• Sócrates torna-se o guia de todo o Iluminismo e de toda a filosofia moderna; o apóstolo da liberdade moral, separado de todo dogma e de toda tradição, sem outro governo além daquele da sua própria pessoa e obediente apenas aos ditames da voz interior da consciência; • Sócrates incarna o modelo de um bem terreno que é atingível nessa vida pela força interior do homem, baseada não na graça, mas na incessante tendência ao aperfeiçoamento do nosso ser. • O órgão fundamental de Sócrates é a palavra; sua forma de conversa se desenrolava por meio de perguntas e respostas; • Sócrates é o eixo da história da formação do homem grego; Sócrates é o mais espantoso fenômeno pedagógico da história do Ocidente. • Sócrates demonstra uma preocupação muito grande com os fatos da vida humana; é na natureza do homem, a parte do mundo que melhor conhecemos, que Sócrates descobre a base firme para sua análise da realidade e a chave para a compreensão desta; • Cícero chega a dizer que Sócrates desce do céu a filosofia e instala-a nas cidades e nas moradas dos homens; • Para conhecer a posição de Sócrates na filosofia antiga, não podemos perder de vista sua relação com as forças espirituais de seu tempo; • Há, em Sócrates, inúmeras referências à medicina; Sócrates é um autêntico médico, que se preocupa, como retrata Xenofonte, tanto com a saúde física dos seus amigos/concidadãos quanto com a sua saúde espiritual; • É, sobretudo, um médico do homem interior; Sócrates acreditava que a natureza teleológica do homem podia ser compreendida, explicada e aperfeiçoada, tal como era possível compreender os fenômenos físicos, interpretá-los e explicá-los; • A “dialética” socrática era a antítese completa do método educativo dos sofistas (mestres ambulantes, vindos de fora, rodeados por um círculo reduzido de discípulos, uma espécie de celebridade inacessível, que vendem seus ensinamentos e versam de um número variado de disciplinas ou artes específicas dirigidas a um público seleto de filhos de cidadãos abastados, desejosos de se instruírem); • Sócrates, ao contrário, é um homem simples, conhecido por todos; sua ação passa despercebida; a conversa é espontânea, sem um tema previamente estabelecido; Sócrates não é um professor, no sentido tradicional; em várias ocasiões, diz que não ensina nada e não tem discípulos; • Sócrates designa sua ação como “filosofia”, “filosofar”; na Apologia, Sócrates diz aos juízes que não se afastará dela (da filosofia) enquanto viver e respirar; Qual é a essência da filosofia Socrática • Na Apologia, escrita ainda sob a impressão da injustiça cometida com a execução de Sócrates, aparece uma síntese da essência da filosofia; • A “profissão de fé”, inspirada na figura e na ação de Sócrates, diz que “o poder a serviço do qual o filósofo está não tem valor apenas para embelezar a vida e mitigar a dor, mas também para se sobrepor ao mundo”; • Platão apresenta duas formas fundamentais que caracterizam a forma de filosofar de Sócrates: a exortação e a indagação. Ambas são elaboradas em forma de pergunta; • Na Apologia, há um exemplo que caracteriza o método de filosofar de Sócrates: • Enquanto viver, não deixarei jamais de filosofar, de vos exortar a vós e de instruir quem quer que eu encontre, dizendo-lhes a minha maneira habitual [...]. • Querido amigo, és um ateniense, um cidadão da maior e mais famosa cidade do mundo, pela sua soberania e pelo seu poder; e não te envergonhas de velar pela sua fortuna e pelo seu aumento constante, pelo teu prestígio e pela tua honra, sem em contrapartida te preocupares em nada com conheceres o bem e a verdade e com tornares a tua alma melhor o possível? E, se algum de vós duvidar disto e asseverar que com tal se preocupa, não deixarei em paz nem seguirei tranquilamente o meu caminho [...] • mas interrogá-lo-ei, examiná-lo-ei e refutá-lo- ei; e se me parecer que não tem qualquer arete, mas que apenas a aparenta, invectivá- lo-ei, dizendo-lhe que sente o menor respeito pelo que há de mais respeitável e o respeito mais profundo pelo que menos respeito merece. E farei isso com os jovens e com os anciãos, com todos os que encontrar, com os de fora e com os de dentro; mas sobretudo com os homens dessa cidade, pois são por origem os mais próximos de mim. • Pois ficai sabendo que Deus assim me ordenou, e julgo que até agora não houve na nossa cidade bem maior para vós do que este serviço que eu presto a Deus. É que todos os meus passos se reduzem a andar por aí, persuadindo novos e velhos a não se preocuparem nem tanto nem em primeiro lugar com seu corpo e com sua fortuna, mas antes com a perfeição de sua alma; • A “filosofia” de Sócrates não é um simples processo teórico de pensamento: é ao mesmo tempo uma exortação (estímulo, chamado, encorajamento, incitação, mas também um conselho e uma advertência) e uma educação; • Além disso, há o exame e a refutação de todo saber aparente e de toda a excelência (arete) meramente imaginária; • O “exame do homem” é o essencial da filosofia e do método Socrático; • A comparação estabelecida entre o conteúdo material da vida do homem de negócios, ávido por dinheiro, e a superior exigência da vida proclamada por Sócrates baseia-se na ideia da preocupação e do cuidado consciente do Homem em relação aos bens que mais aprecia; • Sócrates exige que, no lugar de se preocupar com os ganhos, o Homem se preocupe com a alma, com o aperfeiçoamento da alma; a alma, portanto, possui um valor superior em comparação com os bens materiais ou do corpo; • Sócrates nos fala sempre como um médico cujo paciente não é o homem físico, mas o homem interior; o cuidado com a excelência da alma seria o bem supremo do homem; • A tarefa e a missão de Sócrates é, portanto, uma missão educacional, que interpreta a si própria como “serviço de Deus”; • Sócrates define o cuidado da alma como um cuidado através do conhecimento do valor e da verdade, da phronesis e aletheia; • A alma distingue-se do corpo tão nitidamente como dos bens materiais; • a separação entre alma e corpo manifesta diretamente a hierarquia socrática dos valores e expõe uma nova teoria dos bens, claramente graduada, e que coloca no plano mais elevado os bens da alma, em segundo lugar os bens do corpo, e no grau mais inferior os bens materiais, como a riqueza e o poder; • A hierarquia dos valores de Sócrates é bem diferente daquela hierarquia popular vigente entre os gregos: • O bem supremo do mortal é a saúde; • O segundo, a formosura do corpo; • O terceiro, uma fortuna adquirida sem mácula; • O quarto, desfrutar entre amigos o esplendor da juventude; • No pensamento de Sócrates aparece, como algo novo, o mundo interior. A arete de que ele nos fala é um valor espiritual; • Mas o que é a “alma” (psyche)? • A alma, para nós, assuma uma conotação ética ou religiosa; a palavra “alma” tem um tom cristão, como as expressões “serviço de Deus” e “cuidado da alma”; • Sócrates não apresenta uma única definição do conceito de alma; nele, a palavra alma, psyché, ganha uma fisionomia que a torna o verdadeiro veículo conceitual do valor ético-espiritual da “personalidade” do homem do Ocidente;