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«Cristalizações»

Courbet, Os britadores de pedra


(1849).
Lavo, refresco, limpo os meus sentidos,
E tangem-me, excitados, sacudidos,
O tato, a vista, o ouvido, o gosto, o olfato!

«Cristalizações» —
inverno de 1877.
Claude Monet, A pega (1869).
«Cristalizações»
Composição em que
o eu poético analisa o real

Espaço — Tempo — manhã / «rude mês»


rua de uma cidade que «não consente as flores»

Eu poético

Os calceteiros A atriz
 Regista sensações / analisa 
(trabalhadores) (classe privilegiada)

«os outros» e «ela»


I. Os trabalhadores

Os calceteiros trabalham no inverno, em duras condições

• Desempenham uma tarefa


monótona e repetitiva «Calçam de lado a lado a longa rua»
• Estão agachados «De cócoras, em linha, os calceteiros»
• Passam frio «A frialdade exige o movimento»

Aspeto destacado em primeiro lugar:


«rapagões […] cuja coluna nunca se endireita»

Corpo curvado e deformado = submissão / humilhação social


I. Os trabalhadores
A sua origem é rural:
Calceteiros e valadores: são os «filhos das
• trabalham com «grossos maços» lezírias, dos montados»
• apresentam «mãos gretadas»
• levam carros pesadíssimos, «que chiam»

Condições de trabalho inóspitas e adversas

Indignação do sujeito poético:


«Homens de carga! Assim as bestas vão curvadas!
/ Que vida tão custosa! Que diabo!»

O trabalho retira-lhes
Trabalho = Bestialização
a dimensão humana
William Bell Scott,
Ferro e carvão (1855-1860).
II. A atriz
Personagem que surge nas últimas seis estrofes do poema:
desenquadrada «nestes sítios suburbanos, reles!»

A atriz Os trabalhadores
(classe privilegiada) (classe dos que se sacrificam)
• Possuem apenas «as japonas, os coletes»;
• Elegante e «Toda abafada num • O seu movimento é necessário para
protegida do frio casaco à russa» diminuir a frialdade.

• Pose direita «perfil direito» • A sua coluna «nunca se endireita».


«rostinho estreito, • Têm a força necessária ao trabalho físico
• Delicada e frágil friorento» intenso.

Diferença social Encaram-na


Contraste delicadeza vs. brutalidade «sanguínea, brutamente»
Toulouse-Lautrec, Jane Avril (1892).
III. O sujeito poético
«Vibra uma imensa claridade crua.»

Regista sensações
«Lavo, refresco, limpo os meus sentidos.»

Compadece-se «Que vida tão custosa! Que diabo!»

Evoca/Compara «Não se ouvem aves; nem o choro duma nora!»

«Pinta» =
Observa e analisa «Não se ouvem aves; nem o choro duma nora»
(«eles» e «ela»)
Recursos expressivos e linguagem

Metáfora • «animais de carga»


Exclamação • «Os bons trabalhadores!» Os recursos
Tripla • «Com choques rijos, ásperos, cantantes.» expressivos
adjetivação • «E os rapagões, morosos, duros, baços,» permitem
• «E as poças de água, como um chão a análise
Comparação vidrento, / Refletem a molhada casaria.» e a crítica
• «Com seus pezinhos rápidos, de cabra!» social

Sensações Reprodução
• «claridade crua» literária da técnica
Visuais
• «E as poças de água, como um chão vidrento» impressionista

Auditivas • «gritam as peixeiras»
• «Carros de mão, que chiam carregados» Objetivo:
mostrar a
Tácteis • «faz frio» perceção do real
• «calosas mãos gretadas» por parte do
observador

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