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Ministério da Justiça

Departamento de Polícia Federal - DPF


Diretoria Técnico-Científica - DITEC
Instituto Nacional de Criminalística - INC

Laudo Pericial em
Artesanato Indígena

PCF GUILHERME Henrique Braga de Miranda – APMA/INC/DITEC/DPF


guilherme.ghbm@dpf.gov.br
fone: (61) 3311-9405

Brasília, novembro de 2007


Objetivos
• Apresentar parte do trabalho pericial na área de
biologia que vem sendo realizado no INC e SETECs.
• Caracterizar os aspectos biológicos e morfológicos
relevantes para a identificação e classificação de partes
de animais e plantas em peças de artesanato indígena.
• Descrever os procedimentos adotados para a execução
dos exames com esse material.
Artesanato indígena
www.arteindigena.com.br

• É de extrema beleza e de
grande valor artístico, pois
representa a expressão cultural
do povo indígena brasileiro.
• Tradicionalmente usa materiais
coletados na natureza (ossos,
dentes, penas, sementes,
madeira, etc.) para composição
de objetos de adorno e utensílios
domésticos.
www.arteindigena.com.br
Título do Laudo
Usados anteriormente
• Laudo de Exame em Animal (Artesanato Indígena)
• Laudo de Exame em Animal (Partes de Animal –
Artesanato Indígena)
• Laudo de Exame em Animal (Penas e Pêlos)
• Laudo de Exame em Material (Peças Artesanais)

Recomendado pelo INC


• Laudo de Exame de Animal
Laudos x Peritos

LAUDOS DE ANIMAIS (ARTESANATO INDÍGENA)


- 2004/2006
• Distrito Federal – 12 (73 peças)
• Roraima – 1 (1065 peças)
• Rio Grande do Norte - 7 (447 peças)
• São Paulo – 20 (>800 peças)
• Mato Grosso do Sul – 1 (3 peças)
Distribuição de PCFs
Biólogos e Veterinários

25 (4,9%) peritos
18 biólogos
7 veterinários
Concursos Públicos
em andamento
+ 14 veterinários e
Quesitos comuns

1 - Quais as características e natureza das peças encaminhadas a


exame?
2 – De que animais provem tais peças?
3 – Podem ser assinaladas a ordem, família, gênero e espécie dos
mesmos?
4 – Seriam as peças oriundas de animais silvestres da fauna
nacional?
5 – Estariam estes espécimes na lista oficial de animais em perigo
de extinção do IBAMA, bem como constando em algum dos anexos
do CITES?
6 – Outros dados julgados úteis.
Etapas dos exames

• Recebimento do material
• Fotografia
• Descrição
• Identificação taxonômica
• Enquadramento legal
Etapa 1 - Recebimento do material

• Envolve a conferência da integridade dos itens


• Embalagem adequada?
• Cadeia de custódia está garantida?
• Triagem preliminar do material
Etapa 2 - Fotografia

• Fotografia individual ou por grupos (dependendo da


quantidade e diversidade de itens)
• Uso de fundo adequado (em geral, branco de papel ou
cartolina);
• Uso de escala gráfica, preferencialmente impressa em papel-
cartão, com identificação da unidade;
• Iluminação natural uniforme, preferencialmente;
• Peças emolduradas com vidro, dificultam/impedem a tomada de
fotos com flash;
• Se possível, dispor os objetos a serem fotografados de forma
organizada;
• Eventualmente, os resultados podem ser melhor ilustrados com
fotos em perspectiva.
Etapa 3 – Descrição

• Descrição específica detalhada, incluindo medidas e caracterização


das diferentes partes componentes da peça, com atenção especial ao
material de origem animal (foco do laudo).
• É preciso descrever minuciosamente quantidades, disposição, cores,
formas e outros aspectos dos componentes das peças, a fim de
permitir/facilitar o reconhecimento do material nas fotos e na
manipulação direta do mesmo;
• Citar nomenclatura científica padrão (em itálico e entre parênteses) para
cada espécie identificada (cujo nome comum também deve ser escrito).
Ex.: pena retriz azul e amarela de arara-canindé (Ara ararauna);
• Atenção para a numeração dos itens que deve ser correspondente com
todas as fotos e tabelas do documento;
• Registrar a existência de etiquetas afixadas, citando o texto contido nas
mesmas;
• Se possível, identificar a etnia indígena que confeccionou a peça
examinada (para tal, consultar especialistas, páginas na internet e livros
especializados).
Etapa 4 – Identificação taxonômica

• Com a maior precisão possível, mediante comparação das


partes observadas com material de coleções científicas, imagens
e fotos de livros ou da internet, bem como, consulta a
especialistas. O mais importante é caracterizar se a espécie é
nativa, endêmica e ameaçada.
• Reino
• Filo
• Classe
• Ordem
• Família
• Gênero
• Espécie

• Tabela 1
Tabela 1
Tabela 1 – Identificação taxonômica dos componentes de origem animal dos itens examinados (Continuação).

Item Componente Identificação taxonômica

Reino Filo Classe Ordem Família Gênero Espécie

18 placas córneas de
B Animalia Chordata Reptilia Chelonia ? ? ?
casco de quelônio

44 placas ósseas de
C Animalia Chordata Reptilia Crocodilia Aligatoridae ? ?
jacaré

Laudo n o 1063/2005 – INC/DITEC Folha 1 2 de 16


2 dentes caninos
D Animalia Chordata Mammalia Artiodactyla Suidae Sus Sus scrofa
inferiores prov. de

porco-doméstico

1 canino e 2 incisivos

E superiores de onça- Animalia Chordata Mammalia Carnivora Felidae Panthera Panthera onca

pintada
Myrmecophagi
F1 Garras dianteiras de Animalia Chordata Mammalia Xenarthra Myrmecophaga Myrmecophaga tridactyla
dae
tamanduá-bandeira

F2 Pluma pretas de mutum Animalia Chordata Aves Galliformes Cracidae Mitu Mitu tuberosa

Plumas vermelhas de
Ara macao e/ou Ara
F3 arara-canga e/ou arara- Animalia Chordata Aves Psittaciformes Psittacidae Ara
chloroptera
vermelha

Plumas amarelas de
F4 Animalia Chordata Aves Psittaciformes Psittacidae Ara Ara ararauna
arara-canindé
Etapa 5 – Enquadramento legal

• Lista Nacional das Espécies da Fauna Brasileira


Ameaçadas de Extinção, publicada na Instrução Normativa nº
03, de 27 de maio de 2003 do Ministério do Meio Ambiente,
• Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies da
Flora e Fauna Selvagem em Perigo de Extinção – CITES,
implementada pelo Decreto nº 3607, de 21 de setembro de 2000.
• Apêndice I – espécies mais ameaçadas de extinção, comércio
internacional é proibido;
• Apêndice II – espécies que para não se tornarem ameaçadas de
extinção, o comércio deve ser fortemente limitado;
• Apêndice III - espécies com restrições parciais ou localizadas de
comercialização em alguns países.
• Listas estaduais de espécies ameaçadas de extinção.
• Tabela 2
Tabela 2

Tabela 2 – Enquadramento legal das espécies identificadas nos itens examinados.


NOME CIENTÍFICO CITAÇÃO EM APÊNDICE DA
NOME COMUM CITAÇÃO NA LISTA OFICIAL DO MMA
DA ESPÉCIE CITES

Ara macao Arara-canga Não Apêndice I

Ramphastos sp. Tucano Não Apêndice II


7 espécies dessa família estão listadas: 4 na 6 espécies do gênero estão
Cracidae Mutum categoria Em perigo, 2 na Vulnerável e 1 Extinta listadas no Apêndice I e 8
na natureza espécies, no Apêndice III
Ara ararauna Arara-canindé Não Apêndice II

Laudo n o 380/2005 – INC/DITEC Folha 11 de 13


15 espécies do gênero estão
4 espécies do gênero estão listadas: 3 na
Amazona sp. Papagaio listadas no Apêndice I, as demais,
categoria Vulnerável e 1 na categoria Em perigo
no Apêndice II
Cyanocorax cristatellus Gralha-do-cerrado Não Não

Mitu tuberosa Mutum-cavalo Não Não

Ara chloroptera Arara-vermelha Não Apêndice II


2 subespécies listadas no Apêndice
2 espécies do gênero listadas: uma na categoria
Ateles sp. Macaco-aranha I, as demais subespécies e
Vulnerável e a outra Em perigo
espécies no Apêndice II
Lagothrix lagothricha Macaco-barrigudo Não Não
Conclusões
- A metodologia apresentada foi desenvolvida
empiricamente na busca de atender com qualidade
e presteza a recentes demandas surgidas não
somente no INC, como também em alguns SETECs
espalhados pelo Brasil.
- Trata-se de tarefa pericial típica, minuciosa e
detalhista, que, por vezes, exige conhecimento
especializado (especialistas, bibliografia, coleções
técnicas), trabalho repetitivo, persistência e boa
dose de organização.
Muito obrigado pela atenção!

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