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Teoria de Relações Internacionais I

Prof. Guilherme Casarões


 Norman Angell (A Grande Ilusão – 1910)

 “Defesa psicológica da paz”: a guerra não


representa um bom caminho para a
economia do Estado e, assim, não se
justifica. Quando os Estados se derem conta
disso, abandonarão o recurso à força, que é
economicamente ineficiente.
 Elihu Root: A Requisite for the Success of Popular
Diplomacy (1922)
 “When foreign affairs were ruled by autocracies or
oligarchies, the danger of war was in sinister purpose.
When foreign affairs are ruled by democracies, the
danger of war will be in mistaken beliefs” (p. 482)
 Para ele, democracias estimulam a chamada
“diplomacia popular” e criam incentivos para a
educação em assuntos internacionais.
 A diplomacia popular geraria estímulos para que os
Estados, à semelhança das vizinhanças humanas,
pautassem suas ações na obediência a normas e
obrigações – que garantem a sobrevivência
comunitária.
 Toda ciência, quando nasce, privilegia o
desejo sobre a razão. Eis o motivo que
levou o idealismo anti-guerra a povoar o
pensamento das RIs.
 Harmonia de interesses e harmonia
entre Estados: noções liberais que
tentaram ser adaptadas ao pensamento
internacional, sem sucesso. A história
mostra que o livre-comércio não é o
curso preferido dos Estados.
 Crítica realista ao idealismo moderno:
1 – O Estado é o único ator relevante das
relações internacionais: organizações como a
Liga das Nações sempre estarão subordinadas
ao interesse nacional.
 “Qualquer governo internacional real é
impossível na medida em que o poder, que é
uma condição fundamental do governo, está
organizado nacionalmente” (p. 142) 
2 – O poder é o que motiva a ação dos
Estados: sobrevivência e adaptação ao
sistema internacional estão acima da moral.
 O poder, e não a harmonia de interesses, é o
coração da política internacional.
 “A alegada ‘ditadura das grandes potências’, que
por vezes é denunciada por autores utópicos,
como se fosse uma política malévola
deliberadamente adotada por certos estados, é
um fato que constitui algo como uma ‘lei da
natureza’ em política internacional” (p. 138) 
 Ao contrário do que se pensa, a “política de
poder” é praticada tanto por quem está
insatisfeito com a ordem vigente quanto pelas
potências status quo. A busca de segurança pelas
últimas é recorrente, e não parece haver uma
dicotomia entre a força, pelos primeiros, e a
moral, pelos últimos. “Qualquer que seja o
envolvimento moral, a política de força predomina
de ambos os lados” (p. 139). 
 O poder pode ser dividido em três
componentes, mas é único e indivisível.

 a) Poder militar: a ultima ratio (razão


maior) do poder, nas relações
internacionais, é a guerra (p. 143).
Guerra é uma arma cujo uso não
necessariamente é desejável, mas é
um último recurso que tem que existir,
pois garante, em última instância, a
sobrevivência do Estado.
 b) Poder econômico: 
 Toda campanha militar necessita de embasamento
econômico. A história mundial demonstra uma íntima
ligação entre poder militar e poder econômico.
 Poder econômico como instrumento da política nacional: 
 a) exportação de capital (Inglaterra, EUA)
 b) o controle de mercados estrangeiros :“é impossível saber
se o poder político é usado, para a aquisição de mercados,
por seu valor econômico, ou se mercados são buscados para
estabelecer e fortalecer o poder político” (p. 165).

 Utilizar a arma econômica é menos imoral do que o uso da


arma militar? “Em certo sentido os dólares são mais
humanitários que as balas” (p. 171). A estratégia do país
forte será utilizar-se do poder econômico quando a guerra
não se faz necessária.  
 c) Poder sobre a opinião: 
 Terceira forma de poder: poder sobre a
opinião relaciona-se com a democratização e
participação popular.
 Legitimação dos atos do Estado é essencial,
tanto interna quanto externamente.
 Propaganda de Estado: rádio, cinema,
imprensa popular. Mesmo em democracias, o
Estado centraliza esse poder sobre a opinião.
 Papel da propaganda na guerra – impacto
psicológico e legitimação dos atos de guerra.
 Política entre as nações: primeira e principal obra científica do
realismo moderno.

 Crítica ao idealismo: paz mundial só é possível por meio de


mecanismos “negativos” como o equilíbrio de poder.

 Contexto da obra:

 a) Multipolaridade -> bipolaridade, mundo não-eurocêntrico;

 b) “Unidade moral” dividida em duas ideologias antagônicas;

 c) Armas nucleares -> salto qualitativo na tecnologia militar


(M.A.D.)
 Capítulo I: Uma Teoria Realista da
Política Internacional
 Os “seis princípios do realismo político”:
 1.A política obedece a leis objetivas
que são fruto da natureza humana e,
por isso, qualquer mudança social deve
levar isso em conta.
A natureza humana é imutável, busca a
sobrevivência, é conflituosa. Isso não
mudou desde a antiguidade até hoje.
 Os “seis princípios do realismo
político”:

2. O interesse dos Estados é sempre


definido em termos de poder.

O interesse próprio é o que guia a


ação dos Estados, num cálculo de
custo-benefício que visa à
maximização do poder.
Os “seis princípios do realismo
político”:

3.O conceito de interesse traduzido


em poder é uma categoria objetiva
de validade universal.

Da mesma forma como a natureza


humana não muda, a busca pelo
poder sempre pautou a ação das
comunidades políticas.
 Os “seis princípios do realismo político”:

 4. Os princípios moderais universais não


podem ser aplicados aos Estados, sendo
condicionados a tempo e lugar.

Se existem princípios universais de


moralidade, eles não passam de
instrumentos para justificar/legitimar a ação
política, que sempre é baseada no poder.
 Os “seis princípios do realismo político”:

 5. As aspirações morais de uma nação em


particular não podem ser identificadas
com os preceitos morais que governam o
universo.

 Não há visão de mundo verdadeira ou


definitiva. Não é possível, portanto,
generalizar aspirações nacionais, como as
soviéticas ou alemãs ou americanas, para
os demais povos.
 Os “seis princípios do realismo político”:

 6.
A esfera política é autônoma, ou seja,
não é subordinada a qualquer outra
esfera.

 Direitoou economia são componentes da


lógica do Estado, mas a ação política é o
que pauta as decisões dos governos em
última instância. O universo político
internacional tem uma lógica própria e
autônoma.
 Capítulo III: Poder Político
A política internacional consiste em uma
luta pelo poder, que é sempre seu
objetivo imediato.
 “Os povos e os políticos podem buscar,
como fim último, liberdade, segurança,
prosperidade ou o poder em si mesmo
(...) contudo, sempre que buscarem
realizar o seu objetivo por meio da
política internacional, eles estarão
lutando pelo poder” (p. 49).
 Duas considerações sobre o poder:

1 – Nem toda ação que um país desenvolva


com respeito a um outro será de natureza
política (atividades legais, culturais,
econômicas, humanitárias, etc)

2 – Nem todas as nações estão, o tempo todo,


em maior ou menor grau, engajadas em
atividades da política internacional. Esse
envolvimento pode ser máximo (EUA, URSS)
ou mínimo (Suíça, Costa Rica).
 Quatro distinções sobre a natureza
do poder político:

1 – Poder ≠ Influência: o ministro tem


influência sobre o presidente, mas
este tem poder sobre o aquele.

2 – Poder ≠ Violência Física: sempre


que a força é o caminho adotado,
abandona-se o poder político em
favor do poder militar.
 Quatrodistinções sobre a natureza do
poder político:
3 – Poder Utilizável ≠ Poder Não-Utilizável:
armas nucleares, quando os dois lados do
conflito a possuem, deixam de ser moeda
de barganha.
4 – Poder Legítimo ≠ Poder Ilegítimo:
enquanto o primeiro tem seu exercício
justificado tanto moral quanto legalmente,
o último é visto como pura e simples
agressão, sendo menos eficiente.
 Capítulos IV-V-VI: A Luta Pelo Poder
 Qual a natureza da política externa dos
países?
 Política do status quo: visa conservar o poder
e evitar mudanças no SI que alterem a
posição relativa do país.
 Política de imperialismo: orientada para a
aquisição de mais poder mediante alteração
da estrutura vigente.
 Política de prestígio: pela via diplomática,
visa complementar as demais políticas,
valendo-se da ostentação e do ritualismo
como forma de potencializar o poder do
Estado.
Capítulos VIII-IX-X: O Poder Nacional
Quais os elementos que compõem o
poder nacional?
Geografia: tanto a extensão territorial
quanto a localização relativa (insular,
continental) são importantes fontes
de poder.
Recursos naturais: (a) Alimentos; (b)
Matérias-Primas; (c) Petróleo.
 Capacidade Industrial: tecnologia
industrial é crucial para transformar a
matéria-prima em capacidade militar.
 Liderança: a qualidade da liderança
militar é importante elemento de poder,
uma vez que pode definir resultados de
combate.
 Quantidade/Qualidade das Forças
Armadas: contingente e tecnologia são
essenciais para o poder nacional, de
forma a extrair o melhor potencial dos
recursos militares disponíveis.
 População:
 (a) Distribuição;
 (b) Tendência demográfica e etária;
 (c) Índole Nacional: características intelectuais e
morais de uma nação;
 (d) Moral Nacional: grau de determinação com
que uma nação apóia as políticas externas de
seu governo, em guerra ou paz;
 (e) Qualidade da Diplomacia: elemento de
equilíbrio em tempos de paz;
 (f) Qualidade do Governo: elemento de
equilíbrio entre recursos disponíveis e apoio
popular à política.
 Podernacional + condução da política
externa = balanço de poder.
O equilíbrio de poder é a consequência
da tentativa dos países em manter ou
derrubar o status quo.
 Estabelece-se o balanço de poder pela
diminuição/aumento de poder da parte
mais forte/fraca.
 Formasde se equilibrar o poder: dividir
e conquistar territórios, corrida
armamentista, alianças.
 Limites do sistema de equilíbrio de poder:
 1. Grau de incerteza: sempre pode haver
erro de cálculo de força de cada
participante das relações de poder;
 2. Grau de irrealidade: os juízos sobre o
poder e sobre a força de cada participante
podem estar errados;
 3. Grau de insuficiência: valores morais,
relações jurídicas e opinião pública podem
distorcer cálculos corretos, e devem ser
considerados.
 Em qualquer sociedade “anárquica”, há a ocorrência do
“dilema da segurança”, seja entre homens, grupos
políticos ou líderes de Estado.

 A origem do DS é o medo de ser atacado, subjugado,


dominado ou aniquilado por outros grupos ou indivíduos.

 Como forma de se proteger das potenciais agressões,


indivíduos são compelidos a adquirir mais poder de
forma a minimizar o impacto do poder alheio.

 A obtenção de poder por parte de um deixa os demais


inseguros e os estimula a adquirir mais e mais poder,
“preparando-se para o pior” (p. 157)
 Jáque ninguém se sente seguro num mundo
de unidades que competem pelo poder, o
dilema da segurança conduz a um círculo
vicioso de acumulação de poder.

A natureza humana importa pouco. É possível


observar, no DS, cooperação e competição:
indivíduos se unem, formando grupos que
competirão com outros grupos, e estes se
unem num Estado para competir com outros
Estados, etc.
ealismo Político: dealismo Político:
concentra-se nas
nfatiza a força condições e soluções
explicativa da que supostamente
segurança na política superam os instintos
de poder e na e atitudes egoístas
relação entre dos indivíduos e
indivíduos e grupos. grupos, indo além da
segurança e do
interesse próprio.
Proposta de Herz: conciliar as duas abordagens
no que ele chama de “Liberalismo Realista”

Realismo: o sistema ou política em questão deve


iniciar-se nos insights factuais do Realismo
Político, e aceitá-los.

Liberalismo: indica os objetivos ou ideais que


guiam as atitudes da política.
Síntese: o liberalismo realista aceita a
existência de fenômenos de poder, como o DS,
mas propõe formas de superá-lo.
A bipolaridade do mundo da Guerra Fria exclui
a possibilidade de mecanismos de segurança
coletiva -> suas conseqüências são ou a
dominação global por um dos lados ou a
difusão e desintegração do poder concentrado.
O liberalismo realista, portanto, vislumbra o
internacionalismo da segurança coletiva (como
um desenvolvimento do equilíbrio de poder)
para superar o dilema da segurança.

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