Às tempestades que cruzei diurnas, Fonte agora de lágrimas noturnas, Que no dia, por pejo, ocultas porto;
Ó leito, onde encontrei paz e conforto
De tanta mágoa, que dolentes urnas Sobre ti verte o Amor com mãos ebúrneas, Só para mim crueza e desconforto!
Porém do meu retiro e do repouso
Não fujo, mas de mim e do pensar, Que tanta vez segui num devaneio;
E em meio ao vulgo adverso e inamistoso
(Quem diria?) refúgio vou buscar, Tal é de ficar só o meu receio. (Petrarca) Soneto XXII
Se amor não é qual é este sentimento?
Mas se é amor, por Deus, que cousa é a tal? Se boa por que tem ação mortal? Se má por que é tão doce o seu tormento?
Se eu ardo por querer por que o lamento?
Se sem querer o lamentar que val? Ó viva morte, ó deleitoso mal, Tanto podes sem meu consentimento.
E se eu consito sem razão pranteio.
A tão contrário vento em frágil barca, Eu vou para o alto mar e sem governo.
É tão grave de error, de ciência é parca
Que eu mesmo não sei bem o que eu anseio E tremo em pleno estio e ardo no inverno. “Dante e Virgílio atravessam o limiar do Inferno: sobre E ele a mim, como pessoa experta: a porta, uma inexorável inscrição com palavras Aqui convém deixar toda a suspeita; de desespero eterno; depois o tumulto dos condenados, Toda a vileza aqui deve morrer. numa escuridão horrorosa, sem céu nem estrelas. Chegámos ao lugar de que eu te disse Eis, em poucos versos, a primeira imagem infernal.” que tu verás as gentes dolorosas que perderam o bem do intelecto.» INFERNO CANTO III E depois que a mão deu à minha mão com ledo rosto — o que me confortou – , Por mim se vai à cidade dolente, pôs-me dentro das coisas misteriosas. por mim se vai para a eterna dor, por mim se vai para a perdida gente. Aqui suspiros, choro e alto pranto pelo ar sem estrelas ressoavam, Moveu justiça o meu alto factor: de tal modo que de os ouvir chorei. formou-me a divina potestade, sapiência primeira, sumo amor. Diversas línguas, hórridos falares, palavras dolorosas e coléricas, Antes de mim não foi nada criado vozes altas e roucas, sons de mãos senão eterno, e eu eterno duro. Deixai toda a esperança, vós que entrais». faziam um tumulto que se expande na atmosfera sem tempo, sempre escura, Estas palavras de sabor obscuro como areia batida do tufão. Eu vi escritas por cima de uma porta; Mestre — disse eu —, o seu sentido é duro». Autor: Dante Alighieri (1265-1321) Pietá- Michelangelo Davi - Michelangelo Madonna de Bruges - Michelangelo Judith - Donatello Hércules e Caco – Baccio Bandinelli Rapto de sabina – Giambologna Capela de Scrovegni- Giotto O nascimento da Vênus – Sandro Botticelli Capela Sistina - Michellangelo Monalisa – Leonardo da Vinci Jan Van Eyck - O Casal Arnolfini Bramante, Miguel Ângelo, Rafael e Bernini. Palmanova (1593), projetada por Scamozzi