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A criança e a Escola

A criança e a Escola
• Interações entre criança e escola
 Dificuldades da criança na escola;
Dificuldades da escola com as crianças

• As crianças com dificuldade na escola:


É uma criança desviante;
Patológica ou doente;
• G.Heuyer:
 “Quando o pedagogo reivindica a criança inadaptada com sua
propriedade, mostra ignorar o que é uma criança inadaptada, de
onde vem a inadaptação, e que medidas complexas e difíceis são
necessárias para sua readaptação”.
A criança e a Escola
• Há outro lado onde:
 A estrutura escolar é ela própria inadaptada à
criança e a única responsável pelo fracasso escolar;

• Em alguma décadas as dificuldades escolares


eram puramente moral (o fracasso se devia à
preguiça da criança e, consequentemente, ela
era a primeira a estar em falta por causa disso)
A criança e a Escola
• Do ponto de vista médico-patológico:
 O fracasso escolar se deve á inadaptação da
criança –(defeito do equipamento neurológico –
debilidade mental).
• Do ponto de vista sociológico:
 O fracasso escolar de deve à inadaptação das
estruturas escolares atuais diante de uma
proporção não negligenciável da população.
A criança e a Escola
• O lugar que ocupa a escola no campo de atividade da
psiquiatria infantil não deve ser ignorado;

• 50% das crianças examinadas no Centro Alfred Binet são


enviadas pela escola;

• As crianças que são levadas pela iniciativa dos pais, a grande


maioria são por motivos escolares;

• 70% de crianças que são consultadas, há sempre um motivo


escolar citado.
A criança e a Escola
• Em todos os casos face a inadaptação escolar,
deve-se levar em consideração três parceiro:

 A criança;
A família;
 A escola.
A criança e a Escola
• A Criança

 Distinguir entre:
Possibilidades de aprender;
O desejo de aprender.

 A avaliação das possibilidades:


Exame cuidadoso e completo das capacidades físicas (busca de déficit
sensorial e parcial) e psíquicas.

 Só um número reduzido de crianças não tem o equipamento


neurofisiológico básico necessário a uma boa aprendizagem e podem ,
consequentemente ser consideradas incapazes de seguir uma
escolaridade normal.
A criança e a Escola
 No desejo de aprender
 Motivação da criança:
1. De origem individual, reação de amor próprio e de prestância, mas também
desejo de saber, prazer em aprender, rivalidade fraternal ou edipiana, etc.;
2. De origem familiar: estímulo parental de qualquer natureza, participação
dos pais na vida escolar de seu filho;
3. De origem social, enfim: valorização do conhecimento, partilha dos mesmos
ideais que a instituição escolar...

 O sistema de motivação evolui com a idade, passando de


progressivamente de uma motivação externa, tal como imitar um
adulto, dar prazer aos pais e/ou a professora, a uma motivação
interna cuja natureza também varia: prazer com a competição ou
atitude de prestância, necessidade aprender uma profissão.
A criança e a Escola
• A Família
 Intervém simultaneamente na dinâmica das trocas intrafamiliares e
por meio de seu grau de motivação em relação à escola;
 Fobia escolar.

O nível sócio-cultural da família:

Fator essencial na adequação criança-escola;


Linguagem nas trocas familiares ;
Alguns pais opõem sistematicamente seu filho à escola, denigrem-na e
desvalorizam-na constantemente. Atitude oposta pode causar um bloqueio na
criança;
O hiperinvestimento pelos pais dos resultados escolares;
A criança e a Escola
• A Escola
 Em meados do século XX o processo de expansão da
escolarização básica no país começou, e que o seu
crescimento, em termos de rede pública de ensino, se
deu no fim dos anos 1970 e início dos anos 1980.
 Com isso posto, podemos nos voltar aos dados
nacionais:
 O Brasil ocupa o 53º lugar em educação, entre 65 países
avaliados (PISA- INEP). Mesmo com o programa social que
incentivou a matrícula de 98% de crianças entre 6 e 12 anos;
 731 mil crianças ainda estão fora da escola (IBGE);
 O analfabetismo funcional de pessoas entre 15 e 64 anos foi
registrado em 28% no ano de 2009 (IBOPE);
A criança e a Escola
• A escola sofreu profundas mudanças:
 A figura do professor primário, como autoridade moral
incontestável do vilarejo, desapareceu no anonimato dos
bairros de periferia e dos grandes grupos escolares;
 Acesso do conjunto das classes sociais à escola;

 Diante desse contexto a escola não soube ou pôde se


adaptar com a flexibilidade necessária, tanto em sua
organização material (problema do ritmo escolar, das
férias, do número de crianças) quanto em seu próprio
conteúdo.
A criança e a Escola
• A importância quantitativa do fracasso escolar
mostra que a inadaptação da escola às estruturas
sociais atuais deve ser considerada na avaliação
da inadaptação escola-criança antes que se
possa declarar esta última “inadaptada”.

• O nível sócio-cultural e o êxito escolar não pode


mais ser colocada em dúvida: quando mais baixo
o nível, maior será o risco de fracasso escolar.
A criança e a Escola
 Fracasso escolar
Maria Helena Souza Patto (1990)

 Busca compreender a temática a partir dos seus nexos


constitutivos, e é enfática ao ratificar a complexidade do
fracasso escolar na medida em que envolve as dimensões
políticas, históricas, sócio-econômicas, ideológicas e
institucionais, bem como dimensões pedagógicas em
estreita articulação com as concepções que caracterizam
os processos e as dinâmicas em que se efetivam as
práticas escolares.
A criança e a Escola
• Nessa perspectiva, a busca da superação do fracasso escolar se
articula a processos mais amplos do que a dinâmica intra-escolar
sem negligenciar, nesse percurso, a real importância do papel da
escola nos processos de desenvolvimento e aprendizagem dos
estudantes;

• O estabelecimento de políticas, programas e ações visando


superar o fracasso escolar deve considerar as diferentes
dimensões e a necessidade de busca de maior articulação, no
campo das políticas educacionais, a necessidade de priorização
estratégica de algumas dessas ações como norte político a ser
efetivado nas políticas e gestão para a educação básica.
Dificuldades de
Aprendizagem
DIFICULDADES DE
APRENDIZAGEM

• Se caracteriza por um funcionamento


substancialmente abaixo do esperado,
considerando-se a idade cronológica do
sujeito e seu quociente intelectual, interfere
significativamente no rendimento acadêmico
e/ou na vida cotidiana.
Teorias sobre as Dificuldades de
Aprendizagem
• As teorias sobre as Dificuldades de Aprendizagem possuem três
enfoques:

1) O enfoque do processamento de informação: que está sendo mais


predominante nas últimas décadas em Psicologia.
2) O enfoque interativo ou ecológico: no qual estão incluídos a análise dos
contextos familiares e escolares nas dificuldades de Aprendizagem.
3) A perspectiva sócio-cultural: que se desenvolveu mais nos últimos cinco
anos
4) Surgiu então um quarto enfoque que é o neuropsicológico: importante
neste cenário em nível nacional e internacional. É muito relevante para
compreender a importância da interdisciplinaridade no campo das
Dificuldades de Aprendizagem.
Podemos dividir as teorias das Dificuldades de
Aprendizagem em três grandes blocos:
1)Os modelos centrados na pessoa: que se referem às
explicações neurofisiológicas ou os modelos médicos,
as teorias genéticas, etc. As explicações são baseadas
em déficits nos processos perceptivos.
2)Os modelos centrados na tarefa e no meio educativo:
reúne as teorias centradas na análise das tarefas e as
centradas n o meio sociológico e educativo.
3)Os modelos integradores: aborda os processos
psicológicos subjacentes, e os enfoques que apresenta
as deficiências no processamento de informação.
As Dificuldades de Aprendizagens no
Brasil
• Este tema tem sido com considerado central na questão sobre o
fracasso escolar;

• Pesquisas sobre os alunos brasileiros demonstram que os fatores


mais apontados como responsáveis são: físicos, cognitivos,
emocionais e comportamentais.

• As Dificuldades de Aprendizagens só podem ser compreendidas


na interação entre os fatores intra e extra escolares, requerendo
intervenções tanto no âmbito do aluno, das práticas pedagógicas,
da formação de professores, quanto no âmbito de mudanças mais
amplas de natureza política, econômica e social.
Distúrbio de Aprendizagem

• A palavra distúrbio tende a ter uma conotação


de um problema que é de natureza
neurológica. É um termo usado muitas vezes
de forma inadequada pelos professores.
Os Distúrbios podem apresentar-se como:

• Hiperatividade

• Instabilidade
• Hiperatividade pode significar uma
instabilidade psicomotora provocada por
frustração, ansiedade ou protesto.
• Instabilidade se refere a um fraco controle
sobre si mesma.
Goldsteins (1998) descreve quatro características da
uma pessoa hiperativa:

1) Desatenção e Distração: a criança apresenta grande


dificuldade de se concentrar.
2) Superexcitação e Atividade Excessiva: tendência a se
mostrar agitada e ativa em excesso prejudicando a
concentração.
3) Impulsividade: dificuldade de pensar antes de agir e
em seguir regras.
4) Dificuldade de lidar com a frustração: não consegue
trabalhar com objetos a longo prazo. Precisa de mais
compensação a curto prazo.
Transtornos de
Aprendizagem:
encontram-se na base
de muitas Dificuldades
de Aprendizagem.
Tipos de Transtornos
1. Déficits de atenção / hiperatividade;

2.Transtorno de Comunicação e os Transtornos da


fala.

3. Transtornos da infância e da adolescência.

4. Retardo Mental e os Transtornos Globais do


Desenvolvimento.
Transtornos de Aprendizagem são
definidos pela OMS(Organização
Mundial da Saúde) como aqueles
manifestados por comprometimentos
específicos e significativos no
aprendizado de habilidades escolares.
Tipos de Transtornos

Da leitura Da escrita
(Dislexia) (Disgrafia)

Das habilidades Da ortografia e


matemáticas da escrita
(Discalculia) (Disortografia)
DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM
DISLEXIA
Transtorno de linguagem de origem neurobiológica. É caracterizada por uma dificuldade
específica para aquisição da leitura bem como para reconhecer palavras, soletrar e decodificar
palavras.

DSM-IV: Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos mentais:

Transtornos de aprendizagem que incluem transtorno da leitura, transtorno de matemática e


transtorno da expressão escrita.

CID-10: Classificação Internacional das Doenças – OMS:

Transtornos específicos do desenvolvimento das habilidades escolares abrangendo transtornos


da leitura e outros.
DISLEXIA

É um transtorno ESPECÍFICO de leitura; um funcionamento


peculiar do cérebro para o processamento da linguagem; um
déficit lingüístico, mais especificamente uma falta de
habilidade no nível fonológico; uma dificuldade específica
para aprendizagem da leitura bem como para reconhecer,
soletrar e decodificar palavras. Podemos também excluir a
presença de dificuldades visuais, auditivas, problemas
emocionais, distúrbios neurológicos ou dificuldades
socioeconômicas como origem do transtorno.
(Mousinho)
DISGRAFIA
“letra feia”

Transtorno funcional na execução da escrita, que afeta


a forma, a inteligibilidade, o ritmo ou o significado da
mesma, sem alterações intelectuais, sensoriais,
neurológicas, motoras ou afetivas que a justifiquem

• Planejamento linguístico;
• Recuperação visual;
• Planejamento motor.
DISGRAFIA
Sinais e Sintomas
• Na Escrita • Na Pessoa

• Incoordenação de movimentos; • Mau conhecimento do próprio


• Repasses, rasuras; corpo;
• Alterações direcionais das letras;
• Lateralidade mal definida;
• Ângulos nas letras;
• Traçado muito leve ou muito forte;
• Alteração na organização espacial;
• Mau uso do espaço gráfico; • Alteração de equilíbrio, tônus
• Dificuldade de cópia do quadro para o muscular e postura;
caderno; • Comportamento irriquieto e
• Caderno sujo, páginas amassadas; instável;
• Omissões, agregações, confusão entre • Alteração na motricidade fina;
letras,sílabas,palavras;
• Lentidão; • Dificuldades metalinguísticas;
• Rapidez (TDAH). • Possíveis problemas emocionais.
DISGRAFIA
Classificação

Disgrafia motora Disgrafia ideomotora

Alteração na qualidade e na Dificuldade na elaboração dos


inteligibilidade da escrita
movimentos gráficos, o que
provoca erros direcionais na
movimentação das letras

Disgrafia disléxica
Disgrafia Ideográfica
Alteração no conteúdo da escrita:
aglutinações (derrepente) Esquecimento da imagem
assimilações (pobre / probre) gráfica, apresentando
substituições (faca / vaca) dificuldade de escrever a letra
Discalculia
Desordem específica que afeta a habilidade em
compreender e manipular números para executar
operações matemáticas ou aritméticas.

Dificuldade na percepção, memória, abstração,leitura,


funcionamento motor.

Envolve atividades combinadas dos dois hemisférios


cerebrais.

5 a 6% da população.
Discalculia
Na área da neuropsicologia as áreas afetadas são:

• Áreas terciárias do hemisfério esquerdo que dificulta a leitura e


compreensão dos problemas verbais, compreensão de conceitos
matemáticos;

• Lobos frontais dificultando a realização de cálculos mentais rápidos,


habilidade de solução de problemas e conceitualização abstrata.;

• Áreas secundárias occípito-parietais esquerdos dificultando a


discriminação visual de símbolos matemáticos escritos;

• Lobo temporal esquerdo dificultando memória de séries, realizações


matemáticas básicas.
Discalculia
De acordo com Johnson e Myklebust a criança com Discalculia é incapaz
de:
• Visualizar conjuntos de objetos dentro de um conjunto maior;
• Conservar a quantidade: não compreendem que 1 quilo é igual a quatro
pacotes de 250 gramas.
• Seqüenciar números: o que vem antes do 11 e depois do 15 – antecessor e
sucessor.
• Classificar números.
• Compreender os sinais +, - , ÷, ×.
• Montar operações.
• Entender os princípios de medida.
• Lembrar as seqüências dos passos para realizar as operações matemáticas.
• Estabelecer correspondência um a um: não relaciona o número de alunos
de uma sala à quantidade de carteiras.
• Contar através dos cardinais e ordinais.
Discalculia
SUBTIPOS
1.Discalculia Verbal - dificuldade para nomear as quantidades
matemáticas, os números, os termos, os símbolos e as relações.
2.Discalculia Practognóstica - dificuldade para enumerar,
comparar e manipular objetos reais ou em imagens
matematicamente.
3.Discalculia Léxica - Dificuldades na leitura de símbolos
matemáticos.
4.Discalculia Gráfica - Dificuldades na escrita de símbolos
matemáticos.
5.Discalculia Ideognóstica – Dificuldades em fazer operações
mentais e na compreensão de conceitos matemáticos.
6.Discalculia Operacional - Dificuldades na execução de
operações e cálculos numéricos.
Disortografia
Caracteriza-se por um quadro com
importante dificuldade no aprendizado e
do desenvolvimento da habilidade da
linguagem escrita expressiva, associada
ou não a Dislexia.
DISortografia
Sintomas

• Troca de grafemas, devido a inabilidade de


discriminação auditiva;

• Dificuldade em perceber sinalizações gráficas;

• Limitações em fazer uso coordenado das orações


acarretando em produções textuais extremamente
pobres e resumidos, bem como aglutinação e
segmentação indevida de palavras.
DISortografia
em sala de aula

• O aluno com este quadro apresenta


importante inabilidade em sua produção
textual, caracterizada por textos objetivos,
curtos, com limitações quanto a pontuação
e seqüência lógica de idéias, desorganização
espacial, não utilizando margem,
espaçamento em frases e letras maiúsculas.
TDAH
• Transtorno comportamental caracterizado pela tríade
sintomatológica: déficit de atenção, hiperatividade e
impulsividade;

• Presença de desatenção e/ ou hiperatividade e impulsividade


em níveis inadequados para idade e escolaridade;

• Comprometimento funcional;

• Não justificável por outras patologias.


TDAH
Desatenção Hiperatividade/impulsividade

• Não presta atenção em detalhes – erros •Se remexe muito na cadeira ou mexe
por descuido em deveres e tarefas ; pés e mãos;

• Dificuldade em manter a concentração •Levanta-se muito da cadeira em sala de


em tarefas ou atividades lúdicas; aula ou em outras situações;

•Corre ou pula e trepa em demasia;


• Parece não ouvir quando chamado;
•Fala em demasia;
• Não segue instruções e não termina
tarefas escolares, domésticas e
•Respostas precipitadas a perguntas;
profissionais;
•Dificuldade em aguardar a vez;
• Perde coisas necessárias;
•Interrompe ou se intromete em
• Distraível por estímulos externos. assuntos alheios .
Diferença entre Dificuldades de Aprendizagem
e Distúrbios de Aprendizagem
A Dificuldade de Aprendizagem está
relacionada a problemas de ordem pedagógica
e/ou sócio-culturais e logo o problema central
não esta apenas no aluno.

 Os Distúrbios de Aprendizagem sugere a


existência de um comprometimento
neurológico e das funções corticais específicas.
• Conforme Castano (2003) o termo
Dificuldade de Aprendizagem pode
ser caracterizado por alterações no
processo de desenvolvimento, no
aprendizado da leitura, da escrita e
do raciocínio lógico-matemático,
pode estar ou não associadas a
comprometimentos da linguagem
oral.
Não
aprender

Transtornos de
aprendizagem;

Fracasso Dificuldades de
Escolar; Aprendizagem;

Obs.: Embora todos resultem em não aprender, apresentam


estruturas e intervenções diferenciadas para garantir o sucesso no ambiente
escolar.
• O Distúrbio de Aprendizagem é considerado
como uma disfunção do SNC relacionado a
uma falha no processo de aquisição ou de
desenvolvimento.
• A criança com dificuldades de aprendizagem
não deve ser "classificada" como deficiente.
Trata-se apenas de uma criança normal que
aprende de uma forma diferente.
“ Ensinar é fundamentalmente deixar
aprender, ou deixar ser o que se
possa, pois cada um aprende
conforme o horizonte de suas
possibilidades.”

(BRASI, 1980)

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