objectivo é a aprendizagem e não a avaliação)
durante a actividade dos grupos apenas se procedeu a uma
Avaliação descritiva - dos acetatos
avaliação informal do trabalho desenvolvido. De facto rejeita-
Para cada um dos acetatos produziu-se uma avaliação des- Das Secções no Octaedro Regular
mos as opções que conduzem uma avaliação que se torne
critiva que agora obedeceu a uma apreciação mais rigorosa ao gráfico
‘asfixiante’em trabalho de grupo, isto é, ao uso de uma panó-
sobre os aspectos da clareza, da simbologia matemática e do plia de instrumentos de avaliação. Uma vez que esse modo
conteúdo. De igual modo esta baseava-se num descritor de de avaliação por um lado afasta o professor do seu papel cen- Meçam a aresta [EB]. Considerem vários
avaliação construído para o efeito. Também aqui se privile- tral de gestor de situações de aprendizagem, e por outro pode pontos nessa aresta e registem, na tabela
giou uma avaliação holística em detrimento de uma mera gerar nos alunos um clima em que a confiança se desvanece. abaixo, a distância desses pontos ao vértice
correcção de erros. Importa realçar que, em especial, a prova E. Em cada caso determinem a área
Assim importa realçar que nestas circunstâncias a avaliação
apresentada nos acetatos estava substancialmente mais ela- da secção obtida na tabela abaixo.
proporcionou aos alunos oportunidades para reflectirem
borada que nos textos. Elaborem um gráfico representando
sobre as suas aprendizagens. Após cada momento de avali-
no eixo das abcissas a medida do lado
ação os alunos tiveram oportunidade de reflectirem ultrapas-
da secção e no eixo das ordenadas a área
Trabalho de grupo - apresentação à turma sando dificuldades e desse modo melhorando a aprendiza-
da secção. Que linha se obtém?
gem. Aliás, a isso se refere uma das alunas nas suas con-
A avaliação dos acetatos foi entregue aos grupos no início dos clusões do relatório:
dois tempos lectivos destinados à apresentação e debate das
conclusões. Assim, numa primeira parte permitiu-se aos gru- “Agradou-me este trabalho pois todo o grupo sugeriu hipóte-
pos que voltassem a reflectir sobre a actividade matemática, ses diferentes, o que gerou um ‘debate’ entre todos os ele-
tendo alguns deles alterado parcialmente aspectos dos mentos.” (Ana).
acetatos. Para a apresentação escolheram-se dois grupos para e mais à frente escreve:
cada uma das tarefas, pois repetições nada aportariam de
“Achei interessante tudo em geral mas, principalmente, as
novo para a aprendizagem. Os grupos escolhidos organi-
dificuldades pois é sempre muito difícil iniciar-se uma tarefa.”
zaram-se livremente para a apresentação à turma. Cada um
(Ana).
dispôs de cerca de quinze minutos para a apresentação, a que
se seguiu um debate com resto da turma, quer para esclare- Na opinião desta aluna fica clara a importância que teve a
cimento de algum ponto menos claro quer para contestar afir- metodologia implementada na ultrapassagem das dificul-
mações produzidas. Estes debates permitiram que os alunos dades.
abordassem conceitos como a razão de semelhança entre Um outro aluno coloca um enfoque no relatório ao afirmar:
figuras (no que se refere ao perímetro e à área) e propor-
“Quanto ao relatório, penso que cumpriu aquilo que con-
cionalidade directa e inversa. Tendo o professor durante os
debates assumido o papel de moderador. sidero o seu principal objectivo, ou seja, uma apreensão faci- Distância
ao Vértice E
Medida do lado
da secção
Área
da secção
litada dos conteúdos programáticos em questão.” (Alberto).
Nesta opinião é notório que assume o relatório como o cul-
Trabalho individual - o relatório minar de um processo que lhe permitiu uma aprendizagem
No final do debate estabeleceu-se um prazo de quinze dias mais conseguida.
para a elaboração de um relatório individual. Os alunos Em síntese a avaliação que se produziu neste contexto criou
foram informados que nele deveriam descrever a actividade condições propícias tanto para a clarificação, como para o
matemática produzida no grupo, as conclusões a que aprofundamento dos conceitos matemáticos envolvidos, quer
chegaram e aprofundarem os assuntos tratados segundo algu- em grupo quer individualmente. Aqui a avaliação constituiu
ma vertente. um ponto de apoio para a aprendizagem permitindo que os
Com base num descritor de avaliação produziu-se uma ava- alunos pudessem ir tanto além quanto lhes era possível.
liação qualitativa e descritiva dos relatórios. Nestes os alunos,
de um modo geral, apresentaram de um modo correcto o
essencial sobre os assuntos tratados nas aulas e, cada um
segundo as suas possibilidades teve oportunidade para apro-
fundar os assuntos em alguma direcção. * Escola Secundária de Valongo.

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História no ensino da Matemática: O caso da T


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História na geração do conhecimento matemático as informações geradas pela história da matemática actividades lúdicas e heurísticas, a de desmistifi-
O ensino da matemática é a preocupação básica dos poderão ser utilizadas no ensino de matemática? cação, para mostrar a matemática acessível às activi-
estudos e pesquisas em Educação Matemática nos A investigação em história da matemática actual- dades educativas do homem; a de formalização de
diversos centros académicos de todo o mundo. mente pode ser considerada uma alternativa conceitos, a de dialéctica, a de unificação de vários
Muitos desses estudos apontam para vários fracassos metodológica para o ensino de matemática escolar e campos da matemática, a de conscientização episte-
do referido ensino e sugerem que novas estratégias baseia-se em pressupostos que defendem o uso mológica e de significação, a de cultura e a de epis-
devem ser utilizadas para melhorar a qualidade dessas informações através de actividades de apren- temologia. Além disso seu trabalho culmina com a
desse ensino. Dentre as estratégias alternativas de dizagem para o aluno. Desse modo podemos buscar apresentação de um estudo histórico-pedagógico-
ensino existentes, encontramos na história um bom na história fatos, descobertas e revoluções que nos -temático voltado para o ensino-aprendizagem dos
aliado que pode reforçar nossa tentativa constante de mostrem o carácter criativo do homem quando se números irracionais, material este bastante útil para o
solução das dificuldades encontradas no ensino da dispõe a elaborar e disseminar a ciência matemática trabalho dos professores que atuam no ensino
Matemática em qualquer nível de ensino. no seu meio sócio-cultural. Quando este aspecto da secundário.
história é incorporado no ensino da matemática, o
Falar de história nos leva a pensar em narração de
aluno tem mais condições de construir a matemática
fatos e acontecimentos ocorridos na evolução das Aspectos Históricos da Trigonometria
como um conjunto de ideias que são não somente
sociedades ou, ainda, no grupo de acontecimentos O desenvolvimento histórico e cultural da
interrelacionadas, mas também relacionadas a outros
adquiridos através da tradição oral e/ou mediante humanidade é marcado por estudos e investigações
aspectos da conjuntura que as deu origem. Assim,
documentos ligados ao passado da humanidade. nos quais o conhecimento matemático é um deles.
será facilitada tanto a sua compreensão da própria
Não podemos, contudo, perder a certeza de que Tal saber foi construído em uma ordem diferenciada
matemática quanto as suas aplicações.
somos hoje o resultado das revoluções mentais, so- ou quase inversa à que é seguida nas nossa escolas.
ciais, físicas e climáticas do ontem. O ontem é o De acordo com um estudo realizado por MENDES &
A Trigonometria, por exemplo, desenvolveu-se a par-
ocorrido, às vezes, documentado, ou mesmo trans- FOSSA(1996) 3, procurando verificar as concepções,
tir das necessidades existentes nos estudos de
mitido oralmente e que assim se transforma em atitudes e experiências dos professores de
astronomia, navegação e agrimensura, que intera-
história. Todavia ficamos a reflectir acerca de algu- Matemática com relação ao uso da história em sala
de aula, detectou-se que os professores investigados gindo com as teorias matemáticas já existentes,
mas questões do tipo: qual a relação da matemática puderam ser aplicadas aos problemas práticos evi-
com a história? apontam para a necessidade de um aprofundamento
acerca do conteúdo histórico de alguns tópicos denciados em tais atividades. Suas raízes perderam-
A matemática é considerada como um fragmento dos matemáticos como a trigonometria, justificando ser -se na pré-história pois os tipos de registros da época
saberes contidos no aglomerado de informações do não resistiram as ações do tempo, embora haja al-
possível e necessária a utilização do mesmo durante
arcabouço cultural da humanidade que ao longo do as suas atividades de ensino. Desse modo buscamos guma identificação inicial com as medições de som-
tempo adquiriu o valor estético de ciência. Diante desenvolver um estudo que procurasse apresentar a bras ao longo das horas do dia e das estações do ano,
desse fato é possível admitirmos que o processo de eles um aprofundamento teórico acerca do conteúdo entre outros fatores que evidenciaram o caráter
construção desse aglomerado cultural perpassa uma histórico de trigonometria para que se torne possível empírico dessa produção de saber. Podemos, entre-
relação estreita entre a matemática que hoje temos utilizá-lo como alternativa de aprendizagem de con- tanto, salientar que o conhecimento geométrico exis-
ou fazemos e o seu desenvolvimento histórico. ceitos trigonométricos básicos no ensino secundário. tente, nesse período, teve importância fundamental
Todavia é necessário compreendermos qual a utili- no desenvolvimento das primeiras teorias ligadas à
dade da história para a matemática. astronomia e que mais tarde originaram a trigonome-
Acreditamos que a conexão entre a matemática e sua História no ensino de matemática: tria. Porém, somente a partir do século XIII é que a
história se apresenta como um forte argumento para Relações metodológicas astronomia foi considerada diferente da Trigono-
a explicação dos porquês matemáticos, para a busca A busca de estabelecer possíveis relações metria, quando iniciou-se uma interação dela com a
de demonstração de teoremas e propriedades metodológicas entre a história da matemática e o análise numérica e geometria, além dos aspectos
matemáticas, que possivelmente levou e ainda hoje ensino desta disciplina, tem-se apresentado cada vez algébricos que só foram introduzidos por volta do
leva os matemáticos a se valerem das informações mais presente em vários estudos realizados actual- século XVI.
históricas para obter subsídios necessários a solução mente por um número cada vez crescente de edu- A criatividade de se fazer matemática como uma
de enigmas que respondam questões abertas apon- cadores matemáticos. Com relação ao uso da história atividade sócio cultural está nos fatos históricos,
tadas pelos problemas da sociedade. Tais questões como recurso de ensino de matemática, há, na lite- descobertas e revoluções que envolvem a construção
posteriormente serão respondidas e transformar-se- ratura referente a esse tema, um estudo exaustivo, da Trigonometria visto que a fato histórico marcante
-ão em conhecimento matemático formal. Essas realizado por MIGUEL (1993), intitulado “Três no desenvolvimento dessa parte da Matemática diz
questões respondidas (conhecimento matemático sis- Estudos sobre História e Educação Matemática”, no respeito à mudança efetuada entre o estudo da corda
tematizado) são consideradas questões abertas para qual ele caracteriza diversas fontes de utilização há de um arco de circunferência para o estudo da
os estudantes, no momento em que eles necessitam história da matemática, dentre as quais destacamos a metade dessa corda até a conceituação de seno. Isso
compreendê-las para prosseguir em seu estudos na de motivação da aprendizagem, a de selecção de ocorreu em virtude da conveniência operacional
escola. Entretanto nos vem uma nova questão: como objectivos de ensino, a de recreação através de percebida pelos hindus e árabes para a construção

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emática: O caso da Trigonometria 1

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das tábuas de cordas úteis à sua astronomia. Desse Para que se efetive um ensino-aprendizagem signi- tos importantes de uma atividades de ensino de
modo fica claro que a matemática não é rígida mas ficativo, propomos o uso da história através de ativi- matemática.
experimental com relação as versões diferentes de dades centradas na aprendizagem por descoberta
um conceito. A revolução surge no momento em que pois o material histórico servirá de referencial para a
o trigonometria se desvincula da astronomia, criando elaboração e testagem das atividades de ensino de Considerações Finais
seu espaço próprio como um tópico da matemática, trigonometria. Essa forma de abordagem de ensino A utilização das actividades históricas no ensino de
se desligando de sua origem histórica e ganhando pressupõe uma colaboração mútua entre professor e matemática é um empreendimento pedagógico que
vida própria, oportunizando assim, a realização de alunos durante o ato de construção do saber pois a pode solucionar alguns problemas detectados pelos
variadas aplicações inesperadas nos diversos campos característica essencial desse modo de encaminhar as professores durante a sua prática escolar, pois é
do conhecimento. A descoberta marcante diz atividades de ensino está no fato de que os tópicos a comum surgirem questionamentos dos alunos acerca
respeito a percepção de Euler com relação a serem aprendidos estão por ser (re)descobertos pelo da evolução histórica desse tópico matemático bem
utilização da Trigonometria na apresentação das próprio aluno durante o processo de busca que é con- como das causas e importância de sua construção.
funções complexas, o que novamente mostra o duzido pelo professor até que ele seja incorporado à Sabemos, entretanto que fatos como esses só poderão
desenvolvimento e a inter-relação de idéias aparente- estrutura cognitiva do aprendiz. Além disso esse constituir-se num programa efectivo de ensino se
mente distintas e que convergiram na construção de modo de atividade conduz o aprendiz através de houver um compromisso assumido por todos os ele-
um tópico matemático organizado a partir da apli- experiências semelhantes as etapas vivenciadas pelos mentos envolvidos no processo - professores, estu-
cação da trigonometria. matemáticos do passado e por isso o material histó- dantes, administradores e supervisores escolares – de
rico torna-se imprescindível para o desenvolvimento modo que possam desencadear na escola uma valo-
desse tipo de ação docente. rização do “fazer para aprender” que possa levar o
Actividades históricas: Construção e motivação para professor e os estudantes a um crescimento científico
a matemática escolar Outro ponto a considerar durante essa proposta de
e cultural provocados pela manipulação do material
ensino de trigonometria, diz respeito ao que
O ensino de matemática baseado em atividades pres- histórico, de uma forma criativa e produtiva, caso
Dockweiller chama de “modelo em desenvolvi-
supõe a aprendizagem como uma construção cons- contrário transformar-se-ão em novas tentativas
tante das noções matemáticas a partir da experimen- mento”, no qual procura enfatizar o uso desse tipo
pedagógicas inaplicáveis a realidade educacional de
tação, discussão posterior dos resultados obtidos e de atividade centrado em três pontos importantes
nossa comunidade.
elaboração final dos conceitos em construção. Cabe, na construção do conhecimento matemático:
1) A experiência física e visual vivenciada através da O uso de atividades, proposto aqui, se dispõe princi-
porém, ao professor preocupar-se com a elaboração palmente a auxiliar a construção das noções básicas
das atividades e com as orientações dadas aos estu- manipulação e experimentação; 2) A verbalização
ocorrida através da comunicação oral dos fatos de trigonometria a partir de sua contextualização
dantes durante a realização das mesmas pois isso histórica e isso não é suficiente para que o aluno
poderá ser decisivo no processo de aprendizagem. experimentados e compreendidos pelo aprendiz e
3) A simbolização ou abstração evidenciada pela desempenhe com total segurança, suas atividades de
Essa abordagem de ensino prevê a experiência direta resolução de problemas relacionados com a apli-
do aprendiz, com situações reais vivenciadas onde a representação dos resultados obtidos durante a reali-
zação da atividade proposta pelo professor. Esses cação desses tópicos, cabendo para isso um exercí-
abordagem instrucional é centrada no aluno e em cio maior de atividades voltadas à fixação da apren-
seus interesses expontâneos. pontos se apresentam como um processo contínuo
que gera consequentemente a construção de con- dizagem ou à utilização de outro tipo de atividade
O nosso trabalho tem uma grande preocupação com ceitos matemáticos, o desenvolvimento de habili- que desenvolva o conteúdo programático sugerido
o ato cotidiano de ensinar-aprender vivenciado por dades e culmina com a capacidade de realizar pela escola. Cabe ao professor buscar outras alterna-
professores e alunos, logo propõe o uso da história aplicações desse conceitos na solução de situações tivas que possam superar as possíveis dificuldades
através da elaboração e execução de atividades – problemas que possam surgir. que venham surgir durante seu trabalho em sala de
voltadas à construção de noções básicas de aula. Para isso sugerimos um melhor manuseio do
trigonometria pois somente a partir daí pode-se con- Uma atividade que pode mostrar como esses pontos livro didático ou à utilização de atividades orientadas
tinuar a busca da compreensão das propriedades, são abordados diz respeito à medição de altura de voltadas à pesquisa ou resolução de problemas que
teoremas e aplicações da trigonometria na solução objetos sem a utilização de sombras, cujos objetivos envolvam ou não aspectos históricos, pois o impor-
de problemas que exijam do aluno, algum conheci- são; relacionar ângulos e lados de dois ou mais triân- tante é a construção das idéias iniciais através das
mento desse assunto. Para isso o professor deve gulos retângulos semelhante, visando determinar a informações históricas.
adoptar a conduta de orientador das atividades em razão entre os lados desses triângulos através dos
que o aluno construa seu conhecimento partindo do processos de medição desses objetos. Essa atividade 1
Artigo baseado na conferência apresentada no Departamento de
suscita fatos históricos ligados as experiências de matemática da Universidade de Aveiro em 26/10/2000.
próprio raciocínio e conhecimentos históricos, numa 2
Professor do Departamento de Matemática da Universidade do Estado
metodologia que priorize as experiências teóricas ou Tales e ao conhecimento sobre a construção de do Pará – Brasil. Doutorando em Educação pelo PPGEd/UFRN – Natal
práticas conduzidas pelos alunos e orientadas pelo tábuas trigonométricas realizadas na antigüidade, – Brasil.
3
Iran Abreu Mendes & John A. Fossa. "Conceptions and Attitudes of
professor a fim de formular conceitos ou pro- através da determinação da tangente de um ângulo Mathematics Teachers Towards the History of Matematics as a
priedades e interpretar essas formulações visando agudo. A discussão dos dados conduz os estudantes a Pedagogical Device." História e Educação Matemática. Vol. II.
Portugal/Braga: 1996.
aplicá-las na solução de problemas práticos que uma aprendizagem significativa através das etapas 4
Clarence J. Dockweiller. "Children’s Attainment of Mathematical
assim o exijam. sugeridas por Dockweiller quando apresenta os pon- Concepts: A Model Under Development." (mimeog., 1996).

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O novo programa pode ser dado em aulas


de 50 minutos?

Dificilmente. O tempo de trabalho


em contínuo que uma aula de 90 minutos
Um trabalho sobre um problema de optim
efectivos proporciona é o ideal para
que, tal como o programa preconiza:
- os estudantes sejam encorajados, Antóno Pereira Rosa*
enquanto exploram e resolvem situações,
a dar significado aos números, variáveis,
expressões, equações e propriedades numa 1. Introdução de vista do utilizador (processamento de texto, folha de cál-
perspectiva de relacionar, aprofundar e
integrar as novas aprendizagens com Nos programas actualmente em vigor no Ensino Secundário, culo, Internet…). No fim do segundo período, foi-lhes
as anteriores; recomenda-se o uso de instrumentos de avaliação diversifica- entregue o trabalho que a seguir se apresenta, a fazer em gru-
- se dê ênfase à resolução de problemas, dos, “em particular as redacções matemáticas (sob a forma pos de 3 ou 4 elementos e a entregar no prazo de um mês e
à realização de pequenas investigações, meio. Foi acordado que, na avaliação, o trabalho teria peso
à escrita e à comunicação oral, à discussão
de resolução de problemas, demonstrações,composições /
/ reflexões, projectos, relatórios, notas e reflexões históricas, semelhante ao de um teste escrito. O trabalho não foi realiza-
e ao trabalho de grupo,
- se consigam integrar de forma eficaz etc)….” (veja-se [PM], pág. 13). Trata-se de uma tarefa difícil, do nas aulas, mas combinou-se uma hora semanal para tirar
as novas tecnologias no trabalho, para sobretudo a nível de 12.º ano, já que o tempo disponível fre- dúvidas e discutir o trabalho já realizado, que foi dada no
desenvolver a compreensão de conceitos, quentemente mal chega para cumprir o programa (e, quantas Laboratório de Matemática existente na Escola.
o poder e a utilidade das aprendizagens
matemáticas ,analisar modelos
vezes, completar o de anos anteriores…). Este artigo procura
matemáticos, explorar padrões e questões dar um exemplo de uma actividade deste tipo, indicando
3. O trabalho
relevantes, fazer e defender conjecturas também como se procedeu para obviar à falta de tempo.
(que deverão depois ser provadas ), Na escolha do trabalho, procurou-se apresentar um problema
- se possa promover uma compreensão não trivial (de entre todos os quadriláteros cujos lados são
efectiva dos materiais pedagógicos 2. Aturma conhecidos, determinar o que tem a maior área), e que fosse
utilizados na aula, desenvolvendo formas
de fazer e pensar a matemática, Este trabalho foi experimentado numa turma de 12.º ano do resolúvel por métodos elementares. Além disso, pretendia-se
incentivando o pensamento crítico, 1.º agrupamento, com Física e em que a maioria dos alunos utilizar a tecnologia gráfica disponível para tentar remediar as
- os estudantes possam trabalhar e tinha já concluído as disciplinas de Técnicas Laboratoriais de dificuldades causadas pela falta de conhecimentos dos
comunicar com colegas e com o professor Física I e II (onde tinham dado a fórmula de Carnot) e alunos. Para auxiliar a resolução do problema, foram incluí-
para promover uma aprendizagem
Introdução às Tecnologias da Informação I. Dominavam bem das no trabalho uma série de perguntas “preparatórias”, fun-
participada, integrada, real, capaz de levar
a adquirir os conhecimentos para a vida e as calculadoras gráficas CASIO 9850 ou TI 83 e, de um modo cionando como lemas do resultado principal. Apresenta-se a
para quem prosseguir estudos. geral, tinham bons conhecimentos de Informática do ponto seguir o enunciado.

Trabalho de Matemática
12.º ano

O objectivo deste trabalho é estudar por meios elementares 3. Prove que a área do triângulo [ABC]
um problema de optimização sofisticado:

a × b × sen (α)
é dada por S = .
De entre todos os quadriláteros convexos de lados a, b, c e é dada por 2 α
d (dados), construir o que tem maior área. • •

e analisar algumas questões geométricas relacionadas. Obtém-se assim uma fórmula que permite calcular a área de
um triângulo dados dois lados e o ângulo entre eles.
Consideraremos apenas quadriláteros convexos (dados dois
4. Dado o quadrilátero [ABCD], mostre que a sua área é dada
pontos do quadrilátero, o segmento que os une está contido
no quadrilátero). 1
a × b × sen θ + c × d × sen (φ))
por S = 2 (a × b × sen θ + c × d × sen (φ)
por S =
( )
1. Desenhe um quadrilátero de lados a = 4, b = 5 , c = 6 e

d = 7 (medidas em centímetros). Mostre que a solução não é
única. θ

2. Seria possível suceder com triângulos um fenómeno aná- • •


φ
logo ao da alínea anterior ?
Justifique. •

Inf or Ma t
6
Informat 7/Paginação 18/4/01 8:05 Página 7

São desejáveis as aulas de 90 minutos


para a disciplina de Matemática?

Não só são desejáveis como são


necessárias!

um problema de optimização Todos reconhecemos que ser-se


matematicamente competente não
implica possuir unicamente alguns
conhecimentos mas também a
capacidade de identificar, mobilizar e
aplicar esses conhecimentos
óno Pereira Rosa* na resolução de um problema.
Capacidades de resolver problemas,
necessidade de possuir espírito
investigativo e curiosidade científica
5. Relativamente ao mesmo quadrilátero, prove que a dia- 12. Prove que de todos os rectângulos de perímetro P, o são essenciais hoje.
gonal k verifica as igualdades k2 = a2 + b2 – 2ab cos (θ) e quadrado de lado P/4 é o que tem área máxima. Conhecimentos, capacidades e atitudes
k2 = c2 + d2 – 2 cd cos (φ). 13. Um quadrilátero diz-se cíclico se for possível inscrevê-lo são inseparáveis no processo de
aprendizagem.
Sugestão: Pense no que aprendeu em Técnicas Laboratoriais numa circunferência. Justifique que os ângulos opostos de um Já Sebastião e Silva defendia que
de Física II. quadrilátero cíclico são suplementares. Que pode concluir “O professor deve abandonar, tanto
quanto à relação entre quadriláteros cíclicos e quadriláteros quanto possível, o método expositivo
6. Conclua que: tradicional, em que o papel dos alunos é
de área máxima?
quase cem por cento passivo, e procurar,
 a2 + b 2 − c2 − d 2 − 2abcos(θ) pelo contrário, seguir o método activo,
cos(φ) = estabelecendo diálogo com os alunos e
 −2cd 4. Reacções dos alunos
estimulando a imaginação destes, de
 2
 sen(φ) = 1−  a + b − c − d − 2abcos(θ) 
2 2 2 2 De um modo geral, os alunos consideraram o trabalho modo a conduzi-los, sempre que possível
   interessante, mas bastante difícil, sobretudo as questões 2 e à “redescoberta” e mais adiante ainda,
  −2cd  cabe ao professor ”estabelecer, sempre
13, reflectindo a fraca preparação em Geometria que é dada
que possível as conexões da matemática
pelo actual ensino pré-universitário. As versões finais dos com outros domínios do pensamento...”.
7. Considerando agora a = 4, b = 5, c = 6 e d = 7, mostre relatórios, que foram sendo melhorados e completados ao Mas digamos de forma clara que esta sua
que a área S do quadrilátero é dada, em função de θ, por longo das várias sessões semanais, estavam bastante boas. Foi proposta nunca teve condições cabais
particularmente interessante a reacção à questão 8; depois de para ir “para o terreno” (a não ser em
determinarem o máximo usando a calculadora gráfica, os casos excepcionais) e, portanto, a
S(θ) = 10sen(θ) + 2 80 − 55cos(θ) − 25cos 2 (θ) . alunos quiseram fazer o gráfico em computador, pois con- proclamada ausência de conhecimentos
matemáticos dos alunos no início dos
cluiram que a opção de usar o Graphlink ou o FX-INTERFACE cursos superiores não pode ainda ser
8. Recorrendo a uma calculadora gráfica ou a um computador, era pouco satisfatória. Assim, foram-lhes apresentados os pro- atribuída nem ao uso da tecnologia, nem
trace o gráfico da função S e determine os valores de θ e φ por gramas DERIVE e Graphmática for Windows, que foram pos- a uma nova forma de trabalho na sala de
forma que a área seja máxima. Desenhe o quadrilátero teriormente utilizados para o traçado do gráfico. Todo este aula, nem a uma nova visão do papel do
trabalho foi desenvolvido no âmbito do Projecto “Laboratório professor (muito pelo contrário!).
correspondente.
É pois altura de abordar o conhecimento
de Matemática”, integrado no Projecto Educativo de Escola
9. Calcule um valor aproximado de θ + φ. Que pode conjec- na sala de aula de uma nova forma sem
existente no ano lectivo de 98/99. fingir que se faz o que não se faz, só
turar quanto ao valor exacto?
porque é recomendado.
10.Admitindo que θ + φ = π para o quadrilátero de área máx- O jovem não deve ser visto como um
ima, mostre que de todos os losangos de perímetro P, aquele Referências recipiente que armazena informação nem
que tem a área máxima é o quadrado de lado P/4. o professor como o transmissor.
[PM] Equipa Técnica (1997), Matemática - Programas, Departamento do
O professor deve passar a ser o regulador,
11. Seria possível provar usando o método da alínea anterior, Ensino Secundário. o dinamizador da aprendizagem.
que de todos os rectângulos de perímetro P, o quadrado de [Sp] Spiegel, M. R. (1971), Cálculo Avançado, Editora Mc Graw-Hill do Os estudantes devem utilizar todas as
ferramentas disponíveis (o papel e lápis,
lado P/4 é o que tem área máxima? Porquê? Brasil.
bem como a calculadora gráfica e os
computadores, os sensores, ...) para

Aulas de Noventa Minutos construírem o seu conhecimento de forma


activa.
É urgente que os estudantes resolvendo
(Continuação da pág. 1) velmente” o actual programa, pois eis que aí está, a quinta problemas, fazendo pequenas
Para terminar falemos de aritmética: hoje temos quatro aulas hora com meia hora de “bónus”, para todos! investigações, liguem as novas
aprendizagens às já adquiridas num
de cinquenta (quarenta e cinco) minutos o que equivale em Referências processo gradual de compreensão e
termos semanais a duzentos (cento e oitenta) minutos. Ubiratan D’Ambrosio (1997/a). A era da Consciência. São Paulo: Editora aprofundamento.
Passaremos a ter três aulas de noventa (oitenta e cinco) minu- Fundação Peirópolis. Apostemos então num envolvimento mais
responsável dos alunos na sua
tos, o que equivale em termos semanais a duzentos e setenta Ubiratan D’Ambrosio (1997/b). Transdisciplinaridade. São Paulo: Editora aprendizagem e os 90 minutos são
(duzentos e cinquenta e cinco) minutos, ou seja, se a duzen- Palas Athena.
essenciais para tal.
tos e cinquenta e cinco subtrairmos cento e oitenta obtemos Ubiratan D’Ambrosio (1999). Educação para uma sociedade em transição.
um ganho real de setenta e cinco minutos; mesmo que fossem Colecção Papirus Educação. Campinas, SP: Papirus
cinco aulas de cinquenta (quarenta e cinco) minutos apenas Revista Noesis 55, Julho/Setembro (2000). Lisboa: Instituto de Inovação
Educacional
teríamos duzentos e cinquenta (duzentos e vinte e cinco)
Jornal Público, Três preciosas mudanças que é preciso defender, Arsélio
minutos semanais! A maioria dos professores acompanhados Martins, Graziela Fonseca e Jaime Carvalho e Silva, Sexta-feira, 12 de Maio
reivindicava uma quinta hora para poder cumprir “conforta- de 2000.

In for M at
7
Informat 7/Paginação 18/4/01 8:05 Página 8

A raiz quadrada de 2 não é um número racional


Suzana Metello de Nápoles 1

FICHA TÉCNICA Os Pitagóricos acreditavam que tudo no universo estava rela- A demonstração de Tom Apostol
cionado com números inteiros ou razões de números inteiros. O número √ 2 é a medida da hipotenusa de um triângulo rec-
Editor: Segundo a lenda, ao descobrirem que a diagonal de um tângulo isósceles com catetos iguais a 1.
Departamento do Ensino Secundário [DES]
quadrado de lado 1 não era uma razão entre dois inteiros (em
Director: Domingos Fernandes
linguagem actual, que a raiz quadrada de 2 é um número irra- Supondo que √ 2 é racional, tome-se o menor número inteiro
Coordenação: Maria do Carmo Belchior cional) consideraram quebrada a harmonia do universo. p
e Isabel Fevereiro q tal que q √ 2 é um número inteiro p (isto é √ 2 = q em que
Convencidos de que os deuses os castigariam caso eles divul-
Design Gráfico: DELTAGRAPHOS, Design e
gassem aquilo que lhes parecia uma imperfeição divina, ten- p
q é uma fracção irredutível).
Publicidade, Lda.
Fotolito impressão e acabamento:
taram ocultar a sua descoberta.
Gráfi-Cacém, Lda. Este facto teve grandes repercussões na história da ciência que
Periodicidade: Trimestral se fizeram sentir até finais do século XIX. De cada vez que as
Tiragem: 4 000 exemplares necessidades do cálculo levavam a introduzir novos entes
ISSN: 0874-0844 numéricos gerava-se uma enorme desconfiança à sua volta, o
Depósito Legal: 143 753/99 que levava a atribuir-lhes designações curiosas. Assim, os
Lisboa 1998 números irracionais eram designados por números inex -
Distribuição gratuita primíveis e por números incalculáveis. Durante muitos sécu-
Toda a correspondência deve ser enviada para Então, aplicando o factor de escala q ao triângulo anterior,
InforMAT
los os números reais (fraccionários e irracionais) foram apenas
Av. 24 de Julho, 138, 5.º concebidos como medidas de grandezas e só nos finais do obteríamos um novo triângulo rectângulo isósceles com
1391 Lisboa século XIX se construiu uma teoria dos números reais 2 inde- hipotenusa igual a p e catetos iguais a q. Atendendo a que
Fax: 393 81 08
pendente da geometria. q é o menor número inteiro tal que q√ 2 é um número inteiro,
maria.belchior@des.min-edu.pt
este triângulo seria o menor triângulo rectângulo isósceles
isabel.fevereiro@des.min-edu.pt Apresentam-se em seguida duas demonstrações da irracional-
com lados inteiros. Vejamos como a partir deste se pode
idade da raiz quadrada de 2. A primeira é bem conhecida e foi
construir um mais pequeno com a mesma propriedade, o que
sugerida por Aristóteles (384-322 a.C.) como exemplo de uma
demonstração por redução ao absurdo 3. A segunda, da auto- é absurdo.
ria do conhecido matemático Tom Apostol 4, é também uma Com centro A e raio q tracemos um arco de circunferência.
demonstração por redução ao absurdo, mas que recorre ape- No ponto D em que este arco corta a hipotenusa tracemos
As opiniões expressas nos textos apresentados nas a argumentos geométricos. A sua notável simplicidade
nesta publicação são da responsabilidade dos
uma perpendicular a esta e seja E o ponto onde ela corta o
autores e não reflectem necessariamente a opi- permite adaptá-la como actividade para a sala de aula, por cateto BC.
nião do Departamento do Ensino Secundário exemplo, quando se estudam questões envolvendo seme- Os triângulos ABC e BDE são
ou do Ministério da Educação.
lhança de triângulos. É esse o desafio que se deixa ao leitor. semelhantes (porque têm
Estas duas demonstrações estão separadas por… 24 séculos! dois ângulos iguais). Assim,
BDE é um triângulo rectân-
gulo isósceles com catetos
A demonstração de Aristóteles inteiros (iguais a p-q). Como
Por absurdo, suponhamos que existem dois números naturais EC = DE (porque os triângu-
p los rectângulos ADE e ACE
p e q, primos entre si, tais que x = (isto é, suponhamos a são iguais, uma vez que têm
q a mesma hipotenusa e os
p
fracção escrita na forma irredutível) e x2 = 2. Então, catetos AD e AC são iguais) a
q medida da sua hipotenusa,
 p
2 igual a q-(p-q), também é um
 q  = 2 logo p é um número par (porque p = 2q ) e, inteiro, o que é absurdo.
2 2 2

  1
Projecto Matemática em Acção - Centro de Matemática e Aplicações
Fundamentais da Universidade de Lisboa (CMAF-UL).
consequentemente, p também é par (porque se fosse ímpar o 2
Principalmente por obra dos matemáticos alemães Dedekind e Cantor.
3
Struik D., História Concisa das Matemáticas, Gradiva, 1989.
seu quadrado seria ímpar). Se p um é número par, existe um 4
American Math. Monthly, Novembro de 2000, p. 841-842.
natural k tal que p = 2k e assim 4k2 = 2q2 ⇔ q2 = 2k2. Então Esta demonstração é objecto de uma animação no vídeo da autoria de Tom Apostol
q seria par (porque q2 é par), o que é absurdo visto que p e q “Early History of Mathematics”, a ser brevemente traduzido em português pelo
Projecto Matemática em Acção em colaboração com a Sociedade Portuguesa de
são primos entre si. Matemática.

Inf o r Ma t
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