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Assumindo a

dimensão
interacional da
linguagem
Universidade Estadual de Feira de Santana
Departamento de Letras e Artes
Licenciatura em Letras – Língua Portuguesa
Disciplina: EDU 594 - Prática III
Docente: Priscilla Barbosa de Oliveira Melo
Discentes: Ana Cecília Souza Santana Lacerda,
Beatriz Silva Freitas e Sara Figuerêdo de Cerqueira
“Toda atividade pedagógica do ensino do português tem
subjacente, de forma explícita ou apenas intuitiva, uma
determinada concepção de língua”
- Irandé Antunes.

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“Queremos
a prática” Parece que são meio descrentes da teoria. “queremos prática”,
costumam dizer. Esta afirmação pode significar um certo ceticismo ou
um descontentamento com explicações teóricas que lhes chegam nos
eventuais encontros ou “treinamentos”. Nesse caso, os professores
podem ter razão, principalmente, se a teoria que estudaram não
ajudou a tornar sua atividade pedagógica mais produtiva, mais
relevante e significativa.

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“Bons professores, como a aranha, sabem que lições, essas teias de
Rubem Alves: palavras, não podem ser tecidas no vazio. Elas precisam de fundamentos.
Os fios, por finos e leves que sejam, têm de estar amarrados a coisas
sólidas: árvores, paredes, caibros. Se as amarras são cortadas, a teia é
soprada pelo vento, e a aranha perde a casa. Professores sabem que isso
vale também para as palavras: separadas das coisas, elas perdem seu
sentido. Por si mesmas, elas não se sustentam. Como acontece com a teia
de aranha, se suas amarras às coisas sólidas são cortadas, elas se tornam
sons vazios: nonsense...”

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2.1

Explorando a escrita

6
“A
“A escrita,
escrita, assim
assim como
como toda
toda atividade
atividade interativa,
interativa, implica
implica uma
uma relação
relação
cooperativa
cooperativaentre
entreduas
duasou
oumais
maispessoas”
pessoas”

“Ter
“Ter oo que
que dizer
dizer é,é, portanto,
portanto, uma
uma condição
condição prévia
prévia para
para oo êxito
êxito da
da
atividade
atividadede
deescrever”
escrever”

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“A escrita, na diversidade de seus
usos, cumpre funções comunicativas
socialmente específicas e relevantes”

“Se falar é uma forma de


comportamento escrever também ou é
ou seja nunca dizemos nada
oralmente por escrito que não tenha
consequências”

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Implicações Pedagógicas
Implicações
pedagógicas ● Uma escrita de ● Uma escrita de ● Uma escrita de
autoria dos textos textos que
alunos socialmente tenham leitores
relevantes
● Uma escrita de
textos ● Uma escrita
diversificada

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2.2

Explorando a leitura
Ler é outro modo de ouvir

Marco Bagno

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A leitura é parte da interação verbal escrita,
enquanto implica a cooperativa do leitor na
interpretação e na reconstrução do sentido e das
intenções pretendidas pelo autor.

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A atividade da
leitura completa a
atividade da
➢ É uma atividade de interação entre
produção escrita sujeitos.
➢ Vai além do simples processo de
decodificação dos sinais gráficos.
➢ Os elementos gráficos funcionam como
verdadeiras “instruções” do autor e não
devem ser desprezadas.

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A interpretação de um
texto depende de outros
conhecimentos além do
conhecimento da língua.

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É preciso que o professor entre pelo
conhecimento da pragmática, para “abrir”os
horizontes com que vai perceber esse jogo da
linguagem.

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A leitura é uma atividade de acesso ao
conhecimento, ao prazer estético e,ainda, uma
atividade de acesso às especificidades da escrita.

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IMPLICAÇÕES
PEDAGÓGICAS
Uma leitura de textos Uma leitura interativa
autênticos Qualquer texto precisa ser lido
Nada poderá justificar uma como como sendo o lugar de
leitura que não seja a leitura um encontro entre quem
de textos autênticos. escreveu e quem lê.

Uma leitura de duas vias Uma leitura motivada


Tudo que fazemos está
Nenhuma leitura está
preso a um interesse
desvinculada das condições qualquer. Não pode ser
em que o texto foi escrito. diferente quando se trata da
leitura.
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IMPLICAÇÕES
PEDAGÓGICAS
Uma leitura do todo Uma leitura crítica
Na leitura, a primazia A leitura se torna plena quando
interpretativa deve ser dada à o leitor chega à interpretação
dimensão global do texto, do dos aspectos ideológicos do
texto como um todo. texto.

Uma leitura da Uma leitura


reconstrução do texto diversificada
O leitor deve fazer o caminho Tal como acontece na vida
inverso que fez o autor. fora da escola, as
oportunidades de leitura
devem variar.
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IMPLICAÇÕES
PEDAGÓGICAS
Uma leitura também por Uma leitura apoiada no
pura curtição texto
Que seja estimulado com É fundamental que qualquer
,muitíssima frequência, o conclusão a que chegue a
exercício da leitura gratuita. leitura do texto seja apoiada em
alguma pista.

Uma leitura não só das Uma leitura nunca


palavras expressas no texto desvinculada do sentido
O leitor deve fazer o caminho Que quando na realização da leitura
inverso que fez o autor. em voz alta orientações como “ler
pausadamente” sejam dadas como
recursos para compreensão do
texto. 20
2.3
Explorando a
gramática

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A gramática compreende o conjunto de regras
que especifica o funcionamento
de uma língua.

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Toda língua tem sua gramática com suas regras, independente:
Não existe língua
◆ prestígio social
sem gramática ◆ nível de desenvolvimento econômico
◆ cultural da comunidade em que é falada

Quando alguém é capaz de falar uma língua, então é capaz de


usar as regras:
◆ fonológicas
◆ morfológicas
◆ sintaticas
◆ semanticas
◆ produção de textos interpretáveis
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Não existe Aprender uma língua é, portanto, adquirir, o conhecimento das
falante sem regras de formação dos enunciados dessa língua.
conhecimento
Não significa que todo falante sabe o que é um adjunto
de língua
adnominal, ou dígrafo, ou um verbo intransitivo, porém sabe:
◆ intuitivamente e implicitamente usar essas coisas
◆ regras de uso e combinação de palavras em textos
◆ regras de uso das unidades, embora desconheça os
nomes e classes que pertencem as unidades

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O que são regras de gramática X O que não são regras de gramática

Exemplo de regras de uso:

Descrição de como empregar os pronomes, usar as flexões verbais para indicar diferenças de tempo e de
modo, estabelecer relações semânticas entre partes do texto, de quando e como garantir a
complementação das palavras; expressar o que se quer pelo uso da palavra adequada, no lugar certo, na
posição certa.

Exemplo de não regras de uso:

Subdivisão das conjunções e os respectivos nomes de cada uma, a subclassificação de cada subclasse dos
pronomes e a função sintática prevista para cada um; a classificação de cada tipo de oração, com toda a
refinada subclassificação das subordinadas e coordenadas, as diferentes funções sintáticas do “que” ou de
“se”, a distinção entre os vários tipos de encontro vocálico ou consonantal, de sujeito ou de predicado.

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Sempre
desenvolver
Os exercícios em que se pede para grifar, circular palavras ou
competência de oração, sem nenhuma preocupação com saber para que servem
identificação e essas coisas, para que foram usadas ou que efeitos
reconhecimento provocam em textos orais ou escritos.

Exemplo: o que está trás da afirmação “O Banco mentiu?”

Escola perde tempo com nomenclatura e classificação, enquanto


o estudo das regras dos usos da língua em textos fica sem tempo.

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A questão não é ensinar ou não ensinar gramática, e sim discernir
Ensinar ou não sobre o objeto do ensino, sobre as regularidades de como se usa a
língua nos mais variados gêneros de textos orais e escritos .
gramática?
Exemplo: Quais as regras para produção e leitura de um resumo,
de uma resenha, de uma notícia, de um requerimento, de um
aviso, entre muitos outros
◆ Subquestão: como ensinar tais regularidades, com
que concepções, objetivos e posturas, desenvolvendo
que competências e habilidades

Toda língua possui, para além da gramática, um léxico variado


◆ gramática sozinha nunca foi suficiente

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A gramática existe não em função de si mesma,
mas em função do que as pessoas falam,
ouvem, leem e escrevem nas práticas sociais de
uso da língua.

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Nenhuma regra
gramatical é O valor de qualquer regra gramatical:
◆ deriva da sua aplicabilidade e funcionalidade
incondicional ◆ são construção dos atos sociais da comunicação verbal
◆ mutáveis e flexíveis
◆ como as pessoas consideram

Os falantes decidem o que fica e o que entra de novo e diferente

“Nenhuma língua morreu por falta de gramáticos, apenas


estagnaram em razão ausência de escritores. Nenhuma
sobreviveu sem povo.” - Millôr Fernandes

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A gramática reflete as diversidades geográficas,
sociais e de registro da língua

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Não existe
língua Todas as línguas variam naturalmente em razão das diferentes
uniforme condições da comunidade e do momento que é falada

Uma gramática de regras incondicionalmente rígidas foge a


realidade com que a comunicação verbal ocorre e só é
possível na descontextualização das frases isoladas e
artificiais com que são fabricados os exercícios escolares

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A gramática existe em função da compreensão
e da produção de textos orais e escritos

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Regra de gramática x Nomenclatura gramatical:
◆ reconhece os nomes que os elementos da língua têm e desconhece as
regras propriamente ditas de sua aplicação em textos

Não é estudo da gramática o reconhecimento das diferenças, por exemplo:


◆ "adjunto adnominal" e "complemento nominal"
◆ “objeto direto preposicionado” e “oração subordinada substantiva”
◆ outras particularidades semelhantes.

Quando referem ao ensino da gramática na escola, estão falando desse ensino da


nomenclatura, da análise sintática e similares.

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Quais regras
Não se justifica a impressão de que analisar textos, falados e escritos,
ensinar e em que é algo que as pessoas podem fazer sem ter em conta a gramática da
perspectiva língua ou que analisar textos falados e escritos é "atrasar o programa"
ensinar e "não ir com a matéria pra frente".

A impressão explicada pela prática escolar tradicional de analisar


frases soltas e enxergar apenas as funções morfossintáticas de seus
elementos e suas respectivas nomenclaturas.

Qualquer ato de linguagem não é possível sem um certo dizer, o qual,


sendo dizer, é necessariamente lexical, gramatical e contextual.
Afinal, a produção do sentido é regida também pela gramática.

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A gramática da língua deve ser objeto de uma
descrição rigorosa e consistente

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Existem regras e descrições gramaticais que
particularizam o uso da norma-padrão da língua ou
o uso linguístico do grupo
de prestígio da sociedade.

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IMPLICAÇÕES
PEDAGÓGICAS
Uma gramática que seja Uma gramática
relevante contextualizada
Selecionar regras úteis e aplicáveis Promover produção e análise de
aos usos da língua → amplia textos diariamente, confrontando
competência comunicativa para circunstâncias de aplicação das
exercício fluente e relevante da regularidades estudadas.
fala e escrita.
Uma gramática que seja Uma gramática que traga
funcional algum tipo de interesse
Aplicabilidade real de suas regras.
Não adianta saber os nomes das O estudo deve ser estimulante,
conjunções, mas sim o sentido que desafiador, instigante.
elas expressam e as relações
semânticas que sinalizam.
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IMPLICAÇÕES
PEDAGÓGICAS
Uma gramática que liberte, Uma gramática que prevê
que “solte” a palavra mais de uma norma
A sala de aula deve ser um espaço As normas estigmatizadas
para incentivar a fluência também tem seu valor.
linguística.

Uma gramática, enfim, que é


da língua, que é das pessoas
Passa a ter sentido discernir o que
é significativo para a experiência
humana da interação verbal,
interação que, se é linguistica,
é também gramatical. 38
2.4
Explorando a
oralidade

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Não existem
diferenças entre Servem a interação verbal
a oralidade Forma de diferentes generos textuais
e a escrita Não tem sentido a ideia de uma fala apenas como lugar:
◆ espontaneidade
◆ relaxamento
◆ falta de planejamento
◆ descuido em relação da língua padrão
Não tem sentido a ideia de escrita apenas como lugar:
◆ escrita uniforme, inváriavel e formal
Fala e escrita podem variar, estar mais ou menos planejadas e
formais em relação à norma-padrão, pois ambas são igualmente
dependentes de seus contextos de uso.

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IMPLICAÇÕES
PEDAGÓGICAS
Uma oralidade orientada pela Uma oralidade orientada
coerência global para as suas especificidades
Os textos se desenvolvem a partir Será interessante que o professor
de um determinado assunto ou saiba ressaltar os pontos formais
dentro de um tema específico. e funcionais que os textos orais e
escritos são diferentes.

Uma oralidade orientada para Uma oralidade orientada


articulação entre diferentes pela variedade de gêneros
tópicos ou subtópicos da de discursos orais
interação Os textos orais apresentam uma
Os textos orais não dispensam os variedade de tipos e gêneros
recursos de encadeamento de
tópticos justamente por serem orais
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IMPLICAÇÕES
PEDAGÓGICAS
Uma oralidade orientada para Uma oralidade orientada
facilitar o convívio social para as suas especificidades
O falante e o ouvinte são os atores Será interessante que o professor
do drama da comunicação. saiba ressaltar os pontos formais
e funcionais que os textos orais e
escritos são diferentes.

Uma oralidade orientada para


se reconhecer o papel da Uma oralidade orientada
entonação, das pausas,e de para desenvolver a
outros recursos supra- habilidade de escutar com
segmentais na construção do atenção e respeito os mais
sentido do texto diferentes tipos de
interlocutores
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OBRIGADA!

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