Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
na contemporaneidade
Associações a partir do bode de
Monogram, de Robert Rauschenberg
Joseana Paganine
Prof. Átila Regiani
Teoria, Crítica e História da Arte 5
Universidade de Brasília
Julho de 2014
Robert Rauschenberg, Monogram, 1955-59. Freestanding combine. Moderna Museet, Estocolmo
O bode é um animal trágico. Existe uma
relação certa entre a tragédia
(literalmente, o canto do bode) e esse
animal que lhe deu nome. A tragédia é
em sua origem um canto religioso que
acompanha o sacrifício de um bode nas
festas de Dionisos.
Dicionário de Símbolos
Cratera de terracota. Dioniso seguido de sátiros e bacantes. Período Arcaico, 550 a. C.
Metropolitan Art Museum
Na Idade Média, o bode se converte em símbolo de abominação. Animal impuro,
totalmente absorvido pela necessidade de procriar, é uma maldição. No imaginário
cristão, se representa quase sempre Satã em forma de bode presidindo um Sabá.
Dicionário de Símbolos
Francisco de Goya, El Aquelarre (Sábado das Bruxas) ou El Gran Cabrón (1819-25). Museu do Prado
“O destino de nossos tempos está caracterizado pela
racionalização e intelectualização e, acima de tudo,
pelo desencantamento do mundo.”
Lembra-te, meu amor, do objeto que encontramos E esse mundo emitia uma bulha esquisita,
Numa bela manhã radiante: Como vento ou água corrente,
Na curva de um atalho, entre calhaus e ramos, Ou grãos que em rítmica cadência alguém agita
Uma carniça repugnante. E à joeira deita novamente.
As pernas para cima, qual mulher lasciva, As formas fluíam como um sonho além da vista,
A transpirar miasmas e humores, Um frouxo esboço em agonia,
Eis que as abria desleixada e repulsiva, Sobre a tela esquecida, e que conclui o artista
O ventre prenhe de livores. Apenas de memória um dia.
Ardia o sol naquela pútrida torpeza, Por trás das rochas irrequieta, uma cadela
Como a cozê-la em rubra pira Em nós fixava o olho zangado,
E para ao cêntuplo volver à Natureza Aguardando o momento de reaver àquela
Tudo o que ali ela reunira. Náusea carniça o seu bocado.
E o céu olhava do alto a esplêndida carcaça - Pois hás de ser como essa infâmia apodrecida,
Como uma flor a se entreabrir. Essa medonha corrupção,
O fedor era tal que sobre a relva escassa Estrela de meus olhos, sol de minha vida,
Chegaste quase a sucumbir. Tu, meu anjo e minha paixão!
Zumbiam moscas sobre o ventre e, em alvoroço, Sim! tal serás um dia, ó deusa da beleza,
Dali saíam negros bandos Após a benção derradeira,
De larvas, a escorrer como um líquido grosso Quando, sob a erva e as florações da natureza,
Por entre esses trapos nefandos. Tornares afinal à poeira.
E tudo isso ia e vinha, ao modo de uma vaga, Então, querida, dize à carne que se arruína,
Ou esguichava a borbulhar, Ao verme que te beija o rosto,
Como se o corpo, a estremecer de forma vaga, Que eu preservei a forma e a substância divina
Vivesse a se multiplicar. De meu amor já decomposto!
“A mente alegórica se põe à parte do objeto e protesta contra sua
redução ao estado de mercadoria, desvalorizando-o uma segunda vez
por uma prática alegórica. Na separação do significante e do significado,
o alegorista submete o signo à mesma divisão de funções à que foi
submetida o objeto durante sua transformação em mercadoria. Repetir
o ato original de depreciação e atribuir ao objeto um sentido novo o
redimem”.
Benjamin Buchloh
A sobrevivência do antigo
BENJAMIN, Walter. Origem do drama barroco alemão. Trad. Sérgio Paulo Rouanet. São Paulo: Brasiliense, 1984.
BUCHOLOH, Benjamin. “Procedimentos alegóricos: apropriação e montagem na arte contemporânea”. Revista do Programa de
Pós-Graduação em Artes Visuais EBA-UFRJ, ano VII, número 7, 2000.
CHEVALIER, Jean; GHEERBRANT, Alain. Dicionário de símbolos. Rio de Janeiro: José Olympio, 2009.
ROMILLY, Jacqueline de. A Tragédia Grega. Tr. Ivo Martinazzo. Brasília: UnB, 1998.