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Direito Constitucional II

Prof. Rafael Oliveira


Advogado OAB/MG 81.275
UNIPAC
DIREITOS SOCIAIS

Direitos sociais são direitos fundamentais do


homem, caracterizando-se como verdadeiras
liberdades positivas, de observância
obrigatória em um Estado Social de Direito,
tendo por finalidade a melhoria de condições
de vida aos hipossuficientes, visando à
concretização da igualdade social, e são
consagrados como fundamentos do Estado
democrático, pelo art. 1.°, IV, da Constituição
Federal.
• Art. 6º São direitos sociais a
educação, a saúde, a alimentação, o
trabalho, a moradia, o transporte, o
lazer, a segurança, a previdência
social, a proteção à maternidade e à
infância, a assistência aos
desamparados, na forma desta
Constituição.
Assim, exige-se do Poder Público prestações
positivas (direitos de promoção ou direitos
prestacionais).
A implementação de tais direitos ocorre mediante
políticas públicas concretizadoras de certas
prerrogativas individuais e/ou coletivas, destinadas a
reduzir as desigualdades sociais existentes e a
garantir uma existência humana digna.
Todos os indivíduos são destinatários dos direitos
sociais, ainda que a finalidade principal desses
direitos seja a proteção dos hipossuficientes e dos
mais fragilizados, que são os maiores dependentes
das prestações materiais promovidas pelo Estado.
Efetividade dos Direitos Sociais

O custo de implementação e as limitações


orçamentárias do Estado farem com que os direitos
prestacionais (caráter positivo) tenham uma
efetividade menor que os direitos de defesa (caráter
negativo), pois, ainda que presente em todas as
espécies de direitos fundamentais, o “fator custo”
nunca se constituiu em um elemento impeditivo da
efetivação, pela via jurisdicional, desta última
espécie de direitos. É justamente neste sentido que
deve ser considerada a “neutralidade” econômico-
financeira dos direitos de defesa.
Judicialização de políticas sociais:

_ Contra: Argumenta-se, que a interferência do


Poder Judiciário nas demandas a serem priorizadas
por meio de políticas públicas seria antidemocrática
e incompatível com o princípio da separação dos
poderes, por significar uma usurpação de
competências do Legislativo e do Executivo. Em
razão da escassez de recursos orçamentários, a
escolha sobre quais direitos merecem ser
priorizados deveria recair sobre esses
representantes do povo eleitos democraticamente
para tal fim.
_ Favorável: Os direitos sociais, na
qualidade de direitos fundamentais,
possuem uma dimensão subjetiva,
conferindo aos cidadãos o direito de exigir
do Estado determinadas prestações
materiais.

Princípio da inafastabilidade da função


jurisdicional (CF, art. 5.°, XXXV).
A complexidade envolvendo os direitos
sociais e sua efetividade exige uma
análise específica e pontual desses
direitos, para que sejam encontradas
soluções adequadas à sua natureza e
enunciado, sempre tendo como diretriz-
guia o princípio da máxima efetividade.
Este impõe uma interpretação que confira
a maior eficácia social “possível” ao
direito em jogo, de modo a fazê-lo cumprir
a finalidade para a qual foi criado.
Reserva do possível: A reserva do possível
pode ser compreendida como uma limitação
fática e jurídica oponível, ainda que de forma
relativa, à realização dos direitos
fundamentais, sobretudo os de cunho
prestacional.
A reserva do possível apresenta uma tríplice
dimensão, abrangendo: a) a disponibilidade
fática; b) a disponibilidade jurídica; e, c) a
razoabilidade e proporcionalidade da
prestação.
Mínimo Existencial: O mínimo
existencial consiste em um grupo menor e
mais preciso de direitos sociais formado
pelos bens e utilidades básicas
imprescindíveis a uma vida humana
digna. Corrente majoritária entende que
engloba os direitos à saúde, educação,
assistência aos desamparados.
(alimentação, vestuário e abrigo) e
acesso à justiça.
Vedação de retrocesso social: A vedação de
retrocesso está diretamente relacionado ao
princípio da segurança jurídica, tendo em vista que
os direitos sociais, econômicos e culturais devem
“implicar uma certa garantia de estabilidade das
situações ou posições jurídicas criadas pelo
legislador ao concretizar as normas respectivas”.
Esta limitação é dirigida aos poderes encarregados
da concretização desses direitos, atuando no
sentido de impedir o legislador e o administrador
de extinguir ou reduzir uma determinada política
pública efetivadora dos direitos fundamentais
sociais.
No ordenamento jurídico brasileiro a
proibição do retrocesso pode ser
abstraída, dentre outros, do princípio da
dignidade da pessoa humana (CF, art. 1.°,
HI), do princípio da máxima efetividade
(CF, art. 5.°, § 1.°) e do princípio do
Estado democrático e social de direito
(CF, art. I.0).
Direitos Sociais em espécie:
Direito à moradia:
Em sua dimensão positiva, a moradia não se traduz,
necessariamente, no direito à propriedade imobiliária
ou nó direito de ser proprietário de um imóvel. A
limitação e escassez de recursos (reserva do
possível), infelizmente, impede que esse direito seja
implementado no grau máximo desejável. Seu
núcleo essencial inviolável, no entanto, confere aos
desamparados um direito subjetivo, exigível do
Estado, a ter pelo menos um abrigo no qual possam
se recolher durante a noite e fazer sua higiene diária
(mínimo existencial).
Em sua dimensão negativa, este direito protege a
moradia contra ingerências indevidas do Estado e de
outros particulares. De acordo com o entendimento
adotado pelo STF, a penhorabilidade do bem de
família do fiador do contrato de locação não ofende
o art. 6.° da Constituição, mas com ele se coaduna
por viabilizar o direito à moradia, facilitando e
estimulando o acesso à habitação arrendada,
constituindo reforço das garantias contratuais dos
locadores, e afastando, por conseguinte, a
necessidade de garantias mais onerosas, tais como
a fiança bancária.
Direitos individuais dos trabalhadores:

Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais,


além de outros que visem à melhoria de sua condição
social: (...)
No âmbito das relações de trabalho, os direitos
fundamentais decorrem dos valores liberdade e
igualdade e são voltados à proteção da integridade
física, psicológica e moral do trabalhador, a fim de lhes
assegurar uma existência digna. A Constituição de 1988
estabeleceu, em seu art. 7.°, uma série de direitos
sociais fundamentais protetivos dos trabalhadores em
suas relações individuais de trabalho.
Rol Exemplificativo.
A interpretação e apuração desses direitos devem
ser orientadas por alguns princípios, dentre os quais,
podem ser destacados: dignidade da pessoa
humana (CF, art. 1.°, Dl); valores sociais do trabalho
e da livre iniciativa (CF, art. 1.°, IV); valorização do
trabalho humano e justiça social (CF, art. 170);
busca do pleno emprego (CF, art. 170, VHI); e,
primado do trabalho como base da ordem social (CF,
art. 193). São destinatários dos direitos previstos
neste dispositivo os trabalhadores subordinados,
assalariados e que prestam pessoalmente serviços
de caráter permanente.
Trabalhador eventual ≠ Trabalhador
Temporário ≠ Trabalhador Autônomo, que
não são referidos pelo texto
constitucional, mas tão somente pela
legislação infraconstitucional.
Os trabalhadores domésticos são aqueles que
prestam serviços contínuos na residência de uma
pessoa ou família, em atividade sem fins lucrativos. São
direitos dos trabalhadores domésticos: Salário mínimo;
Jornada de Trabalho; Hora extra; Banco de Horas;
Remuneração de horas trabalhadas em viagem a
serviço;
Intervalo para refeição e/ou descanso; Adicional
noturno; Repouso semanal remunerado; Feriados Civis
e Religiosos; Férias; 13º salário; Licença-maternidade;
Vale-Transporte; Estabilidade em razão da gravidez;
FGTS - Fundo de Garantia do Tempo de Serviço;
Seguro-desemprego; Salário-família; Aviso prévio;
Relação de emprego protegida contra despedida
arbitrária ou sem justa causa.
Direito ao trabalho e à garantia de
emprego: O direito ao trabalho e à
garantia do emprego estão consagrados
nos dispositivos que protegem a relação
de emprego contra despedida arbitrária
ou sem justa causa (CF, art. 7°, I) e que
prevêem o seguro-desemprego (CF, art.
7.°, II), a fundo de garantia por tempo de
serviço (CF, art. 7.°, III) e o aviso prévio
(CF, art. 7.°, XXI).
Direitos sobre as condições de trabalho: Os
direitos sobre as condições de trabalho visam à
garantia de condições dignas para o exercício da
atividade laborativa sendo assegurados pelos
dispositivos que estabelecem: duração do
trabalho normal não superior a oito horas diárias
e quarenta e quatro semanais (CF, art. 7.°, XD3);
jornada de seis horas para o trabalho realizado
em turnos ininterruptos de revezamento (CF, art
7.°, XTV);45 redução dos riscos inerentes ao
trabalho (CF, art. 7.°, XXII); proibição de distinção
entre trabalho manual, técnico e intelectual (CF,
art 7.°, XXXII).
Direitos relativos ao salário:

Artigo 7º. (...)


IV - salário mínimo, fixado em lei,
nacionalmente unificado, capaz de atender a
suas necessidades vitais básicas e às de sua
família com moradia, alimentação, educação,
saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e
previdência social, com reajustes periódicos
que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo
vedada sua vinculação para qualquer fim;
V - piso salarial proporcional à extensão e à
complexidade do trabalho;
VI - irredutibilidade do salário, salvo o disposto
em convenção ou acordo coletivo;
VII - garantia de salário, nunca inferior ao
mínimo, para os que percebem remuneração
variável;
VIII - décimo terceiro salário com base na
remuneração integral ou no valor da
aposentadoria;
(...)
X - proteção do salário na forma da lei,
constituindo crime sua retenção dolosa;
XI – participação nos lucros, ou resultados,
desvinculada da remuneração, e,
excepcionalmente, participação na gestão da
empresa, conforme definido em lei;
(...) XVI - remuneração do serviço
extraordinário superior, no mínimo, em
cinquenta por cento à do normal;
XXIII - adicional de remuneração para as
atividades penosas, insalubres ou perigosas,
na forma da lei;
XXIX - ação, quanto aos créditos resultantes
das relações de trabalho, com prazo
prescricional de cinco anos para os
trabalhadores urbanos e rurais, até o limite de
dois anos após a extinção do contrato de
trabalho;
XXX - proibição de diferença de salários, de
exercício de funções e de critério de admissão
por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil,
XXXI - proibição de qualquer discriminação no
tocante a salário e critérios-de-admissão do
trabalhador portador de deficiência;
DECRETO Nº 8.618, DE 29 DE DEZEMBRO DE
2015 - DECRETA:
Art. 1º A partir de 1º de janeiro de 2016, o salário
mínimo será de R$ 880,00 (oitocentos e oitenta
reais).
Parágrafo único. Em virtude do disposto no caput, o
valor diário do salário mínimo corresponderá a R$
29,33 (vinte e nove reais e trinta e três centavos) e o
valor horário, a R$ 4,00 (quatro reais).
Art. 2º Este Decreto entra em vigor a partir de 1º de
janeiro de 2016.
Brasília, 29 de dezembro de 2015; 194º da Independência e 127º da República.
DILMA ROUSSEFF
Direitos relativos ao repouso e à inatividade do
trabalhador:

CF, art. 7.° ) (...)


XV - repouso semanal remunerado,
preferencialmente aos domingos;
XVII - gozo-de férias anuais remuneradas
com, pelo menos, um terço a mais do. que o
salario normal,
XVIII - licença à gestante, sem prejuízo do
emprego e do salário, com a duração de cento
e vinte dias;
XIX - licença-paternidade, nos termos
fixados em lei;
XXIV - aposentadoria;
XXVIII - seguro contra acidentes de
trabalho, a cargo do empregador, sem
excluir a indenização a que este está
obrigado, quando incorrer em dolo ou
culpa;
Direitos de proteção dos trabalhadores:

CF, art. 7.° _ (...)


XX - proteção do mercado de trabalho da
mulher, mediante incentivos específicos, nos
termos da lei;
XXVII - proteção em face da automação, na
forma da lei;
XXX - proibição de diferença de salários, de
exercício de funções e de critério de admissão
por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil;
XXXI - proibição de qualquer discriminação no
tocante a salário e critérios de admissão, do
trabalhador portador de deficiência,
XXXII - proibição de distinção entre trabalho
manual,-técnico e intelectual ou entre os
profissionais respectivos;
XXXIII - proibição de trabalho noturno, perigoso
ou insalubre a menores de dezoito e de qualquer
trabalho a. menores de dezesseis anos, salvo na
condição de aprendiz, a partir de quatorze anos;
XXXIV - igualdade de direitos entre o trabalhador
com vínculo empregatício permanente e o
trabalhador avulso.
Direitos relativos aos dependentes do
trabalhador:

CF, art. 7.° _ (...)


XII - salário-família pago em razão do
dependente do trabalhador de baixa renda nos
termos da lei;
XXV - assistência gratuita aos filhos e
dependentes desde o nascimento até 5,
(cinco) anos de idade em creches e pré-
escolas;
Direito de participação dos trabalhadores:

CF, art. 7.° _ (...)


XI - participação nos lucros, ou resultados,
desvinculada da remuneração, e,
excepcionalmente, participação na gestão da
empresa, conforme definido ,em lei;
Direitos coletivos dos trabalhadores:

Ao lado dos direitos dos trabalhadores


aplicáveis às relações individuais de trabalho
(CF, art. 7.°), a Constituição consagrou direitos
coletivos dos trabalhadores (CF, arts. 8.° ao
11), os quais compreendem a liberdade
sindical, o direito de greve, o direito de
substituição processual, o direito de
participação laboral e o direito de
representação na empresa.
Art. 8º É livre a associação profissional ou sindical,
observado o seguinte:
I - a lei não poderá exigir autorização do Estado para a
fundação de sindicato, ressalvado o registro no órgão
competente, vedadas ao Poder Público a interferência e
a intervenção na organização sindical;
II - é vedada a criação de mais de uma organização
sindical, em qualquer grau, representativa de categoria
profissional ou econômica, na mesma base territorial,
que será definida pelos trabalhadores ou empregadores
interessados, não podendo ser inferior à área de um
Município;
III - ao sindicato cabe a defesa dos direitos e interesses
coletivos ou individuais da categoria, inclusive em
questões judiciais ou administrativas;
IV - a assembléia geral fixará a contribuição que, em se tratando
de categoria profissional, será descontada em folha, para custeio
do sistema confederativo da representação sindical respectiva,
independentemente da contribuição prevista em lei;
V - ninguém será obrigado a filiar-se ou a manter-se filiado a
sindicato;
VI - é obrigatória a participação dos sindicatos nas negociações
coletivas de trabalho;
VII - o aposentado filiado tem direito a votar e ser votado nas
organizações sindicais;
VIII - é vedada a dispensa do empregado sindicalizado a partir
do registro da candidatura a cargo de direção ou representação
sindical e, se eleito, ainda que suplente, até um ano após o final
do mandato, salvo se cometer falta grave nos termos da lei.
Parágrafo único. As disposições deste artigo aplicam-se à
organização de sindicatos rurais e de colônias de pescadores,
atendidas as condições que a lei estabelecer.
O direito de greve pode ser exercido pacificamente
de variadas formas. Além do meio mais usual,
consistente em não trabalhar, pode haver trabalho
em ritmo lento (“operação tartaruga”), em período
inferior à jornada de trabalho, piquetes, passeatas
etc.
A Lei 7.783/89 dispõe sobre o exercício do direito de
greve, define as atividades essenciais, regula o
atendimento das necessidades inadiáveis da
comunidade, e dá outras providências. De acordo
com este diploma legal, para ser considerada
legítima, a suspensão total ou parcial de prestação
pessoal de serviços a empregador deverá ser:
coletiva, temporária e pacífica (Lei 7.783/89, art 2.°).
Foram assegurados aos grevistas, dentre
outros direitos: I) o emprego de meios
pacíficos tendentes a persuadir ou aliciar os
trabalhadores a aderirem à greve; e II) a
arrecadação de fundos e a livre divulgação do
movimento (Lei 7.783/89, art. 6.°).
Lei 7.783/89: Art. 10 São considerados serviços ou
atividades essenciais:
I - tratamento e abastecimento de água; produção e
distribuição de energia elétrica, gás e combustíveis;
II - assistência médica e hospitalar;
III - distribuição e comercialização de medicamentos e
alimentos;
IV - funerários;
V - transporte coletivo;
VI - captação e tratamento de esgoto e lixo;
VII - telecomunicações;
VIII - guarda, uso e controle de substâncias radioativas,
equipamentos e materiais nucleares;
IX - processamento de dados ligados a serviços essenciais;
X - controle de tráfego aéreo;
XI - compensação bancária.
Participação em colegiados de órgãos públicos:

Art. 10. É assegurada a participação dos


trabalhadores e empregadores nos colegiados dos
órgãos públicos em que seus interesses
profissionais ou previdenciários sejam objeto de
discussão e deliberação.

Art. 11. Nas empresas de mais de duzentos


empregados, é assegurada a eleição de um
representante destes com a finalidade exclusiva de
promover-lhes o entendimento direto com os
empregadores.

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