ENSAIO CLÍNICO E ESTUDO EXPERIMENTAL
EMBOLIZAÇÕES TRANSARTERIAIS PARA CONTROLE DE HEMORRAGIA DIGESTIVA ALTA (HDA) DE
ORIGEM NEOPLÁSTICA: ESTUDO DE EFICÁCIA EM UM CENTRO DE REFERÊNCIA DO CÂNCER
Fernandes LM, Cavalcante ACBS, Paixao PHV, Amorim CCG, Pontes RVS, Stefanini FS, Gois FWC, Macena CFP, Matushita Junior JPK, Zurstrassen CE
1. Hospital A.C Camargo Câncer Center
Introdução
A hemorragia digestiva alta (HDA) é uma grande preocupação da radiologia
intervencionista por ser de difícil tratamento e pela alta morbimortalidade.
Sangramento gastrointestinal não varicoso é a complicação mais frequente,
associado ao tratamento com anti-inflamatório não esteroidal, configurando-se
assim como importante causa de internações por HDA.
Por outro lado, a incidência relatada de HDA associada à neoplasia varia na
literatura, a depender da etiologia, estando associado à neoplasia avançada em
6% a 10% dos casos ou ao adenocarcinoma gástrico, entre 1 e 8%. Podendo ser,
muitas vezes a causa de morte imediata nestes pacientes.
Podem se apresentar de diversas maneiras, tais como hematêmese,
hematoquezias, melena e demonstram uma variedade de sintomas desde
anemia devido a hemorragia aguda ou crônica (evidentes ou ocultas) até o
choque hipovolêmico.
Objetivo
O objetivo deste estudo é avaliar a eficácia da embolização transarterial no
controle da HDA de origem neoplásica e suas complicações.
Metodologia
Estudo retrospectivo e unicêntrico. Os dados foram coletados por meio do
banco de dados do departamento de radiologia intervencionista, prontuário
eletrônico da instituição e programa de armazenamento de imagens entre
janeiro / 2014 a dezembro / 2018. A HDA foi definida como sangramento de
entérica, proximal ao ligamento de Treiz, manifestado como hematêmese e /
ou melena. Os pacientes foram submetidos à embolização arterial quando o
tratamento endoscópico falhou. O sucesso técnico foi definido como
angiografia de controle final demonstrando oclusão completa de todos os
vasos-alvo que contribuíram para a hemorragia. O sucesso clínico foi definido
pela ausência de externalização do sangramento e estabilidade da
hemoglobina em 48 horas após a embolização.
Resultados
A neoplasia responsável mais comum encontrada foi tumor primário de
estômago (29,1%), seguido de tumor neuroendócrino e linfoma (9,1%),
neoplasias de pâncreas, rim e colorretal (7,3% cada) e as artérias
predominantemente embolizadas foram gástrica esquerda (41,8%), ramos da
mesentérica superior (18,8 %), pancreatoduodenal (14,5%) egastroduodenal
(12,7%) . Micropartículas foi o material mais utilizado (67,3%), além do uso de
cola (29.1%), molas (14,5) e Gelfoam (1,8%). O sucesso clínico foi alcançado em
70,9% dos pacientes e o sucesso técnico em 98,2%, sendo o tempo médio sem
sangramento de 142 dias. Não houve óbitos ou complicações maiores
relacionadas ao procedimento de embolização.
Discussão
O tratamento inicial das hemorragias digestivas altas geralmente inclui uma
combinação entre terapia medicamentosa e hemostasia endoscópica, esta
considerada terapia de primeira linha para HDA aguda associada a tumores do
trato gastrointestinal.
No entanto, a falha na hemostasia ocorre em 20% dos casos. O tratamento
endoscópico também está associado a alta taxa de recorrência de sangramento
(29-80%). Há muitos casos em que há lesões não suscetíveis ao tratamento
endoscópico ou que houve falha nesta abordagem, sendo o tratamento
cirúrgico ou a embolização transarterial (TAE) são opções para controle do
sangramento.
Apesar de a cirurgia ser o tratamento tradicional nos casos de falência do
tratamento endoscópico, está associado a alta morbimortalidade (cerca de
40%). O tratamento endovascular é uma alternativa mais razoável e com menor
risco de complicações comparado a cirurgia, tornando-se opção para
tratamento e rápido controle de sangramento gastrointestinal refratário a
endoscopia.
Conclusão
A embolização transarterial mostrou-se eficaz e segura para o controle do
sangramento gastrointestinal superior de origem neoplásica.