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RESPONSABILIDADE

CIVIL

Prof. Daniela Vargas


NOÇÕES INTRODUTÓRIAS

A responsabilidade civil é instituição de Direito com ampla incidência, NÃO SÓ nas relações jurídicas de Direito Civil,
Direito Empresarial e Direito do Consumidor, mas também nas relações jurídicas de Direito Administrativo, de Direito
Ambiental, de Direito do Trabalho, como se dá nos casos de acidentes de trabalho e desrespeito às leis e contratos de
trabalho.

CF
“X - São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização
pelo dano material ou moral decorrente de sua violação.

“V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à
imagem;

SÚMULA Nº 96 DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO RIO DE JANEIRO “As verbas relativas às indenizações por dano moral e
dano estético são acumuláveis. ”

SÚMULA Nº 15 TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 1ª REGIÃO, COM SEDE NO RIO DE JANEIRO “Cumulação de
indenizações por danos estético e moral. O dano moral não se confunde com o dano estético, sendo cumuláveis as
indenizações. ”

SÚMULA Nº 387 DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA “É lícita a cumulação das indenizações de dano estético e dano
moral. ”
CONCEITO DE RESPONSABILIDADE CIVIL

A responsabilidade civil é toda ação ou omissão que gera violação de


uma norma jurídica legal ou contratual. Assim, nasce uma obrigação
de reparar o ato danoso, ou seja, consiste no dever de indenizar o
dano suportado por outrem.

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica
obrigado a repará-lo.

Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa,


nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida
pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.
ATO ILÍCITO

Art 186, CC - Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou


imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral, comete ato ilícito”

Decorre de uma conduta humana (comissiva ou omissiva), eivada de


culpa (lato sensu), a qual se faz contrária ao ordenamento jurídico
(ilicitude), e que causou dano à outrem.
Segundo Silvio Rodrigues “A responsabilidade civil é a obrigação que pode incumbir
uma pessoa a reparar o prejuízo causado a outra, por fato próprio, ou por fato de
pessoas ou coisas que dela dependam”

Em seu sentido etimológico e também no sentido jurídico, a responsabilidade civil está


atrelada a ideia de contraprestação, encargo e obrigação. Entretanto é importante
distinguir a obrigação da responsabilidade. A obrigação é sempre um dever jurídico
originário; responsabilidade é um dever jurídico sucessivo consequente à violação do
primeiro
Responsabilidade, para o Direito, nada mais é, portanto, que uma obrigação derivada
um dever jurídico sucessivo de assumir as consequências jurídicas de um fato,
consequências essas que podem variar (reparação dos danos e/ou punição pessoal do
agente lesionado) de acordo com os interesses lesados. (STOLZE e PAMPLONA, 2012,
p.47).

Conforme disposto acima, quem comete ato contra alguém ou contra o patrimônio de
uma pessoa, com a ocorrência do dano, também nasce o dever jurídico de reparar, tendo
que assumir as consequências do fato que gerou aquele dano, e consequentemente
fazendo a reparação de acordo com o interesse que quem foi lesado.
Assim a responsabilidade civil é o resultado que traz uma consequência jurídica e
patrimonial do descumprimento de uma obrigação. E quem irá responder pela obrigação é
os pecúlios de quem ocasionou o dano, incumbindo ao lesado acionar o judiciário fim de
requerer ou não o seu direito de indenização. A responsabilidade civil tem como preceito
restabelecer o status quo ante, que é reparar o lesado até o estado que se encontrava antes
da ação/omissão.
A responsabilidade civil poderá ser
Contratual - quando viola cláusulas contratuais) ou
Extracontratual/aquiliana – quando há violação de um dever
jurídico – ato ilícito
A responsabilidade civil divide-se em: Responsabilidade Civil Objetiva e
Responsabilidade Civil Subjetiva.
 
A Responsabilidade Civil Subjetiva é a decorrente de dano causado em função do ato
doloso ou culposo. Esta culpa, por ter natureza civil, se caracterizará quando o agente
causador do dano atuar com violação de um dever jurídico, normalmente de cuidado
(como se verifica nas modalidades de negligência ou imprudência). Na
responsabilidade civil subjetiva é necessário comprovar a conduta, o dano, o nexo
causal e a culpa do agente. Desse modo, o causador do dano só deverá indenizar a
vítima se ficar caracterizada a culpa.
A Responsabilidade Civil Objetiva é aquela em que a lei
dispensa a produção de prova a respeito da culpa. Porém, na
origem é normal que se tenha um ato culposo.
A lei apenas estabelecerá não ser necessária a produção de
prova acerca dessa culpa. Desta forma, é errado dizer que
responsabilidade objetiva é aquela em que não há culpa. Na
verdade, responsabilidade objetiva é aquela em que não há
necessidade de discussão do elemento culpa.
ELEMENTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL

- SUBJETIVA
1. Conduta
2. Nexo Causal
3. Dano
4. Culpa

- OBJETIVA
1. Conduta
2. Nexo Causal
3. Dano
CONDUTA HUMANA
É causada pelo agente por ação ou omissão, que ocasione dano a outrem, ainda
que exclusivamente moral. Normalmente ocorre uma ação (conduta positiva) ou
seja, o sujeito pratica uma ação que ocasionará o dano.

Já a omissão (conduta negativa) é mais trabalhosa para ser comprovada, uma vez
que se precisa provar que existia um dever de agir e também que se tivesse
ocorrido esta ação, o dano não se teria concretizado. O fato poderá estar
relacionado tanto a ato próprio como a ato de terceiro e que esteja sob a guarda
da pessoa.

A conduta que gera responsabilidade civil é a conduta voluntária, livre e


consciente. Na voluntariedade, a pessoa tem consciência daquilo que se faz, está
ausente nos atos reflexos, no sonambulismo e na hipnose, por exemplo.
A voluntariedade é qualidade essencial da conduta humana, representando a liberdade de
escolha do agente. Sem este elemento não haveria de se falar em ação humana ou
responsabilidade civil.

O ato de vontade, em sede de responsabilidade civil, deve ser contrário ao ordenamento


jurídico.

A voluntariedade significa pura e simplesmente o discernimento, a consciência da ação, e


não a consciência de causar um resultado danoso sendo este o conceito de dolo. Cabe
destacar ainda, que a voluntariedade deve estar presente tanto na responsabilidade civil
subjetiva quanto na responsabilidade objetiva.
Comissiva: é aquela conduta que envolverá um agir, uma ação do sujeito. Porém, essa ação acaba por violar
um dever jurídico imposto pela lei ou pelo contrato, gerando danos que devem ser indenizados.
 
Omissiva: para que possa haver a imputação de responsabilidade a um sujeito pela sua omissão, é
fundamental que antes exista um dever de agir imposto pela norma. Sem dever de agir não há que se falar
em conduta omissiva. Esse dever de agir pode ser oriundo: 
a) da lei: por exemplo, policial diante de um crime no qual tenha a possibilidade de agir; bombeiro em uma
situação de perigo; pai em relação aos filhos etc.; 
b) do contrato: o guia da montanha é obrigado a agir em razão de sua custódia; instrutor de mergulho; babá
etc.; 
c) dever de ingerência: quando uma conduta anterior expõe a perigo bens de outrem (bem patrimonial ou
da personalidade). Por exemplo, jogar amigo na piscina: quem jogou tem o dever de agir no sentido de
salvar o amigo do afogamento.
Nos termos do art. 942, caput, do CC: “os
bens do responsável pela ofensa ou violação
do direito de outrem ficam sujeitos à reparação do dano causado; e se a
ofensa tiver mais de um autor, todos respondem solidariamente pela
reparação

Além de responder por ato próprio, o que acaba sendo a regra da


responsabilidade civil, a pessoa pode responder por ato de terceiro, como nos
casos previstos no art. 932 do CC.
Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil:
I - os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia;
II - o tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se acharem nas mesmas condições;
III - o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício do trabalho que lhes
competir, ou em razão dele;
IV - os donos de hotéis, hospedarias, casas ou estabelecimentos onde se albergue por dinheiro, mesmo para fins
de educação, pelos seus hóspedes, moradores e educandos;
V - os que gratuitamente houverem participado nos produtos do crime, até a concorrente quantia.
 
Art. 936. O dono, ou detentor, do animal ressarcirá o dano por este causado, se não provar culpa da vítima ou
força maior.
 
Art. 937. O dono de edifício ou construção responde pelos danos que resultarem de sua ruína, se esta provier de
falta de reparos, cuja necessidade fosse manifesta.
 
Art. 938. Aquele que habitar prédio, ou parte dele, responde pelo dano proveniente das coisas que dele caírem ou
forem lançadas em lugar indevido.
A responsabilidade civil normalmente é gerada por conduta ilícita, mas, por
exceção, também pode decorrer de ato lícito (previsto em lei).
Exemplos de ato licito que geram resp. Civil:
- Desapropriação (poder público tem o direito de requerer o seu imóvel para
instalar uma atividade que ele queria)
- Passagem forçada (um imóvel fica "encravado" para a saída para as ruas e
avenidas)
DANO
É a lesão a um interesse jurídico tutelado –
patrimonial ou não -, causado por ação ou omissão do
sujeito infrator.

O Dano, nada mais é que o prejuízo experimento pela


vítima e tutelado pelo direito.
Para ser indenizável o dano precisa de três requisitos:

 Violação de um interesse jurídico material ou moral – todo dano pressupõe


uma agressão a um bem tutelado, de natureza material ou não, pertencente a
um sujeito de direito.
 
 A subsistência do dano – quer dizer, se o dano já foi reparado, perde-se o
interesse da responsabilidade civil. O dano deve subsistir no momento de sua
exigibilidade em juízo, o que significa dizer que não há como se falar em
indenização se o dano já foi reparado espontaneamente pelo lesante.

 A certeza do dano (não se indeniza dano hipotético!) - somente o dano certo,


efetivo, é indenizável. Ninguém poderá ser obrigado a compensar a vítima por
um dano abstrato ou hipotético
O dano poderá ser:
Dano Patrimonial
Dano Extrapatrimonial – Dano Moral

DANO PATRIMONIAL
É aquele que atinge os bens que compõem o patrimônio de uma pessoa, cuja
avaliação em dinheiro é sempre possível. Os bens que compõem este patrimônio
são considerados de uma maneira geral, sem restrições, sendo que, porém,
devem ser suscetíveis de avaliação pecuniária.
São bens economicamente apreciáveis que sofrem perda substancial no seu valor
original.
Podem ser divididos em:
Danos emergentes - é o dano que a vítima efetivamente teve. É aquilo que a vítima
efetivamente perdeu, ou seja, a diminuição do valor patrimonial que precisa ser reposto pelo
agente causador do dano para que se volte ao "Status quo ante“

É o efetivo prejuízo suportado pelo ofendido, podendo ser facilmente quantificado através de
uma simples conta matemática (subtrai-se o valor do bem antes do evento danoso pelo valor
após o referido evento; a diferença é o montante a ser reparado).
 
Art. 402. Salvo as exceções expressamente previstas em lei, as perdas e danos devidas ao
credor abrangem, além do que ele efetivamente perdeu, o que razoavelmente deixou de
lucrar.
Lucros cessantes - o dano causado ao patrimônio do sujeito poderá acarretar consequências
futuras, por exemplo, um impedimento à percepção de ganhos, de lucros. Porém, somente se
fala em lucros cessantes quando houver uma quase certeza da obtenção efetiva dos ganhos.
Não se trata de mera possibilidade de ganho.

O direito à reparação de “lucros cessantes” está relacionado ao instituo da responsabilidade civil, o dever
de indenizar os danos materiais causados em função de ato ilícito contra o ofendido por culpa, omissão,
negligência, dolo ou imperícia praticados pelo ofensor.
Representam aquilo que, após o fato danoso, deixou o ofendido de razoavelmente receber; verificando a
preexistência de circunstâncias e elementos seguros, que, concreta e prontamente, demonstrem que a
lucratividade foi interrompida [potencialidade de lucro anterior] ou que não mais se iniciaria em
decorrência especificamente do ato infrator [CC, art. 402].
Os lucros cessantes não se tratam de lucros perspectivados, remotos, hipotéticos que poderia ocorrer ou
não. Apura-se com base em dados factíveis; o valor da reparação é calculado com base na média bruta
do período que se estendeu o dano [tempo de paralisação da atividade], deduzidas as despesas
operacionais [salário de funcionários, aluguel, tributos, etc…] chegando a um quantum do líquido que
será considerada como o valor a ser indenizado.
Perda de uma chance - a perda da possibilidade de se obter o resultado esperado ou de se
evitar um possível dano, valorizando as possibilidades que se tinha para conseguir o
resultado, para, aí sim, serem ou não relevantes para o direito. Para a caracterização da
responsabilidade civil pela perda de uma chance, é necessário que essa chance, seja séria e
real, e não uma mera eventualidade, suposição ou desejo.

A teoria da perda de uma chance está fundada na ideia de oportunidade perdida. A pessoa
pode se sentir lesada, por exemplo, ao ser impedida de viver determinado fato esperado
por ela mas que não aconteceu por interferência (culpa) do agente violador. Ela tem,
portanto, suas expectativas frustadas. Com isso, perde as chances de alcançar determinado
benefício como consequência daquela ação.
A Responsabilidade Civil pela Perda de uma Chance é dotada de características bastante
peculiares, uma vez que a sua configuração, identificação e indenização são feitas de uma
forma distinta da que é utilizada nas outras hipóteses que envolvem perdas e danos.

Na Perda de uma Chance o autor do dano é responsabilizado não por ter causado um
prejuízo direto e imediato à vítima; a sua responsabilidade decorre do fato de ter privado
alguém da obtenção da oportunidade de chance de um resultado útil ou somente de ter
privado esta pessoa de evitar um prejuízo. Assim, vislumbra-se que o fato em si não
ocorreu, por ter sido interrompido pela ação ou omissão do agente. Então, o que se quer
indenizar aqui não é a perda da vantagem esperada, mas sim a perda da chance de obter
a vantagem ou de evitar o prejuízo.
Na perda de uma chance o dano é tido como dano emergente e não como lucros cessantes,
isso quer dizer que no momento do ato ilícito essa chance já se fazia presente no patrimônio do
sujeito passivo desta relação jurídica, sendo algo que ela efetivamente perdeu no momento do
ilícito e não algo que ela deixou de lucrar.

A aplicação da indenização deve-se utilizar de um critério de probabilidade ao estabelecer o


valor devido à vítima, fazendo uma avaliação da possibilidade dela alcançar o resultado no
momento em que ocorreu o fato, pois esta chance possui um valor pecuniário, e isso não pode
ser negado, mesmo sendo de difícil quantificação, portanto é o valor econômico desta chance
que deverá ser indenizado.

Para delimitar o valor da indenização o Juiz deve com base no caso concreto, fazer um juízo de
valor de maneira eqüitativa, buscando encontrar a melhor solução para a lide. Sendo assim,
após verificar qual o valor da chance perdida, deve atentar para o valor do benefício que a
vítima conseguiria na hipótese de atingir o resultado esperado, porque o valor da indenização
jamais poderá ser igual ou superior ao que receberia caso não tivesse sido privado da
oportunidade de obter uma vantagem determinada.

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