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A religião na perspectiva

marxista: a alienação e o
protesto
Áquila Ribeiro – Monitora/UERN/Ciências da Religião
Waldney Costa – Docente/UERN/Ciências da Religião
ERA MARX SATANISTA? FATO OU FAKE?
A formação religiosa de Marx
• Origem: família judia convertida ao protestantismo;

• Adolescência: seus primeiros escritos foram de cunho religiosos –


comentários sobre livros da Bíblia - Josué e João – e uma possível
unidade cristã;

• Influências acadêmicas: hegelianos de esquerda e Ludwig Feuerbach


- críticas à teologia, ao cristianismo e à religião, em geral;

• Carreira universitária interrompida: foi quase professor de teologia,


sendo, todavia, expulso da universidade onde lecionaria por suas
convicções/críticas à religião e ao Estado confessional (religioso) da
Prússia.
(MARXISTS. ORG/ FREDERICO, 2009)
A produção teórica de Marx sobre a religião
• Marx não formulou uma teoria sistemática da religião, não se ocupou longamente da questão
religiosa: no início de sua atividade intelectual e, depois, sob a forma de afirmações esparsas em
alguns textos. Obras marxianas que abordam a questão da religião:
- Crítica da filosofia do direito de Hegel (1843)
- A questão judaica (1844)
- Os manuscritos econômico-filosóficos (1844)
- Ideologia Alemã (1846)
- O capital (1867)

• Biógrafos de Marx citam a existência de um livro que ele escreveu na juventude sobre a arte e a
religião cristã, mas tal obra jamais foi encontrada. O que se sabe sobre o livro, entretanto, é o que
o próprio Marx relatou, em carta, ao sogro, num breve resumo do que consistia a obra.
O que Marx tem a dizer sobre a religião?
1. “A crítica à religião está, no essencial, terminada; e a crítica da religião é o pressuposto
de toda a crítica”.

- A crítica à religião e ao Estado confessional alemão foi dura e exaustivamente realizada


pelos hegelianos de esquerda. O principal personagem dos jovens hegelianos a se destacar
pela critica à religião, principalmente ao cristianismo, foi o filósofo Feuerbach;
- O jovem Marx, ao contrário dos jovens hegelianos, aponta para a necessidade da crítica à
religião avançar para a crítica política;
- Marx entende a necessidade de realizar a crítica ao poder alienador da religião e o
impacto que ela produz em todos os aspectos da vida, alienando o ser humano dele
mesmo.

(MARX, 2013)
O que Marx tem a dizer sobre a religião?
2. “O homem faz a religião, a religião não faz o homem”
- Influenciado pela perspectiva feuerbarchiana, Marx aduz que 1) a religião é produção
humana. Assim como a arte, a filosofia, o estado, o direito, a religião é criação humana
que derivou de uma necessidade sentida socialmente. 2) A invenção da religião não pode
ser explicada por uma vontade do divino, só pode ser explicada por uma matriz social, que
abrange as forças e as relações sociais na produção de bens de uma sociedade;
- Tais afirmativas se constituem em pressupostos para se fazer Ciência/Ciência da religião.

3. “ A religião é a autoconsciência e o autossentimento do homem, que ou ainda não


conquistou a si mesmo ou já se perdeu novamente”.
- O homem alienado de si, de sua “essência”, de suas qualidades e potencialidades criou a
necessidade de religião, de um Ente superior, Deus, o organizador, o ordenador, o amor, o
libertador, Aquele que cuida e faz justiça.
(MARX, 2013; KONDER, 2009)
O que Marx tem a dizer sobre a religião?
4. “O homem não é um ser abstrato, acocorado fora do mundo. O homem é o mundo do
homem, o Estado, a sociedade. Esse Estado e essa sociedade produzem a religião, uma
consciência invertida do mundo, porque eles são um mundo invertido”.
- O fenômeno da consciência alienada religiosamente inverte a consciência de mundo dos
seres humanos, e se expressa da seguinte maneira: “Porque Deus quis assim. É a vontade
de Deus” - a ingerência divina na sociedade, na vida dos seres humanos;

5. “A luta contra a religião é, indiretamente, contra aquele mundo cujo aroma espiritual é a
religião.”
- Marx se opõe, diametralmente, à ingerência da religião no Estado, na política, no direito;
- A religião é a consequência das condições materiais em que os seres humanos vivem.

(MARX, 2013)
O que Marx tem a dizer sobre a religião?
6. “A miséria religiosa constitui ao mesmo tempo a expressão da miséria real e o protesto
contra a miséria real. A religião é o suspiro da alma oprimida, o ânimo de um mundo sem
coração, assim como o espírito de estados de coisas embrutecidos. Ela é o ópio do povo”.

- Embora Marx tenha duramente criticado a religião por legitimar a pobreza, a miséria e a
exploração das massas, não teve dificuldades em reconhecer o papel histórico da religião
na resistência e mobilização revolucionária em conjunturas de opressão e perseguição
política.

(MARX, 2013)
A Igreja e o Feudalismo
A Igreja e o Nazismo
A Igreja e a Ditadura Militar
Nicarágua: a Igreja desagradou o governo
O que Marx tem a dizer sobre a religião?
7. “A supressão da religião como felicidade ilusória do povo é a exigência da sua felicidade real”.
- Para Marx, o desaparecimento da religião se dará mediante os efeitos de transformação social que
viabiliza e torna necessária a religião.

8. “A crítica arrancou as flores imaginárias dos grilhões, não para que o homem suporte grilhões
desprovidos de fantasias ou consolo, mas para que se desvencilhe deles e a flor viva desabroche. A
crítica da religião desengana o homem a fim de que ele pense, aja, configure a sua realidade como
um homem desenganado, que chegou à razão, a fim de que ele gire em torno de si mesmo, em
torno de seu verdadeiro sol. A religião é apenas o sol ilusório que gira em volta do homem
enquanto ele não gira em torno de si”.
- A crítica à religião ajuda a perceber o que suaviza a bruteza da realidade social.

9. “A crítica do céu transforma-se, assim, na crítica da terra, a crítica da religião, na crítica do direito, a
crítica da teologia, na crítica da política”.

(MARX, 2013)
Referências
Biografia e textos religiosos de Marx: https://www.marxists.org/portugues/

FREDERICO, Celso. O jovem Marx (1843-1844): as origens da ontologia do ser


social. São Paulo: expressão popular, 2009.

KONDER, Leandro. Marxismo e Alienação: contribuição para um estudo do


conceito marxista de alienação. São Paulo: expressão popular, 2009.

MARX, Karl. Crítica da filosofia do direito de Hegel: introdução. In: _______.


Crítica da filosofia do direito de Hegel. 3a ed. São Paulo: Boitempo, 2013. p.
151-163.

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