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Persuasão e

Manipulação ou os
dois usos da Retórica

3. Argumentação e Filosofia
Retórica e ética – a perspetiva platónica

 Do intenso debate entre Platão e os sofistas atenienses, nasce uma conceção de


retórica que a coloca na dependência do uso que o orador dela faz.

 Para Platão, importava saber de que modo e com que objetivos a retórica
deveria ser utilizada.

 Não obstante a condenação da retórica praticada pelos sofistas, Platão sublinha


a importância de distinguir o bom uso do mau uso da retórica.

 Na perspetiva do filósofo ateniense, a retórica deve estar ao serviço de


princípios éticos como a justiça, o bem e a verdade.
Retórica e ética – Górgias e Sócrates
 Górgias, um sofista retratado no diálogo platónico com o mesmo nome,
chama a atenção para a distinção entre o uso justo e o uso injusto da arte da
retórica:
- “a retórica, como qualquer arte competitiva, deve ser usada com justiça”
(Górgias, 457 b)
- O orador deve “servir-se da retórica, como de qualquer outro meio de ação,
sempre em busca do justo”.
(Górgias, 527 c)

 Sócrates, personagem deste diálogo, que manifesta o pensamento de Platão,


chega também a concluir que “se deve pôr a retórica, como qualquer outra coisa,
sempre ao serviço do bem”.
O bom e o mau uso da retórica
 A distinção entre bom e mau uso da retórica remonta à filosofia grega e ao
debate entre filósofos e sofistas.

 Para Platão, a retórica:

- é um instrumento que pode ser utilizado para os mais diferentes fins;

- não deverá ser utilizada como um fim em si mesmo;

- deve estar submetida a uma finalidade extrínseca: a justiça, o bem, a verdade.

- torna-se reprovável quando utilizada para promover o que é mais agradável (tal
como faziam os sofistas) e não o que é melhor.
Persuasão e Manipulação

 Na tradição filosófica ocidental:

 “bom uso” da retórica é o que preserva a adesão racional e crítica às teses do


orador – podemos identificá-lo como persuasão;

 “mau uso” é o que se serve de estratégias retóricas de que o interlocutor não


tem conhecimento e que anulam o seu sentido crítico – podemos identificá-lo
como manipulação.
Quadro síntese

Persuasão (bom uso) Manipulação (mau uso)


 Visa o consentimento voluntário  Visa modelar as crenças e os
e consciente do orador. comportamentos do auditório de forma
involuntária.

Persuasão (bom uso) Manipulação (mau uso)


 Orienta-se pela verdade e pela  O orador pode enganar o auditório
racionalidade. através da distorção da informação, da
mentira ou de mecanismos psicológicos
inconscientes.
Quadro síntese

Persuasão (bom uso) Manipulação (mau uso)


 Os factos não são deturpados.  Pode coincidir com uma deturpação
dos factos.

Persuasão (bom uso) Manipulação (mau uso)


 É racional e explícita.  É uma persuasão oculta e
enganadora.
Quadro síntese

Persuasão (bom uso) Manipulação (mau uso)


 O auditório tem consciência das  O auditório não tem consciência das
estratégias utilizadas. estratégias utilizadas.

Persuasão (bom uso) Manipulação (mau uso)


 O auditório é ativo, crítico e capaz de  O auditório é passivo, o seu sentido
problematizar. crítico é adormecido; não é capaz de
problematizar.

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