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PLÁGIO NA ACADEMIA

BRASILEIRA:CONCEPÇÕES,
TRATAMENTO E DESAFIOS FUTUROS
PROFA. DRA MARÍLIA MENDES FERREIRA
DLM/FFLCH/USP
LABORATÓRIO DE LETRAMENTO ACADÊMICO
HTTP://LETRAMENTOACADEMICO.FFLCH.USP.BR
MMFERREIRA@USP.BR
Tópicos da apresentação

 Definição do termo
 Estudos sobre o plágio no Brasil
 Visões anglófona e brasileira sobre o plágio
 O tratamento dado ao plágio pela academia
brasileira
 Desafios
Etimologia
 grego "Plágios" (DIAS; EISENBERG, 2015).
“oblíquo, que não está em linha recta, que está de lado, de
esguelha;que apresenta o flanco, transversal, falando
especialmente de uma linha de batalha,de um exército, de
uma esquadra; fig. Que usa meios oblíquos, equívoco, pérfido,
velhaco”

 Latim
 “plagiare (v) – ferir
 plagiarius (subst)” - aquele que em Roma “roubava escravos ou
vendia como escravos indivíduos livres" (MORAES, 2007, p. 3).
 Escravos= coisa
 Marcialis (poeta)- seu poema (comparado a uma criança) foi
roubado/plagiado/sequestrado (Krokoscz,2012)
Definição de plágio
 O dicionário Aurélio
 Plágio: sm. Ato ou efeito de
plagiar. / Plagiar: v.t.d. 1.
Apresentar como seu
(trabalho intelectual de
outrem). 2. Imitar (obra
alheia)”
Definição de plágio

 “Trata-sede qualquer conteúdo


(artístico, intelectual, comercial
etc) que tenha sido produzido ou
já apresentado originalmente por
alguém e que é reapresentado
por outra pessoa como se fosse
próprio ou inédito” (Krokoscz,
2012:11)
(Grifo meu)
História do termo

 Invenção da imprensa: visão


coletivista → visão
individualista (Moraes,2007)
 1710- copyright act na
Inglaterra
 Plágio – conceito anglo e da
europa ocidental (Swales e
Feak,2004)
Definição de autoria
 O dicionário Aurélio :
 “Autoria: sf. Condição de autor. / Autor: (ô) sm. 1.
A causa principal, a origem de. 2. Criador de obra
artística, literária ou científica. 3. Aquele que
intenta demanda judicial” (Ferreira, 2001, p. 77
apud DIAS; EISENBERG, 2015).
 Etimologicamente, autor vem do latim Auctore-,
“o que aumenta, que faz avançar, produzir; o
que aumenta a confiança; fiador; que confirma
autoridade, fonte; modelo, senhor, autoridade;
fonte histórica; o que obriga a agir; conselheiro,
instigador, promotor; criador, iniciador, fundador,
autor; o que faz (compõe) uma obra, escritor”
(Machado, 1967, p. 355 apud DIAS; EISENBERG,
2015).
Tipos de plágio (KROKOSCZ, 2012)
 Plágio direto: cópia na íntegra sem a identificação do
autor.
 Plágio indireto: o redator usa suas próprias palavras,
porém o texto não é original, já que ele reproduz as ideas
de outro de forma diferente.
 Paráfrase sem citação
 Mosaico
 chavões

 Plágio de fontes: o autor reproduz as citações de outro


como se tivesse consultado as fontes.
 Plágio consentido: trabalho entre amigos ou um trabalho
comprado, sem a identificação correta do autor.
 Autoplágio: apresentação de um mesmo texto do autor
em situações diferentes sem a devida citação.
Auto-plágio

“Quando um autor propõe seus textos já


publicados, sem alusão aos trabalhos anteriores,
criando a expectativa de algo inovador, mas
deixando de contribuir com novas discussões,
enganando o leitor, que acredita estar diante de
algo inédito. O autoplágio implica graves problemas
de ordem ética e material, principalmente se
pensarmos na questão editorial e nos acordos de
ineditismo.”
(Dias; Eisenberg, 2015:182)
Visão anglófona (Scollon,
1995)
 Direito autoral (séc. XVII e XVIII)
 Originalidade do indivíduo e da
construção do conhecimento
“o indivíduo criativo, original que, como um
acadêmico autônomo, apresenta seu
trabalho para um público sob o seu nome”
(p.1)
 Discurso acadêmico – clareza,
objetividade, racionalidade
 Aspecto legal
Visão anglofóna:Flowerdew e
Li (2007)

 one of many forms of academic misconduct (…)


fostered by an overall ‘cheating culture’ that has
developed as a result of the marketization of the
academy and the increasing economic value
attaching to academic qualifications”. (p.162)
 “borrowing someone´s ideas, information or
language without documenting the source” ,
“documenting the source but paraphrasing the
source´s language too closely, without using
quotation marks to indicate that words and phrases
have been borrowed”, (p.162)
COPE (Committee on
Publication Ethics
 “minor copying of short phrases such as that in
discussion of research paper from non-native
language speaker is not acceptable from the
point of view of COPE” ( Li, 2013: 1244-5) .
US Office of Research
Integrity
 “appropriation of another person´s ideas,
processes, results or words without giving
appropriate credit”
 Available at: http://ori.hhs.gov/definition-
misconduct>
Editoras

 (ELSEVIER) “na publicação acadêmica, (...) o


indivíduo precisa fazer um trabalho original e
preparar seus artigos sem auxílio”
 (TAYLOR & FRANCIS) “todos os autores devem
garantir que seus trabalhos submetidos são
realmente originais, que não violem os direitos
autorais de ninguém ou entidade”
 Prioritizes in the extreme the originality of both
ideas (in the form of processes, theories, data,
results) and the linguistic expression of these ideas.
Cantonese view

 "In the cantonese metaphorical system, one is


who one is, whether or not one expresses it freely,
openly and frequently to others. In the NOrth
American system, by contrast, there is a
compulsion constantly to re-create the self (and
to assist others in their task of self-creation)
through communication, especially through talk."
(Scollon, 1995:19)
Visão brasileira (Ferreira e
Persike,em preparação)
 uma tendência em tratar o plágio por meio de
definições não explícitas, em que se trata o
assunto por meio de associações com citação.
 não há definição e distinção entre paráfrase de
boa ou má qualidade, como ocorre na visão
anglo-saxã.
 não se associa a paráfrase ruim com referência
ao plágio.
 A palavra plágio não é frequentemente usada
Orgãos governamentais e
o plágio
 Capes
endossa as diretrizes da OAB para o combate ao
plágio nas instituições de ensino, sugerindo o uso de
softwares de detecção do plágio e de ações
próprias das instituições para o seu combate como
a criação de comissões para avaliação dos casos
(Capes, 2011).
(https://www.capes.gov.br/images/stories/downloa
d/diversos/OrientacoesCapes_CombateAoPlagio.p
df)
CNPq (2011)

Relatório de comissão de integridade em pesquisa


(2011)
Propõe 2 ações:
1) pedagógica-preventiva
-disciplinas , materiais, diretrizes,
2) Corretivas
- comissão (julgar, avaliar, decidir)
21 diretrizes
CNPq (2011)

“Plágio: consiste na apresentação, como se fosse


de sua autoria, de resultados ou conclusões
anteriormente obtidos por outro autor, bem como
de textos integrais ou de parte substancial de textos
alheios sem os cuidados detalhados nas Diretrizes.
Comete igualmente plágio quem se utiliza de ideias
ou dados obtidos em análises de projetos ou
manuscritos não publicados aos quais teve acesso
como consultor, revisor, editor,ou assemelhado.
Autoplágio: consiste na apresentação total ou
parcial de textos já publicados pelo
mesmo autor, sem as devidas referências aos
trabalhos anteriores.”
Fapesp (2011)
 Código de Boas Práticas Científicas
(a)promover regularmente atividades educativas
concernentes aos valores e competências pertinentes
à integridade ética da pesquisa, como cursos, eventos
e programas de treinamento de pesquisadores em
formação;
(b) oferecer aos pesquisadores e estudantes da
instituição aconselhamento em situações particulares
que envolvam a aplicação desses valores e o
exercício dessas competências; (c) investigar
formalmente e, se for o caso, punir, de maneira justa e
rigorosa, segundo regras expressamente definidas,
toda denúncia de más condutas científicas,
respeitando, no curso das investigações, o direito dos
denunciados à plena defesa, à presunção de
inocência e à preservação de suas reputações.”(p.11)
Fapesp (2011)
 Plágio
“Em um trabalho científico, pressupõe-se que toda ideia ou
formulação verbal, oral ou escrita, que seja nele utilizada e
não
seja evidentemente de domínio público na área de pesquisa
em
questão, seja uma contribuição original dos pesquisadores
indicados
como autores do trabalho. Se não for esse o caso, a ideia ou
formulação deve ser expressamente creditada, no trabalho,
a seus
autores, independentemente de já ter sido por eles
divulgada em
trabalho científico.” p.23
(grifo meu)
Fapesp (2011)
 Autoplágio:
“3.2.4. Todo pesquisador que submeta a um veículo de
publicação
trabalho científico idêntico, ou substancialmente semelhante, a
trabalho também submetido a outro veículo, ou já publicado em
outro veículo, deve declarar expressamente o fato ao editor do
veículo
no momento da submissão.
3.2.5. Todo pesquisador que publicar trabalho científico idêntico,
ou substancialmente semelhante, a trabalho já publicado deve
mencionar expressa e destacadamente o fato no texto do
trabalho.”
p.23
USP

 Código de ética da USP


 Lista de softwares detectores de
plágio
 Ferreira e Persike (2014)
Detectores de plágio
 AntiPlagiarist - ACNP Software
 CheckForPlagiarism.net
 CopySpider
 Ephorus
 Farejador de plágios 10.1
 Plagiarism advice
 Plagiarism Detect
 Plagiarisma - online
 Plagium - Online
 Plagius - Detector de Plágio Personal 2.0
 Turnitin
 Viper
Conclusão (Ferreira e
Persike, 2014)
 Há poucas medidas para a prevenção ao plágio
na Universidade, tanto que 42% das unidades
não possui informações sobre o tema
 O acesso às informações é muito difícil;

 Alguns documentos apenas normatizam as


citações e acreditam, desta forma, prevenir o
plágio;
Conclusão

 Diretrizes - Criação de órgãos/comissões nas


universidades que lidem com a questão

 Faltam medidas concretas para prevenir e punir


Ferreira e Persike (2014)

“[...] o foco da abordagem acerca do


plágio na universidade é indireto e
normativo. As normas encontradas referem-
se à citação e não ao plágio. Não se
estabelecem medidas pedagógicas e
preventivas para o plágio ou regras para
sua punição. Da mesma forma, foi possível
perceber que os documentos reconhecem
a existência e a ocorrência do plágio na
academia, mas não se ensina como evitá-
lo” (p. 532).
Estudos sobre o plágio no
Brasil
 1996-2015
 a discussão sobre plágio é pouco aprofundada
(VASCONCELOS, 2007; BIONDI, 2011)
 poucos estudos acerca do plágio não só no
Brasil, mas na América Latina em geral (SANTOS,
2014).
 preocupação crescente com o tema (BIONDI,
2011; KROKOSCZ,2012)
Causas

-a expansão da internet (Abranches, 2008) e


consequente acesso à informação
-a falta de orientação clara do professor para a
confecção do trabalho pelo aluno
(Abranches,2008) e falta de instruções formais aos
alunos e pesquisadores que estão desenvolvendo
um trabalho e/ou pesquisa, em cursos de redação,
metodologia e filosofia da ciência
(Azevêdo, 2006; Albuquerque, 2009; Dias e
Eisenberg, 2015)
- Falta de proficiência na L2 (Pecorari, 2001; Hirvela
e Du, 2013)
Estudos
 em relação às concepções de plágio
 exterior há estudos que envolvem esse assunto por
parte de professores (Sutherland-Smith, 2005) ou da
própria área de conhecimento (Dong,1996;
Pecorari, 2006), de pós-graduandos (Shi, 2006;
Flowerdew, 2007; Li, 2007) ou de universidades
(Pecorari, 2001).
 No Brasil, os estudos são escassos e se restringem às
concepções de graduandos e pós-graduandos
(Barbastefano e Souza, 2007; Fachini, 2008; Silva
eDomingues, 2008). Pelo que conhecemos, há um
único estudo que trata das concepções de
universidades brasileiras (Krokoscz, 2011).
Conclusão

 mais estudos empíricos


O plágio na escrita dos alunos
 intervenção pedagógica
 Ensino da escrita acadêmica
 paráfrase
 referenciação
Desafios
 Medidas de âmbito preventivo
1) Ensino da escrita
acadêmica/científica
 Graduação,

 Iniciação Científica
 Pós-graduação

2) Ensino da escrita na escola regular


3) Formação ética (por maioria dos
estudos)
Desafios

 Medidas punitivas
divulgação de sites anti-plágio
segunda chance
Definir plágio e como lidará com a
questão no curso, na disciplina
Desafios

 Melhora das condições materiais


 Operacionalizar as diretrizes
governamentais nas IES(comissões,
detalhamentos das diretrizes)
 Ampliar acesso a ferramentas de
detecção (Turn it in)
 Ampliar acesso à bibliografia
 Oferecer condições a departamentos e
professores para lidarem com plágio
 Maior oferta de livros que esclareçam a
questão e ensinem a escrever (português)
Institucionalização do
tratamento do plágio
“um projeto mais amplo, de formação de uma
consciência, que envolve várias ações – como, por
exemplo, de informação e capacitação, como
sugere Krokoscz (2011) – e que pode e urge ser
abraçado não apenas por um ou outro professor.
Deve ser um projeto assumido por vários atores, de
preferência de forma integrada (até mesmo
interdisciplinar) pelos departamentos acadêmicos,
pelos comitês de pesquisa, pelos grupos de
pesquisa, pelas instituições, pelas agências de
fomento, pelas associações científicas das diversas
áreas do conhecimento, entre outros. “ (Bessa,
2014:120)
Dicas
 Organizar as leituras envolvidas na pesquisa
rastrear quem disse o quê e onde
 Exercitar a boa paráfrase (português e LE)
 Bom entendimento do texto lido
 Bom vocabulário e domínio gramatical
• Obter feedback de terceiros (professores,
orientadores, professores de língua)
• Use os softwares anti-plágio antes da submissão do
texto
• (professores)
• Discutir a questão
• Exemplificar nos textos em andamento a questão
Referências
AZEVEDO, E.S. Honestidade científica: outro desafio ao controle social da
ciência. Gazeta Médica da Bahia v.76, n. 1, p.35-41.2006.
ALBUQUERQUE, U. P. . “A qualidade das publicações científicas - considerações
de um Editor de área ao final do mandato”. Acta Botanica Brasilica, v. 23, p.
292-296, 2009.

BESSA, José Cezinaldo Rocha. Por uma cultura de ética e de integridade do


pesquisador em formação inicial. Revista Espaço Acadêmico, v. 14, n. 159, p.
114-121, 2014.
BIONDI, A. Plágio na produção acadêmica, vespeiro intocado. Ou não? Revista
Adusp, São Paulo, junho. 2011. pp. 58-65.
DIAS, Wagner Teixeira; EISENBERG, Zena Winona. Vozes diluídas no plágio: a (des)
construção autoral entre alunos de licenciaturas. Pro-Posições, v. 26, n. 1, p. 179-
197, 2015.

Hirvela, A.; Du, Q. Why am I paraphrasing? Under -graduate ESL Writers’


Engagement with Source-based Academic Writing and Reading. Journal of
English for Academic Purposes,
v. 12, n. 2, p. 87-98.2013.
KROKOSCZ, M. Abordagem do plágio nas três melhores universidades de cada
um dos cinco continentes e do Brasil. Revista Brasileira de Educação, v. 16, n. 48,
p. 745-818, 2011.
Referências
FERREIRA, Marília Mendes; PERSIKE, Alissa. O tratamento do
plágio no meio acadêmico: o caso USP. Signótica, v. 26, n. 2,
p. 519-540, 2014.
GUEDES, Diego Oliveira; GOMES FILHO, Douglas Leonardo.
Percepção de plágio acadêmico entre estudantes do curso
de odontologia. Rev. bioét.(Impr.), v. 23, n. 1, p. 139-148, 2015.
KROKOSCZ, Marcelo. Autoria e plágio: um guia para
estudantes, professores, pesquisadores e editores. Atlas, 2012.
MARINHO, Maria Edelvacy Pinto; VARELLA, Marcelo Dias.
Plágio nos trabalhos acadêmicos: proposta de políticas
institucionais de integridade. Revista Brasileira de Politicas
Públicas, v. 5, n. 1, 2015.
MORAES, R. O Plágio na Pesquisa Acadêmica: a proliferação
da desonestidade intelectual. Revista Diálogos Possíveis, v.6,
n2, 2007.
SILVA, Obdália Santana Ferraz. Entre o plágio e a autoria:
qual o papel da universidade? Rev. Bras. Educ., Rio de
Janeiro, v. 13, n. 38, ago. 2008.
Referências
PECORARI, D. “Plagiarism and international students:
How the English-speaking university responds”. In D.
Celcher & A. Hirvela (Eds.). Linking literacies:
Perspectives on L2 reading-writing connections. Ann
Arbor: University of Michigan Press, 2001.
SANTOS, Fábio Rocha. PLÁGIO DISCENTE NO
CONTEXTO DA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA.
Caleidoscópio, v. 1, n. 6, p. 7-26, 2015.
SCOLLON, Ron. Plagiarism and ideology: Identity in
intercultural discourse. Language in Society, v. 24, n.
01, p. 1-28, 1995.
VASCONCELOS, S.M.R. Tendências. “O plágio na
comunidade científica: questões culturais e
linguísticas”. Ciência e Cultura, v. 59, n. 3, 2007.

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