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Edmund

Husserl

1859-1938
Edmund Husserl e a sua
época
Atmosfera anti-metafísica, positivista,
tendo as ciências naturais como modelo.
Fragmentação das correntes filosóficas
com tendências irracionalistas, místicas,
relativistas e céticas.
A fenomenologia nasce como teoria do
conhecimento, com pretensão de se
tornar um método crítico para a filosofia,
recusando a ingenuidade da posição
realista do conhecimento.
Crítica ao objetivismo nas ciências
humanas nascentes
• Crítica da psicologia (do psicologismo) e
de sua intenção de explicar as idéias
como resultados das percepções dos
objetos externos: Posição naturalista na
qual cessa a dualidade entre sujeito e
objeto – a atividade do primeiro sendo
reduzida em função do segundo
(objetivismo)
Crítica ao subjetivismo
• No outro extremo, críticas às filosofias idealistas
que reduzem o objeto ao sujeito:
• Descartes: o cogito como única certeza
indubitável. Questões: 1.o acesso ao mundo
exterior, à res extensa. 2. o solipsismo.
• Kant: o fenômeno como constituído pelo sujeito
a partir das estruturas a priori, e a
inacessibilidade à coisa em si (separação
fenômeno-essência)
Questão de Husserl
• Como é possível o conhecimento
científico, o conhecimento apodítico
(necessário e universal), se a posição
realista é ingênua e a posição idealista
abandona o objeto?
• Como conciliar a essência das coisas com
a atividade subjetiva que a enuncia?
O que a fenomenologia quer criticar:

. A atitude natural: realismo ingênuo (verdade como


representação adequada do objeto) Cisão sujeito- objeto
com ênfase no objeto (objetivismo). Atitude própria do
homem comum e do cientista que não problematiza a
questão do conhecimento, identificando existência e
sentido como sendo a mesma coisa.
• A atitude filosófica insuficiente:
– Descartes: crítica metódica que desloca a certeza apenas para
o “eu penso”
– Hume: crítica radical que leva ao ceticismo na medida em que
questiona a própria unidade do sujeito e do objeto.
– Historicismo das ciências do espírito do séc XIX (Dilthey).
Questão: relativismo epistemológico.
Fenomenologia: o retorno às
coisas mesmas
• Fenomenologia : ciência do fenômeno.
• Mas o que é fenômeno para Husserl? O
fenômeno é a coisa mesma, a vivência da
consciência que é a única coisa que se dá de
forma evidente, de corpo presente.
• O fenômeno em Husserl se diferenciar do
fenômeno de Platão e de Kant (separação entre
essência e fenômeno), do fenomenismo de
Hume (não ultrapassa o sensível, não dá
unidade as sensações) , da fenomenologia de
Hegel (por conta da pretensão de um
conhecimento absoluto, metafísico).
Obra do autor

• 1) Período essencialista

• 1891- Filosofia da aritmética: intenção inicial de


fundamentar o conhecimento matemático na psicologia.
• 1901-1902- Investigações lógicas: anti-psicologismo,
por causa do risco do relativismo e subjetivismo.
Afirmação da independência das leis lógicas em relação
ao sujeito psicológico. Reconhecimento de leis e
princípios universais, "verdades em si" no campo da
matemática e da lógica, que não dependem do sujeito.
Lógica como fundamento do conhecimento, e da própria
psicologia.
Investigações lógicas
• A essência é um objeto da consciência como qualquer
outro, distingue-se como invariante da multiplicidade das
representações subjetivas. (noção de abstração
idealizadora ou ideação, que é a apreensão do núcleo
essencial, através da "variação eidética" ).
• A intuição categorial (da essência) é fundada no
sensível, mas não se restringe ao sensível.
• Na 5a Investigação: a intencionalidade da consciência:
"Os fenômenos não nos aparecem, são vividos". Com
isso se define a esfera fenomenológica, que a princípio
ele chama de gnoseológica.
A esfera fenomenológica
• A esfera fenomenológica, da vivência da
consciência, é a única certeza indubitável,
a única evidência indiscutível, uma
intuição originária. Para se chegar à ela, é
preciso colocar em suspenso tanto o
mundo real natural quanto o sujeito
psicológico, como sendo sem evidência
apodítica: “epoché”
A consciência constitutiva
• "Fenômeno não é o que acontece, é o
vivido da consciência".
• "O fenômeno é a consciência, enquanto
fluxo temporal de vivências, e cuja
peculiaridade é a imanência e a
capacidade de outorgar significado às
coisas externas” (Investigações lógicas)
O eu transcendental
• Questão ao final das Investigações: É
possível tratar do fluxo dos vividos e de
sua unidade, sem os referir a um eu puro,
não empírico, como fundamento?
• 2) Idealismo transcendental

• 1907- A idéia da fenomenologia


• 1911- A filosofia como ciência de rigor
• 1913- Idéias diretrizes para uma fenomenologia pura
• 1929- Lógica formal e lógica transcendental
• 1929- Meditações cartesianas
• 1933 – tomada do poder pelos nazistas. Afastamento
dele e do filho da Universidade de Friburgo. Depois são
reconduzidos ao cargo, mas Husserl é substituído por
Heidegger na reitoria da universidade de 1933-34.
Noésis e noema
• A consciência constitui (noésis) o objeto de
conhecimento (noema).
• A noésis é a atividade da consciência que se dá
através das sínteses entre as diversas
vivências, configurando o objeto como uma
totalidade.
• Os modos ou vivências da consciência: a
percepção, a recordação, a imaginação, a
volição, etc, através das quais a consciência
visa o mundo.
• A constituição é um processo, uma operação da consciência
que unifica os elementos designando um
• objeto. Os elementos são materiais ou hiléitcos (hylé=
matéria) tais como a cor, dureza, textura, etc, que se
apresentam no espaço em perspectivas e no tempo. O
tempo exerce uma primeira síntese unificadora.
• Mas essa unificação depende de algo anterior que unifique a
própria dispersão temporal. Esse algo é o "eu puro", ou "eu
transcendental“.
• O elemento formal desse processo de constituição é a
intencionalidade da consciência. A intencionalidade parte do
eu e invade os dados materiais, unificando-os e constituindo
o objeto significado. Essa vivência subjetiva da constituição
é a nóesis, e a designação do objeto é o nóema.
A intencionalidade da consciência
• Intenção: é o modo como a consciência
visa o objeto.
• Intuição: é o preenchimento de uma
intenção (que pode se dar ou não)
• Evidência: é o preenchimento indubitável,
mais adequado possível de uma intenção
por uma intuição. (embora isso seja uma
espécie de idéia reguladora, que nunca
acontece completamente)
O retorno à coisa mesma
• “A evidência é um modo de consciência
de uma distinção particular. Nela, uma
coisa, um estado de coisa, uma
universalidade, um valor, etc, se
apresentam eles mesmos, se oferecem e
se dão em pessoa. Nesse modo final, a
coisa está presente ela mesma, dada na
intuição imediata.” (Husserl: Meditações
cartesianas)
A evidência
• Ela designa por conseguinte um caráter fundamental e
essencial da vida intencional em geral. Toda consciência
em geral é, ou bem ela mesma evidente, quer dizer, tal
quando o objeto intencional é ele-mesmo a ela "dado", ou
bem ela é, de acordo com sua essência, levada às
evidências presentificando o objeto "ele mesmo",
portanto, as sínteses de confirmação e de verificação. À
toda consciência vaga se pode, na atitude
fenomenológica, colocar esta questão: o objeto da
intenção lhe corresponde ou pode lhe corresponder no
modo dele mesmo, estando a identidade do objeto
salvaguardada? E em que medida isso se dá? Ou ainda,
em outros termos, que aspecto tomaria o objeto visado,
se ele se apresentasse "ele mesmo"? No processo de
verificação confirmante, este pode ser negado. No lugar
do objeto visado ele mesmo, pode aparecer um outro
objeto, a primeira intenção fracassa assim na sua posição
do objeto e este ganha, por seu turno, o caráter de "não-
existência". (Husserl: Meditações cartesianas)
Fenômeno e essência
• Nesta constituição, a intuição da essência significa o
sentido ideal que nos permite captar um dado fenômeno
individual (p.ex. um som de um instrumento como "som",
um móvel de design novo como "cadeira", etc).
• A essência é o modo típico de dar-se de um
fenômeno.
• Esta intuição da essência diz respeito a uma dada
vivência, constituindo-se juntamente fenômeno e
essência. Ou seja, sempre há uma intuição da essência
na qual se encaixa uma primeira vivência. No entanto, à
medida em que se dá esta síntese noética, altera-se
também a essência. Em suma, há tantas essências
quantas significações nós fazemos no processo de
constituição do objeto.
A relação sujeito- objeto
• Não existe uma consciência e objetos isolados,
mas apenas relacionados entre si, numa
dependência recíproca dos dois pólos:
"Consciência de" e "objeto para“.
• A questão se desloca da possibilidade da
relação entre a res cogitans e a res extensa,
para a questão do sentido do mundo para o
sujeito.
• A fenomenologia não pergunta pela existência
do mundo, mas pelo seu sentido.
Ego cogito cogitata
• Descartes e o ego cogito pensado como
substância pensante
• Husserl e o ego cogito cogitata: o pensamento e
os seus pensados, a consciência que se volta
necessariamente para o mundo como atividade
intencional: “O termo ‘intencionalidade’ não
significa outra coisa que esta propriedade
fundamental e universal da consciência que
consiste em ser ‘consciência de algo’, em levar
em si mesma, em sua qualidade de cogito, seu
cogitatum.” (Husserl: Meditações cartesianas)
A realidade transcendente
• Não se pode afirmar nada da consciência
psicológica nem do mundo exterior (ambos são
chamados transcendentes, exteriores à esfera
fenomenológica).
• Eles são então colocados em suspenso
(epoché=suspensão, termo grego dos céticos
da antiguidade), ou entre parêntesis. Não se
trata de negá-los, mas de afirmá-los fora do
alcance do conhecimento.
A esfera transcendental
• “A existência natural do mundo – do mundo do
qual eu posso falar – pressupõe, como uma
existência em si anterior, aquela do ego puro e
de suas cogitações. O domínio da existência
natural só tem então uma autoridade de
segunda ordem e pressupõe sempre o domínio
transcendental. É por isso que o ponto de
partida fenomenológico fundamental, isto é, a
epoché transcendental, na medida em que ela
nos leva a seu domínio original, se chama
redução fenomenológica transcendental.”
(Husserl: Meditações cartesianas)
Fenomenologia como idealismo
transcendental
• A fenomenologia como idealismo
transcendental (não é idealismo no
sentido ontológico, mas no sentido
epistemológico e metódico de constituir o
sentido das coisas): mudança no sentido
de essência: essência não mais como o
que constitui o ser, mas como o que
constitui o seu sentido, o seu significado
para o sujeito.
A redução fenomenológica
transcendental
• Redução fenomenológica: é a redução do
mundo a fenômeno
• Redução transcendental: a redução
fenomenológica nos leva à apreensão do
resíduo fenomenológico, que é o eu puro
ou o eu transcendental, como polo
unificador das vivências da consciência.
A fenomenologia como ciência das
essências
• Para a fenomenologia, o que interessa não é a
análise de um dado individual, mas da essência.
(ex: não interessa a análise de uma norma
moral, mas compreender porque uma norma é
moral, e não jurídica)
• Questão: enquanto ciência das essências, a
fenomenologia é realista (trata-se de perceber,
intuir a essência), ou idealista (constituir a
essência)? Husserl inclina-se para a segunda, e
considera a fenomenologia como um “idealismo
transcendental”.
A fenomenologia frente ao
solipsismo
• Mas então como garantir a universalidade
do conhecimento, se este é
subjetivamente constituído?
• Pela intersubjetividade – pelo mundo da
vida.
O “eu” como pólo idêntico dos
“estados vividos”

• “Só tratamos até o momento de um único lado


dessa constituição de si mesmo: dirigimos
nosso olhar apenas para a corrente do “cogito”.
O ego não percebe a si mesmo unicamente
como a vida que transcorre, mas também como
eu, eu que vive isso ou aquilo, eu idêntico que
vive tal ou tal cogito.” (Husserl: Meditações
cartesianas)
O “eu” , substrato dos “habitus”
• É preciso notar, no entanto, que esse eu central não é um pólo de
identidade vazia; com qualquer ato que ele efetue e que tem um
sentido objetivo novo, o eu adquire uma nova propriedade
permanente. Se me decido, por exemplo, pela primeira vez, num ato
de julgamento, pela existência de um ser e por esta ou aquela
determilnação desse ser , esse ato passa, mas eu sou e permaneço
daqui por diante um eu que decidiu desta ou daquela maneira.[...]
• Constituindo a si mesmo, como substrato idêntico de suas
propriedades permanentes, o eu se cosntitui posteriormente como
um eu-pessoa permanente. E mesmo se, em geral, as convicções
são apenas relativamente permanentes, mesmo se elas têm suas
maneiras de se trnasformar (as posições ativas modificam-se: elas
são riscadas, negadas, seu valor é reduzido a nada), o eu, no meio
dessas transformações, mantém um “estilo” constante, um “caráter
pessoal”. (Husserl: Meditações cartesianas)
A plenitude completa do “eu” como
mônada

• Do eu, pólo idêntico e substrato dos habitus, distinguimos


o ego, tomado em sua plenitude concreta (que vamos
designar pelo leibniziano de mônada), acrescentando ao
eu-pólo aquilo sem o qual ele não poderia existir
concretamente. Sobretudo, ele não poderia ser um “eu”
de outra forma que não fosse na corrente multiforme de
sua vida intencional e dos objetos assumidos por ela,
constituindo-se eventualmente como existente para esta.
O caráter de existência e de determinação permanentes
desses objetos é manifestamente um correlado do
habitus correspondente, que se constitui no eu-pólo. [...]
Eu sou, numa experiência evidente, constantemente
dado como eu mesmo. (Husserl: Meditações cartesianas)
O outro
• “Dando uma rápida olhada nisso que nos é
apresentado como “mundo”, como “universo”
existente em nós- em mim – ego que medita –
não pudemos evitar de pensar nos “centros
monádicos” e em sua constituição. Por
intermédio das mônadas estrangeiras,
constituídas em meu próprio eu, forma-se para
mim o mundo comum a todos nós. Isto implica a
existência de uma filosofia comum a todos nós,
que meditamos em comum, uma philosophia
perennis.” (Husserl: Meditações cartesianas)
Os outros como alter-egos
• “Eu percebo os outros – e os percebo como realmente
existentes – em uma série de experiências às vezes
concordantes, às vezes variáveis; e , de uma parte, os
percebo como objetos do mundo. Não como simples
coisas da natureza, se bem que eles o sejam de alguma
forma também. Os outros se dão igualmente na
experiência como reagindo psiquicamente os corpos
fisiológicos que lhes pertencem. Ligados assim aos
corpos de maneira peculiar, “objetos psico-fisicos”, eles
estão no mundo. Por outro lado, eu os percebo, ao
mesmo tempo, como sujeitos para este mesmo mundo
que eu percebo – e que têm a experiência de mim,
como eu tenho a experiência deles.” (Husserl:
Meditações cartesianas)
A constituição intersubjetiva do
mundo
• A unidade de sentido “mundo objetivo” se
constitui, em vários graus, com base no meu
mundo primordial. É preciso inicialmente por em
relevo o plano da constituição do outro ou dos
outros em geral, ou seja, os egos excluídos do
ser concreto “que me pertence”. Junto com essa
“colocação em relevo”, e motivado por ela, um
outro sentido se superpõe, de maneira geral, ao
“mundo” primordial; esse último torna-se, dessa
forma, “fenômeno de um mundo objetivo”
determinado, mundo uno e idêntico para
qualquer um, inclusive eu mesmo.
O nós transcendental
• Em suma, é uma comunidade de mônadas e,
notadamente, uma comunidade que constitui
(por sua intencionalidade constituinte comum)
um único e mesmo mundo. A intersubjetividade
transcendental possui, graças a essa colocação
em comum, uma esfera intersubjetiva de
vinculação, em que ela constitui de maneira
intersubjetiva o mundo objetivo, ela é, dessa
forma, na qualidade de um “nós transcendental”,
sujeito para esse mundo e também para o
mundo dos homens, forma sob a qual esse
sujeito se realiza ele próprio como objeto.
O mundo da vida
• “Mundo circundante (Umwelt) é um conceito que
tem seu lugar exclusivamente na esfera
espiritual. Que nós vivemos em nosso
respectivo mundo circundante, ao qual estão
dirigidas todas as nossas preocupações e
esforços, designa um fato que sucede
puramente no plano espiritual. Nosso circum-
mundo é uma formação espiritual (ein geistiges
Gebilde) em nós e em nossa vida histórica.”
(Husserl: A crise da humanidade européia e a
filosofia)
A ciência positivista
• “A exclusividade com a qual, na segunda
metade do século XIX, toda a visão de
mundo do homem moderno se deixou
determinar pelas ciências positivas e se
deixou ofuscar pelo “prosperidade” a elas
devida, significava um alheamento
indiferente aos problemas decisivos para
uma humanidade autêntica. Meras
ciências de fatos fazem meros homens de
fatos.”
A desvinculação ciência-vida
• “Na angústia de nossa vida – assim ouvimos –
essa ciência nada tem a nos dizer. Justamente
as questões que ela exclui por princípio, são as
mais candentes para os homens de nossa
desventurada época: os problemas do sentido
ou não-sentido de toda essa existência
humana.”
• (Husserl: A crise das ciências européias como
expressão da radical crise da vida da
humanidade européia)
A filosofia autêntica
• o estágio da existência humana e das normas ideais
para tarefas infinitas, o estádio da existência sub specie
aeterni, só é possível na universalidade absoluta,
precisamente na universalidade compreendida, desde o
princípio, na idéia de filosofia. A filosofia universal com
todas as ciências particulares, constitui, por certo, um
aspecto parcial da cultura européia. Mas toda a minha
interpretação implica que esta parte exerce, por assim
dizer, o papel de cérebro, de cujo funcionamento normal
depende a verdadeira saúde espiritual da Europa. O
humano da humanidade superior ou a razão exige, pois,
uma filosofia autêntica.
A crise da razão
• A "crise da existência européia" tão discutida
atualmente e atestada em inúmeros sintomas de
desintegração da vida, não é um destino
obscuro, não ´e uma fatalidade impenetrável,
mas se torna compreensível e penetrável ao
olhar sobre o fundo da teleologia da história
européia que a filosofia é capaz de pôr a
descoberto. [...] A "crise" então pode ser
esclarecida como o fracasso aparente do
racionalismo.
• (Husserl: A crise da humanidade européia e a
filosofia)
A fenomenologia como resposta à
crise da razão
• “Nossas meditações devem elucidar, como queriam as
velhas meditações cartesianas, os problemas universais
pertencentes à idéia-fim da filosofia, isto implica que elas
devem ter desembaraçado o sentido autêntico e
universal do “ser em geral”, e de suas estruturas
universais, em sua generalidade mais alta e, entretanto,
rigorosamente circunscrita, na universalidade que é a
condição mesma de possibilidade do trabalho ontológico.
Este último se efetua sob a forma de uma filosofia
fenomenológica concreta e, posteriormente, sob a forma
de uma ciência filosófica dos fatos. Pois, para a filosofia
e a fenomenologia que estudam a correlação do ser e da
consciência, o ser é uma idéia prática – a idéia de um
trabalho infinito de determinação teórica.” (Husserl:
Meditações cartesianas)
A tarefa da filosofia
• “As genuínas lutas espirituais da humanidade européia
como tal dão-se como lutas entre filosofias, ou seja,
entre filosofias céticas – ou melhor, não- filosofias, que
mantiveram a palavra, mas não a tarefa – e filosofias
verdadeiras ainda existentes. Mas a vitalidade destas
reside em que elas lutam por seu sentido autêntico e
verdadeiro e com ele pelo sentido da humanidade
inteira. Levar a razão latente à compreensão de suas
possibilidades e com ela mostrar claramente que a
possibilidade de uma Metafísica é uma possibilidade
verdadeira e é a única maneira de colocar uma meta
universal no laborioso caminho de sua realização.”
• “Apenas com isto se decide se o télos da
humanidade européia, congênito com o
nascimento da filosofia grega, o querer-ser uma
humanidade conforme à razão e só poder sê-lo
como tal no movimento infinito de dar-se normas
a si mesmo mediante sua verdade e sua
autenticidade, é uma mera ilusão histórico-fática,
uma aquisição acidental de uma humanidade
acidental entre outros modos de humanidades e
outras historicidades completamente distintos; ou
se o que na humanidade européia eclodiu como
entelechie está essencialmente contido na
humanidade como tal.”
• (Husserl: A crise das ciências européias como
expressão da radical crise da vida da
humanidade européia)

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