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Os Grupos na Perspetiva de Bion

Wilfred Bion
 Wilfred Ruprecht Bion nasceu na Índia no ano
de 1897
 Médico e psiquiatra, psicanalista de inspiração
kleiniana
 Início na Segunda Guerra Mundial
 Começou a interessar-se pelo estudo dos grupos
 No final da guerra, foi convidado para trabalhar na
Tavistock Clinic com grupos de terapia
 Bion preocupou-se em elaborar uma teoria psicanalítica
da génese do pensamento
 Apesar de apoiadas na sua vasta experiência como
analista, as concepções de Bion são complexas e
elaboradas de forma rigorosa
 Wilfred Bion, como seguidor atento de Melanie
Klein, desenvolveu alguns dos seus conceitos
tais como a expectativa inata do seio como
objeto de satisfação do bebé, o papel do afeto
envolvendo sentimentos como a ansiedade, a
inveja, o ódio, etc.
 O mérito de Bion só tardiamente foi
reconhecido pelo público, talvez porque na
época o kleinianismo não era muito bem aceite
pela comunidade científica e pelo facto do
número de psicanalistas interessados na
psicanálise associada aos grupos ser escasso.
 Descobriu um conjunto de conceitos e de
esquemas de interesse especificamente coletivo e
concernente às emoções de grupo.
 Wilfred Bion morreu em Inglaterra no mês de
Novembro de 1979 deixando uma obra
vastíssima.
Condições para um bom
funcionamento dos grupos
Objetivo comum
Tomada de consciência em comum por cada um
dos membros, dos limites do grupo, da sua
função e posição em relação com os membros
de unidades ou grupos mais numerosos
A capacidade do grupo para integrar novos
membros ou se separar de outros sem perder a
sua individualidade de grupo. O “carácter” do
grupo deve ser flexível
Ausência de subgrupos internos com limites
rígidos, ou seja, exclusivos. A importância do
sub – grupo no funcionamento do grupo deve
ser reconhecida.
Cada membro do grupo é importante por aquilo
que traz ao grupo e pode mover-se livremente
no grupo. Os únicos limites à sua liberdade de
movimento, são constituídos pelas condições
escolhidas e impostas pelo grupo.
 O grupo deve ser capaz de fazer face ao
descontentamento dentro do grupo e encontrar
meios de o ultrapassar
 O grupo deve ser constituído por três membros
no mínimo
Mentalidade e Cultura do
Grupo
A mentalidade do grupo constitui o fundo
comum onde são depositadas as contribuições
anónimas e graças à qual as pulsões e os desejos
que estas contêm podem ser satisfeitos
A mentalidade do grupo permite ao indivíduo
exprimir os seus pensamentos de maneira
anónima e ao mesmo tempo constitui o
obstáculo principal para obter aquilo que deseja
obter aderindo ao grupo
A cultura do grupo compreende a estrutura do
grupo num dado momento, as suas ocupações e
a sua organização.

Aquilo que o indivíduo diz ou faz num grupo


esclarece simultaneamente a sua própria
personalidade e a sua perceção do grupo
O grupo é o lugar da interação entre as
necessidades do indivíduo, a mentalidade do
grupo e a sua cultura.
Níveis dos grupos
Vida de um grupo
 O nível emocional - Grupo de base
 O nível racional - Grupo de trabalho
 Na isomorfia do grupo e do indivíduo, o grupo
de base funciona no registo dos “processos
primários”
 O grupo de base recusa-se a aprender com a
experiência e apresenta uma recusa agressiva a
um processo de desenvolvimento
 A participação no grupo de base é instantânea,
inevitável e instintiva
 Quaisquer que sejam as diferenças de cultura,
língua e tradição, qualquer grupo humano
compreende instantaneamente ao nível das
hipóteses de base qualquer outro grupo
O grupo é a-temporal e falta-lhe na linguagem a
capacidade para gerar e utilizar símbolos com a
falta de precisão e de impacto que isso ocasiona
Supõe a existência de um líder que tanto pode ser
uma pessoa como uma ideia ou um objeto.
As emoções que lhe estão associadas são da ordem
da ansiedade, medo, ódio, amor
O grupo de base apresenta características arcaicas de
funcionamento, quer ao nível do tipo de angústia
presente, quer ao nível dos mecanismos de
defesa, próprios das posições esquizo-
paranoides e depressiva (Melanie Klein)
A Valência é a disposição do indivíduo para entrar
em combinação com o
resto do grupo para estabelecer as hipóteses de
base e se conformar a elas
 O grupo de base funciona num nível irracional,
inconsciente e irrealista. A atividade mental é
instantânea e instintiva.
 Explica a espontaneidade na compreensão dos
sentimentos dos membros do grupo.
Os grupos podem apresentar três estruturas,
culturas ou "hipóteses de base":
 Ataque–fuga

 Dependência

 Acasalamento
Na cultura do ataque – fuga o líder é solicitado
como "pai perigoso" ou como "bebé".
O grupo comporta-se como se não pudesse
subsistir sem lutar contra um perigo difuso ou
fugir dele.
O líder oferece oportunidades ao grupo de fuga
ou de agressão.
Ex: líder que não dá segurança, ou grupo com
ideais diferentes.
Na cultura da dependência uma das características
exigidas do líder é que seja ou se comporte
como "mágico".
Quando o grupo se une é para ser protegido por
uma pessoa que tem a função de garantir a
segurança de um organismo imaturo e de
fornecer o alimento material e espiritual.
Na cultura do acasalamento o "líder" "está para
nascer"
O grupo comporta-se na ordem do amor e da
esperança.
O grupo forma pares e relações de intimidade no
seio do grupo.
Expectativa de que o “salvador” que nascer será
capaz de transformar o grupo, de o arrancar da
destruição e do desespero.
O grupo vive no registo do religioso, e
os fiéis da religião do grupo, quer estejam em
rebelião ou não continuam como "fiéis" no seu
quotidiano. O seu tipo é o Messias.
 Estas “hipóteses de base” estão relacionadas
com a vida afetiva dos grupos.
 A atitude racional é compreender.
 A atitude emocional / afetiva é a de recusar a
experiência.
 Há tensão nos 2 planos e tanto maiores quanto
mais ignorem estas forças.
 A solução é através da elucidação e interpretação
dos processos afectivos subjacentes e que os
sujeitos devem de aprender progressivamente a
identificar e a tolerar.
 Quando o líder consegue mobilizar as emoções
associadas às hipóteses de base sem ameaçar a
estrutura racional do grupo há um certo
equilíbrio e o grupo é capaz de cooperar
eficazmente.
Na isomorfia do grupo e do indivíduo, o grupo de
trabalho funciona no registo dos “processos
secundários”
O grupo de trabalho exprime a necessidade do seu
desenvolvimento, não se repousando sobre a
eficácia da magia.
 O grupo de trabalho funciona em um nível
consciente, o das tarefas, tem uma relação direta
com a realidade.
 A atividade pressupõe uma aprendizagem, é
normalmente facilitada por uma estrutura
institucional e diversos sistemas de controle
aceites pelos membros.
É consciente do valor dos métodos
racionais ou científicos na elucidação dos
problemas
Reconhece a validade da aprendizagem
pela experiência e funciona no plano da
realidade com uma organização e uma estrutura
utilizando preferencialmente as trocas verbais
Bion postulou:

 O grupo precede ao indivíduo, as origens da


formação espontânea de grupos têm suas raízes
no grupo primordial;
 Os supostos básicos antes aludidos representam
um atavismo do grupo primitivo que está
inserido na mentalidade e na cultura grupal;
 A cultura grupal consiste na permanente
interação entre o indivíduo e o seu grupo;
 No plano transubjetivo, este atavismo grupal
aparece na forma de mitos grupais;
 Organização da cultura, através da instituição de
normas, leis, dogmas, convenções e um código
de valores morais e éticos;
 O modelo de Bion propôs para a relação que o
indivíduo tem com o grupo é o da relação
continente-conteúdo, o qual comporta três tipos:
parasitário, comensal e simbiótico;
 A estruturação de qualquer indivíduo requer a
sua participação em grupo.

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