Denize Ramos Ferreira. Doutoranda em Ciências Médicas na UNICAMP. PP apresentado na USP Leste na 5ª Conferência Anual da Federação Internacional de História Pública e o 4º Simpósio Internacional de História Pública, na Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (USP Leste). O objetivo foi discutir os desafios atuais da história pública, em perspectiva global. GT: História Pública, Ciência e Saúde.Coordenação: Kaori Kodama (FIOCRUZ) e Rogério Monteiro de Siqueira (USP).
Título original
Os Ossos Doem ao partir: Cultura, identidade e adoecimento dos haitianos no interior do Estado de São Paulo
Denize Ramos Ferreira. Doutoranda em Ciências Médicas na UNICAMP. PP apresentado na USP Leste na 5ª Conferência Anual da Federação Internacional de História Pública e o 4º Simpósio Internacional de História Pública, na Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (USP Leste). O objetivo foi discutir os desafios atuais da história pública, em perspectiva global. GT: História Pública, Ciência e Saúde.Coordenação: Kaori Kodama (FIOCRUZ) e Rogério Monteiro de Siqueira (USP).
Denize Ramos Ferreira. Doutoranda em Ciências Médicas na UNICAMP. PP apresentado na USP Leste na 5ª Conferência Anual da Federação Internacional de História Pública e o 4º Simpósio Internacional de História Pública, na Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (USP Leste). O objetivo foi discutir os desafios atuais da história pública, em perspectiva global. GT: História Pública, Ciência e Saúde.Coordenação: Kaori Kodama (FIOCRUZ) e Rogério Monteiro de Siqueira (USP).
haitianos no interior do Estado de São Paulo DOUTORANDA DENIZE RAMOS FERREIRA CIÊNCIAS MÉDICAS UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS – UNICAMP MESTRE EM HISTÓRIA COMPARADA PELA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO-UFRJ ORIENTADORES: RICARDO SANTHIAGO( UNIFESP) E HELENICE NAKAMURA (UNICAMP) “Pode-se produzir história para o grande público, mas também se pode produzir história com o público, compreender a história feita por ele”. Ricardo Santhiago Historiador e Jornalista Histórico: A migração haitiana em larga escala para o Brasil é um processo novo, intensificado a partir de 2004, devido à crise política que resultou das violentas manifestações populares contra o governo do Presidente René Préval e seu Premiê Jean-Max Bellevire e dos furacões e terremotos em 2004, 2010 e 2012. A saída encontrada por milhares de pessoas deslocadas para sobreviver às dificuldades pelas quais passavam, depois do terremoto de 2010, como falta de água, falta de comida e doenças como o cólera, devido a mais de 230 mil mortos, foi migrar e na maioria das vezes pelas redes de tráficos, especificamente através dos Coiotes. A nossa pesquisa de campo demonstra que, por terem poucas possibilidades de acesso a bens e serviços, os haitianos se submetem a condições sociais e ambientais de risco para saúde física e mental. São muitas vezes estigmatizados socialmente e têm os seus direitos, enquanto migrantes, sistematicamente negados. A presença destes novos fluxos de imigração para o Brasil tem levantado questões sobre Direitos Humanos, sendo o acesso à saúde e a integração desta população na sociedade e no mercado de trabalho, identificados como problemas a serem estudados. Entendemos que novas Políticas Públicas possam surgir a partir da compreensão deste fenômeno migratório na área de Saúde Pública de acordo com as especificidades deste território no qual se desenvolve. A pesquisa: Nesta pesquisa estudamos as haitianas e os haitianos, documentados e indocumentados que adoecem psíquica e fisicamente, no processo migratório e ao se estabelecerem no Brasil como trabalhadores. Especificamente nas cidades de Americana e Santa Bárbara D’Oeste.
O grupo participante da pesquisa faz parte do nosso projeto de Ensino
de Língua Portuguesa para haitianos que desenvolvemos na Universidade Salesiana de Americana.
Estão frequentando as aulas 60 alunos. Foram convidados a participar
da pesquisa. Por enquanto 5 aceitaram. HIPÓTESE:
A nossa hipótese é que o adoecimento tem relação direta com a
diferenças culturais e linguísticas, pois criaram distanciamento e vulnerabilidades sociais advindas do status indeterminado de cidadão. Desta forma a doença não teria somente causa física e psíquica, mas também social.
Além do processo de exploração pelo qual o grupo estudado vem
passando, como horas excessivas de trabalho, atividades insalubres, desconhecimento de seus direitos como migrantes Metodologia:
Empregaremos, durante a pesquisa, a metodologia de levantamento de
campo através da história oral. Realizaremos a observação participante, entrevistas semi-estruturadas para analisar a memória desses imigrantes que, segundo Rousso (2012), é a presença do passado em uma construção psíquica e intelectual, uma construção elaborada no presente, pois o passado não pode ser resgatado. Pierre Nora nos diz que “a memória é um fenômeno sempre atual, um elo vivido no eterno presente”, (Nora, 1993:7-28). Começamos as entrevistas com História de Vida e a partir destas narrativas, passamos para a história temática voltada para a saúde deste grupo pesquisado Arnaldo Momigliano (1983): afirmou que a escolha de uma história particular significa, de fato, eliminar – ou, pelo menos, suspender por hipótese – uma pluralidade de outras histórias possíveis. Mas tais decisões não são nem clandestinas nem arbitrárias. Elas nos remetem à questionamentos mais profundos numa sondagem direta, sem intermediários do mundo popular. (Ginzburg,2006, p.15) Primeiros resultados: Identificamos a realização de trabalho análogo à escravidão nos depoimentos. Na carteira de trabalho registra-se 8h.Na prática trabalham 12 ou mais horas; Ficam privados de água fresca, ir ao banheiro mais de uma vez, não utilizam equipamentos de segurança na empresa em que trabalham (Uma específica em Santa Bárbara D’Oeste). Relato de uma depoente: “ Meu amigo, ao chegar em casa, estava sempre com o nariz sangrando e chegou até a vomitar sangue. Em 3 meses de trabalho, emagreceu 5 quilos. Não podia denunciar, pois precisava do emprego.” R.D.E Identificamos abalo psíquico, devido ao trauma vivido no Haiti. Foi o caos de atravessando a história humana, seja ela individual ou coletiva, permitindo o autoconhecimento, a partir de coisas incontroláveis, forças que não são previsíveis, como nos mostra Maffesoli. Este processo, o caos, provocou no Haiti, por mais paradoxal que isso possa parecer, o estabelecimento de nova topografia da incerteza e do imprevisível, da desordem e da efervescência, do trágico e do não- racional. Criaram-se novos signos para a compreensão que se tinha de universo interno, tanto territorialmente quanto internamente. Muitos dos que estão doentes têm seus corpos objetificados, tornaram- se engrenagens em um sistema mecânico que cria determinantes, expondo este grupo a uma maior vulnerabilidade. Identificamos :Choro ao fazer depoimentos Silêncio sobre o assunto Relatos de estupros de meninas e meninos por ONGs e pelos militares, demonstrando revolta na fala Internações com certa frequência Até o presente momento, o abalo psíquico pelso traumas vividos no Haiti e as condições insalubres de trabalho são as manifestações patológicas mais recorrentes. A pesquisa está em andamento. Estes são os resultados parciais. Bibliografia ANDRÉ, Μ. Ε. D. Α. (1983). Texto, contexto e significado: algumas questões na análise de dados qualitativos. Cadernos de Pesquisa, (45): 66-71. ARAUJO, Nádia de.; ALMEIDA, Guilherme Assis de.(Org).O Direito Internacional dos Refugiados. Uma Perspectiva Brasileira. Rio de Janeiro: Renovar,2001 BAENINGER, Rosana.et al (Org). Imigração Haitiana no Brasil. Jundiaí/SP: Paco Editorial,2016 BEBIANO, Rui. Nostalgia e imaginação: dois factores dinâmicos num mundo global. Comunicação apresentada no painel MULTICULTURALISMO, GLOBALIZAÇÃO, ACTUALIDADE, integrado no programa do XX Encontro de Filosofia, A Filosofia na Era da Globalização, que ocorreu no Auditório da Reitoria da Universidade de Coimbra nos dias 23 e 24 de Dezembro de 2006. (N.O.). BOSI, Eclea. Memória e Sociedade. São Paulo: T.A Queiroz, 1983