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DIREITO DO CONSUMIDOR

PRINCÍPIOS

“[...] os princípios seriam como pilares de um


edifício, os quais servem como bases de
qualquer sistema, atuando, neste mister,
como diretrizes orientadoras para a
consecução dos objetivos maiores deste
mesmo sistema.” (BONATO e MORAES)
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PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS
APLICÁVEIS AO DIREITO DO
CONSUMIDOR

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1) Princípio da Dignidade da Pessoa
Humana
➢ Art. 1º, III da CF/88 – uma das chaves de
interpretação de todo o ordenamento jurídico
vigente.
➢ Art. 170, caput da CF/88 – princípio a ser
observado pela ordem econômica.

➢ Sua consagração se dá com o


RECONHECIMENTO de que a ordem jurídica existe
para a pessoa humana, para sua defesa e
desenvolvimento
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1) Princípio da Dignidade da Pessoa
Humana
➢ Segundo Sarlet: “Assim sendo, temos por dignidade
da pessoa humana a qualidade intrínseca e dostintiva de
cada ser humano que o faz merecedor do mesmo
respeito e consideração por parte do Estado e da
comunidade, implicando, neste sentido, um complexo de
direitos e deveres fundamentais que assegurem à
pessoa tanto contra todo e qualquer ato de cunho
degradante e desumano, como venham a lhe garantir as
condições existenciais mínimas para uma vida saudável,
além de propiciar e promover sua participação ativa e co-
responsável nos destinos da própria existência e da vida
em comunhão com os demais seres humanos.” 4
1) Princípio da Dignidade da Pessoa
Humana

➢ Esse princípio estabelece um grau de proteção e


autonomia da pessoa humana frente ao Estado e às
demais pessoas humanas ou pessoas jurídicas
públicas ou privadas, além de impor a satisfação de
condições mínimas de existência (liberdade, trabalho,
moradia, educação, saúde) capazes de tornar capaz
ao ser humano realmente viver e não só sobreviver.

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2) Princípio da Igualdade (não-
discriminação)
➢ Previsto, de forma geral, no preâmbulo da
CF/88.
➢ Art. 3º, IV da CF/88.
➢ Art. 5º, caput da CF/88.

➢ Baliza de forma singular o Estado Democrático de


Direito e expressa uma aspiração do ser humano,
qual seja, a de ser tratado com igualdade.

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3) Princípio da Autonomia Privada
(liberdade)
➢ Apresenta-se como princípio geral fundamental na
compreensão do Direito do Consumidor.

➢ A autonomia privada consiste no poder conferido


aos privados para regularem as suas relações
jurídicas.

➢Tendo como pressuposto a liberdade, a autonomia


privada tem como sua expressão a livre iniciativa,
prevista como valor social – Art. 1º, IV e Art. 170,
caput, ambos da CF/88.
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3) Princípio da Autonomia Privada
(liberdade)
➢ Importante ressaltar que autonomia privada é
diferente de autonomia contratual.

➢ No campo do Direito do Consumidor, existem


fortes restrições à autonomia privada, tendo em vista
a flagrante diferença de poder (econômico, social,
técnico e jurídico) entre fornecedores e
consumidores. Sendo assim, a plena liberdade
contratual estabeleceria uma sujeição intolerável dos
interesses de um dos sujeitos frente ao outro.
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4) Princípio da Justiça Contratual

➢ Previsto, de forma geral, no preâmbulo da


CF/88; Art. 3º, I da CF/88; Art. 170, caput da CF/88.
➢ No âmbito contratual, o princípio da justiça se
expressa através da justiça contratual, que têm
íntima ligação com o princípio da igualdade.
➢ A justiça se apresenta como preocupação de
garantir às partes a igualdade no processo de
contratação, bem como assegurar o equilíbrio entre
benefícios e encargos para as partes contratantes,
com uma distribuição equivalente dos ônus, riscos,
benefícios e vantagens.
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5) Princípio da Função Social do
Contrato
➢ Só merece ser tutelado o contrato que guardar a
sua função social.
➢ Delgado afirma que a função social do contrato se
concretiza, diante do comportamento contratual das
partes, quando são observados os valores e
principios fundamentais como a solidariedade social,
justica social, livre iniciativa, dignidade humana e
respeito aos valores ambientais, sendo uma clausula
geral que faculta ao juiz varias possibilidades de
correcao da atuacao contratual, observado o
equilibrio entre os contratantes.
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5) Princípio da Função Social do
Contrato

Entre estas possibilidades cita: reduzir o


percentual de juros estipulados na relacao contratual;
declarar a inexistencia do contrato por falta de objeto;
decretar a nulidade contratual por fraude a lei
imperativa; convalidar o negocio anulavel; reduzir a
prestacao de uma das partes quando, pela alteracao
da situacao economica, estiver exagerada ou
desproporcional e determinar a resolucao do contrato
por excessiva onerosidade.
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5) Princípio da Função Social do
Contrato

 Este principio e reciprocamente complementar ao


principio da boa-fe objetiva, embora cada um tenha
determinado papel a desempenhar. Ambos sao
padroes eticos para o direito, pontes entre o direito e
a etica, demonstrado o carater relativamente aberto
ao sistema juridico, alem da co-implicacao entre
sistema e realidade social em sua diferenca-
indivisibilidade.

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6) Princípio da Boa-Fe Objetiva
 Um dos mais importantes principios do Direito do
Consumidor.

Relacao contratual – as partes devem agir com


lealdade, confianca, transparencia e cooperacao.

 Norma de conduta que esta presente nas relacoes de


direito e que determina que as partes tenham em suas
relacoes respeito, lealdade, cooperacao com a outra
parte do vinculo obrigacional ou do mero contato social, o
que acarreta o aumento de direitos e deveres de ambas
as partes que se acham em relacao.
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7) Princípio da Razoabilidade
 A ideia de razoabilidade carrega a nocao de limites
alem dos quais se torna insustentavel, irracional,
imoderada, ilegitima a adocao de uma determinada
medida, tendo em vista os valores vigentes em uma
determinada sociedade, que tornem a medida
inaceitavel.

 Esse principio sustenta a impossibilidade de


absurdos, de atitudes abusivas, que nao guardem um
minimo de racionalidade aceitavel segundo os
padroes de uma determinada comunidade social e
juridica. 14
8) Princípio da Proporcionalidade
 A proporcionalidade se apresenta como criterio
inerente para a solucao dos casos conflituosos em
nivel de principios e direitos fundamentais.

 Deve-se observar a presenca de tres elementos


parciais: a adequacao, a necessidade e a
proporcionalidade em sentido estrito.

Adequacao: significa averiguar se os meios


utlizados para atingir determinada finalidade
apresentam as condicoes necessarias para tanto.
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8) Princípio da Proporcionalidade
 Necessidade: deve-se verificar se a medida
escolhida para atingir a finalidade se apresenta como
indispensavel, ou seja, se nao existe uma medida
igualmente efetiva e que cause menores danos ou
restricoes ao direito.

Proporcionalidade em sentido estrito: a


ponderacao se as vantagens obtidas com a limitacao
ou restricao do principio ou direito serao superiores
as desvantagens, levando em consideracao os
interesses que estao em jogo, havendo razoabilidade
e justica em que um dos bens ou interesses preceda 16
ao outro.
9) Princípio da Substituicao Automatica
das Clausulas Contratuais

 Principio geral aplicavel nao somente ao Direito


do Consumidor, mas tambem em outros ramos
do Direito onde normas de ordem publica e
interesse social tem eficacia imediata,
principalmente em contratos de trato sucessivo,
substituindo as clausulas contratuais que lhes
sejam contrarias.

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PRINCÍPIOS DO CODIGO DE DEFESA
DO CONSUMIDOR

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1) Princípios da Vulnerabilidade e da
Protecao
 Vulnerabilidade - Art. 4°, I do CDC

 Existe grande discussao sobre a propria definicao


do que seja vulnerabilidade, entendendo alguns que
esta nocao e de direito material, alcancando todos os
consumidores sem excecao, enquanto a nocao de
hipossuficiencia seria uma nocao de direito
processual, que demonstraria a fraqueza processual
de certos consumidores, o que possibilitaria
determinadas medidas de protecao contratual.

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1) Princípios da Vulnerabilidade e da
Protecao
 Seguem alguns posicionamentos de Benjamim:

“O consumidor e, reconhecidamente, um ser


vulneravel no mercado de consumo (art. 4°, I). So
que, entre todos que sao vulneraveis, ha outros
cuja vulnerabilidade e superior a media. Sao os
consumidores ignorantes e de pouco
conhecimento, de idade pequena ou avancada, de
saude fragil, bem como aqueles cuja posicao
social nao lhes permite avaliar com adequacao o
produto ou servico que estao adquirindo.”
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1) Princípios da Vulnerabilidade e da
Protecao
“A vulnerabilidade e um traco universal de todos os
consumidores, ricos ou pobres, educados ou
ignorantes, credulos ou espertos. Ja a
hipossuficiencia e marca pessoal, limitada a alguns –
ate mesmo a uma coletividade – mas nunca a todos
os consumidores.”

“A vulnerabilidade do consumidor justifica a


existencia do Codigo. A hipossuficiencia, por seu
turno, legitima alguns tratamentos diferenciados no
interior do proprio Codigo, como, exemplo, a
previsao de inversao do onus da prova (art. 6°, VIII).”
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1) Princípios da Vulnerabilidade e da
Protecao

A partir da constatacao da vulnerabilidade do


consumidor e que se provem a necessidade de sua
protecao, como direito fundamental que deve ser
efetivado em normas de ordem publica e interesse
social, como bem afirma o art. 1° do CDC.

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2) Princípio da Repressao Eficiente aos
Abusos
 No mercado, o consumidor esta exposto a varias
praticas abusivas, que passam pela publicidade, oferta,
as chamadas praticas abusivas, as clausulas abusivas,
as varias obrigacoes impostas nos contratos de adesao e
nas condicoes gerais dos contratos.

 Para a repressao eficiente dos abusos esta prevista


toda uma normativa que passa tanto pela protecao
administrativa, legislativa e judicial, englobando as areas
de medidas de policia administrativa, de punicao penal e
responsabilidade civil, inclusive com a possibilidade de
ingresso de acoes individuais e coletivas para a
repressao desses abusos. 23
3) Princípio da Harmonia do Mercado de
Consumo
 Tal principio pode ser concretizado a partir do
reconhecimento da unidade da ordem juridica, bem como
do fato de que os principios nao sao exclusivos e aplicados
na dimensao do tudo ou nada, mas sim na dimensao do
peso, atuando muitas vezes em conjunto com a finalidade
de dar o melhor cumprimento a ordem juridica vigente.

Deve-se buscar o maximo equilibrio nas relacoes de


consumo a fim de que os interesses envolvidos nestas
relacoes sejam ao mesmo tempo protegidos, desde que
merecedores de tutela, nao podendo haver a
desconsideracao pelos interesses legitimos envolvidos no
processo. 24
Referenciais Bibliograficas
ALMEIDA, Joao Batista de. Manual de Direito do Consumidor. Sao Paulo:
Editora Saraiva, 2003.

BENJAMIN, Antonio Herman de Vasconcellos e. Codigo Brasileiro de


Defesa do Consumidor – Comentado pelos Autores de Anteprojeto. Rio de
Janeiro: Forense Universitaria, 2004.

BONATTO, Claudio; MORAES, Paulo Valerio Dal Pai. Questoes


controvertidas no Codigo de Defesa do Consumidor. Porto Alegre: Livraria
do Advogado Editora, 2003.

DELGADO, Jose Augusto. O Contrato no Codigo Civil e a sua Funcao


Social. Revista Juridica n. 322. Porto Alegre: Notadez, 2004.

SARLET, Ingo Wofgang. Dignidade da Pessoa Humana e Direitos


Fundamentais na Constituicao Federal de 1988. Porto Alegre: Livraria do
Advogado, 2001.
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