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Princípios do direito das obrigações

(cont.): boa-fé e equilíbrio


(contratual)

Modalidades das obrigações: de dar


e de fazer
PRINCÍPIO DA BOA-FÉ (exs: arts. 421, 421-A e 422,
CC) – aspectos:
Distinção inicial – nas obrigações civis distinguem-se duas espécies de boa-fé:
1) Boa-fé objetiva (art. 422, CC) – exigível do homem mediano (reazonable man –
sistema norte-americano) – aspectos:
1.1) Diretamente ligada a solidariedade social (art. 3º, inc. III, CF) – um dos
objetivos da República Federativa do Brasil: sociedade livre, justa e solidária
1.2) Padrão social do bom negociante – indivíduo no qual pode ser depositada
confiança por apresentar conduta correta, leal e cooperativa para satisfazer a obrigação
1.3) Fundamentos normativos explícitos da boa-fé objetiva – previstos no CDC: a)
nas obrigações de consumo: trouxe o apelo da solidariedade e colaboração entre
fornecedor e consumidor; b) a partir do CDC: jurisprudência adotou a aplicação da
boa-fé objetiva também nas relações obrigacionais não consumeristas
1.4) Código Civil – adotou a boa-fé objetiva (art. 422)
PRINCÍPIO DA BOA-FÉ (exs: arts. 421, 421-A e 422,
CC) – aspectos:
Distinção inicial – nas obrigações civis distinguem-se duas espécies de
boa-fé (cont.):
2) Boa-fé subjetiva (art. 1.201, CC) – aspectos:
2.1) Até o início do sec. XX – a boa-fé era analisada apenas no seu
aspecto subjetivo/Analisava-se o aspecto psicológico dos agentes (na
intenção de não causar dano ao outro)
2.2) Utilizava-se a teoria da aparência – agia de boa-fé aquele quem
acreditava que estava agindo conforme o direito (enquanto estado
psicológico)
PRINCÍPIO DO EQUILÍBRIO (CONTRATUAL)
Unificação de institutos – destinados a impedir que as relações obrigacionais sejam
pontes para injustiça comutativa (equivalência entre pessoas), foi pensada uma
unificação entre entre alguns institutos, a exemplo da cláusula rebus sic stantibus
(resolução por onerosidade excessiva) e enriquecimento sem causa/Aspectos:
1) Cláusula rebus sic stantibus (onerosidade excessiva – art. 478, CC) – o
conceito de evento imprevisível é incerto/A exigência desse tipo de evento deixa ao
desabrigo hipóteses em que, apesar da grande probabilidade do evento futuro, suas
consequências conduziriam ao desequilíbrio contratual
2) Aplicação direta do enriquecimento sem causa e não por intermédio dos
institutos que possuem nele o seu fundamento (art. 884/885, CC) – fica sempre
condicionada à regra geral da subsidiariedade: só se permite a aplicação direta do
princípio do equilíbrio quando todas as alternativas oferecidas pelo ordenamento não
se fizerem aplicáveis
PRINCÍPIO DO EQUILÍBRIO (CONTRATUAL)
1) Art. 421-A, CC (acrescentado pela Lei n. 13.874/2019) – de maneira expressa, o CC
estabelece que deve haver uma paridade e simetria para que as partes possam cumprir as
obrigações. Isso não significa igualdade formal, mas igualdade material, ou seja, para cada
parte numa relação, devem ser estabelecidas obrigações considerando (e presumindo) a
situação real de cada contratante
2) Outras previsões legais de revisão contratual – optam pela chamada teoria da base: se
contenta com a desproporção entre as prestações, em contratos de prestação duradoura ou
diferida, para permitir a revisão/Exemplos: Lei n. 8.666/93 (contratos administrativos) e
CDC
3) Exemplos de aplicação do princípio do equilíbrio:
3.1) Desequilíbrio prestacional não se dá com vantagem para uma das partes – não
significa menos injustiça/Melhor interpretação do art. 478, CC: exclusivamente para casos
de resolução por onerosidade excessiva/V. tb. art. 317, CC
3.2) Art. 944 e §único, CC
MODALIDADES DAS OBRIGAÇÕES
Obrigações de dar – as obrigações de dar têm por objeto prestações de coisas e consistem na
atividade de dar (transferindo-se a propriedade da coisa), entregar (transferindo-se a posse ou a
detenção da coisa) ou restituir (quando o credor recupera a posse ou a detenção da coisa
entregue ao devedor). Tais obrigações são subdivididas em:
1) Obrigação de dar coisa certa – quanto às obrigações de dar coisa certa, devem ser
observados os seguintes aspectos:
1.1) Aplica-se para as obrigações de dar coisa certa, o princípio jurídico de que o acessório
segue o principal – dessa forma, não resultando o contrário do título ou das circunstâncias do
caso, o devedor não poderá se negar a dar ao credor aqueles bens que sem integrar a coisa
principal são consideradas acessórias (art. 233)
1.2) Nesta modalidade de obrigação, o devedor obriga-se a dar, entregar ou restituir coisa
específica, determinada, certa – logo, se a obrigação consiste em dar coisa certa, não poderá o
credor ser constrangido a receber outra senão aquela descrita no título da obrigação (v. art. 313,
CC)/Porém, caso consinta em receber prestação diversa em substituição à originária, praticará
um modo extintivo da obrigação – a dação em pagamento (art. 356)
MODALIDADES DAS OBRIGAÇÕES – (cont.)
1) Obrigação de dar coisa certa (cont.):
1.3) Em caso de perda ou perecimento (prejuízo total), duas situações diversas podem acontecer:
1.3.1) Se a coisa se perder, sem culpa do devedor – antes da tradição (ou seja, entrega), ou
pendente condição suspensiva, fica resolvida a obrigação para ambas as partes, suportando o
prejuízo o proprietário da coisa que ainda não a havia alienado (art.234, CC)
1.3.2) Se a coisa se perder, com culpa do devedor – responderá este pelo equivalente (valor da
coisa), mais perdas e danos. Entenda-se por perdas e danos apenas a expectativa patrimonial
frustrada – lucros cessantes – pois os danos emergentes, evidentemente, compensam-se na devolução
dos valores pagos. Invariavelmente, haverá uma presunção de culpa do devedor inadimplente quanto
ao fato que gerou a perda do objeto, tendo ele o ônus probatório de desconstituí-la(art. 234, CC)
1.4) Em caso de deterioração (prejuízo parcial), também duas hipóteses são previstas em lei:
1.4.1) Se a coisa se deteriora sem culpa do devedor – poderá o credor, a seu critério, resolver a
obrigação, ou aceitar a coisa, abatido de seu preço o valor que perdeu (art. 235, CC)
1.4.2) Se a coisa se deteriora por culpa do devedor – poderá o credor exigir o equivalente, ou
aceitar a coisa no estado em que se acha, com direito a reclamar, em um ou outro caso, a
indenização, em um ou em outro caso, a indenização pelas perdas e danos (art. 236, CC)
MODALIDADES DAS OBRIGAÇÕES – (cont.)
1) Obrigação de dar coisa certa (cont.):
1.5) Obrigações de restituir – nesta modalidade de obrigação, a prestação
consiste na devolução da coisa recebida pelo devedor, a exemplo daquela imposta
ao depositário (devedor), que deve restituir ao depositário (credor) aquilo que
recebeu para guardar e conservar; As obrigações de restituir, por sua vez,
mereceram tratamento específico. Nesta modalidade de obrigação, a prestação
consiste na devolução da coisa recebida pelo devedor, a exemplo daquela imposta
ao depositário (devedor), que deve restituir ao depositário (credor) aquilo que
recebeu para guardar e conservar (art. 238, CC)
1.6) V. art. 238 – subsiste a regra de que a coisa perece para o dono (credor), que
suportará o prejuízo, sem direito à indenização, considerando-se a ausência de
culpa do devedor
MODALIDADES DAS OBRIGAÇÕES – (cont.)
2) Obrigação de dar coisa incerta – ao lado das obrigações de dar coisa certa, figuram as
obrigações de dar coisa incerta, cuja prestação consiste na entrega de coisa especificada apenas
pela espécie e quantidade. Trata-se das chamadas obrigações genéricas. Nesse sentido, clara é a
norma do art. 243 do CC: “a coisa incerta será indicada, ao menos, pelo gênero e pela
quantidade”. Ressalte-se, entretanto, que essa indeterminabilidade do objeto há que ser
meramente relativa. Quanto a essas obrigações, deve ser entendido que:
2.1) A escolha, por princípio, cabe ao devedor, uma vez que o CC, em quase todas as suas
normas, prefere o devedor, quando a vontade das partes não houver estipulado a quem assiste
determinado direito
2.2) Essa liberdade de escolha, contudo, não é absoluta, eis que o devedor não poderá dar a
coisa pior, nem será obrigado a dar a melhor (art. 244, CC)
2.3) Por óbvio, se nas obrigações de dar coisa incerta a prestação é inicialmente indeterminada,
não poderá o devedor, antes de efetuada a sua escolha, alegar perda ou deterioração da coisa,
ainda que por força maior ou caso fortuito (art. 246, CC)/O gênero, segundo tradicional
entendimento, não perece jamais
MODALIDADES DAS OBRIGAÇÕES – (cont.)
3) Obrigação de fazer – nas obrigações de fazer, interessa ao credor a própria
atividade do devedor. Pretende o credor a prestação de um fato, e não o bem que
eventualmente dele resulte. Em tais casos, a depender da possibilidade ou não de
o serviço ser prestado por terceiro, a prestação do fato poderá ser fungível ou
infungível/Aspectos:

3.1) Se ficar estipulado que apenas o devedor indicado no título da obrigação


possa satisfazê-la, estaremos diante de uma obrigação infungível/Art. 247,
CC – se tratam das chamadas obrigações personalíssimas (intuitu personae), cujo
adimplemento não poderá ser realizado por qualquer pessoa, em atenção às
qualidades especiais daquele que se contratou. Tais pessoas não poderão, sem
prévia anuência do credor, indicar substitutos, sob pena de descumprirem a
obrigação personalíssima pactuada
MODALIDADES DAS OBRIGAÇÕES – (cont.)
3) Obrigação de fazer – nas obrigações de fazer, interessa ao credor a própria atividade
do devedor. Pretende o credor a prestação de um fato, e não o bem que eventualmente
dele resulte. Em tais casos, a depender da possibilidade ou não de o serviço ser prestado
por terceiro, a prestação do fato poderá ser fungível ou infungível/Aspectos:

3.2) A obrigação de fazer será fungível quando não houver restrição negocial no
sentido de que o serviço seja realizado por outrem – atento a isso, o CC admite a
possibilidade de o fato ser executado por terceiro, havendo recusa ou mora do devedor,
nos termos do seu art. 249

3.3) A grande novidade do CC, no que tange às obrigações de fazer, é a possibilidade de


deferir-se ao credor o exercício da autoexecutoriedade, em caso de urgência na obtenção
da obrigação de fazer fungível (art. 249, parágrafo único). Cuida-se de evidente
aplicação do paradigma da operabilidade
MODALIDADES DAS OBRIGAÇÕES – (cont.)
3) Obrigação de fazer (cont.):
3.4) Poderá a prestação de fazer ser naturalmente infungível, com base nas qualidades
pessoais do devedor, por exemplo, a pintura de tela por artista; será ainda
contratualmente infungível, caso o credor queira impor natureza personalíssima a uma
obrigação em tese fungível. Aliás, o art. 247 refere-se a ambas as modalidades de
obrigações

3.5) Interessa, ainda, a análise da modalidade de obrigação de fazer que envolve a


promessa de fato de terceiro (art. 439). Pelo princípio da relatividade contratual, as
avenças realizam-se res inter alios acta. Assim, em princípio, o terceiro é um estranho
à relação obrigacional, sendo a sua conduta objeto da prestação. Porém, o objeto da
obrigação em si é a promessa do próprio devedor; isto justifica o seu sancionamento.
Mas se o terceiro aceitar a prestação exonera-se o devedor de responsabilidade, já que a
promessa foi cumprida e o terceiro assumiu o contrato, vinculando-se aos seus termos
MODALIDADES DAS OBRIGAÇÕES – (cont.)
3) Obrigação de fazer (cont.):
3.6) Caso seja descumprida uma obrigação de fazer (art. 248, CC):
3.6.1) Se a prestação do fato se torna impossível sem culpa do
devedor, resolve-se a obrigação, sem que haja a consequente obrigação
de indenizar

3.6.2) Se a impossibilidade decorrer de culpa do devedor, este poderá


ser condenado a indenizar a outra parte pelo prejuízo causado

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