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Centro Hospitalar Cova da Beira

Enfermaria Dr. Garcia de Oliveira


Formação em serviço
Fevereiro 2017

Noções Básicas sobre Gasimetria


arterial

Ricardo Fonseca
Equilíbrio ácido-base

-A manutenção da quantidade ideal de iões hidrogênio nos líquidos intracelular e


extracelular depende de um delicado equilíbrio químico entre os ácidos e as bases
existentes no organismo, denominado equilíbrio ácido-base.

-Ácidos são as substâncias que podem ceder iões hidrogénio para uma solução

-Bases são as substâncias que podem receber iões hidrogénio numa solução.
Equilíbrio ácido-base

-A quantidade de iões hidrogênio livres nas soluções é quantificada pelo pH (potencial


de Hidrogénio - log H+)

-Quanto maior a quantidade de iões hidrogênio nas soluções, tanto mais baixo será o
seu pH;

-Quanto menor a quantidade de iões hidrogénio nas soluções, mais elevado será o pH
Equilíbrio ácido-base

-O metabolismo celular produz ácidos, que são libertados na corrente sanguínea e que
precisam ser neutralizados, para impedir variações no pH sanguíneo.

-O principal ácido do organismo é o ácido carbónico, um ácido instável, que tem a


propriedade de se transformar facilmente em dióxido de carbono e água. O dióxido de
carbono é transportado pelo sangue e eliminado pelos pulmões, enquanto o excesso da
água é eliminada pela urina.

- Os demais ácidos do organismo são fixos, permanecem em estado líquido e são,


principalmente, os ácidos alimentares, o ácido láctico e os ceto-ácidos;

MMCI, (2013)
Equilíbrio ácido-base

-A principal base do organismo é o bicarbonato, produzido à partir do metabolismo


celular pela combinação do dióxido de carbono com a água.

As hemoglobinas têm uma enzima chamada anidrase carbónica, que ajuda a que a
reação química entre o dióxido de carbono (CO2 ) e a água (H2O) aconteça 5 mil vezes
mais rápido. O resultado dessa reação é o ácido carbónico (H2CO3), que, por sua vez, se
separa em iões hidrogênio e iões bicarbonato (HCO3-).

MMCI, (2013)
Equilíbrio ácido-base

Diniz, A. (2013)

O metabolismo gera CO2 , que se dissolve em H2O para


formar o ácido carbónico H2CO3 que, por sua vez,
dissocia-se formando o íon hidrogênio (H+) e
bicarbonato (HCO3-) .
MMCI, (2013)
Fisiologia do lactato

-Lactato é o produto final da glicólise anaeróbia, produzido, normalmente, numa taxa


de 1 mmol/kg/h, especialmente no músculo esquelético, intestino, cérebro e
eritrócitos. O lactato gerado nesses tecidos pode ser extraído pelo fígado e convertido
em glicose (via gliconeogénese) ou pode ser utilizado como substrato primário para
oxidação (fonte de energia). Em repouso a concentração normal de lactato no sangue é
inferior a 2 mmol/L e aumenta até 5 mmol/L durante o exercício.

-Aumento da glicólise anaeróbica (má perfusão)

-Aumento da glicólise aeróbica ( estados hipermetabólicos)

-Uso de catecolaminas

-Disfunção hepática
MMCI, (2013)
Fisiologia do lactato

A hipoperfusão aguda caracteriza-se por um desequilíbrio entre a oferta e o consumo


de oxigênio pelos tecidos, o que proporciona uma falha em suprir as necessidades
metabólicas, culminando em alto risco de múltiplas disfunções orgânicas.

Lactato sérico está estabelecido como indicador de hipóxia tecidual e hipoperfusão

MMCI, (2013)
Silva, L. (2013)

Diniz, A. (2013)
Distúrbios de pH

Avaliação do equilíbrio ácido-base pH PCO2 HCO3 Be

A interpretação da gasometria arterial

Verificação Verificação da
do pH PCO2

Verificação da
Verificação diferença de
das bases bases
(HCO3-) (excesso ou
déficit)
MMCI, (2013)
Silva, L. (2013)
Distúrbios de pH

Potencial de Hidrogénio (pH)

- Quem dita o distúrbio é o pH.

-Um pH normal demonstra a ausência de desvios ou a sua compensação.

MMCI, (2013)
Silva, L. (2013)
Distúrbios de pH

Pressão parcial do dióxido de carbono (PCO2)

Valor de referência – 35 – 45 mm Hg

O componente respiratório é avaliado pela quantidade de ácido carbónico existente no


sangue.

CO2 como indicador fisiológico da ventilação.

MMCI, (2013)
Silva, L. (2013)
Distúrbios de pH

Bicarbonato (Solução Tampão)

Valor de referência- 22 – 28mmol/L.

Acima de 28mmol/L - Excesso de bases disponíveis no sangue,


levando a elevação do pH, configurando alcalose metabólica.

Abaixo de 22mmol/L - parte da reserva de bases foi consumida,


levando a diminuição do pH, configurando acidose metabólica

MMCI, (2013)
Silva, L. (2013)
Distúrbios de pH

Diferença de bases

A capacidade total de neutralização das bases é melhor refletida pelo cálculo da


diferença de bases (excesso ou deficit de bases existentes).
Este parâmetro é calculado à partir das medidas do pH, da PCO2 e da hemoglobina.

O resultado expressa o excesso de bases existentes nas alcaloses metabólicas ou o


deficit de bases existentes nas acidoses metabólicas.

MMCI, (2013)
Silva, L. (2013)
Distúrbios de pH

Diferença de bases
Fornece informações sobre o total de aniões tampão (hemoglobina, bicarbonato,
fosfatos e proteínas plasmáticas) presentes no sangue e se as alterações no equilíbrio
ácido-base são de origem respiratórias ou não respiratórias (metabólica).

Valores abaixo de -3 mEq/L indicam um deficit de base, que corresponde a uma redução
no nível de bicarbonato.

Valores superiores a 3 mEq/L indicam um excesso de base

VALORES AUMENTADOS
Acidose lática
Cetoacidose
Ingesta de ácidos
Choque
Colapso cardiovascular

VALORES DIMINUIDOS
Perda de bases
Hemorragia
Diarreia

MMCI, (2013)
Galvão, J .(2014)
Tipos de distúrbios ácido -base

MMCI, (2013)
Tipos de distúrbios ácido -base

Acidose: condição que tende a reduzir o pH do líquido extracelular

• Acidose metabólica: condição associada à redução do pH e do bicarbonato,


• Acidose respiratória: condição associada à redução do pH e elevação de dióxido de
carbono

• Alcalose: condição que tende a elevar o pH do líquido extracelular,

• Alcalose metabólica: condição associada à elevação do pH e do bicarbonato


• Alcalose respiratória: condição associada à elevação do pH e redução de dióxido de
carbono
Distúrbios de natureza respiratória

Alterações primárias na pCO2 são chamadas de distúrbios respiratórios, e são


decorrentes de desordens na ventilação pulmonar.

Na hiperventilação: diminui o pCO2

Na hipoventilação: aumenta o pCO2

Acidose ou alcalose respiratórias, compreendem assim alterações da ventilação, como


causas do distúrbio.

Galvão, E. (2014)
Distúrbios de natureza respiratória

Acidose Respiratória

Se o organismo acumula CO2, não eliminado adequadamente pela ventilação, o pH se


reduz. Então temos a acidose respiratória.
pH = abaixo de 7,35

respiratório Aumento da
Lesão do centro Pneumonia reabsorção de HCO3 -

Causas
Compensação
(ex: Shunt)
gases sangue-alvéolo Renal
Obstrução das vias interfiram na troca de
aéreas Outros fatores que
formação de novo
bicarbonato pelos
rins para compensar
a elevação de pCO2 .

Sato, M. (2014)
Distúrbios de natureza respiratória

Acidose Respiratória
Manifestações clínicas:

Sharon, L. (2013)
Distúrbios de natureza respiratória

Alcalose Respiratória
Se o organismo elimina CO2 em excesso por hiperventilação, o pH se eleva, pois maior
quantidade de CO2 é liberada. Então temos a alcalose respiratória.
pH = acima de 7,45

Hiperventilação Psiconeurose
Compensação
Renal

Causas
Excreção de
Bicarbonato
Subida a grandes
altitudes (estímulo
Estados de ansiedade
dos
quimiorreceptores)

Sato, M. (2014)
Distúrbios de natureza respiratória

Alcalose Respiratória

Manifestações clínicas

Neurológicas

Cardiovasculares

Gastrointestinais

Neuromusculares

Respiratórias

Sharon, L. (2013)
Distúrbios de natureza metabólica

Acidose Metabólica
Se o organismo acumula ácidos do metabolismo e existe diminuição da concentração
de bicarbonato sérico, o pH do sangue diminui.
pH = abaixo de 7,35

Formação excessiva de Incapacidade dos rins


ácidos pelo excretarem ácidos
metabolismo Metabólicos formados Aumento da frequência Compensação
No organismo no organismo ventilatória para reduzir Pulmonar
pCO2.

Diarreia (perda de
Ingestão ou infusão
bicarbonato pelas
de ácidos
fezes)

Causas
Compensação
Adição de novo
bicarbonato ao Renal
Diabetes líquido extracelular.
mellitus( grande
formação de ácido Insuficiência renal
acetoacético pela crónica
metabolização de
gorduras
Distúrbios de natureza metabólica

Acidose Metabólica

Manifestações clínicas

Sharon, L. (2013)
Distúrbios de natureza metabólica

Alcalose Metabólica
Se o organismo acumula bases em excesso, ou perde ácidos em excesso, aumentando a
concentração de bicarbonato no líquido extracelular, eleva-se pH.
pH = acima de 7,45

Excesso de aldosterona
Vómito de conteúdo
(consequência,
gástrico Diminuição da Compensação
aumento da secreção
(perda de HCl); ventilação
de H+ Pulmonar
(elevação de pCO2);

Causas
Ingestão de
fármacos alcalinos

Compensação
Aumento da excreção Renal
de bicarbonato.

Sato, M. (2014)
Distúrbios de natureza metabólica

Alcalose Metabólica
Manifestações clínicas

Neurológicas

Cardiovasculares

Gastrointestinais

Neuromusculares

Respiratórias

Sharon, L. (2013)
Anion Gap

Medida útil no diagnóstico de distúrbios ácido-básicos.


Baseia-se no princípio da neutralidade, em qualquer compartimento líquido do
organismo (ex. plasma), a concentração de catiões e aniões tem de ser igual

Pelo princípio da eletroneutralidade, a soma dos catiões deve ser igual ao somatório
dos aniões;
a soma do cloro com o bicarbonato não se iguala ao valor do sódio, faltando contabilizar
os aniões não mensuráveis, ou seja, não medidos pelos exames de sangue de rotina.
A essa diferença, chama-se Anion Gap ( ou intervalo aniónico, ou hiato aniónico)

Anion Gap = [Na+] –([HCO3-] + [Cl-])


Normal = 8 a 16 mEq/L

Ex: [Na+] = 140, [HCO3-]= 24 e [Cl-]=105 mEq/L


AG = 140 –(24 + 105) = 11 mEq/L

Sato, M. (2014)
Anion Gap

[Na+ ]é maior do que [HCO3-] e [Cl-], por isso, há uma falta (hiato, diferença) de aniões.

Por isso, para prevalecer a neutralidade, o plasma tem de conter aniões não medidos
(proteínas plasmáticas, fosfato, citrato, sulfatos).

Sato, M. (2014)
Anion Gap

Anion Gap aumentado:

Ex: durante acidose metabólica–aniões orgânicos acumulam-se (hidroxibutirato,


acetoacetato, lactato, salicilato). Diminuição do HCO3-é compensada por aumento da
concentração dos aniões orgânicos.

Anion Gap normal:

Ex: durante diarreia, acidose tubular renal; nenhum anião orgânico está acumulado.
Diminuição do HCO3- é contrabalançada pelo aumento da concentração de Cl-(acidose
metabólica hiperclorêmica).

Sato, M. (2014)
Quadro Resumo
Alteração previsível consoante patologia

Sépsis - Alcalose respiratória enquanto reagir à hipóxia com hiperventilação; Acidose


metabólica se compromete a eficácia hemodinâmica

Vómitos - Alcalose metabólica se elimina sobretudo suco gástrico (perda de H + )


Acidose metabólica se a perda é essencialmente de bicarbonato intestinal (obstrução
distal à 2ª porção do duodeno)

Diuréticos - Alcalose metabólica por perda renal de H + e K +

Taquipneia/ polipneia- Alcalose respiratória

Coma diabético - Acidose metabólica

Carvalho, D. (2013)
Alteração previsível consoante patologia

Paragem cardio-respiratória- Associação de acidose respiratória e acidose metabólica

Intoxicação medicamentosa - Depende do tóxico mas na maioria dos casos provoca


acidose metabólica;

Acidose respiratória se o tóxico provocar depressão respiratória

Alcalose metabólica se a intoxicação for por salicilatos Ingestão crónica de alcalinos

“Overdose” de opiáceos- Acidose respiratória aguda

Hemorragia grave - Acidose metabólica se compromete a eficácia hemodinâmica


Alcalose respiratória enquanto reagir à hipóxia com hiperventilação

DPOC - Acidose respiratória crónica

Carvalho, D. (2013)
Razão PO2 /FiO2

Permite a avaliação da oxigenação em diferentes condições de oferta de oxigênio. Os


valores normais e as gradações de anormalidade estão relacionados abaixo.

• PaO2/FIO2 > 400 mm Hg – normal;

• PaO2/FIO2 > 300- 400 mm Hg – deficit de oxigenação, mas ainda não em níveis
convencionalmente estabelecidos de insuficiência respiratória;

• PaO2/FIO2 < 300 mm Hg – insuficiência respiratória;

• PaO2/FIO2 < 200 mm Hg – insuficiência respiratória grave


Gradiente alveolo-arterial de O2 (A-aO2)

É um indicador global da capacidade do pulmão para as trocas gasosas. O seu valor


aumenta quando a insuficiência respiratória, seja qual for a sua etiologia, se debe a
patologias que afetam o parênquima ou a circulação pulmonar, traduzindo alterações
na difusão, desequilíbrio V/Q ou shunt.
Técnica da colheita de sangue arterial

Palpação e localização do pulso radial junto ao punho e próximo ao


processo estilóide do radio;

Antissepsia do local;

Introduzir o bisel voltado para cima, num ângulo de 30 a 90°


(consoante profundidade da artéria e local anatómico da colheita),
aprofundando a agulha até que haja fluxo fácil de sangue na seringa;

Compressão do local por 5 a 10minutos


Revisão de conceitos

Ventilação
–Processo de renovação quantitativa e qualitativa do ar alveolar

Respiração
–Processos envolvidos nas trocas gasosas entre o organismo e o meio ambiente
–Mecanismo celular de utilização de O2

Hipóxia
–Incapacidade de utilização celular de O2

Hipoxémia
–Diminuição da PaO2
Revisão de conceitos

PaO2 ideal – 109 – (idade x 0,4)mmHg

FiO2 ambiente – 21%

FiO2 estimado- 20 + 4 x O2 fornecido

A máscara de Venturi é um sistema de liberação de oxigênio de alto fluxo, que


possibilita um controle estrito da Fração inspirada de O2.

Máscara de alta concentração possui reservatório de O2, fornece FiO2 até 100%
Revisão de conceitos
Exemplos práticos

Galvão, E. (2014)
Exemplos práticos

Galvão, E. (2014)
Exemplos práticos

Galvão, E. (2014)
Exemplos práticos

Galvão, E. (2014)
Exemplos práticos

Galvão, E. (2014)
Exemplos práticos

Galvão, E. (2014)
Links úteis

http://www.medicinaintensiva.com.br/fio2-estimada.htm

http://www.medicinaintensiva.com.br/PaO2estimada.htm

http://www.medicinaintensiva.com.br/pao2-fio2.htm

https://www.mdcalc.com/anion-gap

https://www.mdcalc.com/a-a-o2-gradient
Referências bibliográficas

Carvalho, D. (2013)- Como interpretar a Gasometria de sangue arterial

Galvão, E. (2014) – Interpretar a gasometria arterial

Sato, M. (2013)- Equilíbrio ácido basico e acidificação urinária

Sharon, L. (2013)- Tratado de Enfermagem Médico Cirúrgica

Silva, L. (2011)- Interpretação de Gasimetria Arterial

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