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Legislação e Políticas Públicas da Pessoa com Deficiência.

PSICOLOGIA EM PESSOAS COM DEFICIÊNCIA


Antiga definição de pessoa com deficiência
A redação original da Lei nº 8.742/93 (Lei Orgânica da Assistência Social) conceituava como
deficiente a pessoa incapaz para o trabalho e para a vida independente. Da mesma forma, o
artigo 3º do Decreto nº 3.298/1999, com a redação dada pelo Decreto nº 5.296/2004, que
regulamenta a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, definia
deficiência como

“[...] toda perda ou anormalidade de uma estrutura ou função psicológica,


fisiológica ou anatômica que gere incapacidade para o desempenho de atividade,
dentro do padrão considerado normal para o ser humano”.
Pessoa com deficiência
A Lei nº 13.146 de 06 de julho de 2015 que institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com
Deficiência, denominado Estatuto da Pessoa com Deficiência, veio confirmar esse novo conceito
e adequar a legislação brasileira ao disposto na Convenção. O art. 2º do Estatuto define como
pessoa com deficiência aquela que possui
“[...] impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial,
o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena
e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas.”. 
Da definição legal infere-se que há vários tipos de deficiências, que deficiência intelectual é uma
espécie e o intuito da lei é a igualdade de condições entre as pessoas na participação da vida em
sociedade. Dessa forma, compreende-se que o novo conceito considera que a deficiência não
está na pessoa, mas na relação entre a pessoa (que tem impedimentos em alguma área) com o
meio (barreiras), que impedem sua participação plena na sociedade.
Estatuto da pessoa com deficiência
Trata-se da Lei 13.146/2015 que começou a ser aplicada no dia 06/01/2016 e que tem como
objetivo principal assegurar a proteção da dignidade da pessoa com deficiência, trazendo
novidades quanto a capacidade civil e estabelecendo diversos direitos para essas pessoas.
A Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência - ou Estatuto da Pessoa com Deficiência -
consolida e amplia benefícios e direitos desses cidadãos.
Estatuto da pessoa com deficiência
A referida lei consolidou as premissas trazidas pela Convenção das Nações
Unidas sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência – CDPC, representando
notável avanço para a proteção da dignidade da pessoa portadora de ausência
ou disfunção de uma estrutura psíquica, fisiológica ou anatômica. As inovações
buscam e retratam a evolução pela inclusão social e ao direito à cidadania plena
e afetiva.
Sua natureza incorpora um novo modelo social alvidrado pelos direitos humanos
que é a reabilitação da própria sociedade, visando, assim, minorar as barreiras
de exclusão e incluir o deficiente na comunidade, garantindo-lhe uma vida
independente, com igualdade no exercício da capacidade jurídica.
Direitos da pessoa com deficiência
É dever de todos comunicar à autoridade competente qualquer forma de ameaça ou de
violação aos direitos da pessoa com deficiência, sendo dever do Estado, da sociedade e
da família assegurar à pessoa com deficiência, com prioridade, a efetivação dos direitos
referentes:
À vida, à saúde, à sexualidade, à paternidade e à maternidade, à alimentação, à
habitação, à educação, à profissionalização, ao trabalho, à previdência social, à
habilitação e à reabilitação, ao transporte, à acessibilidade, à cultura, ao desporto, ao
turismo, ao lazer, à informação, à comunicação, aos avanços científicos e tecnológicos, à
dignidade, ao respeito, à liberdade, à convivência familiar e comunitária, entre outros
decorrentes da constituição federal, da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com
Deficiência e seu Protocolo Facultativo e das leis e de outras normas que garantam seu
bem-estar pessoal, social e econômico.
Estatuto da pessoa com deficiência
Cumpre destacar os arts. 6º e 84 do referido diploma legal, que atestam que a
deficiência não afeta a plena capacidade civil das pessoas, inclusive para:
I - casar-se e constituir união estável;
II - exercer direitos sexuais e reprodutivos;
III - exercer o direito de decidir sobre o número de filhos e de ter acesso a informações
adequadas sobre reprodução e planejamento familiar;
IV - conservar sua fertilidade, sendo vedada a esterilização compulsória;
V - exercer o direito à família e à convivência familiar e comunitária;
VI - exercer o direito à guarda, à tutela, à curatela e à adoção, como adotante ou
adotando, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas.
Estatuto da pessoa com deficiência
Dispõe o art. 84 que "A pessoa com deficiência tem assegurado o direito ao
exercício de sua capacidade legal em igualdade de condições com as demais
pessoas".
Por conseguinte, em seu art. 114, o Estatuto altera diversos artigos do 
Código Civil, remodelando consubstancialmente a teoria das incapacidades, uma
vez que passou a declarar apenas uma hipótese de incapacidade absoluta: os
menores de 16 anos, inexistindo, portanto, no Ordenamento Pátrio, pessoa
maior absolutamente incapaz.
Em síntese, os arts. 3º e 4º do Código Civil sofreram as principais modificações.
Estatuto da pessoa com deficiência
Destaca-se, ainda, que os dispositivos da referida lei retiraram do rol de
relativamente incapazes os portadores de deficiência mental e os excepcionais
sem desenvolvimento completo, mantidos:
I – os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos;
II – os ébrios habituais e os viciados em tóxicos;
III – aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir
sua vontade;
IV – os pródigos. 
Estatuto da pessoa com deficiência
Aqueles antes vistos como "interditos", "sujeitos irrecuperáveis", ou ainda, "que por
enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para a
prática" dos atos da vida civil, saíram do rol de absolutamente para o de relativamente
incapazes, em uma tentativa de conceber a tão afamada inclusão social. 

As pessoas antes sujeitas à interdição em razão de enfermidade ou deficiência


passam, por força da nova lei, a serem consideradas plenamente capazes. Essa
garantia reconhece uma presunção geral de plena capacidade a favor das pessoas com
deficiência, o que somente por meio de relevante inversão probatória sucederia à
incapacidade, excepcional e amplamente justificada. Inexistindo para estes,
ressaltasse a incapacidade absoluta. 
Nesse passo, o Estatuto inova no Instituto da Curatela, que reconhece o direito da pessoa com
deficiência ao exercício de sua capacidade legal em igualdade de condições com as demais
pessoas, passando a ter o caráter de medida excepcional, extraordinária, devendo ser adotada
somente quando e na medida em que for necessária.
Tanto é assim que restaram revogados os incisos I, II e IV do artigo 1.767 do Código Civil, em que
se afirmava que os portadores de transtorno mental estariam sujeitos à curatela. 

O deficiente, o enfermo ou o excepcional, sendo pessoa plenamente capaz, poderá celebrar


negócios jurídicos sem qualquer restrição, pois não mais se aplicam as invalidades previstas nos
artigos 166, I e 171, I do Código Civil. 

A interdição foi outro instituto que também sofreu consideráveis mudanças. A lei 13.146/15
alterou o artigo 1.768 do Código Civil, deixando de mencionar que "a interdição será
promovida", passando a enunciar que "o processo que define os termos da curatela deve ser
promovido", incluindo a própria pessoa a ser objeto da medida como legitimada para tanto.
1. Definição da Pessoa com Deficiência
A nova lei amplia o conceito e estabelece critérios mais flexíveis,
considerando a pessoa com deficiência aquela que tem
impedimento de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, de
longo prazo, que pode dificultar a convivência.
Se for necessária uma avaliação da deficiência, essa deverá ser
biopsicossocial que vai considerar os fatores socioambientais,
psicológicos e pessoais, conforme consta no  art. 2.
2. Mercado de Trabalho
Segundo o estatuto, empresas com 100 ou mais empregados devem preencher
de 2% a 5% dos seus cargo com beneficiários reabilitados ou pessoas portadoras
de deficiência habilitadas. Além disso,  a pessoa com necessidades especiais terá
assegurado o uso de tecnologias apropriadas, quando necessário no exercício
de cargo público.
Outro benefício ao trabalhador especial é  o auxílio-inclusão para quem exercer
atividade remunerada, conforme instituído no art. 94 da lei.
3. Inclusão Escolar
Um tema polêmico tratado pelo Estatuto, já que  instituições de ensino não contavam
com disposições específicas sobre inclusão, apoio educacional e acessibilidade às pessoas com
deficiência.
Contudo, o STF recentemente declarou ser constitucional o artigo da referida lei no qual consta
que o poder público deve assegurar a adoção de medidas individualizadas e coletivas em
ambientes que maximizem o desenvolvimento acadêmico e social dos estudantes com
deficiência, favorecendo o acesso, a permanência, a participação e a aprendizagem em
instituições de ensino.
Cabe ressaltar  que, consoante o art. 98 do Estatuto,  constitui crime com pena de reclusão de
dois a cinco anos recusar, cobrar valores adicionais ou cancelar inscrição de aluno em
estabelecimento de ensino de qualquer curso ou grau, público ou privado, em razão de sua
deficiência.
3. Inclusão Escolar
É dever do poder público de garantir o completo acesso em condições de igualdade,
assegurar um sistema educacional inclusivo e ofertar recursos de acessibilidade,
conforme previsto em lei, no que tange as escolas inclusivas, o Estado tem o dever de
oferecer o ensino bilíngue, ou seja, em primeira língua a Libra e segunda língua o
português.
4. Acessibilidade
A nova lei ainda estabelece regras de acessibilidade a serem observadas por todos
os sites de internet, canais de comercialização virtual, anúncios publicitários e obras
intelectuais, assim como instituições de ensino, que devem proporcionar a inclusão
digital, cultural e educacional das pessoas com deficiência.
Com relação à habitação, o Estatuto prevê que no mínimo 3% das casas fabricadas
com recursos de programas habitacionais do governo deverão ser acessíveis a
pessoas com deficiência, segundo o art. 32 inciso I.
Nota-se que essa lei prescreve ainda a necessidade de fabricação de veículos de
transporte coletivo adaptado para os deficientes físicos, pois atualmente é
reduzido o número de transporte adaptado que atende a população com
deficiência, tornando assim mais acessível o dia a dia das pessoas com deficiência.
4. Acessibilidade
O direito à acessibilidade induz que sejam criadas e aperfeiçoadas as normas técnicas com os
padrões mínimos, dentro dos preceitos do desenho universal, onde fica evidenciado que serão
necessários, cada vez mais, a formação de profissionais que atuem na área na concepção de
espaços, produtos e serviços, para que desde a fase inicial de cada projeto estejam presentes os
recursos necessários que operacionalizem a acessibilidade, devendo oferecer o máximo de
autonomia, segurança e conforto possíveis, para quem deles usufruem, com dignidade
5. Saúde
A lei assegura a atenção integral à saúde da pessoa com deficiência em todos os
níveis de complexidade, por intermédio do SUS, garantido acesso universal e
igualitário. Além disso, proíbe os planos de saúde de praticarem qualquer tipo de
discriminação à pessoa em razão de sua deficiência, constituindo crime quem
impede ou dificulta o ingresso de pessoa com deficiência em planos privados de
assistência à saúde, inclusive com cobrança de valores diferenciados.
Quem atrapalhar a entrada de uma pessoa com deficiência em planos privados de
saúde estará sujeito a pena de dois a cinco anos de detenção, além de multa,
sendo que mesma punição se aplica em quem negar emprego, recusar assistência
médico-hospitalar ou outros direitos a alguém, por causa de sua deficiência.
 
5. Saúde
Conforme a Lei 13.146/2015 no art. 18, “é assegurada atenção integral à saúde da
pessoa com deficiência em todos os níveis de complexidade, por intermédio do SUS,
garantido acesso universal e igualitário”. Nesse contexto, de acordo o §4º do art. 18, as
ações e os serviços de saúde pública destinados à pessoa com deficiência devem
assegurar atendimento psicológico, inclusive para seus familiares e atendentes
pessoais”.

A pessoa com deficiência tem direito a receber atendimento prioritário conforme o


art. 9º da Lei 13.146/2015, inclusive no atendimento em todas as instituições e serviços
de atendimento ao público. Contudo, nesse caso, de acordo com o §2º “nos serviços de
emergência públicos e privados, a prioridade conferida por esta Lei é condicionada aos
protocolos de atendimento médico”.
5. Saúde
Situação hipotética: Um servidor público federal, portador de deficiência que lhe acarreta
redução da mobilidade, realizou exame periódico no qual se atestou que, se submetesse a
determinada intervenção cirúrgica, o servidor recuperaria a mobilidade plena.
Nessa situação hipotética, conforme o estatuto em apreço, o servidor pode ser obrigado a
submeter-se à referida intervenção cirúrgica, uma vez que se trata de melhor opção para
sua saúde?
Não. A submissão da pessoa com deficiência a intervenção cirúrgica ou clínica, bem como
realização de tratamento ou institucionalização depende de consentimento, que deve ser
prévio, livre e esclarecido. Logo, nos termos do art. 11 da Lei 13.146/2015, é vedado
obrigar qualquer pessoa (inclusive um servidor!) a submeter-se a tratamento cirúrgico.
6. Acesso a informação e à
comunicação
A segunda parte fala sobre Acessibilidade e Ciência e Tecnologia, tratando
do acesso à informação e à comunicação e do uso de tecnologias assistivas.
Alguns exemplos são:
A obrigatoriedade da acessibilidade nos sites públicos e privados de acordo com as
melhores práticas e com as diretrizes internacionais (Art. 63);
A oferta de recursos de audiodescrição, legendagem e janela de Libras nas
produções audiovisuais (Art. 67);
O fomento do poder público ao desenvolvimento de tecnologias assistivas e sociais
para aumentar a participação das pessoas com deficiência na sociedade (Art 77-§
3º).
7. Direitos políticos
No que tange ao direito de votar, por sua vez, a nova lei estabelece que seja
dever do Estado, e, da Justiça Eleitoral, garantir que os procedimentos, as
instalações, os materiais e os equipamentos para votação sejam apropriados,
acessíveis a todas as pessoas e de fácil compreensão e uso, sendo vedada a
instalação de seções eleitorais exclusivas para a pessoa com deficiência, regra
prevista para não estigmatizar estas pessoas, inserindo-as de forma completa na
sociedade.
Esta regra, de certa forma, já vem sendo observada pela Justiça Eleitoral há
alguns anos, não se constituindo em verdadeira novidade.
7. Direitos políticos
Da mesma forma, o inciso III do artigo 76 prevê que, na propaganda política,
debates eleitorais e pronunciamentos oficiais da Justiça Eleitoral ou de
autoridades, seja observada a acessibilidade das pessoas com deficiência às
informações, através da garantia do uso dos seguintes recursos de subtitulação
por meio de legenda oculta, janela com intérprete da Linguagem Brasileira de
Sinais (LÍBRAS), e audiodescrição.
Mais uma vez, observa-se que a legislação eleitoral específica já se adiantou,
nestas exigências, ao prever o uso de LÍBRAS, ou, alternativamente, o uso de
legendas, como obrigatório na propaganda partidária e na propaganda eleitoral,
já há alguns anos. A nova lei apenas complementa, neste sentido, uma prática já
fixada no processo eleitoral.
8. Proteção contra preconceito
É de se destacar que o artigo 88 do Estatuto da Pessoa com Deficiência prevê
como crime, sujeito à reclusão de 01 a 03 anos e multa, para quem cometer as
condutas de praticar, induzir ou incitar discriminação de pessoa em razão de sua
deficiência.
Não restam dúvidas que o Estatuto da Pessoa com Deficiência, traz importantes
avanços no reconhecimento de direitos fundamentais de uma parcela
importante da população brasileira, ainda bastante discriminada e desprotegida.
Como visto, este reconhecimento abrange também, como não poderia deixar de
ser, o exercício dos direitos políticos que é uma garantia da constituição federal,
os quais, mais do que nunca, devem ser reconhecidos como essenciais à plena
garantia da dignidade da pessoa humana.

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