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Instituto Superior de Teologia Aplicada -

Faculdades INTA

O TEXTO COMO MODELO DE


EXPERIÊNCIA ESTÉTICA: SENSAÇÃO OU
PERCEPÇÃO?
HUGO MARI

Disciplina: Estética da Comunicação


Semestre 2014.2
Professor: Me. Emanoel Pedro

Sobral - 2014
DUALISMO: CORPO X MENTE

Experiência estética diante de dois movimentos


essenciais para a compreensão humana:

- “de um lado nos situamos diante dos fatos que


são captados pelas sensações [...]”;

- “[...] de outro avançamos sobre aquilo que nos


provê a percepção” (p. 131)
DUALISMO: CORPO X MENTE
 Corpo  Mente

 sensação  percepção
 afecção  compreensão
 afeto  cognição
 subjetividade
X  objetividade
 acidental  essencial
 mutável  imutável
 cultural  natural
DUALISMO CORPO X MENTE?
 “A contraposição entre os termos não é por si
evidente, já que estaríamos longe de delimitar
tudo aquilo que decorre apenas de sensação
daquilo que emerge da nossa percepção [...]”;

 “[...] as duas dimensões formam, com certeza, um


contínuo e a sua separação se deve à necessidade
que temos de isolar certos fatos, do ponto de vista
metodológico” (p. 131)
DUALISMO CORPO X MENTE?
 Mas:

 “[...] existem fatos que consideramos afeitos aos


movimentos do corpo – as sensações – e outros
que consideramos como decorrentes de uma
elaboração sobre as sensações e que são
representados por movimentos da mente, isto é, a
percepção” (p. 131)

 Exemplos:
 o cheiro – sensação

 a memória – percepção
CONTINUUM MENTE-CORPO/SENSAÇÃO-PERCEPÇÃO

 Sensação

Percepção

“Embora apontadas como movimentos distintos, sensação e


percepção estão integradas num esforço cognitivo que nos conduz
ao conhecimento” (p. 131)
A ESTÉTICA NO CONTINUUM SENSAÇÃO-PERCEPÇÃO

 Se tivéssemos, por um critério metodológico, de


isolar a experiência estética, em qual dimensão
(sensação, percepção) a situaríamos?

 Ou ambas as dimensões são responsáveis por


produzir uma experiência estética?
A ESTÉTICA NO CONTINUUM SENSAÇÃO-PERCEPÇÃO
A ESTÉTICA NO CONTINUUM SENSAÇÃO-PERCEPÇÃO

 “[...] de que recursos textuais dispomos, como


leitores, para dizer que uma experiência de
leitura se traduz como estética? Além do mais,
como conduzimos esta experiência quando o
suporte desta leitura é um jornal?” (p. 132)
A ESTÉTICA NO CONTINUUM SENSAÇÃO-PERCEPÇÃO

 “Ali andavam entre eles três ou quatro moças, bem novinhas e


gentis, com cabelos muito pretos e compridos pelas costas; e suas
vergonhas, tão altas e tão cerradinhas e tão limpas das cabeleiras
que, de as nós muito bem olharmos, não se envergonhavam (ou: não
nos envergonhamos)”. Carta de Pero Vaz de Caminha (fragmento)

As meninas da gare
Eram três ou quatro moças bem moças e bem gentis
Com os cabelos mui pretos pelas espáduas
E suas vergonhas tão altas e tão saradinhas
Que de nós as muito olharmos
Não tínhamos nenhuma vergonha
(Oswald de Andrade)
MAÇÃ

Por um lado te vejo como um seio murcho


Pelo outro como um ventre de cujo umbigo pende ainda o cordão placentário
És vermelha como o amor divino
Dentro de ti em pequenas pevides
Palpita a vida prodigiosa
Infinitamente
E quedas tão simples
Ao lado de um talher
Num quarto pobre de hotel.
Manuel Bandeira

 “A maçã é o pseudofruto pomáceo da macieira, árvore da família Rosaceae. É


um dos pseudofrutos de árvore mais cultivados, e o mais conhecido dos
muitos membros do género Malus que são usados pelos seres humanos. As
maçãs crescem em pequenas árvores, de folha caducifólia que florescem na
Primavera e produzem fruto no Outono”. (Wikipédia)
DUAS DIFICULDADES INICIAIS

 1) Tudo é ou pode ser considerado estético?

 Diante da quantidade de informação e da sua


diversidade, a experiência estética tem de ser
seletiva, já que nem tudo é estético.

 Os nossos olhos podem se demorar sobre


determinados aspectos de um texto, mas nem
todos os aspectos considerados em um texto
carregam em si a qualidade de estético.
DUAS DIFICULDADES INICIAIS

 2) Que critério nos permite reconhecer que algo é


estético ou não?

 “O estético pode vir por um arrebatamento


imediato, mas também por uma decantação dos
processos da consciência” (p. 134);

 Podemos ser levados pela sensação, assim como


podemos usar a percepção, ou seja, podemos ser
intuitivos ou interpretativos diante dos objetos
estéticos.
DUAS DIFICULDADES INICIAIS
 Somos todos egoístas. Só pensamos no que nos afeta e incomoda,
mesmo que o outro esteja sofrendo mais. Nossa dor é sempre maior
do que a do outro.

 DOS NOSSOS MALES

A nós bastem nossos próprios ais,


Que a ninguém sua cruz é pequenina.
Por pior que seja a situação da China,
Os nossos calos doem muito mais...

Mario Quintana
O MORTO
Eu estava dormindo e me acordaram
E me encontrei, assim, num mundo estranho e
louco...
E quando eu começava a compreendê-lo
Um pouco,
Já eram horas de dormir de novo.
Mario Quintana
CONSOADA
Quando a Indesejada das gentes chegar
(Não sei se dura ou caroável),
talvez eu tenha medo.
Talvez sorria, ou diga:
- Alô, iniludível!
O meu dia foi bom, pode a noite descer.
(A noite com os seus sortilégios.)
Encontrará lavrado o campo, a casa limpa,
A mesa posta,
Com cada coisa em seu lugar.
Manuel Bandeira
 “Esta é a expectativa que temos para o conceito de
estético: efeitos de sentido que derivamos de certos
textos, para além do seu teor informacional, do seu
caráter de prestação de serviços, do seu teor
avaliativo-descritivo imediato” (p. 134).

 “ Um editorial pode prestar um serviço a uma


comunidade, quando faz uma avaliação crítica de
um fato, mas pode também fazer dele uma paródia;
uma reportagem informa fatos, mas nem sempre é
tão isenta a ponto de não deixar escapar ironias;
uma charge informa criticamente, mas também
diverte o leitor” (p. 134)
PERCEPÇÃO E RACIONALIDADE: EXPERIÊNCIA COM O TEXTO

“[...] o estético deve ser pensado como uma forma de


cognição depurada, pois não saberíamos apontar
alguma experiência humana que não representasse
uma padrão de reconhecimento” (p. 134)

A atividade com textos jornalísticos, longe de se


limitar a uma abordagem que só prioriza o
conteúdo informativo de um texto, deve responder a
uma experiência significativa de descoberta dos
seus efeitos de sentido.
ANÁLISES
 DA ETERNA PROCURA
Só o desejo inquieto, que não passa,
Faz o encanto da coisa desejada...
E terminamos desdenhando a caça
Pela doida aventura da caçada.
Mario Quintana
 DEBAIXO D'ÁGUA Debaixo d'água ficaria para sempre,
Debaixo d'água tudo era mais bonito ficaria contente
Longe de toda gente, para sempre no
Mais azul, mais colorido
fundo do mar
Só faltava respirar Mas tinha que respirar
Mas tinha que respirar Todo dia

Debaixo d'água, protegido, salvo,


Debaixo d'água se formando como um
fora de perigo
feto
Aliviado, sem perdão e sem pecado
Sereno, confortável, amado, completo Sem fome, sem frio, sem medo, sem
Sem chão, sem teto, sem contato com vontade de voltar
o ar Mas tinha que respirar
Mas tinha que respirar
Debaixo d'água tudo era mais bonito
Todo dia Mais azul, mais colorido
Só faltava respirar
Debaixo d'água por encanto sem Mas tinha que respirar
sorriso e sem pranto Todo dia
Sem lamento e sem saber o quanto
Arnaldo Antunes
Esse momento poderia durar
Mas tinha que respirar
PERCEPÇÃO E RACIONALIDADE: EXPERIÊNCIA COM O TEXTO

 “Entendo por experiência significativa a


apropriação do seu sentido, a necessidade de
podermos dispor de uma compreensão racional de
todas as suas etapas” (p. 135)

 “[...] é possível que muitos efeitos sejam


alcançados por todos, mas é pouco provável que
todos tenham o mesmo alcance” (p. 137)
 Análise de reportagem de Veja, do dia 25 de maio
de 2005, “Diga-me com quem anda...”.
 Link:
(http://veja.abril.com.br/250505/p_038.html).
OBSERVAÇÕES FINAIS
 No que concerne à distinção entre sensação e
percepção, “[...] é possível supor que alternamos
entre estes estados no domínio do estético: há
fatos que saltam à vista, há outros, porém, com
um custo cognitivo maior” (p. 143);
 “Aqui destacamos a percepção por ser ela a
dimensão de um fazer consciente que possibilita,
na dimensão da análise apontada, o exercício
pleno dos códigos fundamentais e de outros níveis
possíveis para a sua reconstrução” (p. 143)
OBSERVAÇÕES FINAIS
 “É possível que leitores diferentes passem pelos
textos discutidos sem uma preocupação
fundamental de ‘vasculhar’ a sua forma de
organização e detenha-se apenas naquilo que sua
superfície oferece de imediato. Nada a estranhar
neste fato: os leitores são muito diferentes em
qualquer parâmetro que viermos a submetê-lo em
avaliação” (p. 144)

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