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As Funções Psíquicas e suas

Alterações

Psicopatologia
Prof. Érico Campos
Psicopatologia das
Funções Psíquicas
 O exame psíquico é fundamentado em uma teoria sobre as
funções psíquicas e suas alterações
 Apesar do estudo das funções psíquicas e suas alterações
constituir um fundamento absolutamente necessário para
a psicopatologia, é preciso lembrar que não existem
funções psíquicas isoladas ou alterações psicopatológicas
compartimentalizadas desta ou daquela função
 Assim, é sempre a pessoa em sua totalidade que adoece
 Do mesmo modo, os transtornos psicopatológicos
precisam ser compreendidos a partir de uma abordagem
estrutural, uma vez que há uma relação dialética
fundamental entre o conhecimento do elementar e do
global
Funções Psíquicas Elementares
 Consciência
 Atenção
 Orientação (vivências de tempo e espaço)
 Sensopercepção, Representação e Imaginação
 Memória
 Afetividade
 Vontade e Psicomotricidade
 Juízo de Realidade (delírio)
 Linguagem
Consciência: Definições
 Neuropsicológica: o estado de estar desperto, acordado,
vígil e lúcido, constituindo o que pode ser denominado
nível de consciência
 Psicológica: soma total das experiências conscientes de
um indivíduo em determinado momento, constituindo o
que se designa campo da consciência; é a dimensão
propriamente subjetiva da atividade psíquica do sujeito
que se volta para a realidade
 Ético-Filosófica: capacidade de tomar ciência dos
deveres éticos e assumir as responsabilidades
concernentes a essa ética, constituindo a chamada
consciência moral ou ética
Campo da Consciência
 Ao voltar-se para a
realidade, a consciência
demarca um campo, no
qual se pode delimitar:
 um foco: parte central
mais iluminada da
consciência
 e uma margem:
periferia menos
iluminada, mais nebulosa
da consciência
Alterações Normais
da Consciência
 O sono normal é um estado especial da
consciência, que ocorre de forma recorrente e
cíclica nos organismos superiores
 A estrutura do sono compreende:
• Sono sincronizado não-REM (Estágios 1 a 4)
• Sono REM

 O sonho é um fenômeno associado ao sono


considerado uma alteração normal da consciência
 São vivências predominantemente visuais e fenômenos
psicológicos extremamente ricos e reveladores de
desejos e temores, ainda que de forma disfarçada e
indireta
Alterações Patológicas da
Consciência
 A consciência pode se alterar tanto por processo fisiológicos, normais,
como por processos patológicos
 Os quadros patológicos são:
 Do ponto de vista quantitativo: rebaixamento do nível de
consciência
• Graus: obnubilação, sopor e coma
• Síndromes patológicas associadas: delirium (síndromes confusionais agudas),
estado onírico
 Do ponto de vista qualitativo:
• Estados crepusculares e estado segundo
• Dissociação da consciência
• Transe
• Estado hipnótico
• Experiência de quase-morte
Atenção: Definições
 A atenção pode ser definida como a direção da consciência ou o
estado de concentração da atividade mental sobre determinado objeto
 Refere-se ao conjunto de processos psicológicos que torna o ser
humano capaz de selecionar, filtrar e organizar as informações em
unidades controláveis e significativas
 Pode-se discernir alguns tipos de atenção:
 Quanto à natureza: voluntária e espontânea
 Quanto à direção: externa e interna
 Quanto à amplitude: focal e dispersa
 Atualmente, subdivide-se a atenção nos seguintes aspectos básicos:
 Capacidade e foco de atenção
 Atenção seletiva
 Seleção de resposta e controle executivo
 Atenção constante e sustentada
Anormalidades da Atenção
 As alterações da atenção podem ocorrer tanto em
distúrbios neurológicos e neuropsicológicos como
em transtornos mentais
 As principais alterações são:
 Hipoprosexia: alteração mais comum e menos
específica da atenção, que envolve sua diminuição
global
 Aprosexia: total abolição da capacidade de atenção
 Hiperprosexia: estado da atenção exacerbada
 Distração: superconcentração ativa da atenção, com
inibição de tudo mais
 Distraibilidade: estado de instabilidade marcante e
mobilidade acentuada da atenção voluntária
Orientação: Definições
 Diz respeito à capacidade de situar-se quanto a si mesmo
e quanto ao ambiente, constituindo um elemento básico
da atividade mental
 Requer, de forma consistente, a integração das
capacidades de atenção, percepção e memória
 É classificada em:
 Autopsíquica: orientação do indivíduo em relação a si mesmo,
sua identidade
 Alopsíquica: capacidade de orientar-se em relação ao mundo,
que envolve uma orientação
• Quanto ao espaço (orientação espacial)
• Quanto ao tempo (orientação temporal)
Alterações da Orientação
 Os vários tipos de desorientação são diferenciados
segundo a alteração de base que a condiciona:
 Redução do nível de consciência (torporosa ou
confusa)
 Apática (abúlica)
 Delirante (comum a dupla orientação)
 Por déficit e memória imediata e recente (amnéstica)
 Por déficit intelectual (oligofrênica)
 Por dissociação (histérica)
 Por desagregação do pensamento
Vivências do Tempo e do Espaço
 As vivências do tempo e do espaço constituem-se
como dimensões fundamentais de todas as
experiências humanas
 A dimensão temporal da experiência humana
relaciona-se aos chamados ritmos biológicos
 A vivência do tempo pode ser qualitativamente
distinta entre:
 Tempo subjetivo: interior ou pessoal
 Tempo objetivo: exterior, cronológico ou mensurável
Anormalidades da
Vivência do Tempo
 De modo geral, a passagem do tempo é percebida como
lenta e vagarosa nos estados depressivos e rápida e
acelerada nos estados maníacos.
 Outras alterações são:
 Ilusão sobre a duração do tempo: intoxicações por
alucinógenos ou psicoestimulantes, fases agudas e iniciais das
psicoses e situação emocionais especiais e intensas
 Atomização do tempo: estado de exaltação e agitação maníaca
 Inibição da sensação de fluir do tempo: síndromes
depressivas graves, esquizofrenia e pacientes ansiosos ou
obsessivo-compulsivos
Anormalidades da
Vivência do Espaço
 A vivência de um estado de êxtase, marcado pela perda
das fronteiras entre o eu e o mundo exterior, é comum em
estados maníacos
 Nos quadros depressivos, o espaço exterior pode ser
vivenciado como encolhido, contraído, escuro e pouco
penetrável pelo indivíduo e pelos outros
 Já o indivíduo com quadro paranóide vivencia o espaço
interior como invadido por aspectos ameaçadores,
perigosos e hostis do mundo
 Nos casos de agorafobia, por sua vez, o espaço exterior é
percebido como sufocante, pesado, perigoso e
potencialmente aniquilador
Sensopercepção: Definições
 Sensação: fenômeno elementar gerado por estímulos
físicos, químicos ou biológicos variados, originados fora ou
dentro do organismo, que produzem alterações nos órgãos
receptores, estimulando-os. As diferentes formas de
sensação são geradas por estímulos sensoriais específicos
(visuais, táteis, auditivos, olfativos, gustativos,
proprioceptivos e cinestésicos). É considerada um
fenômeno passivo.
 Percepção: tomada de consciência pelo indivíduo do
estímulo sensorial. A percepção diz respeito à dimensão
propriamente neuropsicológica e psicológica do processo.
É considerada um fenômeno ativo
Imagem e Representação
 O elemento básico do processo de sensopercepção é a imagem
perceptiva real, ou simplesmente imagem
 A imagem é caracterizada pelas seguintes qualidades: nitidez,
corporeidade, estabilidade, extrojeção, ininfluencibilidade voluntária,
completude
 Já o fenômeno representação, ou, mais especificamente, imagem
representativa ou mnêmica, se caracteriza por ser uma revivescência
de uma imagem sensorial determinada, sem que esteja presente o
objeto original que a produziu. É, portanto, a reapresentação de uma
imagem na consciência, sem a presença real do objeto.
 A representação é caraterizada pelas seguintes qualidades: pouca nitidez,
pouca corporeidade, instabilidade, introjeção, incompletude
 A imaginação é uma atividade psíquica, geralmente voluntária, que
consiste na evocação de imagens percebidas no passado ou na criação
de novas imagens (fantasia)
Alterações da Sensopercepção
 Alterações quantitativas
 Hiperestesia: percepção aumentada em intensidade ou duração
 Hiperpatia: sensação desagradável produzida por um leve estímulo da
pele
 Hipoestesia: percepção diminuída em intensidade ou duração
 Anestesias e analgesias: perdas sensoriais
 Parestesias e disestesias: alterações da sensopercepção
 Alterações qualitativas
 Ilusão: percepção deformada de um objeto real e presente (por
rebaixamento do nível da consciência, fadiga ou inatenção graves e
estados afetivos)
 Alucinação: percepção clara e definida de um objeto (voz, ruído, imagem)
sem a presença do objeto estimulante real (comum em transtornos
mentais graves). São, em geral, de caráter auditivo (principalmente
esquizofrenia e transtornos de humor), visual (demências, esquizofrenia e
intoxicações) e táteis (esquizofrenia, quadros histéricos e intoxicações)
Memória: Definições
 Capacidade de registrar, manter e evocar as experiência e os fatos já ocorridos
 Tipos: cognitiva (psicológica), genética (genótipo), imunológica, coletiva (cultural)
 A memória psicológica é a de maior interesse psicopatológico, sendo composta de
três fases ou elementos básicos:
 Registro (percepção, gerenciamento e início da fixação)
 Conservação (retenção)
 Evocação (recuperação ou recordação)
 Processo temporal de aquisição e evocação dos elementos mnêmicos:
 Imediata ou de curtíssimo prazo (até 3min)
 Recente ou de curto prazo (até 3-6 horas)
 Remota ou de longo prazo (de meses até anos)
 Tipos específicos de memória
 Explícita e implícita / Desclarativa e não-declarativa
 Trabalho
 Episódica
 Semântica
 Procedimentos
Alterações da Memória
 Alterações quantitativas
 Hipermnésias: aceleração geral do ritmo psíquico
 Amnésias ou hipomnésias: disfunção da memória,
podendo ser anterógrada ou retrógrada
 Alterações qualitativas (paramnésias): disfunção
no processo de evocação de conteúdos mnêmicos
 Ilusões mnêmicas (falseamentos da memória)
 Alucinações mnêmicas (material básico para formação
de delírios)
 Outros: fabulações, criptomnésias, ecmnésia,
lembrança obsessiva e alterações de reconhecimento
Afetividade: Definições
 Afetividade é um termo genérico, que compreende várias modalidades
de vivências afetivas
 Humor ou estado de ânimo: estado emocional basal e difuso em que se
encontra a pessoa em determinado momento
 Emoção: estado afetivo intenso de curta duração, originado geralmente
como reação a certas excitações
 Sentimento: comumente associado a conteúdos intelectuais, valores,
representações e, em geral, não implicam concomitantes somáticos
 Afeto: qualidade e tônus emocional que acompanha uma idéia ou
representação mental
 Paixão: estado afetivo extremamente intenso, que domina a atividade
psíquica como um todo, captando a atenção do indivíduo em uma única
direção
 A vida afetiva ocorre sempre em um contexto de relações do eu com o
mundo e com as pessoas, variando de um momento para outro à
medida que os eventos e as circunstâncias da vida se sucedem
Alterações da Afetividade
 Alterações do humor
 Distimia: alteração básica do humor, tanto no sentido de inibição
como no de exaltação
 Depressão: tristeza patológica (antiga distimia hipotímica ou
melancólica)
 Disforia: distimia acompanhada de tonalidade afetiva desagradável,
mal-humorada
 Euforia: alegria patológica (antiga distimia hipertímica ou maníaca)
 Elação: expansão do Eu
 Puerilidade: aspecto infantil, simplório e regredido
 Moria: alegria muito pueril, ingênua, boba
 Êxtase: beatitude e dissolução do Eu no todo
 Irritabilidade patológica: hiper-reatividade desagradável e hostil a
estímulos exteriores
Alterações da Afetividade
 Alterações das emoções e dos sentimentos
 Apatia: diminuição da excitabilidade emotiva e afetiva causado hiporreatividade
(“tanto faz”)
 Hipomodulação: incapacidade de modular a resposta afetiva de acordo com a
situação existencial
 Inadequação ou paratimia: contradição profunda entre a esfera ideativa e a afetiva
 Distanciamento ou empobrecimento: perda progressiva e patológica das vivências
afetivas
 Embotamento ou devastação: perda profunda de todo tipo de vivência afetiva,
incluindo aspectos observáveis como a mímica, postura e atitude
 Falta de sentimento: incapacidade para sentir emoções, experimentada de forma
muito penosa pelo paciente
 Andonia: incapacidade total ou parcial de sentir prazer com atividades da vida
 Indiferença: frieza afetiva incompreensível diante dos sintomas que apresenta
(“bela” indiferença)
 Labilidade e incontinência: mudanças súbitas e imotivadas de humor, sentimentos e
emoções
 Ambivalência: sentimentos opostos em relação a um mesmo estímulo ou objeto
 Neotimia: sentimentos e experiências afetivas inteiramente novos (esquizoforia)
Ansiedade, Angústia e Medo
 A ansiedade é definida como estado de humor desconfortável,
apreensão negativa em relação ao futuro, inquietação interna
desagradável, incluindo manifestações somáticas e fisiológicas
 Do ponto de vista existencial, a angústia tem significado mais
marcante, é algo que define a condição humana, é um tipo de vivência
mais “pesada”, mais fundamental que a experiência de ansiedade
 Já o medo é caracterizado por referir-se a um objeto mais ou menos
preciso, diferenciando-se, assim, da ansiedade e da angústia, que são
mais inespecíficas
 Fobias: medos determinados psicopatologicamente, desproporcionais e
incompatíveis com as possibilidade de perigo real oferecidas pelos
desencadeantes
 Pânico: reação de medo intenso (pavor) relacionada geralmente ao
perigo imaginário de morte iminente, descontrole ou excitação
Vontade e Psicomotricidade:
Definições
 A vontade é uma dimensão complexa da vida mental,
relacionada intimamente com as esferas instintiva, afetiva
e intelectiva
 A psicologia classicamente utiliza o constructo motivação
para estudar a vontade
 O ato volitivo se dá, de forma geral, como um processo, o
chamado processo volitivo, no qual se distinguem os
seguintes estágios sucessivos:
 Fase de intenção ou propósito: esboço das tendências básicas do
indivíduo
 Fase de deliberação: ponderação consciente
 Fase de decisão: instante que demarca o começo da ação
 Fase de execução: execução dos atos psicomotores
Alterações da Vontade
 Hipobulia e abulia: diminuição e abulição da atividade
volitiva (quando intencional, ataraxia)
 Atos impulsivos: espécie de curto circuito do ato
voluntário, no qual predominam as ações psicomotoras
automáticas, sem reflexão, ponderação ou decisão prévias,
de tipo instantâneo ou explosivo. São caracterizados pela
incoercibilidade e pela forma egossintônica.
 Atos compulsivos: difere do ato impulsivo por ser
reconhecido pelo indivíduo como indesejável e
inadequado, assim como pela tentativa de refreá-lo ou
adiá-lo. Ocorrem freqüentemente associados a idéias
obsessivas e trazem sensação de alívio quando realizados
Tipos de Impulsos e Compulsões
Patológicas
 Agressivas auto ou heterodirigidas: automutilação, frangofilia
(destruição de objetos), piromania e atos suicidas
 Relacionados à ingestão de substâncias ou alimentos: dipsomania
(álcool), bulimia (alimentos), potomania (água)
 Relacionados ao desejo e comportamento sexual: fetichismo,
exibicionismo, voyeurismo, pedofilia e pederastia, gerontofilia, zoofilia
ou bestialismo, necrofilia ou vampirismo, coprofilia, ninfomania e
satiríase, etc.
 Outros: poriomania (andar a esmo), cleptomania (roubo patológico),
jogo patológico, compulsão por comprar, compulsão por internet ou
videogame, negativismo e obediência automática, fenômenos em eco
(ecopraxia, ecolalia, ecomimia, ecografia) e automatismos
(psicomotores e psíquicos)
Alterações da Psicomotricidade
 Assim como o ato motor é o comportamento final do ato
volitivo, as alteração da psicomotricidade freqüentemente
são a expressão final de alterações da volição
 Tipos de alterações
 Agitação, lentificação e inibição psicomotora
 Estupor: perda de toda atividade espontânea
 Catalepsia e flexibilidade cerácea: alterações exageradas no tônus
postural
 Cataplexia: perda abrupta do tônus muscular
 Estereotipias, maneirismo e tiques motores: repetições
automáticas e uniformes de determinado ato motor complexo
 Conversão: surgimento abrupto de sintomas físicos com origem
psicogênica
 Alterações da marcha
 Hiperventilação psicogênica
 Apragmatismos e apraxias
Pensamento: Definições
 Os elementos propriamente intelectivos do
pensamento são:
 Conceitos: não apresentam elementos de
sensorialidade e têm caráter geral, sendo puramente
cognitivos e intelectivos
 Juízo: consiste na afirmação de uma relação entre dois
conceitos
 Raciocínio: função que relaciona progressivamente os
juízos e conceitos
 No processo de pensar distinguem-se: o curso, a
forma ou estrutura e o conteúdo ou temática
Alterações do Pensamento
 Elementos constitutivos
 Desintegração e condensação de conceitos
 Juízo deficiente (prejudicado) e alterações do juízo de
realidade (delírio)
 Alterações do raciocínio e do estilo de pensar:
• Pensamento mágico e dereístico
• Pensamento concreto ou concretismo
• Pensamento inibido, vago e prolixo
• Pensamento deficitário (oligofrênico), demencial, confusional,
desagregado e obsessivo
 Alterações do processo de pensar:
• Curso: aceleração, lentificação, bloqueio e roubo
• Forma: fuga, dissociação, afrouxamento, descarrilhamento e
desagregação
• Conteúdo: persecutórios, depreciativos, religiosos, sexuais,
poder ou grandeza, ruína ou culpa, hipocondríacos
Juízo de Realidade: Definições
 Na psicopatologia do juízo, a primeira distinção a
se fazer é entre o erro não determinado por
processos mórbidos e as diversas formas de juízos
falsos determinados por transtornos mentais
 Os erros são psicologicamente compreensíveis,
enquanto o juízo delirante tem como
característica principal a incompreensibilidade
 Da mesma forma, as crenças culturalmente
sancionadas não devem ser confundidas com os
sintomas psicopatológicos
Alterações do Juízo de Realidade
 São, basicamente, de duas naturezas:
 Idéia prevalente ou sobrevalorada: são idéias que, por conta
da importância afetiva que têm para o indivíduo, adquirem
predominância enorme sobre os demais pensamentos. São
egossintônicas e fazem sentido para o paciente (ex: juízos na
anorexia e na hipocondria).
 Idéias delirantes ou delírio: são juízos patologicamente falsos.
Dessa forma, é um erro do ajuizar que tem origem na doença
mental. Seus principais indícios são:
• Convicção extraordinária (certeza subjetiva)
• Impossibilidade de modificação pela experiência (irremovível)
• Conteúdo impossível ou falso
• Produção idiossincrática em relação ao grupo cultural
Dimensões do Delírio
 Grau de convicção: até que ponto o paciente está convencido
da realidade de suas idéias delirantes
 Extensão: extensão com que as idéias delirantes envolvem
diferentes áreas da vida do paciente
 Bizarrice ou implausibilidade: grau em que as crenças
delirantes se distanciam das convicções culturalmente
compartilhadas pelo grupo social
 Desorganização: até que ponto as idéias delirantes têm
consistência interna (lógica própria e grau de sistematização)
 Pressão ou preocupação: o quanto o indivíduo está envolvido
com suas crenças delirantes e se sente pressionado por elas
 Resposta afetiva: o quanto as crenças delirantes abalam ou
tocam afetivamente o paciente
 Comportamento desviante: o quanto o paciente pratica atos
estranhos, perigosos ou inconvenientes em função de seu
delírio
Estrutura dos Delírios
 Delírios simples ou monotemáticos: são idéias que se
desenvolvem em torno de um só conteúdo, de um tema
único, geralmente de um único tipo
 Delírios complexos ou pluritemáticos: são aqueles que
englobam vários temas ao mesmo tempo, com múltiplas
facetas, envolvendo conteúdos variados
 Delírios não-sistematizados: são delírios sem concatenação
consistente, nos quais os conteúdos e detalhes variam de
momento para momento
 Delírios sistematizados: são aqueles bem-organizados,
com histórias ricas, consistentes e bem concatenadas, que
mantêm, ao longo do tempo, os mesmo conteúdos
Tipos de Delírio
segundo o Conteúdo
 Delírio Persecutórios (mais  Delírios de Conteúdo
comuns) Depressivo
 Ruína ou niilista
 Persecutório ou de
perseguição  Culpa e de auto-acusação
 Alusão ou auto-referência  Negação de órgãos
 Hipocondríacos
 Delírios Projetivos
 Outros (menos freqüentes)
 Influência ou de controle
 Reinvindicação
 Grandeza ou de enormidade
 Invenção ou descoberta
 Místico ou religioso  Reforma ou salvacionista
 Ciúmes e de infidelidade  Cenestopático e de Infestação
 Erótico ou erotomania  Fantástico ou mitomaníaco
Diagnóstico Diferencial

Idéias prevalentes X Idéias delirantes

Idéias obsessivas X Idéias delirantes

Delírio X Alucinação
Linguagem: Definições
 A linguagem é uma atividade especificamente
humana, talvez a mais característica de nossas
atividades mentaisj
 Elementos essenciais da língua ou idioma:
fonético, semântico e sintático
 Funções da linguagem: comunicativa, suporte do
pensamento, instrumento de expressão, dimensão
artística/lúdica
 Há certa polêmica na literatura científica quanto à
independência e à autonomia da linguagem em
relação ao pensamento e à inteligência
Alterações da Linguagem
 Alterações da linguagem secundárias a lesão neuronal
identificável
 Afasia: perda da linguagem (expressão, compreensão ou global)
 Parafasia: formas mais discretas de déficit de linguagem
 Agrafia: perda da linguagem escrita
 Alexia: perda da capacidade de leitura
 Dislexia: disfunção leve de leitura
 Disartria: disfunção da articulação das palavras
 Disfonia: mudança da sonoridade das palavras
 Afonia: incapacidade de emissão de palavras e sons
 Disfemia: alteração da linguagem de origem psicogênica (inclui a
gagueira)
 Dislalia: alteração da articulação da linguagem falada por omissão
ou substituição de fonemas
Alterações da Linguagem
 Alterações da linguagem associadas a transtornos
psiquiátricos primários
 Logorréia: produção aumentada e acelerada da linguagem verbal
(taquifasia), podendo haver perda da lógica do discurso
 Bradifasia: produção diminuída e lentificada da linguagem verbal
 Mutismo: ausência de resposta verbal oral
 Perseveração e estereotipia verbal: repetição automática de
palavras ou trechos de frases de modo estereotipado
 Ecolalia: repetição involuntária e quase automática das últimas
palavras ouvidas
 Palilalia: repetição automática e estereotipada das últimas palavras
emitidas
 Tique verbal: produção de fonemas ou palavras de forma
recorrente, imprópria e irresistível
 Coprolalia: emissão involuntária de palavras obscenas e vulgares
 Glossolalia: fala gutural e pouco inteligível (“falar em línguas”)
Funções Psíquicas Compostas

Consciência e Valoração do Eu

Personalidade

Inteligência
Consciência do Eu: Definições
 No início do desenvolvimento psíquico da criança, não há, entre o Eu e
o mundo exterior, discriminação e delimitação claras
 A noção de que algo existe “fora” (externo à criança) marca o instante de
singular significação para a formação do que se entende por Consciência
do Eu
 Características do Eu:
 Consciência da atividade do eu
 Consciência da unidade do eu
 Consciência da identidade do eu no tempo
 Consciência da oposição do eu em relação ao mundo
 O desenvolvimento do Eu “psíquico” está intimamente ligado ao
desenvolvimento do Eu “corporal”
 Define-se imagem corporal ou esquema corporal como a representação
que cada indivíduo faz de seu próprio corpo
Valoração do Eu: Definições
 Identidade psicossocial: permite que o indivíduo se
oriente em relação às outras pesssoas e ao seu meio
ambiente físico e social, estabelecendo e delineando as
fronteiras do Eu, corporal, do Eu mental e do Eu
sociocultural
 Narcisismo: é um termo da teoria psicanalítica, que se
refere, de modo global, ao direcionamento de amor do
indivíduo para si próprio. A libido volta-se para o próprio
Eu, deixando de investir no mundo e nas pessoas
 Auto-estima: refere-se a apreciação subjetiva e
valorativa que o eu tem de si mesmo. A identidade
psicossocial é uma fonte básica e significativa de auto-
estima, reconhecimento social e legitimação
Alterações na Consciência do Eu
 Despersonalização: é o sentimento de perda ou transformação do eu
psíquico e corporal, marcado por um sentimento de estranhamento e
infamiliaridade consigo mesmo, levando à profunda perplexidade.
 Desrealização: comumente associada à despersonalização, trata-se da
transformação e perda da relação de familiaridade com o mundo comum
 São comuns alterações da imagem e do esquema corporal em alguns
transtornos mentais, como:
 Depressão: peso, lentidão e dificuldade; fonte de sofrimento
 Mania: atividade, poder e vigor
 Esquizofrenia: profundas alterações do esquema corporal, com destaque para as
vivências de influência sobre o corpo e para o esvaziamento ou roubo de partes do
corpo
 Psicoses tóxicas também trazem alterações momentâneas do esquema corporal
 Histeria: erogeneização
 Quadros ansiosos e ataques de pânico: despersonalização corporal e sensação de
morte iminente
 Quadros obsessivo-compulsivos: sujeira e contaminação
 Outros casos: hipocondria, anorexia e transtorno dismórfico corporal
Alterações na Valoração do Eu
 Diminuição da valoração do Eu: sentimentos
profundos de menos-valia, de redução da auto-
estima e de autodepreciação. São encontrados
principalmente nas depressões, mas também em
inúmeras situações relacionadas à doença mental

 Transtornos de Identidade: estão relacionados


à confusão de identidade, à desorientação em
relação ao que o indivíduo é no contexto
sociocultural, ao que esperam dele, como se
sente, qual o seu lugar no mundo, etc.
Personalidade: Definições
 Conjunto integrado de traços psíquicos, consistindo no total das
características individuais, em sua relação com o meio, incluindo todos
os fatores físicos, biológicos, psíquicos e socioculturais de sua
formação, conjugando tendências inatas e experiências adquiridas no
curso de sua existência.
 Classicamente, se distinguem níveis e aspectos da personalidade,
como a constituição corporal, o temperamento e o caráter.
 Muitos autores se preocuparam em definir tipologias humanas como
forma de discriminar tipos de personalidade.

 Outras abordagens valorizam modelos estruturais e psicodinâmicos,


como a psicanálise, mas há também modelos oriundos de estudos
empíricos e psicométricos, que são caracterizados por definições
dimensionais mais estáticas
Alterações da Personalidade
 As alterações da personalidade envolvem toda a estrutura subjetiva do
sujeito, de forma que não implicam sintomas isolados. O estudo das
suas alterações está intimamente ligado ao estudo dos transtornos de
personalidade, que serão aprofundados na próxima unidade.
 O transtorno da personalidade foi, ao longo da história da
psicopatologia, nomeado de diversas formas: desde insanidade moral
e perversões, até transtornos de caráter e sociopatia.
 O termo mais popular na atualidade é o de psicopatia, embora seja ainda
identificado a termos correlatos.
 No transtorno da personalidade, há uma marcante desarmonia que
reflete tanto no plano intrapsíquico como no das relações
interpessoais.
 Embora de modo geral produzam conseqüências muito penosas para o
indivíduo e para as pessoas próximas, não são modificáveis pelas
experiências de vida, tendendo, antes, a permanecerem estáveis ao longo
de toda a vida
Inteligência: Definições
 A inteligência pode ser definida como o conjunto das
habilidades cognitivas do indivíduo, a resultante ou o vetor
final dos diferentes processos intelectivos.
 Refere-se à capacidade de identificar e resolver problemas e
encontrar soluções satisfatórias para si e para o ambiente,
respondendo às exigências de adaptação biológica e sociocultural.
 A inteligência é um constructo, um modo de ver e estudo
essa dimensão do funcionamento mental, construída
historicamente pela psicologia, pela medicina e pela
pedagogia.
 As principais habilidades incluídas nesse constructo são: raciocínio,
planejamento, resolução de problemas, pensamento abstrato,
compreensão de idéias complexas, aprendizagem rápida e
aprendizagem a partir da experiência.
Alterações da Inteligência
 Embora a psicologia tenha construído um extenso saber a
respeito da inteligência, do ponto de vista da
psicopatologia, o interesse pelas alterações dessa função
restringe-se ao conceito de retardo mental
 É definido como uma condição de desenvolvimento interrompido
ou incompleto das capacidades mentais, manifestando-se pelo
comprometimento das habilidades cognitivas que são adquiridas ao
longo do desenvolvimento.
 O parâmetro quantitativo utilizado para definir o grau de retardo
mental ainda é o convencional e ultrapassado quociente de
inteligência (QI), por meio de escalas psiquiátricas
“padronizadas”
 Dessa forma, temos: Inteligência limítrofe (QI 70-84), RM leve (QI
50-69), RM moderado (QI 35-49), RM grave (QI 20-34) e RM
profundo (QI <20)

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