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Ética, direito e política

Clarificação de conceitos

• Estado – Conjunto de instituições públicas que numa sociedade asseguram e

procuram concretizar os fins que a mesma definiu como bons.

• Direito – É o conjunto de normas e de leis que, apoiadas no poder coercivo

(imposição de penas e punições) do Estado que as elabora e institui, regulam o

comportamento dos membros de uma sociedade.

• Normas morais – São regras de comportamento que determina o que devemos

fazer(ou não fazer) para que a nossa ação seja moralmente valiosa.

• Normas jurídicas – São regras impostas por uma autoridade externa e a sua infração

provoca a imposição de penas.

• Estes dois tipos de normas diferem porque as normas morais não são impostas por

uma autoridade externa e são mais abrangentes


Clarificação de conceitos

Política – Organização e governo de uma sociedade de acordo com o direito e os fins

acordados.

Justiça (está relacionada com os conceitos de igualdade e de proporcionalidade)

– Em sentido ético – retidão moral.

- Em sentido jurídico – Concordância com a lei

Justiça distributiva ou justiça social – Critérios gerais para atribuição de direitos e

deveres nas instituições básicas da sociedade e que definem a distribuição adequada

dos encargos e benefícios da cooperação social. A estrutura básica de uma

sociedade, para ser justa, tem de aplicar estes critérios.


A perspectiva de John Rawls
Como é possível uma sociedade justa?

John Rawls - (1921-2002)


Filósofo moral e político
americano considerado o
principal filósofo político do
séc. XX. As ideias de Rawls
inserem-se na tradição do
contrato social de Locke,
Rousseau e Kant
John Rawls
A obra mais importante
de Rawls é Uma Teoria
da Justiça publicada em
1971.

Nesta obra apresenta


uma conceção de
justiça social no
contexto democrático.
Influências

• Está na linha dos contratualistas (Locke, Kant e


Rousseau) – admite que todas as partes contratantes
se devem encontrar em condições de tomarem
decisões justas.
• Critica o utilitarismo – O princípio da liberdade igual é
inegociável e, nem para benefício do maior número de
pessoas, pode ser desrespeitado.
O que é uma sociedade justa?

É aquela que realiza os princípios:

1º Princípio – Princípio da liberdade

2º Princípio- As desigualdades sociais e económicas devem satisfazer

duas condições:

• Princípio da igualdade de oportunidades.

• Princípio da diferença.
Princípios da justiça - 1º
1º princípio – da liberdade – O estado deve garantir a todos os
indivíduos o conjunto de liberdades básicas: pensamento,
expressão, reunião, de voto, etc. Estas liberdades não devem
nunca ser postas em causa.

Este princípio tem precedência sobre todos os outros, isto é, a


liberdade não pode ser sacrificada em nome do bem estar da
maioria ou em nome da felicidade da maioria ou de uma
igualdade económica estrita. Este sistema de liberdades
básicas tem de ser compatível com um sistema de liberdades
básicas igual para todos os outros.
Princípios da justiça – 2º
2º Princípio (condições 1)

Da igualdade de oportunidades – reconhece-se que todos os indivíduos


são diferentes, pois têm caraterísticas que os tornam desiguais, mas todos
devem poder aceder a cargos sociais em igualdade de oportunidades.

O Estado deve assegurar, através de políticas económicas, que todos devem


realizar os seus objetivos profissionais , apesar de condições económicas
desfavoráveis. É prioritário face ao princípio da diferença. A melhoria das
condições dos mais desfavorecidos não pode por em causa a igualdade de
oportunidades.

(Exemplo das corrida de atletismo)


Princípios da justiça

Os dois princípios anteriores não são suficientes para que haja justiça social.
Mesmo que a igualdade de oportunidades se efetive, o que se conseguir a partir
daí tem a ver com a nossa capacidade e empenho. Mas o talento natural (lotaria
genética) também é decisivo, o que significa que duas pessoas com as mesmas
oportunidades mas com talentos diferentes não obterão os mesmos resultados.

2º princípio (condição 2)
• Princípio da diferença – A riqueza deve ser distribuída de forma desigual desde
que essa desigualdade permita que os menos favorecidos fiquem o melhor
possível. Visa melhorar a condição de vida dos menos favorecidos.
Princípio maximin
(Maximização do mínimo)

Exprime a ideia de equidade em Rawls.


A melhor sociedade é a que contribui para a maximização do
benefício mínimo: é preferível uma sociedade desigual , capaz de
distribuir mais riqueza , a uma sociedade com mais igualdade , mas
com menos riqueza. É uma regra de decisão racional em situações de
incerteza, permitindo escolher a melhor das piores situações possível.
[Em vez de uma pobreza extrema e de uma riqueza extrema; em vez de uma pobreza
acentuada e de uma riqueza acentuada; a melhor opção é um pobreza moderada e

uma riqueza moderada (?)]


Posição original

• Rawls recorre a uma experiência mental para mostrar

os princípios da justiça que são mais adequados a

uma sociedade justa ou gradualmente mais justa.

• Esta experiência mental chama-se posição original que

está associada ao conceito de “véu de ignorância”.


Posição original
Acordo num cenário imaginado em que:
• Os indivíduos se desligam dos seus interesses e das
suas ideologias.
• Ninguém conhece o seu estatuto social nem a parte que
lhe cabe na distribuição dos atributos e talentos naturais.
• Nem sequer conhecem as suas conceções de bem e as
suas caraterísticas psicológicas particulares.
Em suma, a escolha dos princípios da justiça é feita com
total imparcialidade, como se existisse um véu de
ignorância que impedisse a perceção de como cada
uma das alternativas vai afetar a sua situação concreta.
Equidade

• O princípio da diferença corresponde ao modo como Rawls entende a


equidade – Distribuição desigual dos bens básicos que deve favorecer quem
se encontra em pior situação por razões económicas, físicas ou intelectuais.

• As desigualdades económicas seriam justificadas:

- se beneficiar todos os membros de uma sociedade, em especial os menos


favorecidos;

- se for condição necessária e suficiente para incentivar uma maior


produtividade.
Igualdade versus Equidade
Críticas ao pensamento de Rawls
Robert Nozick - Filósofo norte-
americano, escreveu “Estado,
Anarquia e Utopia” três anos após
Rawls ter escrito “Uma Teoria da
Justiça”

É defensor de um liberalismo radical


que considera absolutos os direitos
à liberdade e à propriedade
Libertarismo

Libertarismo é uma forma extrema de


liberalismo, segundo a qual qualquer
interferência na liberdade individual das pessoas
em nome dos interesses gerais da sociedade só
é legítima se tiver o consentimento dessas
pessoas.
Crítica libertarista de Nozick
A crítica de Nozick dirige-se essencialmente ao princípio da diferença

que estabelece um padrão de distribuição da riqueza que implica a

violação do direito das pessoas.

Segundo ele só se justifica a intervenção do estado em situações

extremas, como calamidades públicas.

As motivações de Nozick são sobretudo morais, pois reconhece haver

um desrespeito pelo imperativo de Kant, ao haver uma instrumentalização

do ser humano.
Crítica libertarista de Nozick
• Argumento do trabalho forçado – A tributação dos rendimentos
auferidos é como forçar alguém a trabalhar mais horas para os
objetivos de outrem. Pois, trabalhar mais horas é ter menos
tempo para lazer.

• Assim, como seria ilegítimo, num sistema fiscal, reter o lazer de


um homem para servir os mais necessitados, também é ilegítimo
apreender alguns dos bens de um homem para esse fim.
Crítica libertarista de Nozick
Exemplo do famoso basquetebolista da NBA, Chamberlain: decide livremente efetuar
jogos e exibições em que recebe 1 dólar de cada espetador. Milhões de admiradores
decidem gastar essa quantia para o ver jogar. No final da época, Chamberlain amealhou
dezenas de milhões de dólares. O sistema de justiça em vigor exige que algum do dinheiro
que ganhou seja transferido para outros indivíduos de modo a que a distribuição da
riqueza seja reposta. Será justo?

- Os admiradores do jogador sabiam que o dinheiro seria dele. Não têm direito de se
queixar, porque contribuíram para o seu enriquecimento por sua iniciativa.

- Por outro lado, os bens dos que não assistiram aos jogos não foram afetados.

Logo, o enriquecimento de Chamberlain nada tem de injusto.


Crítica comunitarista de Michael Sandel

A crítica de Sandel dirige-se ao método utilizado por


Rawls para escolher os princípios da justiça – posição
original e véu da ignorância.

Concretamente, a crítica de Sandel dirige-seà ideia de


que, para garantir a imparcialidade na escolha dos princípios
da justiça, seja necessário que as pessoas que fazem essas
escolha se desliguem das suas conceções de bem.
Crítica comunitarista de Michael Sandel

Sandel considera inadequado que as pessoas que


escolhem os princípios da justiça, cegas pelo véu da
ignorância, sejam desenraizados da sua comunidade e,
apesar de racionais, sejam moralmente neutrais.
Contrariamente a Rawls, Sandel defende que o bem
tem prioridade sobre a justiça, pois a justiça tem de se
apoiar na moral.
Comunitarismo

É a perspetiva segundo a qualquer conceção


particular de bem surge do que é valorizado
numa comunidade concreta, residindo aí a
principal fonte de justificação moral da justiça e
dos direitos das pessoas.

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