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Romantis

mo

“O mundo movido pelas vontades do


Romantismo
X
romantismo
"Os sofrimentos do Jovem Werther“

Johan Wolfgang Von Goethe


“Depois das 11 horas”
“Em torno de mim reina a tranqüilidade, e minha alma está
tão calma! Agradeço-vos, ó Deus, por me concederes em
meus últimos momentos., este calor e esta força!
Aproximo-me da janela, ó minha amiga, e vejo ainda, através
das nuvens que o vento tempestuoso, ao longe, dispersa,
brilhar aqui e além as estrelas do céu eterno. Não, vós não
tombareis! 0 Eterno vos retém em seu seio, e a mim também!
Vejo as rodas do Carro, a mais querida das constelações.
Quando ontem a deixei, quando saí de sua casa, eu vi diante
de mim essa constelação. Com que inebriamento a tenho
tantas vezes contemplado! Quantas vezes, erguendo as mãos
ao céu, tomei-a como sinal, como monumento sagrado da
felicidade que então fruía! E, no entanto, ainda... Ó Charlotte,
que é que não me faz pensar em você? Você não está em
tudo quanto me cerca? E não tenho eu, como uma criança,
furtado avidamente mil ninharias que você tocou, ó minha
santa?
Querida silhueta! A você a lego, pedindo-lhe que a venere.
Quando entrava, ou quando saía, imprimia nela milhares
de beijos; mil vezes lhe disse adeus.
Escrevi um bilhete ao seu pai, pedindo-lhe que proteja meu
corpo. No cemitério, bem ao fundo, no canto que dá para o
campo, há duas tílias: é lá que desejo repousar. Ele
poderá fazer isso, há de fazê-lo pelo seu amigo. Peça-lho
também! Não exigirei dos piedosos cristãos que deixem
depositar seus corpos ao lado de um infeliz! Ah! eu queria
que me enterrassem à beira da estrada, ou no vale
solitário! Ao passar, o sacrificador e o levita haveriam de
persignar-se diante da pedra que marcaria o meu túmulo,
e o Samaritano me concederia uma lagrima.
-Veja, Charlotte, que não tremo ao pegar a fria e terrível
taça por onde quero beber a embriaguez da morte! É você
quem ma apresenta e eu não hesito um só momento. É
assim que se consumam todos os votos, todas as
esperanças da minha vida, todas! Quero bater, gelado e
rígido, à porta de bronze da morte!
Se eu tivesse alcançado a ventura de morrer, de sacrificar-
me por você, Charlotte! Eu morreria corajosamente, e com
que alegria, se pudesse restituir-lhe o repouso e a
felicidade! Mas, ai de mim, a muito poucas e nobres
criaturas é dado derramar o sangue pelos seus e, com a
morte, iluminar uma vida nova e centuplicada para aqueles
que amam!
É com esta roupa, Carlota, que quero ser enterrado; você a
tocou, você a santificou; também isto pedi a seu pai. Minha
alma flutuará sobre o caixão. Que ninguém remexa em
meus bolsos. 0 nó cor-de-rosa que você trazia no corpete,
quando a vi pela primeira vez em meio das suas crianças ...
Oh! beije-as mil vezes por mim e conte-lhes a história do -
seu desgraçado amigo! Queridas crianças! Vejo-as
alvoroçadas em torno de mim! Ah! como m ' e prendi a este
nó cor-de-rosa, como, desde o primeiro momento, não mais
pude deixá-lo ... Irá comigo para o túmulo; você mo deu no
dia do meu aniversario natalício. Com que sofreguidão o
recebi! Não pensava que tudo me havia de conduzir até
aqui. . . Calma, peço-lhe, calma!
Elas estão carregadas ... bateu meia-noite.

Assim seja, então! ...

Charlotte, Charlotte!

Adeus, adeus!
Um vizinho viu o clarão da pólvora e ouviu o
estampido, mas, como tudo voltou ao completo silencio,
não se inquietou mais.
Às 6 horas da manhã, ao entrar com uma lâmpada, o
criado encontrou-o amo estendido no solo. Vendo as
pistolas e o sangue, chamou-o, sacudindo-o. Nenhuma
resposta. Werther estertorava. Correu ao médico, foi à
casa de Albert. Charlotte ouviu bater e sentiu um arrepio
por todo o corpo. Despertou o marido e ambos saltaram
da cama. 0 criado, gritando e gaguejando, deu-lhes a
notícia. Charlotte caiu sem sentidos aos pés de Albert.
Quando o médico chegou, o desgraçado jazia no soalho.
Não havia mais esperanças de salvá-lo, pois, conquanto o
pulso ainda batesse, todos os membros estavam paralisados.
Ele havia metido uma bala na cabeça, acima do olho direito, e
os miolos saltaram para fora. Fazendo uma tentativa, deram-
lhe uma sangria no braço; o sangue correu e ele continuou a
respirar.
A mancha de sangue que se via no espaldar da poltrona
provou que Werther estava sentado à sua secretária quando
disparou a arma; que em seguida tombara e, debatendo-se na
convulsão, rolara ao lado da mesma poltrona. Estirado em de
súbito dorsal, perto da janela, não teve mais forças para fazer
qualquer movimento. Estava completamente vestido e
calçado, envergando um fraque azul e um colete amarelo.
A princípio a casa, depois a vizinhança, por ultimo a vila
inteira foi sacudida pela emoção. Albert apareceu. Tinham
posto Werther sobre o leito, com o rosto amarrado por um
lenço. A sua fisionomia era já a de um morto. Não fazia o
menor movimento. Os pulmões ainda arfavam de um
modo horroroso, ora fracamente, ora com mais força.
Esperava-se o fim.
Ele bebera apenas um copo de vinho. 0 drama de Emilia
Galotti estava aberto sobre uma estante.
Dispensem-me de descrever a consternação de Albert e
o desespero de Charlotte.
0 velho bailio acudiu, logo que soube da notícia, e beijou o
moribundo, derramando lágrimas ardentes. Seus dois filhos
chegaram a pé, logo depois do pai, e, abandonando-se à
dor mais violenta, caíram junto ao leito, beijando as mãos e
a boca de Werther. 0 mais velho dos dois, por quem
Werther sempre demonstrara particular estima, colou-se-lhe
aos lábios até que o infeliz soltasse o ultimo suspiro, tendo
sido preciso arrancá-lo dali à força.
Werther expirou ao meio-dia. A presença e as medidas por
ele tomadas evitaram que a multidão se atropelasse em
frente da casa a noite, cerca das 11 horas, o bailio fê-lo
enterrar no local escolhido pelo desgraçado. 0 velho e os
filhos acompanharam o cortejo. Albert não se sentiu capaz
de fazê-lo. Temia-se pela vida de Charlotte. 0 corpo foi
conduzido por trabalhadores. Nenhum padre o
acompanhou.”
Características do
Romantismo
1 – SUBJETIVISMO E INDIVIDUALISMO:
É o culto do “eu”, a valorização do indivíduo,
do seu mundo interior, da sua consciência. O
assunto passa a ser manifestado a partir do
artista. É a consagração do individual contra o
universal do classicismo. O homem já pode
trazer à tona o seu mundo interior com plena
liberdade.

“Eu deixo a vida como que deixa o tédio


Do deserto, o poente caminheiro
Como as horas de um longo pesadelo”.
(Álvares de Azevedo)

“Eu sou o medo do fraco, a força da


imaginação
O filho que ainda não veio
Eu sou o início, o fim e o meio”.
(Raul Seixas)
2 – SENTIMENTALISMO: É o excesso de descritivismo
dos sentimentos e estados emocionais.

“Ah, amada, por que me castigas?


Porque me aprisionas
Nos vãos da esperança?
Porque me matas?
Ah, porque me matas assim
Tão lentamente com um olhar...?”
(Vinicius de Moraes)
3 – LIBERDADE DE CRIAÇÃO: o romântico se expressa
através de uma atitude individual, pessoal e única. Para
os românticos, expressar-se significava exprimir sua
personalidade, independente de quaisquer regras.
4 – NACIONALISMO: O romantismo aboliu toda fonte de
inspiração como a mitologia pagã do classicismo, os temas
bucólicos, substituindo-os por temas nacionais como história,
tradições, natureza, folclore, índio, heroísmo, pátria, sociedade e
outros. Como Brasil não teve idade média (explorada entre outros,
pelo romance histórico português), os brasileiros voltaram-se para o
passado recente do Brasil-colônia e/ou para o elemento indígena.

“Minha terra tem palmeiras


Onde canta o Sabiá;
As aves que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.”
5 – CULTO À NATUREZA: Se no Arcadismo, a Natureza funcionava
como simples cenário, moldura, enfeite e refúgio, no Romantismo reflete e
revela o interior do eu do artista ou das personagens que integram sua
obra. A natureza Romântica participa, fala, comunica-se, tem sentimentos.

“A brisa da noite trazia-me de vez em quando um aroma de plantas agrestes que me


causava íntimo prazer.
Fazia-me lembrar da vida campestre, dessa existência doce e tranqüila que se passa longe
das cidades.”
...sentia-me tão feliz que não trocaria a minha cabana pelo mais rico palácio da terra.
- Ela me amava.”
“Essa idéia embelezava tudo para mim; a noite escura de Petrópolis parecia-me poética e o
murmurejar triste das águas do canal tornava-se-me agradável.”
Trecho extraído da obra Cinco Minutos, de José de Alencar.
6 – RELIGIOSIDADE: No Romantismo, a noção de Deus normalmente se
confunde com a noção de Natureza, já que esta é encarada como manifestação
do divino. Era o panteísmo. Acreditavam que Deus estava em tudo, e tudo era
manifestação de Deus.
7 – IDEALIZAÇÃO: Ocorre em vários níveis dentro do Romantismo.
7.1 – DA NATUREZA: Os elementos da natureza romântica apresentavam-
se de forma hiperbólica:
“O galopar do meu cavalo formava um único som, que ia reboando
pelas grutas e cavernas, e confundia-se com o rumor das torrentes.”
“As árvores, cercadas de névoa, fugiam diante de mim como fantasmas...”
“...não galopava, voava; seus pés, como que impelidos por quatro molas de
aço, nem tocavam a terra.”
7.2 - DO AMOR: O amor é considerado o valor supremo da vida. É algo
bom, puro, difícil de ser realizado num mundo desagregado e corrompido. Daí o
fato de o amor ser geralmente platônico.

“Amar, sentir-se amado, é sempre um gozo imenso, e um grande consolo


para a desgraça [...] aí há um sentimento que vive, apesar da morte, apesar do
tempo.”
7.3 – DA MULHER: A mulher, no Romantismo, era intocável, pura, angelical. A
amada não existe, paira; não respira pulsa; não anda; flutua; não fala, gorjeia; não
canta, solfeja, tem a imensa capacidade de irradiar luz pelos poros, é dotada de
beleza inigualável, os anjos invejam de sua beleza, Deus não a fez juntamente com
as demais criações. Ela é um ser único, inalcançável, inefável em sua essência.
CÂNTICO
Não, tu não és um sonho, és a existência
Tens carne, tens fadiga e tens pudor
No calmo peito teu. Tu és a estrela
Sem nome, és a namorada, és a cantiga
Do amor, és luz, és lírio, namorada!
Tu és todo o esplendor, o último claustro
Da elegia sem fim, anjo! mendiga
Do triste verso meu. Ah, fosses nunca
Minha, fosses a idéia, o sentimento
Em mim, fosses a aurora, o céu da aurora
Ausente, amiga, eu não te perderia!
Amada! onde te deixas, onde vagas
Entre as vagas flores? e por que dormes
Entre os vagos rumores do mar? Tu
Primeira, última, trágica, esquecida
De mim! És linda, és alta! és sorridente
Vinicius de Moraes
7.4 – DO HERÓI: O herói romântico apresenta virtudes, perfeição de espírito e
caráter, propósitos elevados, mas que se mostram incompatíveis coma lama da
realidade - e em geral, o herói torna-se um ser solitário que não encontra
compreensão para seus anseios e atitudes. É representado por personagens
históricas ou por figuras idealizadas por seus feitos. O romântico é implacável,
ousado, e destemido.

“Entusiasta da liberdade, não posso admitir de modo algum que um homem


se escravize pelo relógio e regule suas ações pelo movimento de uma pequena
agulha de aço ou pelas oscilações de uma pêndula.”
8 – INSATISFAÇÃO: Insatisfeito com o seu mundo, o poeta propõe-se a mudá-
lo, influenciado pelas correntes libertárias da época. Ansiando por grandes feitos
que lhe tragam a gloria, o poeta romântico dedica-se às causas sociais, como a
abolição da escravatura, a implantação da república.

“...a pontualidade é uma excelente virtude para uma máquina; mas um grave
defeito para um homem.”
9 – MAL-DO-SÉCULO: O “mal-do-século” é a expressão que designa um estado
de espírito depressivo que dominou alguns românticos, levando-os ao tédio, à
melancolia, ao pessimismo e ao desejo de morte. É o retorno às origens suicidas
do Romantismo de Goethe. As imagens sombrias, conflituosas, satânicas e
mórbidas são próprias do mal-do-século.
10 – EVASÃO: A insatisfação com o mundo que o cerca leva o romântico a
uma espécie de fuga da realidade.

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