Você está na página 1de 33

Footballmania: Uma História do Futebol

no Rio de Janeiro – 1902-1938


MARCORÉLIO SOARES PATRÍCIA ROCHA
A Fonte
• O livro é resultado da tese de
doutoramento de Leonardo Affonso de
Miranda Pereira apresentada à banca da
UNICAMP em 1998;
• Compõe a coleção intitulada Histórias do
Brasil;
• Persegue a trajetória do futebol, desde
seus primórdios, passando por sua
chegada em terras brasileiras em 1902
até sua consagração no mundial de
1938;
• Analisa as peculiaridades dos praticantes
tanto na Europa, quanto na América do
Sul; e
• Explicita as conotações de identidade que
o esporte assume para os diversos grupos
envolvidos, Apontado a formação de um
sentimento de nacionalidade brasileira.
The Coach
• Graduação em Ciências Sociais
(1991);
• Mestrado em História (1994); e
• Doutorado em História (1998),
todos pela UNICAMP.
• Especializado em costumes e
tradições dos trabalhadores entre
os séculos XIX e XX;
• Também escreveu “As
Barricadas da Saúde” e o
“Carnaval das Letras”; e
• Venceu o Prêmio Carioca de
http://veja.abril.com.br/060601/gente.html. acessado em 27/09/2015 às
14:35h Monografia, em 1994 e o Prêmio
Jabuti, na categoria Ciências
Humanas, em 2001.
Preliminares
• Mesmo não sendo o introdutor do futebol no
Brasil, Oscar Cox trouxe o futebol com regras
definidas pela Foot-ball Association, fundada em
1863 na Inglaterra, para o Rio de Janeiro, em
1897, vindo da Suíça e entrou para a história com
o pioneiro do futebol no país. Charles Muller,
outro brasileiro que buscou estudos na Inglaterra,
também é considerado como pioneiro do futebol
por muito estudiosos;
• O futebol era considerado na Inglaterra da década de 1880
como definidor da identidade do proletariado;
Primeiro tempo
Ares de fidalguia
• O esporte como elemento de identificação da elite branca;
• Aproximação com a sociedade européia;
• Campo como espaço de exclusão racial e social; e
• Surgimento dos primeiros clubes e agremiações com papel
fundamental na divulgação e futura popularização das
disputas.
Os donos da bola

• Filho de um pai escocês chamado John D'Silva Miller,


e uma mãe brasileira de ascendência inglesa chamada
• Filho da aristocracia carioca, foi
Carlota Fox, nasceu perto da estação ferroviária do Brás. estudar em Lausanne, na Suíça, onde
Aos dez anos, foi estudar na Inglaterra e aprendeu a
jogar futebol na Bannister Court School;
conheceu o futebol. Em 1901, trouxe
• Ele retornou ao Brasil em 18 de fevereiro de 1894, da Inglaterra bolas, um caderno de
trazendo na bagagem duas bolas usadas, um par de regras da Foot-ball Association e a
chuteiras, um livro com as regras do futebol, uma bomba
de encher bolas e uniformes usados; e novidade da grande área;
• Alguns historiadores contestam o pioneirismo de •É considerado o pioneiro do futebol
Charles Miller na história do futebol brasileiro,
argumentando que o esporte já era praticado no país
nas terras cariocas; e
antes da volta de Miller. O escocês Thomas Donohoe •Foi o fundador do Fluminense
teria sido o primeiro a promover uma partida de futebol
no país.
Football Club.
Os Comentaristas
Jornal Correio da Manhã nº 103, de 25 SET 1901 -
Jornal Correio da Manhã nº 100, de 22 SET 1901 - Notícia sobre o resultado da 1ª partida de futebol no
Notícia sobre 1ª partida de futebol no RJ RJ

http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=089842_0
1&PagFis=481, acessado em 27/09/2015 às 13:43h

http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=089842_0
1&PagFis=481, acessado em 27/09/2015 às 13:43h
Os Comentaristas
Jornal Correio da Manhã nº 111, de 03 OUT 1901 - Jornal Correio da Manhã nº 120, de 12 OUT 1901 -
Notícia sobre 2ª partida de futebol no e resultado Notícia sobre a 3ª partida de futebol no RJ

http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=089842_0
1&PagFis=577, acessado em 27/09/2015 às 13:58h.

Jornal Correio da Manhã nº 123, de 15 OUT 1901 -


Notícia sobre o resultado da 3ª partida de futebol no RJ

http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=089842_0
1&PagFis=535, acessado em 27/09/2015 às 13:50h.

http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=089842_0
1&PagFis=591, acessado em 27/09/2015 às 14:07h.
Os Comentaristas
Jornal Correio da Manhã nº 130, de 22 OUT 1901 - Notícia sobre duas
partidas de futebol disputadas em SP

http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=089842_01&PagFis=624, acessado
em 27/09/2015 às 14:35h
Primeiro Tempo
Futebol do Povo
• Maior participação popular no esporte da elite branca;
• Nação de desiguais. Principais agentes: os intelectuais do
inicio do século. Leonardo Pereira ao contrário, faz uso do
futebol para compreensão do amplo sentimento de
nacionalidade exercido através do futebol;
• Preocupação quanto à violência decorrente de uma maior
participação dos proletários e das paixões despertadas
pelas agremiações; e
• O despertar de sentimentos patrióticos e nacionalistas
surgidos dentro campo.
Primeiro Tempo
Futebol do Povo
O Malho, 07 de junho de
1919

PEREIRA, Leonardo. Footballmania – uma história social do futebol no Rio de Janeiro, 1902-
1938. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000. p. 170
Primeiro Tempo
Futebol do Povo
O Imparcial, 1º de julho de 1919

“A copeira: - Eu não te dizia ‘Siá’ Genoveva, que o Gradin aqui no Brasil era
ensopado!...
Genoveva: - ‘Mió’ ... Gradin a pelnostica! ...
PEREIRA, Leonardo. Footballmania – uma história social do futebol no Rio de Janeiro, 1902-1938. Rio
de Janeiro: Nova Fronteira, 2000. p. 171
SegundoTempo
O Significado do jogo
• Percepção da significação da prática do jogo para um dos
elementos dos diversos grupos praticantes;
• Formação de identidade comum a todos os football players;
• “História política do futebol brasileiro -1981” de José Rufino
dos Santos;
• O futebol como um fator externo aos indivíduos, como uma
dádiva, ou, “invenção maquiavélica”, um meio de controle; e
• “Crianças que, sem vontade própria, são induzidas a
perder suas energias com o jogo” (p. 204).
SegundoTempo
O Confronto das Letras
Henrique Maximiano Coelho Neto
• Romance Esphinge
• 1912, se torna sócio do Fluminense (Como um Sportman);
• Ex praticante da CAPOEIRA, toma o foot-ball como paixão
• “O entusiasmo pelo jogo era tanto que já em 1917, em sua
casa falava-se à mesa muito do [foot-ball], e pouco de
literatura” (p. 206);
• Seus filhos jogavam em todas as categorias em que o
Fluminense disputava suas partidas; e
• Patrocinou a 1ª das invasões de campo, em 1916, no
campeonato carioca.
SegundoTempo
• O esporte estava a serviço do ideal nobre da regeneração
da “raça” brasileira (p. 208). Partindo de um raciocínio
inspirado nas discussões médicas, pedagógicas e
políticas;
• Hino do Fluminense 1915: “(...) Ninguém no clube se
pertence;/A glória aqui não é pessoal:/Quem vence em
campo é o Fluminense/Que é, como a Pátria, um ser
ideal./Assim nas lutas se congraça/Em torno de um ideal
viril/A gente moça, a nova raça/Do nosso Brasil (...)” (p.
208)
• Esperava-se deixar para trás sua malfadada herança
cultural, abrindo mão dos interesses pessoais, trabalhando
em conjunto pelo mesmo ideal, o da Pátria.
SegundoTempo
Afrânio Peixoto
• Escola de solidariedade e coletivismo;
• “Se Coelho Neto via no jogo um meio de consolidação de
uma raça brasileira, dando à sua defesa do futebol um
caráter cívico, o Dr. Peixoto chegava mesmo a pensar a
sociedade como um organismo social, cujo bom
funcionamento dependia da disciplina com que cada um
desempenhasse suas funções.” (p. 210); e
• A disciplina e o coletivismo aparecem, por isso como
receita para curar os males sociais do país, o futebol seria
um ótimo remédio para a degeneração da raça mestiça
que compunha o país – (p. 210).
SegundoTempo
Lima Barreto
• Demonstrava desprezo pelo futebol;

• Via o foot-ball como esporte de poucos. Não percebia a

popularidade do jogo;

• Demonstrava incomodo com os termos em inglês; e

• Sátira, de uma tal República Bruzundanga, (foot-ball como

coisa de pouca serventia).


PARTIDA:
Coelho Neto X Lima Barreto
• O foot-ball transforma-se em um campo de disputas
políticas e sociais. Em 1919, não só literatos, mas médicos
e jornalistas, fundam a liga contra o foot-ball;
• No Time de Lima Barreto jogava “Carlos Sussekind de
Mendonça”, seu admirador. Em 1921, após um dos
primeiros ataques ao esporte, escreve um livro, “O Sport
está deseducando a mocidade brasileira”;
• Mendonça falava do foot-ball como gerador de desunião,
contrário do que afirmava Afrânio Peixoto. Negava o
princípio do “mens sana in corpore sano”; e
• Afirmava que havia algum beneficio físico, porém negava
qualquer beneficio intelectual, criando uma imagem dos
esportistas de serem incapazes de qualquer reflexão.
SegundoTempo
• O erro consistia das nacionalidades que o adotam, pois não
estimulava uma tradição autenticamente nacional;
• Lima criticava os “favores e favorezinhos” que o governo
concedia a clubes para criar as “distinções idiotas” e anti-
sociais entre os brasileiros (p. 224); e
• Era contra as tentativas de discriminação patrocinadas
pelos grandes clubes, e a distinção de raça. Via nos sócios
dos grandes clubes os herdeiros dos antigos senhores de
escravo, a continuação de um passado de diferenciação e
segregação. (p. 225).
Prorrogação
• Leonardo Pereira aponta que, para além das opiniões dos
literatos, todos se mostravam impressionados com a
grande inserção social do futebol na cidade, e que para
ambos o futebol seria uma forma de dominação; e
• Esses escritores em questão brigavam em torno dos
sentidos que atribuíam ao foot-ball, reafirmavam suas
divergências políticas. E, viam o público como uma massa
amorfa. Continuavam marcados pelo vicio do monopólio
das luzes, negando as atuações próprias dos sujeitos. (p.
229).
NOS ARRABALDES DO ESPORTE
• As relações de vizinhança dava origem a clubes, abrindo
portas para um grande contingente de operários, pequenos
funcionários, dando um perfil próprio ao clube;
• Gol de Coelho Neto! A maioria desses clubs pequenos
justificava sua existência como um local pra desenvolver o
físico e também o intelecto, reforçando os princípios
defendidos por ele;
• A moral de lado: Passava-se a ver no futebol uma
possibilidade de obter vantagens e ascensão social (p. 236)
• Sobre o espírito de solidariedade, alguns episódios
mostram que havia um clima de disputa e cizância entre
esses clubs menores.
NOS ARRABALDES DO ESPORTE
• No estatuto de alguns times, nos clubes havia a prática de
outras atividades (bailes dançantes) – Essa rotina
associavam o foot-ball ao Carnaval (divertimento);
• Um meio próprio de articular identidades e antagonismos;
• O foot-ball aparecia assim, como um investimento para os
patrões – Alienação como em São Paulo;
• “Enquanto o povo se diverte, não conspira!” Tristão (p.
258); e
• Esses militantes tinham uma impressão parecida com a de
Lima Barreto e “seu time”, sobre o sistema de dominação
senhorial.
NOS ARRABALDES DO ESPORTE
• Com o tempo, os militantes críticos do foot-ball, passam a
ter sobre ele uma opinião diferente, pois ele passa a ser
um elemento aglutinador da classe, criando entre eles, fora
das fabricas, uma rede de solidariedade;
• Aproximação dos sindicalistas com o jogo da bola;
• Leonardo Pereira fala de um comportamento onde não se
buscava um enfretamento direto, mais um diálogo que
tentava obter os desejos esperados, sem romper a lógica
de dominação (p. 277); e
• “(...) o foot-ball se prestava a múltiplas apropriações,
estando ai um dos segredos de seu grande sucesso.” (p.
281).
Segundo Tempo
Made in Brazil
• A utilização dos jogos como intensificador do sentimento
nacionalista brasileiro;
• A naturalização do esporte e a transformação de “foot-ball”
em “futebol”;
• Valorização do negro e a criação do estereótipo de
representante do “jeito brasileiro”; e
• A supremacia da habilidade brasileira nos gramados.
Questão proposta:

Analise como as manifestações culturais na


Primeira República poderiam servir como
espaços de luta e resistência das classes
populares ao processo de reajustamento social
promovido pelo advento da República.
Resposta:
Especificamente o futebol, em primeiro momento tinha caráter
segregador devido a sua introdução no Brasil ter sido pela elite
rica que tinha a possibilidade de estudar na Europa e assim
trazer em sua bagagem costumes culturais ainda não
conhecidos no Brasil. O futebol era uma prática somente para
brancos e trabalhadores não braçais. Devido a facilidade de
aprendizado e prática desta atividade esportiva, o futebol se
popularizou e não houve possibilidade de contenção pela elite
branca, ocorrendo a popularização e até mesmo a
massificação deste esporte nas camadas sociais médias e
baixas e no subúrbio e zona norte. Com a transformação em
esporte nacional através dos embates entre seleções de
países em campeonatos mundiais, o futebol recebe o “status”
nacionalista e patriota, deixando de ser segregador para ser
agregador.
Resposta:

O professor Victor Andrade de Melo classifica três


possíveis padrões de organização da cultura, que não se
desenvolvem de forma linear. Estas três formas de
organização são: a cultura erudita, a cultura de massas
e a cultura popular. Nesta classificação o autor coloca
que em todos os períodos históricos estruturou-se um
processo de legitimação da produção cultural ligada aos
interesses das camadas dominantes, sendo que na
história contemporânea, caracterizada pelo capitalismo
tardio ela se tornou uma estratégia bem mais importante
e necessária para a reprodução do sistema social do
mundo atual.
Resposta:

Dentro desta perspectiva a cultura pode ser entendida


como uma tecnologia educacional, ou seja, uma
proposta de intervenção pedagógica pautada na
mediação para a ampliação das sensibilidades com
diferentes formas culturais e estímulo à organização
comunitária, para o questionamento da ordem social
estabelecida. Compreendemos, também, que a cultura
está ligada à economia e à política e que, mesmo em
princípio, sendo determinada por elas, a cultura,
também, é fator condicionante mútuo para ambas.
Resposta:

Observamos que o futebol chegou ao Brasil como uma


cultura erudita, da elite, diferente de sua origem na
Inglaterra onde o futebol era cultura do proletariado. Mas
como este esporte não necessita de alfabetização, nem
de instrução específica, acabou se popularizando e
deixou de ser uma cultura erudita para ser uma cultura
popular e de massas, deixando de ser excludente para
ser includente.
Resposta:

Apesar das críticas dos militantes contrários ao futebol,


este acabou servindo como meio de articulação de
solidariedades entre os trabalhadores. Fazendo com que
até mesmo os críticos, que viam o esporte como forma de
alienação a uma massa amorfa, pudessem pensar e ver o
futebol como forma de suscitar antagonismos e criar uma
identidade e consciência nos trabalhadores melhor que
os sindicatos.
Resposta:

Assim sendo, o jogo ajuda a criar uma identidade de


classe e, enquanto classe, a reivindicar direitos. Mesmo
que os militantes vissem negativamente os clubes
futebolísticos, seus sócios participavam ativamente do
movimento grevista de 1917, porém, no dia a dia,
estavam desinteressados dos temas discutidos nos
jornais militantes, e, mostravam-se avessos aos discursos
doutrinários, como reconheciam os sindicalistas.
Adotavam a mesma lógica patronal, vendo nos clubes
uma preparação para o trabalho, negando ver neles um
modelo de luta.
Bibliografia:

PEREIRA, Leonardo Affonso de Miranda. Footballmania – Uma história


social do futebol no Rio de Janeiro (1902-1938). Disponível em:
<http://www.bibliotecadigital.unicamp.br/document/?code=000129716>

MELO, Victor Andrade de. Animação cultural: conceitos e propostas.


Campinas: São Paulo. Papirus, 2006.
Muito Obrigado!!!

Você também pode gostar