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VIII Semana de Estudos Econômicos da UEFS

América Latina: da terra à vista às veias abertas

Entraves e potenciais
do desenvolvimento
latino-americano:
rompemos as
amarras?
A proposta é estimular uma análise
conjuntural da América Latina,
identificando os fatores que
impedem seu desenvolvimento e
aqueles que possam vir a ser suas Oscar Niemeyer. Memorial da América Latina.
alternativas São Paulo-SP
1. Desenvolvimento?
Des - envolvimento?

2. Como nos tornamos


“América Latina”?

3. Entre o “fazer” e o
“trabalhar”: lutar pelo quê?
1. Desenvolvimento?
Des – envolvimento?
1. Desenvolvimento? Des-envolvimento?

“Desenvolvimento” entra para o vocabulário acadêmico e


institucional só após a 2ª guerra mundial:

o reconstrução europeia,

o processos de acumulação decorrentes da polarização


entre EUA e URSS,

o novas dinâmicas de intervenção decorrentes do


aprofundamento da mundialização da economia
1. Desenvolvimento? Des-envolvimento?

O conceito é criticado não é de hoje:


o a Teoria da Dependência (Ruy Mauro Marini)

o a Teoria do Sistema-Mundo (Wallerstein)

o Estudos Subalternos nos EUA, Estudos culturais anglo-saxônicos e


outros teóricos pós-coloniais, Filosofia da Libertação, o Grupo
Colonialidade/Modernidade

o economistas como Ragnar Nurkse (“círculo vicioso da pobreza”),


François Perroux (“custos humanos” do crescimento econômico)...

o propostas de “desenvolvimento comunitário” anteposta por


técnicos de organismos internacionais à “ajuda para o
desenvolvimento”
1. Desenvolvimento? Des-envolvimento?

Quais as razões que justificam as críticas ao conceito?

1 economicismo

2 etnocentrismo

3 antropocentrismo

4 androcentrismo

5 uniformismo (“supra-historismo”?)

Rogério Roque Amaro, Desenvolvimento ou Pós-Desenvolvimento? Des-Envolvimento e...Noflay!. Cadernos


de Estudos Africanos, 34/2017
1. Desenvolvimento? Des-envolvimento?

sustentável

local ou participativo
comunitário Teko Porã Bem viver
(Guaranis)
Desenvolvimentos Suma Qamaña
alternativos
(Ayamarás)

humano Pós-
integrado
desenvolvimento:
Felicidade conceitos Ubuntu
social Interna Bruta alternativos ao
desenvolvimento (Xhosas, Áf.
(Butão) do Sul)

Noflay
Sumak Kawsay (Incas) (Senegal)

Rogério Roque Amaro, Desenvolvimento ou Pós-Desenvolvimento? Des-Envolvimento e...Noflay!. Cadernos


de Estudos Africanos, 34/2017
1. Desenvolvimento? Des-envolvimento?

“Seu significado consiste em: UNIÃO + DIVERSIDADE + MULTIPLICAÇÃO DE


CONHECIMENTOS. Em que estudantes de diversas opiniões, gêneros e raças
se movimentam para proporcionar à comunidade acadêmica um espaço de
discussão, reflexão e interação.
E cada cor traz uma simbologia.
O VERDE: esperança, liberdade e crescimento.
O ROXO: respeito, dignidade e transformação. 
LARANJA: energia, sucesso e comunicação. E por fim,
o AZUL: bem estar, compreensão e raciocínio lógico.”
2. Como nos
tornamos
“América Latina”?
2. Como nos tornamos “América Latina”?

Colonização Modernidade
Civilização, progresso,
desenvolvimento
COLONIALIDADE Ciência
Brancos x não-brancos
DO PODER*
Reprodução de
Direito burguês padrões culturais

* Aníbal Quijano, Colonialidad y


Modernidad-Racionalidad, 1992
CAPITALISMO
Capitalismo
o trabalho na América
industrial-
Latina: especificidade e
financeiro
subordinação à lógica do
globalizado
capital.
2. Como nos tornamos “América Latina”?

No entanto, se existem 200 milhões de escravos, se a servidão pessoal


está de volta, se a pequena produção mercantil é onipresente em todo o
mundo, pois é o elemento central do que é chamado de "economia
informal", se reciprocidade, isto é, a troca de trabalho e força de trabalho
que não passa pelo mercado, está em processo de reexpansão, então
temos a obrigação teórica e histórica de nos perguntar se por isso há
algo que não havíamos percebido bem nessa ideia de que o capitalismo
gerava um único padrão de classificação social e acho que a conclusão é
inevitável: essa ideia estava basicamente errada porque nunca
aconteceu assim e porque, com toda a probabilidade, nunca acontecerá
assim. E acho que a América Latina é um excelente exemplo para
mostrar que nunca foi assim.

(QUIJANO, Aníbal. El Trabajo. Argumentos, México, D.F., v. 26, n. 72, p. 145-163, may-ago.
2013, p.151) (Tradução própria)
2. Como nos tornamos “América Latina”?

o Informalidade: a vida que escorrega para fora da “fôrma”

neoliberalismo

informalidade nova informalidade

Economia Popular, subalterna,


subterrânea, setor informal...
precarização e flexibilização
das relações de trabalho
formais
2. Como nos tornamos “América Latina”?

o muitos mundos do trabalho paralelos, subordinados à


exploração capitalista e, ao mesmo tempo,
contraditoriamente, indiciando lutas silenciosas (ou
não) por identidades alternativas: comunidades
quilombolas, indígenas, fundos e fechos e pasto, a
agricultura camponesa/familiar, o trabalho informal
urbano...

o Três últimas décadas do século XX: conjuntura


econômica e política que conduz à predominância do
neoliberalismo e, com ele, ampliação da
precariedade e exploração que submete a classe
trabalhadora e a disseminação da “razão
empreendedora”.
2. Como nos tornamos “América Latina”?

“O neoliberalismo pode ser definido como um conjunto de discursos, práticas e


dispositivos que determinam um novo modo de governo dos homens segundo o
princípio universal da concorrência” (DARDOT; LAVAL, A nova razão do mundo:
ensaio sobre a sociedade neoliberal. 2016, p. 17)

generalização da empresa como modelo de


concorrência como subjetivação e de
norma de conduta racionalidade
3. Entre o “fazer” e o “trabalhar”:
lutar pelo quê?
TRABALHADOR
OU
TRABALHADORA
DE
UMA OUTRA
ECONOMIA?
3. Entre o “fazer” e o “trabalhar”: lutar pelo quê?

“Amo trabalhar assim na cooperativa. Eu não


suporto a ideia de ter um patrão o tempo todo
ali...a gente fala que é chicotada,
entendeu?...Assim é horrível....Trabalhar assim é
um mercado informal, né?...sempre gostei de
trabalhar assim, informal...”
3. Entre o “fazer” e o “trabalhar”: lutar pelo quê?

o o duplo caráter do trabalho

“Os melhores pontos do meu livro são: 1) duplo caráter do trabalho,


dependendo de ser expresso como valor de uso ou valor de troca. (Todo
entendimento dos fatos depende disto. Isto é enfatizado imediatamente no
primeiro capítulo)” (Carta de Marx a Engels, 24.8.1967. Collected Works, 1987).

“A criação do trabalho [abstrato] é a criação do trabalhador. Não pode


ser diferente: o trabalho não pode ser desempenhado se não há
trabalhador para desempenhá-lo.” (John Holloway, Fissurar o Capitalismo, 2013,
p. 111)

o o “cercamento” dos corpos e mentes na transformação do fazer em


trabalho
trabalhador masculino/
separação entre a vida e a política:
não-trabalho feminino
indivíduo “cidadão” e o “Estado moderno”

objetificação da natureza o tempo do relógio


3. Entre o “fazer” e o “trabalhar”: lutar pelo quê?

ALINHAVANDO IDEIAS PRA COMEÇAR A CONVERSA...

• identificar e fomentar nas experiência de trabalho e produção formas de


ruptura da “cumplicidade estrutural” (GORZ, 2010) que une o trabalhador
ao capital: consumo, uso do tempo, hierarquia de valores
“abrir brechas na “coerção imanente do ‘sempre mais’, ‘sempre mais
rápido’” (DARDOT; LAVAL, 2016, p. 401)
• iluminar outras lógicas laborais e produtivas, explicitando a potência contra-
hegemônica que nelas está contida
• conhecer e fomentar experiências que divirjam, mesmo que parcialmente,
do modelo hegemônico, fortalecendo os caminhos para a articulação das
lutas: coletivização que minimiza o medo e amplifica vozes.
• olhar para o local, para outros modos de “desenvolvimento”, a partir de
uma desconstrução decolonial;
• construção e reconstrução de renovadas práticas de pesquisa e extensão,
assumidamente políticas e militantes, atentas à precedência da práxis e à
humildade diante dos modos de luta e resistência populares e de outras
formas de conhecimento
Paul Klee, Angelus Novus, 1920
Há um quadro de Klee que se chama Angelus Novus . Representa um
anjo que parece querer afastar-se de algo que ele encara fixamente.
Seus olhos estão escancarados, sua boca dilatada, suas asas
abertas. O anjo da história deve ter esse aspecto. Seu rosto está
dirigido para o passado. Onde nós vemos uma cadeia de
acontecimentos, ele vê uma catástrofe única, que acumula
incansavelmente ruína sobre ruína e as dispersa a nossos pés. Ele
gostaria de deter-se para acordar os mortos e juntar os fragmentos.
Mas uma tempestade sopra do paraíso e prende-se em suas asas
com tanta força que ele não pode mais fechá-las. Essa tempestade o
impele irresistivelmente para o futuro, ao qual ele vira as costas,
enquanto o amontoado de ruínas cresce até o céu. Essa tempestade é
o que chamamos progresso.
(Walter Benjamim, Teses sobre o conceito de história - tese número 9, 1940.)
"Tenho dito Escola do Sul porque, na
realidade, nosso norte é o Sul. Não
deve haver norte, para nós, senão por
oposição ao nosso Sul. Por isso agora
colocamos o mapa ao contrário, e
então já temos uma justa ideia de
nossa posição, e não como querem no
resto do mundo. A ponta da América,
desde já, prolongando-se, aponta
insistentemente para o Sul, nosso
norte.[...] Esta retificação era
necessária; com ela agora sabemos
Joaquin Torres García, El norte es el Sur, onde estamos (Joaquin Torres Garcia,
1935
1935)

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