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Matriz Energética Brasileira

e Desenvolvimento
Matriz Energética e Consumidores
Prof. Dr. Gilberto De Martino Jannuzzi
UNICAMP
Perspectiva da apresentação
Planejamento Energético – Longo Prazo
Criação de mercado
Transformação de mercado
Perspectiva do consumidor
Influência do consumidor na demanda de
energia. Estilos de vida.
Hábitos e comportamento do consumidor.
Tecnologias, preços etc.
Recursos
Naturais

Indústria da
Energia Tecnologias
(Oferta)
Matriz
Energética

Consumidores
Regulação
(Demanda)
Tópicos
A criação de um mercado de consumidores de energia
Breve histórico da evolução da matriz de energia no país e
criação de mercados de energia e consumidores
 A formação da matriz energética: participação do carvão mineral
 A expansão da eletricidade e derivados de petróleo
 Consolidação dos mercados de energia: eletricidade e derivados de

petróleo
Setores de consumo e usos finais de energia: setor residencial
Pontos de interesse dos consumidores (residenciais) de
energia
Eficiência energética
Século XIX
Expansão da agricultura e pecuária no Brasil
Disponibilidade abundante de lenha para usos produtivos e residencial
Energia animal para transporte terrestre
Energia eólica para navegação
Óleo de peixe e velas (sebo) para iluminação
Industrialização na Europa: substituição da lenha pelo carvão mineral
½ sec XIX início de atividades manufatureiras
Máquina a vapor
Rodas d’água
Carvão vegetal (fundições)
Barão de Mauá e o primeiro plano de industrialização
Estaleiros: navios a vapor (carvão mineral)
Serviços de iluminação a gás (carvão mineral)
Construção de estradas de ferro (locomotiva a vapor)
Ainda... Século XIX
A a partir da 2ª. metade do século o carvão mineral
passa a ser a nova energia na matriz energética
(transporte, indústria , cocção a gás e iluminação a
gás)
Carvão importado
Introdução da eletricidade (usina 200 kW, Marmelos
em Juiz de Fora)
Lenha: o principal energético
Consumidores: poucos , urbanos e alta renda (com
exceção da lenha)
Século XX
1900-1930
Ainda a lenha
Carvão importado, demanda crescente, início de
exploração no Sul no país
Hidroeletricidade: novos empreendimentos
Serviços “modernos” ainda muito restritos para a
população
> 1930 Estado passa a investir e comandar
desenvolvimento da infra-estrutura e industrialização
A criação e organização de mercados de
energia (1930-50)
Orientações do Estado como ordenador da atividade
produtiva:
 Criação das bases institucionais;
Montagem da infra-estrutura pesada;
Coordenação e financiamento do setor industrial
privado
Energia
Criação de base institucional e regulatória (Código de
Águas, Código de Minas, Regime de Jazidas Petrolíferas)
Recursos energéticos: interesse público. Nacionalização.
Início da consolidação do mercado de
energia
Derivados de petróleo : de 9% para 40% Hidroeletricidade: de 7% para 13%
Resumo
Até 1930: mercados frágeis e incipientes. Predomínio absoluto
da lenha. Combustível moderno: carvão mineral
1930-67
Ênfase à energia elétrica e ao petróleo;
Planejamento energético setorial;
O Estado atua como regulador e posteriormente como produtor:
monopólio em algumas atividades; Criação das empresas
estatais ;
Financiamento do setor de energia elétrica e petróleo: imposto
único, empréstimo compulsório.
Bases para a consolidação do sistema de OFERTA de energia
(eletricidade e derivados de petróleo)
E o mercado consumidor?
Forte tradição brasileira (até HOJE):
planejamento da OFERTA de Energia
Planejamento SETORIAL (vem diminuindo)
Planejamento da DEMANDA (consumidores) é ainda
novidade
Temos casos interessantes. Vamos analisar o caso do GLP
Combustível para cocção: necessidade básica
Forte urbanização
Necessidade de expansão de mercados para viabilizar a
produção de derivados no país.
A criação de um mercado
Energia para cocção: a substituição da lenha e criação de um
mercado sustentável para o GLP. Impactos na Matriz energética
Taxas de atendimento de GLP (% dos
domicílios)
100

80

60

40

20

0
1960 1970 1980 1990 2000
A estrutura do mercado residencial de
energia
Estrutura de consumo setor residencial
(2007)
Evolution of LPG demand: total and average percapita
consumption (1990=100)
140

Total LPG consumption

120

100 Ends LPG uniform


pricing, subsidies and
government control
80 (partial and gradual)
Percapita LPG consumption

60

40

20
Oil sector de-regulation

0
1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001
Price R$/kg

0
0,2
0,4
0,6
0,8
1
29/7/1998

29/10/1998

29/1/1999

29/4/1999

29/7/1999

29/10/1999
LPG subsidies

29/1/2000

29/4/2000

29/7/2000

29/10/2000

29/1/2001

29/4/2001

29/7/2001
Ex-factory price (R$/kg)
Production Cost (R$/kg)

Percentage of subsidy (%)

29/10/2001
10
30
50
70

-30
-10

Percentage (%)
Changes in the LPG subsidy policy
Table 1: Price structures after for a 13 kg bottled LPG before and after liberalization in December 2001 and January 2002 (in R$).

January 2002
December
Price components Average Low income class
2001

Production costs 9.00 6.67 6.67


Tributes (federal and state taxes) 3.76 3.36 3.36
Distribution and profit margins 13.02 13.71 13.71
Subsidy -3,47 (PPE) 0 -7.50 (gas
voucher)

Final retail price 22.30 23,74 16.24


Subsidy (as % of production costs and 27% 0 75%
tributes)

Source: ANP/Petrobras (2002).


A desregulação de preços ao consumidor:
impactos
50
Country's
45 highest price
Regional average prices
40
R$/13kg bottle

AP 35.86
35
AP 32.85
30 SP 29.05

25 SP 24.19
Lowest price
20
Vendor price Consumer price

Source: ANP July/2004


O que nos mostra o caso do GLP ?
Transformação do mercado de combustíveis para cocção: a importância de políticas públicas,
regulação e subsídios
Forte presença do Estado ~1967-2002
 Garantia de suprimento (Petrobras)
 Subsídios
 Controle de preços

 Regulação dos distribuidores e comercializadores

Forte participação do setor privado como parte da cadeia (havia garantias de receitas inicialmente)
De-regulação (anos 90)
Aumento de preços, competição com gás natural
Mudanças na estrutura de subsídios
Consumidores retornam para LENHA
Mercado consolidado.
Formação de cartéis e necessidade de maior fiscalização por parte da ANP
Consistência das ações ao longo do tempo
Impactos no mercado consumidor: disponibilidade do energético e seus preços
Importância da regulação e proteção ao consumidor
Impactos na Matriz energética
O Sistema Energético
A matriz energética:

AONDE ESTÃO AS INFORMAÇÕES SOBRE OS


CONSUMIDORES?
Oferta interna de energia: Brasil 2009
O sistema energético
Extração/tratamento
Energia Primária

Tecnologias conversão
Tecnologias Distribuição

Energia Final Setor Energético

Tecnologias Uso Final 1

Energia útil
Tecnologias Uso Final 2

Serviços Serviços de Energia

32
O Sistema energético

Centros de transformação Equip Uso final


Recursos Motores
Setores de
Usinas elétricas
Fogões
consumo
Refinarias
Destilarias Lâmpadas

ENERGIA ENERGIA ENERGIA


PRIMÁRIA SECUNDÁRIA ÚTIL
O fluxo de energia
MATRIZ ENERGÉTICA e os consumdiores
O que interessa não é a quantidade de energia
consumida e sim a UTILIDADE DERIVADA de seu
consumo
A demanda de energia depende:
Estoque de bens de consumo (sua evolução no tempo) e
do comportamento da economia
Comportamento do consumidor, cultura, hábitos de uso
Clima, sazonalidades econômicas e cívicas
Mercado de energia (preços relativos, disponibilidade)
IDH e energia

Fonte: WEA 2004


Tipos de eficiência energética: OFERTA E DEMANDA
Saúde, educação,
Bem Estar Social
conforto, etc.

Padrões de consumo, dieta,


modelos de urbanização,
“Eficiência de padrão de Estilo de vida construção de edifícios,
consumo” moradia, transporte, lazer,
etc.

Iluminação, climatização,
força motriz, etc.
Serviços de Energia

Lâmpadas, motores,
“Eficiência de usos Tecnologias de uso final geladeiras, ventiladores,
finais” etc.

eletricidade,gasolina
Energia Secundária etc.

Usinas hidroelétricas,
“Eficiência de Tecnologias de suprimento
refinarias, etc.
oferta de energia”

Lenha, carvão, petróleo,


Energia Primária etc.
Como estudar a demanda de energia?
Levantamentos estatísticos: série histórica
Consumo, preços, no. Consumidores, etc
Estudos de campo
Medições
Pesquisas de campo (questionários)
Auditorias energéticas
Estudos de mercado
Análise de usos finais ou “bottom-up”
A analise "Bottom-up" se sustenta em métodos de engenharia,
ao contrário das estimativas macroeconomicas em que se baseia
o modelo "top-down“
Busca caracterizar a infra-estrutura tecnológica do consumo de
energia
O método "bottom-up" implica na pergunta:
 Para que usamos energia?”
 reconhecendo que:
 Muito certamente a nova demanda de energia requerida
custará mais
 Muitas das atividades de uso de energia podem ser mais
eficientes
Caracterização da
demanda no Brasil
Consumidores residenciais
Eficiência Energética
Demanda de eletricidade
 M
 300 W
0

 250  1
0

 200
0  2  1 To
tal
 2 Residencia
 1500 l
 3 Industri
al
 4 Commercial
 3
 1000  5 Ru
ral
 6 Oth
ers
 7 Publ.
 50  4 Illum.
0  5
 6
 7
 0

 1 
2 
3 
4 
5 
6 
7 
8 
9 
1 
1 
1 
1 
1 
1 
1 
1 
1 
1 
2 
2 
2 
2 2
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 0 1 2 3 4
 HOU
R
Desagregação da Curva de Carga do Sistema da CPFL (1997)
Energia para cocção: “escala energética”
Demanda final no setor residencial em
diferentes estudos (%).
Referência Jannuzzi Almeida (2001) Achão (2003) Ghisi (2007) Presente Trabalho
Ano dos dados (1991) dados de 1998 dados de 1999 dados de 1998 Dados de 2005
dados de 1986 (%) (%) (%) (%)
(%)

Lâmpadas 12 12,3 17,2 11 19


Refrigeradores 33 34,1 34,9 33 22
Freezers 4 - 9 5
Ar Cond. 7 3 11,2 10 4
Televisores 3 - - 6 10
Chuveiros 23 20,7 17 20 16
Outros 18 29,9 19,7 11 24
Total 100 100 100 100 100
Distribuição dos consumidores de eletricidade
segundo faixas de renda e regiões do Brasil (2005)
Faixas de re nda: Brasil e Re giõe s

Não s abe

>7
Salários Mínimos

4a7

2a4

0a2

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60%

Centro Oes te Norte Nordes te Sul Sudes te Bras il


Distribuição de faixas de consumo por
classes de renda
% das classes de consumo (kWh/mês) por classes de renda
100%
90%
> 500
80%
70% 301 - 500
151 - 200 201 - 300
60% 101 - 150
50%
51 - 100
40%
30%
20% < 50
10%
0%
<1 1a2 2a3 3a5 5 a 10 10 a 20 >20
Salários Mínimos de 2005
Equipamentos e Faixas de Renda
Brasil

120%

2
100% R = 0,9289
Televisor
2
R = 0,8115
80%
Refrigerador

2
60% R = 0,7123

Chuveiro Elétrico

40%

Freezer
20%
2
R = 0,9879
Ar Condicionado
2
R = 0,9928
0%
<1 1 -2 2-3 3-5 5 - 10 10 - 20 >20

Salários Mínimos de 2005


Idade média de refrigeradores segundo
regiões e faixas de renda

12

11

10

7
Anos

0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

Re nda

Norte Centro Oeste Sul Nordeste Sudeste


Tipos de lâmpadas
100%
Outras
90%
>15W - Compacta Fluorescente
80%
<15W - Compacta Fluorescente
70%
40W - Fluorescente Tubular
60%
20W - Fluorescente Tubular
50%
150W - Incandescente
40%
100W - Incandescente
30%

20% 60W - Incandescent e

10% 40W - Incandescente

0% 25W - Incandescente
<1 1-2 2-3 3-5 5 - 10 10 - 20 >20
Salário Mínimos de 2005
30 Unidades consumidoras contempladas com substituição de 40 lâmpadas
O futuro: modificando o mercado
consumidor
França: residências uni-
familiares (WBCSD, 2009)
O futuro: modificando o mercado
consumidor
China: residências multi-
familiares (WBCSD, 2009)
Pontos de interesse para
o consumidor
Energia : BEM PÚBLICO
Eficiência energética
Preços módicos
Meio ambiente
O caso das lâmpadas incandescentes
Em 1996 um novo padrão técnico foi introduzido no
país modificando as especificações da LI vendida .
Antes lâmpadas para 120V e 127V
Com a nova norma: somente LI para 120V
The impacts of technical standards for incandescent lam
p manufacture in Brazil
. Energy 25 (2000): 1033-1045.
Fizemos uma avaliação na época mostrando os
prejuízos para os consumidores e para o país com a
nova norma:
LI consumiriam mais e durariam menos
National Characteristic Nominal Tension (Volts)
Standard Value
106 115 121 116 127 132

120 V/60 W Luminous Flux 760 500 658 782 678 920 1.049
64 NBR IEC-5055-1
(lm)

Power (W) 60 50 56 61 57 65 69
Life (hours) 1.000 >3.800 1.814 890 1.607 452 263
127 V/60 W Luminous Flux 750 407 536 637 552 750 855
NBR 5121:1982
(lm)
Power (W) 60 45 51 56 52 60 64
Life (hours) 1.000 >3.800 >3.800 1.969 3.555 1.000 582
120 V/100 W Luminous Flux 1.400 921 1.212 1.440 1.248 1.695 1.932
64 NBR IEC-5075-1
(lm)

Power (W) 100 83 94 101 95 109 116


Life (hours) 1.000 >3.800 1.814 890 1.607 452 263
127 V/100 W Luminous Flux 1.380 749 987 1.172 1.016 1.380 1.572
NBR 5121:1982
(lm)
Power (W) 100 76 86 93 87 100 106
Life (hours) 1.000 >3.800 >3.800 1.969 3.555 1.000 582
O caso das geladeiras em SP
Geladeiras: projetadas para operar otimamente em
~127V
Trabalho apresentado COBEM
http://gilbertomartino.wordpress.com/
Conclusões: A Matriz e os consumidores
O mercado de energia é dinâmico
Novas tecnologias, novas fontes e novos serviços
implicam em mudanças dos consumidores
Novos mercados, nova regulação
Os desafios futuros dependem de um
desenvolvimento em paralelo entre tecnologias e
marco regulatório atendendo a crescente demanda de
energia e necessidades de controles socio-ambiental.
Referências
WBCSD, 2009: Energy efficiency in buildings -
transforming the market. World Business Council for
Sustainable Development.
Empresa de Pesquisas Energéticas – EPE (2010) -
Balanço Energético Nacional 2008 – BEN – 2008.
Disponível em https://ben.epe.gov.br/
LEITE, A. D., A Energia do Brasil. Elsevier Editora, Rio
de Janeiro, 2007 – 2ª edição.
www.fem.unicamp.br/~jannuzzi
http://gilbertomartino.wordpress.com/

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