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Educar para a Diversidade Religiosa:

Uma experiência pedagógica contra


a Islamofobia

Luciana Scheuer Brum


Professora de História da Rede Municipal de Ensino de
São José/ Santa Catarina
O que queríamos?
Promover na escola básica o debate sobre os perigos
da Intolerância Religiosa, a partir do estudo sobre as
experiências religiosas muçulmanas.

Analisar o fenômeno religioso do Islã e das


experiências religiosas de muçulmanas convertidas
ao Islamismo.
Espaço Pedagógico:

- Escola de Ensino Fundamental da Rede Municipal de São José/SC.


- Aulas da disciplina de História.
- Sujeitos envolvidos: estudantes das turmas do 7º ano do Ensino
Fundamental ( faixa etária entre 12 e 13 anos)
Desafios:

- Discursos da mídia: xenofobia e islamofobia


- Maturidade dos estudantes em relação a temática (??)
- Escola e Diversidade cultura religiosa: diálogo e conhecimento
- É aula de “Religião” ou aula de História? : currículo
Processos pedagógicos:
- Estudos sobre o processo de formação histórica do Islamismo
- Estudos sobre a experiência religiosa muçulmana
- Escolha dos sujeitos de pesquisa: mulheres brasileiras convertidas
ao Islamismo
- Expectativa da chegada: elaboração anterior de perguntas pelos
estudantes para o diálogo com as mulheres muçulmanas.
- Diálogo não proselitista: conversas e construção do bate papo.
Por que escolher as mulheres brasileiras
convertidas ao Islamismo?
Têm-se muitas informações contraditórias e, ao mesmo tempo,
carregadas de estereótipos, construindo-se um imaginário cultural
acerca da figura do muçulmano e da muçulmana e que sofre muitas
vezes atos de intolerância religiosa, discriminação e perseguição
religiosa.

A ideia preconcebida de que todos os muçulmanos e muçulmanas são


de origem árabe revela, em sua maior parte, um desconhecimento da
população em geral (e até mesmo alguns meios de comunicação social)
sobre a grande diversidade de povos e culturas que compõem a
comunidade islâmica ao redor do mundo.
Por que escolher as mulheres brasileiras
convertidas ao Islamismo?
Ÿ
Observa-se desde uma imagem fascinante de um “Oriente
sensualizado” através da figura da dançarina do harém, até a
representação da mulher oprimida e violentada.

Ÿ mulher muçulmana, ao transitar pelo espaço público, o afeta de


A
forma por vezes involuntária, pois sua simples aproximação,
especialmente em locais de maioria não muçulmana, com seus modos
de vestir e de ser quebram a rotina das comunidades onde se integram
e vivem.
Por que escolher as mulheres brasileiras
convertidas ao Islamismo?
Ÿ A distinção que o uso véu proporciona torna-se mais evidente
em um país como o Brasil de maioria cristã, apontando a diferença
entre uma mulher em relação às outras que não o usam e ao restante
do seu grupo que também utilizaria tipos de véus diferentes do seu. O
véu, além de ser um símbolo da religiosidade feminina, demarca a
diferença e fabrica a identidade de um grupo.
Enfim chegou o dia tão esperado...

Os diálogos com as muçulmanas ocorreram no dia 07 de


junho de 2017 no período vespertino, com a duração
aproximada de uma aula de 45 minutos.
Algumas falas...
“ Elas são mulheres que escolheram e optaram, por ser dessa religião o
Islã, e sendo assim, elas usam roupas ou trajes de sua religião, e usam
porque querem. Não são obrigadas a usar a roupa (mas devem usar em
respeito ao Islâ” ( Leonardo, 13 anos).

“... As muçulmanas sofrem preconceito na rua e no trabalho. Chamam


elas de ninja, mulher bomba, por causa do Islã e até chegaram a fazer
boletins de ocorrência”. (Nicolas, 12 anos).
Algumas falas...
“As muçulmanas não são reprimidas em relação aos homens (o que
geralmente é falado na mídia)”. (Fernanda, 12 anos).

“Essa aula foi muito diferente, com certeza uma das aulas de História
que mais gostei. Aprendi bastante coisas com a S.” (Eduardo, 13 anos).

“ Nós aprendemos que as mulheres muçulmanas não são terroristas…”


(Yuri, 12 anos)
Considerações:
Dar visibilidade à diversidade religiosa no contexto educacional é
necessário e urgente.

As identidades dos indivíduos ou dos grupos étnicos são dominadas,


distorcidas e ignoradas frente às culturas hegemônicas.

Educação intercultural: relação entre sujeitos culturais diferentes.

Promoção da reciprocidade, interação e intercâmbio nos currículos


escolares.
Referências:
AL-SHEHA, Abdurrahman. A Mensagem do Islam. São Paulo: FAMBRAS, [s.n].
AZIM, Sherif Abdel. A Mulher no Islam: mito e realidade. São Paulo: FAMBRAS, [s.n].
BALTA, Paul. Islã: uma breve introdução. Porto Alegre: L&PM, 2016.
BAUMAN, Zygmunt. Comunidad: en busca de seguridad en un mundo hostil. Argentina: Siglo XXI de
Argentina Editores, 2003.
______. Identidade: entrevista a Benedetto Vecchi. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2005.
CAMPOS, Emerson César de. Estrangeiros numa Ilha: Comunidade Árabe Islâmica em
Florianópolis(SC)(1991-2008). Anais do XXVI Simpósio Nacional de História – ANPUH, São Paulo, julho 2011.
• DEMANT, Peter. O mundo muçulmano. São Paulo: Contexto, 2015.
ESPINOLA, Cláudia Voigt. O véu que (des)cobre: etnografia da comunidade árabe muçulmana em
Florianópolis. Tese de doutorado em Antropologia Social .Florianópolis: UFSC, 2005.
• FERREIRA, Francirosy Campos Barbosa. Teatralização do sagrado Islâmico: a palavra, a voz e o
gesto. Religião e Sociedade, Rio de Janeiro, volume 29, 2009, p. 95-125.
• ______. Diálogos sobre o uso do véu (hijab): empoderamento, identidade e religiosidade.
Perspectivas, São Paulo, v. 43, p. 183-198, jan./jun. 2013, p. 183 a 198.
.HALL, Stuart. A identidade cultural na pós- modernidade. Rio de Janeiro: DP&A, 2004.
POZZER, Adecir; PALHETA, Francisco. Ensino religioso na educação básica: fundamentos epistemológicos e
curriculares. Florianópolis: Saberes em Diálogo, 2015.

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